22/05/2013 - 318°
dia - Belém (Folga)
Conhecendo a
grandiosa Belém.
Como havia
mencionado na postagem anterior, hoje o dia seria dedicado à visitação dos
principais atrativos da capital de paraense. Por isso acordei cedo e pouco
depois das 7 horas da manhã eu já estava na movimentada e importante avenida
onde está localizada a residência do anfitrião Santos, que me orientou sobre
quais ônibus pegar para chegar à região central que concentra os mais
importantes pontos turísticos da cidade.
A frota de
ônibus na cidade é muito grande e não precisei esperar para pegar um veículo em
direção ao Ver-o-Peso, local escolhido para começar meu passeio. O mercado talvez
seja o lugar mais conhecido de Belém. A passagem de ônibus custou R$ 2,20 e o
que chamou a atenção foi o número de poltronas destinadas aos passageiros,
muito maior do que a maioria dos ônibus com a mesma finalidade nas outras
cidades. Sem dúvida isso beneficia o usuário que não fica demasiadamente
espremido.
Não sei quanto
custa o preço da passagem de ônibus em Boa Vista/RR, mas em Manaus/AM a tarifa
absurda chega aos três reais e o serviço prestado está longe de ser compatível
com o valor cobrado. Sem esquecer de mencionar que a pavimentação na capital
amazonense deixa a desejar. Essas questões já são um pouco melhores em Belém,
contudo, a quantidade de veículos nas ruas e avenidas causa congestionamentos
frequentes e aumenta consideravelmente o tempo de deslocamento. No meu caso
essa duração foi de 1h30m. Por mais de uma vez pensei que seria muito mais
rápido ter ido de bicicleta, no entanto, na ausência de um lugar seguro e
conhecido para tranca-la, achei melhor pegar o ônibus.
O sol aparece
muito cedo nesta região e o tempo começa a ficar claro a partir das 5h30m. Duas
horas depois a temperatura é extremamente elevada e a sensação térmica se
torna ainda maior dentro do ônibus que custa a chegar ao destino desejado. Quando
finalmente desembarco na parada do Ver-o-Peso começoi a minha jornada pelo
bairro denominado Cidade Velha.
O mercado Ver-o-Peso
é a maior feira ao ar livre da América Latina. Em sua enorme área é possível
encontrar de tudo um pouco; frutas típicas da Amazônia, legumes, verduras, vários tipos
de farinha e até um espaço destinado à alimentação, onde, talvez a maior curiosidade
para nós, “forasteiros”, seja a combinação de um prato bastante popular na
região; açaí com peixe frito. São várias barracas que oferecem a iguaria.
Um dos setores
mais tradicionais, divulgado e conhecido do Ver-o-Peso é o das ervas: “[...]
nele resguardam elementos centrais da identidade da população amazônica: seus
saberes e fazeres acumulados sobre os recursos naturais e também todo o sistema
de crenças da região.” Sem dúvida é uma das partes mais interessantes da feira.
Parei na barraca da Dona Coló que ficou famosa no local por receber várias
celebridades do meio artístico. Atenciosa me apresentou seus produtos um tanto
esdrúxulos.
As “misturas”
com os produtos naturais encontrados no Setor das Ervas tem as mais diversas
finalidades, desde remédios, simples aromatizadores a frascos de fragrâncias
intitulados; amansa corno; chama tudo;
amansa sogra; conquista; chega-te-a-mim, vai e volta, abre caminho, laço de
amor, atrativo da perseguida e mais dezenas de opções a quem estiver
interessado. Se a funcionalidade é realmente comprovada eu não sei, mas é quase
impossível não rir (com todo respeito) com essas nomenclaturas.
Ao lado da
feira existe o antigo prédio onde funciona o Mercado do Peixe. O local atualmente passa por um
processo de restauração que deve ser finalizado em dezembro desse ano. A área,
como o próprio nome sugere, abriga os mais diversos pescados da região. Tem
peixe de vários tamanhos e preços. Vale conferir.
Os responsáveis
pelos pescados ancoram suas embarcações no cais às margens da baía do Guajará onde
também é possível encontrar vendedores e suas mercadorias oriundas da água doce e salgada.
Essa área acaba por separar o Mercado do Peixe e o Mercado do Açaí. A fruta é
muito abundante no Estado e faz parte das refeições diárias de muitos moradores
locais. Normalmente o desembarque do açaí acontece no final da madrugada, período
em que o mercado fica bastante movimentado. Como eu cheguei um pouco mais
tarde, não presenciei a agitação, mas ainda assim registrei a chegada de uma
carga ao local.
Vale ressaltar
as construções históricas que rodeiam esses mercados, herança dos portugueses,
a arquitetura chama atenção também pelos detalhes, muitas vezes acompanhados de
azulejos oriundos da Europa. A marca do tempo é nítida nos prédios que, infelizmente, .apesar
de tombados como patrimônio histórico, praticamente não recebem a devida preservação.
A Cidade Velha também concentra alguns museus, inclusive, o Museu do Círio que apresenta a história
de uma das maiores manifestações religiosas do mundo que é o Círio de Nazaré.
Não cheguei a fazer a visita, mas deve ser interessante conhecer um pouco
melhor a respeito. No meu primeiro dia na cidade, o cicerone Lauro me mostrou
parte do caminho que é realizado pelos fiéis e também a enorme igreja de Nazaré
que, infelizmente, não foi registrada na ocasião. O que eu não deixei de
fotografar hoje foi a parte externa da Catedral que fica na frente da Praça
Frei Caetano Brandão.
Na frente da
Catedral está o Forte do Presépio que é o marco da fundação de Belém, datado de
1616 pelos portugueses. Sua instalação tinha a pretensão de proteger o domínio
da região contra a invasão dos franceses. A antiga construção ainda preserva os
canhões da época que estão distribuídos tanto na parte externa e interna. A
entrada no Forte custa dois reais. A visita é válida pelo panorama que se tem
do Mercado Ver-o-Peso e pelo museu que expõe melhor a história que envolve
a fundação da capital e costumes indígenas da região. Recomendo.
Após a visita
ao Forte e uma caminhada pela Cidade Velha eu resolvi ir à Praça da República
para registrar e conferir o interior do Teatro da Paz, maior da região norte do
Brasil. Para chegar ao local não precisei andar muito, mas ainda assim foi
possível conhecer uma parte do centro da cidade que não é diferente de outras
capitais, muito trânsito, pessoas e um diversificado comércio.
Na agradável
Praça da República fui diretamente ao teatro onde a entrada custou 4 reais. A
visita é guiada e a responsável por desempenhar essa tarefa me pareceu muito
capacitada. A construção que também é da época áurea do Ciclo da Borracha e um
pouco anterior à realização do Teatro Amazonas em Manaus e sua capacidade é
superior e suporta mais de mil pessoas. O interior também é majestoso como
aquele da capital amazonense. E não poderia ser muito diferente já que ambos
tinham o mesmo decorador, o artista italiano Domenico de Angelise. A maioria do
material é proveniente da Europa.
A parte externa
do Teatro da Paz também é muito interessante e repleta de detalhes carregados
de significados que passariam despercebidos se não fossem as informações
repassadas pela guia. Aliás, no final do passeio ela questionou se eu havia
efetuado o pagamento da entrada. Com a minha resposta positiva ela mencionou
que nas quartas-feiras a entrada era gratuita. Com isso fui à bilheteria onde o
funcionário me pediu desculpas e devolveu o dinheiro. Mais uma economia, melhor
assim. De qualquer forma, recomendo a visita.
Para voltar à
residência do Santos eu precisei apenas pegar um ônibus que passava na
movimentada avenida onde o anfitrião mora. Gostaria de ter visitado o Bosque
Rodrigues Alves que o Lauro me avisou que era imperdível. Mas o tempo no
período da tarde começou a fechar e indicava que a chuva não demoraria a cair,
por isso resolvi voltar para o lar.
A chuva
realmente caiu no final da tarde e começo da noite e afastou os convidados que o Santos tinha
chamado para o churrasco que estava sendo preparado em minha homenagem (olha só
que honra). Sei que poucas pessoas compareceram, mas ainda assim foi uma
excelente confraternização, onde, além de comer uma excelente carne assada, foi
possível relembrar várias histórias e momentos especiais da expedição. Valeu
pela companhia, camaradas. Santos, muito obrigado mesmo por essa oportunidade.
A minha
pretensão era seguir viagem no dia seguinte, mas como o churrasco terminou
apenas por volta das 2 horas da madrugada, ficaria muito difícil levantar às 5 horas
para começar pedalar uma hora depois. Por isso, com a permissão do anfitrião, permanecerei
um dia a mais na cidade e aproveitarei para descansar já que o diário de bordo
está atualizado e os principais pontos turísticos visitados.
23/05/2013 - 319°
dia - Belém (Folga)
Dia dedicado
exclusivamente ao descanso.
24/05/2013 - 320°
dia - Belém x Capanema*
Finalmente o
retorno à estrada.
Ontem fui
dormir cedo para acordar bem disposto para voltar ao pedal com energia total. A
estratégia funcionou e às 5 horas da madrugada eu já estava levantado para
arrumar as últimas coisas na bagagem. Antes de seguir viagem aproveitei para
tomar o café da manhã preparado pelo Santos que fez questão de acordar cedo
para auxiliar no que fosse necessário. Obrigado à toda família pela excelente
hospitalidade.
Com a refeição
matinal reforçada, estava na hora de começar o pedal. Só existe uma
saída/entrada em Belém e isso torna tudo mais fácil para um cicloturista,
sobretudo, porque a saída em questão estava próxima da residência que eu
deixava às 6h20m. Ainda era cedo, mas o trânsito enfurecido tomava conta das
ruas e avenidas. Precisei de muita atenção para chegar à BR 316. O início da
rodovia marcava a divisa entre os municípios de Belém e Ananindeua.
A pista nesta
área metropolitana é duplicada e com acostamento, mas ainda assim é preciso ter
muito cuidado em razão das várias entradas/saídas e o fluxo intenso de
veículos, inclusive de bicicletas. Os demais ciclistas, sobretudo, trabalhadores,
também pedalavam atentamente para desviar dos buracos que infelizmente estavam
presentes em determinados trechos do acostamento. De qualquer forma foi muito
bom ver a quantidade de pessoas que utilizam a bicicleta como meio de transporte
em um cenário onde o automóvel é predominante.
Essa parte mais
movimentada durou aproximadamente 16 quilômetros, precisamente, até a saída da
cidade de Marituba que também
pertence à região metropolitana. Na sequencia a pista passou a ser simples,
porém mais tranquila.
O tempo
amanheceu nublado e assim permaneceu, evitando um desgaste físico maior. A
paisagem não apresentava muitas novidades e se alternava entre pastagens e
florestas com árvores medianas que pouco foram captadas pela lente da câmera
fotográfica.
A quilometragem
passou rapidamente e às 10 horas eu estava na cidade de Castanhal, uma das
maiores da região. No movimentado perímetro urbano visualizei um cicloturista
no sentido contrário, mas ele não ouviu meus chamados e cada um seguiu seu
destino. Pela aparência deveria ser estrangeiro. Foi uma pena não ter
conseguido trocar algumas idéias. Seria muito bom ter mais detalhes sobre o
trecho a seguir.
O relevo após
Castanhal ficou mais difícil para ser completado, principalmente por causa da
montanha-russa que impedia um deslocamento mais rápido. Mas com a minha sede de
pedalar, conseguia manter um ritmo razoável e por volta das 13 horas eu
completava quase 90 quilômetros e com a fome anunciada aproveitei para almoçar
no restaurante Bom Sabor, paralelo a um posto de combustível às margens da
rodovia. O estabelecimento estava vazio e o atendimento não foi dos melhores. A
refeição poderia ser servida por quilo, prato feito ou buffet, 22, 9 ou 12
reais, respectivamente. Optei por um prato feito, diga-se de passagem, muito
caprichado.
Se por um lado
eu era o único cliente do restaurante, por outro, parecia que todos os
mosquitos do Pará estavam concentrados na minha mesa. Uma situação totalmente
desagradável. A minha estratégia para não espantar o inseto indesejado o tempo
todo foi simples; separar um pedaço de gordura da carne, colocar em um prato e
deixar no canto isolado da mesa. A idéia funcionou e as moscas ficaram tranquilamente
no espaço reservado a elas e eu consegui almoçar em paz. Coisas da vida na
estrada.
Por causa dos
mosquitos eu nem fiquei muito tempo parado e logo que acabei o almoço voltei à
estrada para descobrir que 5 quilômetros depois tinha outro restaurante.
Paciência. Fica a dica para quem passar pela região. Aliás, restaurante não
falta pelo caminho, não se preocupe.
No período da
tarde o céu que estava nublado ficou cada vez mais escuro e a chuva não demorou
a aparecer. Assim como também surgiu a entrada para a cidade de Santa Maria do
Pará e na sequencia o primeiro trevo para Salinópolis, litoral paraense que não
estava no meu roteiro e por isso continuei na BR 316 em direção à Capanema,
meu destino no final do dia.
Chegar à
Capanema no mesmo dia seria uma tarefa muito complicada já que a distância
desde a capital era quase de 160 quilômetros. Parece pouco, mas para quem
estava sem pedalar na estrada há um bom tempo era um grande desafio,
principalmente porque no final do dia as pernas começaram a ficar pesadas. O
que também passou a não colaborar após esse trecho de Salinópolis foi o
acostamento que começou a ter vários buracos. De qualquer forma, adelante.
Começava a
escurecer quando resolvi parar em um vilarejo (pertencente ao município de Peixe-Boi) para sondar a possibilidade de
ficar em uma escola, mas as pessoas que encontrei no local não me pareceram
muito hospitaleiras e como a recepção não foi das melhores, minha fala ficou
limitada à perguntar quantos quilômetros restavam até Capanema.
Não faltava
muito para chegar ao destino desejado, contudo, de nada adiantava chegar à
Capanema de noite se a pretensão era montar acampamento em alguma propriedade
rural às margens da rodovia. Por isso, quando ainda faltavam dez quilômetros
para a cidade eu encontrei uma fazenda que não aparentava ser simples, mas que
poderia ser um local perfeito para passar a noite já que tinha uma extensa varanda
que serviria de abrigo contra a chuva que muito provavelmente cairia
durante a madrugada.
Mais uma vez
Deus iluminou o caminho e atendendo ao meu pedido para ser guiado a um descanso
seguro me direcionou àquela casa onde uma mulher me atendeu e ouviu atentamente
a minha solicitação. Ela apenas pediu para eu aguardar um momento que
consultaria seu pai. Rapidamente ela retornou e abriu os portões da propriedade
permitindo a estadia. Para a minha surpresa eu não era o único viajante que
tinha sido hospedado pela família naquele mesmo dia.
Elias é o nome
do viajante que muita gente poderia chamar de andarilho, mas acho que
mensageiro seja mais apropriado. Afinal, ele, que também é natural de São Paulo,
viaja pelo norte do país levando a palavra de Deus, que por sua vez, está
presente na maioria de suas falas. Como vivo um momento de oração não fiquei
indiferente àquele sinal dos céus e prestei atenção em cada palavra proferida
por aquele senhor de cabelo e barba comprida. A tez clara, porém queimada do sol, indicava
o caminho difícil que ele enfrentava para cumprir seu propósito.
O mensageiro
Elias tem mais de 50 anos e há 12 está na estrada com esse objetivo de levar a
palavra de Deus que, segundo ele, foi um chamado que recebeu quando ainda
tinha seus 16 anos. Ao ser questionado se pretendia voltar para casa, sua
resposta foi negativa e também mencionou que não entrava em contato com a
família porque ela não hesitaria em mandar o que ele supostamente precisava. Acho que cada
um tem que seguir pelo caminho que acredita. E o Elias me pareceu muito
convicto em suas escolhas e também por isso ganhou meu respeito.
A família
hospitaleira que abriu as portas da casa para a gente não se importou em
oferecer o banheiro para que eu pudesse tomar um banho. Como eu estava todo
sujo e suado não pensei duas vezes para ficar limpo de novo. O banho foi de
balde, como muitas outras vezes aconteceu na viagem e não foi agora que me
importei com isso, muito pelo contrário, fiquei extremamente feliz pelo fato de
poder dormir limpo.
Fomos convidados
a jantar e questionado se eu comia baião-de-dois, prontamente respondi que comia
de tudo, afinal, viajantes nas nossas condições não pode ter preferências. A
refeição que estava acompanhada de um delicioso peixe serra (encontrei muitos
no Mercado do Peixe em Belém) foi muito bem-vinda e rapidamente devorada. Claro
que não deixei a mesa sem agradecer aos anfitriões.
Montei minha
barraca na varanda e ainda recebi um colchonete para dormir mais confortável.
Foi simplesmente uma hospitalidade fora de série. O Elias recebeu uma rede e
foi descansar por algumas horas. Segundo ele, sairia durante a madrugada porque
é um horário que gosta de caminhar e refletir.
Já no interior
da barraca eu também fui fazer a minha reflexão sobre tudo o que tinha
acontecido no final daquele dia. Agradecer a Deus foi sem dúvida a primeira
coisa que me veio à cabeça. Depois fui ler a Bíblia que o sargento/pastor
Dorival me presenteou antes de chegar em Corumbá/MS no ano passado. A palavra
recebida me mostrou que estou no caminho certo para cumprir os meus propósitos.
Dia finalizado
com 152,35 km em 10h22m e velocidade média de 14,68 km/h.
25/05/2013 - 321°
dia - Capanema* x Cachoeira do Piriá
Pedalando pela
montanha-russa paraense.
A noite na
fazenda Santa Helena foi muito tranquila. Não me lembro de ter acordado em
nenhum momento durante a madrugada. A calmaria e segurança proporcionada pelo
local favoreceu um descanso mais do que necessário, afinal, o pedal do dia
anterior foi superior a 150 km, distância considerável para quem estava algum
tempo sem ir à estrada.
Levantei por
volta das 6 horas e enquanto desmontava acampamento o senhor Edvan (responsável pela propriedade) me informou
que o Elias (mensageiro) havia partido ainda de madrugada. Infelizmente não foi
possível me despedir dele e muito menos fazer um registro fotográfico. Espero
que ele siga seu caminho em paz.
O anfitrião me
convidou para tomar café da manhã com direito a leite recém ordenhado da vaca.
A criação de gado bovino é bastante forte na região e não à toa uma imensa área
é destinada às pastagens. Enfim, a refeição matinal ajudou a reforçar o
estômago para seguir viagem, não sem antes me despedir da gentil família que me
recebeu da melhor forma possível. Fica meu eterno agradecimento.
Na estrada a
neblina estava presente, mas talvez um pouco mais dispersa do que minutos atrás
na fazenda. Precisei pedalar apenas dez quilômetros para chegar à Capanema,
quer dizer, ao trevo de acesso à cidade, felizmente a rodovia passa por fora e
não é necessário pedalar pelo perímetro urbano.
O período da
manhã foi sem muitas surpresas no que diz respeito à paisagem que continuou
parecida com aquela visualizada no dia anterior, no entanto, o que marcou essa
primeira parte do pedal foi a série de subidas e descidas pelo caminho, uma
verdadeira montanha-russa paraense. A temperatura ambiente elevada e somada a
esse relevo fez o meu corpo sentir a quilometragem de ontem e rapidamente cada
giro no pedal ficou ainda mais difícil. Tentei compensar a parte física
desgastada controlando a parte psicológica, mas não foi uma tarefa fácil.
Não importa se
a subida é nos Andes ou aqui no Norte do país, se tem 60 metros ou 60
quilômetros, subida é sempre subida e por mais preparado que você esteja, ela
vai ser um desafio até você chegar ao topo da montanha e ver o próximo aclive no
horizonte. (Risada Sacana). Nesse momento você tem que respirar fundo, não pensar muito e seguir
em frente sem esquecer que: A grandeza da
vitória está na dificuldade em obtê-la.
Como se não
bastasse o sobe e desce, a estrada começou a apresentar inúmeros buracos,
sobretudo, no acostamento que, em muitos trechos, estava tomado pelo matagal e
dificultava o avanço em direção à divisa com o Maranhão que era meu destino até
o final da tarde, contudo, chegar a ele seria extremamente difícil com todas
aquelas condições: temperatura alta, subidas, pavimentação horrível e a
canseira inevitável. De qualquer forma eu continuava pedalando.
Um pouco antes
do meio-dia eu visualizei uma curva onde havia veículos estacionados no
acostamento e imediatamente suspeitei que algum acidente tinha acontecido.
Quando me aproximei do local foi possível ver que um caminhão se perdeu no
trecho sinuoso e ao sair da estrada tombou e bateu em uma árvore. O veículo
estava totalmente retorcido e, infelizmente, acho que os prejuízos não foram
apenas materiais. Achei melhor nem parar porque a área já estava tomada por
curiosos. Eu apenas continuei o pedal pensando que aquele acidente muito
provavelmente era resultado de mais uma imprudência sem limites dos motoristas.
Com pouco mais
de 60 quilômetros parei em um dos poucos vilarejos depois de Capanema, na
verdade, acho que se tratava mesmo de um pequeno município; Santa Luzia do
Pará. No final da cidade encontrei um restaurante e não pensei duas vezes em
parar e almoçar. Além de faminto eu estava extremamente cansado.
No Mani
Restaurante a refeição era por quilo e que, infelizmente, era muito caro e custava
22 reais. Brinquei com os funcionários dizendo que eu gastaria 50 reais com a
fome que estava. Então alguém sugeriu o prato feito que certamente era mais
barato, 12 reais. Eu pensei um pouco porque um PF àquela altura do campeonato
não seria suficiente para saciar a fome, mas sem alternativa achei melhor comer
pouco do que não comer nada.
Um cliente do
restaurante ao perceber a minha chegada com a Victoria ficou todo curioso e
começou a me fazer várias perguntas enquanto preparavam meu prato feito. Alex
Cunha era o nome do senhor que, atônito, parecia não acreditar nas minhas
respostas. O baiano que atualmente mora em São Luís estava voltando para casa,
mas antes de retornar à estrada fez questão de me pagar um refrigerante e me
passar o seu telefone, caso eu precisasse de hospedagem ou qualquer outra coisa
na capital maranhense.
O prato feito
estava bem caprichado como eu havia gentilmente solicitado. Com a minha fome, a
refeição não ficou muito tempo no prato. Quando fui pagar tive mais uma
surpresa. A proprietária pediu para eu deixar o dinheiro para o jantar, ou
seja, eu acabava de ganhar o almoço. Imagine a felicidade do sujeito aqui. Além
de agradecer, mencionei a existência do site e que faria uma pequena
publicidade do estabelecimento como uma singela forma de retribuir a gentileza.
Portanto, quem estiver de passagem por Santa Luzia do Pará e precisar almoçar,
não deixe de conferir; Restaurante Mani.
Acho que por
volta das 14h30m retornei à estrada sob um sol de castigar qualquer pessoa. A
temperatura elevada na região começa desde as primeiras horas da manhã e tem o
ápice entre 11 e 15 horas. E pedalar com essas condições tem sido extremamente
desgastante. Para a minha sorte a situação é amenizada com a chuva certeira que
despenca no período vespertino. Acho que a chuva nunca foi tão bem-vinda na
estrada como agora.
O sobe e desce
continuou até o vilarejo de Nazaré onde encontrei um posto de combustível e
parei na pretensão de abastecer minhas garrafas de água. A mulher que me
atendeu disse que para chegar à Cachoeira do Piriá, próxima cidade, tinha ainda
mais subida pela frente porque o município ficava em uma parte bem alta.
Misericórdia.
De Nazaré até
Cachoeira do Piriá o acostamento e a pavimentação da estrada não mudaram muito
e eu continuava pedalando pelos buracos que, caprichosamente, estavam
distribuídos por todas as partes. Quando o movimento na rodovia ficava mais
tranquilo eu não hesitava em pedalar na faixa lateral em razão do matagal que
invadia o acostamento. O que inesperadamente mudou foi o relevo. Ao contrário
do que me informaram, o trecho não foi marcado pela montanha-russa e somente
uma pequena inclinação se fazia presente pelo caminho que foi percorrido mais
rapidamente.
Nas
proximidades de Cachoeira do Piriá comecei a procurar um local para montar
acampamento, mas estava difícil achar uma propriedade rural adequada a um
descanso seguro e tranquilo. Por isso fui obrigado a chegar ao perímetro urbano
da pequena cidade que estava extremamente movimentada, afinal, era sábado. Não
cogitei permanecer em nenhuma casa naquela área mais urbanizada e barulhenta.
Continuei em frente e na saída do município achei um posto de combustível que
poderia me proporcionar um pernoite sem desembolsar um centavo.
Conversei com
os funcionários do posto sobre a existência de alguma área coberta onde eu
pudesse passar a noite e argumentaram que havia uma construção paralela e
pertencente ao posto, mas que não era permitida a estadia (dormida) de viajantes em
situação parecida com a minha. No entanto, nem tudo estava perdido. Como era
sábado e o gerente do posto já havia ido embora e não retornava no dia
seguinte, minha presença foi liberada.
Com a permissão
de montar acampamento, precisei apenas procurar um local mais apropriado.
Estavam construindo um hotel nas dependências do posto e boa parte da obra já
estava concluída. Assim, entrei em um dos quartos e levantei a minha casa.
Questão resolvida.
A minha janta
foi um pacote de bolacha e muita água para enganar o estômago. Eu tinha comida
no bagageiro, mas àquela hora a canseira era maior do que a fome e após devorar
as energéticas bolachas eu fui dormir o sono dos justos na esperança de acordar
mais bem disposto no dia seguinte.
Dia finalizado
com 109,93 km em 9h32m e velocidade média de 11,52 km/h.
26/05/2013 - 322°
dia - Cachoeira do Piriá (Pará) a Comunidade Santo Antônio (Maranhão)
Mais uma
divisa, a sexta em território nacional. Maranhão!
A noite foi tranquila
na hospedagem de “luxo”. Talvez eu tenha demorado um pouco para dormir em razão
das barulhentas motocicletas. Em Cachoeira do Piriá elas são maioria e parece
que a diversão é andar e mostrar para a cidade quem tem o veículo mais
estrondoso. Paciência.
Acordei às 5
horas da madrugada para desmontar acampamento e sair o quanto antes em direção
ao Maranhão que estava a 30 quilômetros. Rapidamente arrumei a bagagem, devorei
outro pacote de bolacha e às 6h15m estava na estrada, não sem antes registrar o
local do pernoite e o sol nascente que despontava ao horizonte meio à neblina.
A neblina logo
cedeu espaço a um tempo aberto, ensolarado e quase sem nuvens que deixou a
temperatura extremamente elevada. Esse fator tem sido determinante para
diminuir meu ritmo, ainda que o relevo não tenha se apresentado com muitas
subidas.
Com exatos
trinta quilômetros o acostamento horrível termina junto com a BR 316 no estado
paraense. Acabava de chegar à divisa entre os estados do Pará e Maranhão.
Momentos como esse sempre me deixam com a sensação de estar avançando, ainda que
lentamente.
No estado
maranhense a rodovia continuou denominada como BR 316, mas com condições um
pouco melhores, sobretudo, no acostamento. Logo após a divisa parei em um posto
de combustível para passar o protetor solar, comer outro pacote de bolacha e
encher as garrafas de água. O local é um excelente ponto de apoio para
cicloturistas, conta com restaurante, áreas cobertas que podem servir como
acampamento e ainda tem banheiros com chuveiro. Se não me engano, chama Pombal
I. Fica a dica.
Depois do posto de combustível o relevo se mostrou favorável e o obstáculo
ficou mesmo por conta da temperatura exorbitante, mas sem muita opção, continuei
em frente observando a paisagem maranhense que, por sua vez, não se diferencia
muito daquela encontrada no último trecho percorrido no Pará, talvez a mudança
mais notável esteja relacionada com a presença de inúmeras palmeiras meio às
pastagens.
Por volta das
13 horas parei no hotel e restaurante Almeida em uma comunidade que não recordo o nome. O prato feito custou
12 reais. O cardápio simples não continha nenhuma especialidade local, mas
ainda assim estava caprichado. Enquanto terminava a refeição a chuva começou a
cair mais uma vez. Sem poder ficar esperando ela parar, voltei a pedalar
debaixo de água mesmo.
O trajeto na
parte da tarde foi marcado pela minha passagem nos municípios de Maracaçumé e
Governador Nunes Freire. Neste último encontrei o trevo para a cidade de Santa
Helena que era uma das minhas referências para chegar à São Luís. No cruzamento sem
placas encontrei o Marcos, um ciclista peruano que está pedalando pela América
do Sul, mas está há um bom tempo no Brasil, inclusive não é a primeira vez que
percorre essa região. Não entendi o seu objetivo de viagem e onde pretende
chegar. Sua bicicleta com mais de 120 quilos carrega uma porção de coisas que
encontra, pega e vende pelo caminho.
Conversei
somente um pouco com Marcos porque já escurecia e tudo indicava que em poucos
minutos cairia mais chuva. Ele permaneceria no posto de combustível do trevo e
eu continuaria em direção à Santa Helena. Antes de continuar a viagem, o peruano
ainda me falou um pouco sobre o caminho a seguir e nos despedimos.
Eu saia da BR
316 para começar a pedalar pela MA 106 em direção à Cujupe, cidade que estava a praticamente 200 quilômetros e que seria o local onde eu pegaria o Ferry Boat que me levaria à São
Luís, capital maranhense. A rodovia em questão deixou de ter acostamento e
passou a apresentar muito mais buracos do que a 316 no Pará. A minha sorte é que
o movimento na estrada estava tranquilo.
A chuva voltou
a cair e por isso não demorei muito em começar a procurar um local para montar
acampamento, mas a tarefa não foi simples e a busca terminou somente após a terceira tentativa na comunidade de Santo Antônio, 19 quilômetros após o
entroncamento. No final do vilarejo eu avistei uma casa com varanda e não
pensei duas vezes para solicitar um espaço para montar a barraca. O senhor que
estava na frente do imóvel titubeou ao meu pedido, mas ele pensou que eu
gostaria de dormir no interior da residência, contudo, quando deixei ainda mais
claro que precisava apenas de um espaço na área, ele disse que não havia
problema. A mesma opinião teve o filho que saiu da casa para saber o
que acontecia.
Levantei
acampamento enquanto conversava com a família que acompanhava todo o processo.
Na sequencia perguntaram se eu não gostaria de tomar banho e claro que não
recusei, afinal, o banho estava atrasado já que na noite anterior não encontrei
um chuveiro disponível na obra do hotel em construção.
A família
também me ofereceu a janta que foi mais do que bem-vinda. Tudo muito simples,
mas gostoso. Fiquei com receio de não colocar muita comida para não faltar aos
demais, contudo, no final, acabou sobrando na mesa e foi tudo para os cachorros
e gatos. Confesso que doeu no coração ver aquela cena. Paciência. O importante
é que eu estava em um lugar seguro e protegido da chuva, alimentado e limpo,
graças a Deus.
Dia finalizado com
119,62 km em 9h21m e velocidade média de 12,79 km/h.
27/05/2013 - 323°
dia - Comunidade Santo Antônio a Pinheiro*
Mais um dia
marcado pela hospitalidade das pessoas que encontro pelo caminho.
A noite foi
tranquila na Comunidade Santo Antônio; sono e descanso garantidos. Acordei por
volta das 6 horas e rapidamente fui desmontar a barraca. Neste período o
ciclista peruano passou na frente da casa em direção à Cujupe. Quando fui ver
ele já estava longe e pensei em alcança-lo na sequencia. Isso porque não demorei
quase nada na casa, apenas tomei um café preto oferecido pela hospitaleira
família ao qual deixei meu sincero agradecimento.
Às 06h45m eu
começava o dia com a pretensão de chegar o mais próximo possível de Cujupe. Mas
nos primeiros quilômetros eu já tinha uma idéia que não seria nada fácil,
primeiro porque a rodovia ficava cada vez pior com verdadeiras crateras. Segundo; incrivelmente a temperatura já estava elevada às 7 horas da manhã. Acredite
se quiser. E pensar que o Sul do país já tem geada e neve. Esse é o Brasil il
il il.
Pedalei em um
ritmo bom até os 20 primeiros quilômetros, mas mesmo assim não encontrei o
peruano e pensei como ele teria conseguido empregar uma velocidade alta com
aquela bicicleta extremamente carregada. Em todo caso eu encostei fora da pista
que, diga-se de passagem, ainda estava deserta, e comecei a quebrar as
castanhas (oriundas do Amazonas) que eu levava na bagagem. Acontece que a fome
chegava a um estado critico porque eu tinha tomado apenas um café preto no
início da manhã, por isso achei que a castanha seria uma excelente opção para
resolver esse problema.
Enquanto
devorava as castanhas, olhei para trás e notei a aproximação do ciclista
peruano que me explicou que tinha parado em uma casa à beira da estrada para
tomar o bendito café da manhã, por isso eu não havia conseguido encontra-lo.
Passamos a pedalar juntos.
O Marcos não é
um ciclista de muitas palavras e por isso conversamos pouco enquanto seguíamos
pela rodovia que em determinados trechos tinha verdadeiras crateras que
obrigavam os motoristas a desviar com manobras cada vez mais arriscadas. Triste
realidade de descaso público com a população.
A bicicleta do
Marcos não está nas melhores condições e acho que o câmbio dianteiro não
funciona e por isso não consegue colocar a marcha na coroa pequena para
completar as subidas, logo, a solução encontrada por ele é empurrar a
bicicleta. Eu ficava imaginando que aquela não seria uma opção nada fácil. Já
pensou empurrar mais de cem quilos ladeira acima?
Acredito que pedalei
na companhia do ciclista estrangeiro por aproximadamente dez quilômetros,
quando ele resolveu parar em um posto de combustível. Eu continuei um pouco
mais e parei em uma padaria quase em frente. No local eu comprei dois pedaços
de bolo e um copo de leite porque a fome continuava “braba” mesmo após as
castanhas. Estou em um período de economia extrema e por isso não gostaria de
gastar aquela verba, mas infelizmente não foi possível. Ao menos eu consegui
saciar um pouco daquela fome.
O Marcos ficou
no posto e eu continuei a viagem observando a paisagem e as casas simples que
apareciam às margens da estrada, elas são construídas com taipa (barro socado
entre armações de varas) e muito me lembraram da realidade de algumas regiões
andinas. Toda essa simplicidade me fez refletir também sobre o quanto é
possível viver com pouco. Talvez aquelas pessoas mudassem de situação se
tivessem condições. O que acontece é que muitas pessoas (de outras regiões)
vivem uma realidade muito melhor, estão debaixo de uma morada que é mais do que
suficiente e ainda assim não a valoriza e querem sempre mais e mais em uma
ambição sem fim. Como diz o presidente uruguaio Mujica; rico é aquele que
precisa de pouco para viver.
Antes da cidade
de Turilândia a estrada consegue se superar e simplesmente o asfalto desaparece em
um trecho de pouco mais de dois quilômetros, parece pouco, mas pedalar com uma
bicicleta carregada em um terreno como aquele é uma eternidade.
Cheguei à
Turilândia e após a travessia da ponte eu já estava na cidade vizinha; Santa
Helena. Em ambos os municípios é possível encontrar mercados, restaurantes e
hospedagens. Eu achei melhor continuar e parar em algum lugar mais a frente
para almoçar.
Após a saída de
Santa Helena parei e comecei a fazer uma pequena vistoria na Victoria para ver
se estava tudo bem. Costumo fazer esse procedimento para não ser surpreendido
na estrada, contudo, o que eu não esperava aconteceu; uma rachadura de tamanho
considerável no quadro. Mal acreditava no que estava diante dos meus olhos, mas
era verdade. A minha Victoria estava em um estado critico. Não sabia exatamente
a gravidade do problema porque a rachadura se encontrava em um ponto final da
solda original. O local não parecia crucial para uma ruptura total do quadro,
mas como mencionei, não tinha certeza do que poderia realmente acontecer.
Fiquei apreensivo e na torcida para que a minha companheira não me deixasse na
mão.
O problema de
continuar com o quadro naquela situação era de piorar a rachadura já que os buracos
na estrada continuavam e muitas vezes era praticamente impossível não passar
por eles. Aliás, sem dúvida foram eles os responsáveis pela rachadura. Não
posso reclamar do quadro GTS M5 porque ele rodou mais de 30 mil quilômetros
desde que foi adquirido em 2009. Passou por todos os tipos de terrenos e
aguentou muitas pancadas, mas infelizmente não resistiu a essas crateras.
Continuei o
pedal com mais cautela e debaixo de um calor inimaginável. Esperava
ansiosamente pela chuva para poder amenizar a temperatura ambiente e corporal. Observava
a fauna e flora da região quando passei por um restaurante, mas não parei
porque estava lotado e não me pareceu ser barato. O motivo da quantidade de
pessoas é que não existia outro estabelecimento nos próximos quilômetros e eu
descobri isso após perguntar para alguns moradores dos vilarejos seguintes.
O calor estava
cada vez mais insuportável e a minha canseira beirava a exaustão por causa da
temperatura. Quando descobri que faltavam mais de dez quilômetros para o
próximo restaurante resolvi colocar uma estratégia em prática. Eu tinha comida
na bagagem, porém, sem gás e álcool para cozinhar, por isso parei em uma casa
e perguntei ao morador sobre a possibilidade de apenas cozinhar o macarrão,
afinal, eu tinha a sardinha e o molho de tomate. Ele foi consultar a mulher e
com a resposta positiva fui pegar a massa para ser preparada. Que maravilha,
ficaria sem fome e ainda economizaria, no mínimo, dez reais.
Fui muitíssimo bem
recebido pelos proprietários da residência, sobretudo, a Dona Nini Menezes que
não mediu esforços para me tratar como um membro da família, inclusive, além de
cozinhar o macarrão, fritou dois ovos e ainda me trouxe um prato de arroz,
muito mais do que eu havia pedido. Conversamos bastante durante e também depois
do almoço que estava uma delícia.
Dona Nini é uma
professora aposentada e também bastante influente nas comunidades da região.
Pela conversa me pareceu que é uma pessoa muito respeitada. Isso talvez seja
consequência de seus princípios que ficaram evidentes no decorrer da prosa. Em
um dos assuntos levantados ela me respondeu sobre os programas sociais do
governo naquela região. O Bolsa Família, por exemplo, realmente beneficia muitas
pessoas já que a ajuda vem complementar a renda familiar, contudo, existem
casos, segundo ela, que o dinheiro extra acaba sendo a única fonte de renda de
pais que se conformam em viver apenas com o beneficio e oferecem uma vida
miserável a seus filhos.
Fiquei duas
horas na casa da família Menezes e confesso que gostaria de ter ficado mais
tempo, mas era preciso continuar a viagem, todavia, é claro que antes de partir
eu fiz um registro da Dona Nini e seu filho de coração, Gustavo. Também
aproveitei para agradecê-los por toda a gentileza. Eles simplesmente me
receberam de uma forma incrível. Como tem sido bom esse contato com as pessoas.
Essa parte do cicloturismo me surpreende a cada dia.
O retorno à
estrada foi marcado por muita chuva que finalmente amenizou a temperatura e
apesar da água a quilometragem passou e no final da tarde eu já estava com cem
quilômetros pedalados quando cheguei à cidade de Pinheiro que apresentou uma
imensa área alagada que eu não sei dizer se é uma lagoa, rio ou algo parecido.
De qualquer forma eu continuei em direção à Cujupe, precisei continuar pedalando com atenção
na ausência do acostamento.
Com o começo da
noite eu não tinha dúvidas de que deveria procurar um local para acampar. Na
primeira fazenda a minha permanência não foi concedida, mas a mulher me indicou
uma propriedade onde eu poderia ser recebido, contudo, ninguém me atendeu no
local. Continuei atento na escuridão para localizar algum lugar propicio para
acampar.
Quando
visualizei uma fazenda em que a casa tinha varanda, não pensei duas vezes para
tentar uma estadia. O proprietário (Junior) apareceu e ficou um tanto desconfiado com a
minha presença naquele período, mas quando falei sobre o projeto e o que
precisava no momento, ele me ouviu atentamente e pediu para eu aguardar
enquanto conversava com alguém no interior da residência. No seu retorno estava
acompanhado por uma senhora que autorizou a minha presença. Que maravilha. Não
tem nada melhor do que poder ser recebido em um lugar seguro no final do dia
para poder ter um merecido descanso.
Os
proprietários me receberam muitíssimo bem e logo me perguntaram se eu gostaria
de tomar um banho. Claro que não recusei a idéia e prontamente fui ficar limpo
após mais um dia na estrada. Na sequencia me ofereceram também o jantar. Mais uma vez
eu estava em boas mãos. Não tem erro, tenha fé, seja humilde e verdadeiro que
as portas se abrem. Às vezes pode ser que isso não aconteça na primeira
tentativa, mas como já mencionei em postagens anteriores, a segunda ou terceira
pode ser muito melhor do que aquela porta fechada inicialmente. Acredite!
Dia finalizado
com 107,34 km em 8h05m e velocidade média de 13,25 km/h.
28/05/2013 - 324°
dia - Pinheiro* a São Luís
Finalmente na
capital maranhense, São Luís.
Novamente a
noite foi tranquila e o descanso garantido. Hoje acordei um pouco mais tarde do
que os outros dias, mas nada que comprometesse minha chegada à capital. O
Junior havia me informado que a distância para Cujupe era de aproximadamente 60
quilômetros. Eu pensei que teria que chegar nas proximidades de Alcântara, isso
porque alguém na estrada me informou que Cujupe estava 6 quilômetros da cidade
mencionada.
Com uma
quilometragem menor a ser percorrida, seria possível chegar à São Luís ainda
com claridade. Mas antes de seguir viagem fui tomar o café da manhã que estava
bem caprichado. Destaque para a canjica que no Sul e Sudeste é conhecida como
curau. Sei que a refeição matinal restabeleceu minhas energias para pedalar.
Inclusive recebi uma sacola com vários pedaços de canjica para comer na
estrada. Perfeito!
Agradeci aos
anfitriões e pouco depois das 7 horas iniciava mais um dia de pedal. Três
quilômetros após a minha saída encontrei a primeira placa que indicava o
caminho para Cujupe, ou seja, acesso à São Luís via Ferry Boat. Estava na
direção certa.
Mais uma vez a
temperatura já era elevada nas primeiras horas da manhã. Acho que terei que me
acostumar com essa realidade durante toda a minha passagem pelo nordeste.
Apenas espero que a condição das estradas melhore, porque esse trecho da rodovia também
estava em péssimo estado de conservação. Inúmeros buracos pelo caminho.
Esse caminho
final para Cujupe tem uma vegetação um pouco diferente. É possível notar a
presença de muito mais árvores do que pastagens. O que também não passa
despercebido são as subidas que voltam com força total e acabam por dificultar
o avanço, sobretudo, quando a temperatura ambiente quer fritar você na estrada.
Com pouco mais
de cinquenta quilômetros encontrei com mais um cicloturista. Pedro é espanhol e
está há quase três anos pedalando pelas Américas. Saiu do Canadá, desceu até o
Paraguay e entrou no Brasil por Foz do Iguaçu onde foi muito bem recebido na
casa de ciclistas da Associação Ciclística Cataratas do Iguaçu (ACCI). Pedro
segue em direção à Belém, Manaus, Boa Vista e Caracas na Venezuela, onde
finaliza seu projeto.
O cicloturista
espanhol me passou algumas informações sobre o nordeste e São Luís, de onde
havia saído no começo da manhã via Ferry Boat. Fiz questão de passar o contato
de alguns amigos que me receberam no norte do país para também contar com a excelente hospitalidade. Na sequencia nos
despedimos e cada um seguiu seu caminho.
De onde
encontrei o espanhol precisei apenas pedalar poucos metros para chegar a mais
um trevo, desta vez o último antes de Cujupe que, segundo informava a placa,
estava a 11 quilômetros. A rodovia agora passava a ser denominada MA 308. Foi
restaurada no ano passado e se encontra em ótima condição, inclusive o
acostamento. É possível completar as descidas sem se preocupar demasiadamente
com um buraco surpresa.
Cheguei à
Cujupe por volta das 14 horas e, só para variar, estava com uma fome
extraordinária, mas antes de procurar comida fui ao guichê onde vende a
passagem para São Luís via Ferry Boat. O bilhete custou oito reais e a saída
estava marcada para as 14h30m. Na frente da estação portuária existe uma enorme
tenda com várias barracas de comida. Fiquei com muita vontade de parar, mas
achei melhor não arriscar já que estava quase na hora do Ferry zarpar. Fui para
a fila dos veículos.
Para variar,
mais uma vez, durante a permanência na área do guichê e também na fila para
entrar no Ferry, as pessoas pararam e com certo receio se aproximavam e
começavam a perguntar sobre a viagem. Muitas falavam que me encontraram em
determinado trecho da estrada, outras diziam sobre a coragem de enfrentar esse
tipo de viagem, sobretudo, sozinho, algumas fizeram questão de tirar uma foto comigo, outras simplesmente
ofereceram suas casas, como por exemplo, o Markim de Teresina no Piauí que me
passou seu endereço e telefone para o caso de precisar de hospitalidade na
capital piauiense.
Na verdade o Ferry
não saiu às 14h30m, nesse horário o acesso à embarcação foi liberado. Sem
maiores problemas a Victoria foi uma das primeiras a entrar. Encostei ela em
uma parte lateral, onde também costumam ficar as motocicletas, tirei a bolsa de
guidão e fui para a área superior porque segundo me informaram, não seria
permitido a presença de passageiros no local. A partida aconteceu às 15 horas.
No convés
principal existem dezenas de cadeiras para os passageiros. Uma pequena
lanchonete me convidava para comer um salgado, afinal, já passava 15 horas e eu
ainda estava sem almoço, por sorte eu tinha devorado a canjica no período da
manhã. Comprei dois salgados e uma lata do refrigerante típico do Maranhão; Guaraná Jesus. A bebida tem um sabor
muito peculiar e que lembra chiclete de Tutti-frutti.
Apenas por curiosidade; assim como a famosa Inka Kola no Peru, Guaraná Jesus
também pertence à companhia Coca-Cola. Mas ainda assim, vale a pena experimentar.
No interior do
Ferry, mais pessoas vieram conversar comigo, entre elas, o senhor Raimundo que
já tinha me abordado na fila de entrada. Solícito começou a me falar um pouco
sobre a região e até pediu autorização ao comandante para eu conhecer a cabine de controle.
Com a permissão concedida fui visualizar a central da embarcação. Foi bem
interessante ver os instrumentos de navegação, a maioria, modernos e que
permitem um deslocamento com maior segurança.
Como eu tinha
recém viajado quatro dias pelo Rio Amazonas, não fiquei muito surpreso com o
deslocamento entre Cujupe e São Luís, mesmo quando a embarcação começou a
balançar em razão da baía (São Marcos) em que estávamos passando. No momento apenas fiquei
na torcida para a Victoria não cair em cima de algum veículo.
A viagem no
Ferry Boat tem duração de 1h20m, período em que observei e registrei a paisagem,
inclusive, a área portuária de Itaqui já em São Luís, o porto é um dos
principais do Brasil. O local escoa, por exemplo, vários minérios da empresa Vale.
A embarcação
ancorou às 15h30m na capital maranhense, mais especificamente no Terminal da
Ponta da Espera. Fui um dos últimos a descer porque precisei esperar a maioria
dos veículos sair para poder tirar a Victoria.
Antes de voltar
a pedalar eu liguei para o anfitrião Zedequias, ciclista que me ofereceu
hospitalidade em São Luís. Avisei sobre a minha chegada e combinamos um local
onde eu deveria encontra-lo. Esse ponto de referência ficava a 20 quilômetros
do Terminal da Ponta da Espera, ou seja, com sorte, eu poderia chegar ainda com
claridade, afinal, pedalar de noite em qualquer capital que seja não é nada
recomendável, sobretudo, quando não se conhece a cidade.
O ponto onde
deveria encontra-lo é bastante famoso na capital e por isso as pessoas não
tinham dificuldade em me informar a melhor forma de como chegar até o local.
Mas o que complicou meu deslocamento foram os buracos pelas ruas e avenidas. A
situação já tinha sido alertada pelo cicloturista Pedro que encontrei antes de
Cujupe. Não demorou muito e meu pneu traseiro furou. Que maravilha! Era tudo o
que eu não precisava no momento.
O pneu furou
justamente em um bairro violento de São Luís, por isso a estratégia foi fazer a
troca da câmara furada próximo a um ponto de ônibus que concentrava algumas
pessoas. Acho que eu nunca troquei uma câmara de ar tão rápido. Faltavam muitos
quilômetros ainda, já escurecia e o horário de rush deixava o trânsito caótico. Trechos com engarrafamentos extensos se tornaram frequentes. Desta vez eu ficava na
torcida para que o pneu não furasse novamente.
Quando entrei
em uma importante e movimentada avenida, o trabalhador (Marcelo) com uma
bicicleta cargueira perguntou para onde eu estava indo e disse que tinha como
destino um local próximo e que poderia me acompanhar. Senti confiança naquele
senhor e resolvi aceitar a ajuda. Ainda bem que encontrei esse “guia” porque o
deslocamento foi muito mais fácil. Precisei apenas ter atenção com os buracos e
a infinidade de veículos que não raramente passavam a poucos centímetros dos
alforjes.
O Marcelo
seguiria até um determinado ponto, mas resolveu me acompanhar um pouco mais adiante
para eu achar com facilidade a referência combinada com o Zedequias. A essa
altura o trânsito estava ainda pior. Pedalávamos em uma área periférica e
perigosa. O meu guia pegou um atalho por alguns becos e chegou à casa de seu
pai para trocar a cargueira por uma bicicleta simples que permitiria se
locomover com mais facilidade naquele trânsito.
Eu não sei o
que me impressionava mais; o trânsito caótico ou as crateras presentes em todas
as ruas e avenidas que passávamos. É incrível o descaso do poder público também
com essa questão da infraestrutura básica que permita o direito de ir e vir sem
precisar passar por esse tipo de situação. Sei que chegamos a um local onde o Marcelo
me indicou o caminho a seguir e voltou para sua casa. Claro que não deixei de
agradecer sua imensa e espontânea ajuda.
Acho que
pedalei mais três quilômetros sozinho e finalmente cheguei ao ponto de referência
combinado com o meu anfitrião. Precisei apenas fazer uma ligação e dizer que
estava à sua espera. Em poucos minutos, Zedequias e seu filho Levi chegaram e
começamos o pedal em direção ao local onde eu ficaria hospedado. Descobri que
minha estadia seria em um sítio (urbano) de um casal de amigos de Zedequias.
Sem problemas!
Antes de ir ao
sitio passamos na casa do Zedequias e posteriormente na residência de seu amigo
e motociclista viajante; Lobzomem, também conhecido como Pedro, que ficou
bastante interessado em saber mais sobre a viagem. Conversamos um pouco e
combinamos um churrasco para o dia seguinte. Perfeito.
Recepção na casa do motociclista Lobzomem. Zedequias ao meu lado esquerdo e seu filho Levi à minha direita. |
Por volta das
19h30m finalmente estávamos no sitio onde fui muito bem recebido pela família
Silveira, sobretudo, a matriarca, dona Marlene que disponibilizou o quarto de
visita para a minha estadia que deve ser de aproximadamente cinco dias. Acho
que é o tempo suficiente para escrever o diário de bordo, consertar a Victoria
e conhecer a capital histórica do Maranhão.
Mais uma vez,
tudo ocorreu bem no final.
Dia finalizado
com 98,32 km em 7h21m e velocidade média de 13,35 km/h.
29/05/2013 - 325°
dia - São Luís (Folga)
Durante os períodos matutino e vespertino aproveitei para descansar e atualizar o diário de
bordo.
De noite fui
para o churrasco oferecido pelo Lobzomem. O ambiente estava bem agradável. O
pessoal me recebeu muito bem e não faltou assunto enquanto a carne ficava
pronta. Levi (filho do Zedequias) e Pedro Afonso (filho do Lobzomem) são
ciclistas adeptos do Downhill e por
isso também ficaram bem interessados em saber mais detalhes sobre a viagem.
Eles também não hesitaram em falar mais sobre a modalidade em que são
praticantes.
Resumindo,
estávamos todos em família; viajantes e ciclistas. História não faltou durante
a noite.
Muito obrigado
pela companhia e a recepção de vocês.
30/05/2013 - 326°
dia - São Luís (Folga)
Feriado de
Corpus Christi
O que fazer em
pleno feriado de quinta-feira? Pedalar, lógico.
O pessoal
aproveitou a folga e marcou uma trilha. Fiquei com certo receio de participar
por causa da rachadura no quadro da Victoria, contudo, como o percurso seria
sem maiores dificuldades e no dia seguinte passaríamos em uma oficina para
soldar o quadro, acabei aceitando o convite e fui pedalar.
A trilha foi
realmente tranquila e interessante. Claro que eu moderei a velocidade para
evitar a ruptura do quadro, mas ainda assim foi possível aproveitar o passeio
na companhia de Zedequias, Levi e Pedro. Antes de voltarmos para casa, passamos
em uma pista de Downhill para que os adeptos da modalidade treinassem um pouco.
Aproveitei para registrar os saltos ousados do pessoal, inclusive, de uma
galera do BMX que também mandava algumas manobras no local.
Para encerrar o
dia, nada melhor que uma pizza de qualidade. A mesma foi cortesia do camarada
Zedequias que não tem medido esforços para me auxiliar no que for necessário
aqui na cidade. Obrigado, camarada.
Levi colocando a bicicleta para voar. |
A galera do BMX mandando algumas manobras. |
Levi. In foco. |
A galera reunida: Pedro Afoso; eu; Zedequias e; Levi. |
Mais um registro com os amigos trilheiros. |
Pedro Afonso em um salto radical bem-sucedido. |
Trilha de verdade é selvagem, rs. |
Gostei do registro. Mais um salto ousado do Pedro Afonso. |
Camarada Levi testando a suspensão em 3.2.1. |
In foco. |
Pedro Afonso e Levi; fanáticos por downhill. |
Fauna |
Flora |
In foco. |
Dia finalizado
com 21,99 km em 2h11m e velocidade média de 10,02 km/h.
31/05/2013 - 327°
dia - São Luís (Folga)
Victoria na
mesa de cirurgia.
Conhecendo o
centro histórico de São Luís.
O dia foi
movimentado hoje. Na parte da manhã o Lobzomem apareceu no sítio como havíamos
combinado. Ele se prontificou a levar a Victoria para uma oficina especializada
em solda de alumínio. O local foi recomendado pelo também motociclista Belfort
que estava presente para nos mostrar o caminho.
O local fica
distante do sitio, mas sem dúvida valeu o deslocamento. Os funcionários nos
atenderam bem e a Victoria recebeu a atenção necessária. A parte da rachadura
foi devidamente lixada e posteriormente soldada. Segundo o pessoal informou,
não precisarei mais me preocupar com esse problema. Amém! O serviço custou 20 reais.
Na volta
passamos na casa do Belfort para pintar a parte lixada e soldada. Na sequencia
fui almoçar na residência do Lobzomem onde a sua mulher, Claudia, havia
preparado uma deliciosa refeição. Aproveitei a disponibilidade da internet para
verificar o e-mail e mandar notícias.
Na casa do Belfort. Victoria já com a tinta nova que seca ao sol. Guaraná Jesus no detalhe. |
No final da tarde a família do Lobzomem me levou ao centro histórico de São Luís que sem dúvida é um dos lugares mais interessantes da capital. Não à toa é considerado Patrimônio Cultural da Humanidade. As construções antigas e coloniais são heranças dos portugueses e chamam atenção de quem visita ao local. Destaque para o Palácio do Governo, prefeitura, praças, igrejas, ladeiras, escadarias e o comércio destinado ao artesanato. Ainda tivemos a oportunidade de assistir uma roda de dança de capoeira angolana. Muita história e cultura durante todo o passeio.
O esperado encontro com o Oceano Atlântico. Maravilha de paisagem. |
Palácio dos Leões; sede do governo do estado. |
São Luís. |
Atlântico e sua imensidão. |
Ponte que faz ligação com o centro histórico. |
Pelas ruas centenárias da histórica São Luís. |
Comércio de redes, roupas e artesanatos no movimentado centro histórico. |
Centro histórico de São Luís. |
Claudia e Pedro Afonso. |
Vendedor maranhense. |
Camarada Lobzomem sendo seduzido pelas mulheres locais. |
Centro histórico de São Luís. |
Centro histórico de São Luís. |
Ladeiras do centro histórico. |
Ladeiras do centro histórico. |
Galera reunida; Levi; Pedro Afonso; Claudia e Lobzomem. |
Registro garantido. |
Os famosos casarões revestidos com azulejos da Europa. Sua função era impermeabilizar a fachada construída de taipa. |
Praça |
Igreja praticamente abandonada. |
Interior da Catedral de São Luís. |
Catedral de São Luís. |
Registro garantido com o Palácio dos Leões ao fundo. |
Palácio dos Leões. |
Palácio de La Ravardière (Prefeitura) |
Palácio dos Leões. |
In foco. |
São Luís; capital maranhense. |
Parte do conjunto arquitetônico colonial português. |
Centro histórico |
Privilegiando a cultura local; acompanhando a roda de dança da capoeira de Angola; |
Mandingueiros do Amanhã; orquestra de berimbaus. |
Claro que não poderia deixar de registrar algo relacionado a um dos estilos musicais mais ouvidos na capital; reggae. |
Passeio pela Avenida Litorânea. |
01/06/2013 - 328°
dia - São Luís (Folga)
Dia dedicado
exclusivamente à atualização do diário de bordo.
02/06/2013 - 329°
dia - São Luís (Folga)
Dia dedicado exclusivamente
à atualização do diário de bordo.
03/06/2013 - 330° dia - São Luís a Vila Nova (Morros)
“Não vim até
aqui pra desistir agora.”
Raio quebrado,
velocímetro danificado e cabo do câmbio estourado. Mas apesar dos pesares, continuo
fortalecido. Vivo, ou quase isso. (Risada Sacana)
Chegou a hora
de partir mais uma vez. Ontem à noite consegui me despedir da família do
Zedequias que fez questão de ir ao sítio para desejar boa viagem. Foi uma honra
poder conhecê-los. Muito obrigado por toda ajuda e companhia. Sem dúvida
fizeram a diferença durante a minha estadia na capital maranhense. Posso dizer
que tenho novos amigos. Hasta luego.
Hoje eu acordei
por volta das 4 horas da madrugada, pois a pretensão era sair de São Luís o
mais cedo possível para pegar menos trânsito. Talvez essa seja a melhor
estratégia para evitar um transtorno maior na saída de grandes cidades.
Às 6h15m eu deixava
o sítio da família Silveira, mas não sem antes tomar um café da manhã preparado
especialmente pela anfitriã Dona Marlene a qual sou eternamente grato por toda
a hospitalidade e, sobretudo, pelas palavras de sabedoria. Espero, sinceramente,
poder encontra-la em um futuro não muito distante para contar a respeito dos
frutos que hoje são semeados. Obrigado pelas orações.
Logo no início
do pedal foi possível verificar que o velocímetro não estava funcionado. Parei
a bicicleta e mexi na fiação, mas não teve solução. Para não atrasar e perder a
estratégia do trânsito mais tranquilo achei melhor seguir viagem sem a peça
fundamental para ter conhecimento sobre distâncias, tempo e velocidades. Paciência.
A saída da
cidade não seria complicada, pelo menos, conforme as informações recebidas no
dia anterior. E realmente não houve problemas sobre a direção a seguir, apenas
tive que ter muita atenção com as ruas e avenidas que já estavam tomadas pelos
veículos. Para a minha felicidade a BR 135 estava próxima e precisei pedalar
aproximadamente 6 quilômetros para finalmente encontra-la.
O tempo estava
bom e o sol passou a brilhar mais forte no decorrer do pedal. No trecho em que
a rodovia estava duplicada e apresentava acostamento, realizei algumas paradas
na pretensão de arrumar o velocímetro. Tudo indicava que o problema estava na
fiação, mas infelizmente não consegui faze-la funcionar e pela primeira vez na
viagem eu precisei pedalar sem auxilio do ciclocomputador. Claro que fiquei um
pouco triste por isso, mas cheguei a um ponto de desapego material que não
fiquei pensando sobre isso por muito tempo e continuei a viagem normalmente.
Não me recordo
exatamente quantos quilômetros de pista duplicada a BR 135 apresentou, mas não
foram muitos. Depois não demorou e apareceu o “temido” Campo de Perizes, uma
região perigosa em razão da ausência de acostamento e o grande fluxo de
veículos, principalmente, caminhões. A pista simples e estreita não favorece em
nada o pedal que é extremamente tenso em um trecho de quase 20 quilômetros.
Muitas vezes fui obrigado a sair da pista para permitir a passagem das carretas
que é frequente. Os amigos de São Luís já haviam alertado sobre essa situação,
mas a realidade se mostrou muito pior. Fiquem espertos ao passar pelo local.
Com pouco mais
de 50 quilômetros, finalmente saí da BR 135 em Bacabeira e passei a pedalar pela
BR 402 em direção à Barreirinhas. A cidade que compreende a maior parte dos
Lençóis Maranhenses era o meu destino para o dia seguinte. Não tinha a
pretensão de conhecer o mais famoso ponto turístico do Estado em razão dos
altos valores para entrada no Parque e hospedagem, contudo, o Zedequias tem um
amigo ciclista (Abílio) que mora no município e que se prontificou a me receber
e agilizar meus passeios pela região. Com isso não havia motivo para não
visitar.
A parada para o
almoço aconteceu em Rosário onde outro amigo do Zedequias estava à minha
espera. Emerson é proprietário da empresa Tem Tudo Parafusos e Ferramentas e
se dispôs a me ajudar financeiramente. Pelo menos foi esse o recado passado
pelo camarada de São Luís. Bastava procurar seu estabelecimento.
Facilmente encontrei a loja e após as apresentações, perguntei se havia alguma
bicicletaria na pequena cidade. Isso porque eu precisava trocar o cabo do
câmbio dianteiro que rompeu pela segunda vez na viagem. A primeira foi em
Bogotá na Colômbia. Continuar a viagem sem a utilização das marchas não seria
nada agradável.
Emerson me
recomendou duas bicicletarias, mas ambas estavam fechadas para o almoço. Na
pacata cidade muitos estabelecimentos fecham as portas das 11h30m (horário da
minha chegada) até às 14 horas. Restava esperar, mas não sem antes aceitar o
convite para almoçar na casa do Emerson e da Silvia, sua esposa. Diga-se de
passagem, fui muito bem recebido pelo casal. Sinceramente, muito obrigado por
toda a ajuda.
Após as 14
horas retornei às bicicletarias, mas foi uma decepção enorme com os mecânicos
ignorantes que mal deixaram eu dizer o que precisava e recusaram qualquer
prestação de serviço com a justificativa de que tinham muito trabalho a ser
feito e que nada poderiam consertar naquele momento. Às vezes é preciso ter
mais do que paciência com certas pessoas. Misericórdia. Sem o funcionamento do
câmbio dianteiro, coloquei manualmente a corrente na coroa menor. Foi a única
idéia que tive para seguir viagem e encarar o trajeto (com várias subidas) pela frente.
A saída de
Rosário aconteceu por volta das 14h30m e o objetivo passou a ser a chegada aos
cem quilômetros pedalados. E isso deveria ocorrer logo depois da passagem pela
cidade de Morros, que, como o próprio nome sugere, fica em uma região mais alta
e com várias inclinações. O camarada Abílio (de Barreirinhas) já tinha me
avisado sobre o relevo dessa área e por isso não foi nenhuma surpresa encarar
as subidas que eram moderadas.
Logo depois da saída de
Rosário a chuva começou a cair e a temperatura ambiente ficou mais amena. Tem
sido cada vez mais complicado pedalar debaixo desse sol. O acostamento existe,
mas a pavimentação não é das melhores e dificulta o deslocamento, uma vez que é
preciso voltar várias vezes para a pista e sair da mesma na presença de
veículos. Em um desses momentos ouvi o famoso som oriundo da roda traseira.
Adivinha? Mais um raio quebrado. Já perdi as contas de quantos se partiram
desde o começo da viagem. Pelo menos dessa vez demorou mais tempo para romper.
Desde a Venezuela que eu não tinha problemas com eles.
Por volta das
18 horas parei no povoado de Vila Nova, pouco mais de 10 quilômetros depois de
Morros. Na primeira casa da vila expliquei sobre a viagem para alguns moradores
que conversavam na frente da residência. Sem pensar muito, um vizinho (Juarez)
que estava no local se dispôs a me receber. Poderia comemorar; mais um dia
difícil que ficava para trás.
Na simples casa
de taipa fui apresentado à grande família do Juarez. Um pessoal muito simples,
mas extremamente hospitaleiro e que me recebeu muito bem. Em um primeiro momento
cogitei montar a barraca na sala de chão batido, contudo, o anfitrião me
mostrou sua outra casa no fundo do terreno. Ela estava quase terminada. De
alvenaria, a nova morada é proveniente de uma conquista da associação de
moradores com ajuda do governo federal.
Foi na casa
nova que me concederam um quarto para passar a noite e permitiram o meu banho.
Devidamente limpo eu estava pronto para descansar, contudo, estava com fome,
mas como sempre faço, não peço nada além de um simples espaço para dormir,
todavia, como acontece na maioria das vezes, as pessoas oferecem um prato de
comida. A Dona Moça, mulher do Juarez, no entanto, mencionou que, infelizmente,
não tinha muita comida para oferecer. Sem pensar duas vezes, lhe dei o pacote
de macarrão e o molho de tomate que estavam na minha bagagem. Não era muita
coisa, mas poderia ser um complemento para a família de oito pessoas. Minutos
depois a janta estava servida; macarronada com legumes e arroz. Perfeito.
Conversei muito
com a família que, sem ser exceção, não deixou de me fazer uma série de
perguntas sobre a vida de um viajante. Eu também aproveitei a oportunidade para
saber mais sobre a região e o modo de vida da população local. Juarez, por
exemplo, tem um açude onde cria peixes e uma pequena plantação em que
diversifica o cultivo conforme o clima. E essa dependência climática muitas vezes
não favorece a colheita e, consequentemente, o sustento da família. Neste
sentido, Juarez mencionou a importância do auxilio do programa Bolsa Família no
complemento financeiro da casa. São exemplos como este que me fazem pensar o nível de estupidez daqueles que criticam (negativamente) os programas sociais como o mencionado, sem nem ter conhecimento sobre a realidade daqueles que precisam da ajuda.
Quando fui
levar o prato vazio para a casa de taipa, acabei surpreendido por um dos cachorros
que não pensou em avançar e tascar uma mordida no meu joelho. Estou quase um
ano viajando e apesar dos inúmeros cães que encontro na estrada, nada me
ocorreu. Agora fui mordido justamente quando estava parado. Paciência. Para variar, o
animal atrevido latiu e chamou os “amigos” que vieram com “sangue nos olhos”
para também me atacar. Quando vi a turma reunida não hesitei em chamar pelos
moradores que rapidamente apareceram e acabaram com a festa dos caninos. Para a
minha sorte a mordida não foi lá aquelas coisas e não passou de um grande susto.
Ficarei mais esperto daqui pra frente.
No quarto
destinado ao meu descanso, apenas estirei o saco de dormir no chão e fui tentar
ter o sono dos justos.
Com ajuda do
Google Maps e o meu mapa impresso do Guia Quatro Rodas foi possível saber a
quilometragem percorrida. O dia foi finalizado com 103 km. Infelizmente não sei
precisar em quantas horas e qual a velocidade média.
04/06/2013 - 331° dia - Vila Nova (Morros) a Barreirinhas
Dia
extremamente longo e cansativo.
A noite
sinceramente não foi das melhores. O quarto estava infestado de pernilongos e
eu simplesmente não consegui dormir. O repelente estava na Victoria, que por
sua vez, ficou guardada na casa de taipa, ou seja, não tinha muito o que fazer
a não ser entrar no saco de dormir e ficar todo empacotado. O único detalhe é
que a peça foi projetada para -25°C e não para o calor nordestino que acontece
o ano inteiro. Em lugares quentes eu sempre aproveito para utilizar o saco de
dormir como colchão. Mas dessa vez o mesmo se transformou em uma verdadeira
sauna. Foi simplesmente impossível dormir.
A madrugada
finalmente passou e o dia clareou às 5 horas mais uma vez. Acordei, arrumei as
coisas e na sequencia fui tomar um café que a família me serviu antes de voltar
à estrada. Aproveitei a presença de parte do pessoal para agradecê-los e fazer um
registro para a posteridade. Novamente o povo humilde também se mostra hospitaleiro e
deixa um enorme aprendizado e exemplo a ser seguido.
Por volta das 7
horas já estou na estrada e o sol brilha demasiadamente forte. Meu protetor
solar está nas últimas gotas e não vai demorar muito para eu ter que
desembolsar mais verba na aquisição de um novo. Está complicado, ao mesmo tempo
em que economizo com hospedagem e alimentação, tenho gastos com manutenção da
bicicleta e outros itens indispensáveis e caros.
Eu estava com
fome logo no começo do pedal e por isso parei poucos quilômetros depois da
saída de Vila Nova para comer a energética bolacha recheada e tomar uma água de
coco que foi gentilmente cedida pelo anfitrião Juarez. Nas atuais
circunstâncias eu estava diante de um banquete.
Continuei a
viagem na pretensão de chegar à Barreirinhas no final do dia. Não seria uma
tarefa nada fácil, pois a distância beirava os 150 quilômetros. Mas a
determinação ajudava a encarar o calor, subidas, acostamento nada favorável e a
provável escuridão no fim do dia para
conseguir completar o objetivo.
Realmente não
existe cidade entre Morros e Barreirinhas, contudo, há vários povoados que
podem ser facilmente encontrados a cada 10-12 quilômetros. Não tem muita
infraestrutura nestes lugares, mas com certeza pode ser um ponto para
abastecimento de água ou utilização de um fogão emprestado para cozinhar a
comida. O único restaurante fica no trevo para Humberto de Campos, mas como
ainda era cedo quando passei pelo local, achei melhor seguir em frente.
O que mudou na
paisagem foi a área alagada nos dois lados da rodovia. Acho que permanece assim
somente na época das chuvas, mas de qualquer forma muda o ambiente e deixa a
vegetação de restinga mais atraente. Os pássaros estão por todos os lados, mas
apenas ouço a cantoria e nada de flagrante pela lente da câmera fotográfica.
Quando se
aproximou do meio dia eu fritava no asfalto e torcia para aparecer algum
estabelecimento no caminho onde eu pudesse fazer uma parada estratégica, mas
apenas pequenos povoados surgiam na área inóspita. Essa é a hora que seu moral
precisa te ajudar a não sucumbir diante da primeira sombra. Aqui na região tem
mais urubu do que pardal, então é melhor não marcar bobeira. (Risada Sacana)
Eu não tinha
mais comida na bagagem. A última provisão foi deixada na casa da família que me
recebeu na noite anterior. O almoço muito provavelmente seria as inseparáveis
bolachas. Mas me avisaram que num vilarejo chamado Matões tinha um restaurante.
Isso me animou bastante e com aproximadamente 80 quilômetros cheguei ao local,
contudo, não servia mais a refeição em razão da pouca procura. Mas nem tudo
estava perdido. Tinha um bolo oferecido em pedaços e que logo foi solicitado.
Não digo que fiquei satisfeito, mas serviu para acalmar as lombrigas.
Por volta das
14h30m eu já retornava à estrada para enfrentar a mesma situação da parte da
manhã. O que me surpreendeu foi um jumento no meio da estrada e que não saia do
lugar mesmo com as buzinas dos automóveis. Quando me aproximei notei que o
animal mal conseguia se locomover em razão de uma corda curta amarrada entre as
patas do mesmo lado. Tudo isso para o bicho não ir muito longe. Simplesmente
inacreditável ver a que ponto o ser humano chegou. Não aguentei ver aquilo e
sem ter onde apoiar a Victoria, deitei ela no chão (algo que nunca faço), afastei
o animal para o acostamento e tirei a corda. O coitado não soube nem o que
fazer depois que ficou em liberdade. Muito triste.
A situação com
o jumento me levou a refletir que: assim somos nós em muitas situações do
agitado dia-a-dia, reclamamos pela sonhada liberdade e quando a temos em mãos,
simplesmente não sabemos o que fazer. Acho muito triste, por exemplo, aquela
pessoa que trabalha a vida inteira e depois que aposenta não sabe fazer outra
coisa a não ser trabalhar. Que eu nunca chegue a esse ponto.
A noite se
aproximava, mas nada de aparecer Barreirinhas no horizonte. Estava cansado e
com fome, mas meu moral ainda estava bom e permitia a continuação tranquila
pela escuridão. Meu farol ajudava a iluminar o caminho. Seguia com o pensamento
de que a cidade teria uma boa bicicletaria para resolver meus problemas com a
Victoria e que no final do dia eu ainda poderia descansar tranquilamente e,
finalmente, atualizar o diário de bordo.
A nova
pavimentação terminou no trevo para Urbano Santos. Desse ponto em diante foi
preciso seguir pela mesma BR 402, todavia, com uma situação bem diferente do
trecho anterior. O acostamento é praticamente inexistente e muitos buracos
também se fazem presente na pista que passou a ter um fluxo maior de veículos.
Vou colocar um mapa da região aqui no site porque se você procurar no Google
Mapas, por exemplo, verá que não existe estrada (satélite desatualizado?) na
região e que a ferramenta online vai traçar um roteiro muito maior. Portanto
não tem erro; Saiu de São Luís, siga para Rosário, Morros e Barreirinhas pela
402. Pode confiar.
Mapa São Luís x Barreirinhas (Lençóis Maranhenses) |
Cheguei por
volta das 19 horas em Barreirinhas e na entrada da cidade liguei para o
anfitrião Abílio que confirmou estar à minha espera no local combinado. O
município é pequeno e foi fácil chegar à região central e encontrar com o
camarada que é ciclista, cicloturista e também professor (Química).
Na residência
do Abílio pude tomar um banho, jantar e descansar. Claro que conversamos muito
sobre viagens, projetos e os próximos dias na cidade. Devo permanecer mais dois
ou três dias para conhecer os pontos turísticos.
Dia finalizado
com aproximadamente 150 km.
05/06/2013 - 332° dia - Barreirinhas (Folga)
Dia dedicado à
conhecer a cidade e atualizar o diário de bordo.
O camarada Abílio
aproveitou a folga pela manhã e me apresentou uma parte da pacata cidade que
revela muitas belezas naturais que, por vezes, são passadas despercebidas pelo
turista que está interessado somente pela visita ao famoso e mundialmente
conhecido; Lençóis Maranhenses.
O primeiro
lugar a ser conhecido foi a região da Beira-Rio onde é possível se deparar com
o Rio Preguiças: um importante e extenso rio maranhense que termina nas
proximidades de Barreirinhas. Seu nome é alusivo aos animais (Preguiças) que
hoje raramente são encontrados pelas matas que margeiam o rio, no entanto, a
nomenclatura poderia muito bem estar relacionada ao seu curso natural que
caprichosamente faz várias voltas e circunda toda a cidade e deságua no oceano atlântico
poucos quilômetros da área urbana.
A região da
Beira Rio em Barreirinhas é um lugar agradável para caminhar, refletir, fazer
uma fotografia ou simplesmente observar a natureza ao redor e a cultura local
que também tira seu sustento das riquezas naturais oriundas do rio no quintal
de casa. Recomendo o passeio.
Na sequencia
fui levar a Victoria na bicicletaria para trocar o cabo do câmbio dianteiro e o
raio quebrado da roda traseira. Infelizmente não tinha um velocímetro confiável
e achei melhor fazer apenas a manutenção na minha companheira. O serviço saiu
por 20 reais porque além do que foi mencionado, trocaram ainda uma peça do cubo
traseiro que deixou a roda sem nenhuma folga.
No período da
tarde estava combinado de ir conhecer os Lençóis Maranhenses. Não pagaria nada
pelo passeio por que seria uma cortesia do amigo Abílio que tem parcerias com
agências de turismo da cidade. No entanto, a visita foi cancelada e marcada
para o dia seguinte. Dessa forma fiquei a parte da tarde e noite somente
selecionando as fotografias para o site. Não tem sido uma tarefa nada fácil
mantê-lo atualizado.
06/06/2013 - 333° dia - Barreirinhas (Folga)
Finalmente
chegou o dia de conhecer os Lençóis Maranhenses.
De manhã, Abílio
e eu fomos pedalar pela cidade, mas não sem antes tomar o café da manhã que também acompanhava o famoso e reforçado cuscuz. Saímos em direção ao povoado São Domingos que
fica aproximadamente 8 km da casa do anfitrião. Para variar, o caminho margeia
o Rio Preguiças que se revela cada vez mais interessante em suas curvas.
O pedal seguiu
por ruas, muitas vezes, de terra, areia e pedras. Para não abusar da Victoria fui
com uma das bicicletas do Abílio, a Jacques Yves Consteau que me acompanhou aos
belos cenários da região. Vale destacar que Abílio administra uma agência de passeios
de bicicleta pela região. Hoje você pode visitar Barreirinhas, Lençóis
Maranhenses e ainda curtir um pedal por lugares extremamente interessantes na
companhia da: Dunas Bike: Aventura e
Turismo. Contato: ((98) 8822 - 5250 ou 8130 - 6386). E-mail: dunasbikeaventuraet urismo@hotmail.com.
O passeio aos
Lençóis Maranhenses estava marcado para às 14 horas e justamente por isso estávamos
em casa ao meio-dia. O Abílio conseguiu a cortesia com a agência Vale dos Lençóis do senhor Alex. A
visita ao ponto turístico mais conhecido do Estado acontece por meio de um veículo
4 x 4, ou seja, com tração em todas as rodas para poder andar pelas dunas. Aqui
em Barreirinhas, a maioria desses veículos é da marca Toyota. O modelo
Bandeirante é o preferido dos motoristas. O valor da visita aos Lençóis costuma
ficar na faixa dos 60 reais por pessoa.
Às 13h45m o
guia da agência apareceu na residência do Abílio com a Toyota para iniciarmos o
passeio. O veículo já estava quase completo e foi preciso fazer apenas mais uma
parada no centro da cidade para encontrar com os demais turistas. O Bandeirante é
adaptado para receber até doze pessoas. Se não me engano, nosso veículo estava
com nove “forasteiros” mais o guia Gustavo.
No centro de Barreirinhas é comum encontrar veículos 4 x 4 que realizam o passeio para os Lençóis Maranhenses. |
Quadriciclo é um dos veículos mais utilizados na cidade que, por sua vez, criou uma lei permitindo sua circulação. |
Antes de seguir
em direção às dunas é realizada uma parada num estabelecimento para comprar
água. A mesma pode ser armazenada em uma caixa térmica que é levada no veículo.
Se eu soubesse tinha levado as minhas garrafas. Em todo caso, comprei o liquido
sagrado para fazer a devida reposição durante o passeio. Fica a dica.
Para chegar ao
Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses é preciso atravessar o Rio Preguiças em
uma área onde não existe ponte e a tarefa é realizada por uma pequena balsa que
suporta dois veículos por vez.
Na outra margem
do rio você já consegue perceber a diferença dos terrenos. A areia está por
todos os lados e então é possível compreender porque somente um veículo
tracionado consegue andar pela região. O caminho é marcado por uma “estrada”
arenosa onde a passagem frequente dos veículos licenciados deixa um trilho que
indica a melhor rota a seguir.
Não demorou
muito e o caminho começou a ficar ainda mais emocionante. Muitas poças d’água
passam a ser encontradas no meio da estrada. Estamos no período das chuvas e
por isso a presença desses “obstáculos”. Nosso motorista (conhecido como Miau)
já está acostumado com a situação e passa por meio das águas sem nenhuma dificuldade.
O balanço no 4 x 4 é inevitável para a alegria geral do pessoal que filma e
fotografa toda a aventura. O sacolejo no veículo foi imediatamente equiparado
àquele enfrentado para conhecer Cabo Polônio no Uruguay. A emoção foi quase a
mesma. Faltou a parceria dos amigos.
Acho que a
aventura motorizada tem duração aproximada de 45 minutos. Neste período, além
de sentir toda a emoção do caminho, somos informados sobre a flora e fauna da
região. A presença do guia foi importante para conhecermos melhor o que estava
ao nosso redor.
Quando finalmente chegamos às maiores dunas
dos Grandes Lençóis, outros veículos e turistas já estavam no local. Fomos orientados a
deixar os calçados no veículo para facilitar a caminhada. Apesar da alta
temperatura ambiente, acredite, a areia não esquenta e consequentemente não
queima os pés e por isso caminhar descalço é a melhor forma de se deslocar a partir
do ponto onde o passeio continua a pé.
Já era quase 15
horas quando começamos a caminhar pelas dunas com a ajuda do guia que nos
indicava a direção. Segundo ele, nosso retorno estava programado para pouco
depois das 17 horas, ou seja, teríamos mais de 2 horas para desfrutar de toda
aquela paisagem ímpar.
Assim como
acontece no Salar de Uyuni (Bolívia), o que impressiona aqui é a imensidão. Os Lençóis
Maranhenses tem uma área equivalente à cidade de São Paulo. São 155 mil hectares, onde mais de 50% desse
território pertence à cidade de Barreirinhas que acabou por se tornar a “sede”
turística para conhecer o local. A outra parcela dos Lençóis está distribuída
entre os municípios de Santo Amaro do Maranhão e Primeira Cruz.
Se por um lado
a equiparação com o maior deserto de sal do mundo está relacionada com a
dimensão, por outro, a beleza em terras brasileiras é muito maior, sobretudo, em razão das lagoas
presentes neste “deserto” nacional. Elas se formam e intensificam com a
quantidade de precipitação da região. As chuvas do período proporcionaram um
cenário inesquecível aos olhos de quem caminhava e se deslumbrava com aquela
inesperada surpresa de verificar uma miragem em pleno deserto.
Algumas lagoas
tem nome; Toyoteiro; Azul; Esmeralda; Paz; Preguiçosos; entre outros. Como elas são
originárias da precipitação, a água é doce e o fato de estarem isoladas proporciona
um ambiente límpido e perfeito para um mergulho que acontece em três
ou quatro ocasiões. A sensação é de sentir-se no paraíso. Impossível não ficar
fascinado com as cores, contrastes e dimensões. Uma maravilha de natureza.
Maravilhosa Lagoa dos Toyoteiros. Segundo nosso guia, o nome se refere ao antigo costume dos condutores se refrescarem no local. |
Depois de
caminhar pelas dunas e refrescar nas lagoas, a visita termina de forma
magnifica com o pôr-do-sol nos Lençóis Maranhenses. Muitas pessoas decidem
conhecer o local na parte da tarde justamente para acompanhar o sol se esconder
por trás das montanhas de areia. A energia positiva do local é muito boa. O
pessoal todo se dirige a um ponto demarcado por uma bandeira e cada pessoa ou
grupo escolhe seu lugar para observar toda essa beleza natural. Eu aproveitei
para compartilhar o momento com a minha amada Fabiane que, mesmo longe, está
sempre comigo. O sinal da TIM surpreendentemente funcionou nos Lençóis e assim
podemos conversar.
Assim que
termina o pôr-do-sol todos voltam para seus devidos veículos e começam o
caminho de volta que, por sua vez, não é menos emocionante e também tem muita
adrenalina. Quando chegamos ao Rio Preguiças tivemos que aguardar a balsa já
que o horário concentra muitos veículos e a embarcação comporta apenas dois carros
por travessia. O período de espera pode passar despercebido por aqueles que
aproveitam para saciar a fome com a tapioca feita na hora. A delícia regional é
preparada em uma barraca que além do quitute, tem artesanato e vestimentas
locais. Para não gastar dinheiro fiquei apenas observando o movimento.
Realizada a
travessia pela balsa, estava na hora de retornar para casa. Fui o primeiro a
ser deixado na residência. Estava um pouco cansado, mas extremamente feliz. Foi
sem dúvida um dos passeios mais interessantes que realizei em toda a viagem e
não seria exagero dizer que em toda minha vida de viajante. Recomendo demais.
07/06/2013 - 334° dia - Barreirinhas (Folga)
Circuito das
Águas.
Hoje, parte do
dia foi dedicada, mais uma vez, ao pedal. O camarada Abílio traçou um roteiro
turístico para ser realizado de bicicleta, denominado por ele como Circuito das
Águas. O traçado compreende povoados da região onde a natureza se exibe das
melhores formas possíveis.
O trajeto
consistiu em passar por quatro ou cinco comunidades. Em Sobradinho para além da
magnifica natureza, podemos conferir o processo rústico de fazer a farinha. O
professor Abílio foi reconhecido por um ex-aluno que, junto com a sua família,
realizava o complexo e interessante método para se aproveitar a mandioca em sua
totalidade. Esse tipo de surpresa é o que nos motiva a conhecer os lugares
através desse fantástico meio de transporte.
Povoado Passagem do Canto |
Deslocamento para os povoados da região. |
Em outro ponto às margens do Preguiças. |
Rio Preguiças |
Rio Preguiças. |
Rio Preguiças.
|
Maravilha de natureza
As belezas do interior. |
Em um dos afluentes do Rio Preguiças. |
In foco. |
Vai pedalar na água, abestado? Risada Sacana. |
Que eu tenha forças para conhecer, de bicicleta, os lugares mais longínquos. |
In foco. |
Professor Abílio |
In foco. |
Conhecendo melhor o processo de produção da farinha e outros derivados da mandioca. |
Atenção máxima na aula.. |
Secagem.. |
Trabalha.. trabalha.. rs |
Olha a cara de felicidade do mestre Abílio. |
In foco. |
In foco. |
In foco. |
In foco. |
Tucupi separado nas garrafas. |
Um dos processos iniciais; moer a mandioca. |
In foco. |
In foco. |
Fase para separar o tucupi. |
In foco. |
Registro para posteridade. |
Para fechar o passeio da melhor forma possível. |
08/06/2013 - 335° dia - Barreirinhas a Cana Brava
Em direção ao
Piauí.
Chegou a hora
de voltar à estrada.
A saída de
Barreirinhas aconteceu com um veículo 4 x 4. A utilização da Toyota se fez
necessária para seguir viagem, pois eu deveria chegar até o município de
Paulino Neves, contudo, não existe uma estrada entre as duas cidades. Há
somente um caminho extremamente arenoso e que impede qualquer possibilidade de
completa-lo pedalando. Não sei exatamente qual a distância, mas deve ser em
torno de 25-30 quilômetros. Como mencionei em postagens anteriores, o objetivo é pedalar sempre que possível, mas em determinados trechos a utilização de outro meio de transporte se torna inevitável. Paciência.
O veículo
partiria de Barreirinhas às 8h30m e com a ajuda do Abílio já tinha reservado
meu lugar dois dias atrás. O motorista cobrou 20 reais da passagem e mais 15
pelo transporte da Victoria. Uma facada para quem tem procurado economizar, mas
infelizmente são os gastos da viagem.
Como a saída
estava programada para a parte da manhã, não deixei de acordar cedo, arrumar a
bagagem, tomar um café da manhã e seguir ao ponto onde o veículo estava à minha
espera e também dos demais passageiros. O camarada Abílio mais uma vez se
mostrou solícito e me ajudou no que foi preciso. Deixo meu sincero
agradecimento por toda sua hospitalidade. Valeu mesmo, mestre Abílio.
Às 08 horas
estava colocando os alforjes debaixo dos bancos da Toyota e amarrando a
Victoria na traseira do veículo. A viagem deveria durar pouco mais de duas
horas e começou por volta das 8h30m, contudo, um passageiro foi esquecido e
como suas malas estavam a bordo, tivemos que retornar quando estávamos na saída
da cidade. Isso custou alguns minutos e a paciência de determinadas pessoas no
carro.
O percurso é em meio à vegetação de restinga e muita areia. Realmente é impossível pedalar pela
região. No meio do caminho, um e outro vilarejo aparece para destoar a paisagem
desértica. Em determinadas partes há o desembarque e embarque de passageiros.
Esse processo somado à velocidade lenta sobre a areia é o que deixa a viagem
demorada. Mas eu estava tranquilo e registrava tudo que estava na minha frente,
sobretudo, quando chegamos à área denominada Pequenos Lençóis, uma faixa de
dunas um pouco menor que aquela mais conhecida e já visitada.
No famoso Delta das Américas. |
Por volta das
11h15m estávamos em Paulino Neves e após descer do veículo comecei a colocar os
alforjes para seguir o pedal até Tutóia e consequentemente em direção ao Estado
do Piauí pela rodovia MA - 315, pavimentada em 2011. Antigamente o trecho de
aproximadamente 30 quilômetros era muito parecido com esse de Barreirinhas à
Paulino Neves, mas ainda bem que atualmente a nova estrada permite o deslocamento
mais fácil. Assim foi possível colocar a Victoria para andar.
Já estava
próximo do meio-dia e a fome começava a se manifestar através das gritantes
lombrigas que se revoltaram por eu não ter almoçado em Paulino Neves. Mas para
a minha felicidade logo na saída da cidade, em um povoado chamado Tingidor, encontrei um restaurante que quase passou despercebido pela ausência de
cliente. A refeição custava 10 reais e contava com camarão e carne de sol.
Estava simplesmente divino e valeu cada centavo investido. Delícia de almoço.
Devidamente
alimentado voltei à estrada que, apesar de carecer de acostamento, é tranquila
em razão do tráfego baixo de veículos. O relevo também não dificulta o
deslocamento que apenas não aconteceu mais rápido por causa vento contra e o
calor que novamente é de “pirar o cabeção”.
Vale destacar
que o trecho entre Paulino Neves e Tutóia é repleto de povoados onde a maioria
conta com pequenas mercearias e restaurante. Não me lembro de ter visto
hospedagem, mas conseguir um local para acampar ou atar a rede por essas bandas
não deve ser difícil. O povo nordestino tem sido muito hospitaleiro em todas as
partes.
A rodovia MA 315
termina na chegada ao trevo para Tutóia, que deste ponto, fica distante apenas
dois quilômetros. A cidade é litorânea, mas achei melhor reencontrar o mar em
outra ocasião. Naquele momento peguei a MA 034 em direção à Cana Brava,
distante 40 quilômetros. É mais uma rodovia restaurada e que está em excelente
estado, contudo, o acostamento não é dos mais propícios para pedalar e muitas
vezes foi preciso seguir sobre a faixa lateral. Novamente o fluxo de veículos
proporcionou um pedal tranquilo neste sentido. O que dificultou foi o relevo
com a sua verdadeira montanha-russa.
Pouco antes de
Cana Brava eu estava parado no acostamento para comer algumas bolachas quando
um motociclista passou no sentido contrário da rodovia e posteriormente
retornou para conversar comigo. O rapaz, meio estranho, chegou perguntando se
eu fumava cigarro ou maconha. E antes mesmo que eu pudesse responder que não
fumava, ele tirou um cigarro da carteira e me ofereceu. Claro que recusei veemente
dizendo, novamente, que não fumava. O cara ficou surpreso com a minha resposta,
tentou argumentar alguma coisa, mas eu encurtei a conversa e disse que
precisava seguir. Ele então esboçou questionar o motivo da minha pressa, mas
insisti na justificativa que necessitava chegar o quanto antes na próxima
comunidade. Recebi um vai com Deus e
cada um seguiu seu caminho. Não quero nem saber quais eram as intenções daquele
jovem.
O planejamento
era parar em Cana Brava onde cheguei por volta das 18 horas. A primeira
tentativa de conseguir um lugar para passar a noite foi sem sucesso. Mas isso
não me abalou e fui procurar outro local no final do perímetro urbano. Quando
já estava praticamente fora da cidade passei por uma casa à beira da estrada em
que havia uma enorme área coberta e um senhor numa rede. Não pensei duas vezes
para solicitar a permissão para montar acampamento.
Quem me atendeu
na casa foi o senhor João que é baiano, mora no Ceará e também está de viagem
(de moto e a trabalho) pelo Maranhão. Ele estava na mesma situação do que eu,
contudo, chegara antes na casa e já tinha conseguido o aval para permanecer no
local. Depois que expliquei a minha situação ele foi conversar com a
proprietária que não pensou muito em permitir a minha estadia.
A área coberta
era na verdade um espaço (idêntico àquele de Sobradinho) para o preparo da farinha.
O senhor João já tinha atado sua rede no local e eu fiz o mesmo. Assim evitava
montar a barraca e ganharia tempo no dia seguinte já que precisaria apenas
desatar a rede e guarda-la no alforje.
Enquanto estava
sentado e tirava meu tênis, a dona da casa apareceu inesperadamente com um prato
de comida extremamente caprichado. Baião-de-dois com frango assado. Pensa na
surpresa e felicidade do sujeito que devorou a comida rapidamente. Para a
sobremesa, o senhor João ainda me ofereceu duas bananas e uma maça. Mais uma vez
eu tinha sido guiado para permanecer no local certo.
As portas da
casa também foram abertas para eu tomar um banho que foi muito bem-vindo depois
de um dia demasiadamente quente. Na sequencia comecei a conversar com o senhor
João que hoje vende remédios naturais pela região. Viajante há muitos anos,
conhece bem essa parte do nordeste e me deu várias informações sobre as
estradas no Maranhão, Piauí e Ceará. Neste último me ajudou a decidir por qual
rodovia seguir para chegar à Fortaleza.
Alimentado,
limpo e com o trajeto a seguir traçado, restou deitar na rede e dormir.
Dia finalizado
com setenta quilômetros pedalados.
09/06/2013 - 336° dia - Cana Brava (Maranhão) a Camurupim (Piauí)
Chegada a mais
um Estado brasileiro: Piauí.
A noite foi sem
dúvida a mais fria desde que retornei ao Brasil. A temperatura baixa tinha
explicação. A casa estava localizada em uma região alta e às margens de um rio.
Para a minha felicidade eu estava com o saco de dormir que acabou por servir como
cobertor. A devida proteção proporcionou uma das melhores noites em rede dessa
viagem. O conforto e a segurança do local, aliada à canseira permitiram um
descanso merecido.
Acordei por
volta das 6 horas e rapidamente estava pronto para seguir viagem, não sem antes
me despedir dos proprietários e também do sábio e prestativo senhor João.
Pessoas que tem meu eterno agradecimento pela acolhida.
Logo após a
saída encontrei um trevo onde a placa informava a direção para a divisa entre
Maranhão e Piauí. Era exatamente o caminho pelo qual eu deveria continuar.
Segundo a placa, a distância para chegar ao estado vizinho era de 42
quilômetros.
Não sei a
denominação da nova rodovia, mas não é muito diferente da MA 135 e MA 034.
Talvez seja um pouco mais deserta já que poucos povoados aparecem pelo caminho.
Um deles surge justamente no trevo para Araioses. Existe restaurante no local,
mas ainda era cedo e resolvi seguir em direção à Pirangi que é a última
comunidade maranhense antes da divisa, onde eu estava por volta do meio-dia.
Em Pirangi
parei em uma casa para completar minhas garrafas de água que já estavam vazias.
Aqui na região para o “motor” não ferver é preciso no mínimo 5 litros de
água/dia. Não é brincadeira não.
Para chegar ao
Piauí precisei apenas atravessar a ponte sobre o famoso rio Parnaíba. Na outra
margem, em solo piauiense fiz o devido registro e continuei por uma estrada que
logo me deixou na BR 343 que faz a ligação com a capital Teresina. No entanto,
meu destino era o norte do estado; Parnaíba.
O amigo Lauro
(de Belém/PA) fez recentemente esse trecho na viagem de bicicleta para o Rio de
Janeiro e me informou que em Parnaíba tinha uma enorme loja de bicicleta caso
eu precisasse de algo. E na ocasião eu procurava um velocímetro, mas o
“cabeçudo” aqui esqueceu que era domingo e certamente nada estaria aberto. E
não seria nada interessante esperar um dia para fazer a reposição da peça, por
isso, ao entrar na BR 343 eu tinha a pretensão apenas de passar por Parnaíba e
seguir na direção da divisa com o Ceará.
O objetivo era
passar pelo Piauí em apenas um dia. O Estado tem o menor litoral do país e era
estrategicamente por essa região que eu pedalava em direção ao Ceará. O caminho
para chegar à Parnaíba contou com a excelente condição da BR 343 com
acostamento parecido com aquele de muitas rodovias do Sul/Sudeste. Mas sabe
como é, ciclista não tem vida fácil. A temperatura deixou tudo mais complicado.
Subidas moderadas eram completadas com muita dificuldade e, para variar, não
aparecia nenhum restaurante para saciar a fome. Afinal já passava do meio-dia.
Fui encontrar
um restaurante somente na chegada à Parnaíba. O estabelecimento, paralelo ao
primeiro posto de combustível que aparece na entrada da cidade oferecia um menu com
algumas opções. A mais barata era a panelada,
prato que no Maranhão é conhecido como carne cozida com legumes, contudo, aqui
eu descobri que se tratava de buchada de boi, dobradinha, mocotó, como quiser
chamar. Confesso que isso me deixava com o estômago todo embrulhado quando era
criança e chegava a ponto de quase vomitar. O tempo passou e as circunstâncias
mudaram. Não digo que hoje sou apreciador dessa gastronomia nordestina, mas que
é melhor comer a tal panelada do que ficar com fome, isso eu não tenho dúvida.
Não sobrou nada sobre a mesa. (Risada Sacana).
Depois do
almoço voltei à estrada ainda com a vontade de chegar à divisa (via Camurupim),
contudo, não seria uma tarefa fácil e implicaria em atravessar para o
território cearense durante a noite. Algo que não me animava muito por questões
de segurança e até mesmo do registro da passagem por mais uma divisa. Dessa
forma, aqueles 66 quilômetros que separavam Parnaíba da divisa com o Ceará não
seriam completados até o final do dia, mas pelo menos boa parte deles.
Com a mudança
dos planos, a parada no final do dia estava programada para acontecer em
Camurupim. Para chegar ao povoado precisei pedalar na escuridão por alguns
quilômetros. A rodovia é simples, porém um pouco movimentada e com acostamento
relativamente moderado. Bastou seguir com calma para chegar ao destino
desejado.
Por volta das
19 horas estava em Camurupim. A estratégia de procurar um local para montar acampamento
tem sido sempre perguntar nas casas que ficam no começo ou final do perímetro
urbano. Lugares mais afastados e consequentemente calmos e longe dos olhares de
muitas pessoas. É preciso pensar em todos os detalhes. Foi difícil achar uma
casa com varanda que possibilitasse o pernoite. Somente na saída encontrei uma
casa grande, bonita e que dificilmente o proprietário permitiria a minha presença,
mas eu não tinha muitas opções e o “não” já estava ganho mesmo, então o que
custava tentar? Para a minha alegria meu pedido foi aceito sem maiores
questionamentos e a entrada foi permitida pelo senhor Carlos que me recebeu com
toda atenção.
Mais uma vez
atei a rede na pretensão de economizar tempo. Essa é a principal vantagem de
substituir a barraca pela rede. Na sequencia fui tomar um banho já que a opção
foi sugerida pelo proprietário que não se importou com a minha entrada na
residência. Acho isso simplesmente incrível; aceitar um “estranho” dentro da
sua casa. Essa hospitalidade no norte e nordeste tem me surpreendido.
Com o banho
tomado e novamente limpo, ainda ganhei o jantar que foi exclusivamente
esquentado para mim. Detalhe que vale a pena ser repetido. Eu nunca peço nada
mais do que um espaço para dormir, montar a barraca ou atar a rede. As demais
gentilezas partem sempre dos proprietários. E isso tem acontecido em pelo menos
95% dos lugares por onde passo. Sem dúvida, receber essa hospitalidade eleva o
moral e fortalece o espirito para poder seguir viagem. Não esquecendo que
também ajuda a equilibrar as finanças. Não sei se funciona em uma viagem com
mais pessoas, sozinho tenho tido uma recepção excelente.
Dia finalizado
com aproximadamente 110 quilômetros.
10/06/2013 - 337° dia - Camurupim (Piauí) a Granja (Ceará)
Ceará! Oitavo Estado
brasileiro a ser pedalado na Expedição Cicloturismo Selvagem – Pedal pela
América Latina.
A noite foi
tranquila e também confortável na rede. Acho que começo a me acostumar a dormir
neste tipo de leito. Também já estava mais do que na hora. Acordei por volta das 5h30m
e rapidamente arrumei minhas coisas para retornar à estrada. Mas antes de
partir aceitei o café da manhã preparado pelo Carlos. Claro que não retornei à
rodovia sem agradecê-lo imensamente pela hospitalidade. Toda essa ajuda reforça
ainda mais a filosofia em que acredito; gentileza gera gentileza. Sem dúvida
colocarei ainda mais em prática todo esse aprendizado.
O objetivo do
dia era simples; começar a pedalar em território cearense e terminar na cidade
de Granja passando pela cidade litorânea de Camocim. Muitas pessoas me disseram
que o município praiano era bonito e por isso achei que merecia uma visita,
ainda que rápida. Mas para chegar neste local, primeiro foi necessário sair do
Piauí.
Nas primeiras
horas da manhã o sol já brilhava forte e, para variar, a temperatura alta e a
falta de acostamento me castigavam e impediam um avanço mais rápido. Cada dia me convenço
mais que um praticante de cicloturismo não é nada, repito, nada, sem paciência.
Foi preciso muita calma para vencer os quase 30 quilômetros até chegar à divisa
com o Ceará.
Obviamente que
eu não poderia deixar de registrar a passagem por mais uma divisa. E a entrada
em solo cearense foi flagrada de forma muito emblemática e que expressa o
cotidiano de muitas famílias que vivem na região. A fotografia mostra duas
mulheres carregando um balde de água em suas cabeças. Não sei com qual finalidade
o liquido sagrado foi retirado do rio que faz a divisa entre os estados. Mas o
que fica claro é que mesmo no período das chuvas, ainda existe toda essa
questão relacionada com a falta de água.
Após a entrada
no Ceará precisei pedalar poucos quilômetros para finalmente chegar à Chaval,
primeira cidade cearense do caminho traçado no meu roteiro. A pacata cidade
apresenta as típicas casas baixas, pequenas e suas ruas com pedra tosca que
definitivamente não é a melhor opção para quem pedala. De qualquer forma,
aproveitei a entrada do município e parei em um posto de combustível para
calibrar os pneus. Tem sido difícil achar um calibrador moderno pelo caminho.
A rodovia CE
085 se transforma em rua no perímetro urbano de Chaval e o trânsito corta parte
da pequena cidade. Na sequencia a estrada volta ao normal, contudo, sem
acostamento, mas com um pequeno espaço ao lado da faixa lateral que permite uma
estreita zona de segurança em casos mais extremos. O baixo movimento na estrada
não oferecia muito desconforto e o pedal seguiu sem maiores dificuldades.
A temperatura
alta mais uma vez estava presente e a sensação é de que, quanto mais eu adentro
no nordeste, maior é sensação térmica. Brinco com o pessoal dizendo que a minha
família não vai nem me reconhecer quando eu voltar para casa devido ao
bronzeado. Estou literalmente moreno, mas faz parte.
Camocim estava
a quase 60 quilômetros da divisa, ou seja, eu chegaria na cidade com
aproximadamente 90 quilômetros pedalados, marca que eu gostaria de atingir até
por volta do meio-dia, mas o vento contra prejudicou o planejamento, pelo menos
no que diz respeito ao horário que era atrasado em razão das condições
climáticas.
Entre Chaval e
Camocim existem poucos povoados e somente a cidade de Barroquinha que oferece
uma estrutura mais completa com pousadas, restaurante e comércio de modo geral.
A minha parada no local foi apenas para reabastecer as garrafas de água. Ainda
era cedo e o almoço não foi cogitado.
Na estrada vou
observando a paisagem com muitas palmeiras; coqueiros e carnaúbas em meio a
pastagens com gados, jumentos e algumas cabras. O relevo é sem muita
dificuldade e poucas subidas exigem um esforço maior. Foi complicado somente
encontrar um lugar para almoçar. Isso aconteceu 3 quilômetros antes de Camocim
e apenas por volta das 14 horas apareceu uma churrascaria na beira da estrada.
Maravilha.
A refeição
custou dez reais. Esse tem sido o preço padrão de um almoço aqui no nordeste.
Não era buffet, mas nem por isso deixou de vir bastante comida. Vale destacar
que muitos restaurantes oferecem um diferencial para os clientes; redes. Isso
mesmo, em vários estabelecimentos é possível verificar as redes atadas para que
as pessoas possam tirar as sestas. Não raramente elas estão ocupadas. Após
a refeição eu fiquei tentado a deitar, mas achei melhor ficar na cadeira mesmo,
caso contrário a preguiça seria cruel e voltar a pedalar se tornaria um
sacrifício.
Na saída do
restaurante segui para o trevo que possibilitava o direcionamento à Camocim ou
Granja. Peguei o sentido para a primeira cidade. Aproximadamente cinco
quilômetros depois eu estava na beira-mar e de frente para o Oceano Atlântico
em toda sua dimensão. E pensar que meses atrás eu me deparava com o Pacífico e
posteriormente o Mar do Caribe. É muito, mas muito bom sentir esse avanço.
Ainda falta muito para chegar à Foz do Iguaçu, mas eu já estive bem mais longe.
Camocim é uma
típica cidade do interior com pouca população. É conhecida mesmo em razão do
litoral, que por sua vez, não me pareceu muito distinto e interessante como
mencionaram inúmeras pessoas pelo caminho. Ao menos eu não achei as praias
convidativas para um banho de mar. O que despertou a atenção foi verificar as
várias embarcações que chegavam à Praia dos Barcos onde a maioria fica
ancorada. O diferencial fica por conta da utilização das velas nos barcos. A
peça serve para movimentar as embarcações com a ajuda dos ventos que sopram
constantemente na região. Não me lembro de ter presenciado algo parecido
durante a viagem. Registro garantido.
A chegada e
saída de Camocim é muito fácil. A cidade tem placas informativas por todos os
lados. Pedir informação é quase desnecessário. Achei um ponto extremamente
positivo. Recomendo uma visita, ainda que rápida, ao local.
De volta à
rodovia CE 085 o objetivo era continuar em direção à Granja que estava a 22
quilômetros de distância. O deslocamento até a cidade foi normal já que o sol
estava baixo e a temperatura muito mais amena. O relevo não apresentou muitas
inclinações e no final da tarde eu chegava ao perímetro urbano.
Granja tem um
nome peculiar, mas nada relacionado com a criação de galinhas e tampouco quem
nasce na cidade tem haver com algum nome pejorativo que o termo possa
erroneamente indicar. De qualquer forma, acho que a cidade é a maior que passei
até o momento em território cearense. O movimento de pessoas e veículos no
perímetro urbano me deixou atento em questão à segurança e também a um local
para pernoitar.
Como mencionei
anteriormente, a estratégia tem sido pedir um espaço para dormir somente na
entrada ou saída dos municípios. No início de Granja nenhum local me pareceu
propicio e continuei em frente pelo extenso perímetro urbano. Na saída da
cidade também não encontrei nada e enquanto pedalava pela nova rodovia, CE 382,
um carro passou buzinando e logo no final da subida parou fora da pista e
aguardou minha aproximação.
O motorista do
veículo era o Mário Jordany que também
é ciclista, mora em Granja e se mostrou interessado em saber mais sobre a minha
passagem pelo local. Expliquei o projeto pra ele e conversamos por vários
minutos. Mencionei que solicitaria um espaço para dormir na casa paralela ao
posto de combustível que ficava na frente de onde estávamos. Nos despedimos e
fui conversar com o proprietário da residência.
A primeira
tentativa de pernoite não funcionou e a senhora que me atendeu argumentou que
diante de tantas coisas que acontece no mundo ela não poderia me aceitar.
Compreendi seu posicionamento, fiz apenas algumas colocações, agradeci pela
atenção e voltei para a estrada, mas não fui longe. Resolvi parar no posto e
perguntar se havia um local para montar a barraca. Para a minha surpresa o Jordany estava abastecendo seu
veículo e perguntou o que tinha ocorrido. Com a maior naturalidade (depois destacada
por ele) expliquei a situação e disse sobre a próxima estratégia. Foi então que
ele afirmou que pagaria uma pousada para o meu descanso em Granja. Questionou se eu aceitaria e simplesmente não
tive como recusar. Estava cansado e desejava procurar um local para tomar banho
e ter um descanso merecido.
Fiquei muito
feliz e agradecido com a hospitalidade do Jordany que disse que apenas não me convidava à sua casa pela ausência de
espaço. Enquanto nos dirigíamos ao centro da cidade encontramos com alguns
amigos ciclistas dele. Claro que paramos e conversamos, sobretudo, a respeito
da expedição que passou a ganhar mais admiradores.
Seguimos até a Pousada
Casa Grande, agradeci o camarada pela ajuda de extrema importância e minutos
depois eu estava em uma das melhores hospedagens dessa viagem. Instalações
novas na habitação que contava com televisão, ar-condicionado, ventilador e,
sobretudo, wi-fi. Não pude deixar de conferir o e-mail e mandar notícias para
os familiares. Também não hesitei em colocar algumas fotos da próxima atualização no diário de bordo. Aproveitei para enviar mais de 1GB de
registros fotográficos. Com a tarefa fui dormir somente por volta das 2 horas
da madrugada.
Dia finalizado
com 120 quilômetros.
11/06/2013 - 338° dia - Granja (Folga)
Apesar de
dormir tarde, levantei bem cedo porque tinha a pretensão de continuar a viagem,
mas quando vi o tempo chuvoso, não pensei duas vezes em permanecer na
hospedagem e tentar definitivamente acabar a atualização do diário de bordo e
realizar a postagem atrasada e aguardada pelos leitores.
Às 7 horas o
café da manhã começou a ser servido e fui um dos primeiros a sentar à mesa.
Estava com muita fome já que a janta da noite anterior foi somente baseada nas
energéticas bolachas. Aproveitei a refeição matinal para saciar um pouca a
fome.
Na recepção o
proprietário (Teixeira) informou que o preço da diária era de 25 reais. Para o padrão
Brasil, um valor baixo para o que era oferecido e justamente por isso paguei
para ficar mais um dia. Assim teria tempo para fazer o que precisava. Poderia
fazer essa atualização em Fortaleza, mas não queria dar margem a imprevistos e
deixar a atualização se atrasar ainda mais.
Com o resto do
dia definido, não demorei em voltar ao quarto e começar a fazer a atualização
dos últimos dias. Tem sido uma tarefa muito desgastante manter o diário de
bordo atualizado. Espero continuar com forças para mantê-lo até o final do
projeto, ainda que isso ocorra com menos frequência do que gostaria.
Na hora do
almoço aproveitei para fazer a refeição (por 8 reais) no restaurante da
pousada. O período da tarde foi exclusivamente voltado à atualização do diário.
No começo da noite o Jordany apareceu
na hospedagem na companhia da Ana Luiza, sua namorada. Ele ficou sabendo que eu ainda
estava na cidade e apareceu para conversar mais um pouco e saber se estava tudo
certo. Acabei sendo presenteado com a camiseta de um importante evento da
cidade e que o camarada ciclista faz a cobertura.
No final do dia
ainda não havia terminado a atualização, mas boa parte estava finalizada. No
entanto, a postagem deve acontecer somente em Fortaleza daqui três dias.
Paciência.
12/06/2013 - 339°
dia - Granja a Forquilha.
Retorno à
estrada.
A noite mais
uma vez foi curta em razão do tempo investido na atualização do diário de
bordo. Acordei cedo para seguir viagem, precisava voltar a pedalar o quanto
antes, mas o café da manhã começava a ser servido somente a partir das 7 horas
e eu não poderia sair sem reforçar as energias.
Enquanto
esperava o horário da refeição matinal, aproveitei a data (dia dos namorados)
para fazer uma declaração à minha amada Fabiane que, apesar da distância, continua
no meu coração, pensamentos e sonhos. É difícil expressar sentimentos em
palavras e por isso levei mais tempo do que imaginava para conseguir escrever
uma parte de todo esse amor. Resultado é que fui sair da pousada apenas às 9
horas da manhã. Mas pelo menos consegui enviar a mensagem para meu amor.
A pretensão era
chegar em Fortaleza na quinta-feira, mas com a “folga” em Granja isso se
tornava difícil, porém não impossível. Dessa forma eu teria que finalizar o
pedal de hoje com no mínimo 150 quilômetro para poder tirar um pouco a
diferença do dia anterior. Assim eu terminaria o dia em algum lugar depois de
Sobral.
Ao contrário da
manhã de ontem, hoje o sol brilhava forte mais uma vez e a temperatura prometia
derreter cérebro e pneus nas próximas horas. Estava preparado para enfrentar
qualquer coisa e por isso saí da pousada para mais um dia de pedal. Ao deixar a
hospedagem registrei um antigo casarão onde o Conde D'eu ficou hospedado por uma noite, segundo informação do
camarada Jordany. Também aproveitei
para registrar a Ponte Metálica que é um dos cartões postais da cidade.
Assim que
voltei para a CE 362 um veículo buzinou e novamente era o camarada Jordany que veio fazer um registro
da minha saída e mais uma vez se despedir. Aproveitei para agradecê-lo
novamente.
Na estrada a
novidade foi a fauna um pouco mais exuberante e a presença de muitas montanhas
no horizonte, mas que felizmente ficaram a uma certa distância da rodovia. As inclinações
pelo caminho não eram absurdas, mas visualmente assustavam um pouco, sobretudo,
entre as pequenas cidades de Martinópole, Uruoca, Senador Sá e Massapê. Nesta segunda
eu aproveitei para almoçar no restaurante Toca da Raposa onde a refeição
custava oito reais. No cardápio carne de sol acompanhada de arroz, feijão,
macarrão e salada. Estava tudo muito bom, porém com uma quantidade um pouco
menor do que nos demais estabelecimentos.
Na sequencia
continuei em direção à Sobral, mas logo no retorno à estrada tive uma grande
surpresa. Outro veículo buzina ao passar por mim e a Victoria. Notei que o
carro parou fora da pista e que o motorista esperava a minha aproximação.
Curioso, me fez uma série de perguntas, entre elas, se eu tinha idéia de que
estava pedalando em uma das regiões mais quentes do planeta. Fez a comparação
com o Deserto do Saara que fica no mesmo sentido se atravessarmos o oceano.
Depois fiquei pensando sobre isso e realmente ele tinha razão. Mas o que também
surpreendeu foi quando ele perguntou se poderia fazer uma pequena contribuição.
Não pensei uma vez para dizer que toda ajuda era bem-vinda e na sequencia
ganhei vinte reais. Conversamos mais um pouco, agradeci pela colaboração e cada
um seguiu seu rumo. Ele se direcionava à Fortaleza para pegar o voo à Brasília
para ver o jogo entre Brasil e Japão pela Copa das Confederações.
Cheguei à
Sobral no final da tarde. A cidade é a segunda maior do Ceará e sem dúvida foi
complicado passar pelo perímetro urbano extremamente movimentado. Peguei muitos
atalhos indicados pela população e várias vezes fui parar em lugares nada
convidativos para passar de bicicleta naquele horário. Mas no final consegui
achar a avenida principal que saía novamente na rodovia.
Chegada à Sobral |
A escuridão
chegou e o pedal passou a acontecer pela rodovia BR 222 que surpreendentemente
não é duplicada como eu imaginava. Para a minha infelicidade o acostamento
depois de Sobral é horrível e como o movimento de veículos é intenso, sem
chance de pedalar na faixa lateral. Tive que encarar os buracos do acostamento.
Para conseguir
atingir o objetivo traçado no começo do dia eu teria que parar na cidade de
Patos, contudo, o trânsito e a situação do acostamento me fizeram finalizar o
dia na cidade de Forquilha. Achei mais prudente não me arriscar naquelas
condições. A Pousada São Francisco estava localizada ao lado de um posto de
combustível e a diária custava 25 reais, mas a minha proposta de 20 reais foi
aceita e o desconto garantido. Assim gastei o dinheiro que ganhei no começo da
tarde e o pouso acabou saindo de graça.
O quarto da
pousada era razoável. O banheiro deixou um pouco a desejar na higiene, mas de
modo geral valeu o investimento. O importante é que estava prestes a ter o sono
dos justos, pelo menos eu esperava.
Dia finalizado
com 120 quilômetros.
13/06/2013 - 340°
dia - Forquilha a Umirim
Chegada à
Fortaleza?
A noite na
pousada só não foi das melhores porque os pernilongos estavam à solta e foi
difícil dormir mesmo depois de passar o repelente. Paciência.
Como eu não
tinha completado o pedal do dia anterior como havia previsto, hoje a
quilometragem aumentou consideravelmente para poder chegar à Fortaleza no final
do dia. Para, pelo menos, tentar a audácia eu acordei às 4h15m, mas o sono me
deixou levantar apenas uma hora depois. Resultado: saí da hospedagem somente às
6 horas da manhã. A situação que já era difícil ficou ainda mais complicada com
o horário tardio em que o pedal começou.
Apesar de todas
as dificuldades para terminar o dia na capital cearense, não deixei o objetivo
de lado e comecei o pedal assim mesmo. Iniciei em um ritmo muito forte. Estava
determinado de verdade e por isso as primeiras horas foram de força total para
chegar o quanto antes em Itapajé onde tinha conhecimento de que uma região
montanhosa me esperava na companhia de inclinações em direção ao céu. Todavia,
depois da cidade mencionada o trecho seria de descida e teoricamente mais
fácil.
O ritmo do
começo do pedal somente não foi mais forte porque a BR 222 estava em obras nos
20 primeiros quilômetros e melhorou apenas antes de Patos. Deste ponto até
Itapajé a situação estava diferente em razão da restauração realizada
recentemente na rodovia. Apesar das subidas e das condições climáticas consegui
chegar à cidade de Itapajé por volta das 14 horas e parei em um restaurante
onde o buffet custava apenas oito reais. Claro que meu prato parecia um prédio
com vários andares. (Risada Sacana).
Depois do
almoço enfrentei mais um pouco de subida até chegar à parte mais íngreme do
trajeto. A essa altura do campeonato eu estava sem muita força e o ritmo já não
era mais o mesmo, no entanto, ainda alimentava o desejo de chegar em Fortaleza
no final do dia, mas logo essa vontade foi, infelizmente, adiada. Isso porque o
momento esperado (da descida) chegou junto com uma triste realidade; vento
contra; temperatura alta e; pavimentação extremamente ruim com inúmeras
crateras que custaram a desaparecer. Com todas essas circunstâncias a
alternativa foi terminar o pedal na cidade de Umirim quando ainda faltavam
aproximadamente 90 quilômetros para chegar na capital.
Cheguei em
Umirim quase às 18h30m e novamente tive dificuldade para encontrar uma casa
para montar acampamento. Acontece que mais uma vez o perímetro urbano extenso
dificultou a busca por um local mais propicio para o pernoite. Por isso seguia
em direção à saída da cidade quando um ciclista (Emerson) com uma bicicleta
cargueira começou a pedalar do meu lado e a perguntar mais sobre a viagem.
Quando mencionei que procurava um local para dormir, ele indicou a pousada que
ficava ao lado de um posto de combustível, que por sua vez, estava na frente da
sua casa e por isso conhecia o proprietário que eventualmente poderia conseguir
um desconto.
O Emerson
seguiu comigo até o restaurante onde o proprietário (Luís) da pousada também
trabalhava. Infelizmente a hospedagem estava em reforma e não poderia receber
ninguém, contudo, fui autorizado a atar a rede depois que o restaurante
fechasse. Não vi nenhum problema em esperar e aceitei a sugestão. Neste
intervalo fui à casa da família do Emerson que gentilmente cedeu a sua
residência para eu poder tomar banho. O local era extremamente simples e o
banho foi de balde no fundo do quintal. Como aquilo não era novidade, encarei a
situação normalmente.
Após o banho eu
tive uma surpresa inesperada. O Emerson apareceu com um caderno, caneta e pediu
para eu deixar uma mensagem sobre a minha passagem pela a casa dele. Fiquei um
pouco sem saber o que fazer, mas claro que não deixei de escrever, sobretudo, a
respeito da gentileza de me receber em sua casa. O camarada ainda me presenteou
com um jogo de chaves (ferramenta) que não pôde ser recusado. Depois dos
agradecimentos fiz um registro da família para poder guardar de recordação.
Muito obrigado por toda a ajuda.
De volta ao
restaurante eu fiquei sentado, escrevendo minhas anotações do dia enquanto as
lombrigas estavam atiçadas pelo cheiro da comida. Acho que naturalmente a minha
cara era de quem não escondia a fome. O senhor Luís ao verificar a situação
perguntou se eu gostaria de jantar e claro que a resposta foi positiva. Então
ele me autorizou a servir à vontade. Detalhe; o buffet era basicamente de uma
deliciosa gastronomia mineira. Pensa num caboclo que ficou satisfeito e com a
barriga cheia. Multiplica por três e esse sujeito sou eu. (Risada Sacana).
Depois do
jantar o sono bateu violentamente e eu estava cochilando na mesa e lutando para
não desmaiar de vez. Foi quando por volta das 21h30m o proprietário começou a
tirar as redes do local e autorizou a colocação da minha. Em poucos minutos eu
estava pronto para dormir, não sem antes trancar a Victoria do meu lado,
afinal, eu me encontrava em uma área coberta e aberta do restaurante. Apesar de
o senhor Luís garantir que o local era seguro, achei melhor não marcar bobeira.
Assim poderia ter um sono mais tranquilo.
Dia finalizado
com 120 quilômetros pedalados.
14/06/2013 - 341°
dia - Umirim a Fortaleza
Finalmente na
capital cearense.
A noite no
restaurante não foi das melhores. Primeiro por causa da "onda" de pernilongos que
invadiu a “praia” e “quebrou” justamente dentro da rede e fez daquele meu
espaço uma moradia própria. Resultado: mesmo com repelente foi difícil espantar
aqueles seres indesejados. E olha que eu estava com meu saco de dormir que
fazia papel de um cobertor. Paciência!
Segundo: a
chuva não foi apenas de mosquitos e sim de muita água. Resolveu cair uma
verdadeira tempestade com vento que molhou até mesmo uma parte da rede. Neste
momento eu lembrava feliz sobre a decisão de não ter montado a barraca em uma
área descoberta que o senhor Luís também tinha me oferecido.
Com a chuva foi
difícil dormir e por isso eu estava atento ao pouco movimento ao redor do
restaurante e que era limitado aos caminhoneiros que estacionavam seus veículos
para passar a noite. Acontece que eu comecei a ouvir uma voz feminina e quando
olhei tinha uma mulher no outro lado da área. Ela aparentava estar molhada da
chuva e falava sozinha pelos cantos. Notei que ela viu a minha rede e
imediatamente veio a meu encontro. Quando ela se aproximou da rede eu perguntei
três vezes; O que tu queres? Ela, surpresa, ao me ver acordado, resmungou
alguma coisa e foi embora dizendo; não se pode fazer programa na chuva. Foi
quando ela confirmou a minha suspeita; era uma garota de programa. Se ela
queria algo comigo, quebrou a cara. Sou fiel à minha mulher.
A presença da
garota de programa me deixou ainda mais alerta com relação à minhas coisas na
Victoria. Eu não poderia simplesmente dormir sem saber o que poderia acontecer.
Fiquei tranquilo somente depois que a mulher saiu do local após ser chamada por
um caminhoneiro. Foi a última vez que a vi.
No restante da
noite a chuva parou, mas o mesmo não aconteceu com os pernilongos. Ainda bem
que amanheceu logo e a claridade espantou esses mosquitos indesejados. Como
restavam apenas 90 quilômetros para chegar à Fortaleza eu não precisava começar
a pedalar cedo, sobretudo, porque o meu anfitrião na capital me encontraria em
um determinado ponto na entrada da cidade somente após às 18h30, horário que sairia do serviço. Por isso comecei a pedalar às 7 horas da manhã e num ritmo
bem tranquilo.
A Victoria
começou a fazer uns estalos bem sinistros e que eu não soube identificar a
origem. Uma coisa é certa, em Fortaleza ela terá que passar por uma boa
manutenção. Até porque o pessoal de Barreirinhas fez um péssimo trabalho e as
marchas foram muito mal reguladas. Não sei por que, mas acho que terei que
trocar o grupo (catraca, corrente e coroa) que já evidenciam um desgaste
compreensível.
Mesmo com o
barulho estranho eu continuava pedalando pela BR 222 que tinha uma condição
melhor em relação ao acostamento. Sei que pouco depois de São Luís do Curu
encontrei um estabelecimento que vendia caldo de cana e pastel, combinação que
boa parte dos paulistanos está acostumada a degustar nas feiras da cidade.
Aproveitei que tinha comido apenas meio pacote de bolacha e parei na
intenção de reforçar as energias.
No
estabelecimento do caldo de cana, a proprietária, dona Solange, era do interior
de São Paulo, mas vive há algum tempo no Ceará. Conversamos bastante sobre
viagens e diversos outros assuntos, inclusive, sobre a diferença de vida no
nordeste e sudeste do país. Como estava sem pressa de seguir viagem, acho que
fiquei mais de uma hora no local. Vale lembrar que o caldo de cana gelado
estava uma delícia e o pastel não ficou para trás.
A sequencia do
pedal foi tranquila. A única constatação diferente em relação aos trechos
anteriores esteve relacionada à quantidade de veículos que não era surpresa
nenhuma se considerada a proximidade com a capital.
Ao meio-dia
parei em um restaurante às margens da estrada e no cardápio duas opções;
panelada e galinhada. Não sei por que eu insisti em pedir a primeira opção. A
buchada estava difícil de descer. Acho que se depender de mim foi o último
prato que peço com a iguaria nordestina. Deixo ela para os moradores locais. O
almoço saiu por dez reais.
Terminei o
almoço, mas ainda aguardei um tempo no restaurante porque a chuva voltou a cair
e como eu continuava sem pressa, achei melhor ter um tempo para observar toda
aquela água. Mas isso foi por poucos minutos, logo depois, ainda com um pouco
de chuva, voltei à estrada para finalizar a última parte dessa fase da viagem.
Com a chegada
da região metropolitana, leia-se, Caucaia e Macaranaú, o trânsito ficou pesado
com a presença de muitos caminhões. Mas bastou ter calma e avançar com cuidado
para tudo ocorrer bem. A estrada para Caucaia passa por fora da cidade e o
acesso principal a ela e posteriormente Fortaleza não estava em nenhuma placa,
por isso acabei seguindo involuntariamente para Macaranaú. Resultado: saí, ou melhor, entrei por
um outro lado da cidade e que ficava muito mais longe do ponto de referência
para encontrar o Daniel Ribeiro, meu anfitrião.
Na direção certa para Fortaleza.
Sei que passei
na divisa entre os municípios de Macaranaú e Fortaleza às 17h45m e o trânsito
estava enfurecido na cidade. Afinal era final de sexta-feira e o pessoal doido
para voltar logo para a casa. Para chegar ao local desejado fui pedindo
informações que não tiveram nenhum equivoco. Acho que pedalei mais dez
quilômetros para encontrar o ponto combinado com o Daniel. No local tive apenas
que esperar pela chegada do camarada que é meu conhecido de longa data.
Conversamos sobre cicloturismo desde a época do Orkut, ou seja, anos atrás.
O Daniel chegou
ao local e pouco depois o amigo Fernando que também se prontificou a ajudar no
que eu precisasse durante minha estadia na cidade. Após registrar a chegada na
cidade, seguimos direto para a casa do anfitrião que ficava a mais de 10
quilômetros de onde estávamos. Conversando o pedal passa mais rápido e logo
chegamos na residência do Daniel onde devo permanecer quatro ou cinco dias.
Tempo para atualizar o site, arrumar a Victoria e ceder entrevistas já marcadas
para os jornais locais.
No final da
noite, Daniel, Raquel (sua mulher) e eu, fomos jantar em um restaurante com um
cardápio típico da região. Destaque para o baião-de-dois e o purê de macaxeira.
Simplesmente uma delícia. Muito obrigado pela excelente recepção meus amigos.
Dia finalizado
com 110 quilômetros pedalados.
15/06/2013 - 342°
dia - Fortaleza (Folga)
Dia dedicado
exclusivamente à atualização do diário de bordo.
16/06/2013 - 343°
dia - Fortaleza (Folga)
Dia dedicado
exclusivamente à atualização do site.
Nos próximos
dias pretendo conhecer as praias de Fortaleza, revisar a Victoria na Savana Bike, loja onde o Daniel
trabalha, conceder as entrevistas marcadas, terminar o que estiver pendente (responder os tópicos Brasil II e III) e
então retornar para a estrada em direção à Natal no Rio Grande do Norte que não
fica muito longe daqui. Se tudo ocorrer bem é de lá que devo fazer a próxima
atualização com as últimas novidades, inclusive, a passagem pela capital
cearense.
No mais, meus
amigos, quero lembra-los que neste momento toda ajuda é mais do que bem-vinda
para a sequencia da viagem. Qualquer contribuição pode ser realizada nos seguintes endereços: Vakinha online ou depósito bancário. Desde já agradeço pela compreensão.
Pode ter
certeza de que cada centavo será revertido da melhor forma possível. O estilo
da viagem em território nacional, como vocês observaram no diário de bordo,
continua sem nenhum luxo. A parte financeira tem sido investida principalmente
na alimentação e manutenção da Victoria. Aguardo a colaboração
de vocês.
Grande abraço a
todos.
"Hasta la Victoria Siempre"
17/06/2013 - 344° dia - Fortaleza (Folga)
Dia dedicado exclusivamente à atualização do diário de bordo.
Na parte da noite fui pedalar pela cidade na companhia do Daniel e da Raquel. Nos juntamos a um dos vários grupos ciclisticos que realizam passeios pela capital. Esses encontros reúnem dezenas e dezenas de ciclistas. Hoje, por exemplo, certamente tinha mais de cem ciclistas que são acompanhados por um carro de apoio e também pela presença de "batedores" de bicicleta que ajudam a controlar o trânsito para a passagem do pessoal. Ver a quantidade de pessoas reunidas simplesmente foi emocionante. Viva a bicicleta!
O trajeto do passeio teve aproximadamente 30 quilômetros onde foi possível conhecer um pouco melhor a capital cearense que é sem dúvida a mais moderna (em território nacional) visitada nesta expedição. Entre outros lugares, o pedal passou na frente do estádio Castelão que daqui dois dias recebe o jogo da seleção brasileira pela Copa das Confederações. No local muitas pessoas estavam envolvidas para o acontecimento da partida.
18/06/2013 - 345° dia - Fortaleza (Folga)
Finalmente dia de realizar a atualização do site.
Tenham uma boa leitura do diário de bordo e não esqueçam de deixar seus comentários que são sempre muito bem-vindos.
Grande abraço.
Hasta luego!
Uma das características marcantes da Praia do Futuro são as inúmeras barracas à beira da praia. E não me refiro às barracas de bebidas, alimentos ou coisa parecida. Trata-se de construções puramente comerciais que muito bem poderiam ser chamadas de restaurantes, bares, e etc. A irregularidade (praticamente dentro da água) em que muitas se encontram fez com que novas construções fossem embargadas e outras simplesmente abandonadas. Situação que deixa a praia com um ar meio estranho e que, às vezes, compromete a beleza natural ainda existente, apesar dos pesares.
17/06/2013 - 344° dia - Fortaleza (Folga)
Dia dedicado exclusivamente à atualização do diário de bordo.
Na parte da noite fui pedalar pela cidade na companhia do Daniel e da Raquel. Nos juntamos a um dos vários grupos ciclisticos que realizam passeios pela capital. Esses encontros reúnem dezenas e dezenas de ciclistas. Hoje, por exemplo, certamente tinha mais de cem ciclistas que são acompanhados por um carro de apoio e também pela presença de "batedores" de bicicleta que ajudam a controlar o trânsito para a passagem do pessoal. Ver a quantidade de pessoas reunidas simplesmente foi emocionante. Viva a bicicleta!
É simplesmente emocionante ver toda essa gente reunida. |
Uma das paradas no sinal de trânsito. Daniel à esquerda. |
Registro garantido. |
Valeu pela companhia, casal. |
Na frente do Castelão. |
18/06/2013 - 345° dia - Fortaleza (Folga)
Finalmente dia de realizar a atualização do site.
Tenham uma boa leitura do diário de bordo e não esqueçam de deixar seus comentários que são sempre muito bem-vindos.
Grande abraço.
Hasta luego!
19/06/2013 - 346°
dia - Fortaleza (Folga)
As encantadoras
surpresas de Fortaleza.
Para minha felicidade,
a cada dia a expedição – e todos aqueles que estão envolvidos – consegue me
presentear com momentos simplesmente mágicos e inesquecíveis. Hoje certamente
foi mais um deles.
Na verdade, os
espetáculos presenciados na capital cearense começaram a ser literalmente assistidos
desde a noite de ontem, quando, em companhia do casal Daniel e Raquel, fui à
região mais famosa de Fortaleza; a Beira-Mar. A pretensão dos anfitriões era me
apresentar a movimentada noite do local que conta com inúmeros hotéis,
restaurantes e barracas que oferecem desde comidas típicas à artesanatos
regionais encontrados em uma conhecida feira do calçadão. Tudo às margens do
imenso oceano atlântico.
Beira-Mar de Fortaleza |
Beira-Mar de Fortaleza |
A homenagem à Iracema e Martim, personagens do romance de José de Alencar, natural de Fortaleza. |
Aprenda Iracema, é assim .. a la Usain Bolt, ou quase isso, rs. |
Anfiteatro Flávio Ponte |
Praça dos Estressados na Beira-Mar. |
Calçadão |
Barraca especializada em produtos de Caju. |
Livraria espirita itinerante. |
In foco. |
Aproveitamos a
calmaria do horário e caminhamos tranquilamente pela orla sem deixar de
registrar o passeio. Caminhar significa gastar calorias e que, na medida do
possível, devem ser recuperadas. Por isso não hesitamos em parar e atender as
necessidades vitais do nosso organismo. (Risada Sacana).
Nossa parada na
intenção de restabelecer as energias não foi em qualquer lugar, aconteceu
justamente no “tabuleiro da baiana” que oferece o melhor acarajé de Fortaleza; Acarajé da Tia Lucia. Os anfitriões tinham
conhecimento que eu ainda não havia degustado a iguaria e por isso fizeram
questão de me levar ao local para provar a “especialidade gastronômica da
culinária afro-brasileira feita de massa de feijão-fradinho, cebola e sal,
frita em azeite-de-dendê. O acarajé pode ser servido com pimenta, camarão seco,
vatapá, caruru.”
Os componentes
do acarajé são típicos da cozinha baiana onde é muito mais conhecido e, consequentemente.
apreciado, contudo, isso não significa que sua presença esteja limitada ao
estado da Bahia, muito pelo contrário, hoje em dia pode ser encontrado Brasil
afora. Aqui em Fortaleza eu tive a oportunidade de comê-lo e entender porque é
muito conhecido. Não sei se a senhora responsável por essa delícia é procedente
da Bahia, mas estava caracterizada como uma típica baiana. Destaque para sua
simpatia e atenção com seus clientes. Em nenhum momento se importou que registrássemos
seu tabuleiro (recipiente utilizado para expor os alimentos).
Responsável pelo saboroso acarajé. |
No tabuleiro da baiana. Acarajé da Tia Lucia. |
Vai um acarajé? |
O acarajé é
muito bom e a soma dos ingredientes proporciona um sabor peculiar que pode ser
acrescentado de pimenta a gosto. Para provar a especialidade em sua totalidade, fiz
meu pedido com somente um pouco de pimenta. Mas o pouco desse povo aqui
significa muito. E o resultado foi apenas um; fogo saindo pela boca. (Risada Sacana).
Só uma água de coco gelada para voltar à normalidade. Mas esse é apenas um
detalhe que não tira a preciosidade do acarajé que certamente será pedido em
outras oportunidades. O preço? Os anfitriões não me deixaram saber. Foram eles
que pagaram a conta. Mais uma cortesia. Muito obrigado meus amigos.
Quer mais um pouco? |
Camarada Daniel. |
Anfitriões. |
E teve gente que não se contentou somente com o acarajé. Não é verdade Raquel? (Risada sacana) |
O calçadão da
Beira-Mar não estava cheio e talvez o horário tenha sido o principal responsável pela
tranquilidade. Afinal já se aproximava das 22 horas de uma segunda-feira. Mas
ainda assim foi possível presenciar muitos turistas que provavelmente estivessem a
passear com a mesma pretensão que a minha; conhecer a cidade que é um dos destinos
mais procurados no país, sobretudo, por causa de suas praias. Porém, dessa vez a
movimentação na capital também se justifica pelo jogo da seleção brasileira que
acontece no dia 19 de junho. A partida é válida pela Copa das Confederações e
ocorre no estádio do Castelão.
Em função do
horário não foi possível ver a imensidão e beleza do mar, mas outra atração se
fez presente e que de modo surpreendente me fascinou pela grandiosidade e forma
como foi apresentada. Refiro-me à festa junina de São João. Sim, para a minha
felicidade, cheguei ao nordeste na época que concentra uma das festividades
mais conhecidas e populares da região.
Festa junina de São João. |
A apresentação
fazia parte do Circuito de Quadrilhas Juninas promovido pelo SESC. Tivemos a
oportunidade de acompanhar duas quadrilhas que proporcionaram um momento
mágico. Eu simplesmente fiquei emocionando em presenciar uma das expressões da
cultura popular mais fantástica dessa viagem. Algo com essa magnitude foi
verificado somente nas festividades da Bolívia.
Uma pequena parte dos participantes da festa junina antes de começarem a apresentação. |
Vai começar o espetáculo. |
A festa junina
do nordeste é extremamente mais bem realizada do que em outras partes do
Brasil. Não estou desqualificando as quadrilhas das outras regiões, mas aqui
tem algo diferente que dá um brilho maior à festa. A começar pela importância atribuída
ao evento que é executado com alegria pelos participantes e recebido com
entusiasmo e admiração pela população que acompanha o ritmo das músicas (ao vivo) através
das danças dos pares que caprichosamente demonstram muito ensaio para
realizarem a exibição que é assistida também por jurados que definem a melhor
quadrilha.
Legitima festa junina. |
As quadrilhas
se apresentavam em uma quadra de esportes em que as arquibancadas estavam
lotadas. Nós e muitas outras pessoas acompanhávamos de um lugar não muito
privilegiado na parte de trás da quadra e por isso o registro não ficou com a
qualidade que merecia, mas ainda assim foi possível clicar toda aquela beleza
das roupas e os passos em sincronia entre as dezenas de pares que fazem um
verdadeiro espetáculo. Lindo demais.
Simplesmente mágico. |
Tradicional casamento. |
Festa junina de São João. |
Festa junina de São João. |
Festa junina de São João. |
Festa junina de São João. |
Festa junina de São João. |
A segunda quadrilha em uma apresentação diferente fez parecer que estávamos diante de uma peça de teatro. |
Além de tudo com um verdadeiro show de iluminação. |
Casamento.. |
Sotaque e expressões locais. Risada garantida. |
Festa junina de São João. |
Festa junina de São João. |
Festa junina de São João. |
Sincronia dos passos.. |
Alegria.. |
Muito ensaio.. |
Muita gente reunida para acompanhar. |
Ainda na limpa
e agradável Beira-Mar também visitamos o Jardim Japonês, um lugar bacana que se
assemelha a uma simpática praça. A localização permite uma vista privilegiada da avenida.
No momento também possibilitou um ângulo diferente para acompanharmos a festa
junina, que sem dúvida foi a maior surpresa da noite.
Jardim japonês. |
Presença garantida no Jardim Japonês. |
Jardim Japonês. |
In foco. |
Avenida Beira-Mar |
Isso tudo
mencionado acima foi na noite de ontem, após a atualização da última postagem
do diário de bordo. Mas as surpresas não pararam e hoje o dia foi ainda mais
movimentado, porém não menos interessante.
Hoje acordei
cedo mais uma vez, mas não foi para retornar à estrada e seguir viagem. Tinha uma
entrevista marcada para o jornal Diário do Nordeste, um dos mais importantes da
capital cearense. O contato com a mídia impressa aconteceu por meio do Fernando
que estava junto com o Daniel na minha chegada à cidade. O local escolhido para
falar a respeito da expedição foi a loja Savana Bike Shop que é onde o
anfitrião Daniel trabalha.
A Savana Bike
Shop fica próxima à Beira-Mar e por isso aproveitamos para passar pela famosa
avenida antes de seguirmos ao local combinado com o pessoal do jornal. Sem
dúvida a orla fica ainda mais bonita na parte da manhã, sobretudo, pela
visualização das cores deslumbrantes do mar.
Avenida Beira-Mar |
Registro garantido com a Victoria na Beira-Mar de Fortaleza. |
Fortaleza tem
um litoral de 34 quilômetros distribuídos em 15 praias, as mais conhecidas são
Iracema e Futuro, a primeira fica localizada na região da Beira-Mar e foi parcialmente
visualizada durante o pedal. Se por um lado a avenida concentra os imóveis mais
caros da cidade e tem toda uma estrutura para receber os turistas, por outro
peca lamentavelmente por não ter uma ciclovia que permita o tráfego de
ciclistas pela região. Não é nada interessante disputar espaço com pedestre na
calçada ou pedalar na contramão. Pelo que o Fernando me disse, existe um
projeto de revitalização que será executado em breve e que prevê a construção
de ciclovias. Espero que realmente isso se concretize.
Por volta das
9h30m chegamos à Savana e minutos depois o jornalista e fotógrafo do jornal compareceram
ao local e começaram a entrevista que durou aproximadamente 30-45 minutos. A
conversa foi toda gravada e anotações eram escritas para não deixar nenhuma
informação passar despercebida ou equivocada na matéria finalizada e impressa.
Certamente não consegui mencionar toda a viagem, mas acho que os fragmentos
colocados foram importantes para ter uma pequena idéia do que é uma viagem de
bicicleta e, sobretudo, o que ela proporciona. O jornal com a entrevista deve
sair nos próximos dias. Ficarei na espera.
Entrevista para o jornal Diário do Nordeste. |
Entrevista para o jornal Diário do Nordeste. |
Victoria para mais uma entrevista. |
Na lente do jornal Diário do Nordeste. |
Na lente do jornal Diário do Nordeste. |
Como o Daniel
ficou no trabalho, Fernando se dispôs a me apresentar um pouco melhor a cidade.
O passeio aconteceu de carro porque a Victoria permaneceu na Savana que se
prontificou a fazer uma revisão sem custo. Uma avaliação na minha companheira
mostrou que terei que realizar a troca do grupo Shimano Alivio, como eu
suspeitava. Não posso reclamar, desta vez a coroa aguentou 16 mil quilômetros,
catraca e corrente 9 mil quilômetros. A loja vai realizar um desconto nas peças repostas e isso sem dúvida vai tornar a conta mais barata. Certamente que é um
investimento que precisa ser realizado, mas sinceramente esse não era o momento
para gastar minhas últimas economias. Mas com pensamento positivo e muita fé,
vai dar tudo certo na sequencia da viagem.
Nossa primeira
visita foi à linda Praia de Iracema em sua totalidade. O nome da praia é
originário da personagem homônima do romance de José de Alencar e que a maioria
deve ter lido na escola. O local é um dos mais conhecidos de Fortaleza. O mar é
calmo, verde e muito bonito. Sem dúvida seria o local perfeito para um
mergulho, contudo, a água é imprópria para banho. Mas engana-se quem pensa que
isso afasta os banhistas. Eles estavam presentes por todos os lados e não
pareciam se importar com a condição apresentada.
Praia de Iracema |
Banhistas na Praia de Iracema |
Banhistas na Praia de Iracema |
Aqui em Fortaleza existe o chamado espigão; dique marginal que corta e desvia uma corrente. Na Praia de Iracema essa construção busca evitar um maior impacto do mar sobre a faixa de areia e o calçadão. Ele possibilita uma caminhada para “dentro”
do mar. Esta área foi a única que apresentou, naquele momento, algumas pequenas
ondas que transformou o local no pico dos surfistas, sobretudo, de bodyboard
que se arriscavam em pegar uma wave
numa área repleta de pedras.
Espigão. |
Surfistas |
Tribo dos surfistas, tudo gente fina. |
Bodyboard na veia. |
Pescadores no Espigão. |
Pescador com arpão. |
Praia Mansa vista do Espigão. |
Praia Mansa in foco. |
Mara Hope, navio petroleiro espanhol que está encalhado há quase trinta anos na costa de Fortaleza. |
Mara Hope, navio petroleiro espanhol que está encalhado há quase trinta anos na costa de Fortaleza. |
Viva a liberdade! |
Fortaleza |
Yo! |
Pescadores |
Acrobacias no céu de Fortaleza. |
Todo esse
ambiente praiano me fascina e deixa com saudade da época que morava em
Florianópolis. É simplesmente impossível ser apaixonado pelo mar e não ter a
vontade de poder desfrutar de sua agradável companhia. Eu ainda voltarei a
morar em alguma parte desse nosso imenso litoral, podem escrever.
Encontramos
muitos turistas no espigão, inclusive, estrangeiros de várias nacionalidades, entre eles, mexicanos que
certamente vieram assistir o jogo contra o Brasil. Apesar da temperatura
elevada, a maioria dos visitantes demonstrava gostar de toda aquela natureza. E
realmente é muito difícil ficar indiferente a um cenário paradisíaco como
aquele.
"Invasão" mexicana. |
Ainda da área do espigão foi
possível visualizar o hotel em que a seleção brasileira estava hospedada e
também a catedral metropolitana. Mas o que realmente chamou a atenção foi a jangada ao lado da entrada do molhe. A pequena embarcação é muito utilizada
pelos pescadores locais que aproveitam o vento para se deslocarem mar adentro. O
proprietário daquela jangada presente na areia nos deu uma aula sobre os
materiais utilizados para a construção da embarcação e também sobre a vida de
pescador/janguadeiro. Tudo muito interessante.
Hotel em que a seleção ficou hospedado. |
Catedral Metropolitana. |
Jangada em um cenário paradisíaco. |
In foco. |
Jangada na companhia das bicicletas. Registro perfeito. |
In foco. |
Com o proprietário da jangada, Marcelo. |
Na sequencia
voltamos para a Beira-Mar e pelo calçadão da Praia de Iracema continuamos a caminhada por uma área
que estava caprichosamente preparada para receber outras festas juninas. A
decoração estava muito bonita de ser observada e registrada, claro. O espetáculo
das quadrilhas certamente vai encantar, mais uma vez, o público que comparecer
ao local.
Fortaleza Junina |
Presente na Fortaleza Junina |
Fortaleza Junina |
Fortaleza Junina |
Fortaleza Junina |
O famoso Pirata Bar. Vale o registro pela decoração. |
No caminho de
volta à região do espigão, onde o carro estava estacionado, também foi possível
observar e registrar um pouco da arquitetura dos poucos prédios antigos ainda restantes na cidade que está cada vez mais moderna.
Estoril: Aqui funcionava um cassino para oficiais norte-americanos na Segunda Guerra Mundial. |
Estoril de outro ângulo. |
Arquitetura paisagista |
Estilo das antigas casas. Destaque para a forma peculiar do telhado. |
Ainda bem que as poucas construções antigas estão conservadas. |
Deixamos a
Beira-Mar e seguimos em direção à Praia da Barra do Ceará, local histórico que “faz
o limite de Fortaleza com a cidade de Caucaia localizada ao norte. Tem esse
nome por ser a foz do rio Ceará. O local tem muita importância para a história
da cidade porque foi o primeiro lugar onde o açoriano Pero Coelho de Sousa fez
uma incursão em 1603, construindo o Fortim São Tiago.” A beleza dessa área é
simplesmente encantadora, principalmente por ser encontro entre rio e mar que,
na maioria das vezes, é muito interessante.
Barra do Ceará |
Barra do Ceará. |
Barra do Ceará. |
Na foz do Rio Ceará. |
No caminho da
Barra do Ceará para o centro é comum encontrar muitas favelas. E elas não estão
distribuídas apenas nesta região da cidade. Entre os mais de 2,5 milhões de
habitantes, pelo menos um terço vive nas favelas que são facilmente visualizadas
por toda a área urbana. E não é difícil entender o motivo de tantas pessoas morando
em situações precárias.
A cidade mais
populosa do Ceará (quinta do Brasil) recebe inúmeros imigrantes oriundos do
interior do Estado onde a seca é cada vez mais implacável. Essas pessoas que
realizam o conhecido êxodo rural acabam por encontrar uma cidade que não
consegue proporcionar condições dignas de moradia, trabalho e educação,
problemas sociais de responsabilidade governamental que também se espalham por
tantas outras cidades brasileiras. Sem opção eles (retirantes) acabam por
aumentar o número de favelas.
Fortaleza é
realmente uma cidade muito bonita, moderna e interessante. Tem muito mais para apresentar
do que somente as belezas naturais; museus, parques, teatros, e etc. Talvez o PIB da cidade, que é o maior do
nordeste, permita uma infraestrutura aparentemente melhor do que aquelas das
grandes cidades que visitei em território brasileiro nesta viagem, contudo, não
posso deixar de mencionar essas questões sociais que também fazem parte do
cotidiano da cidade e que necessariamente deve ser considerado pelas autoridades ditas
responsáveis.
Hoje é feriado
na cidade em razão do jogo do Brasil. Acontece que o fato proporcionou uma cena que
raramente ocorre; centro vazio. Ocasião perfeita para quem deseja conhecer e
passear pelas ruas, avenidas e praças com mais calma.
Avenida do centro |
Catedral Metropolitana ao fundo. |
Catedral |
Praça Luíza Távora |
Praça Luíza Távora |
Praça Luíza Távora. Em destaque um vagão de trem histórico. De origem belga, operava entre as regiões norte e sul do Estado. Entre seus ilustres passageiros; Padre Cícero e Getúlio Vargas. |
Praça Luíza Távora |
Mausoléu do ex-presidente Castelo Branco, natural de Fortaleza. |
Arte nas ruas. |
Nossa passagem
pela região central também consistiu em conhecer o modesto, porém agradável e
histórico Passeio Público que “é um dos patrimônios culturais e paisagísticos
da cidade, praça onde foram fuzilados os revolucionários cearenses da
Confederação do Equador.” Não muito longe deste local está localizada a
Catedral Metropolitana que impressiona pelo tamanho.
Árvore Baobá de origem africana. Aqui foram executados os revolucionários. |
Passeio Público. |
Passeio Público. Antigamente os pobres ficavam à esquerda e os ricos à direita. |
Passeio Público. |
Flagrante da Lavadeira ou Noivinha. |
Não sei qual o nome, mas gostei do clique. |
In foco. |
A hora do
almoçou chegou e o camarada Fernando me convidou para fazer a refeição em um
restaurante próximo de onde estávamos. Mais uma vez a carne de sol foi a
preferência, contudo, preparada exclusivamente na chapa. Para acompanhar;
baião-de-dois com queijo e macaxeira frita. Que delícia. Obrigado pela
cortesia, Fernando.
Hora do almoço na companhia do camarada Fernando. |
Iago, filho do Fernando, apareceu no almoço para trocar algumas idéias. |
Após o almoço o
passeio continuou e novamente voltamos à Beira-Mar para prosseguirmos para a Volta
da Jurema – onde muitas embarcações ficam ancoradas – e consequentemente à Praia
do Futuro, a preferida por moradores e turistas para um mergulho no mar que é
um pouco mais agitado do que na área de Iracema. A presença de ondas também é
convidativa para a prática de surf. Como estava sem roupa apropriada e prancha,
fiquei apenas na vontade.
Em direção à Beira-Mar. |
Embarcações na região da Volta da Jurema. |
In foco. |
Praia da Volta da Jurema. |
Reparo em pequenas embarcações na Volta da Jurema. |
Praia do Futuro |
Praia do Futuro |
Praia do Futuro |
Praia do Futuro |
Um registro também em uma das praias mais famosas da capital. |
Fabi, cade você? |
... |
Foz do Rio Cocó |
Foz do Rio Cocó |
Por volta das 16 horas eu estava de volta à casa do Daniel. Camarada Fernando, muito obrigado pela gentileza de me apresentar a cidade. Valeu mesmo pela companhia.
20/06/2013 - 347° dia - Fortaleza (Folga)
Dia dedicado exclusivamente à atualização do diário de bordo.
Como mencionei na postagem anterior, tinha a pretensão de atualizar o site somente em Natal, contudo, achei melhor escrever e já disponibilizar o material sobre a minha passagem por Fortaleza, assim, terei menos tarefa para fazer quando chegar à capital do Rio Grande do Norte no final deste mês.
21/06/2013 - 348° dia - Fortaleza (Folga)
Dia dedicado exclusivamente ao descanso. Sem passeios, atualizações, pedaladas ou qualquer outra coisa. Hoje o descanso merecido prevalece.
Abraço a todos.
Hasta luego!