24/07/2012 - 16° dia - Corumbá/MS
(Brasil) a Yacuces (Bolívia)
Como já era planejada, minha
saída da pousada foi tardia, por volta do meio dia. Arrumo toda a bagagem na
bicicleta, agradeço o Mario, proprietário do local, por todas as informações
sobre a cidade e a Bolívia. As dicas foram preciosas. Inclusive ele me adiantou
que no horário que estou de partida era possível que a aduana poderia estar
fechada para o almoço. Sem problema.
Corumbá: últimos quilômetros em território brasileiro.
Hasta luego, Brasil.
Em direção à Bolívia.
Ainda bem que não pagamos pedágio.
Saio da pousada e sigo na direção
recomendada pelo Mario. Sem erro, dez quilômetros depois, chego à fronteira.
Que emoção! Mais um país para conhecer, nova cultura, outras histórias e vários
povos. Na divisa, faço um registro fotográfico do local e me dirijo para a
aduana boliviana. Sou informado que abre apenas às 14 horas e havia recém passado
do meio dia. Com quase duas horas para esperar, resolvo ir atrás de alguma casa
de câmbio.
Divisa Brasil/Bolívia.
Divisa Brasil/Bolívia.
Divisa Brasil/Bolívia.
Na primeira casa para trocar a
moeda, encontro um brasileiro. João é caminhoneiro e faz viagens frequentes
para Santa Cruz de la Sierra. Ele também procura cambiar o dinheiro. Vamos a
outros cambistas, mas acabamos por voltar na primeira opção, tinha a melhor
cotação. O dólar compra 6,80 bolivianos (moeda local) e o real 3,17. Quando
chegamos à casa de câmbio, o João acha melhor ir direto para a fila na aduana, às
vezes, ela é quilométrica. Penso que é na aduana do lado boliviano, mas sou
informado que tenho que ir à Receita Federal do lado brasileiro para registrar
a saída do Brasil. Primeira vez que vejo isso, mas tudo bem. Nossa aduana fica
apenas a alguns metros.
Na Receita Federal que também
fecha para o almoço, esperamos até às 14 horas. Mas abriu com um certo atraso.
Com a fila, consegui carimbar o passaporte quase uma hora depois. Feito isso
vou em direção à aduana na Bolívia que agora já está aberta. Apresento meu
documento e recebo outro carimbo, permissão de turista, concessão de 90 dias no
país. Vale ressaltar que a mulher que me atendeu foi muito simpática e ficou
surpresa com meu meio de transporte e desejou uma boa viagem.
Aduana boliviana.
Com o passaporte inaugurado vou à
casa de câmbio, pretendia trocar 360 reais e mais alguns poucos dólares que
trouxe de Foz do Iguaçu. Mas quando cheguei ao local havia apenas bolivianos
suficientes para cambiar o real. Assim, estou com 1141 bolivianos. A previsão
inicial é ficar aproximadamente 40 dias na Bolívia, meu plano é não precisar
trocar os dólares e assim ter um gasto diário menor. Vamos ver o que acontece.
Primeiros momentos na Bolívia.
Quilometragem, um pouco equivocadas. A distância, segundo a placa, ficou 50 km menor para Sta Cruz.
Aqui o horário é igual ao Mato
Grosso do Sul, uma hora a menos. Somente agora irei mudar meus relógios. Feito tudo isso, finalmente vou
para a estrada boliviana. Já são quase 16 horas e sei que o pedal não vai
render muito em razão do pouco tempo de claridade que ainda resta. Na ruta 4 em
direção à Santa Cruz de la Sierra o ritmo aumenta porque a rodovia é boa, tem
acostamento e ainda é plana. Passo pelas entradas de Puerto Quijarro, Aguirre e
Suarez. Em ambos os lugares é encontrado muito lixo às margens da estrada. Uma
lástima.
Ruta 4
Também é triste ver queimadas. O
mato cresce, seca e a solução encontrada é colocar fogo, que se espalha e
queima também as árvores e toda vegetação ao redor. Outra curiosidade durante a
tarde foram os animais na estrada, muitas vacas andam tranquilamente como se
estivessem em suas pastagens.
Queimadas
Animais na pista.
Animais na pista.
Verifico algumas linhas férreas
pelo caminho que certamente seguem para os portos da região. Muitas placas
indicam as cidades e distritos à frente. Yacuces parece ser uma opção, 50 km.
Com a velocidade média maior, minhas chances de chegar a esse lugar também são
grandes. Mas, infelizmente escurece e novamente pedalo de noite.
Linhas férreas, comuns aqui em solo boliviano.
Muita calma nesta hora e
esperança para os quilômetros passarem rápido e chegar logo ao destino. Na
estrada quase não passam veículos, ao menos, neste horário. Tem bastante inseto,
vários batem nos meus óculos. Ainda assim, sigo em segurança e quase às 20
horas estou em Yacuces.
Procuro um hotel, aqui eles são
baratos. Uma diária é possível de encontrar por 8 a 10 reais. Mas descubro que
é um distrito e o único hotel está lotado, maravilha. Sigo pelas ruas de terra
e converso com algumas pessoas sobre onde acampar. Uma delas me pergunta se sou
argentino. Sinal que meu espanhol não está muito ruim, embora tenha muito que
melhorar. Esse é um dos objetivos da viagem, aperfeiçoar o idioma.
Sou orientado a procurar a escola
local e me informar melhor por lá. Próximo a este lugar, converso mais pessoas
que pedem para ir atrás de um senhor que está duas quadras a nossa frente. Vou
e explico a situação. Com calma ele pede que o acompanhe.
Descubro que o distrito de Yacuces
pertence à Puerto Suarez. O senhor em questão, Fernandez, que trabalha para o
distrito é quem me passa as informações e me leva até um órgão público, deve
ser a “prefeitura” daqui. Tem segurança e uma área coberta enorme aos fundos
para acampar. Tem banheiro também, perfeito. Agradeço muito e vou arrumar
minhas coisas.
O dia finaliza com 71,91 km em
4h05m e 17,55 de velocidade média.
25/07/2012 - 17° dia - Yacuces a
Robore
Dia longo! Foram pedalados 199 km.
Corpo e mente estão ótimos, em sintonia.
No entanto, a noite não foi das
melhores em Yacuces, o local onde permitiram meu acampamento tinha um vizinho
que criava galinhas no quintal. E por incrível que pareça, não era nem 2 horas
da madrugada quando os galos começaram a cantar. E foi assim até o amanhecer.
Área concedida para camping.
Como havia combinado com o
segurança do local, às 7 horas da manhã estaria de saída. Assim, arrumei minhas
coisas mais cedo e no horário exato estava pronto. Cinco minutos depois aparece
o senhor para abrir o portão para mim. Agradeço e sigo para a Ruta 4. Objetivo
é seguir o mais próximo de Robore, algo nada fácil, considerando quase 200 km
de distância.
"Prefeitura" onde passei a noite.
Yacuces
Yacuces
A rodovia, não muito diferente do
dia anterior, continua tranquila, pouquíssimo tráfego de veículos e alguns
povoados presentes em suas margens. O asfalto e acostamento são bons, mas
conseguem ficar melhores a partir de El Carmen. Agora a estrada é de concreto e
a impressão é que o deslocamento consegue ser um pouco mais rápido. Aliás, a
Ruta 4 é excelente para pedalar, longas retas possibilitam um ritmo maior.
Apenas algumas subidas pelo caminho.
Ruta 4
Louva-a-deus na estrada?
Ruta 4
Começa a pavimentação de concreto.
Começa a pavimentação de concreto.
Contudo, não é apenas a rodovia
que muda após El Carmen, a paisagem também. Agora uma mata fechada é visível
por longos quilômetros, porém, são poucos os animais que consigo ver. Entre
eles, tuiuiús em território boliviano e um pássaro difícil de fotografar. Não
sei bem se é um periquito ou alguma ararinha, mas é muito lindo. Com paciência,
finalmente consigo registra-lo.
Também na Bolívia.
Flagrante!
Flagrante!
Na sequencia, sem muita
diversidade em relação à fauna, ligo meu mp3 após dias sem usá-lo, afinal, no
pantanal eu queria mesmo era ouvir todos os sons emitidos pelos animais locais.
Agora, com as músicas e uma estrada maravilhosa para pedalar, sigo bem e avanço
bastante. Em Santa Ana vejo um restaurante à beira da rodovia. Hoje é dia de
ver se realmente os preços são baixos na Bolívia, ontem não fiz nenhuma
refeição, apenas um caprichado café da manhã na pousada em Corumbá.
Maravilha de rodovia.
Verdadeiro arquiteto.
In foco.
Da série: Nomes diferentes.
Da série: Coisas que a gente encontra pelo caminho.
Fica a dica.
No restaurante singelo, horário
de almoço e nenhum cliente, chego poucos minutos antes do meio dia. O lugar é
limpo e preciso chamar para alguém me atender. Uma adolescente aparece e me diz
o que pode ser feito. Em seguida sua mãe completa o menu; arroz, salada, bife,
ovo e banana, fritos. Valor: 15 bolivianos, menos de 5 reais. Maravilha, agora
basta esperar e ver qual a cara da comida.
A Bolívia não tem uma reputação
muito boa com a higiene, portanto, fico na expectativa durante alguns minutos
até que a moça aparece com meu prato. Está tudo, aparentemente, normal. O arroz
não está quente, mas nem me preocupo com isso. A fome fala mais alto e não
demora para que toda a comida seja finalizada. Para o valor pago, estava ótima.
Uma primeira e boa experiência. Um refrigerante de meio litro; menos de dois
reais. E o principal, água de 2 litros, três reais.
Em todos esses anos de estradas,
pouquíssimas vezes comprei água. Acho isso um absurdo. Quer dizer que aqueles
que não podem comprar ficam com sede? Então me parece que é algo forçado para
mais um item a ser comercializado. Claro, algumas localidades são exceções. E a
Bolívia parece ser um desses lugares. Onde a população diz que a água da
torneira é boa, pego sem hesitar, mas quando os próprios moradores não
recomendam, então a solução é comprar e levar, afinal é bom sempre manter-se
hidratado e na estrada poucos locais de apoio são visíveis.
Após o almoço, descanso no
restaurante e logo sigo para a estrada. Com um bom avanço é possível estipular
que 130 quilômetros podem ser pedalados até o pôr-do-sol. Dito e feito. No
entanto, ainda faltam 50 km para chegar à Robore. O que fazer? Pedalar! Já
estava com esse pensamento algumas horas antes e agora resolvo encarar a
escuridão, mais uma vez.
Paisagem sempre intensa.
Começa mais uma noite na estrada.
Alguns fatores determinaram a
minha decisão de pedalar a noite. Estrada tranquila, ainda mais neste horário.
A rodovia de concreto, que, iluminada pela lua, ficava ainda melhor de ser
visualizada. Consigo ver minha sombra na pista, para ter idéia da situação. É
bom reforçar, que estrada ótima, toda com acostamento e quase sem nenhum
buraco. Maravilha mesmo.
Os longos quilômetros à noite foram
tranquilos. A música continua no mp3, mas agora, somente em um ouvido para
redobrar a atenção na estrada, não somente com relação aos veículos, mas também
aos animais. Vai saber o que tem nestas matas. Aliás, vi um bicho atravessar a
pista. Foi muito rápido e me pareceu um cachorro-do-mato. Vi alguns mortos no
acostamento durante o dia.
Finalmente, depois de muito
pedal, uma placa indica que há 5 km, na cidade de Robore tem comida, hotel e
hospital. Ótimo, penso que bastaria chegar na cidade e procurar um hotel, assim
conferia o preço das hospedagens aqui no país. Mais à frente outra placa mostra
a entrada do município, vou à sua direção.
Estranho. Na direção recomendada,
uma estrada de terra. Como não tinha conhecimento do tamanho da cidade, achei
que seu acesso poderia ser por esse tipo de terreno, assim como funciona em
alguns distritos por onde passei durante todo o dia. No entanto, avanço, avanço
e nada de cidade. A estrada é péssima, cheia de buracos, pedras e lama. Não era
possível eu ter pegado o caminho errado. Acho que sigo por três quilômetros,
passo duas linhas férreas e chego a uma casa onde ninguém me atende para dar
informações. O jeito é voltar para a rodovia.
Lá vou eu por aquela estrada
horrível que mais parecia um dos piores trechos da Estrada Real em Minas
Gerais. Havia apenas uma coisa boa, era uma situação para testar a eficácia dos
bagageiros. Quando estou quase na rodovia, uma moto aparece e estaciona na
entrada da mesma. Penso, e agora? As luzes da moto se apagam e ninguém responde
meu “buenas” em um tom de voz mais grosso. A tensão aumenta quando percebo que
são duas pessoas, chego mais próximo e vejo que é um casal. Ufa! Pergunto sobre
a existência da cidade e sou informado que fica três quilômetros a frente, pela
rodovia.
Penso comigo, jamais isso aqui
deveria ser considerado a entrada de uma cidade. Placa sem noção. Foi difícil
manter o ânimo, mas consigo e vou à direção “verdadeira”. Agora as luzes do
município aparecem, ainda que distante, era um bom sinal. Na realidade, eram luzes
da rodoviária e uma segunda entrada, também estrada de terra. De novo? Vou à
rodoviária perguntar a um segurança que me diz sobre uma terceira entrada a
qual seguia para um hotel. Finalmente.
Agora sim, a entrada correta.
Peço informações para chegar ao hotel e logo estou na entrada do mesmo. A
mulher da recepção já dormia em seu quarto, tive que chama-la. 70 bolivianos a
diária. Peço um desconto e sai por 60, algo em torno de 18 reais. Quarto
satisfatório e banheiro com chuveiro e água quente. Perfeito. Vou ao banho,
depois faço a janta e quando resolvo dormir e descansar já passa da meia noite.
Que dia, mas valeu.
Foram pedalados 199 km em 12h28m
e velocidade média de 15,45 km/h.
26/07/2012 - 18° dia - Robore a
Taperas
Como o dia anterior foi um pouco
mais puxado em relação à distância percorrida, resolvo não sair cedo. Gostaria
de ter descansado mais, no entanto, acordei cedo com o canto dos galos, de
novo. Mesmo no hotel, o sossego de uma boa noite de sono foi interrompido por
causa dos animais pelas vizinhanças. Paciência.
Já que acordo cedo, mas não quero
ir logo para a estrada, aproveito para escrever o diário de bordo, não sem
antes preparar um chá e degustar minhas inseparáveis bolachas. Depois trato de
colocar toda a bagagem na Victoria e então vou para mais um dia de pedal. Já
passam das dez horas da manhã, contudo, com a quilometragem do dia anterior,
não havia pressa.
A saída de Robore é rápida, assim
como a mudança na paisagem da Ruta 4. Agora é possível ver uma vegetação ainda
mais densa. Montanhas no horizonte apontam que o relevo não iria permanecer o
mesmo dos dias anteriores. Realmente, não demorou e logo começaram as subidas,
não muito acentuadas, mas em razão do forte vento contra, aparentam ser mais
inclinadas do que verdadeiramente são. Paciência, de novo.
Robore
Montanhas
Curiosidades!
Com o deslocamento,
involuntariamente mais lento por causa do vento e a saída tardia de Robore,
pedalo menos de 20 km e deparo-me com uma placa que indica um restaurante logo
à frente no povoado de Limoncito. Como já é perto do meio dia, decido parar e
garantir a barriga cheia. Afinal, não sei como será o caminho adiante.
No restaurante Limoncito, nenhum
cliente. Mas o lugar é aparentemente higiênico e arrumado. 16 bolivianos o
prato completo que consiste em uma sopa de entrada e o segundo prato que é
arroz, bife à milanesa e batata frita. Tudo muito simples, mas muito gostoso. O
local fica bem cheio aos poucos. Antes, porém, o proprietário me dá uma ótima
notícia. Não serei obrigar a passar pela subida de 40 km em estrada de rípio
(cascalhos) que tem nas proximidades de San José. O motivo é simples, a
construção de uma rodovia que corta a serra. Não está completa, mas o trecho
pronto é liberado para ciclistas. Maravilha.
Antes de seguir para a estrada
tento ligar para minha mãe, é seu aniversário e gostaria de parabeniza-la. No
entanto, ninguém atende. De qualquer maneira, por precaução, havia lhe
desejado, antes de sair do Brasil, um feliz aniversário adiantado. Mãe, aqui e
em todo lugar, te amo.
A temperatura é elevada na
estrada. Sem chance de pedalar sem o protetor solar, por isso, logo que
encontro uma sombra, paro e faço a aplicação do produto nos braços e no rosto.
Embora esteja quente, continuo de calça. No Brasil, pedalei um dia de bermuda,
de Bonito à Miranda, queimei toda a perna e desde então achei mais tranquilo
pedalar de calça. Assim, não passo o protetor nas pernas.
Os quilômetros seguem a correr
pelo velocímetro e a inclinação na estrada fica realmente acentuada, contudo, a
paisagem é muito bonita. Paredões incríveis. Na parada durante o almoço, um
senhor comentou sobre a subida de 6 km que enfrentaria adiante. Neste trecho a
velocidade diminui bastante por que o vento insiste em não ajudar. A estrada
serpenteia os montes quando ouço um estalo. Mais um raio quebrado.
Montanhas
Montanhas
Montanhas
Montanhas
Montanhas
Registrar o momento é fundamental.
Logo a subida de 6 km iria começar.
Vento contra, cruel.
Com a peça danificada, as
indagações se repetem, será possível seguir ou outros raios iriam ter o mesmo
destino? A única forma de saber era continuar e torcer para não quebrar mais
nada. Estranho ter acontecido isso, o peso diminuiu muito, sobretudo, no
alforje traseiro. Enfim, lamentar não iria adiantar nada. Sigo e logo a subida termina.
Agora, um longo trecho plano prevalece e aumento o ritmo na companhia das
montanhas ao redor.
Santuário cravado na montanha.
Na rodovia converso com alguns
caminhoneiros que estão parados, arrumando seus veículos. Aliás, a vida deles
não é fácil, não é a primeira vez que vejo a mesma situação complicada. Em todo
caso, me informam sobre a existência de um povoado a 25 km. Taperas, é onde
decido terminar o dia por hoje.
Na entrada para a referida comunidade,
uma fazenda. Já começa a escurecer quando vou pedir permissão para acampar. E
lá vou eu explicar quem sou e o que preciso. A recepção é feita por dois
meninos que logo chamam sua mãe, ela não hesita em concordar com a minha
presença. Maravilha! Consigo um local para montar a barraca. O lugar me parece muito seguro e fico
tranquilo por isso.
Antes de montar acampamento,
converso muito com o pessoal, principalmente os garotos que me fazem várias
perguntas sobre a viagem. O legal foi a aula de espanhol que acabei por
receber. Anoto todas as palavras e frases que ainda não sei. Sinto que é desse
jeito, com muita observação, anotação, determinação e prática, que vou
aperfeiçoar o idioma.
Enquanto preparo a janta, o
menino de seis anos me pergunta se gosto de laranja, com a resposta positiva,
ele sai, volta em seguida e deixa algumas na minha barraca. Ações simples tem
um valor inestimável na minha concepção. Agradeço pelas frutas e desejo boa
noite ao pessoal.
O dia foi finalizado com 94 km em
5h58m e velocidade média de 15,88 km/h.
27/07/2012 - 19° dia - Taperas a
El Tinto.
A noite na fazenda não foi das
melhores. O local era realmente seguro, no entanto, a mãe natureza estava agitada.
Ventou durante a madrugada inteira, mas ventou muito mesmo. Se não estivesse no
interior da barraca, certamente ela teria sido levada pelos ares. Acordo várias
vezes pela noite. A ameaça de chuva também era visível, no entanto, começou a
chover apenas por volta das 5h30. Ligeiramente desmonto acampamento e coloco
minhas coisas debaixo de uma área protegida pelo telhado da casa da família.
Acho que fiz isso em tempo recorde.
Se não fosse a condição climática
teria uma excelente noite. Mas nem tudo é conforme nós queremos. Assim que
arrumo toda a bagagem, os meninos aparecem, em poucos minutos eles vão para
escola e eu à estrada. Faço um registro do Gustavo e seu irmão mais novo.
Despeço-me deles e posteriormente de sua mãe e vou novamente para a Ruta 4.
Los niños.
Incrível. O vento que não parou
um segundo durante a madrugada, agora sossega. A chuva dura poucos minutos e
quando saio da fazenda não cai mais água, melhor assim. Estava a praticamente
50 km da cidade de San José. A maioria das placas no caminho orientava a
distância que faltava para chegar neste local, tudo levava a crer que se
tratava de um município mediano a grande. Agora, em poucas horas iria conhecer
com meus próprios olhos.
Durante o trajeto para San José,
mais animais pela rodovia, aqui os jumentos são comuns. Ontem, infelizmente,
notei que vários estavam mortos à margem da estrada. As montanhas continuam a
me cercar enquanto pedalo e penso sobre a possibilidade de entrar na cidade e
procurar uma bicicletaria para trocar o raio quebrado. Assim também conheceria
a famosa igreja construída pelos jesuítas no século XVIII. Em Limoncito havia
uma pintura dela no restaurante.
Jumentos são comuns na região.
Da série: Coisas que a gente encontra pelo caminho.
Montanhas.
Montanhas
Finalmente a primeira entrada de
San José aparece, uma placa indicava que seu patrimônio mundial estava a 5 km. Achei
o local longe e ao ver poucas casas no horizonte, pensei que não era a entrada
principal da cidade e sigo. Passo pelo segundo acesso e vejo que realmente
aquelas casas formavam o município. Mas agora já estou muito longe, continuo em
frente.
Primeira entrada de São José.
Terceiro acesso à San José, pouco
antes uma placa indicava a presença de um restaurante. Ainda eram onze horas da
manhã, mas nestes lugares onde apenas existem pequenos povoados, é bom não
pensar muito antes de parar. Chego a um posto de combustível e sou informado
que o restaurante é apenas no centro de San José. Maravilha. Tenho que seguir
por esta terceira entrada, ou seja, volto praticamente todo o trecho que fiz
desde o primeiro acesso. Paciência, às vezes, temos que retornar para poder
seguir, assim é a vida.
Existia o lado bom disso tudo,
iria almoçar e conhecer a famosa igreja dos jesuítas e que não fora destruída
após a expulsão dos mesmos. Não tenho uma boa imagem do restaurante que me indicam,
não me pareceu muito higiênico. Sigo mais para a área central em busca de
outras indicações. Neste trajeto, a simplicidade da cidade é estampada em suas
ruas, ainda de terra, e casas modestas. O esgoto corre a céu aberto em alguns
pontos, uma triste realidade. Isso não significa que as pessoas fazem suas
necessidades fisiológicas nas ruas.
Falta de saneamento básico.
Finalmente encontro um
restaurante com boa aparência, o menu é o mesmo, almuerzo completo. Sopa de
entrada e o segundo prato acompanhado de arroz, bife e uma modesta salada. O
preço é o praticamente o mesmo dos dias anteriores, 16 bolivianos. No local, me
informo sobre a igreja, inclusive, vejo uma imagem da mesma. Não fica muito
perto de onde estou, mas resolvo conhece-la.
Em direção à igreja, percorro
ruas que continuam a expor a falta de saneamento básico na cidade. Outra
constatação é o movimento intenso das pessoas pelas vias. A circulação quando
não é feita à pé, é de moto taxi, aqui eles são muitos. Pelo tamanho do
município não é possível acreditar, moto-taxistas andam por todos os lugares em
busca de clientes. Acho que a corrida deve ser muito barata. E na Bolívia
poucos motociclistas andam com capacete, acredito não ser obrigatório.
Com as informações consigo chegar
à igreja. Uma bela construção histórica, legado das missões jesuíticas pela
Bolívia. Como está na hora do almoço, apenas duas horas mais tarde a mesma
estaria aberta para visitações. Quem me passa o horário é um senhor que se
aproxima enquanto faço um registro fotográfico, inclusive, ele se propõe a
tirar uma foto minha com a igreja e a praça ao fundo.
Iglesia en San Jose.
Plaza en San Jose
Iglesia en San Jose.
Iglesia en San Jose.
Iglesia en San Jose.
Iglesia en San Jose.
Aqui faço uma constatação dos
dias na Bolívia, o povo é sempre muito educado, em todos os lugares fui bem
recebido, seja nas cidades e povoados ou nos estabelecimentos. As crianças e
adultos me chamam de señor. Sinto-me um velho, mas sei que é um sinal de
respeito. Acho isso fantástico, por que muitas vezes quem não vive aqui tem uma
idéia errada dessas pessoas. E apesar da pobreza econômica, outras riquezas se
fazem presentes. E estas, são mais importantes do que qualquer dinheiro.
Outra observação. Na frente da
igreja existe uma praça, muito bonita, diga-se de passagem. Essa é uma área
turística e como tal, muito bem conservada para turista ver. A limpeza da praça
e seus arredores é impecável. Aliás, aqui as ruas circundam a praça são de
paralelepípedos. Hotéis, um pequeno comércio e informações turísticas se fazem
presente. Não se parece nada com a realidade das outras ruas de San José. Acho
que preservar o passado é fundamental, mas é essencial não esquecer o presente.
A cidade ainda tem outro ponto
turístico, as ruinas de Santa Cruz la Vieja, fica a dois quilômetros da igreja,
resolvo conhecer. Mas foi uma decepção. Imaginava ver algo parecido com as
ruinas de São Miguel das Missões no Rio Grande do Sul. Contudo, pedalei um
monte e o máximo que vi foi uma pequena área onde restava o alicerce de alguma
construção. Sem pessoas para me informar melhor, volto para o centro e depois
para a rodovia. Faço algumas reflexões sobre tudo o que acabo de ver.
Em direção às ruinas de Santa Cruz la Vieja
Na estrada sigo o máximo para
chegar até o início da nova rodovia que substitui a subida de 40 km de rípio.
Algumas pessoas me disseram que haveria mais 40, 60 km após San José para se
chegar à área em construção. O ritmo é bom, consigo pedalar bastante e a
velocidade média aumenta. A pretensão era chegar ainda com claridade na estrada
nova. E aproximadamente 50 km depois de San José, após o povoado de Quimome,
eis o desvio.
Da série: Nomes diferentes.
Tem um canto muito bonito.
O acesso à nova rodovia está
bloqueado para os veículos, com exceção àqueles que trabalham na finalização da
obra. Mas, como muitos me informaram pelo caminho, o pessoal também permitia o
acesso para bicicletas. Assim, pedalei poucos metros na estrada de rípio
(horrível) e fui em direção aos funcionários que cuidam da entrada para a
novíssima estrada. Minha passagem foi liberada.
Agora eu tinha à disposição, uma
pista inteira só pra mim. Quer dizer, alguns caminhões da construtora trafegam,
mas estes são poucos. Era de meu conhecimento que essa rodovia nova tinha uma
extensão de 27 km pavimentados e outros 11 km por serem finalizados. No
entanto, os funcionários que permitiram meu acesso, disseram que estava tudo
asfaltado. Desconfiei.
O sol se põe enquanto pedalo
solitário pela rodovia novinha, acho que é a primeira onde não vejo caco de
vidro pelo caminho. Sigo e logo escurece, no começo sem nenhum problema. O
problema é quando a pavimentação termina. Surgem vários obstáculos e tudo se
transforma em um verdadeiro cenário de guerra. O asfalto cede lugar a muita
lama, buraco, máquinas atravessadas em trechos onde alguma etapa fora terminada.
Embora estivesse de noite, homens
e máquinas trabalhavam e muito. Em determinados trechos sou forçado a parar e
ceder passagem. Inclusive, foi em um destes momentos, onde não conseguia ver
para onde deveria seguir, que homens desesperados me indicam o caminho para não
ser atropelado por uma máquina. Como não poderia ser diferente, essas pessoas
ficam curiosas em saber mais sobre a viagem. Um homem chegou a indagar se eu
era francês. Não, sou brasileiro, hermano.
Sigo, com muita calma, os sete
quilômetros que ainda restavam. Ainda que não considere essa expedição uma
guerra, em algumas situações, tenho que enfrentar verdadeiras batalhas, uma
atrás da outra. E essa era uma difícil. O farol da minha bicicleta estava com a
pilha fraca e já não conseguia iluminar onde eu passava. A lua, mesmo presente,
não me ajudava muito.
Mais buracos, lama, máquinas,
desníveis e áreas alagadas continuam a exigir o máximo da minha parte física e
psicológica. A Victoria também trabalhava bastante, coitada. Esperava que
aguentasse e não me deixasse na mão. Com os buracos, pensei que pudesse cair
alguma coisa do bagageiro traseiro, onde meu extensor prendia garrafas, chinelo
e outras coisas. Mas, chegou um momento que eu procurava nem pensar e muito
menos parar e olhar se algo ficara pelo caminho. Se tivesse acontecido algo,
meu psicológico iria se abater e naquele momento eu precisava seguir firme e
forte.
Meu único referencial nesta
situação toda, era a luz vermelha de uma antena que felizmente ficava próxima a
cada metro pedalado. Bom, pelo menos, eu achava que aquela luz pertencesse ao
povoado de El Tinto, certeza mesmo não tinha nenhuma. Os dois quilômetros
finais foram os piores. Montes de terra pelo caminho, que era cheio de trilhos
profundos deixados pelos caminhões. Buracos ainda maiores exigiam o máximo da
minha visão noturna, que consegue enxergar o piscar de luzes logo à frente, era
a outra barreira para entrar na estrada. Estava ao final de mais uma batalha.
Foi com cara de sobrevivente que
cheguei ao povoado El Tinto, onde parei em um restaurante misturado com bar e
expliquei minha situação. Não estava a pedir comida e sim um local para acampar
após um longo dia de pedal. O som alto não incomodava, queria apenas descansar
um pouco. Um casal, dono do lugar, pediu para que me sentasse um pouco que
iriam ver onde eu poderia ficar. Enquanto encosto a bicicleta, vejo algumas
pessoas degustarem o jantar, fixo os olhos para identificar a comida. Acredito
que neste momento meu olhar era de um soldado faminto, mas também de
desconfiança, tudo graças ao boi carneado à venda, que era estampado na entrada
do estabelecimento.
Assim que encosto a bicicleta vou
ao interior do lugar e sento numa cadeira separada para mim. Descanso e não
demora muito para a dona do lugar aparecer com um prato de comida. Espantado,
pergunto quanto é, ela responde que não é nada. Bastante arroz, batata frita e
um pedaço generoso de frango frito. Muitas pessoas se alimentavam no local e a
comida me pareceu boa, então não hesitei em devorar tudo em pouco tempo. Depois
a mulher ainda me traz uma bebida enlatada, segundo ela, para dar mais energia.
Era um tipo de energético, tive o cuidado de ver se era sem álcool e assim,
tomei. Não era muito gostoso, mas valeu.
Esfria e volto à bicicleta para
pegar uma blusa, lá fora converso com o pessoal que me passa maiores
informações sobre a região. A rodovia deve terminar em 6 meses, após 2 anos e
meio de construção. Deve ser um alivio e tanto para os caminhoneiros. O João,
lá na fronteira me falou como era complicado subir 40 km em cinco horas.
De longe vejo que o casal
conversa sobre a minha estadia. Na verdade, procuram a chave da casa de um
filho que no momento está em viagem à Santa Cruz de la Sierra. Sem a chave eles
não sabem o que fazer. Não queriam me deixar no estabelecimento em razão do som
alto e a hora indeterminada para fechar.
Damian, o proprietário, pede para
que eu o acompanhe. Vou ao interior do povoado, que, sem iluminação pública,
parece ainda mais sombrio e a temperatura começa a diminuir. Caminhamos pelas
ruas escuras quando chego a uma casinha de barro, muito simples. Ele pensa em
cortar o cadeado da porta. Explico que não é preciso, monto acampamento na
área, o espaço era suficiente. Ele concorda.
Mas existia algo errado naquela
história. Quando chegamos na casa, ele chama por alguém. Se o filho dele está
em viagem, quem estaria a chamar? Quando nos despedimos, ele avisa; se aparecer
alguém fala que foi Damian Flores que deixou você ficar aqui. Mas quem poderia
aparecer? Ainda me diz que é ele quem aluga a casa. Aí eu já não entendia mais
nada. Então, sozinho e naquela escuridão, uso os últimos feixes de luz do meu
farol para montar acampamento.
Quando finalmente estou preparado
para dormir, ouço passos. Já é quase meia noite e aquele lugar parecia morto.
Então quem estaria na casa? Resolvo verificar tempo depois e não vejo ninguém.
Não demora e ouço barulho oriundo da residência. Misericórdia. Já não queria
entender mais nada mesmo. Procurei ficar bem quieto e finalmente dormir. Aliás,
não inflei o colchão para não fazer barulho. Finalmente, descanso.
Finalizo o dia com 156 km em 9h
58m e velocidade média de 15,69 km/h
28/07/2012 - 20° dia - El Tinto a
El Pailon.
A noite não foi das melhores.
Acordo algumas vezes durante a madrugada, cada barulho era motivo para ficar em
alerta. Às seis horas já desmontava acampamento, procurava guardar tudo com
muito silêncio, afinal, alguém poderia estar no interior da casa e não gostaria
de incomoda-lo.
Acampamento em El Tinto.
Arrumo as últimas coisas no
alforje quando a janela da casa se abre. Não era assombração, realmente ouvi
passos na noite anterior. Falo bom dia e ninguém responde. Não consigo
identificar a pessoa e novamente lhe dirijo a palavra, desta vez um homem fala
bom dia. Minutos depois um senhor aparece na área e claramente está espantado
com a minha presença. Rapidamente explico quem sou e como cheguei até o local.
Damian não havia lhe avisado. Que perigo! Ainda bem que o senhor resolveu não
fazer nada quando viu a barraca em seu quintal horas atrás.
A casa onde montei acampamento.
Povoado El Tinto
Apesar dos pesares, vou animado
para a estrada. Iniciava-se mais um dia bonito. E eu precisava de todos os
fatores a meu favor. A pretensão era chegar a Pailon, cerca de 55 km antes de
Santa Cruz de la Sierra. Poderia tentar vencer a distância entre estas duas
cidades, mas a chegada em Santa Cruz no domingo era estratégica, um dia mais
tranquilo. Portanto, rumo à Pailon.
Logo na saída de El Tinto a
primeira mudança. Agora a pavimentação de concreto cede lugar ao asfalto que
estamos acostumados no Brasil. O acostamento não é dos melhores e o tráfego nas
primeiras horas é tranquilo. A segunda observação a ser constatada é em relação
à paisagem. Uma fauna mais rica, sobretudo, em relação aos pássaros, que se fazem
presente nas árvores e áreas alagadas nas margens da Ruta 4.
O terreno plano continua e com
uma velocidade superior aos dias anteriores, pedalo e observo as primeiras
plantações de girassol durante a viagem. Essas belas plantas são valorizadas em
razão de suas sementes oleaginosas e aqui em solo boliviano, sua cultura é
perceptível por vários e vários quilômetros.
Plantação de girassol
Paro em um estabelecimento para
comprar água e bolachas. Na estrada, próximo do meio dia, o vento começa, e
claro, ele não é a meu favor. Então em Pozo del Tigre, um pequeno povoado, faço
uma pausa com pouco mais de 50 km pedalados e vou almoçar. Novamente, chego
cedo e ninguém no local, que por sua vez, é bem agradável. A comida é a mesma
dos outros dias. O valor também.
E as legais?
No período da tarde o vento
aumenta e foi complicado pedalar. Sol a pino e a velocidade reduz
drasticamente. Como estava difícil seguir naquela situação, chegou um momento
que paro debaixo de uma árvore para descansar, tenho feito muito pouco isso
desde o começo da viagem. Aproveito a sombra para descascar uma laranja e ver
se consigo uma energia extra para enfrentar o vento. Não fico mais do que
quinze minutos no local e resolvo encarar esse obstáculo. Pailon estava muito
distante.
Desmatamento descarado.
Ainda tem chão pela frente.
Durante o caminho encontro um
povo (infelizmente não recordo o nome) ao qual me falaram lá fronteira
Brasil/Bolívia, eles tem várias características próprias, a começar pela
aparência e sua cultura. Disseram-me que não se misturam, casamentos são
possíveis apenas entre membros da comunidade. Tem como costume andarem em
charretes e há pouco tempo que começaram a utilizarem máquinas agrícolas. Suas
terras extensas ficaram em meu campo de visão por muitos quilômetros.
Particularidades de uma comunidade.
Particularidades de uma comunidade.
Da série: O que a gente encontra pelo caminho.
Mudança. Foi apenas a partir do
105° quilômetro do dia que consigo empregar um novo ritmo. E não foi porque o
vento resolveu parar, pelo contrário, continuou a querer me enfrentar,
literalmente, de frente. Mas o que apareceu, de forma inesperada, foi a estrada
de concreto. Que alegria foi pedalar por este tipo de pavimento. O acostamento
estava tomado pelo mato, assim, vou com segurança sobre a faixa. Momento de
reflexão.
Com aumento do meu ritmo fico a
pensar sobre a vida e nos momentos difíceis e do que precisamos para
supera-los. Às vezes o que necessitamos é apenas de um simples motivo para
seguir em frente. E para isso é preciso ter o coração, mente e olhos bem abertos
para perceber quando esta oportunidade aparecer e então reverter a situação. No
meu caso, utilizei a simples mudança de pavimento para juntar forças de onde há
poucos minutos não se imaginava ter.
Após 25 km de pavimento bom e
ritmo acelerado, surge uma surpresa. Um caminhão, parado no outro lado da
rodovia, buzina três vezes, mas ignoro por pensar que não fosse um alerta direcionado
a mim, no entanto, o veículo me segue e novamente buzina. Agora observo a
placa, era brasileira. Na hora lembrei-me do caminhoneiro João, que encontrei
na fronteira, assim que entrei na Bolívia. Ele havia levado uma carga para
Santa Cruz e agora retornava ao Brasil e quando me viu, resolveu parar.
Conversamos e recebi mais algumas informações sobre o restante do caminho para
Pailon e despeço-me deste camarada das estradas.
João, gente fina.
Nos últimos seis quilômetros
antes de chegar no destino do dia, a estrada que, de modo geral, está
excelente, fica muito ruim; sem sinalização e acostamento. O movimento aumenta
consideravelmente. No escuro sigo com cautela até chegar à Pailon, paro num
posto de combustível e três caminhoneiros bolivianos que me viram em San José
conversam comigo e passam instruções de como encontrar um hotel. Eu realmente
precisava tomar banho após dois dias e finalmente, dormir tranquilo.
Sem muita dificuldade encontro o
Alojamiento San Jorge, o melhor lugar que fiquei até agora. Diária de 22 reais,
no entanto, sem café da manhã. Aproveitei para atualizar o diário de bordo. Já
que o dia seguinte faltaria pouco mais de 50 km pra chegar à Santa Cruz, decido
que amanhã vou sair apenas após o término da diária, ou seja, meio dia. Assim,
ainda almoço em algum restaurante aqui.
Dia finalizado com 141 km em
8h55m e velocidade média de 15,87 km/h
29/07/2012 - 21° dia - El Pailon
a Santa Cruz de la Sierra.
Depois de uma boa noite de sono,
acordo cedo e escrevo mais no diário de bordo, tem sido bem interessante viajar
pela segunda vez, agora, pelas palavras. Fico horas a escrever e quase meio dia
termino de arrumar minhas coisas e vou procurar um restaurante. Encontro um
lugar cheio, o menu é diferente, churrasco. Nove reais, muita carne com arroz,
salada e mandioca. Gostei.
A condição da estrada é a mesma
dos quilômetros finais do dia anterior. Mas agora o tráfego é ainda maior, não
por menos, ainda que no domingo, afinal, Santa Cruz de la Sierra é a segunda
maior cidade da Bolívia. Quanto mais me aproximo do município que fica na
região conhecida como Vale Central, o movimento aumenta e o tempo fechado dá
indícios que a chuva iria me dar boas vindas à cidade.
Estrada péssima de Pailon à Santa Cruz.
Um rio enorme, quase sem água.
Apenas 1/4 de água no rio.
In foco.
Distâncias
Feirinha à beira da estrada
O trânsito não chega a ser
caótico, apenas o ritmo é mais frenético, mas nada assustador. A chuva começa e
apenas coloco a capa na bolsa de guidão e sigo debaixo de água e entre os
veículos. Em pouco tempo já estou no trevo de acesso ao centro, encontro este
após algumas perguntas e busco por alguns hotéis que foram recomendados pelo
guia de viagem (livro) que me auxiliou no planejamento da viagem.
Chegada à Santa Cruz de la Sierra.
Resolvo ficar no Hotel Sarah, a
diária não é barata, 30 reais, no entanto, tem café da manhã, banheiro privado
com água quente, tv a cabo (consigo ver um pouco sobre as Olimpíadas e algumas
noticias do Brasil pela Record e Globo Internacional.) e ainda wi-fi na
recepção. Minhas economias dos dias anteriores ficaram aqui.
Amanhã devo fazer as postagens e
também procurar uma bicicletaria para trocar o raio quebrado. A Victoria, mais
uma vez, não me deixou na mão. Mas agora ela necessita de reparos para encarar
a cordilheira dos Andes. Eu também mereço descanso e fico aqui até meio dia de
terça-feira. Aproveitarei para conhecer a cidade.
Finalizo hoje com 57,75 km em
3h37m e velocidade média de 15,91 km/h
Abraço a todos.
30/07/2012 - 22° dia - Santa Cruz de la Sierra. (Folga)
Hoje, finalmente tive uma boa noite de sono. Pela manhã fui a uma lan house fazer upload das fotos. A internet aqui no hotel não é das mais rápidas e levaria duas semanas pra colocar todas as fotos no site. De tarde fui procurar uma bicicletaria e a única que encontrei estava fechada. E pelo jeito nem iria conseguir tirar a catraca para trocar o raio quebrado. Paciência. Torço para que a Victoria continue firme até encontrar alguém que consiga trocar a peça quebrada.
Também aproveitei o dia para mandar notícias. Liguei para meus pais, é bom deixa-los mais tranquilos.
Amanhã vou conhecer mais a cidade.
Hasta luego, hermanos.
31/07/2012 - 23° dia - Santa Cruz de la Sierra. (Folga)
Após o término da minha diária no hotel, fui atrás de um alojamento, cujo valor é 2/3 menor, no entanto, tem apenas o básico, uma cama e o banheiro é compartilhado. Acho que vou amanha ou depois para a estrada. Minha próxima parada para um descanso legal e conhecer o lugar será em Sucre, que está há centenas de quilômetros daqui. Portanto, vou aproveitar e recuperar as energias. Nas próximas postagens coloco as fotos aqui da cidade.
OBS: Recebi até o momento, três contribuições financeiras por depósito. Agradeço imensamente aqueles que ajudaram. Podem ter certeza, cada centavo é bem-vindo. A viagem é longa e o dinheiro é curto. Portanto, sintam-se à vontade para colaborar.
Quem acompanha o diário de bordo, sabe que não existe luxo, os gastos são com alimentação, internet (para atualizar o site), mecânica da bicicleta e às vezes com hospedagem.
Colabore:
http://www.cicloturismoselvagem.com.br/2012/06/doacoes.html
01/08/2012 - 24° dia - Santa Cruz de la Sierra. Folga
Ontem ao meio
dia acabou minha diária no Hotel Sarah. Aproveitei as últimas horas para lavar
algumas roupas e preparar um almoço no quarto. Depois arrumei as coisas e fui
procurar um alojamento, uma vez que resolvi ficar mais um dia aqui em Santa
Cruz na esperança de achar uma bicicletaria para poder trocar o raio quebrado.
Aqui na cidade, pesquisei o valor das diárias nos alojamentos, é possível encontra-las de 35 a 60 bolivianos, ou seja, de 11 a 18 reais. O preço é 2/3 mais baixo que a maioria dos hotéis. Claro, os serviços não são os mesmos. Nos alojamentos você vai encontrar um pequeno quarto com cama e mesa bem simples. O banheiro é compartilhado, logo, não espere nenhuma limpeza exemplar, contudo, também não se pode comparar a banheiro de rodoviária.
Pois bem, ontem após
minha saída do Hotel Sarah, fui ao Alojamiento 27 de mayo, próximo de onde eu
me encontrava. Mas, para minha surpresa a senhora que me atendeu no dia
anterior, disse que as hospedagens estavam canceladas porque ela iria viajar.
Não acreditei! E agora? Para minha sorte ela indica outro alojamento há uma
quadra e meia. Fui conferir. Aqui no Alojamiento 24 de septiembre na Calle
Santa Barbara a diária custa 40 bolivianos. Assim, pensei: tenho mais meio dia
para descansar, arrumar minhas coisas, conhecer a cidade e quem sabe achar uma
bicicletaria.
No período da
tarde de ontem fui atualizar o site. Levei algumas horas para isso. Por volta
das 18 horas fui caminhar pelo centro (região onde estou) com o mapa da cidade
em mãos, sigo em direção à Plaza 24 de Septiembre, a principal da cidade, ao
redor da mesma se encontram os principais prédios do governo, embaixadas, casas
de câmbio, a catedral, casa da cultura, teatro, bancos e como não poderia ser
diferente, muita gente.
Assembléia Legislativa
Catedral
Plaza 24 de Septiembre
Manifestaçao frente a catedral.
Protesto
Mobilização
Mobilização
Mobilização
Toda essa atmosfera de protesto me lembra dos dias em Santiago, no Chile, quando presos políticos também chamavam atenção da imprensa. Em todo caso, aqui foi tudo pacifico. Depois vou ao interior da catedral e posteriormente ao mirante da mesma, onde é possível ver o centro da cidade.
Santa Cruz vista do mirante da catedral.
Santa Cruz vista do mirante da catedral.
Tiro fotos dos arredores da praça e de repente me deparo com uma bicicleta de marca famosa. Pergunto ao jovem sentado ao lado se ele é o dono. Com sua resposta positiva, pergunto sobre a existência de uma bicicletaria. Para a minha sorte, ele diz conhecer uma e consegue identificar o local no mapa que carrego comigo. Ele não sabe com exatidão o nome da rua, mas, diz o nome da bicicletaria. Era tudo que precisava.
Assembléia
Plaza
Catedral à noite.
Localização
Plaza
Ando mais pouco pelas ruas e entro na Casa de la Cultura onde existe algumas exposições de arte e concertos. Em algumas horas teria a participação de um famoso músico de guitarra clássica. No entanto, apenas conferi as pinturas e voltei às ruas e encontrei uma feira de artesanato,local muito bacana. Na volta para o alojamento decido jantar num restaurante simples e somente depois vou descansar.
Teatro e Casa de la Cultura.
Casa de la Cultura.
Obra que gostaria de estampar na sala da minha casa.
Obra que gostaria de estampar na sala da minha casa.
Obra que gostaria de estampar na sala da minha casa.
Mais uma cadeira?
Essa é "a" cadeira.
Feira de artesanato
Feira de artesanato
Feira de artesanato
Feira de artesanato
Mercado Mutualista. Repare na exposição dos frangos.
Praça de alimentação.
Mercado Mutualista
Ruas de Santa Cruz de la Sierra.
Ônibus tipico da Bolívia.
Ônibus tipico da Bolívia.
Fica a dica: A
bicicletaria ou bicicleteria em/en Santa Cruz de la Sierra se chama Monaco e
fica no 3° Anillo interno com Buena Vista n° 2545, frente ao Mercado Mutualista
diagonal ao Banco Economico, telefone: 348 0903 celular: 736 56401 ou 721
74452. Site: ciclomutual.com ou bicicleteriamonaco.com.
Todas as
informações acima estão no cartão de visita da loja. Não me deram nenhum
desconto ou patrocínio para tal divulgação, apenas acho que pode servir de
auxílio, caso futuros ciclistas em viagem por Santa Cruz precisem de ajuda. Se
achar complicado e não tiver o mapa da cidade em mãos. Peça informação para
chegar ao Mercado Mutualista, lá com certeza alguém vai poder lhe indicar a
loja.
02/08/2012 - 25°
dia - Santa Cruz de la Sierra a Samaipata.
De volta à
estrada. Após três dias de descanso em Santa Cruz de la Sierra, a viagem
continua. Na noite anterior deixo tudo arrumado para poder sair bem cedo do
alojamento. E assim foi feito, às 06h50min de hoje estava em direção à saída
para La Guardia. Foi tranquilo achar o caminho, já tinha algumas informações e
o pessoal na rua acabou por complementa-las.
Quarto simples do alojamento.
A saída logo
cedo era uma estratégia para pegar menos trânsito possível em Santa Cruz, no
começo ocorreu conforme o previsto, contudo, foram 10 km de pedal no perímetro
urbano, logo, o movimento dos veículos aumentou consideravelmente, mas foi tudo
tranquilo.
Ainda em Santa
Cruz encontrei com um ciclista de speed que me acompanhou por alguns minutos.
Ele passou dicas sobre o percurso à frente e acabou por me assustar de certa
forma. Disse que eu chegaria à Samaipata apenas pelas 21 ou 22 horas. Eu estava
completamente ciente das dificuldades até este município, afinal, iria dos 370
metros de altitude de Santa Cruz até 1.644 metros de Samaipata. A distância
entre esses locais seria de 140 km, ou seja, ainda com subida, poderia ser
percorrida até o final da tarde. Mas agora, com as palavras que acabara de
ouvir, suspeito da minha chegada até o meu destino no dia.
Independente da
hora que chegariaem Samaipata a solução foi seguir em frente. O ciclista se
despede e vai concluir seu treino. Eu continuo na movimentada saída de Santa
Cruz, mas não demora muito e logo aparece uma placa que informa a divisa dos
municípios. No entanto, em La Guardia o fluxo de veículos continua e procuro
pedalar com atenção, não se pode confiar muito nestes motoristas.
Montanhas à vista.
Montanhas à vista.
Próximo de onde visualizei uma arara-canindé.
Com o vento a favor vou em um ritmo bom e consigo pedalar 40 km dessa forma, não sem antes passar por alguns povoados e pequenas cidades pelo caminho. Em um desses lugares faço uma pausa para comprar mexericas, elas são bem comuns pela região. Peço quatro e a senhora me vende seis por 2 bolivianos, pouco mais de 60 centavos de real. Elas tinham um tamanho e peso considerável, logo, o jeito foi achar uma sombra e degusta-las imediatamente. Não sobrou nenhuma, estavam extremamente doces. Enchi a barriga.
As montanhas no
horizonte agora estavam à minha frente. Um pedágio foi a porta de entrada para
aquele que seria o primeiro teste verdadeiro em relação às subidas. De Santa
Cruz até o pedágio de Angostura (vou usa-lo como referência) foram 60 km. Uma
placa no local indica que para Samaipata ainda restam 53 km, logo, seria menos
do que inicialmente havia previsto. Mas nunca é bom confiar cegamente em
determinadas informações.
Agora sim o relevo vai começar a mudar.
Pedágio de referência.
Passo sem pagar pelo pedágio e às 11 horas da manhã começa a saga pelas montanhas. A grandiosidade impressiona, no entanto, não me assusta e assim pedalo e registro suas belezas. A estrada não tem acostamento e isso não chega a ser um perigo, poucos veículos transitam pela mesma. Após o pedágio são mais 30 km alternados entre subidas e descidas moderadas. Contudo, já é possível notar que a altitude fica maior, pelo menos até começar a descer e depois subir de novo.
Mais próximo das montanhas.
Observe o tamanho dos paredoes.
Victoria.
O tamanho impressiona.
Área de desmoronamento.
Na beira do precipício.
Cemitério nas margens da estrada.
Entre esse sobe e desce inicial aparece um restaurante no povoado de Bermejo, 20 km após o pedágio, fico na dúvida se almoço ou sigo viagem para adiantar e não pedalar de noite na serra. A fome não era muita em razão das mexericas, então resolvi não fazer a refeição. Logo após essa decisão, começa a primeira forte subida do dia. Foram dez quilômetros de ascensão e o vento que muito ajudou, agora era mais um obstáculo. Mas, devagar se vai ao longe, diz o ditado. E assim superei essa distância. No final do primeiro desafio, uma paisagem sensacional do vale. Depois começa a descida alucinante de aproximadamente 4 a 5 km. Em uma curva fechada, pergunto para um senhor o quanto ainda falta para chegar à Samaipata. Ele responde que são exatos 20 km com subidas que não são piores do que estas que acabo de enfrentar. Fui conferir.
Na direção certa..
Cordilheira dos Andes. Impressionante!
Feliz em pedalar aqui..
Estrada ao fundo. Esse trecho já ficou pra trás, mais um.
Sossego meio aos Andes.
Dos 20 km finais, a primeira metade foi tranquila, depois começa a segunda subida nervosa do dia. E o vento parecia ainda mais enfurecido, foi tenso completar mais 10 km de aclives. Transpiro bastante pela primeira vez na expedição. Afinal, estamos no inverno. Neste último trecho fui obrigado a parar e comer meu segundo pacote de bolacha no dia, só assim para enganar a fome.
Cada vez mais alto.
Vitória. Mais uma subida vencida.
Obras da natureza.
In foco.
Sobre a Victoria. Ela aguentou muito bem as subidas, não quebrou nenhum raio, mas começou um barulho chato que sinaliza que isso pode acontecer. Tenho quase certeza que o problema seja os raios velhos que estavam na roda, eles são da época que morei em Florianópolis, na praia, ou seja, pegaram toda aquela maresia e consequentemente se desgastaram. Enfim, já nem ligo para o tal barulho. Se, por ventura, vier a quebrar outra peça, na hora de trocar, pedirei para colocar todos novos. Enquanto isso, avante.
Depois de muita
subida, finalmente chego à Samaipata às 17h:40m, uma cidade modesta, mais
parece um povoado do que propriamente um município. No entanto, tem suas
particularidades, conforme menciona a placa na entrada; Al pie de los Andes y
cabecera alta de la Amazonia. Outra informação, agora sobre a Ruta del Che. Paro
e tiro uma foto, em seguida um senhor se aproxima. É um chileno com seu jeito
hippie que masca alguma coisa, estou quase certo que era folha de coca, masachei
melhor não perguntar. Conversamos um pouco e quando indago sobre a localização
de uma hospedagem ele faz questão de me acompanhar até o Alojamiento “El
turista”.
Pouco antes de chegar em Samaipata.
Enfim, Samaipata.
Ruta del Che. Me aguarde.
No alojamento, o chileno conversa com a proprietária que depois vem falar comigo. Ela me mostra o quarto; cama de casal e banheiro sem chuveiro no quarto. Preço? 30 bolivianos, menos de dez reais. O mais barato até agora e olha que o lugar é bem arrumado. O banheiro com chuveiro (água quente) é compartilhado, mas estava limpo. Com isso, não hesito em ficar. Coloco a Victoria dentro do quarto e vou tomar um banho. Depois começo o preparo de uma excelente macarronada com atum. Uma delícia de janta.
Estou muito
feliz, gostaria de frisar isso. A viagem está maravilhosa, sem maiores
problemas. E quando surge algum obstáculo, logo é superado. Meu psicológico
está excelente, assim como a parte física. Acredito que por isso, tenho
aproveitado o máximo possível. A viagem é longa e não fico com pensamento para
que acabe logo, não. Quero desfrutar daquilo que está ao meu alcance pelo
caminho e assim, de giro em giro no pedal, avanço na realização deste meu
sonho.
O que a gente
leva da vida é a vida que se leva. Eu amo meu estilo de vida. Estou exatamente
onde gostaria.
Hoje foram
pedalados 124,17 km em 9h10m e velocidade média de 13,53 km/h.
-->
03/08/2012 - 26°
dia -Samaipata a Vallegrande
Cordilheira dos
Andes. Poderia atribuir uma infinidade de adjetivos para as famosas montanhas
da América do Sul. No entanto, uma designação eu acho totalmente plausível;
imponente. Não tem como ficar indiferente em um lugar como este. É simplesmente
sublime.
Às 07h45min já
estou na estrada. A quilometragem do dia não seria grande, contudo, o aclive do
dia anterior iria continuar, ou seja, mais subidas aguardavam para ver meu
semblante misturado de sentimentos. E foi logo na saída de Samaipata que as
montanhas começaram a mostrar porque são admiradas por uns e temidas por
outros. Cinco quilômetros de plena ascensão para iniciar bem o dia.
Algumas referências.
Muito bem recebido. Recomendo. Alojamiento "El Turista"
Distâncias.
Como é bom ter a oportunidade de estar novamente nos Andes. Tive a felicidade de encarar seu desafiador relevo na Argentina e Chile em 2008. Uma experiência inesquecível, na época cheguei à marca dos 4,900 metros de altitude. Foi uma emoção indescritível, mas que a memória não deixa esquecer. E agora, pedalo por sua extensão em território boliviano.
Impossível
pedalar sem reviver os momentos de anos anteriores, as subidas que parecem não
ter fim, olhar ao redor e ver montanhas para todos os lados, a respiração
ofegante, o ritmo mais lento, a dificuldade em manter a bicicleta em linha
reta, o coração mais acelerado, os músculos mais rígidos e, atento, observar
cada horizonte em sua plenitude. Pedalar na Cordilheira dos Andes é algo único
e magnifico.
Samaipata fica
para trás e os cinco quilômetros de subidas também. No topo, uma visão
majestosa do vale central, região boliviana que se estende até as proximidades
de Sucre, depois o Altiplano predomina. Aqui, no alto da montanha, é possível
visualizar as plantações através das diferentes cores em seu solo fértil, fator
este, que proporcionou a fixação de vários povoados.
Samaipata, agora cada vez mais distante.
Visão do vale.
Após registrar o visual, começo a descer em ritmo alucinante por mais de dez quilômetros. Algumas depressões na estrada e trechos sem asfalto impedem uma velocidade maior. Descer nunca é ruim, mas nos Andes isso pode não ser um bom sinal. Afinal, Vallegrande, meu destino no dia, está a 2.050 metros de altitude, logo, todo o alivio da descida seria transformado em um grande esforço físico para subir tudo depois.
Resultado dos desmoronamentos.
Depois da descida chego à Mairana, cidade que detém as plantações visualizadas no topo da montanha. O terreno destinado à agricultura está longe de parecer com o Brasil, seus hectares são modestos e várias culturas preenchem seus metros quadrados. O cultivo do milho parece ser uma boa opção para esta época do ano. No povoado, faço uma parada e compro água e bolacha. Metros antes, uma pequena feira nas margens da rodovia exibe uma colorida variedade de frutas, no entanto, não comprei. Reposto o estoque, sigo adiante.
Mairana em meio ao Vale Central da Bolívia.
Trajes e costumes tipícos no país.
Os quilômetros passam e agora a estrada é através do vale, ou seja, terreno plano e ótimo para pedalar, consigo compensar a velocidade média baixa da subida e mantenho um ritmo satisfatório. Observo as plantações pela extensão do vale e em Hierba Buena, faço o que deveria ter feito em Mairana, compro frutas, na verdade meu plano é o mesmo de ontem, encher a barriga com mexerica e não almoçar.
Plantações.
Aquele que proporciona a fertilidade da região.
Cada nome que a gente encontra pelo caminho.
Na barraca à beira da estrada converso com a mulher que me explica sobre o que mais é produzido na região. Além do milho, a mandioca, tomate e batatas são cultivados. De volta à estrada não vou muito longe e resolvo parar e degustar as doces mexericas. Estou bem tranquilo quando surge após a curva, uma bicicleta carregada, não tinha dúvidas, era um cicloturista.
Na verdade era
uma cicloturista, acenei e ela atravessou a rodovia. É uma portuguesa que vive
no Alasca e realiza uma viagem por toda América, começou em Ushuaia e tem como
destino, a volta pra casa. Está desde dezembro do ano passado na estrada. Viaja
sozinha, um exemplo para ser seguido, já que várias mulheres colocam um trilhão
de obstáculos para não praticarem cicloturismo.
Portuguesa: Viaja sozinha pelas Américas.
Conversamos bastante, afinal, foi a primeira pessoa que encontro na estrada que também viaja de bicicleta. E pelo seu relato, também não encontrou muitos cicloturistas pelo caminho, um na Carretera Austral e outro em Potosí. Ela segue para Santa Cruz de la Sierra, assim, passo algumas informações do trecho. A bicicleta dela é uma Trek bem antiga, a mesma com a qual realizou sua última cicloviagem, dezoito anos atrás. Ela carrega nada mais do que sessenta quilos de carga, é brincadeira?
Durante nossa
conversa menciono sobre o Bruno, nosso amigo de Curitiba que está na estrada em
direção ao Alasca e tem um prazo de 3 a 4 meses para concluir o desafio. Quando
repito o tempo de viagem, ela parece não acreditar. Esses membros DAP fazem
coisas impensáveis, melhor não subestimá-los, penso eu. A portuguesa tem mais
dois anos de viagem para completar seu roteiro, por isso o espanto com relação
ao tempo do Bruno.
Esse encontro
com a portuguesa – de nome estranho que não sei como escrever – foi
interessante e inusitado, não falávamos em português e isso foi divertido,
esforçávamos para nos comunicar em espanhol. É bom, aperfeiçoamos aos poucos o
idioma local. Nos despedimos e ela seguiu para Santa Cruz onde seu marido iria
encontra-la. Eu continuei em direção à Mataral, local em que iria pegar um
acesso para Vallegrande.
Paisagens
Desmoronamento.
Produções pelo vale.
Até Mataral a portuguesa me falou que continuava plano e realmente foi assim. Na saída da cidade resolvo parar num restaurante e verificar se ainda há comida, são quase duas horas da tarde. No local, já vazio, uma senhora na cozinha diz que tem apenas frango, aceito sem pensar duas vezes, estava com fome. Preço, 10 bolivianos, ou seja, pouco mais de 3 reais. O mais barato de toda a viagem. Tá certo que não tinha a sopa de entrada, no entanto, tinha arroz, batata frita e feijão, este último esteve presente em apenas uma refeição desde que sai do Brasil. Portanto, pelo preço, o cardápio estava de bom tamanho.
Mataral. Direto se vai à La Paz. Peguei o caminho para Vallegrande.
Antes de voltar à estrada, aplico o protetor solar, o clima não é de inverno, está bem quente e o sol queima para valer. De Samaipata até Mataral foram 70 km, ou seja, restavam mais 50 para Vallegrande. E agora, segundo informações, as subidas iriam aparecer. Lembra que a altitude passaria dos 2 mil metros? Eu não me esqueci desse detalhe e pensei nas reais chances de chegar ao destino ainda hoje, já que parei para conversar com a portuguesa e também no restaurante. Em todo caso, fui embora.
A Ruta 22 foi
construída recentemente e está em ótimo estado, inclusive, com acostamento.
Todavia, o trânsito é bem tranquilo e poucos veículos transitam pela rodovia.
No trajeto entendo o porquê a região é considerada semi-arida, parece não
chover há muito tempo e os cactos na paisagem completam o cenário.
Ruta 22
Não demora muito, algo em torno de dez quilômetros, e aparece uma placa que indica subida à frente, como é a primeira vez que vejo uma placa assim pela região, imagino que realmente a coisa iria ficar complicada. O resultado foi a segunda subida forte do dia, essa ainda mais íngreme e com mais de oito quilômetros, difícil demais. Foi para não esquecer que estou nos Andes. Faço um registro fotográfico no topo para que vocês tenham idéia do que é essa cordilheira. Na descida de apenas três quilômetros, um recorde de velocidade nesta viagem; 65,71 km/h. Poderia ter atingido números maiores, mas as curvas fechadas não permitiram.
Agora a inclinação vai ficar pior.
Paisagem dos Andes no alto de mais uma montanha pedalada.
Na sequencia um sobe e desce que passa por alguns povoados, entre eles, uma cena inesperada. Na direção contrária, um jumento morto no meio da pista. Por estar ainda no asfalto, concluo que o acidente tinha sido recente. Fico com a maior pena quando outros jumentos se aproximam do animal estendido. Conforme me aproximo, a surpresa. O jumento ergue a cabeça. Sim, o bicho dormia no meio da pista, na maior tranquilidade. Não acreditava no que enxergava, até parecia brincadeira. Tentei espanta-lo, mas ele nem deu moral. Paciência.
A caminho de Vallegrande.
Momento surpresa.
Na maior tranquilidade.
Após Tucumancillo, surge a terceira subida forte do dia, outra vez cruel. Quase oito quilômetros somente de aclive. De novo, não foi fácil. E dessa vez por um fator em especial; a escuridão. A noite chegou e a pilha do meu farol estava bem fraca. Pedalar à beira de precipícios no escuro não estava nos meus planos, mas imprevistos aparecem. A solução foi seguir quase em cima da faixa branca lateral, conseguia visualiza-la e com o pouco movimento na rodovia o veiculo que viesse atrás teria espaço suficiente para me ultrapassar. A lanterna traseira estava perfeita.
Sigo cansado,
mas não exausto. E Vallegrande parece não chegar nunca, pelo contrário, quem
aparece são elas, as subidas. Depois da terceira subida forte, começa a
montanha russa. Para a minha felicidade ao fundo vejo as luzes da cidade, mas,
quinhentas curvas se deram ao luxo de aparecer e deixarem o caminho ainda mais
distante. Quando estou quase na entrada da cidade,cinco cachorros com sangue
nos olhos de tanta raiva vêm em minha direção. Eles só não contavam que eu
estava com vontade de chegar logo. Assim, parei, os encarei, mandei saírem (em
espanhol), ameacei jogar água e só então, continuei. Vale lembrar que raramente
faço isso. Geralmente apenas ignoro, mas agora eram muitos e bem raivosos.
Finalmente em
Vallegrande. São oito horas da noite quando o asfalto acaba e uma rua cheia de
predas está no caminho. Que recepção, penso. Peço informação sobre o centro da
cidade e um possível alojamento. Indicaram-me o caminho da praça e igreja.
Durante o trajeto, vejo uma pequena mercearia aberta. Compro mais água e alguns
pães, estava morto de fome. O pessoal do estabelecimento puxa conversa comigo e
acabam por indicar um alojamento que fica na praça, seria o mais econômico.
Vou em direção
ao local indicado e quando chego, a notícia; está lotado. Com a cara de cansado
e faminto, explico que preciso apenas passar a noite. A mulher que me atende
então diz que tem um quarto disponível para minha necessidade. Maravilha! Ela
mostra o local e sem pensar duas vezes, resolvo ficar. Embora o letreiro
estampe o nome: Hotel Pinto, na verdade se trata de um alojamiento, ou seja, o
banheiro é compartilhado. Entretanto, novamente não tenho problema com isso e
tomo um bom banho. Depois vou fazer a janta e finalmente descansar. A noite foi
fria, nada anormal para a altitude acima dos 2 mil metros. Mas os cobertores
disponíveis foram suficientes para me manter aquecido. O preço da hospedagem:
9,50 reais.
Assim, finalizo
o dia com 125,65 km em 9h20m e velocidade média de 13,45 km/h.
04/08/2012 - 27°
dia - Vallegrande a Pucara
O dia começou
com uma incerteza, a distância entre Vallegrande e La Higuera, esta última
seria meu destino. Para todas as pessoas a quem perguntava, a quilometragem
variava e muito. Chegaram a me falar de 30 a 100 km, no entanto, eram unânimes
em dizer que o caminho era apenas de subida. A distância mais mencionada era de
40 a 60 km, ou seja, ainda com aclives seria possível percorre-la até o final
da tarde, isso com a minha saída logo pela manhã.
Levanto cedo,
arrumo as coisas e vou tirar algumas fotos da praça e da igreja. A cidade do
século XVII é bem simples e pequena, construções antigas circundam a área
central. Vallegrande ficou conhecido, entre outras coisas, pelo episódio do
assassinato de Che Guevara. Após ser morto em La Higuera, trouxeram seu corpo
para o hospital aqui do município. Passei em frente ao mesmo quando fui em
direção à La Higuera. Claro, registrei o momento.
Hotel
Plaza
Plaza
Plaza
Homenagem
Homenagem
Escudo representa bem a região.
Natureza é vida. Sem dúvida.
Iglesia.
Casarões antigos.
Pelas ruas de Vallegrande.
Andale, Andale.
Pelas ruas de Vallegrande.
Hospital para onde Che Guevara foi levado após ser executado.
Passava das 8 horas da manhã quando o asfalto do centro de Vallegrande logo cede espaço para uma horrível estrada de terra com buracos e pedras para todos os lados, poeira pura. E assim foi até Guadalupe, uma distância de cinco quilômetros, percorrida em uma velocidade de 6 a 8 km/h, apesar de o trajeto ser plano. O problema é que fica impossível avançar rapidamente em razão dos buracos. Não posso esquecer que levo mais de quarenta quilos de carga e movimentos mais bruscos podem danificar os bagageiros, o que seria um atraso ainda maior para a sequência da viagem.
Estrada de terra. Velocidade de 6 a 8 km/h.
Em Guadalupe, uma placa finalmente indica a distância para La Higuera, 62 km. Confesso que fiquei surpreso, esperava uma quilometragem menor. No pequeno povoado as pessoas me relatam que a estrada continua ruim e fica ainda pior em determinados trechos, estes de plena subida até La Higuera. Sem lamentação, continuo no ritmo lento pela Ruta del Che, como é conhecido esse caminho.
Ruta del Che. La Higueira, ai vou eu.
In foco.
Povoado de Guadalupe.
Cinco quilômetros após Guadalupe começa a subida de verdade. Para chegar a este local, levei quase 01h30m, logo, começo a fazer cálculos para ter uma idéia sobre que horas chegaria à La Higuera. Pelas minhas contas, somente no final da tarde estaria no destino do dia.
Começa a ficar alto.
Estrada que fica para trás. Eu, sigo adiante.
A subida é extremamente íngreme. Faço uma força descomunal nas pernas e também nos braços, não é fácil manter a direção da bicicleta em um terreno repleto de pedras soltas. Guadalupe fica para trás e agora montanhas são vistas por todos os lados, a cordilheira em sua plenitude no horizonte. O tempo nublado ajuda para que o desgaste físico não seja maior. Com o passar das horas a temperatura aumenta e tiro minha segunda pele e aproveito para passar o protetor solar.
A velocidade
média que já era baixa consegue ficar ainda menor. Agora vou a 5 km/h. Continua
impossível avançar rapidamente. E isso exige algo que vai além da paciência e
ainda não inventaram um nome. Para quem acompanha o diário de bordo, sabe que
falo direto sobre a sintonia entre a parte física e psicológica. E agora coloco
isso totalmente à prova, subir esse trecho com a bike carregada não é
impossível desde que você consiga trabalhar sua mente com a finalidade de não
se estressar, sobretudo, com o avanço lento.
Não foi fácil, a
quilometragem parecia não passar. A estrada nas primeiras horas do dia é um
pouco movimentada, mas não por muito tempo. Encontro um caminhão durante uma
curva e o motorista me responde que tem mais 15 km de subida. A essa altura eu
havia percorrido apenas 5 km na majestosa montanha. Vale mencionar que o
condutor do veículo perguntou se eu era brasileiro. Finalmente alguém acerta
minha nacionalidade.
Não foi fácil chegar aqui.
Que empenho para tirar essa foto. Tive que escalar umas rochas.
Placas pelo caminho.
Bom, com a distância restante informada pelo caminhoneiro, iria totalizar 20 km de subida, algo monstruoso, mas, nada que já não tenha enfrentado anteriormente. Na Argentina em 2008 a Cuesta de Lipán foi vencida com seus 25 km de aclives. No deserto do Atacama no Chile, foram quase 30 km de subida em direção à Calama. No entanto, em ambas as ocasiões existiam asfalto. Agora a situação é bem diferente e essa distância parecia não ter fim.
É meio dia
quando completo 20 km desde Vallegrande, resolvo parar e fazer meu almoço. Meu
estoque de comida estava no fim. Apenas dois pacotes de macarrão instantâneo,
já não havia sardinha, atum, bolachas e paçocas. Eu deveria completar o dia
apenas com aquilo. E essa era outra questão pela qual não deveria deixar meu
psicológico se abater. A notícia boa é que pelo menos eu tinha água. Preparei o
almoço na estrada mesmo, achei uma parte que não tinha muito vento e logo
estava tudo pronto e em seguida já voltei a pedalar.
Fico surpreso
com a cadeia de montanhas, simplesmente incrível, assim como a estrada que
segue à beira de enormes precipícios. Passar aqui não é brincadeira para
ninguém. As curvas são fechadas e muitas vezes existe passagem apenas para um
veículo. O perigo também vem do alto com os desmoronamentos, presenciei um
pequeno “derrumbe”, como eles chamam, ontem e hoje. Desse modo, tenho que me
manter no meio da estrada, exceto na presença de outro veiculo. Aqui nas
montanhas é notória a presença de caminhões que descem com vários trabalhadores
em suas carrocerias. Ao que tudo indica, levam também sacos e mais sacos de
batatas.
Preste atenção no precipicio ao lado da estrada.
Realidade das estradas nos Andes.
Aqui não se pode perder a direção. Olhe do lado direito..
Com muita calma chego a um ponto onde a subida forte acaba, foram totalizados 13 km de aclives ininterruptos. Depois de tanto subir, pensei que estava na hora de descer. Que engano! Desci pouco mais de 2 km e depois voltei a subir e na sequencia alternar os quilômetros entre subidas e descidas. Tenso! As horas se passam e resolvo ficar em Pucara, que segundo meus cálculos fica 20 km antes de La Higuera.
Na direção correta.
Para La Higuera.
Paisagens de tirar o fôlego.
Impressionante.
Apenas imagine você, sua bicicleta carregada e essa estrada.
Montanhas para todos os lados.
Pedal nas nuvens.
A condição da estrada.
Vale lembrar que as poucas casas encontradas no alto das montanhas pareciam abandonadas. Logo, se você passar por aqui, esteja ciente que deverá ter uma boa autonomia em relação à água e comida. A minha sorte foi ter tomado um café da manhã reforçado com pães e chá.
Por volta das 17
horas chego finalmente em Pucara. Na entrada da pequena cidade me avisam que La
Higuera está somente a 15 km e que tem mais descida do que subida. Depois das
últimas informações em Vallegrande, desconfio e resolvo não arriscar. Havia
pouco tempo de claridade e não estava nada disposto a pedalar entre desfiladeiros
no escuro. Então, procuro um alojamento, que por sua vez, fica em frente da
praça e ao lado da igreja. Com desconto, a diária me custa 25 bolivianos, menos
de 8 reais. A mais barata até o momento.Residencial Montes é o nome do lugar.
Pucara.
Pucara.
O alojamento é barato e extremamente simples. No quarto existem duas camas de solteiro e uma de casa, ambas com colchão bem duro, contudo, cobertores reforçados para esquentar do frio da altitude. O banheiro é compartilhado e é o menos limpo que encontrei até agora. Na hora do banho uma surpresa, a água quente quase não é percebida em razão de uma água gelada que transborda de um encaixe mal feito no chuveiro. Assim, tomo um banho extremamente rápido.
Depois passo em
uma pequena mercearia, reabasteço minha comida e volto para o quarto para
jantar e escrever este diário. Amanhã não vou sair cedo, quero chegar por volta
do meio dia em La Higuera, onde pretendo passar o resto do dia.
O dia foi
finalizado com meros 47,56 km em 7h01 e velocidade média de apenas 6,77 km/h.
Não se espante, é muito difícil aumentar o ritmo com todo o contexto acima
relatado. Em algumas situações a vontade é soltar as mãos dos freios, mas é
preciso ser consciente. Devagar, Victoria e eu, conseguimos chegar são e salvos
em mais um dia difícil de pedal.
05/08/2012 - 28°
dia - Pucara a La Higuera
Um dia muito
esperado. Há muitos anos aguardo para conhecer La Higuera ou como muitos dizem;
La Higuera de Che. Foi nesta comunidade isolada no Andes que o revolucionário e
comandante Ernesto Che Guevara foi feito prisioneiro e consequentemente
assassinado pelo exército boliviano na década de 1960. E estar neste local tem
um significado especial, conforme dizia o Che: Podrán morir las personas, pero jamás sus ideas. Logo, chegar
aqui é um modo de dizer ao comandante que seus ideais continuam vivos.
A saída de
Pucara foi conforme havia previsto. Após uma boa noite de sono, acordo cedo e
sem pressa para ir à estrada, faço meu café da manhã e escrevo mais um pouco no
diário. São mais de nove horas quando vou encarar a cordilheira novamente. Ao
sair do alojamento o tempo está bem fechado e estamos literalmente dentro das
nuvens. Tiro algumas fotos e sigo em direção à uma subida de 4 quilômetros.
Visual e sensação incríveis de pedalar acima das nuvens.
Plaza de Pucara.
Alojamento.
Povoados cada vez mais simples.
Pucara a ficar para trás.
Hasta luego, Pucara. Agora entre as nuvens.
A Ruta del Che continua sem condições para avançar com rapidez. Mas, vou tranquilo, afinal, se as informações estivessem corretas, faltariam apenas mais dez quilômetros. Essa distância é percorrida entre subidas e descidas típicas dos Andes. No caminho encontro a entrada que segue para Villa Serrano, terei que voltar a este acesso para ir à Sucre depois de conhecer La Higuera.
Mais subida..
Se subir mais um pouco, onde vou parar?
Ruta del Che.
Viva!
Pedalar aqui é somente com estas condições.
La Higuera.
Na sequencia desço os quilômetros finais para chegar ao Che. Sim, é dessa forma que muitos se referiam na estrada; “Está indo conhecer o Che?”, “Saudações ao Che” e tantas outras frases. Acho isso interessante, é realmente como se ele estivesse vivo.
Homenagem.
Homenagem.
Finalmente em La Higuera. E contraditoriamente, aqui Che está mais do que vivo. Logo na entrada é possível notar as frases de efeitos estampadas nas humildes casas do povoado. A conhecida face do Che também se faz presente nas pinturas.
Não foi fácil, mas consegui. Finalmente em La Higuera.
Victoria, guerreira.
La Higuera.
De su querida presencia.
Viva Che!
Antes de seguir ao famoso busto do Che, passo em uma pousada que dois motociclistas me recomendaram horas antes na estrada. No entanto, o local comandado por franceses me pareceu com valores acima da média e resolvo procurar outros alojamentos. Logo estou diante da famosa escultura realizada em homenagem ao Comandante das Américas. Claro que não deixei o momento passar em branco e registrei minha presença.
"Hasta la Victoria Siempre"
"Hasta la Victoria Siempre"
O verdadeiro revolucionário está guiado por grandes sentimentos de amor.
Ao lado da escultura tem um restaurante e o Alojamiento Comunal La Higuera del “Che”. A pessoa que cuida da hospedagem é a mesma que do estabelecimento lateral. Ela me mostra o quarto, bem espaçoso com dois beliches e uma cama de casal. Banheiro compartilhado com água quente. Valor: 20 bolivianos, o mais barato de toda a viagem. Pouco mais de 6 reais, que tal? Guardo a Victoria no quarto e vou almoçar no restaurante.
Enquanto espero
meu almoço ficar pronto e isso demora certo tempo, turistas aparecem no local,
entre eles, uma brasileira de Minas Gerais que é casada com um boliviano, moram
em Santa Cruz e aproveitam o feriado de amanhã (06/08), dia da pátria, para
conhecer a região. Durante a conversa descubro que a ajudante no restaurante é
carioca, ela disse que em quase dois anos em que vive aqui, viu apenas três
brasileiros, ou seja, hoje o dia estava diferente.
O cardápio do
almoço era arroz, batata frita, ovo frito e salada por três reais. Peço dois
pratos de uma vez. Fiquei até com vergonha quando a moça trouxe minha comida.
Tentei justificar e disse que era para repor as energias. Na verdade, também
tinha que aproveitar o preço baixo. Tenho que economizar sem deixar de me
alimentar. A comida estava muito boa, tinha muita batata frita.
Após o almoço
vou para a escola, hoje transformada em um pequeno museu, neste exato local Che
Guevara e outros guerrilheiros foram feitos prisioneiros e executados em 1967.
A escuelita, como é chamada, tem um clima diferente, não sei descrever. Seu interior
é repleto de informações nas paredes sobre a vida do argentino/cubano Guevara,
sobretudo, sua passagem pelo território boliviano e a tentativa de aqui formar
um “asentamientodel foco guerrilleiro” como é informado.
A escuelita onde Che fora feito prisioneiro e posteriormente executado.
Escuelita.
Museu Comunal Ruta del Che Guevara
Museu Comunal Ruta del Che Guevara
Fotos da escola e do Che, ainda vivo, em 1967.
No interior do museu. Mensagens e lembranças dos visitantes.
Presença brasileira.
Ruta del Che.
Frases de Che Guevara.
Frases de Che Guevara.
Frases de Che Guevara.
Frases de Che Guevara.
Frases de Che Guevara.
A escuelita está reformada, mas ainda preserva em seu interior a porta usada em 1967, uma cadeira e algumas carteiras. A réplica da vestimenta do Che é doação do ator brasileiro John Vaz que interpretou neste local a morte de Guevara. Mais uma curiosidade foi presenciar a prece realizada por uma moça que acabou por acender velas no exato local da execução de Che.
No interior da escola/museu.
Yo!
Yo!
Momento.
Essa casa é bem parecida com a escola da década de 1960.
Foi um dia para reflexões, sem dúvidas. Também para lembrar a trajetória deste revolucionário autêntico. Estou feliz em ter a oportunidade de conhecer este lugar com o espirito vivo de Che. “Hasta la Victoria Siempre”, comandante.
Comandante da América.
Fazer o impossível.
La Higuera del Che.
Um grande exemplo.
Praça.
No mesmo pátio do alojamento funciona uma escola e o centro de saúde da comunidade. De noite as crianças ensaiavam as comemorações para amanhã, dia da independência boliviana. Foi bonito de ver as crianças demonstrarem seu patriotismo com declarações à pátria e com fervor cantarem o hino nacional.
Alojamento.
Memorial
Foram pedalados 15,90 km em 2h15m e velocidade média de 7,04 km/h.
06/08/2012 - 29°
dia - La Higuera a 18 km antes de Nuevo Mundo
Que dia! Acordei
cedo para enfrentar outra distância desconhecida entre La Higuera e Villa
Serrano. Acontece que ninguém sabe ao certo a quilometragem entre essas duas
localidades. Novamente me falaram números absurdos, entre 60 e 100 km. Essas
estradas de terra que atravessam as montanhas não são muito usadas, acho que
por isso o pessoal não tem maiores informações, não sei.
Sei que logo
pela manhã, levanto, olho pela janela do alojamento, vejo a escultura do Che e
uma paisagem magnifica no horizonte; estamos acima das nuvens. Tive que ir
fotografar. Depois arrumei minhas coisas e esperei uma pequena casa onde vende
pães abrir, no entanto, a janela continuou fechada e me dirigi ao restaurante
para entregar a chave do alojamento e comprar dois pacotes de bolacha e molho
de tomate a fim de complementar uma refeição futura.
Um novo amanhecer.
Hasta Siempre, Comandante!
Com tudo pronto,
me despeço de La Higuera e sigo pela mesma estrada do dia anterior. Voltei 10
km para pegar um acesso para Villa Serrano. A maior parte foi de subida pra
começar bem o dia, de novo. Do trevo em diante era uma incógnita, não tinha
muito conhecimento sobre o que iria encontrar pela frente.
Em direção ä Villa Serrano.
Realidade local
Percorro vários quilômetros e quase ninguém pelo caminho, quando aparece uma pessoa, desconhece qual a distância para onde quero ir. Algumas informam as horas restantes, mas elas se esquecem de que estão de carro, logo, isso não me ajuda muito. Então sigo quase vinte quilômetros quando do alto avisto um rio e a ponte sobre o mesmo, para chegar até lá uma longa estrada. A descida nunca foi tão sofrida.
Uma longa descida..
Da série: Coisas que a gente encontra pelo caminho.
Da série: Coisas que a gente encontra pelo caminho.
Pois é, cansei para descer, acho que foi a primeira vez que me aconteceu isso. Foram 18 km de puro declive. A estrada não muda muito em relação aos dias anteriores; terra, pedra e muito buraco. Logo, mesmo com toda essa descida, tive que ir a 8 km/h na maior parte do tempo, que triste. As mãos puxavam os dois freios o tempo inteiro para a bicicleta não avançar mais do que deveria. E no final isso deixou meus dedos doloridos.
Olha o nível da descida.
Na outra margem, teria que subir tudo de novo.
Da série: Coisas que a gente encontra pelo caminho.
In foco.
Como demorou pra chegar nessa ponte.
Durante a descida, vejo araras, periquitos, algum animal da família dos cervídeos e muitos cactos. Pessoas? Apenas nos poucos veículos que passaram por mim. De La Higuera até a ponte foram exatos 40 km. Quando finalmente estou quase na travessia do rio, algo que mudaria o dia.
Fauna dificil de fotografar na região.
Vegetação do semi-árido.
Vegetação do semi-árido.
Árvore totalmente verde.
Vegetação do semi-árido.
No começo da
ponte, dois carros estacionados. Já passam das 13 horas e o calor é bem forte,
estranho ter alguém parado justamente neste local. Assim que me aproximo o
pessoal vem falar comigo. Comento sobre a viagem e logo já me oferecem água,
mexericas, maças e balas. Aceito tudo sem pensar duas vezes. Estava sem almoço
e tudo se encaminhava para continuar assim, então, todas aquelas coisas vieram
em boa hora e elevaram meu moral.
Cada vez mais perto.
O pessoal era de Santa Cruz de la Sierra. Um senhor relatou que seu filho estudara na USP em Bauru, comento que tenho tios que moram na cidade. Coincidência, não? Antes de nos despedirmos, pedem para tirar uma foto comigo. Depois vou para a estrada na ansiedade de encontrar uma sombra e devorar tudo o que ganhara.
Rio Grande.
Uma distância enorme para se chegar ao ponto mais curto entre as montanhas.
São duas horas da tarde quando paro e faço a degustação das frutas, tiro minha segunda pele, passo protetor solar e sigo de novo à estrada. Agora, o caminho tem um trecho plano que segue nas margens do rio. Não demora muito e encontro um veículo argentino, peço informações sobre a quilometragem para Nuevo Mundo, já que seria inviável chegar à Villa Serrano porque finalmente uma placa depois da ponte informa a distância, 75 km. Ou seja, de La Higuera até Villa Serrano são 115 km, bem mais do que eu imaginava. No entanto, os argentinos de Salta não souberam responder com exatidão a minha pergunta.
75 km é muito por essas estradas.
O motivo da construção da ponte neste local.
Árvore verde. Alguém sabe o nome?
Em um território seco, o rio entre as montanhas é a salvação para os animais.
Sobre os estrangeiros que vejo pelo caminho. Estes são os primeiros argentinos, contudo, no começo da manhã, próximo à La Higuera, um colombiano com uma moto bem simples estava em direção ao Che. Pena que não tirei uma foto, a motocicleta não deveria ter muitas cilindradas e também não tinha alforje, apenas uma mala na parte de trás e dois pneus reservas em cima. O cara iria passar por Foz do Iguaçu depois. Coincidência, não?
Bom, depois do
encontro com os argentinos, começou a subida que me levou até um pequeno
povoado. O pessoal estava todo concentrado no campinho de futebol. Aproximo e
um senhor me oferece salgados e refresco de maracujá. Pego dois salgados ao
custo de um boliviano cada. Não sei qual a procedência, mas eu estava com fome.
E com a quantia que ainda tinha certamente muitas pessoas iriam comprar. Eu
acho.
São quatro horas
da tarde quando o senhor que me oferece o salgado avisa que não tem mais nada
pelo caminho até Nuevo Mundo. Apenas subidas e uma distância restante de trinta
quilômetros. Cogito a idéia de ficar no local e montar acampamento. Não hesitam
em permitir minha presença. Mas penso melhor e volto a pedalar. Com essa minha
decisão sei que vou fazer algo pela primeira vez; pedalar nos Andes, de noite.
Realmente não
tinha muitas casas após esse povoado, àquelas encontradas pelo caminho, nenhum
morador presente. Pedalo até às 18h30m sem ligar o farol, faço isso apenas após
completar 70 km. Escurece geral e segundo meus cálculos, faltam 10 km para
chegar à Nuevo Mundo. Distância que teria que ser percorrida na noite andina em
meio aos precipícios. Contudo, dessa vez meu farol estava com as pilhas carregadas
e muito me ajudou.
Fui bem
tranquilo e atento pela estrada. Mantive-me sempre longe da beira dos
precipícios para evitar qualquer acidente. Após uma curva vejo luzes no
horizonte, só poderia ser o local que eu esperava. Não era, que decepção.
Negativo! Quando passo pelo local, não consigo identificar o que é exatamente,
mas, cachorros alertam a minha chegada e logo aparece um senhor que me informa
que falta muito para chegar à Nuevo Mundo, inclusive, com uma baita subida pela
frente. Só depois de alguns minutos de conversa ele percebe que estou de
bicicleta e não hesita em me oferecer abrigo.
Desse modo,
estou hospedado em um dormitório para funcionários, no entanto, não tem ninguém
além de mim. Ainda não sei exatamente o que eles fazem aqui, pelo que entendi,
parece ser uma construtora de rodovias, algo assim. Em todo caso, hoje ganhei
comida e alojamento. Meu custo diário foi de apenas de 3,45 reais.
Agora não sei se
preparo a janta ou vou dormir. Pode ser um abuso da minha parte usar o
dormitório para cozinhar, vou ver o que faço e comento no relato de amanhã.
O dia foi
finalizado com 74,32 km em 8h57m e velocidade média de 8,29 km/h.
07/08/2012 - 30°
dia - 18 km antes de Nuevo Mundo a Villa Serrano
Hoje cheguei bem
próximo da exaustão. Vários motivos contribuíram para que o dia terminasse como
um dos mais difíceis da viagem.
Acordei bem cedo
no dormitório onde fui convidado a passar a noite. Antes da sete horas eu já
estava pronto para sair quando o senhor Mansillas apareceu para desejar bom dia
e ver se a ordem pairava no ar. Despeço-me, agradeço muito pela hospedagem e
vou à estrada. Cometo uma falta grave, não reabasteço minhas garrafas de água.
Afinal, com a informação que tenho, faltariam apenas mais 6 km para chegar à
Nuevo Mundo.
Dormitório.
Construtora de rodovias.
Construtora de rodovias.
Começo as primeiras pedaladas do dia em plena subida. E assim passaram-se 6 km e nada de povoado. A estrada ficava cada vez mais íngreme e a temperatura começava a aumentar e eu sem nenhuma gota de água. A cada curva eu esperava ver uma descida, mas, a única coisa que enxergava era mais subida.Estava muito alto mesmo, ainda assim era possível ficar mais perto do céu. Seguia em um ritmo muito lento.
A velocidade
média conseguiu ficar ainda menor em relação aos dias anteriores. Primeiro; as
subidas eram realmente fortes. Segundo; a distância percorrida ontem foi bem
grande se levarmos em consideração o terreno e seu relevo. Terceiro; ontem
fiquei sem almoço e jantar, isso me deixou fraco. Quarto motivo; fiquei sem
café da manhã e água hoje cedo. Somou-se tudo isso e foi uma baita canseira
para encarar a subida que não terminava.
Subida cruel.
Pedalava, pedalava e sempre que eu achava que a subida iria terminar, a realidade me desapontava. Às vezes percorria 50 metros, parava, seguia e voltava a fazer a mesma coisa. A sede estava a me matar. Somente 10 km depois aparece um carro, aceno e com a sua parada, pergunto sem eles tem água. E então enchem minha garrafinha de refrigerante, já ajudava muito. Afinal, eu já estava três horas com a garganta seca.
A subida não
termina, mas o refrigerante sim. Mas, para minha sorte, apareceu o povoado
Achiras, perguntei a algumas pessoas sobre uma mercearia para comprar água.
Infelizmente, o lugar era pequeno demais e não havia nenhum comércio. Então
encosto a bicicleta ao lado de uma propaganda governamental sobre a construção
de um sistema de água potável e vou pedir água em uma casa à beira da estrada.
O senhor que me atende mostra a torneira no lado de fora onde o povoado pega
água. Foi neste local que peguei dois litros de água potável.
Finalmente, água.
Bom, em relação à água eu estava salvo. Mas a fome era grande e Nuevo Mundo não chegava nunca. Após Achiras, continuou a subir. No caminho uma pessoa me informa que aquelas casinhas brancas no horizonte, bem no alto, era Nuevo Mundo. Misericórdia! Como é possível subir ainda mais? Ah, sim, estou nos Andes, aqui o céu parece não ser o limite para essas montanhas. Tiro minha segunda pele e quando vou colocar minha camisa DAP, vejo a frase: A grandeza da vitória está na dificuldade em obtê-la. A mensagem consegue me animar.
Uma cena
engraçada. Alguns porquinhos no caminho conseguem andar mais rápido do que eu.
Com a minha presença eles fogem e seguem, com as minhas pausas frequentes, eles
desaparecem. Depois encontro eles novamente na maior brincadeira em um lamaçal
na estrada. Tive que registrar o momento. Apenas desse modo consigo
ultrapassa-los.
In foco.
In foco.
Chegou um momento que as casinhas brancas no alto pareciam próximas, no entanto, tive que parar e fazer o almoço, não teve jeito. Uma macarronada de atum, que apesar de saborosa, não saciou minha fome. Sigo viagem e na primeira curva, vejo várias pessoas trocarem o pneu furado de um ônibus. Durante a minha passagem perguntam se sou da Alemanha ou Rússia. Ganhei mais duas nacionalidades.
As subidas não
param nunca, mas finalmente chego a Nuevo Mundo, e assim totalizo 18 km de
aclives. Paro no povoado para saber se alguém prepara almoço, já que não existe
restaurante e a minha fome continuava. No entanto, já passam das 13 horas e
ninguém serve mais nada. Então vou a uma mercearia e compro água e bolachas. Informam
que até Villa Serrano tem mais subida. Algo que parecia impossível.
Quase a 3 mil metros de altitude.
Nuevo Mundo.
Nuevo Mundo.
Nuevo Mundo.
Nuevo Mundo.
Nuevo Mundo.
Faz um calor infernal em pleno inverno andino, mesmo acima dos 2 mil metros de altitude. E isso deixa meu moral ainda mais baixo. Minhas pausas são ainda mais frequentes e agora com um tempo mais demorado. Cada sombra era uma parada obrigatória. O velocímetro marca 23 km quando finalmente para de subir. Um motociclista me anima ao dizer que agora tem um trecho plano, depois descida e no final um pouco de subida. Ele não sabe dizer a distância, mas segundo meus cálculos tenho mais de 15 km pela frente.
Quase aos 3 mil metros de altitude.
Sem dúvidas.
Fim de tarde nos Andes.
As bolachas começam a fazer efeito e com as informações que recebo, fico animado e aoinvés de ir à exaustão total, começo a pedalar com um pouco mais de firmeza e quase já não faço paradas. Com isso, fico cada vez mais próximo de Villa Serrano, lugarzinho difícil de chegar. São quase 18 horas quando finalmente avisto a cidade encravada nas montanhas. Que maravilha. Vou direto procurar o alojamento ao qual sou indicado.
Finalmente, Villa Serrano.
No Alojamiento El Pescador, sou muito bem atendido pelo Oscar que me avisa sobre o preço, 9,50 reais e com pouco mais de 1 real tenho direito a um banho com água quente. Não penso duas vezes, resolvo ficar, preciso descansar e tomar um belo banho, o que não aconteceu ontem. Depois fui procurar um restaurante para jantar, uma vez que, a fome continuava. Posteriormente passei em uma mercearia para repor o estoque de bolacha e agora escrevo o relato no meu quarto que é compartilhado (existem quatros camas), contudo, ainda não tem mais ninguém além de mim e pela hora, nem vai ter.
Oscar me disse
uma notícia boa. Existe outro caminho no qual posso seguir em direção à Sucre.
Na verdade é um atalho que vai direto à Tomina e não passa em Padilha, com isso
economizarei 30 km, o que é bom, visto que meu pedal não rendeu em relação à
quilometragem nos últimos quatro dias em estrada de terra.
O dia foi
finalizado com 44,23 km em 7h07m e velocidade média de 6,20 km/h.
Dicas sobre
distâncias:
Vallegrande a Pucara:
47 km
Pucara a La
Higuera: 15 km
La Higuera a
Nuevo Mundo: 92 km
Nuevo Mundo a
Villa Serrano: 26 km
08/08/2012 - 31°
dia - Villa Serrano a Zudañez
Um mês de
viagem. E para comemorar, o que fazer? Que tal encarar mais subidas dos Andes.
Combinado. E foi dessa forma que comecei o dia. Levantei cedo, ultimamente tenho
acordado naturalmente por volta das 6 horas. Esperei um pouco e fui fazer o que
não foi possível no dia anterior. Degustar um desayuno ou se preferir, café da
manhã. Achei um local bacana que já estava cheio de gente, sinal que a comida era
boa e barata. Sem erro.
No
estabelecimento, peço uma vitamina de banana e dois salgados de queijo. Havia
vários refrescos (sucos) que não compreendi o nome e não soube identificar pela
aparência, paciência. Além de salgados e pães, já serviam comida. Aqui na
Bolívia eles têm esse costume de preparar um prato de comida logo cedo. Na
noite anterior eu jantei bem e o meu pedido fui o suficiente para encarar o
desafio do dia.
É preciso fazer
uma ressalva. Muitos reclamam da comida boliviana. Na verdade, a queixa mesmo é
com a higiene e realmente neste ponto, algumas pessoas aqui deixam a desejar.
Não é raro encontrar gente a manusear dinheiro e já na sequencia no alimento
que você está prestes a comer. Em várias lanchonetes e mercearias, constatei
isso.
Em Santa Cruz de
la Sierra, a senhora recebeu meu dinheiro e pegou meu pedido de pães sem
nenhuma luva, por exemplo. Ontem de noite em Villa Serrano, parei em um quiosque
e pedi um salgado. Estava delicioso e com muito recheio, este, por sinal, com frango
e batata cozida, reforço total. No entanto, a mulher que recebeu o pagamento,
preparava, na minha frente, outros salgados, sem lavar a mão.
Resumo, a comida
é boa, contudo, a higiene não é das melhores e lógico que isso não é
recomendável por não ser saudável. Mas, em algumas situações, a alternativa é
compartilhar desse costume, infelizmente. Até agora nenhuma refeição me fez
mal, mas acho que ganhei vários anticorpos que talvez estejam a trabalhar para
que eu continue a passar bem com toda essa alimentação. Vale lembrar que essa
situação não pode ser generalizada.
Em todo caso, bem
alimentado, voltei para o alojamento, me despedi do Oscar e fui em direção à
Tomina. Segundo informações, 15 km de subida e depois a mesma distância para
descer. No entanto, antes de sair de Villa Serrano, vou ao pequeno museu
conferir suas principais atrações, o charango e o bombo, ambos, com o titulo de
maior do mundo (será?). Tirei algumas fotos e segui para a estrada.
Villa Serrano
Villa Serrano
Villa Serrano
Villa Serrano
Preciosidades da cidade. Charango.
Preciosidades da cidade. Bombo.
Presença no pequeno museu de Villa Serrano.
Villa Serrano
Conforme eu
disse no relato de ontem, seguiria por uma estrada que não necessitava passar
em Padilla, iria direto para Tomina, economia de 30 km. Se você, um dia, passar
por essa região, fique atento. Logo na saída de Villa Serrano tem uma
bifurcação, à esquerda vai para Padilla e à direita, Tomina, não tem erro. O
trajeto inicial é marcado por 3 km de uma pedra irregular horrível, pior do que
a estrada de terra dos dias anteriores. Durante esse trecho, uma menina de
aproximadamente 8 a 10 anos, que estava indo à escola, puxou assunto comigo.
Minha velocidade era igual ao passo dela, haja paciência. Ela me faz um monte
de perguntas, acho isso bacana porque acabo por melhorar meu espanhol, afinal,
você só aprende outro idioma, na prática.
Durante a
conversa com a menina, surge dezenas de crianças que me acompanham até o
término desse pavimento tenebroso. Não pensei que iria gostar de ver a estrada
de terra com suas pedras e buracos. Mas pelo menos era possível desviar desses
obstáculos. A subida começa, mas hoje estou com meu moral muito bom e precavido
levo dois litros de água e mais bolachas. Pela primeira vez em cinco dias de
pedal na terra, ligo meu mp3 e curto minha seleção musical que me anima ainda
mais.
Os quinze
quilômetros de subidas foram em uma estrada bem deserta, poucos veículos
passaram por mim. Em um determinado momento vejo um homem a caminhar e resolvo
perguntar sobre a sequencia da estrada. Em um primeiro contato pensei que ele
estava desnorteado, mas na verdade ele não falava espanhol, suponho que
provavelmente se comunique em quéchua ou aimará, idiomas indígenas, além
destes, outros dialetos são falados no país. Como ele apenas repetia o que eu
dizia, fui embora.
Clique na foto e veja onde estão os cavalos.
Enfrentar as subidas é uma constante aqui.
Casas de barro.
Moradias tipicas pelo caminho.
Gracias.
A placa informativa no outro sentido da estrada.
Inicio da pior subida do dia.
Três horas de
pedal e finalmente chego no local onde começa a descer. Em qualquer lugar com
subida forte, você sabe que o sofrimento será seu companheiro, contudo, depois o
alivio vem com a descida. Mas aqui, meu amigo, isso não acontece. Está na hora
de descer a no máximo 10 km/h por causa da condição da estrada de terra. Haja
mãos para aguentar tanta freada.
No topo.
Começa a descida. Velocidade: 10 km/h no máximo.
Povoados pelo caminho.
Uma cena muito engraçada. Vejo um pequeno povoado e uma escola onde algumas crianças estavam no pátio. Com o ângulo da estrada, consigo enxerga-las e elas também me veem. De repente um alvoroço, dezenas de crianças saíram da escola para verem a minha passagem. Eu achei aquilo o máximo e resolvi parar e registrar o momento. Quando aponto, ainda que distante, a câmera fotográfica, a criançada toda grita e começa a correr de volta à escola, tive que rir muito daquela cena. Realmente não sei o que passou pela cabeça delas. Mas se assustaram, na foto é possível notar que um garoto tropeça durante a correria, coitado.
A criançada em disparada.
Victoria.
Três quilômetros antes de chegar à Tomina começa aquela mesma estrada de pedras irregulares da saída de Villa Serrano, isso só diminui minha velocidade. Quando finalmente chego à pequena cidade, procuro um lugar para almoçar. Indicam-me o Mercado Público, mas no local já não havia comida, também quase duas horas da tarde. No entanto, achei uma mulher que ainda servia sopa. Não pensei duas vezes e pedi um prato. Pouco mais de dois reais. Consegui reforçar o estômago.
Calçamento horrível.
O negócio aqui não é brincadeira.
Tomina.
Rios praticamente secos.
De Villa Serrano até Tomina, sem passar por Padilla, foram 32 km. Fica a dica, já que essa estrada não está nos mapas. Agora surge a dúvida sobre a distância para Zudañez, pessoas no mercado público me falaram 25 a 30 km, um motorista na estrada me diz 50 a 60 km, o condutor de uma van que faz transporte na região me diz 140 km, nesta hora tive que falar para ele não brincar comigo. Depois vejo uma caminhonete de uma empresa da região e ai sim eles me dizem que daquele ponto onde eu estava ainda tinha mais 30 km. Nesta altura eu já me distanciava 10 km de Tomina. Naquele momento sabia que teria que enfrentar outra noite de pedal nesta estrada de terra dos Andes.
O trecho entre
Tomina e Zudañez é muito movimentado. A estrada até chega a melhorar,
diminuem-se os buracos e pedras maiores. Agora é hora da pedra brita se fazer
presente e junto com ela, uma poeira incrível. Fico muito sujo, aliás, ficamos,
a Victoria está irreconhecível. Obras na estrada completam o trajeto, enormes
buracos estão abertos para a colocação de tubulações.
Realidade da estrada.
Na minha planilha não constava Zudañez, por isso eu não tinha maiores informações sobre distância e altimetria. E pedalar assim não é uma coisa muito boa, ainda mais nessa região. Continuo a enfrentar mais subidas. No caminho, o pessoal da caminhonete que me cedeu informações, quilômetros antes, agora me oferece carona. Agradeço e digo que não precisa. Eles questionam o porquê e explico que um dos objetivos da viagem é completar o trajeto no pedal, sempre que possível. Eles ficaram com uma cara estranha e foram embora.
Não posso
esquecer um episódio, faltavam apenas dez quilômetros para chegar à Zudañez
quando aparece o asfalto, quase não acredito e fico muito animado. Poderia
chegar a escuridão, mas com aquele pavimento tudo iria melhorar. Paro, tiro uma
foto e até faço uma filmagem para mostrar minha felicidade, afinal, são 5 dias
em estrada de terra. No vídeo eu ainda menciono; espero que continue assim,
acho que sim, acho que sim. Que
decepção! Não durou um minuto de descida no asfalto e da mesma forma inesperada
que o mesmo chegou, desapareceu.
O asfalto que não permaneceu.
A noite chega aos poucos e o fluxo de veículo fica menor, ainda bem. Era muita poeira, pior que aquele trecho entre Bonito e Miranda no Mato Grosso do Sul. Meu farol ilumina bem na escuridão total, seria muito difícil, pra não dizer impossível, passar sem algum tipo de iluminação. No entanto, consigo localizar a estrada, penhascos, precipícios e os buracos das obras. Um e outro veículo passa por mim agora, mas ainda continua a levantar poeira.
Apesar dos
pesares, eu estava bem tranquilo, mesmo com aquele ambiente a música continuava
a tocar no meu fone de ouvido. Fiquei a pensar para onde tinha ido o meu medo.
Eu estava sozinho, no meio de uma estrada desconhecida com pouquíssimos
povoados, sem energia elétrica, diga-se de passagem, escuridão total, e ainda
assim, extremamente calmo. Dias atrás, mencionei a frase do Amyr Klink, e
talvez ela consiga explicar isso; transformar o medo em respeito e este em
confiança.
Passo por uma
parte onde trabalhadores aproveitavam o horário para avançar no andamento das
obras. Pergunto sobre a distância e me informavam que restam mais 4 a 5 km. Com
as subidas a minha transpiração aumenta enquanto a temperatura ambiente
despenca, mas não volto a colocar a segunda pele. Sigo e chego a uma bifurcação
e não sei para onde seguir. De um lado tinha muitas máquinas estacionadas e do
outro apenas a estrada. Enquanto decido o que fazer, tenho a sorte de ouvir um
veículo se aproximar, ele segue pela estrada sem nenhuma máquina, vou pelo
mesmo caminho.
Agora começa a
descer um pouco e visualizo uma antena bem longe, só poderia ser a cidade. Sigo
mais um pouco e logo após uma curva, vejo as luzes de Zudañez. Vibrei muito,
igual a um atleta quando conquista uma medalha de ouro. No entanto, eu não
recebia nenhum troféu, aplausos e muito menos, olhares admirados. Era uma
comemoração solitária para mim mesmo por vencer mais aquele obstáculo. Foi algo
espontâneo que acredito não esquecer tão cedo.
Ainda pedalo
mais um pouco quando finalmente, às 20 horas, chego ao meu destino final. Me
informo sobre um alojamento bom e barato. Me recomendam procurar no centro
próximo à praça. Sigo pelas ruas estreitas e pouco iluminadas, faço mais uma
série de perguntas pelo caminho e finalmente vou a um lugar onde o letreiro diz
ser restaurante e alojamento. Valor; 7,88 reais com televisão e 6,30 reais sem
o aparelho. Claro que eu paguei o menor preço. Como de costume, banheiro
compartilhado. Mas tomo meu banho com água quente, sem problemas.
Novamente estou
limpo. Agora vou andar pela rua principal em busca de um restaurante para
jantar. Sinto que tenho perdido um pouco de peso, por isso comecei a me
alimentar melhor. Encontro um lugar que serve a “cena”, como eles se referem à
janta, o prato completo, com sopa de entrada e o segundo, custou menos de quatro
reais.
A sopa estava
uma delícia. Na verdade, não sou fã de sopa, mas em uma viagem como essa
qualquer alimento é bem-vindo para suprir aquilo que se perde num dia intenso
de esforço físico. A mulher que me atendeu disse que o segundo (prato) era
frango e algo que não entendi o nome. Na hora que o prato aparece, a surpresa.
Arroz, batatas e uma coxa que parecia de dinossauro, até ai nenhum problema, o
lance foi que por cima tinha um caldo vermelho. Puro molho de pimenta, ardido
no último. Para economizar, não peço nada para beber e tento encarar a
situaçãonormalmente, como se fosse um apreciador dessa especiaria, o que não é
verdade.
No alojamento é
a segunda vez consecutiva que minha bicicleta fica fora do quarto, pelo fato do
mesmo se localizar na parte superior. Em Villa Serrano, Oscar guardou a
Victoria em um quarto separado. Já agora, a proprietária disse que era
totalmente seguro deixa-la embaixo. Tirei tudo que tinha de valor e coloquei a
minha companheira em um canto coberto. Vou ao meu quarto enfrentar outra noite
gelada. Se por um lado as manhãs e tardes são quentes, de noite a temperatura
despenca. O bom é que nos alojamentos o quartos tem cobertos bem reforçados.
Assim completo
um mês de estrada. Passou rápido, mas conheci muitas coisas, várias pessoas,
pedalei pela primeira vez no Mato Grosso do Sul, estado que fascinou pelas
belezas naturais de Bonito e a fauna extremamente rica do Pantanal. Neste
período também tive a oportunidade de visitar outro país, uma Bolívia que tem
suas particularidades; belezas, riquezas e precariedades, mas que ainda assim se
mostra muito diferente da qual estamos habituados a ver e ouvir a seu respeito.
Também faz um
mês que a minha barba cresce e não tenho pretensão de corta-la. O mesmo
acontece com meu cabelo. Na última vez que fui me pesar, havia perdido dois
quilos. Agora procuro me alimentar melhor para recupera-los ou, no mínimo, não
perder mais nenhum. Em momento algum desses trinta e um dias eu me senti
exausto. Cansado, certamente. A parte física se fortalece a cada dia. O psicológico
está ótimo para seguir viagem.
Hoje também foi
um dia especial, não apenas por marcar um mês de viagem, mas também por tornar
esta expedição a maior de todas que já fiz, tanto pela quilometragem quanto os
dias na estrada. Foram pedalados até o momento: 2.463 km em 31 dias.
Sinto-me
preparado para continuar a expedição.
O dia foi
finalizado com 73,24 km em 9h26m e velocidade média de 7,75 km/h.
09/08/2012 - 32°
dia - Zudañez a Tarabuco
Acordo e
rapidamente arrumo minhas coisas para enfrentar mais um dia de estrada. Queria
começar a pedalar logo por dois motivos. Primeiro; encontrar o asfalto
novamente. O senhor que me hospedou antes de Nuevo Mundo já me avisara que de
Zudañez em diante tinha asfalto. Segundo; pretendia chegar à Sucre, meu próximo
ponto de parada, devo ficar dois dias na cidade para conhecer alguns museus e
claro, recuperar as energias.
Antes de sair do
alojamento que, infelizmente esqueci-me de ver o nome, devoro minhas
Cremositas, essa é a marca da bolacha recheada mais famosa da Bolívia. Ontem
consegui encontra-las também no sabor Laranja, uma delícia, mas ainda não se
comparam com as brasileiras. Faço o abastecimento de água e vou para a estrada exatamente
às 8 horas. Distância até Sucre; aproximadamente 100 km com um grande obstáculo
no caminho: Tarabuco.
Zudañez
Na verdade, Tarabuco é o ponto mais alto de toda a viagem até o momento. Está a 3.326 metros de altitude. Isso certamente significa uma coisa; subida pela frente. O asfalto finalmente aparece e melhor, é aquela pavimentação de concreto que encontrei durante os primeiros dias na Bolívia.
Após pedalar cinco dias na terra, finalmente o asfalto.
O dia começou frio e muito nublado. Mas logo as subidas do caminho começaram a me deixar com calor e já tratei de tirar a segunda pele. Não demorou muito e o sol apareceu e não restou uma nuvem. Pelo caminho vejo pequenas criações de ovelhas, gados e porcos. Algo que é bem comum pelo Vale Central, desde Samaipata é possível encontra-las. Algumas poucas descidas fazem parte do trajeto, finalmente consigo atingir velocidades acima dos 20 km/h. Em determinados trechos ultrapasso 55 km/h, bom demais.
Tempo nublado.
Tempo aberto. Área de grandes instabilidades. Asfalto todo danificado.
Aprenda a jogar futebol a 3 mil metros de altitude com a criançada.
A pretensão era chegar na hora do almoço em Tarabuco e consegui, embora, um pouco mais tarde do que esperava. Às 13 horas estou ao portal da cidade e procuro um restaurante para almoçar. Um rapaz me indica o Hosteling International. Vou ao local e por menos de quatro reais sou bem servido e às 14 horas estou pronto para seguir. No entanto, resolvi ficar por uma questão estratégica.
Tarabuco
Queria cinco bolivianos pela foto.
Chegada à Tarabuco.
Tarabuco
Dois motivos me levaram a permanecer em Tarabuco. Caso seguisse viagem, chegaria somente de noite em Sucre e não estava a fim de perder metade da diária na hospedagem de lá. E aqui no Hostel, o proprietário gostou da viagem e a diária foi barata, seis reais. Os quartos são compartilhados, no entanto, sou o único hóspede e o dormitório com dois beliches e mais duas camas está à minha disposição.
Assim, durante a
tarde fui andar pelo centro da cidade. Em 2010 o amigo Guilherme Tolotti esteve
aqui e tirou algumas fotos da praça e do comércio que são inesquecíveis, então
foi a chance de conhecer pessoalmente as homenagens aos indígenas locais pela
batalha de Jumbate em 1816, quando derrotaram os espanhóis. As esculturas são
realmente incríveis. Depois fui acessar a internet rapidamente apenas para ver meu
e-mail e posteriormente compreipão para comer no fim da tarde. E então comecei
a escrever este diário.
Tarabuco
Homenagem aos indigenas.
Uma nota rápida: É preciso negociar pelo comércio, ainda que as coisas sejam mais baratas. Alguns comerciantes ao perceberam que você é de outro país, tratam logo de aumentar o preço. Hoje tive que argumentar a uma senhora que eu era um brasileiro com pouco dinheiro. Ela queria aumentar o preço da bolacha só por eu ser estrangeiro, veja se é possível? No final, as Cremositas saíram mais baratas. Fica a dica, negocie.
No rápido acesso
à internet tenho boas notícias. Os comentáriosno site, que são sempre um
incentivo a mais, podem ter certeza. E também outras duas contribuições
financeiras. Não tenho patrocínios, então, a viagem é custeada com recursos
próprios e pela colaboração de amigos e mesmo por pessoas que ainda não conheço
pessoalmente, mas que se identificaram com o projeto e sentiram-se à vontade
para ajudar.
Agradeço
sinceramente a ajuda de todos. Da minha parte, continuarei em frente a observar
e absorver tudo aquilo que estiver ao meu alcance pelo caminho para então poder
compartilhar, seja através das palavras, pelos registros fotográficos e
posteriormente por vídeos. Tenho tido o cuidado de repassar o máximo de
informações a respeito das condições das estradas e as distâncias entre cidades
e povoados, clima, preços e hospedagens. Acredito que isso sirva como auxílio
quando outras pessoas estiverem de viagem pela região.
O dia hoje foi
finalizado com 44,78 km em 4h21m e 10,29 km/h de velocidade média.
10/08/2012 - 33°
dia - Tarabuco a Sucre
A temperatura
caiu um pouco de noite, mas nada assustador, afinal estou acima dos 3 mil
metros de altitude. Esperava um frio mais rigoroso. Minha saída do Hostel foi
exatamente às 8 horas da manhã. Agora cedo o sol já se manifestava entre as
montanhas e fui aproveitar mais um dia bonito para pedalar, não sem antes ir à
praça e tirar algumas fotos. Ontem a pilha acabou e por isso tenho que fazer o
registro agora.
Na sacada do Hostel.
Hostel
Impactante.
Leia!
Presença.
Homenagem.
Cultura local.
Cultura local.
Homenagem.
Arquitetura local.
Arquitetura local.
A homenagem aos
indígenas exibida na praça mostra a importância que eles, ainda hoje, tem na
região. A cidade de Tarabuco reúne um dos principais festivais indígenas do
país. E suas feiras dominicais são bem conhecidas e atraem pessoas de todos os
lugares.
Tarabuco
Na estrada a
subida começa cedo, mas são apenas dois aclives mais fortes, conforme o
proprietário do Hostel havia me alertado. Vinte quilômetros depois de Tarabuco
começa um trecho bem plano, tranquilo de pedalar. O trajeto tem várias descidas
boas, de 3 a 4 km. A velocidade passa dos 55 km/h. Como é bom pedalar no
asfalto, não reclamo nem das subidas medianas que aparecem.
Mais um dia na estrada.
Altitude.
A distância
total até Sucre seria de 60 km. E a pretensão era chegar por volta do meio dia,
almoçar e procurar um hostel indicado pelo guia que levo na bagagem. Então, com
o relevo bom e a pavimentação bem melhor em relação aos dias anteriores,
consigo empregar um ritmo mais satisfatório. Durante as horas pedaladas, alguns
povoados pelo caminho e muita criação de ovelha. Claro, os jumentos continuam a
se exibirem nas rodovias e suas margens.
O antigo e o novo.
Criações de ovelhas
Criações de ovelhas
In foco.
Os povoados
continuam simples, com suas casas, na maioria das vezes, construídas de barro.
Em determinadas localidades o governo tem implantado um programa para a
construção de novas moradias, isso fica bem definido em lugares onde o novo e
antigo estão lado a lado.
Na estrada,
muitos veículos continuam a buzinar ao passarem por mim. Na Bolívia, assim como
no Brasil, essa é uma forma de parabenizar, cumprimentar e incentivar a viagem.
Sempre faço questão de retribuir com um gesto.
Pronuncie o nome da segunda cidade.
Mais um pouco para chegar em Sucre.
No meio de uma região inóspita, chama atenção.
No meio de uma região inóspita, chama atenção.
No meio de uma região inóspita, chama atenção.
Sucre.
Perigo da estrada.
Dez quilômetros
antes de Sucre, uma descida alucinante. Depois uma subida cruel que acompanha
até a entrada da cidade, que por sinal, não é nada bonita. Essa parte mais
periférica é marcada por casas muito simples e lixo nas margens da rodovia,
infelizmente. Peço informações e sigo para o centro que fica distante cerca de
5 km.
Sucre.
Sucre
Sucre
Sucre
Não demora muito
e estou diante da praça principal e na sequencia no Amigo Hostel, contudo, a
diária não é barata para o padrão boliviano, 15 reais um quarto individual. Oferece
uma internet lenta na recepção e café da manhã. Devidamente instalado, vou
almoçar em um simples restaurante aqui na rua. Depois vou procurar outro
alojamento para ficar sábado e domingo. Encontrei um pela metade do preço. Amanhã, após expirar minha diária vou me mudar pra lá.
Sucre é a
capital da Bolívia, ao menos, pela constituição do país, embora, o governo
esteja instalado em La Paz. Apesar dos representantes políticos atualmente não
se encontrarem aqui, esta cidade foi palco de importantes realizações
históricas para a Bolívia, como por exemplo, sua independência. Museus, igrejas
e outras atrações podem ser visitadas. Então, vou aproveitar o final de semana
para conhecê-los. E na segunda-feira, sigo para Potosí.
Hoje o dia foi finalizado com 66,22 km em 4h30m
e velocidade média de 14,70 km/h.
Hasta luego
Retorno na lan house para aproveitar o tempo e colocar mais fotos no site. Após o meio dia volto ao alojamento e sou encaminhado para um quarto com cama de casal e localizado no térreo, ou seja, poderia colocar a Victoria no interior do mesmo, perfeito. A diária aqui custa 25 bolivianos, quase 8 reais. Depois vou almoçar em um lugar simples que achei e na sequencia regresso para a lan house. O acesso à internet na Bolívia é barato, a hora sai por apenas 0,63 reais.
Casa de la Libertad
O nome do local é bem sugestivo e não poderia ser diferente. O prédio do século XVI é considerado o mais importante da Bolívia por ser palco de sua independência em 1825. No entanto, a história do lugar data muito antes de nascer a Bolívia como um país soberano. Neste prédio os jesuítas se estabeleceram em 1592 e abriram em 1694 a Universidade San Francisco Xavier que futuramente formou alguns daqueles que contribuíram para o processo de independência.
Ainda no salão da independência, três personalidades em evidência a partir de retratos enormes expostos na parade, entre eles, o venezuelano Simón Bolívar, declarado o primeiro presidente do país que levou seu nome. E outro destaque cabe àquele que presidiu a Assembléia Constituinte, Marechal Sucre, o fundador da Bolívia. Não é de estranhar que a cidade tenha levado seu nome. Aliás, no museu, uma sala é dedicada especialmente a ele.
Já na sala dos guerrilheiros, uma homenagem àqueles que lutaram contra as forças espanholas pela independência e hoje são considerados verdadeiros heróis. Talvez o que mais chame atenção seja a presença de Juana Azurduy, guerrilheira que lutou também pela Argentina. Hoje, em ambos os países, é altamente reconhecida pelos seus atos. Não por acaso que suas cinzas, presentes no local, estão sob as bandeiras da Argentina e Bolívia.
Não posso esquecer-me de outra sala com um fator de enorme importância; A bandeira de Belgrano. O compartimento leva o nome do idealizador da bandeira argentina, um ícone entre aqueles que almejavam a independência americana. Com algumas batalhas bem sucedidas no norte argentino, ele marchou em direção para a atual região de Potosí, onde foi derrotado. Na ocasião levava a bandeira que representava a América Independente (hoje bandeira da Argentina), com os combates ela foi escondida atrás de um quadro e permaneceu até ser encontrada, tempos depois, em território boliviano. O governo argentino reivindicou sua transferência, entretanto, negada pela Bolívia. Como prova de amizade, os argentinos respeitaram tal decisão e assim, a bandeira, atualmente bem desgastada com o tempo é exposta aqui no museu.
Depois de uma boa caminhada voltei para o alojamento, tinha algumas coisas importantes para fazer. Eu deveria achar um lugar para lavar a Victoria que estava imunda, principalmente pelos dias de estrada de terra na Bolívia. Desde Bonito/MS que a minha companheira não era recebia uma limpeza, ou seja, passou da hora de ganhar uma atenção especial. Na recepção perguntei para a moça onde poderia lava-la e para minha sorte e surpresa ela aponta o tanque, que por sua vez, fica na frente dos banheiros. O local certamente não era dos mais apropriados e eu mesmo não havia cogitado essa possibilidade, mas como fui autorizado, tratei logo de começar a deixar minha guerreira nova.
No alojamento, ainda preparo o jantar para economizar um pouco. Os dias em Sucre não foram baratos para o padrão boliviano, gastei em média 30 reais a diária, mas valeu o custo x beneficio, já que no valor estão os custos com hospedagem, refeições, visitas, internet e telefonema para a família. Cada centavo foi bem investido.
Barricadas.
Hoje o dia foi todo destinado a atualizar o site. Foram mais de 10 horas na lan house para poder compartilhar fotos e relatos. Os últimos dias foram maravilhosos e deveriam ser devidamente relatados e acompanhados pelos registros fotográficos.
11/08/2012 - 34°
dia - Sucre (Folga)
Meu dia começou
de madrugada graças aos hóspedes do Amigo Hostel. Não recomendo esse lugar para
ninguém. A começar pelo preço, o dobro de outras hospedagens no mesmo nível. O
diferencial, segundo eles; internet disponível na recepção (extremamente lenta);
café da manhã; cozinha disponível e guarda volumes.
Enfim, esse tal
hostel foi onde eu mais encontrei estrangeiros até agora. Gringo para todos os
lados, na maioria, jovens europeus. Não quero generalizar e muito menos ser
injusto, mas acho que foi exatamente esse o problema. Não sei qual a pretensão
deles ao visitarem os países sul-americanos, mas acho que independente do
motivo da viagem, educação é fundamental em qualquer lugar.
A falta de
educação começou na noite anterior. Um aviso de silêncio após às 22 horas é
exibido no pátio, no entanto, já era quase meia noite e o som alto da televisão
acompanhado de gargalhadas e conversas deixava o ambiente nada propício para
descansar em paz. Em todo caso, consigo dormir, mas foi por pouco tempo.
Durante a
madrugada, várias foram as vezes que acordei em razão das pessoas que chegavam,
provavelmente das festas, certamente nada sóbrias e falando extremamente alto
para o horário. Pensava comigo, será que eles não têm a mínima consciência que
outras pessoas dormem no local? Parecia que não. E assim foi até às 5 horas da
manhã. Acordei esse horário e não consegui mais dormir e fiz uma reflexão sobre
o episódio.
No Brasil,
várias pessoas, erroneamente, dizem que os bolivianos não têm educação e tudo
mais. Sinceramente, não foi o que percebi durante esses dias na Bolívia, muito
pelo contrário. Em todas as hospedagens anteriores, os clientes em grande parte
eram pessoas daqui e não tive nenhum contratempo. Não sou fresco, tenho muita
paciência e geralmente busco ser compreensivo, mas o desrespeito de alguns
estrangeiros no hostel de Sucre me deixou realmente indignado com a situação.
Acordado,
procuro o que fazer. Resolvo tentar postar algumas fotos no site. Mas quando
vou até a recepção, a surpresa: fechada e sem nenhum sinal wireless, que
maravilha. Então volto para o quarto. O café da manhã seria servido a partir
das 8 horas. Mas como eu estava acordado desde às 5 horas, meu estômago
alertava sobre a fome que deveria ser saciada. Troco de roupa novamente e
decido sair para encontrar algum estabelecimento aberto para comer alguma
coisa. Outra surpresa: A porta do hostel está fechada e não tem ninguém para
abrir. Tentei de todas as formas e não consegui acesso exterior. Como aquele
pessoal todo conseguiu entrar de madrugada? Não sei!
Sem internet e
acesso à rua, a opção foi voltar ao quarto e esperar o tempo passar e isso é
angustiante quando se tem várias coisas para fazer. Fico a refletir sobre tudo
isso por mais de uma hora quando finalmente vou à área destinada para o café da
manhã. Este não é nada comparado ao que existe na maioria dos hotéis no Brasil.
Aqui, o tal desayuno é bem simples, dois pães da villa (descobri o nome em um
supermercado. Eles são típicos da Bolívia), margarina, uma xícara pequena de
leite e um copo de suco. Temos o direito de sermos servidos apenas uma vez.
Então faço minha refeição rapidamente e finalmente consigo ir para a rua.
Do lado de fora
do hostel, a primeira coisa que faço é parar em uma mercearia em comprar quase
uma dezena dos tais pães da villa. Com a aquisição em mãos, ela logo vai para a
barriga complementar a pouca refeição de minutos atrás. Pelas ruas sigo em
direção a uma lan house, pela frente tenho a longa jornada de colocar as fotos
no site. As imagens dessa vez passam de trezentas e a maioria com 2 e 3 Mb de
tamanho, ou seja, não seria uma tarefa nada fácil.
Na lan house
começo esse processo de atualizar o site e logo tenho que interrompê-lo pelo
simples fato que o check-out do hostel deveria ser feito até às 10h30min da
manhã, quando na maioria das hospedagens o horário de entrada e saída acontece
ao meio dia. Paciência. Finalmente eu estava prestes a sair desse lugar para
não precisar voltar mais, assim espero.
No Amigo(?)
Hostel pego a Victoria e na recepção entrego as chaves e educadamente digo
obrigado, sou latino-americano de um país considerado de terceiro mundo, mas
educação não me falta graças a todos os ensinamentos que tive. Agora sigo em
direção ao Alojamiento Constitucional que fica na Calle Argentina, ao lado da
Assembléia. Na recepção sou muitíssimo bem recebido, no entanto, apenas teria
quarto disponível após o meio dia, quando as diárias se encerram. Como ainda
não são onze horas, tenho autorização para deixar a Victoria na recepção e
voltar logo depois.
Alojamiento Constitucional, esse eu recomendo.
Retorno na lan house para aproveitar o tempo e colocar mais fotos no site. Após o meio dia volto ao alojamento e sou encaminhado para um quarto com cama de casal e localizado no térreo, ou seja, poderia colocar a Victoria no interior do mesmo, perfeito. A diária aqui custa 25 bolivianos, quase 8 reais. Depois vou almoçar em um lugar simples que achei e na sequencia regresso para a lan house. O acesso à internet na Bolívia é barato, a hora sai por apenas 0,63 reais.
Fico oito horas seguidas
na lan house para completar a atualização das fotos no diário de bordo. Os
relatos eu faço geralmente no final de cada dia e quando tenho acesso à
internet disponibilizo-os juntamente com as fotos. A velocidade da internet é
compatível com o valor pago e por isso levo esse tempo todo para poder
compartilhar isso tudo com vocês. Mas, sinceramente acredito que o esforço seja
válido.
Agora é hora de
dormir já que estou acordado desde às 5 horas da madrugada. Amanhã a pretensão
é conhecer a Casa de la Libertad e registrar o centro histórico de Sucre.
12/08/2012 - 35°
dia - Sucre (Folga)
A noite foi
ótima. Sem gritaria, silêncio total. Assim, consigo descansar, no entanto,
acordo naturalmente por volta das 6h30m e já estou com fome. Então resolvo sair
e procurar um lugar para comer. Tenho a brilhante idéia de localizar o mercado
público, aqui chamado de Mercado Central. Encontro de tudo no local, inclusive
um espaço destino especialmente para o desayuno.
São vários
comerciantes que tentam ganhar a freguesia no grito, escolho o local de
trabalho de uma senhora que me chama mesmo à distância. São diversas opções,
café, café com leite, leite com chocolate, chá e outras bebidas típicas do
país. O pão da villa pode ser degustado com mortadela, queijo ou margarina, a
primeira opção é notoriamente a mais escolhida do público. No entanto, eu peço
dois pães puros e um copo gigante de leite com chocolate. Que delícia! E isso por
menos de um real. Não resisto à tentação, outro copo de leite, desta vez,
acompanhado de um pastel de queijo, também pelo valor abaixo de um real.
Durante meu café
da manhã observo as pessoas, seus costumes e converso com algumas delas. Aqui
na Bolívia é normal você compartilhar a mesa com outras pessoas, ainda que
desconhecidas, seja no café da manhã ou nas outras refeições. É uma ótima
oportunidade para puxar conversa e trocar algumas idéias.
Fico admirado
com a agilidade da senhora que trabalha no local. Ela consegue atender os
clientes, preparar seus pedidos, receber os pagamentos, devolver o troco e
ainda achar tempo para chamar outras pessoas, incrível. Acho que é pela sua
disposição e bom atendimento que o local é movimentado. O tempo passa e chega a
hora de conhecer com mais atenção o centro de Sucre.
A capital
constitucional do país é uma cidade com pouco mais de cem mil habitantes,
contudo, é considerada uma das mais bonitas do país. A entrada da cidade pela
qual passei não demonstrou isso, no entanto, bastou chegar à região central
para entender o porquê deste título.
Sucre se
desenvolveu no período colonial em grande parte em razão da cidade de Potosí
que se transformou em uma das cidades mais ricas do ocidente no século XVII,
resultado das minas de prata. Assim, a riqueza de Potosí foi também levada para
Sucre, onde residiam muitos daqueles que faziam fortuna nas minas.
Basta andar pelo
centro de Sucre para entender de qual forma foi feito o investimento com a
riqueza adquirida em Potosí. As construções coloniais são impressionantes, seja
nos prédios governamentais, casarões ou pelas inúmeras igrejas que podem ser
encontradas na cidade. Com a expansão do munícipio através dos anos, toda essa
opulência não pode ser constada na região periférica, a mesma pela qual cheguei
no dia anterior. Sinal evidente que os tempos são outros.
Prefeitura
Região Central
Faixas diferentes.
Catedral
O centro e a periferia ao fundo.
Região Central
Essa deve ser bem antiga.
Região Central
Após o café da
manhã vou para a Casa de la Libertad que aos domingos fica aberta das 9 às 12
horas. O local fica localizado ao lado da Plaza 25 de Mayo, a principal da
cidade, coração do centro. O alojamento onde estou fica a menos de 50 metros
destas duas atrações, ou seja, excelente localização. A entrada para conhecer a
Casa de la Libertad é de 10 bolivianos e mais 5 para tirar foto. Logo, tenho
que desembolsar 15 bolivianos. Impossível não registrar um lugar histórico como
esse.
Casa de la Libertad
Casa de la Libertad
O nome do local é bem sugestivo e não poderia ser diferente. O prédio do século XVI é considerado o mais importante da Bolívia por ser palco de sua independência em 1825. No entanto, a história do lugar data muito antes de nascer a Bolívia como um país soberano. Neste prédio os jesuítas se estabeleceram em 1592 e abriram em 1694 a Universidade San Francisco Xavier que futuramente formou alguns daqueles que contribuíram para o processo de independência.
A arquitetura
colonial da Casa de la Libertad é impressionante. Assim como muitos casarões de
Sucre, seu interior é marcado por um pátio de tamanho considerável e várias salas
ao redor. Desde 1940 que o prédio foi transformado em museu e hoje seu espaço
abriga uma boa parte da rica história da Bolívia e América do Sul, sobretudo,
relacionadas à independência.
Pátio principal
Pátio principal
Pátio principal
A visitação é
guiada em espanhol ou inglês. No entanto, cheguei cedo e não havia grupo
formado, aproveitei e fui visitar os salões de forma independente. Mais tarde
peguei carona em grupo e fiquei atento às explicações da guia. O museu de modo
geral é fantástico, mas vale destaque para algumas salas. Em primeiro lugar ao
salão da independência, afinal a Bolívia nasceu neste lugar onde ainda são
preservados os lugares dos deputados da Assembléia Constituinte e também as
cadeiras, da época da faculdade, em que professores, alunos e júri avaliavam e
decidiam os novos doutores da área jurídica.
Salão da Independência
Salão da Independência
Salão da Independência
Ainda no salão da independência, três personalidades em evidência a partir de retratos enormes expostos na parade, entre eles, o venezuelano Simón Bolívar, declarado o primeiro presidente do país que levou seu nome. E outro destaque cabe àquele que presidiu a Assembléia Constituinte, Marechal Sucre, o fundador da Bolívia. Não é de estranhar que a cidade tenha levado seu nome. Aliás, no museu, uma sala é dedicada especialmente a ele.
Simón Bolivar
A sala do senado
reúne objetos, vestimentas e retratos dos presidentes bolivianos, além de uma
escultura enorme de Bolívar, feita em madeira e pesa algumas toneladas. Neste
ambiente quatro bandeiras da Bolívia estão expostas, atualmente duas são
consideradas oficiais, aquela com cores em vermelho, amarelo e verde,
significa; sangue derramado dos patriotas, riqueza dos minerais e a natureza,
respectivamente. A outra bandeira quadriculada com várias cores representa os
povos pré-hispânicos, encontrei muitas pelo o caminho, sobretudo, nas áreas
mais isoladas.
Simón Bolivar, primeiro presidente.
Evo Morales, atual presidente.
Vestimentas
Sala do Senado
Presença registrada.
Já na sala dos guerrilheiros, uma homenagem àqueles que lutaram contra as forças espanholas pela independência e hoje são considerados verdadeiros heróis. Talvez o que mais chame atenção seja a presença de Juana Azurduy, guerrilheira que lutou também pela Argentina. Hoje, em ambos os países, é altamente reconhecida pelos seus atos. Não por acaso que suas cinzas, presentes no local, estão sob as bandeiras da Argentina e Bolívia.
Juana Azurduy
Sala dos guerrilheiros
No salão dos
deputados, retratos de membros da assembléia constituinte e suas participações.
Também é possível encontrar a cópia da ata que declarou a Bolívia independente.
A sala de honra é um espaço reservado para o encontro de autoridades, no local
existe um retrato de Bolívar feito pelo austríaco Francis Martin Drexel, essa
obra é considerada pelos especialistas aquela que melhor retrata o libertador venezuelano.
Entre outras imagens é possível encontrar a heroína Juana.
Sala dos deputados
Sala de honra
Obra realizada pro Drexel
Não posso esquecer-me de outra sala com um fator de enorme importância; A bandeira de Belgrano. O compartimento leva o nome do idealizador da bandeira argentina, um ícone entre aqueles que almejavam a independência americana. Com algumas batalhas bem sucedidas no norte argentino, ele marchou em direção para a atual região de Potosí, onde foi derrotado. Na ocasião levava a bandeira que representava a América Independente (hoje bandeira da Argentina), com os combates ela foi escondida atrás de um quadro e permaneceu até ser encontrada, tempos depois, em território boliviano. O governo argentino reivindicou sua transferência, entretanto, negada pela Bolívia. Como prova de amizade, os argentinos respeitaram tal decisão e assim, a bandeira, atualmente bem desgastada com o tempo é exposta aqui no museu.
Sala Bandeira de Belgrano
In foco.
In foco.
Fiquei quase
três horas na Casa de la Libertad e confesso que em alguns momentos parecia que
lágrimas iriam cair dos meus olhos. Não sei explicar o motivo através das
palavras, mas acredito que foi o fato de estar presente em um lugar histórico
não somente para o povo boliviano, mas para todos os latino-americanos. Afinal,
tornar-se independente após anos de exploração tem um significado enorme. Um
ambiente como este é simplesmente fantástico para um historiador. Fui tomado
pela emoção e, sinceramente, fiquei muito feliz por isso.
Após a
impressionante visita, fui almoçar e posteriormente fazer um registro
fotográfico da bela e movimentada Plaza 25 de mayo, onde foi possível
verificar, além da presença de vários bolivianos, turistas e muitos pombos que
são frequentemente alimentados por aqueles que passam pelo local. Aliás, vale
ressaltar a escultura do Marechal Sucre no centro da praça, homenagem ao
fundador da cidade. Pelas ruas também faço fotos da prefeitura, catedral e
tantos outros casarões, obras realmente fascinantes de uma época colonial que
ainda hoje estão bem conservadas.
Plaza 25 de mayo
Plaza 25 de mayo
Plaza 25 de mayo
Lixeira estilosa.
Aqui é possível encontrar vários engraxates.
Depois de uma boa caminhada voltei para o alojamento, tinha algumas coisas importantes para fazer. Eu deveria achar um lugar para lavar a Victoria que estava imunda, principalmente pelos dias de estrada de terra na Bolívia. Desde Bonito/MS que a minha companheira não era recebia uma limpeza, ou seja, passou da hora de ganhar uma atenção especial. Na recepção perguntei para a moça onde poderia lava-la e para minha sorte e surpresa ela aponta o tanque, que por sua vez, fica na frente dos banheiros. O local certamente não era dos mais apropriados e eu mesmo não havia cogitado essa possibilidade, mas como fui autorizado, tratei logo de começar a deixar minha guerreira nova.
Com banho de
balde, não foi fácil lavar a Victoria, mas finalmente consegui tirar toda a
sujeira, barro, poeira e óleo misturado a tudo isso. Quando vou lavar o
bagageiro dianteiro tenho uma surpresa. O mesmo está quebrado em uma parte onde
se encaixa o parafuso de sustentação de uma das laterais. Após tantos
solavancos pelas estradas de terra não me espanto em ver a peça rachada, fico
curioso em saber como a mesma ainda continua no lugar e como se ainda estivesse
inteira. Coloquei uma boa pressão sobre o bagageiro e nem sinal de que esse
fato seja um problema, mesmo com a atual situação. Afinal, devo ter pedalado
alguns dias assim e não observei nada diferente.
Após a
descoberta do bagageiro levemente danificado, penso se é válido procurar alguém
para soldar. No entanto, me lembro do velho ditado; time que se ganha não se
mexe. Então resolvi deixar do mesmo jeito. Em Corumbá, pedi ao rapaz da
bicicletaria para apertar todos os parafusos do bagageiro. Acho que ele fez
isso muito bem, tanto que apertou demais e isso influenciou para não ter maiores
prejuízos agora. Se, por ventura, tornar realmente um problema, então serei
obrigado a procurar uma oficina. A principio, acredito não ser necessário.
Com a bicicleta
limpa, diga-se de passagem, uma belezura, estava na hora de resolver outra
coisa, a questão das roupas sujas. Não somente as vestimentas de ciclismo, mas
também roupas de frios e de dormir. Pensei em lava-las no alojamento, contudo,
antes de finalizar a limpeza da Victoria, a recepcionista da parte da tarde/noite
me alerta que não se pode lavar nada no local. Argumento que fui autorizado
pela moça que trabalha de manhã. Ela então fica sem resposta. Para evitar
confusões, disse que estava quase terminado e deixaria a área limpa. Logo, lavar
roupa no tanque, nem pensar.
Pensei na
possibilidade de mandar lavar, mas é domingo e dificilmente teria algum
estabelecimento aberto, pelo menos eu imaginava. Na recepção existe um anúncio
de lavanderia, pergunto se mesma funciona aos domingos e para minha surpresa a
resposta é positiva. O quilo da roupa limpa custa 8 bolivianos, ou seja, 2,50
reais. No total foram 2 quilos de roupa ao valor de 5 reais. Tudo limpo e
entregue no mesmo dia. Gostei do custo x beneficio. No começo da viagem eu
lavava minhas roupas quando tinha banheiro no quarto. Mas agora eu fico nos
alojamentos e estes tem banheiro compartilhado, logo, não posso demorar no
banho. Enfim, achei uma solução prática e barata, pelo menos aqui na Bolívia.
O dia foi longo,
mas ainda tinha outras coisas para ver. Então resolvi não pegar estrada na
segunda-feira. Assim, teria tempo de conhecer uma atração recomendada pelo guia
de bordo; O Parque Cretácico, um local que reserva pegadas de dinossauros. Algo
que eu jamais imaginei ver. Também deveria visitar uma igreja do século XVIII.
Portanto, vou descansar e amanhã aproveito para desvendar um pouco mais dessa
interessante cidade.
13/08/2012 - 36°
dia - Sucre (Folga)
Acordo cedo e às
6 da manhã já me preparo para sair. Meu destino é o Parque Cretácico, distante
cinco quilômetros do centro da cidade. Decido não ir de bicicleta por alguns
motivos. Primeiro: não saber se no local seria possível encontrar um lugar
seguro para deixa-la. Segundo e decisivo: eu queria conhecer o transporte
público da Bolívia. De tal modo, deixei a Victoria quieta no quarto e fui à
rua.
Antes de pegar o
ônibus vou ao Mercado Central que não fica longe do alojamento. Seria um
desperdício não aproveitar aquele café da manhã. Volto ao mesmo local do dia
anterior e sou novamente bem atendido. Na mesa, um senhor que também estava
presente ontem, conversa comigo. Entre outras coisas, pergunta-me se sou
argentino. Novamente tenho que responder que sou brasileiro. Ele também comenta
sobre o clima que não é o mesmo de anos atrás e sobre algumas festividades da
cidade.
Mercado Central
Mercado Central
Mercado Central
Mercado Central
Mercado Central
Mercado Central
Mercado Central
Após o desayuno
sigo para o local onde passa a Linha 4, esse é o ônibus que segue para o
Parque. Não demora muito e o veículo aparece. Aqui na Bolívia até existem
pontos de ônibus, contudo, você consegue subir ou descer de qualquer lugar,
basta avisar. Assim, gesticulo da calçada, entro no veículo e faço o pagamento diretamente
ao motorista que não hesita em dirigir, receber e devolver meu troco. Aqui o
preço da passagem é de 1,50 bolivianos, incríveis 0,47 centavos de real. Muito
barato se considerar o trajeto que é realizado.
Região central.
No ônibus,
presto atenção a todos os detalhes. E aqui, algumas curiosidades; Não tem
cobrador, a função é exercida pelo motorista, que por sua vez, é chamado de
chofer. Campainha é algo que não faz parte da frota. Se necessitar parar, basta
avisar. Ouço pedidos do tipo; me voy a
bajar; parada; esquina, por favor. A porta, essa fica aberta o tempo todo e
acaba por facilitar a entrada ou saída de qualquer lugar. O pessoal me pareceu
bem acostumado com isso.
Aventura pelo transporte coletivo de Sucre.
Durante o
trajeto pergunto a algumas pessoas onde devo parar. Para minha sorte, não tem
erro, a descida ocorre no ponto final. O deslocamento dura aproximadamente 25
minutos, tempo suficiente para chegar cedo ao parque que abre às 9 horas. O
tempo nublado indica chuva, mas não é a primeira vez que vejo essa situação e
minutos depois o céu já está azul sem nenhuma nuvem. Independente do tempo,
sigo para a entrada do parque.
Observação: Fui
até o parque de modo independente, ou seja, através do transporte coletivo ao
preço de 1,50 bolivianos, entretanto, existe uma outra opção; o Dino Truck que
tem saídas em três horários na praça 25 de mayo, o valor da passagem sem a
entrada no parque é de 15 bolivianos.
Dino Truck
O Parque
Cretácico tem uma estrutura fantástica, algo impressionante de verdade. E não
poderia ser diferente, no local é possível ver a mais extensa jazida de pegadas
de dinossauros do mundo. São mais de 5 mil pegadas na encosta de um morro que
fica a 300 metros do mirante do parque. Juro que jamais imaginei visitar um
lugar como este, aliás, desconhecia algo parecido. Pensar que aqueles vestígios
datam de mais de 65 milhões de anos e que na época, a montanha que hoje
preserva a passagem dos magníficos animais, era um terreno plano, pois ainda
não existia o que conhecemos como Cordilheira dos Andes. Sensação
indescritível.
Parque Cretácico
Parque Cretácico
Parque Cretácico
Parque Cretácico
Parque Cretácico
Parque Cretácico
Parque Cretácico
Parque Cretácico
As pegadas são
de ao menos 8 espécies e detém outras marcas mundiais como por exemplo; 581
metros de caminhada contínua de um terópodo e 462 caminhadas individuais
distribuídas em um território de 1500 metros de largura e 110 de altura. As
pegadas na montanha chegam a medir 80 cm de diâmetro, no entanto, com a
distância de 300 metros do mirante do parque, é possível observa-las melhor através
de binóculos que podem ser utilizados por menos de um real. Eu utilizei o zoom
da máquina fotográfica.
Pegadas de milhões de anos.
Pegadas de milhões de anos.
Pegadas de milhões de anos.
Pegadas de milhões de anos.
Pegadas de milhões de anos.
Cordilheira dos Andes.
In foco.
In foco.
No entanto, o
Parque Cretácico não tem apenas o mirante para observar as históricas e
fascinantes pegadas. O local exibe réplicas incríveis de dinossauros,
construídas com todo um caráter cientifico por paleontólogos argentinos. É
impressionante o resultado das obras, são detalhes minuciosos que simplesmente
tornam o ambiente uma volta ao passado. Os animais, cujas pegadas são
encontradas na montanha, são exibidos pela extensão do parque. Dinossauros
exclusivos de outras localidades também estão presentes, como o temido e famoso
Tiranossauro Rex.
Abelisaurio e Iguanodonte
Mediano
Abelisaurio
Abelisaurio e Iguanodonte
Mediano
Carnotaurino
Carnotaurino
In foco.
Parque Cretácico
Tiranosaurio Rex
Tiranosaurio Rex
Tiranosaurio Rex
Tiranosaurio Rex e yo.
Hadrosaurio
Yo!
In foco.
In foco.
In foco.
Saltasaurio
Saltasaurio
Cordilheira dos Andes
Sucre
Na chegada ao
parque um documentário sobre o final da era dos dinossauros é apresentado. Na
sequencia uma visita guiada (em espanhol) por volta de trinta minutos. Depois
você tem até às 17 horas para observar atentamente a preciosidade das
esculturas, incluindo a maior já realizada de um dinossauro, a réplica do
Titanossauro; 36 metros de comprimento e 18 de altura. Sensacional.
Titanosaurio
Titanosaurio
Vale lembrar que
para deixar o ambiente ainda mais real, em todo o parque foram instaladas
caixas de som camufladas que projetam os sonidos emitidos pelos dinossauros,
simplesmente perfeito. Recomendo a visita, sobretudo, para aqueles que são
interessados no assunto. Para além da recreação de um cenário natural, abordam
fatores importantes da paleontologia, como a migração, extinção e limite entre
a era Mesozoica e Terciária. Todas as informações são visualizadas por todo o
parque, que também tem um museu com uma cópia de um esqueleto de dinossauro
encontrado na Argentina. Neste espaço também é possível ver animais e algas,
petrificados.
Mosasaurio
Plesiosaurio
Plesiosaurio
In foco.
Serpiente
Madtsóida
Iguanodonte
pequeno - Ceratodonte
Iguanodonte
pequeno - Ceratodonte
Tortuga
Meiolanida
Baurusuquio
Baurusuquio
Tortuga
Brasilemys Josai
In foco.
Carnotaurus
Carnotaurus
Carnotaurus
Recriação muito bem feita.
Todas as
informações acima foram obtidas através; folheto informativo que pode ser
encontrado na administração do parque; guia de informações ao turista de Sucre;
livro Guia do Viajante Independente da América na América do Sul; funcionários
do parque; informes pela extensão do Cretácico.
Foram mais de
três horas no interior do parque, fiquei realmente fascinado com tudo que pude
conhecer. Valeu cada centavo da entrada que custou R$ 9,50 e mais R$ 1,50 para
poder tirar foto. O legal de ficar mais tempo, além de absorver melhor as
informações, é que você consegue pegar carona com guias diferentes que trazem outros
detalhes sobre o lugar. Eu ainda tive a felicidade de poder visualizar melhor
as pegadas em razão do horário, por volta do meio dia o sol bate diretamente na
montanha, tornando ainda mais evidente as marcas milenares. Fica a dica.
Parque Cretácico.
Parque Cretácico.
Parque Cretácico.
Após essa
maravilhosa visita, retorno ao ponto final de ônibus e espero a saída do
veículo. Peguei um que seguia para o centro. O trajeto dessa vez é mais
demorado em razão do congestionamento, no entanto, aproveito o deslocamento
mais lento para observar as outras regiões da cidade, uma boa experiência.
De volta ao centro.
Congestionamento.
De volta ao
centro, almoço e no final da tarde vou fazer mais uma visita, desta vez pela
Iglesia de San Felipe Néri, datada de 1795. A entrada custa pouco mais de 3
reais e acontece pelo Colégio Maria Auxiliadora. A senhora na recepção é bem
atenciosa e no interior do colégio me mostra o caminho para o terraço e as duas
torres, um dos locais mais visitados em razão da bela vista que se tem da
cidade de Sucre. Do alto é ainda possível admirar o pátio interno que, décadas
atrás, antes do funcionamento do atual colégio, era destinado aos monges que
viviam enclausurados, conforme me explica a senhora que trabalha no local há 35
anos. Inclusive, ela faz questão de abrir a igreja de estilo neoclássico para
que eu possa conhecer o interior da mesma, chama atenção o altar e os púlpitos,
ambos reluzentes, outro detalhe; o teto sem nenhuma pintura de personagens
bíblicos.
Iglesia de San Felipe Néri
Iglesia de San Felipe Néri
Iglesia de San Felipe Néri
Iglesia de San Felipe Néri
Iglesia de San Felipe Néri
Sucre vista do alto da Iglesia de San Felipe Néri
Sucre vista do alto da Iglesia de San Felipe Néri
Sucre vista do alto da Iglesia de San Felipe Néri
Yo!
Iglesia de San Felipe Néri
Iglesia de San Felipe Néri
Iglesia de San Felipe Néri
Iglesia de San Felipe Néri
Iglesia de San Felipe Néri
Fico um bom
tempo e contemplo a cidade até o pôr-do-sol, a visão do alto da igreja é muito
bonita. Ver o sol se esconder atrás da cordilheira é um espetáculo à parte.
Depois de um longo passeio, retorno ao alojamento para descansar, não sem antes
arrumar as coisas na Victoria, afinal, amanhã é dia de voltar à estrada.
Poderia ficar mais alguns dias em Sucre que ainda teria dezenas de lugares para
visitar. Mas é preciso seguir. Acredito que aproveitei bastante os dias que
fiquei na cidade.
Iglesia de San Felipe Néri
Pôr-do-sol na Cordilheira dos Andes.
No alojamento, ainda preparo o jantar para economizar um pouco. Os dias em Sucre não foram baratos para o padrão boliviano, gastei em média 30 reais a diária, mas valeu o custo x beneficio, já que no valor estão os custos com hospedagem, refeições, visitas, internet e telefonema para a família. Cada centavo foi bem investido.
Macarronada de atum e tomate. Estás servido?
14/08/2012 - 37°
dia - Sucre a Betanzos
Um dia
memorável. Protestos; velocidade máxima; subidas a mais de 3 mil metros de
altitude; encontro com estrangeiros; entrada no Altiplano; vento contra;
temperatura baixa e; pedal noturno.
Uma coisa é
preciso admitir, começar bem o dia é fundamental. E para isso, levanto cedo,
acabo de arrumar mais algumas coisas na bicicleta e vou em direção ao Mercado
Central tomar aquele café da manhã caprichado, não encontro isso em todo lugar,
portanto, tenho que aproveitar meus últimos instantes em Sucre.
Com as energias
revigoradas e bem animado, volto ao alojamento, me despeço do pessoal e sigo em
direção à Potosí, embora essa cidade não seja meu destino diário. A pretensão é
chegar em Betanzos, o caminho não é dos mais fáceis. A altitude agora começa a
aumentar em razão do Altiplano que fica mais próximo, a região tem altitudes
médias de 3.500 metros. Logo, para aliviar a ascensão entre Sucre (2.807m alt.)
e Potosí (3.939m alt.), a estratégia é seguir até Betanzos (3.318m alt.). Desse
modo, deveria pedalar, segundo minha planilha, 109 km.
Às 9h00m estou
na Ruta 5. Do centro de Sucre até a rodovia são aproximadamente 4 km. O caminho é fácil de achar, inclusive, com boas
descidas. Não demora muito e na sequencia tenho a primeira surpresa do dia.
Quase nas proximidades de Yotala, vejo duas meninas a empurrar uma barra de
concreto para o meio da pista. Estranho demais a situação e fico a me perguntar
o motivo. Quando chego mais perto, atento para ver se não existe nada que possa
furar os pneus. Penso em indaga-las pelo ato, a principio, sem sentido. No
entanto, não digo nada e nem mesmo respondo ao “hello” que elas dizem,
certamente pensaram que eu era um gringo europeu.
Pedalo mais um
pouco e começo a ver inúmeros veículos parados na rodovia. Pergunto a um rapaz
o que acontece e ele me responde brevemente que é um bloqueio mas que a minha
passagem pode ser permitida. A atitude das meninas começava a fazer sentido.
Sigo com cautela e no primeiro bloqueio, uma concentração enorme de pessoas,
incluindo, policiais. Sou autorizado a passar. A vontade era registrar o que
acontecia, mas em tais circunstâncias, o melhor a fazer é seguir e ficar longe
da confusão cujo motivo era desconhecido até então.
Sigo poucos
metros e mais bloqueio. O pessoal resolveu fechar a rodovia com galhos de
árvores repletos de espinhos. Pneus também fazem parte da barricada. Nenhum
veiculo motorizado consegue avançar para Sucre ou Potosí. A fila fica cada vez
maior, assim como o fluxo de pessoas que se deslocam à pé pela rodovia, uma
cena impressionante. Agora resolvo perguntar para alguns jovens qual o motivo
do protesto.
Com o trânsito bloqueado as pessoas seguem à pé.
Barricadas.
Tudo parado.
A mobilização
era realizada desde ontem pelos moradores de Yotala em protesto contra a
grandiosa empresa Fancesa, da indústria de cimentos. Segundo me informam, a
Fancesa explora a região e não reverte nenhuma parte do lucro para o povoado,
que agora impede a passagem dos caminhões da companhia que transitam
constantemente pela rodovia. Acontece que para chamar atenção o bloqueio atinge
todos os veículos, exceto a bicicleta. Como é bom utilizar esse meio de
transporte.
As barricadas
são inúmeras. Em algumas situações tenho que descer da bicicleta, levanta-la e
atravessar os galhos cheios de espinhos. Com o conhecimento da situação e longe
dos ânimos mais exaltados, faço alguns registros fotográficos. Pedalo mais um
trecho e agora encontro um povo reunido próximo a outro bloqueio, agora uma
gritaria toma conta do ambiente e eu busco passar bem longe do mesmo. Não
demora e polícia chega em peso para controlar a confusão. Deste ponto em
diante, vários ônibus, caminhões e carros oriundos de Potosí estão engarrafados
sem ter como se locomover.
Muitas pessoas
caminham pela rodovia e suas margens. Em um momento ouço alguém gritar; uma máquina ecológica. Olho para o lado
e um senhor acena, seu gesto é retribuído no mesmo instante. Agora tenho que
seguir em meio a um corredor curto entre os veículos que continuam a chegar de
Potosí. Várias pessoas me cumprimentam e certamente ficam indignadas em ver um
veículo mais lento poder seguir adiante. Dessa vez escuto um caminhoneiro me
dizer em voz baixa e tom de brincadeira; tem
que bloqueá-lo também. Mas neste momento estou no final do protesto e agora
posso seguir tranquilamente.
Estrada praticamente toda bloqueada.
Único espaço para seguir viagem.
Resultado: dez
quilômetros de manifestação e depois uma pista praticamente livre. A julgar
pelos veículos parados, a rodovia é bastante movimentada, não é para menos,
acesso entre duas grandes cidades, Sucre e Potosí. Com a calma na estrada, sigo
pela pista já que o acostamento é ruim, muito sujo com pedras e cacos de vidro.
Após Sucre são
20 km praticamente de descida, depois 8 km de subida e então outro trecho com
aproximadamente 20 km em declive na maior parte. Ciente que nos Andes todo esse
trecho de pedalada fácil seria revertido em subida, nem me preocupo e busco
aproveitar as descidas sensacionais, adrenalina a mil. Em um primeiro momento,
chego facilmente a 70,94 km/h, velocidade máxima da viagem. Adiante, mais
descidas me esperavam e enquanto me desloco rapidamente por elas com atenção
redobrada na estrada, não percebo a velocidade aumentar sem nenhum esforço de
minha parte. Quando olho rapidamente para o velocímetro, o mesmo já marca 71
km/h. Com as curvas pelo caminho, puxo os freios aos poucos e continuo a
descida. Um acidente a essa velocidade não seria nada bom.
Descidas alucinantes.
Divisa entre os departamentos de Chuquisaca e Potosi
Uma ponte realmente diferente.
In foco.
Victoria
In foco.
Me perguntaram sobre o bloqueio e seguiram em frente. Detalhe para o frango na mão da mulher à esquerda.
Uma foto antes de descer mais um pouco.
Distâncias.
Antes do término
da descida faço uma parada para tirar uma foto da anunciada subida que tem pela
frente. Neste momento, verifico o velocímetro e tenho uma surpresa, a
velocidade chegou a 74,45 km/h, um novo recorde nesta expedição. Quase cheguei
ao meu recorde de todos os tempos que foi de 81 km/h na serra de Ouro Branco/MG
em 2010. Vale lembrar que o risco de acidentes sempre existe, independente da
velocidade, no entanto, a prudência está presente. A qualquer sinal de curva,
desnível, buraco, animais ou veículos, a velocidade é logo controlada. Neste
caso de hoje, não havia movimento e a condição do asfalto era boa. Tudo nos
conformes, hora de seguir.
Com o café da
manhã reforçado, resolvo que não vou almoçar para economizar e ganhar tempo na
subida. Acredito ter energia suficiente para encarar um grande aclive. Até
existem restaurantes pelo caminho, o povoado de Millares pode ser uma opção se
você precisar almoçar pela região.
Nas montanhas
uma vegetação rasteira predomina. Acredito que o clima seco não favoreça uma
flora mais diversificada. Chuvas pela região nesta época não são frequentes e
vários rios pelo caminho estão completamente sem água. O sol é bem forte, mas a
temperatura não se eleva muito na tarde de hoje, contudo, resolvo tirar a
segunda pele para não perder muito liquido na transpiração. Afinal, uma subida
das fortes pela frente.
Rio sem água, normal nesta época.
Com tanta
descida nos quilômetros iniciais, lógico que uma hora teria que subir, não
havia esquecido que Betanzos estava a 3.318 metros de altitude. No quilometro
68 da estrada, uma placa avisa sobre a subida. Apesar de vários dias nos Andes,
é muito difícil decifrar seus caminhos, muitas vezes a curva está 50 metros na
sua frente e você simplesmente não sabe em qual direção ela vai. E dessa vez eu
não conseguia visualizar, em um primeiro momento, para onde a subida iria me
levar.
Se prepara que o trecho é íngreme.
No começo meu
referencial era uma antena bem no alto da montanha, suspeitei que a estrada
passasse por ela. E para chegar lá seria uma longa jornada. A velocidade que
minutos atrás chegou à casa dos 70 km/h, agora era reduzida para meros 6 km/h.
Isso é pedalar nos Andes meus amigos.
A subida é muito
íngreme e chegou um determinado ponto que foi possível visualizar sua extensão,
algo não muito animador, era demasiadamente inclinada. Na Cordilheira dos Andes
é preciso estar atento com qualquer sinal emitido pelo seu corpo. Os males da
altitude são traiçoeiros. Chegou um momento da subida que por precaução parei
para descansar debaixo de uma árvore com a finalidade de retomar o fôlego. Com
o ar rarefeito a respiração fica mais difícil. Devo ter ficado meia hora
parado, comi algumas bolachas, hidratei, registrei dois pássaros diferentes e
voltei a encarar a subida.
Cara de quem diz: Não é nada fácil.
Pássaro com topete.
A cada trecho
superado, outro aparecia após curva atrás de curva. Um enorme desafio. Durante
as paradas, rápidas e frequentes, registro a evolução da subida que fica
evidente com a ponte no horizonte que torna cada vez mais distante. Às vezes eu
tirava a foto por pensar que já estava no topo, puro engano. Em uma curva bem
fechada e já bem no alto, um senhor me avisa que estou apenas na metade da
subida. Parecia inacreditável.
Avanço um pouco
mais e vejo uma mulher sair do matinho, certamente foi utiliza-lo como banheiro
natural. Em um primeiro momento ela acena e eu faço o mesmo. Depois ela insiste
a me chamar por rapaz (em italiano) e pergunta se sou italiano, que maravilha,
outra nacionalidade no currículo. Quando completo a curva vejo que dois
veículos estão estacionados às margens da rodovia em um trecho que é possível
observar um bom trecho da longa subida que acabara de percorrer.
O pessoal fica
surpreso e admirado a me ver de bicicleta naquela altitude. A mulher do matinho
diz; é brasileiro (em italiano). Todos vêm em minha direção para me
cumprimentar e saber mais sobre a viagem. Ficam impressionados que eu ainda
tenha fôlego para conversar. Eram todos italianos de passagem pela Bolívia.
Logo me trouxeram água e banana, claro que não recusei. Meu estoque de água não
estava no fim, mas foi bom para completa-lo. Tiramos algumas fotos e
conversamos um pouco. Neste momento tenho conhecimento que estou a 3 mil metros
de altitude. E estava realmente na metade da subida, que maravilha. Os
italianos conheciam Foz do Iguaçu, falaram muito bem da terra das cataratas.
3 mil metros de altitude. Metade da subida.
Registro fotográfico com os italianos.
Despeço-me dos
italianos e sigo para completar o resto da subida. Registro cada evolução para
terem uma idéia do que é isso. Lembram-se da antena que eu tinha como
referencial? A subida foi além da área onde ela estava instalada. Após quase 13
km em plena ascensão em nível extremo, chego ao final da subida por volta das
17 horas. Na minha frente o início do altiplano. Pedalei por alguns quilômetros
em um trecho plano com poucas montanhas à minha frente. Conseguia empregar um
ritmo de 25 km/h até começar o vento contra.
Cada vez mais alto.
Cada vez mais alto.
Bem-vindo ao altiplano.
Então tive que
administrar mais esse obstáculo, o vento que deixava a sensação térmica ainda
mais baixa. Escurece um pouco mais tarde nessa região e o sol vai embora por
volta das 18 horas. Tenho que pedalar mais uma vez de noite, faltavam de 10 a
15 quilômetros e ficava cada vez mais frio, eu apenas com a camisa de ciclismo.
Minha segunda pele estava molhada por causa do suor e inviabilizava sua
utilização. Meu corta vento não estava de fácil alcance e se eu parasse de
pedalar para pega-lo meu corpo iria esfriar e seria bem pior. Então resolvo
enfrentar as baixas temperaturas.
Durante o
caminho final, poucas descidas e algumas subidas entre um povoado e outro, mas
nada de chegar a Betanzos. Meu farol iluminava bem a estrada que agora não tem
precipícios ao redor. Minha única opção é seguir sem parar com a intenção de
manter o corpo aquecido. Finalmente vejo luzes que provavelmente indicam a
cidade onde pretendo chegar. Contudo, demoro muito tempo para alcançar o local
desejado.
Estou na entrada
da cidade às 19h30m quando peço informações e me dirijo ao centro em busca de
alojamento. Nas ruas as pessoas estão empacotadas de roupa. E apesar da
temperatura baixa, ainda consigo suportar o frio. Um rapaz me indica uma
hospedagem, mas na mesma rua acabo por ir à outra. Alojamiento Copacabana. A
diária é barata, pouco mais de seis reais. Entretanto, é a primeira hospedagem
que não tem chuveiro disponível. Eu não me importei, nem queria tomar banho
mesmo. (risada sacana)
No alojamento,
outro fato inusitado, pergunto para a senhora que me atende sobre água potável
disponível. Ela se dirige a uma torneira, abre e não sai uma gota. Pede para
que eu espere um momento, vai até a cozinha e volta com uma jarra, vazia. Então
ela abre um desses latões de petróleo, enche a jarra e normalmente me entrega.
Completo duas garrafas e agradeço. Claro que não tomei aquela água, mas
utilizei para cozinhar. Temos que aproveitar tudo. A água que sobrou do pedal
eu usei para fazer um suco, assim meu jantar estava completo. O prédio tem três
andares e meu quarto é no último piso, logo a Victoria ficou no térreo.
Novamente adoto o mesmo esquema, tiro as coisas de valor e as levo para o
quarto.
O dia foi
cansativo e finalizado com 113 km em 8h23m e velocidade média de 13,53 km/h.
15/08/2012 - 38°
dia - Betanzos a Potosí
Como chegar aos
4 mil metros de altitude? Pedalar 40 quilômetros de subidas, simples.
Agora é comum,
todos os dias, às 6 horas da manhã eu acordo naturalmente, não tem erro.
Despertador é indispensável. Apesar da pouca distância entre Betanzos e Potosí,
aproximadamente 45 quilômetros, decido sair cedo para chegar por volta do meio
dia no meu destino. A estratégia era chegar cedo e poder procurar, com calma,
um lugar para ficar. Potosí é uma das cidades onde já havia planejado ficar de
2 a 4 dias, portanto, minha hospedagem deveria ser boa e barata. A cidade tem
mais de 150 mil habitantes, logo, chegar tarde não seria nada conveniente.
Betanzos vista da janela do quarto do alojamento.
Às 8 horas da
manha já estou na estrada em direção à Potosí, cidade que se encontra a quase 4
mil metros de altitude. Então eu já esperava por alguma montanha surpresa pelo
caminho que elevasse a tal altitude. Nos quilômetros iniciais a surpresa foi
outra, duas boas descidas. Também foram as últimas até chegar a Potosí.
Fica a dica, papito!
Distâncias.
Após as duas
descidas foram aproximadamente 40 quilômetros de subida. Durante todo o trajeto
nenhum aclive mais acentuado, no entanto, a inclinação é progressiva e em
alguns momentos parece que você nem está em uma subida, salvo pela velocidade
baixa e a descida nítida quando se olha para trás. O vento contra novamente
aparece e a velocidade média é baixíssima. O movimento na estrada aumentou,
possivelmente não havia mais bloqueios em Yotala. Com o fluxo de veículos, sou
obrigado a pedalar somente no acostamento, que continua ruim, muitos cacos de
vidros.
A paisagem não
muda muito em relação ao dia interior, com exceção a uma aparente pedreira em
Don Diego, onde o movimento de caminhões e máquinas era maior. Na região também
fotografei uma bicicleta bem estilosa. É sempre muito bom presenciar esse meio
de transporte, sobretudo, em áreas remotas. Viva a expansão das bicicletas.
Fica a dica, papito!
Região de Don Diego.
In foco.
Região de Don Diego.
Vintage.
Formas diferentes
Realidade de uma região inóspita.
Por volta do
meio dia ainda faltam dez quilômetros a fome começa a aparecer. Meu café não
foi reforçado como aquele de ontem. Hoje somente as bolachas e chá me fizeram
companhia. Pelo menos eu tinha várias Cremositas na bagagem. Em Sucre comprei
dez pacotes para levar como garantia.
Quase na chegada
a Potosí, passo ao lado do aeroporto e não demora muito e estou em uma
bifurcação, duas entradas para a cidade. Sou informado que à esquerda (Zona
Tickaloma) é o caminho mais curto para se chegar ao centro, que por sua vez, está
a sete quilômetros de distância. Essa última parte é cruel por causa da subida
bem íngreme. Depois já é possível ver o município de Potosí. A distribuição das
casas pelas montanhas lembra um pouco a cidade de Ouro Preto em Minas Gerais.
Não por acaso ambas as cidades se desenvolveram em terrenos acidentados graças
a busca frenética de metais preciosos.
Aeroporto de Potosí.
Siga à esquerda.
Pouco depois vejo uma imponente montanha e faço uma pausa para
fotografar, suspeito que seja o famoso Cerro Rico, que concentra as igualmente
conhecidas e disputadas minas de prata que tornaram Potosí extremamente
cobiçada pelos espanhóis durante a época colonial. No caminho, encontro algumas
pessoas e a minha suspeita é confirmada, é mesmo o Cerro Rico. Os homens me
disseram que seu topo (4800 m) ainda concentra muita prata, no entanto, é
proibido trabalhar no local. Questiono o porquê e a resposta é unânime, a
montanha está no escudo da Bolívia, ou seja, é um bem inalienável do povo
boliviano que não pode ser destruído.
O magnífico Cerro Rico.
O pessoal ainda
me recomenda para ficar bem atento em relação à segurança. Não acreditar em
abordagens de pessoas que se passam por policiais. Indicam ainda uma visita ao
museu Casa de la Moneda. Durante a conversa mencionam o mundial de futebol no
Brasil e perguntam como está o país. Disse a realidade em relação às obras,
muitas estão atrasadas e que meu desejo é que tudo ocorra conforme o planejado.
Agradeço as dicas e sigo.
Agora tenho uma
descida final em direção à Potosí, ou seja, estava a mais de 4 mil metros de
altitude, já que a cidade está a 3.939 metros. A cidade não é das mais bonitas,
mas é bem movimentada. Pedalo um bom trecho de paralelepípedos antes de chegar
ao centro, inclusive, tenho que encarar mais algumas subidas. Pergunto várias
vezes como chegar à Calle Junin, onde está localizado o Hostel Koala Den, muito
recomendado pelos amigos cicloturistas Ricardo e Guilherme. Quando finalmente
encontro, a notícia não é das melhores.
A diária em um
quarto individual com banheiro custa 31 reais. Dormitório compartilhado com
outras cinco pessoas 12 reais. A recepcionista me fala da internet disponível e
o café da manhã incluído. O mesmo papo que encontrei no Amigo Hostel em Sucre.
Para completar a comparação, vários gringos no local. Embora recomendado,
agradeço pelas informações e sigo em busca dos alojamentos econômicos. Andei
bastante pelas ruas estreitas e movimentadas da cidade, mas finalmente
encontrei um lugar com ótimo custo x beneficio.
Na Calle Oruro,
próximo ao Mercado Central, encontrei o Alojamiento Maria José. Diária em
quarto individual e banheiro privado por 25 reais. Sem o banheiro o valor
despenca para 11 reais. Não pensei duas vezes, resolvi ficar com a opção de
menor preço, já me acostumei com os banheiros compartilhados. Vale uma ressalva
para o atendimento exemplar do José, recepcionista. Extremamente solícito, além
de apresentar o alojamento, me fornece dicas preciosas sobre a cidade e os
passeios. Recomendo muito esse lugar, quartos e banheiros limpos a um custo
baixo. Fica a dica.
Acho que já
passa das 14 horas quando deixo minhas coisas no quarto e vou para o Mercado
Central procurar alguma coisa para comer. O mercado público é um pouco parecido
com o de Sucre, contudo, é menor e aparentemente com menos variedades. Mas,
também tem seu espaço para as refeições. O almoço, sem a sopa, saiu por pouco
mais de três reais. Com a fome, fiz questão de pedir outro prato. Satisfeito,
ando um pouco e volto para o alojamento, preciso pegar o endereço da casa de
câmbio para trocar meu dinheiro, os bolivianos acabaram.
Com o endereço
da casa de câmbio em mãos, começo uma verdadeira maratona para encontrar a Casa
Fernández na Pasaje Boulevard, n°. 10. Eles trocam reais, mas a cotação está
muito baixa, 1 real compra apenas 2,70 bolivianos. Na fronteira em Corumbá e
também em Santa Cruz de la Sierra, a moeda brasileira comprava 3,17 boliviano.
Perderia 50 reais nesse câmbio. Minha sorte é que estava com poucos dólares e
estes são bem cotados, melhor do que em Foz do Iguaçu. Com a troca de dólares
para bolivianos, lucrei 15 reais. Agora fico na esperança de achar uma boa
cotação para trocar os reais que ainda me restam. Quem sabe em La Paz o preço
esteja melhor.
Na volta para o
alojamento, escrevo esse diário por algumas horas e vou dormir. A temperatura
média anual da cidade é de 9°C., logo, não é preciso mencionar que as noites de
inverno são bastante frias. Mas o quarto tem cobertores reforçados e isso não é
um problema. Agora é hora de descansar.
Dia finalizado
com 49,45 km em 4h59m e velocidade média de 9,90 km/h.
16/08/2012 - 39°
dia - Potosí (Folga)
Acordei cedo
outra vez, hoje não era nem 6 horas da manhã e já estava de pé. Preparei um chá
após vários dias sem fazê-lo pela falta de açúcar. Não compensava eu comprar o
pacote de um quilo, seria muito peso. No entanto, ontem, no mercado público eu
achei um lugar que vende açúcar a granel, assim comprei um pouco e hoje
adicionei ao chá que foi meu café da manhã junto com as bolachas.
Depois, sentado
na cama, voltei a escrever mais no diário de bordo. Terminei apenas ao meio
dia. Na recepção, vou reservar mais duas diárias quando tenho uma ótima
notícia. O José conseguiu o passeio pelas minas de Cerro Rico com uma agência
conhecida dele, por apenas 45 bolivianos, ou seja, 14 reais, quase metade do
preço da concorrência. O valor inclui, transporte, equipamentos e guia. Amanhã
às 9 horas vou conhecer a “boca do inferno”, como Cerro Rico era chamado pelos
espanhóis no período colonial. O nome se dá em razão das condições as quais os
mineiros são submetidos, principalmente pela exposição a gases tóxicos e o
ambiente escuro e perigoso das minas que hoje, ainda em atividade, se extrai
zinco, chumbo, cobre e principalmente estanho, segundo informações do meu
livro/guia.
Ainda com
referência ao meu guia de viagem, o mesmo menciona o seguinte: “Conhecer as
minas de Cerro Rico é uma instigante aventura no lado obscuro – literalmente –
da história”. Então é isso, a reserva já está feita. Agora é esperar para ver a
realidade dos mineiros. Fui orientado pelo José a comprar folha de coca no
mercado público. São dois motivos; ao deparar-se com a realidade dos mineiros,
tornou-se um costume entregar-lhes folhas de coca para amenizar os efeitos da
altitude. Existe também uma crença entre os trabalhadores do local. Eles
acabaram criando uma divindade conhecida como Tio Supay; “A sua imagem surgiu
da unificação da figura de Huari – deus do interior das montanhas – com a do
diabo, que na religião católica vive abaixo da terra, um exemplo do sincretismo
religioso boliviano. Em busca de proteção no trabalho, os mineiros fazem
oferendas com álcool, cigarros e folhas de cocas para o Tio Supay”.
O José me avisou
que no Mercado Mineiro, pouco antes da entrada de Cerro Rico e cuja parada no
local é realizada pelas agências, eles vendem um saquinho de folha de coca por
20 bolivianos. No mercado público comprei a mesma quantidade por 5 bolivianos,
pouco mais de um real. Vale lembrar que a folha de coca é bem consumida na
Bolívia e Peru, eventualmente são mascadas ou preparadas em chá para evitar os
sintomas da altitude; dor de cabeça, tonturas e desmaios. Não se pode comparar
com a cocaína. Para chegar a esse estágio (droga) são misturadas outras
substâncias à folha de coca.
Folha de coca comprada para os mineiros de Cerro Rico.
In foco.
Agora ao meio
dia voltei para almoçar no mercado público. Hoje pedi o menu completo, sopa e o
segundo prato, quase 4 reais. Depois passei em um local, ainda no mercado, onde
eles preparam vitaminas. Dois copos grandes de leite com banana por apenas 1
real. Gostei e amanhã cedo, antes de ir à Cerro Rico, vou passar lá para
reforçar o estômago, afinal, a visita às minas dura de 4 a 5 horas.
Hoje quero ver
se consigo atualizar o site. Amanhã cedo quero conhecer Cerro Rico e de tarde a
Casa de la Moneda, um importante museu boliviano. No sábado vou até a Laguna
Tarapaya que fica a 22 km de Potosí. E talvez no domingo eu siga para Uyuni. A
próxima parada está programada para La Paz, onde devo ficar ao menos cinco dias
para conhecer a cidade antes de ir ao Lago Titicaca e posteriormente atravessar
a fronteira para o Peru.
No mais, quero
dizer que estou muito feliz. A viagem está maravilhosa e tenho recebido muito
apoio, seja na divulgação do site, mensagens positivas, incentivos ou ainda
contribuições financeiras. A viagem tem tomado proporções inimagináveis e isso
não me assusta, muito pelo contrário, me sinto cada vez mais animado para
seguir em frente. Portanto, meu sincero agradecimento a todos.
Observações:
- Não deixe de fazer seu comentário aqui no site. Não é preciso ser cadastrado, basta colocar seu nome e escrever sua mensagem, que certamente, será muito bem-vinda.
- Outra questão: Se alguém tiver dúvida sobre alguma coisa que eu não esteja a escrever, entre em contato e me avise também. Quero poder compartilhar ao máximo essa viagem com vocês.
- E por fim, desculpe possíveis erros gramaticais. Escrevo geralmente de noite e cansado. Apesar das revisões antes da postagem, alguma coisa pode sair errada. Se você identificar algo assim, me comunique para que eu possa fazer a correção.
Muito obrigado.
Hasta luego.
17/08/2012 - 40°
dia - Potosí (Folga)
Crie as
oportunidades e aproveite ao máximo, é o que eu sempre digo. E hoje foi mais um
dia inesquecível. Tive a grande felicidade em conhecer as minas do secular
Cerro Rico. Uma experiência extraordinária, como tem sido a expedição pela
América Latina.
Acordei
naturalmente por volta das 6h30m, no entanto, dessa vez o despertador do
celular estava ativado, não queria perder a hora em hipótese nenhuma, uma vez
que a guia da agência (Braniesca Tours) iria passar por volta das 8h30m para
seguirmos em direção à visita ao Cerro Rico. Assim que acordei preparei um chá
e comi alguns pães comprados no mercado público no dia anterior. Mas não foi o
suficiente para saciar a fome. O José (recepção) havia me orientado a ir ao
passeio bem alimentado, já que o mesmo tem a duração de 4 a 5 horas. Então sigo
para o Mercado Central que fica perto do alojamento, contudo, é muito cedo e
ainda está fechado, descubro que somente a partir das 8h30m estará aberto.
Paciência.
Ando por algumas
ruas no centro em busca de padarias ou estabelecimentos em que seja possível encontrar
algo para comer. Infelizmente não tenho sucesso, volto para o alojamento e
preparo mais um chá na intenção de enganar a fome. Depois vou esperar a guia no
pátio da hospedagem, aproveito para ficar um pouco no sol. Aqui em Potosí é
possível sentir o inverno rigoroso dos Andes. Tenho me agasalhado bem e ainda
assim parece não ser suficiente. Durante o final da tarde e começo da noite são
os horários mais críticos, o vento faz despencar a temperatura que chega próximo
a zero grau.
Às 8h45m a guia
aparece no alojamento e acompanho-a até a agência. Durante o caminho ela
explica sobre o passeio e que no grupo estão duas chilenas e um francês. Ainda
me conta um pouco a respeito da história de Potosí que remonta ao século XVI.
Na modesta agência me encontro com os demais integrantes do passeio e também
com o Carlos que será nosso guia. Ele é um mineiro experiente, mais de 30 anos
de trabalho em Cerro Rico, logo, espero que seu conhecimento seja compartilhado
durante a visita.
Na agência,
somos orientados a colocar uma roupa específica para entrar na mina. Na verdade
é uma jaqueta e calça impermeáveis que servem mais para não sujar as demais
vestimentas. Também recebemos uma bota e capacete com lanterna, sem esses últimos
equipamentos fica muito difícil o acesso ao interior do Cerro Rico.
No carro da
agência seguimos ao mercado El Minero, onde os mineiros compram seus materiais
de trabalho, ou seja, explosivos e equipamentos de segurança. Eles também fazem
refeições reforçadas no local. O Carlos nos explica que antes de começar a
jornada de 8 horas de trabalho, os mineiros se alimentam em casa ou no mercado,
já que no interior das minas é proibido fazer refeições.
Vale mencionar
um fato inusitado. Na chegada ao mercado, uma mulher pergunta se eu sou o
ciclista brasileiro que está pedalando pela América. Surpreso, respondo que sim
e demoro alguns instantes para identificar a pessoa. Na verdade, quem me
reconheceu, mesmo sem a roupa de ciclista, foi uma das mulheres italianas que
encontrei no caminho entre Sucre e Betanzos. O restante do pessoal estava a
sair do mercado e também iria realizar a visita às minas com outra agência.
Cumprimentei todos, conversamos um pouco e nos despedimos. Esse mundo é mesmo
pequeno.
No mercado, somos
orientados a comprar alguns regalos aos mineiros. Eu já tinha conhecimento
dessa prática e fui precavido, levei o saquinho de folha de coca, comprada no
dia anterior. No mercado eles acabam por fazer um kit que cada visitante entrega
aos trabalhadores. Além das folhas de coca, tem bolacha, cigarro, um frasco que
contém um líquido com 95% de álcool e refrigerante. Então tive que comprar uma
garrafa de dois litros de soda (5 bolivianos) enquanto o restante do grupo
adquiriu o kit completo, um frasco com álcool foi suficiente para todos.
Claro que antes
de comprarmos os regalos, nosso guia nos explicou a importância dessa prática
no cotidiano de quem trabalha nas minas. A começar pela folha de coca,
esclareceu que existem plantações em La Paz e Cochabamba, a oriunda da primeira
cidade é menor e mais doce, é a preferida entre os mineiros. A proveniente de
Cochabamba é mais amarga e utilizada para fazer cocaína, no entanto, ela é a
mais consumida entre os moradores locais, não enquanto droga, é bom ressaltar.
Ambos os tipos você encontra no Mercado Central. Se eu não me engano, comprei a
mais amarga, não tem problema, os trabalhadores aceitam da mesma forma.
Reunidos em
circulo, Carlos nos mostra as diferentes folhas de coca e propõe que cada um
experimente masca-la, não da mesma forma que um chiclete, ela fica no canto da
boca, entre a bochecha e os dentes. Junto com ela nos mostra um caramelo que
adicionado à folha de coca deixa o corpo ainda mais anestesiado. Cada
visitante, incluindo eu, mascou a folha com um pequeno pedaço de caramelo. A
folha de coca de La Paz é realmente doce e o gosto não é ruim, no começo não
senti nenhuma diferença, minutos depois notei a língua ficar um pouco
adormecida.
As oferendas à Pachamama e Tio Supay
In foco.
A utilização da
folha e o caramelo pelos mineiros é que essa combinação faz com que o corpo
sinta menos o impacto da difícil jornada de trabalho no interior das minas.
Após quatro horas de trabalho eles fazem uma pausa e ao invés da refeição,
aproveitam para mascar mais folha de coca e assim aguentar mais quatro horas de
labuta pesada.
O refrigerante é
misturado com o liquido que tem uma porcentagem de quase 100% de álcool,
“borrachos”, ou seja, bêbados, eles também conseguem suportar melhor as
condições de trabalho que estávamos prestes a conhecer.
O cigarro que vem
no kit é uma oferenda ao Tio Supay, divindade criada pelos mineiros, mencionei
no relato de ontem. Carlos nos explica que estamos a conhecer uma realidade
diferente e que contém uma série de rituais. Para além dos cigarros, o Tio
também recebe folhas de coca e a mistura entre refrigerante e álcool. A mãe
natureza, conhecida aqui como Pachamama, também recebe sua oferenda. Todo
mineiro ao sair de casa, pega um punhado de folha de coca, assopra três vezes e
oferece à Pachamama. Essa cultura é um pedido de proteção e permissão para
trabalhar nas minas.
No mercado ainda
somos apresentados aos produtos explosivos utilizados nas minas, dinamite e
nitrato de amônio, combinação para fazer um grande estrago. Aqui eles são
comercializados facilmente, sem restrições.
Após as
explicações no mercado, nos dirigimos ao magnifico Cerro Rico que não fica
muito longe. Logo na entrada, na base da montanha, uma placa avisa que estamos
na Corporacion Minera de Bolivia a
uma elevação de 4.150 metros de altitude. Continuamos a subir por mais alguns
metros e finalmente descemos do carro, colocamos o capacete com a lanterna e
seguimos à Mina São Miguel, a 4.200 metros de altitude.
Mercado El Minero à esquerda e a frente o Cerro Rico.
Bem-vindo ao Cerro Rico.
Corporacion Minera de Bolivia
Seguridad.
Cerro Rico.
No caminho já é
possível presenciar o trabalho externo dos mineiros, que não parece nada fácil.
Em carriolas, aparentemente muito pesadas, eles carregam o material separado e
extraído do interior das minas, a poeira toma conta do local. Com essa primeira
impressão já é possível entender o porquê a folha da coca é largamente consumida
por eles.
Trabalho externo em Cerro Rico.
Trabalho externo em Cerro Rico.
Trabalho externo em Cerro Rico.
Trabalho externo em Cerro Rico.
Últimos preparativos antes de entrar na "boca do inferno".
As chilenas, o francês e o brasileiro aqui.
Agora, diante da
“boca do inferno”, como as minas eram conhecidas pelos espanhóis na época
colonial, fazemos o ritual à Pachamama e ao Tio com as folhas de coca e a
mistura entre refrigerante e álcool. Após oferecer um pouco do liquido à mãe
natureza é a vez de cada um tomar um gole. Eu apenas finjo ingerir o líquido,
álcool é demais para mim, espero que Pachamama compreenda meus motivos.
"Boca do inferno"
Entrada na mina São Miguel.
Cerro Rico
contém mais de 40 cooperativas e 12 mil mineiros que trabalham em 200 minas
pela extensão da montanha. São números realmente bem expressivos. Nós iremos
conhecer a Mina São Miguel e apesar do nome, somos advertidos que no interior
da mesma não podemos falar o nome de Deus ou Jesus Cristo, afinal o Tio Supay é
a unificação entre o deus interior das montanhas e o diabo, logo, é
compreensivo o motivo da recomendação. Inclusive, somos incentivados a falar
nomes de baixo calão. Bem-vindo à outra realidade e tenha a mente aberta para
conhecer novas culturas e histórias.
Na entrada da
mina descobrimos que a visita não é para qualquer pessoa. O ambiente é
estreito, escuro e com muita poeira. Começamos a descida por uma escada, não
demora muito e estamos a caminhar pela mina, ou pelo menos, tentamos. Em muitos
trechos a passagem e o avanço só são possíveis se agacharmos.
Pelo caminho
começamos a encontrar os primeiros mineiros, jovens, adultos e idosos com suas
ferramentas em busca de minerais, de preferência, os mais valiosos. Nosso guia
então separa um refrigerante e saco de folha de coca e pede que um integrante do
nosso grupo faça a entrega a um dos trabalhadores. Esse momento ocorre por mais
vezes, em todos, os agradecimentos são feitos.
Conforme
avançamos, mais fica frio, a temperatura, segundo o guia, é de 1 a 2°C. É bem
frio mesmo. No entanto, não é assim em toda a montanha, em algumas partes o
calor é constante e a temperatura chega facilmente aos 36°C. Mas, nos
restringimos à parte fria de Cerro Rico. Mais à frente nos deparamos com os
carrinhos que transportam sobre os trilhos e entre os estreitos caminhos
abertos por dinamites, os minérios que são encontrados. Neste momento temos que
redobrar a atenção para não sermos atropelados e também não atrapalhar o
serviço do pessoal.
Poeira pura.
Tubulações com
ar e água são visíveis pelo trajeto. O caminho pelas minas é repleto de pedras
e as botas são itens realmente indispensáveis, assim como o capacete, não são
raras as vezes que batemos a cabeça no teto. Os perigos estão por todos os
lados, por isso a busca de proteção ao Tio Supay. Encontramos o primeiro Tio e
paramos para fazer oferendas a ele. Durante o ritual, Carlos explica que
existem 25 Tios distribuídos pelos diferentes níveis da mina São Miguel e cada
um tem a forma, geralmente de animais, atribuída, conforme os mineradores de
cada nível. Nosso guia/mineiro acende um cigarro para Supay e também lhe
oferece bebida. O local onde cada Tio está localizado é sempre muito enfeitado
e o motivo é para que ele sinta-se sempre feliz. Não é algo preparado para
turista ver, essa é a cultura local.
Tubulações
Oferenda ao primeiro Tio Supay.
In foco.
Yo!
Tio Supay.
Ritual. Carlos acende um cigarro para Tio Supay.
Entre um caminho
e outro, nos deparamos com a realidade dos mineiros. Carlos nos conta que em
Cerro Rico é possível fazer fortuna ou ficar pobre, pois se gasta muito
dinheiro na busca de riquezas, ele lembra que são 12 mil trabalhadores e entre
outros gastos, está o elevado custo com a dinamite. Por volta do meio dia é
possível escutar as explosões, nosso guia, com sua experiência, consegue
avaliar que as mesmas está há duzentos metros do local onde estamos. Eu que não
vou duvidar.
O duro trabalho dos mineiros.
O duro trabalho dos mineiros.
Caminhando pela mina.
Pensa que é fácil se locomover aqui?
Pensa que é fácil se locomover aqui?
A realidade dos trabalhadores na época colonial. Sem botas e capacetes. A marca branca na cabeça é um sinal dos ferimentos.
Representação dos escravos na época colonial.
Chegamos ao Tio
Supay com uma forma bem diabólica. Neste ponto, Carlos começa outro ritual de
oferendas. É possível notar várias folhas de coca entre a escultura e mais um
ambiente festivo. Nosso guia pede para sentarmos em algumas pedras e então nos conta
mais sobre a cultura dos mineiros e algumas festividades como o carnaval
mineiro e a festa do espirito, tudo muito rico em detalhes.
Tio Supay
Oferenda com folha de coca, álcool e cigarro.
Significado do nome Potosí.
O brilho do minério sobre nossas cabeças.
Em um espaço
aberto para perguntas, questiono como Potosí e suas inúmeras igrejas e fiéis
católicos convivem com essa crença ao Tio Supay. Carlos explica que lá fora (da
montanha) ele também é católico, mas que aqui dentro, a realidade é outra e
ele, assim como os outros mineiros, sabe que no interior da montanha as
devoções devem ser feitas para o Tio, caso contrário, as maldições dentro de
Cerro Rico não demoram a acontecer. Um claro sinal do sincretismo religioso
existente na Bolívia.
Há uma ressalva,
existem mineiros, com as mais diversas religiões fora da mina, que ao adentrarem
na “boca do inferno”, simplesmente não conseguem fazer oferendas e pedir
proteção ao Tio, essas pessoas, segundo nosso guia, não permanecem muito tempo
na mina. E logo é castigado por Supay. Crença, cada um tem a sua. Cabe a nós
respeitar.
Em um momento,
ainda sentados a ouvir as palavras de Carlos, somos convidados a refletir por
alguns minutos sobre tudo o que acabamos de conhecer. Todas as luzes dos
capacetes se apagam e ficamos em silêncio e na escuridão total. Incrível como o
ambiente muda completamente, mas ao invés de uma sensação de medo, tranquilidade,
todos os visitantes sentiram a mesma coisa. Talvez por respeitarmos os costumes
locais.
Durante a
conversa, Carlos nos menciona que é sócio em outra mina. Então pergunto como é
possível se tornar dono de uma. Então começa uma explicação sobre a hierarquia
existente no trabalho dos mineiros. Disse que as crianças, com treze anos de
idade já iniciam o trabalho nas minas. A princípio, elas são responsáveis por
deixar o trilho por onde passam os carrinhos, limpos. Com o tempo as funções
são alteradas. O cargo mais alto é exercido pelo responsável pela detonação das
dinamites e somente após sete anos de trabalho no local é que alguém pode tornar-se
proprietário de uma mina.
Questiono sobre
os ganhos e o guia/mineiro diz que daquilo que é descoberto, metade é para os
funcionários que trabalham para os sócios e a outra parte é para eles. A
cooperativa fica com 6%, o governo 3% e mais algumas porcentagens para a saúde
e educação local. Por mais de uma vez, ouço Carlos dizer que o governo não
ajuda em nada os mineiros. Apesar de ser sócio em uma mina, trabalhar na área
por mais de trinta anos e ainda possuir uma simples agência de turismo, tudo
indica que Carlos não fez fortuna em Cerro Rico, mas consegue viver
tranquilamente com seus anjos ou demônios.
Mais algumas informações. O ponto mais alto de Cerro Rico não é repleto de prata como disseram os homens que encontrei às margens da estrada no dia que cheguei à Potosí. A prata, ainda existente, se concentra mais no meio da montanha. Outra informação que Carlos nos passou ainda no carro é que Potosí tem as suas ruas estreitas em razão das baixas temperaturas. No século XVI o frio era ainda mais rigoroso e por isso suas ruas foram construídas com um espaço bem limitado.
Mais algumas informações. O ponto mais alto de Cerro Rico não é repleto de prata como disseram os homens que encontrei às margens da estrada no dia que cheguei à Potosí. A prata, ainda existente, se concentra mais no meio da montanha. Outra informação que Carlos nos passou ainda no carro é que Potosí tem as suas ruas estreitas em razão das baixas temperaturas. No século XVI o frio era ainda mais rigoroso e por isso suas ruas foram construídas com um espaço bem limitado.
As chilenas e o
francês estão bem cansados, sobretudo, as mulheres. Conseguíamos notar que
estavam ansiosas para acabar a visita, Carlos para tentar amenizar o cansaço,
lhes oferecia folha de coca, que não era recusada. Realmente não é qualquer
pessoa que pode conhecer a realidade dos mineiros. Tem que estar bem
aclimatado, afinal, estamos a mais de 4 mil metros de altitude, e com um bom
preparo físico, também é fundamental não ser claustrofóbico.
Essa formação se conserva por mais de 50 anos. Segundo Carlos, seu rompimento levará a um grande desabamento.
Emaranhado de caminhos.
Realidade do local.
Enfim, com mais
de quatro horas de passeio, seguimos para à luz no fim do túnel. Só mesmo com
um guia para poder se localizar entre o emaranhado de caminhos que existe no
interior de Cerro Rico. No lado de fora, eu estava em êxtase com o que acabara
de conhecer e queria apenas observar e registrar um pouco mais todo aquele
lugar. Que experiência magnífica, simplesmente sensacional.
De volta à luz.
De volta à
agência, devolvo a roupa e sigo para o alojamento. Depois procuro um lugar para
comer, queria experimentar algo além da comida do Mercado Central. Achei um
local que servia apenas o segundo prato; arroz, salada, batata e bife, três
reais. A curiosidade ficou por conta do garçom que pensou que eu fosse europeu
ou norte-americano, pois começou a se comunicar em inglês. No começou eu
entendi e respondi em espanhol, mas durante a refeição ele pergunta em inglês
se eu desejo mais alguma coisa. Então peço que ele fale em espanhol e só então
digo que eu satisfeito. Na hora, queria mesmo é dar risada, mas eu
compartilhava a mesa com mais pessoas. Definitivamente, eu não devo ter cara de
boliviano, ainda que descendente de espanhóis.
Esse eu recomendo.
A comida do
restaurante estava boa, mas era pouca demais e então resolvi ir comer no
mercado público. Como já era quase três horas da tarde, não tinha mais o menu
completo com sopa, somente o segundo prato que além do arroz, salada e batata,
acompanhava um pedaço enorme de frango frito. No entanto, a mulher queria me
cobrar 12 bolivianos, o preço de um almuerzo completo. Ela não esperava que eu
contestasse o preço e se enrolou toda para explicar. Na hora saquei que ela
queria mesmo é ganhar 2 bolivianos por eu ser estrangeiro. Sei que argumentei
que era brasileiro e no final das contas paguei 10 bolivianos.
Depois do
almoço, regresso ao alojamento, pego a câmera fotográfica e sigo para registrar
o centro histórico de Potosí e na sequencia vou à Casa de la Moneda,
considerada o principal museu boliviano. No meu guia/livro de 2011 diz que a
entrada é 20 bolivianos, mas o José do alojamento já me alertara que o valor
dobrara e na recepção paguei 40 bolivianos, equivalente a 12 reais, nem os
melhores museus do Brasil cobra isso, exploração total. E não para por aí, mais
20 bolivianos o bilhete que concede o direito para tirar fotos, que absurdo.
Resolvi não comprar esse bilhete.
Broasterias. São várias por toda a Bolívia.
In foco.
Nas broasterias a especialidade é frango frito. Pelo jeito, os bolivianos adoram.
Mercado Central.
Mercado Central.
Região central.
Região central.
Região central.
Região central.
Região central.
Catedral.
Plaza 10 de noviembre
In foco.
In foco.
No museu, tenho
que esperar até às 16h30m, horário de saída do último grupo. Aqui as visitas
são apenas guiadas em três idiomas disponíveis; espanhol, francês e inglês.
Durante esse tempo faço um registro fotográfico do pátio, permitido para isso.
Na hora exata a guia reúne o grupo que tem cerca de 10 a 15 pessoas, entre elas,
um casal bem simpático da Argentina, ninguém compra o tal bilhete para tirar
foto, pelo jeito não sou o único a achar o valor alto.
Casa de la Moneda.
Casa de la Moneda.
Presença na Casa de la Moneda.
Casa de la Moneda.
Casa de la Moneda.
Nossa guia nos
explica que a visita deve durar uma hora e meia. Mas esse tempo foi curto
demais para um museu que merece muita atenção. O enorme prédio teve sua obra
concluída em 1773 e abrigava a Casa da Moeda, apenas três cidades da colônia
espanhola tinham um local para processar suas moedas. Não por menos, Potosí foi
escolhida, o Cerro Rico era abundante em prata, que por sua vez, era extraída
pelos espanhóis, fundida e depois encaminhada para a Europa.
Hoje, o museu
preserva um enorme acervo histórico e artístico. Vale destacar o maquinário de
épocas distintas para a fabricação de moedas. A máquina mais antiga, construída
em grande parte de madeira e movida por animais (mulas), está extremamente bem
preservada, nossa guia explica que o clima da região ajuda a conservação. Os
fornos onde os metais eram derretidos também é impressionante, os funcionários
deste setor na época, eram delinquentes espanhóis ou indígenas, o choque
térmico entre o calor dos fornos e a temperatura ambiente não permitia que tal
pessoa aguentasse o serviço por muito tempo.
Entre as salas
com exposições de obras de arte, duas chamam mais atenção, a primeira com obras
de Holguín, um importante pintor boliviano da época colonial, seu estilo
tenebrista é impactante em suas obras, não me lembro de ter visto algo parecido
antes. Em outra sala, a guia exalta uma obra anônima, mas com enorme
significado e prestígio no mundo todo; Virgen del Cerro, marcante, entre outras
coisas, pelo sincretismo religioso na Bolívia.
O museu conta ainda
com uma sala de múmias de recém-nascidos espanhóis que foram achados em uma
igreja da cidade onde o clima ajudou para a mumificação natural. Antigamente os
espanhóis costumavam enterrar seus mortos nas igrejas, ainda hoje, muitas
igrejas de Potosí guardam restos mortais.
Uma área enorme
é dedicada aos minerais, cinco mil no total. Diversidade impressionante. O
museu é muito bom, mas peca em duas coisas, o preço alto e a visitação guiada
que é muito rápida. Existem muitas coisas para serem observadas e informações
adicionais que simplesmente não podem ser lidas em razão do tempo, isso é
lamentável em um museu. Se você estiver ciente das condições e não se importar,
vale a pena visitar.
Após um longo e
memorável dia, finalmente vou para o alojamento descansar. Amanhã quero ver se
consigo atualizar o site ou ir para a Laguna Tarapaya.
18/08/2012 - 41°
dia - Potosí (Folga)
Hoje eu acordei
disposto a revisar o diário de bordo e fazer a atualização do site. No relato
eu fiquei até o meio dia para revisar e acabar de escrever. Na hora do almoço
vou até a recepção reservar mais duas diárias, fico em Potosí até segunda-feira
de manhã. Fiquei um bom tempo a conversar com o José que é estudante de Turismo
e filho dos proprietários do alojamento. Isso explica o bom atendimento.
Durante a
conversa, José me recomenda ir hoje para as águas termais da Laguna Tarapaya,
aos domingos o movimento é grande e as águas límpidas acabam por ficar escuras.
Então, almoço e resolvo ir pegar o ônibus que leva até Tarapaya, 22 km de
Potosí. Quando pergunto ao José sobre os ônibus descubro que o ponto final e
onde devo descer é em Miraflores, onde existem algumas banheiras de águas
termais, algo que eu não pretendia conhecer. Segundo ele, a Laguna fica no meio
do caminho e é preciso subir uma montanha e não existe ninguém para acompanhar
durante o difícil acesso. Na mesma hora resolvo não ir à Tarapaya. Aproveito
esse acontecimento para ficar em Potosí e assistir ao desfile que acontece nas
ruas do centro.
Mini Ch´utillos 2012
Los Mineritos.
Los Mineritos.
Los Mineritos.
Los Mineritos.
Los Mineritos. Detalhe para as dinamites, álcool e cigarros.
Los Mineritos. (hora do intervalo)
Los Mineritos. (hora do intervalo)
O desfile que
acontece durante o mês de agosto é em homenagem a San Bernardo e acontece em
algumas etapas. Hoje foi realizado o desfile das crianças, a maioria de 5 a 7
anos no máximo, eu acho. Simplesmente foi uma das coisas mais bonitas que eu já
tive a oportunidade de ver na minha vida. E novamente pareceu que as lágrimas iriam
rolar no meu rosto. A viagem tem me deixado muito emotivo.
Foi fantástico
ver as crianças com vestimentas típicas, cores fortes e vibrantes deixavam a
rua com uma intensidade impar. Cada escola desfilava com seus alunos, estes
eram seguidos por uma banda que ditava o ritmo que os pequenos caminhavam ou
dançavam na companhia de suas professoras. As crianças eram atentamente
observadas pelos pais e por várias pessoas que se espremiam na calçada para
acompanhar o desfile.
Trajes típicos.
Trajes típicos.
Trajes típicos.
Trajes típicos.
Trajes típicos.
Trajes típicos.
Trajes típicos.
Trajes típicos.
Trajes típicos.
Trajes típicos.
Trajes típicos.
Trajes típicos.
Trajes típicos.
Cada escola é acompanhada por uma banda.
Acompanhei essa
bela festividade popular por várias ruas da região central e tentava registrar
ao meio da multidão, essa cultura riquíssima. Fiquei admirado de verdade, tinha
muita gente, pessoas de povoados próximos também estavam presentes. E o desfile
que começou por volta das 10 horas da manhã só terminou às 17 horas. Hoje
Potosí estava em festa e que festa.
Multidão na região central.
Multidão na região central.
Intervalo.
Desfile na rua do alojamento que estou hospedado.
Desfile na rua do alojamento que estou hospedado.
Trajes típicos.
Trajes típicos.
In foco.
De noite fui
comprar comida para os próximos dias na estrada. Vou para uma região bem
inóspita e extremamente fria, diga-se de passagem, além do salar de Uyuni,
passarei pelas lagunas Verde e Colorada. Não sei bem a situação das estradas,
mas irei me informar melhor na cidade de Uyuni, onde devo chegar na próxima
terça-feira. Portanto, é importante estar com uma boa reserva de mantimentos.
Entre eles, um pote de geléia para comer com pão, a combinação me pareceu muito
boa, sem falar que pão é fácil de comprar e não pesa muito.
19/08/2012 - 42°
dia - Potosí (Folga)
Hoje o dia foi todo destinado a atualizar o site. Foram mais de 10 horas na lan house para poder compartilhar fotos e relatos. Os últimos dias foram maravilhosos e deveriam ser devidamente relatados e acompanhados pelos registros fotográficos.
Amanhã sigo para Uyuni, devo pedalar alguns dias pela região do maior deserto de sal do mundo antes de seguir para La Paz, onde provavelmente eu faço a próxima atualização no site.
Abraço a todos.
Hasta luego.