sábado, 9 de janeiro de 2010

Chile: Altiplano, Cordilheira dos Andes, Deserto do Atacama e Oceano Pacífico.

Expedição do Atlântico ao Pacífico

Parte 4

O décimo quarto dia de viagem, era o primeiro desafiando mais uma fronteira. Agora estávamos no Chile, país que nenhum de nós conhecia até então. Na manhã do dia sete de janeiro de 2008, após pedalarmos poucos metros após a aduana argentina em Paso de Jama, estávamos em território chileno a uma altitude de nada menos do que 4.320 metros. Um frio que nem mesmo nós que moramos no sul do Brasil estávamos acostumados. A paisagem foi se transformando e nos impressionando a cada instante. Montanhas cobertas de gelo estavam por toda parte.

Fronteira Argentina/Chile

A 4320m de altitude o frio é intenso

Todo agasalhado pra não congelar

A ruta 27 foi nosso caminho pelo Altiplano Andino que nos apresentou uma natureza exuberante em um lugar onde parecia que a vida seria quase impossível de existir pelas condições do clima e de um terreno árido. Mas quando menos esperávamos, observávamos lagos extensos com suas mais diferentes formas e uma beleza que parecia irreal, cores vivas que se misturavam e deixavam a água com uma tonalidade diferente. Adicione a esse contexto uma fauna típica da região, onde flamingos eram avistados procurando alimentos. Outros animais, como uma espécie de coelho era facilmente vista entre a vegetação rasteira próxima aos lagos.

Magníficos lagos

Magrela Guerreira na Cordilheira dos Andes

Paisagem incrível

Flora de um ambiente que muitas vezes parece sem vida

Um cenário típico do Altiplano além da presença de maravilhosos lagos e montanhas cobertas de gelo, era a verificação de tempestades isoladas que ficavam restritas às montanhas que ficavam alguns metros da rodovia. Muitas vezes pedalávamos em um ritmo maior para escapar do temporal, mas por alguma questão a chuva procurava os picos mais altos das montanhas.

Chuvas ..

.. isoladas e assustadoras

No que diz respeito a altitude, chegamos aos 4.800 metros com muito sacrifício, a subida não era extensa como em Lipán, mas bem mais íngreme, fator que contribuiu muito para diminuir nosso ritmo. Neste momento estava pedalando na companhia do Aramis, quando reencontramos em plena subida aquele casal paulista de Vinhedo. Estavam retornando de sua viagem. Ficamos felizes em encontrar pessoas conhecidas, trocamos algumas palavras, desejamos boa sorte novamente e seguimos viagem. O aclive nos obrigou a fazermos várias outras paradas a cada distância aproximada de cem metros. Aos poucos, fomos avançando e finalmente acaba-se a subida e concluímos mais uma parte difícil da expedição. Estávamos no topo da maior altimetria da viagem, algo que comemoramos na descida da mesma montanha, poucos metros depois de alcançarmos o topo.

Após a descida alucinando onde consegui atingir uma velocidade próxima ao 70 km/h começou um trecho que o Aramis sentiu muita dificuldade em terminá-lo. Uma das poucas vezes que presenciei meu camarada de viagem muito irado com a estrada e as infinitas subidas que persistiam em nos acompanhar. Mas não eram somente as subidas, conforme foi ficando tarde, os ventos ficaram mais fortes, baixando a temperatura drasticamente. Todo aquele contexto deixou o Aramis em um estado delicado. Para ter uma idéia, até chegarmos em São Pedro de Atacama, pedalei sempre na frente. O próprio Aramis, confessou mais tarde que foi o dia mais complicado da expedição pra ele.

Ainda no trecho complicado, o frio rigoroso foi responsável por um fenômeno especial, neve. Pela primeira vez na minha vida estava diante de um cenário como aquele. Pedalando alguns metros na frente do Aramis, começo a perceber alguns flocos brancos em minha jaqueta vermelha, o que tornou bem mais nítido o que estava acontecendo. Desesperadamente, comecei a gritar para o Aramis, dizendo que estava nevando. Com um vento desfavorável ele não entendeu e devagar foi se aproximando, quando chegou os breves flocos já tinham parado de cair.A primeira coisa que perguntei a ele, é se tinha visto a neve. Infelizmente não. Tive a sorte de estar no lugar certo e na hora exata. Mesmo de forma rápida, posso dizer que pedalei, inclusive com neve. Neste trecho não devia ser incomum a presença de tal fenômeno, poucos quilômetros à frente, uma placa sinalizava estrada com neve.

Com neve, pista escorregadia!

Durante o episódio da neve, eu estava com a jaqueta vermelha e de bermuda, sentindo a necessidade de pedalar cada vez mais rápido para sair daquela situação de frio intenso. Surtiu efeito e comecei a pedalar em um ritmo muito forte, superando minhas próprias expectativas. Por causa do frio, evito ficar parando para tirar fotos, mas foi inevitável registrar o famoso vulcão Licancabur, com seus 5.916 metros de altura. Poucos metros após a entrada para a Bolívia, a estrada começa uma descida mais do que alucinante com uma distância de mais de trinta quilômetros até chegar em São Pedro de Atacama.

Vulcão Licancabur

A descida até São Pedro é de lavar a alma, a velocidade é enorme. Impossível ficar abaixo dos 45 km/h, ultrapassar caminhões se tornou normal por este trecho, uma vez que eles diminuíam a velocidade para não perderem o controle do veículo. Acidentes eram evidentes pela quantidade de cruz fincada pelo caminho, indicando a morte de algum indivíduo. Isso quando os restos dos veículos não ficavam no local.

Em uma das vezes que ultrapassei uma carreta, um motociclista que estava parado no acostamento flagrou a ação e conseguiu registrar a cena que é extremamente rara. Não freei a bicicleta e retornei para conversar com o fotografo para pedir a foto. Quem sabe um dia não encontro ela na internet.

Quanto mais nos aproximávamos de São Pedro de Atacama, mais o Deserto do Atacama deixava sua marca visível no solo e vegetação da região. É o deserto mais árido do mundo, em algumas partes não chove a mais de séculos. Conseqüentemente o reflexo dessa condição climática pode ser observado pela forma do terreno que estendia-se até perder-se no horizonte. Uma área realmente enorme.

Cicloturismo no Deserto do Atacama

Aproximadamente 30 km de descida até São Pedro de Atacama

Chegamos aproximadamente quase sete horas da noite, o Aramis me alcançou faltando poucos quilômetros para chegar na cidade. Quando chegamos logo encontramos o João e fomos na aduana regularizar nossa situação no país. Bastou apresentar a identidade e ganhamos a permissão para três meses de visita enquanto turistas. O que tardou nossa permanência na aduana foi a vistoria de toda nossa bagagem e daqueles que estavam entrando ou saindo do país. A inspetora não permitiu que continuássemos carregando a garrafinha de areia do Oceano Atlântico que pretendíamos deixar de lembrança no Pacífico. Mas ela simplesmente jogou a garrafinha que vínhamos revezando no lixo. Depois da vistoria o João pegou e continuou levando o nosso presente.

Tudo certo na documentação, partimos em busca de hospedagem, estávamos decididos a ficar em algum lugar e não montar acampamento. Fomos recomendados a um local que na verdade não era um hotel, era uma casa com alguns cômodos para alugar a turistas quebrados como a gente. Nossa primeira missão foi achar o lugar, uma vez, que a cidade estava quase totalmente às escuras por causa de um problema elétrico. E a hospedaria parecia ficar em um lugar afastado. Mas como na maioria das vezes não tínhamos opção, ficamos ali mesmo e fomos bem recebidos. Alugamos um quarto com três camas para passarmos a noite. Não lembro o valor pago, mas foi barato.

Nossa próxima missão seria arrumar um lugar para jantar. Voltamos perto da aduana para poder jantar. A luz de velas é claro, já que não tinha energia elétrica. A comida chilena não diferenciou muito daquela que estávamos comendo na Argentina. Arroz, bife, uma salada básica de tomates e uma verdura que não recordo qual. E um pãozinho chileno, que pra variar também são uma delicia. À volta para a hospedaria foi uma jornada na escuridão. Tudo fica mais demorado a pé e com a barriga cheia.

Fomos dormir para acordar cedo novamente no dia seguinte. Passamos por algumas ruas da cidade antes de pegarmos a ruta 23 para chegarmos a Calama. As casas feitas com adobe são a maioria na região. A pequena parte arborizada de San Pedro de Atacama começava a desaparecer conforme avançávamos pela rodovia. E o cenário nos mostrava um deserto que por onde quer que olhássemos tinha apenas um extenso território aparentemente sem vida, totalmente árido. Um lugar que chega a ser assustador pelo seu aspecto físico que logo associamos à falta de água. Portanto, nos prevenimos ao máximo para não deixarmos de levar água o suficiente para atravessar o Deserto do Atacama até chegar em Calama. Resultado, quase cinco litros de água na minha bicicleta. Logo que iniciamos a pedalada somos surpreendidos com uma descida em que podemos ter um pouco de noção da dimensão de onde estávamos pedalando.

São Pedro de Atacama

Alguém diria que existe área verde em pleno deserto?

Pedalando nas rutas chilenas do deserto

Essa é a imagem de uma rodovia no deserto mais árido do mundo

Chuva aqui é raridade

Atravessando o lendário Deserto do Atacama

Literalmente no meio do nada

Deveríamos ter aproveitado mais essa descida. Foi a primeira e a última do dia. Logo depois foi um trecho interminável de uma subida que não tínhamos nenhum conhecimento. Fomos pegos de surpresa. Acho que subimos mais de quarenta quilômetros, quase a mesma proporção da descida do dia anterior. O que antes era declive se transformara em um aclive se que agravou com um detalhe que esquecemos. A comida. Não sabíamos da existência da subida e imaginávamos que até Calama seria somente descida, uma vez que estaria em direção ao mar, conseqüentemente baixando a altimetria, deixando o trajeto fácil de percorrer. Engano nosso. O João se mandou na frente e por alguns momentos pedalei junto com o Aramis e depois fiquei pra trás. Não comi quase nada no café da manhã, apenas poucas bolachas. Logo a fome bateu na estrada e não havia nenhum estabelecimento ou qualquer sinal de habitação em todo o trecho até Calama. Literalmente um deserto. Pedalar com fome é uma das piores coisas que pode acontecer a um ciclista. Alimentação é a base para ganharmos energia e assim pedalarmos. Mas a realidade é que levamos água de mais e comida de menos.

Enfrentar todo esse trecho de subida não foi nada fácil. Parecia ser algo infinito, chegou um momento que achei sinceramente que não teria fim. Embora o tempo estivesse aberto, não estava muito calor, mas o vento começava a incomodar. E a fome já estava dando sinais há muito tempo. Para disfarçar a fome, tomava muita água. Algumas vezes nem estava com sede, mas ingeria a única coisa que tinha disponível. Que situação.

Muitas horas depois, a subida chega ao fim. Algo inacreditável quando a bicicleta começa a descer um pouquinho mais rápido. Mas a alegria dura pouco tempo, assim que a subida cede lugar à descida e conseqüentemente a uma enorme reta, um novo companheiro se junta à expedição. O vento contra. Um terrível vento na direção contrária faz do trecho final um martírio. A velocidade no ciclocomputador não passa dos 10 km/h. Estávamos em uma estrada relativamente boa. Sendo possível manter a casa dos 25 km/h se não fosse a presença violenta do vento, típico do deserto. Em relação à temperatura, em nenhum momento, foi nossa preocupação. Em alguns relatos líamos a extrema elevação da temperatura durante o dia e a noite um ambiente abaixo de zero grau Celsius. Aquele dia, no entanto, estava quente, mas não de modo insuportável.

Vento contra terrível em direção à Calama

De qualquer modo estava diante da imensidão do Deserto do Atacama, para todos os lados um grande vazio, sem vegetação, fauna e flora aparente. Era possível apenas identificar uma extensa área de um terreno árido. É uma sensação diferente, uma grande desafio, onde a mente fazia um esforço enorme para associar toda aquela situação e manter um controle físico, que se encontrava totalmente desgastado. Já estava horas e mais horas pedalando, com pequenas pausas, pois parar no meio do nada, sem um sombra não é muito convidativo. Mas pedalar com fome era cruel. Para vencer o vento, era necessário gastar uma energia em dobro, sem conseguir fazer nenhuma reposição, um castigo para o corpo.

Portanto, vento contra e a fome foram nossos maiores obstáculos durante a passagem pelo deserto. O vento parecia vir de todas as direções, menos no sentido favorável para um deslocamento mais rápido. E por incrível que pareça, o vento na direção lateral pode ser pior do que frontal, o primeiro quase me jogava para fora da estrada, o que ocorreu em algumas situações, principalmente, na presença de alguns caminhões que assim que passavam deixavam um vácuo que cortava totalmente a força que o vento estava fazendo. O problema é que o efeito acaba e parece que uma turbina é ligada na sua direção, produzindo um vento mais do que violento. Infelizmente essa foi uma realidade não muito rara durante esse trecho de planície no Atacama.

Durante o caminho de horas, não foi visto nenhum tipo de habitação ou algum sinal de civilização a não ser trevos que direcionavam para algumas cidades não próximas de onde pedalávamos. O trânsito não incomodava, exceto os caminhões quando provocando esse efeito de cortar o vento e involuntariamente nos jogava fora da rodovia. A temperatura era suportável e não sentia muita sede, a hidratação foi feita mais para suprir a carência forçada de uma alimentação muito desejada.

Foi o pior dia de toda a viagem, na minha opinião. Por alguns motivos, a subida dos quilômetros iniciais que não estava em nossos planos, depois uma reta que parecia não ter fim, acompanhada de um vento contra que era o mais violento que eu enfrentei na estrada até hoje. Provocando todo um enorme desgaste físico. E finalmente, a falta de comida.

Assim, depois de pedalar por esse calvário sozinho, é possível ver algumas casas a um horizonte não muito distante, era a cidade de Calama. Um fenômeno curioso acontecia, talvez um fator psicológico, por mais que pedalasse e enxergasse as casas, parecia miragem, pois incrivelmente o local não se aproximava. Foi preciso muita paciência para continuar firme para não desistir, algo que em nenhum momento cheguei a cogitar.

Finalmente as cores da cidade ficam mais nítidas e para minha total surpresa, muito verde em pleno deserto. Uma cena inesperada, mas real. Quase quatro horas da tarde, estou na entrada de Calama, extremo norte do Chile. Havia vencido o temido e poderoso Deserto de Atacama. Mais uma vitória durante a expedição.

Chegando em Calama, muito verde no horizonte

Dessa vez não encontrei meus companheiros facilmente, fui avançando pela cidade e perguntando em alguns locais se alguém tinha notado a presença de ciclistas com bagagem, o que não era muito difícil de passar despercebido. Em uma banca de revistas, a mulher me anima ao dizer que avistara sim e me apontou a direção, contudo, já fazia um certo tempo. A cidade é grande, com um número populacional expressivo. Sem alternativa continuo seguindo pela via principal, mas não encontro nenhum vestígio deles. Fico um pouco preocupado e chego a conclusão que encontra-los seria uma questão de sorte.

Estou pedalando devagar e atento pelas ruas de Calama, quando na direção contrária vejo o Aramis, voltando para me encontrar, uma vez que, sem sucesso, foi procurar o João que chegou primeiramente ao local. Foi um contentamento saber que não estava sozinho. Cansados e ainda extremamente mortos de fome, fomos procurar um restaurante. Achamos um que infelizmente já estava fechado. Que azar. Decidimos ir ao centro da cidade, onde poderíamos encontrar o João que mencionara anteriormente a necessidade em cambiar o dinheiro, ou seja, conseguir pesos chilenos. Então, saímos perguntando onde encontraríamos uma casa de câmbio. Pedalamos bastante até chegar ao centro, que não era pequeno. Seguindo, conforme, éramos orientados, cortávamos avenidas, passávamos por calçadas, esperávamos sinal verde, perguntávamos novamente e finalmente, quando já não tínhamos muita esperança em rever o João, ele aparece na calçada, próximo a uma casa de câmbio. Éramos três novamente.

Centro de Calama

Conversamos sobre as dificuldades pelo caminho no deserto. Mesmo assim, o João conseguiu chegar quase três horas antes que a gente. Desse modo, já estava alimentado e descansado, preparado para seguir até Sierra Gorda, destino final do dia, conforme, nosso roteiro indicava. Mas existia uma questão, restava aproximadamente, cem quilômetros de Calama até Sierra Gorda, uma distância que Aramis e eu não estávamos dispostos a encarar, visto que nossa condição física era desgastante e a distância pela frente era enorme. Sem mencionar, que não teríamos muito tempo para comer antes de seguir viagem. O que fazer?

Tentamos algo que sabíamos não ser uma tarefa fácil. Convencer o João a pernoitar em Calama, atrasando em um dia a conclusão da viagem. Mas o que já era previsto aconteceu. Nosso amigo que encarava a viagem como um desafio além de qualquer outra coisa, pretendia terminar a expedição em exatos vinte dias, seguindo o cronograma. Sem pensar muito, ele decide voltar para a estrada sozinho. O João sempre deixou claro seu conceito de equipe, algo que demorei em compreender e aceitar diante de algumas circunstâncias. Enfim, nos despedimos de nosso amigo e desejamos boa viagem. Ficamos de nos encontrar possivelmente em Antofagasta, mas infelizmente isso não ocorreu.

Não lembro em qual momento exato foi nosso almoço. Mas foi em uma lanchonete, onde devoramos vários lanches. Já passava de cinco horas da tarde e não havia almoço propriamente dito, então nossa opção foi encarar o que tinha pela frente. Na verdade o lanche era simples, mas com a fome em que estávamos foi um verdadeiro banquete. Como é bom saborear uma refeição novamente. O estômago parecia um abismo insaciável.

Fomos procurar um hotel para passar a noite. Com um preço acessível e localizado no centro da cidade, Hotel Palermo foi uma boa escolha. Com bicicletas e bagagens seguras, resolvemos andar pelo centro e conhecer melhor a cidade. Calama fica em uma região rica em minérios, sobretudo, de cobre, e talvez as atividades nas minas sejam uma das principais fontes de econômicas do município. Essa característica pode ser facilmente presenciada com a escultura de um minero exposta no calçadão localizado no centro.

Homenagem ao minerador

Calama tem um centro movimentado, mas agradável, suas ruas são estreitas com um fluxo significativo de veículos, sobretudo, de táxis, maioria em circulação, uma vez, que é relativamente barata sua utilização. Praças, monumentos, calçadões, igrejas e um comércio agitado marcam o local e deixam uma boa impressão da cidade. Aproveitamos para conferir as lojas. Acabei comprando algumas meias, que certamente são oriundas da China, mas tudo bem. Também mandamos notícias por meio da internet, achamos uma lan house perto de nossa hospedagem. No final do dia, chegamos a conclusão que a decisão em ficar na cidade foi a melhor que poderia ter sido tomada. Conhecemos muitos lugares, pessoas e um pouco da cultura de um povo que vive praticamente no deserto. Sem mencionar que foi possível dormir bem e tomar banho após cinco dias sem ver água para tal finalidade. Não era um banho qualquer, esquentado a gás, uma água extremamente quente.

Centro ..

.. muitos taxis

Igreja

Caminhando

O dia seguinte, era o meu décimo sexto da viagem, começava bem cedo, pois achamos que poderia ser possível completar a expedição em vinte dias, no caso do Aramis, e ainda encontrar o João em Antofagasta, que seria nosso destino assim que saímos do hotel. Ainda escuro, seguimos pelas ruas de Calama buscando a saída da cidade e conseqüentemente nos direcionar para a Ruta 25. Tínhamos perguntado o caminho no dia anterior, então não foi difícil nos localizarmos e logo estamos novamente na estrada às sete horas da manhã.

A paisagem não muda muito e continua tudo muito deserto, o terreno árido é predominante pelo caminho. Estamos na província de Antofagasta, um bom sinal de que falta muito pouco. A região é marcada pela presença de minas. Durante o trajeto, nos deparamos com caminhões carregando enormes pneus de máquinas específicas para o trabalho nas minas. Também presenciamos um trem cargueiro, possivelmente com minérios, aliás, esse é um meio de transporte muito utilizado na região.

Tudo muito árido em direção à Sierra Gorda

Regiões desérticas

Sierra Gorda

Transporte de pneus para veículos específicos das minas, olha o tamanho.

Transporte de minérios

O tempo estava bom, o trajeto era de pequenas subidas e retas, não ventava forte e conseguimos emplacar um excelente ritmo. Afinal, para quem pretendia chegar em Antofagasta com o tempo claro, era preciso manter uma velocidade média boa. O acostamento nos proporcionava uma segurança extra. Três horas de pedal e chegamos em Sierra Gorda, um tempo recorde que seria muito difícil de fazer no dia anterior. A altimetria estava diminuindo, a placa na estrada indicava 1.616 metros. Cidade de um povo histórico e mineiro, era a recepção na entrada de Sierra Gorda, um pequeno município chileno, mas com trabalho intenso nas minas. Fizemos apenas uma breve parada e ficamos imaginando onde o João teria passado a noite.

Seguindo viagem, o vento contra começa a aparecer e diminui nosso ritmo bruscamente. Para variar, em determinados trechos tínhamos a sensação de estarmos subindo, uma vez, que a bicicleta parecia não se deslocar. No caminho encontramos um cicloturista alemão com mais de vinte mil quilômetros de pedal por esse mundo. Estava viajando sozinho, não falava espanhol e muito menos português, foi difícil nos comunicarmos com ele, por isso o diálogo foi breve e cada um seguiu seu destino. Outra curiosidade, grandes construções antigas que se encontravam abandonas. Muitas delas eram industrias que realizavam armazenamento e distribuição de sal, conforme, nos orientava as placas na estrada, que destacavam ainda, o grande número de funcionários que realizavam um trabalho que, a partir dos números da produção, era muito movimentado.

Cicloturista alemão

Com muito sacrifício chegamos no povoado de Baquedano quase duas horas da tarde. Um pouco antes da entrada, Aramis, já cansado e cogitando a idéia de não seguir para a Antofagasta em razão do vento contra muito forte, acaba caindo ao passar pelos trilhos de uma linha férrea que estava na diagonal, fazendo com que o pneu dianteiro ficasse preso entre os trilhos. Infelizmente presenciei a cena, quase em câmera lenta. E o Aramis que já não estava muito a fim de seguir para Antofagasta naquele dia, acabou resolvendo ficar e continuar no dia seguinte. Almoçamos em um restaurante à beira da rodovia que atravessa o pequeno povoado.

Conversando com o Aramis, chegamos a um acordo de que ele ficaria em Baquedano e eu continuaria a viagem. Não estava muito animado em seguir sozinho e deixar um companheiro para trás. Talvez a ansiedade de chegar ao destino final falasse mais alto do que sensatez em aguardar aquele que tinha sido até então, meu referencial. Nos despedimos depois almoço e voltei para a estrada.

No pequeno vilarejo de Baquedano

Eu sinceramente não estava satisfeito com a situação, deixar um amigo para trás não era uma decisão muito certa. Durante a viagem, fiquei meio surpreso com a decisão do João em sempre pedalar sozinho, não se importando muito com o que pudesse acontecer à sua equipe. Mais tarde compreendi o seu espírito, mas até aquele momento não era um modo de pedalar interessante, ao menos, quando se viaja em grupo. E a minha decisão de seguir sozinho, era quase a mesma coisa que o João fez no dia anterior, quando saiu de Calama em direção a Sierra Gorda, com o objetivo de chegar na data programada.

Então, quando sai de Baquedano rumo à Antofagasta que não estava a cem quilômetros de distância, fiquei pensando em todo esse contexto relacionado à equipe e também sobre meu comportamento diante das circunstâncias. Pra ajudar, pedalar era quase impossível àquela hora da tarde, o vento contra estava muito forte e o fluxo de veículos maior do que estávamos acostumados a ver nas estradas chilenas. Esses fatores somados à ausência de acostamento e a consciência que não estava tranqüila por deixar um companheiro pra trás, foram decisivos para não pedalar mais do que dez quilômetros. Estava disposto a voltar sem pensar duas vezes. Retornei.

Assim que nos despedimos no restaurante, o Aramis foi procurar um hotel ou pousada. Então, voltei ao estabelecimento para obter informações a respeito das opções de hospedagem. E não eram muitos os lugares em que eu deveria procurá-lo. Um hotel e duas espécies de pousada. Em nenhuma o Aramis estava. Fui dar uma volta pelas ruas e ver se encontrava-o acampado em algum lugar. Sem sucesso. Pergunto para algumas pessoas na praça se avistaram um ciclista carregado de bagagens. Algumas meninas dizem que sim e apontam uma direção, sigo a orientação, mas ainda não consigo localizá-lo.

Várias voltas pelas ruas e nada do Aramis. Nas hospedagens, nenhum ciclista, não tinha a mínima idéia de onde ele poderia estar, uma vez, que o povoado é pequeno. Aproveitei e perguntei o preço da pernoite, em todos os lugares um valor absurdo. Voltei à entrada do povoado, onde horas antes passamos por um posto policial. Entro e converso com o guarda chileno sobre a possibilidade de montar acampamento no pátio, antes é claro, menciono sobre a viagem. Meu espanhol não é perfeito, mas no meu entendimento, o policial me concede permissão para acampar. Assim poderia pensar melhor no que fazer depois.

Acampamento montado, vou em direção a um banheiro público na frente do posto policial, bastava atravessar a rodovia. Assim que estou voltando ao posto, o policial me repreende bravamente, questionando para onde eu estava indo. Oras, eu caminhava para minha barraca já montada no pátio onde fui liberado para ficar. O policial me parece surpreso e diz que de maneira alguma eu posso permanecer no local, que segundo ele, era de exclusividade da polícia. Furioso, ele pede para mostrar onde eu fiz a instalação da barraca. Chegando ao local, de forma agressiva, ordena que eu retire imediatamente tudo do local. Argumento dizendo que sou brasileiro, estou viajando de bicicleta e já havia conversado com um policial que permitiu a hospedagem. Insisto uma duas, três vezes na história. Mas não percebo que ele é o mesmo policial com quem conversei anteriormente. Fico surpreso quando o policial me lembra que foi com ele próprio que falei. Foi então que não entendi mais nada. Se minutos antes me concedera permissão, porque agora me tratava como um cachorro. Ele tentou arrastar minha barraca onde minha bagagem inteira estava em seu interior, para o lado de fora do posto policial. Claro que ele não conseguiu deslocar a barraca em razão do peso. Peço ao menos para esperar eu tirar as coisas. Sem aguardar muito, começa a levar minha barraca, para não rasgar, ‘ajudo-o’ até chegar à calçada, onde sou deixado como um bandido. Retorno apenas para pegar minhas coisas. Que situação.

Ainda sem compreender a atitude do policial, fico desorientado e minha primeira idéia foi montar acampamento na calçada, distante da entrada do local. Mas logo fui repreendido novamente. Foi o único momento da viagem que tive vontade de não estar ali, quase chorei de raiva. Com o alforje encaixado de qualquer jeito no bagageiro e a barraca dobrada no mesmo estado, começo a pedalar de novo pelas ruas em busca de um lugar para ficar.

Procuro um lugar em poderia acampar com segurança, um local não muito visível e sem movimentação. Não achei nada parecido. Várias voltas pelas ruas na esperança de encontrar alguém que permitisse um acampamento no quintal de suas casas. Mas esse era outro problema, a maior parte das moradias não tinha esse espaço. Já não estava tranqüilo quando resolvo voltar à praça e pensar em alguma coisa.

Na praça, encontro as meninas para quem pedi informações antes. São três, quatro garotas simpáticas, começo a conversar sobre vários assuntos, escola, trabalho, viagem, a região e também sobre a situação em que eu me encontrava. As moças sensibilizadas, disseram que talvez a tia de uma delas poderia permitir que ficasse em seu quintal. Era uma esperança. Foram perguntar e voltaram com sinal positivo. Minha salvação. Em companhia das moças vou para a casa da tia. O local é simples e a senhora concede a garagem, na verdade, uma pequena área de sua residência para montar a barraca. Agradeci muito a hospitalidade da senhora e a atenção das meninas. Estava quase escurecendo. Cansado, vou dormir após toda uma tarde tumultuada.

Consciente que o Aramis sairia cedo no dia seguinte em direção à Antofagasta, isso se ainda permanecesse em Baquedano, resolvo acordar mais cedo do que de costume e esperar na saída da cidade, onde, obrigatoriamente ele teria que passar para seguir viagem. A noite é tranqüila. E ainda de madrugada já estou deixando tudo devidamente organizado na bicicleta. Cuidadosamente abro e fecho o portão para evitar qualquer barulho. Cinco horas da madrugada já estou na estrada.

Faz muito frio. Na saída de Baquedano, fico sentado na frente de uma casa, ao lado da rodovia, esperando a passagem do Aramis. Na verdade, estava torcendo para que ele ainda estivesse no povoado. Chegar sozinho em Antofagasta não era uma idéia muito agradável. Em silêncio para não despertar os cachorros da vizinhança, aguardo pacientemente. De repente no meio do nada, surge um ciclista na estrada. Sem dúvida era o Aramis. Chamo seu nome em voz alta, que não chega a ser um grito. Ele escuta, retorna sem entender direito e fica muito surpreso com a minha presença. Antes de seguirmos, explico rapidamente o que aconteceu. Ele me diz que ficou em um hotel próximo a linha férrea em que caiu no dia anterior. Era um local mais distante e ninguém tinha mencionado sobre a existência do mesmo. Enfim, estávamos pedalando novamente em equipe. Começava o último dia de pedal, Oceano Pacifico agora estava muito próximo.

Iniciamos o dia com uma temperatura baixa, mas suportável, para nossa sorte a estrada tranqüila nos primeiros quilômetros, ainda sem acostamento. Ao contrário do dia anterior no momento em que seguia sozinho, agora era possível pedalar em um ritmo bom, pois o vento fraco permitia nosso deslocamento sem maiores problemas. Conforme nos aproximávamos de Antofagasta, era visível o melhoramento do asfalto e a pista mais larga. Durante os poucos quilômetros que tínhamos pela frente o cenário que avistava-se ainda era de uma área extensa que nos parecia inóspita, contudo, em alguns trechos a movimentação de veículos utilizados nas minas, que por sua vez, estavam instaladas na região. Continuando pedalando e observando a paisagem sem perder a atenção na estrada que conforme avançam os minutos ficava gradativamente movimentada. Era o sinal que Antofagasta estava chegando.

Toda aquela tensão do dia anterior estava superada, pedalando com um clima de vitória, saboreando os últimos metros de uma expedição que exigiu muito do corpo e da mente, era inevitável não estar animado quando as placas indicavam que nosso destino final estava mais próximo. Para deixar o ambiente ainda mais emocionante, encontramos algo que até então só conhecíamos através dos livros. Na verdade não era possível vê-la, pois como o próprio nome diz, era imaginaria. Sim, estávamos passando sobre o Trópico de Capricórnio, indicado por placas e pequenos trechos explicativos sobre sua posição geográfica. Foi uma sensação diferente, que parece indescritível e não encontro palavras para expressar o que foi aquela transferência dos livros para o local onde eu estava.

Trópico de Capricórnio

Faltava muito pouco, era quase nove e meia da manhã quando avistamos a primeira placa nos desejando boas vindas ou melhor, Bienvenido a Antofagasta. Claro que paramos para registrar o momento, o que temos de uma viagem não é um troféu ou premiação em dinheiro, mas sim todo um aprendizado e as lembranças que, se a memória não lembrar futuramente, são recordadas a partir dos registros fotográficos, de vídeos e palavras escritas como estas. Desse modo, aquela placa e posteriormente o seu registro era um modo de gravar a vitória que foi conquistada a cada dia, de quilômetro a quilômetro. Mas embora estivéssemos no território de Antofagasta, não tínhamos nenhum sinal da cidade, muito menos do Oceano, que naquela altura parecia ser inexistente diante de um cenário árido que nos cercava. Assim, a única solução era continuar pedalando. Avante!

Inesquecível chegada em Antofagasta

Novamente aquele filme de toda a viagem e seus preparativos passam pela cabeça. Era a vitória cada vez mais real. É como estar na última volta de uma competição, faltando apenas cruzar a linha de chegada. Mesmo faltando poucos quilômetros, agradecia a Magrela Guerreira por ser uma heroína sem me causar nenhum problema de mecânica, nem mesmo um pneu rasgado ou uma câmera de ar furada e passar por obstáculos que muitos diziam que não agüentaria. A bicicleta simples, com peças sem marcas expressivas mas de boa qualidade foi essencial para chegar onde estava. Não queria mencionar naquele momento o que a Magrela estava registrando para a história, mas seria uma questão de azar furar o pneu justamente faltando tão pouco para finalizarmos a expedição. Mas eu acreditava no potencial da Guerreira.

O Aramis que em território estrangeiro não teve problema com pneu furado, também não queria cantar vitória antes da hora. E faltando menos de 10 quilômetros seu pneu traseiro rasga e conseqüentemente fura a câmera de ar. O pneu dele era um semi-slick e já estava totalmente gasto. Mas rapidamente a câmera foi trocada e o pneu remendado com fita isolante pare agüentar chegar até o Pacífico.

Conforme seguimos, descidas apareciam pelo caminho, assim como novas placas indicando informações sobre a cidade, como por exemplo, a população. Antofagasta era uma grande cidade, sobretudo, em termos populacionais, eram mais de trezentos mil habitantes, segundo a placa. Mas queríamos mesmo é visualizar o Pacífico e esse parecia ficar mais distante pela nossa angustia em conhecê-lo. Mas logo a ansiedade cede lugar à contemplação e ao sentimento de vitória, e literalmente sentir-se vivo ao extremo.

À nossa frente estava ele, imenso e magnífico. Faltava apenas uma longa descida para alcança-lo, mas agora já era possível ver o tão esperado Oceano Pacífico. No topo da subida também tínhamos a visão de uma boa parte de Antofagasta. Registramos por vídeos e fotos, tudo que encontramos na entrada da cidade. E por incrível que pareça, um campo de futebol marcava presença. Mas o mar era a admiração principal, eu particularmente sempre gostei muito de praia e todo aquele ambiente de maresia. Conhecer o Pacífico diante das circunstancias de toda a viagem, era um prazer muito maior.

Finalmente, Oceano Pacífico.

De um oceano ao outro pedalando

Continuamos descendo para enfim chegarmos ao mar. Que maravilha, estava no Oceano Pacifico, outro lugar que até então eu conhecia apenas por livros, filmes e mapas. Literalmente um pedal do Atlântico ao Pacífico, o nome de nossa expedição se tornava em uma viagem concluída com sucesso e toda uma história que foi descrita neste texto por meio de fragmentos. Talvez assim eu possa expressar o espírito da viagem; Lugares realmente inóspitos, mas com paisagens que não posso descrever, lembranças que guardarei até quando minha memória permitir e uma experiência que é pra sempre, aprender a valorizar a vida e a quem amamos.

Oceano Pacífico

Minha querida Magrela Guerreira

Andamos pela orla de Antofagasta, uma extensa área, em uma determinada parte, encontramos banhistas nas águas do Pacífico, e nós não poderíamos partir sem um mergulho no mar. Aproveitamos e fomos pra água. Que diferença, claro que é salgada. Mas a temperatura não se comparava à do Atlântico. Extremamente gelada! Não agüentamos ficar muito tempo na água, tiramos algumas fotos e saímos. Detalhe, era verão e para aquelas pessoas parecia que a temperatura não incomodava em nada.

As águas geladas do Pacífico no verão chileno

Antes de conhecer o centro da cidade, procuramos a rodoviária para sabermos os preços e horários de ônibus para Santiago, a capital. Uma curiosidade no Chile, é que em vários lugares as rodoviárias não contemplam o embarque e desembarque de todas as empresas, desse modo, a rodoviária se torna um local de exclusividade para cada empresa. Compramos as passagens para tarde, cerca de duas ou três horas. Tínhamos tempo de almoçar e andar por Antofagasta.

No centro movimentado, aproveitamos para cambiar um pouco de dinheiro e conhecer um pouco da cultura chilena. Andamos bastante pelas ruas de Antofagasta, conversamos com algumas pessoas, entre elas, um ciclista que fez questão de saber mais sobre nossa viagem. Era engraçado, dois ciclistas com suas bicicletas super carregadas, caminhando pelas calçadas cheias de gente. Decidimos almoçar no mercado municipal, um grande centro comercial que nos foi recomendado pelo baixo preço da alimentação. Pra ser sincero achei interessante a diversidade do lugar, sobretudo, da variedade de comida, principalmente chilena, é claro. Talvez não tivemos muita sorte no prato que escolhemos, uma sopa com muito milho e pouca carne. Acredito que tenha sido a falta de diálogo com a garçonete, na verdade conversamos bastante com ela, que até comentou que nas férias visitaria o litoral catarinense, mas entendemos muito pouco sobre o menu.

Centro de Antofagasta

Mercado Municipal

Nas redondezas do mercado popular, havia um comércio quase que explícito de drogas ilegais, fomos alertados pela garçonete à tomar cuidado com nossos equipamentos. Foi possível verificar a compra, venda e utilização de drogas na praça em frente do mercado. Um problema que parece não ser somente do Brasil. No final, nada aconteceu conosco, o Aramis esqueceu o capacete vietnamita em algum lugar, mas foi apenas isso que sumiu. Descansamos um bom tempo e seguimos para rodoviária da empresa Tur Bus, acho que era esse o nome. Pagamos uma pequena taxa para colocar as bicicletas no bagageiro do ônibus e nossa parada agora seria Santiago. Infelizmente não ficamos mais tempo em Antofagasta em razão do tempo limitado do Aramis que voltava ao trabalho em poucos dias.

3 comentários:

  1. esses chilenos sao uns capetas babacas fdp, se creem serem prusianos alemaes, especialmente os carabineros...chile e de longe o pior pais das americas para turistear...e muito caro, nao visitem novamente... eu tb foi sacaneado por eles (sao acomplexados)

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  2. Fiz grande parte dessa rota em junho e julho de 2014. Muito linda a região

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