sexta-feira, 22 de março de 2013

Brasil II

16/03/2013 - 251° dia - Santa Cruz de Mapure (Venezuela) a Pacaraima/RR (Brasil)
De volta ao Brasil após quase oito meses. Emoção praticamente indescritível.

Últimos dias na Venezuela: Leia Aqui!
A madrugada no acampamento indígena foi sem dúvida uma das piores da viagem. Isso porque os jovens moradores da comunidade passaram a noite toda bebendo ao lado do quiosque onde eu estava. Fui conseguir cochilar somente por volta das 4 horas. Antes desse período fiquei o tempo todo atento a qualquer movimento estranho.
Acordado no interior da barraca eu escutava, involuntariamente, a conversa quase sem sentido daquelas pessoas que se embriagavam. A todo instante era possível ouvir uma nova lata de cerveja sendo aberta. Mais lamentável do que isso foi ouvir uma “amiga” dizendo à outra; não quer aprender a fumar? A frase me fez refletir sobre as verdadeiras amizades. Acredito que um amigo que deseja seu bem jamais apontaria um caminho deste tipo. A outra pessoa, um pouco mais sensata, respondeu; nunca!
Também conseguia identificar que em determinados momentos alguém solicitava para diminuir o volume da música porque tinha um gringo “dormindo” na barraca. Mas a advertência era ignorada e a festa continuava sem nenhum respeito pelas outras pessoas. Comecei a pensar que certamente eu não era o único a ter dificuldades para dormir, afinal, havia outras casas ao redor do quiosque, contudo, ninguém se manifestou contrário àquele barulho inconveniente.
Após cochilar quase duas horas, acordei naturalmente por volta das 6 horas da manhã. Para a minha surpresa, os baderneiros ainda continuavam bebendo do outro lado da rodovia. É realmente lamentável saber que a droga do álcool está presente em todos os lugares, até mesmo aqueles mais remotos.
Desmontei acampamento rapidamente, degustei meu simples desayuno e às 7 horas estava preparado para começar a pedalar. Gostaria de registrar a parte externa do quiosque, mas com aquelas pessoas do lado de fora achei melhor fotografar apenas o interior do local. Vale a pena destacar que, de modo geral, os indígenas são amistosos e não negam ajuda, contudo, tive a infelicidade de ter estar no lugar errado. 
 
Acampamento em território indígena.
A notícia boa em meio a toda essa situação é que eu estava prestes a começar o último dia de pedal na Venezuela, afinal, Santa Elena de Uairén estava a menos de 50 quilômetros de Mapure. Desta vez dificilmente eu não atravessaria a fronteira para retornar ao meu país.
O dia amanheceu bonito e o sol mais uma vez brilhava forte. O caminho estava aberto para que meu avanço final em território estrangeiro fosse concluído. Mas, para variar, havia uma última série de subidas íngremes. Elas apareceram após a passagem pela Quebrada de Jaspe, que por sua vez, está somente há quatro quilômetros de Mapure. 
  
A beleza da savana durante a subida.
  
Mais uma vez em direção aos céus. Aclive após a Quebrada de Jaspe.
Os aclives após Jaspe não me pegaram de surpresa. Ontem, logo quando cheguei na comunidade indígena onde passei a noite acordado, um senhor me avisou sobre as subidas da região, contudo, também mencionou que na sequencia tinha um bom trecho de montanha abaixo e que posteriormente o trajeto continuava plano até Santa Elena. E realmente as informações se mostraram verdadeiras.
A subida após a Quebrada de Jaspe foi uma das mais íngremes que enfrentei na Gran Sabana. A inclinação muitas vezes fez o velocímetro marcar apenas 4 km/h durante o aclive desgastante. Minha transpiração excessiva era parecida com aquela de quem corre debaixo do sol do meio dia em pleno verão.Tenso!
No topo da montanha o visual foi espetacular. Ainda restavam mais alguns quilômetros em solo venezuelano, mas aquele momento serviu como despedida, afinal, a expedição no exterior foi predominantemente nas alturas. Foram cinco meses somente na Cordilheira dos Andes, ou seja, conquistar aquela ascensão e observar toda a grandeza da Grande Savana foi um momento especial e quase indescritível.

Paisagem no topo da montanha. Momento de contemplação.
 
O tepui mais bonito visualizado na estrada.
Enquanto registrava a beleza da savana do alto da montanha, pude observar a chegada de dois ciclistas ao topo. Cumprimentaram-me rapidamente e seguiram com o treinamento em um ritmo forte. Eu continuei meu caminho em direção à Santa Elena. Desta vez a descida generosa era um bônus pela conclusão do esforço anterior. Como é bom sentir o vento na cara e a incomparável sensação de liberdade. 
 
Ciclistas de Santa Elena de Uairén 
Após a descida o relevo se apresentou plano, uma raridade na savana. Aproveitei para empregar um ritmo mais forte já que os fatores climáticos ainda estavam tímidos e se não me ajudavam muito, pelo menos não atrapalhavam. Seguia tranquilamente quando aqueles dois ciclistas passaram a me acompanhar. Claro que diminuíram a velocidade para manterem uma rápida conversa. Fiquei surpreso ao saber que eram de Santa Elena e que a cidade, apesar de pequena, tem vários adeptos do esporte. Antes de seguirem para a conclusão do treino, eles confirmaram que eu encontraria leves inclinações somente um pouco antes de chegar ao município em questão.
 
A descida e a parte plana no horizonte. 
 
Comunidades indígenas
O trajeto plano se manteve praticamente até a cidade de Santa Elena de Uairén, algumas subidas realmente surgiram, mas foi tranquilo completa-las. Com 47 quilômetros pedalados eu estava onde desejava e que já era visualizada no horizonte. Várias placas desejam boas vindas ao último município venezuelano antes da fronteira com o Brasil.
 
Chegada à Santa Elena de Uairén. 
 
Santa Elena de Uairén
O perímetro urbano de Santa Elena de Uairén não demorou a aparecer e continuei por ele vários quilômetros. A cidade é pequena, mas é muito maior e agradável do que eu imaginava. Não cheguei a pedalar pela região central, no entanto, encontrei tudo que um viajante, eventualmente, pode precisar, ou seja, o local pode facilmente servir como um ponto de apoio. Como eu não necessitava de nada, apenas segui a orientação das placas em direção à fronteira.
 
Perimetro urbano de Santa Elena de Uairén. 
Os ciclistas que encontrei na estrada afirmaram que eu não precisava pagar nenhuma taxa para deixar o país, mas ainda assim eu continuei com os 100 bolívares na carteira, caso a utilização não fosse necessária eu trocaria em Pacaraima, já no lado brasileiro, onde me disseram que também realizavam o câmbio das moedas.
Santa Elena estava bastante movimentada, sobretudo, com a presença de brasileiros que se deslocam ao local para realizarem compras e abastecerem os veículos, a maioria destes era de Boa Vista ou Manaus, sinal que a economia deve realmente valer a pena. Vale destacar que muitos comerciantes brasileiros têm estabelecimentos na cidade. Facilmente encontram-se fachadas em português ou com a bandeira do Brasil.
Na saída da cidade, debaixo de um sol escaldante, quase ao meio-dia, fui abordado por um vendedor de sorvete que caminhava com seu carrinho na busca por clientes. Ele perguntou se eu queria um helado, mas instantaneamente mencionei que estava sem dinheiro, contudo, ele replicou dizendo que estava me presenteando e que eu poderia pegar qualquer um do carrinho que teve sua tampa aberta para a minha escolha. Fiquei realmente surpreso com a atitude e sem pensar duas vezes peguei um picolé sem importar com marca ou sabor. Agradeci o vendedor que ainda me parabenizou e desejou boa viagem. A hospitalidade e generosidade do povo venezuelano me acompanharam até o final da minha estadia no país. Muchas gracias, hermanos.
A minha planilha indicava que de Santa Elena até a fronteira ainda restavam 13 quilômetros, todavia, eu não tinha conhecimento de qual ponto da cidade o Google Maps se baseava. E certamente não foi do início do perímetro urbano, pois a distância em questão foi um pouco maior e somente quase 20 quilômetros depois apareceu a aduana venezuelana.
A imigração do lado venezuelano estava fechada para o almoço e abriria somente às 14 horas, ou seja, eu deveria esperar 1h30m para registrar a minha saída do país, garantir mais um carimbo no passaporte e finalmente voltar ao Brasil. Durante esse tempo de espera observava o movimento de veículos no local. Os brasileiros que somente se dirigem à Santa Elena não precisam apresentar nenhum documento, seja pessoal ou do veículo, e por isso entravam e saiam do país sem maiores dificuldades. A polícia apenas realizava uma rápida vistoria no porta-malas e liberava a passagem.
 
Registro garantido na aduana venezuelana. 
Na imigração conversei com algumas pessoas que ficavam curiosas ao ver a bicicleta carregada e também troquei algumas palavras com um simpático casal brasileiro que informou a existência de uma agência do meu banco em Pacaraima. Com a notícia eu não precisava trocar de imediato os vinte dólares restantes, necessitava apenas cambiar a moeda venezuelana que realmente sobrou já que nenhuma taxa foi cobrada para receber a autorização de deixar o país legalmente.
Devidamente pronto para sair da Venezuela, passei pela polícia que não realizou nenhuma vistoria na bagagem. Completava minha passagem pelo exterior sem ter nenhum problema nas fronteiras, seja com a documentação ou revista nos alforjes. Maravilha! A visita à Venezuela foi a que teve maior duração, foram 62 dias, 2.275 km pedalados e 2.220 reais gastos. Metade desse dinheiro foi embora durante os 17 dias em que precisei, obrigatoriamente, conviver com a exploração da cotação oficial.
Não precisei pedalar muito e rapidamente cheguei à divisa entre os dois países, onde a bandeira da Venezuela e Brasil tremulavam à beira da estrada. Muitas pessoas registravam a passagem pelo local e eu não deixei de fazer o mesmo. Fiquei apenas surpreso com o número de pessoas que vieram tirar foto comigo na presença da Victoria. Parecíamos celebridades. (Risada sacana).
 
Finalmente de volta ao Brasil.
Após 236 dias e 11,897 km pedalados no exterior, passando por Bolívia, Peru, Equador, Colômbia e Venezuela, finalmente eu estava de volta ao meu país. A emoção de retornar ao Brasil é simplesmente indescritível. A felicidade sem dúvida estampava meu semblante. Regressar ao território nacional significava que a parte mais difícil da viagem estava concluida.
Quem acompanha o diário de bordo sabe todas as dificuldades que apareceram pelo caminho, mas que foram superadas com muita determinação, paciência e apoio incondicional da família, amigos, conhecidos e desconhecidos das mais diversas regiões do Brasil e também do exterior. Sem dúvida essa ajuda fez muita diferença para que a Victoria e eu chegássemos até aqui. Por isso, aproveito a oportunidade para agradecer de coração a todos vocês que me incentivaram, das mais variadas formas, ao longo destes oito meses de viagem. Muito obrigado.
Na aduana brasileira eu perguntei se precisava registrar meu retorno ao país, isto porque eu ganhei um carimbo brasileiro no passaporte quando deixei o Brasil para entrar na Bolívia. Mas me informaram que não seria necessário e então continuei o pedal em direção à Pacaraima que fica a poucos metros da fronteira.
A cidade de Pacaraima é pequena, mas tem de quase tudo, agências bancárias (Caixa, Banco do Brasil, Bradesco, entre outras), restaurantes, padarias, hospedagens e um significativo comércio. Em um primeiro momento procurei um lugar para trocar a moeda venezuelana que ainda estava comigo. Achei uma pequena loja onde o proprietário realizava o câmbio. Cem bolívares renderam quase dez reais. No local aproveitei para colocar créditos no meu celular que voltou a funcionar depois de meses sem sinal. Na sequencia fui procurar a pousada econômica que tinham me recomendado.
Pacaraima tem uma avenida principal pela qual continuei até o final, onde, à esquerda, estava uma pousada simples e talvez  a mais econômica da cidade. O atendimento no estabelecimento foi exemplar e a diária saiu por 20 reais, para o padrão Brasil, estava barata. O quarto era pequeno, mas com banheiro decente e ventilador, mais do que suficiente para meu descanso. 
A tendência aqui no Brasil é que os gastos sejam ainda mais elevados, sobretudo, com hospedagem e alimentação. Por isso, mais do que nunca, precisarei de colaborações para manter a viagem até a volta para Foz do Iguaçu/PR. As doações continuam sendo recebidas através da vakinha online (veja aqui!) ou por meio de depósito em conta corrente (veja aqui!). Não importa se você puder contribuir com 5,10,20 ou 100 reais. O que se faz ncessário neste momento é a ajuda de qualquer valor para garantir os gastos básicos nos próximos meses. Agradeço pela compreensão.
A parada naquele momento (por volta das 14 horas) era estratégica porque entre Pacaraima e Boa Vista são mais de 200 quilômetros e no caminho não existe nenhuma cidade. E eu precisava repor meu estoque de comida, mandar notícias à família e amigos e matar a saudade da comida brasileira. Por isso, logo após tomar um belo banho que, diga-se de passagem, estava atrasado, fui a um restaurante nordestino quase ao lado da hospedagem para almoçar. Mais uma vez o atendimento foi digno de quem realmente sabe tratar com respeito as pessoas. A refeição estava divina, caprichada e com o típico sabor brasileiro, custou oito reais. Bom demais estar de volta ao país.
Antes de voltar à pousada passei em uma lan house para conferir o e-mail e na sequencia em um supermercado para garantir o energético da viagem; bolacha recheada. Como é estranho ver uma quantidade enorme de opções na prateleira. No exterior esse alimento é bastante limitado e por vezes difícil de encontrar. Não hesitei em comprar o mais barato, que, por sua vez, mostrou-se bastante saboroso.
De volta à pousada eu estava preparado para descansar, não sem antes refletir sobre o momento. Sempre gostei e valorizei o meu país, mas agora passo a valorizar ainda mais. Claro que ainda temos muito que melhorar, contudo, sem dúvida me sinto privilegiado por nascer e viver no Brasil. Quem tece criticas negativas ao país geralmente são aqueles que não fazem nada para melhora-lo e não conhecem a realidade dos outros lugares. Enfim, estou muito feliz por estar de volta.
Dia finalizado com 68,30 km em 5h25m e velocidade média de 12,57 km/h.
17/03/2013 - 252° dia - Pacaraima a Três Corações
Pedalando pela primeira vez no norte do país.
Acordei por volta das 6 horas da manhã, preparei meu desayuno, desculpa, meu café da manhã, arrumei minhas coisas e antes de voltar para a estrada liguei para a minha mãe informando sobre o meu retorno ao país. Na sequencia fui pedalar em território nacional depois de muito tempo.
 
Avenida principal da pequena Pacaraima. 
Eu tinha conhecimento que a BR 174, estrada que faz a ligação Paracaima x Boa Vista não estava em boas condições, com muitos buracos e sem acostamento, mas ainda assim pensei que seria possível chegar na capital em apenas um dia já que o relevo, sobretudo, após Paracaima, favorecia um deslocamento mais rápido, mas nem tudo foi conforme o planejado.
Nos primeiros quilômetros após Pacaraima uma placa informa a existência de buracos nos próximos 90 quilômetros. Paciência! O declive que eu esperava realmente apareceu, mas com a presença dos buracos e remendos na pista não foi possível descer sem frear praticamente o tempo inteiro. Em contrapartida a descida mais lenta favoreceu a observação da fauna e flora de uma extensa área que pertence, por lei, aos indígenas, como lembram as placas pelo caminho.
 
A placa mais frequente em quarenta quilômetros. 
 
In foco.
 
Mata fechada logo após Pacaraima.
 
Estrada sem acostamento.
 
In foco
 
Fauna
 
Fauna
Os vinte primeiros quilômetros são com descidas acentuadas, depois a mesma distância marca um sobe e desce com dificuldade intermediaria e algumas comunidades indígenas ao lado da estrada. Após quarenta quilômetros o cenário muda e a floresta que apresentava-se densa começa a ceder espaço para campos mais abertos e fica cada vez mais difícil encontrar alguma casa e/ou qualquer outro ponto de apoio pelo caminho que se destaca por um longo trecho plano.
 
Descida e o longo trecho de montanha-russa à frente. 
 
Comunidade indigena. 
 
Começo do trecho plano.
Apesar do relevo favorável, a velocidade média continuava baixa porque a temperatura elevada dificultava meu deslocamento, mesmo com a melhora significativa da estrada que passou a ter menos buracos após 80 quilômetros de muitos remendos mal feitos. Era meio-dia e eu não tinha completado 100 quilômetros e por isso tinha descartado a possibilidade de chegar à Boa Vista no mesmo dia. Passei a torcer para aparecer alguma comunidade na estrada para montar acampamento no final da tarde.
 
Retas infinitas 
 
Mais um flagrante do belissimo Tuiuiú, desta vez em Roraima
 
In foco.
Enquanto degustava umas bolachas, um automóvel parou no mesmo local e aproveitei a presença do motorista para perguntar se existia algum restaurante na estrada. Para a minha surpresa, havia, mas ficava 35-40 quilômetros de onde estávamos. Não tinha opção, necessitava pedalar toda essa distância debaixo de um sol de rachar e somente com bolacha no estômago. Avante.
Não demorou muito e outro veículo parou fora da pista e o motorista veio conversar comigo. Durante o diálogo em claro e bom português o senhor repentinamente me pergunta se sou brasileiro. Parecia algo inacreditável. Antes me chamavam de gringo e agora no meu próprio país me indagam se sou brasileiro. Já não sei de mais nada. Na dúvida vou começar a responder apenas que sou um latino-americano. (Risada sacana)
Para melhor a situação, na parte da tarde o vento contra apareceu e deixou o avanço ainda mais difícil. O motorista de uma caminhonete me ofereceu carona ao me ver pedalando naquele cenário nada propicio para a prática de exercícios físicos, mas a ajuda foi recusada, era preciso seguir no pedal de qualquer forma. O pior é que raramente aparecia uma sombra para um breve descanso.
A paisagem estava completamente diferente daquela no início da manhã e a mata fechada tinha definitivamente dado lugar a uma extensa área com uma vegetação rasteira. Ao lado da estrada, muitos veículos queimados me fizeram questionar se eram consequência de acidentes ou ação de bandidos, como ocorre na Venezuela.
As horas passaram e para a minha felicidade, a quilometragem também. Às 16h30m cheguei ao local onde havia o restaurante mencionado anteriormente. Na verdade tratava-se de um pequeno povoado chamado Três Corações. Existem restaurantes e mercearias à beira da estrada, contudo, não encontrei hospedagem, mas o importante no momento era achar um estabelecimento que ainda tivesse comida. Por sorte encontrei um modesto restaurante com buffet ao preço de 10 reais, contudo, o arroz já tinha terminado, mas fiquei mesmo assim porque havia macarrão, feijão, carne, linguiça e frango, tudo à vontade. Com a falta do arroz o preço caiu para 8 reais. Toda economia é válida e bem-vinda.
A minha fome era enorme e por isso fui obrigado a repetir três vezes, não comia uma quantia dessas há exatos oito meses, então podem imaginar a cena. Saí do restaurante com a barriga muito cheia. Não voltei à estrada, achei melhor encontrar um lugar para montar acampamento, afinal, não tinha muito tempo de claridade e o cenário desértico continuaria até Boa Vista.
De longe, mas ainda no povoado, avistei um galpão onde eu poderia montar minha barraca se tivesse a autorização do proprietário. O local ficava ao lado do restaurante e lanchonete Monte Sinai cujo dono era o responsável pelo espaço desejado para acampar. Conversei com ele sobre a viagem e que precisava de um lugar somente para passar a noite e prontamente meu pedido foi aceito e a permissão concedida. Maravilha!
Antes de montar acampamento fiquei sentado muito tempo do lado de fora porque não aguentava fazer nada por causa da barriga cheia. Pensei que passaria mal, mas com o tempo a digestão foi realizada e no final da noite eu já estava com fome de novo. Não vou nem comentar nada. (Risada sacana). Sei que antes de dormir ainda assisti um pouco de televisão no restaurante e também conversei sobre a região com o pessoal. Achei o povo bastante hospitaleiro e educado por essas bandas. A primeira impressão foi muito boa.
Dia finalizado com 118,30 km em 7h45m e velocidade média de 15,18 km/h.
18/03/2013 - 253° dia - Três Corações a Boa Vista
Finalmente na capital de Roraima, Boa Vista.
A noite foi bastante quente na barraca e a transpiração foi inevitável. O importante é que consegui descansar o suficiente para encarar a parte final até Boa Vista, onde, apesar de ter conhecidos, ainda não tinha idéia de onde ficar pela falta de comunicação. Mas comecei o dia com pensamento positivo de que tudo sairia bem.
O pedal teve início por volta das 7 horas da manhã e sem muita novidade em relação ao dia anterior. Quatro quilômetros após Três Corações apareceu o único posto de gasolina da região e que também pode servir de acampamento. Um restaurante no local pode matar a fome de quem estiver pedalando pela região.
 
Restaurante e lanchonete Monte Sinal. Ao lado esquerdo o local onde montei acampamento. 
O trajeto plano continuou desértico e a primeira casa à beira da rodovia apareceu com 47 quilômetros e na verdade tratava-se do Bar e Mercearia Lima onde fui muito bem atendido e abasteci minhas garrafas com água gelada que neste momento era mais do que bem-vinda em razão da temperatura alta.
 
Vegetação rasteira e seca. 
 
Em Boa Vista mesmo faltando quase 80 quilômetros para chegar ao perimetro urbano. 
 
In foco
 
Paisagem pelo caminho.
As horas passaram e não demorou muito para a fome bater forte na hora do almoço, mas eu já tinha colocado na cabeça que, por falta de opção, a refeição seria realizada somente na capital. Para acalmar as lombrigas eu degustava as bolachas em breves paradas. Foi em um destes momentos que o mesmo senhor que ontem me ofereceu carona, passou e retornou para saber se estava tudo bem. Ele me informou que tinha um restaurante que não estava longe. Fiquei animado com a notícia e continuei em frente.
Na estrada, antes do restaurante, fui novamente parado, desta vez por um motociclista que apareceu repentinamente e me fez uma pergunta inusitada. Questionou se eu já tinha almoçado e com a minha resposta negativa, voltou a indagar se eu queria uma marmita. Não pensei duas vezes em aceita-la. Segundo ele, poderia muito bem almoçar na faculdade e me ceder sua refeição que ainda estava quente. Peguei a minha panela que rapidamente ficou cheia de arroz, feijão e carne cozida. Fiquei extremamente agradecido e mencionei que na primeira sombra pararia para almoçar.
A sombra demorou a aparecer, mas para a minha surpresa, casas surgiram à beira da estrada quando o velocímetro chegou à 67 quilômetros. Fui solicitar o espaço na área de uma das residências somente para degustar a refeição recebida. O proprietário não viu problemas e permitiu meu almoço. Percebi pela fisionomia que o dono não era da região e ao questionar sua naturalidade me respondeu que era do Rio Grande do Sul.
Ney vive com sua mulher a mais de oito anos em Roraima. Atualmente é apicultor e a esposa trabalha como professora na rede pública de ensino da capital. Conversamos bastante e meu almoço demorou mais do que o esperado, mas são encontros como este que deixa a viagem ainda mais interessante. Fiquei sabendo que muitos gaúchos vieram para a região com a pretensão de plantar soja, mas o solo não favoreceu um resultado imediato e muitos voltaram para o sul. Ainda assim, em Boa Vista, por exemplo, existe muita gente com formação superior de outros estados que buscam melhores salário aqui no norte. 
Sobre os carros queimados às margens da estrada, Ney explicou que são resultados de acidentes e que muitos ficaram incendiados em razão do contrabando de combustível do país vizinho. Atualmente a fiscalização é mais rigorosa, todavia, até pouco tempo, muitos veículos passavam carregados de gasolina oriunda da Venezuela e geralmente estavam envolvidos nos acidentes.
Antes de voltar à estrada ainda ganhei uma garrada com meio litro de mel. Uma energia a mais para pedalar. Da casa do Ney em diante outras propriedades rurais apareceram pelo caminho que passou a ser menos deserto na medida em que a capital ficava mais próxima.
Com 82 quilômetros pedalados encontrei um simpático casal colombiano que viaja em uma motocicleta pela América do Sul. Voltei a falar espanhol e vi o quanto foi importante aprender o idioma. Trocamos telefones e endereços eletrônicos e não hesitei em oferecer minha casa em Foz do Iguaçu para hospeda-los quando passarem pela Terra das Cataratas. Gentileza gera gentileza.
 
Mauricio e Kata 
 
Confira: http://www.lavidaenmoto.org
  
Registro garantido.
De Três Corações à Boa Vista são 100 quilômetros e quando me restava somente mais 10 para chegar na capital eu liguei para uma amiga em Manaus para saber se ela havia conseguido contatos que poderiam me receber em Boa Vista, no entanto, a resposta não foi conforme eu esperava, mas ainda assim agradeci pela atenção. Fiz outra ligação, desta vez, para uma amiga no Paraná porque seu irmão mora na capital roraimense, contudo, o telefone não foi atendido. E agora, José?
Resolvi chamar pelo amigo cicloturista Kayo Soares que atualmente mora em Manaus, mas a família vive em Boa Vista. Eu tinha mandado um e-mail há algum tempo informando sobre a minha passagem pelo norte do país, contudo, a comunicação foi comprometida e acabei perdendo contato e os números de telefone que eu tinha já não funcionavam mais, contudo, ontem, quando parei no restaurante Monte Sinai, um motorista estacionou seu veículo com uma MTB no suporte e me perguntou se eu conhecia o Kayo Soares. Fiquei surpreso com a pergunta e achei a “coincidência” incrível e para a minha felicidade ele tinha recém anotado o número novo do celular do amigo cicloturista. E foi por esse telefone que eu consegui chama-lo antes de chegar à Boa Vista.
O Kayo não mediu esforços para me ajudar e logo passou o endereço e as referências para encontrar a casa de seu pai que concordaria em me receber. Fiquei muito feliz com a notícia porque eu precisava realmente descansar por alguns dias e nada melhor do que na casa da família de um amigo cicloturista. Desta maneira continuei em frente.
Uma placa desejava boas vindas à capital exatamente quando eu completava 100 quilômetros pedalados. Mas eu precisei avançar muito mais para chegar a uma área mais movimentada da cidade onde perguntava frequentemente sobre a melhor maneira de chegar ao local desejado. Pedalei por uma boa parte de Boa Vista no horário de pico, afinal, já era quase 18 horas. Mas para quem pedalou no trânsito infernal de Caracas, aquele movimento era relativamente tranquilo. Precisava apenas continuar com atenção.
 
Chegada à Boa Vista 
Boa Vista é a única capital brasileira ao norte da Linha do Equador e com uma população de quase 300 mil habitantes. Particularmente achei uma cidade normal e sem maiores problemas no deslocamento com a bicicleta, inclusive, presenciei vários ciclistas. Talvez a primeira impressão não tenha sido melhor em razão da pavimentação que definitivamente não está em boas condições. Obras deixam a situação ainda mais delicada já que a poeira passa a tomar conta das ruas e avenidas.
Pouco depois das 18 horas estava na referência passada pelo Kayo que ao ficar sabendo da minha chegada ligou ao seu pai Aluizio que minutos depois apareceu para me acompanhar até a sua casa onde fui muito bem recebido por toda a família.
Dia finalizado com 113,33 km em 8h27m e velocidade média de 13,38 km/h.
19/03/2013 - 254° dia - Boa Vista (Folga)
Nada melhor do que ser bem recebido por uma família e sentir-se em casa. A noite foi mais do que tranquila e confortável. Foi possível descansar bastante a parte física que necessitava de repouso, afinal, tive apenas uma folga no trecho nada fácil entre Caracas x Boa Vista.
Para começar bem o dia, o café da manhã tinha, entre outras coisas, cuscuz, que eu tive a oportunidade de degustar pela primeira vez. Foi mais do que aprovado. Acho que vou engordar durante os próximos três dias que devo permanecer aqui na casa para atualizar o diário de bordo.
 
Café da manhã reforçado. 
 
Cuscuz
Aqui em Boa Vista ainda pretendo trocar os dois pneus “carecas” da Victoria que, no final das contas, foi mais uma vez guerreira ao conseguir chegar ao Brasil sem me deixar na mão. E olha que abusei da minha companheira ao arriscar continuar com os pneus em um estado bastante critico.
O restante do dia foi praticamente todo dedicado ao diário de bordo.
20/03/2013 - 255° dia - Boa Vista (Folga)
Dia dedicado à atualização do diário de bordo.
Hoje aproveitei para ir à bicicletaria aqui nas proximidades da casa da família e para a minha felicidade consegui encontrar o pneu Pirelli que tanto procuro desde o Equador quando precisei trocar o pneu da desta marca que havia chegado ao limite.
Aqui na excelente bicicletaria PP Peças no bairro Asa Branca em Boa Vista a surpresa foi muito além de achar a desejada marca, encontrei um modelo que não é mais fabricado pela Pirelli, trata-se do BM-90 1.9 made in Brasil e que atualmente foi substituído pelo Scorpion que vem dos países asiáticos, mas que ainda assim se mostrou com um excelente custo x beneficio já que precisei troca-lo após sete mil quilômetros.
Acontece que o BM-90 é ainda melhor que seu sucessor, principalmente no que diz respeito a durabilidade. Lembro que na Magrela Guerreira (minha outra bicicleta) o pneu dianteiro chegou a rodar 10 mil quilômetros, ou seja, agora estou tranquilo para retornar à Foz do Iguaçu sem precisar me preocupar mais com essa peça. Cada pneu, com desconto, custou 25 reais. Também aproveitei e comprei mais remendos já que os meus haviam terminado.
 
Pneu traseiro Maxxis Ignitor 1.95; rodou 3.791 km desde Bogotá/Colômbia. Detalhe; estava meia-vida quando ganhei ele. 

Pneu dianteiro Hutchinson Cameleon 1.95 rodou quase 7 mil km desde Cuenca no Equador.
 
Novo Pirelli BM-90 1.9 
Aqui na casa eu continuo meu período de engorda, cada dia eu provo uma comida diferente; Vatapá; um delicioso Dourado (peixe) com um preparo similar ao Escabeche; Baião-de-dois; Carne-de-sol e; Paçoca (carne-de-sol com farinha). Todos os pratos foram degustados e aprovados. Parabéns à Andréa que deliciosamente cozinhou essa culinária local.

Um dos melhores peixes que degustei na vida.
21/03/2013 - 256° dia - Boa Vista (Folga)
Dia dedicado exclusivamente à atualização do diário de bordo.
22/03/2013 - 257° dia - Boa Vista (Folga)
Dia dedicado à atualização do diário de bordo. 

Hoje no final da tarde fui conhecer, na companhia da família Leão, a famosa Orla Taumanan que fica ao lado do também conhecido Rio Branco. O lugar é bem agradável, apesar de estar um pouco abandonado, mas ainda assim é um excelente passeio pela região central, onde também está a interessante Igreja Matriz. Pelas ruas e avenidas extensas pude ter um olhar diferente da cidade e muito mais interessante do que aquele da minha chegada à capital.

 Orla Taumanan

  Orla Taumanan

 Rio Branco

Registro garantido!

Ponte do Macuxis ao fundo. Caminho para a Guiana.

  Orla Taumanan

 Monumento em homenagem aos pioneiros de Boa Vista.

Monumento em homenagem aos pioneiros de Boa Vista.

 In foco.

 In foco.

 Com a Ana Paula e Juliana na frente da Igreja Matriz.

Igreja Matriz
Amanhã volto à estrada em direção à Manaus onde devo chegar em aproximadamente 7-8 dias. Estou bastante animado para conhecer a Amazônia e sem dúvida reservarei alguns dias para visitar a capital amazonense e os povos ribeirinhos da região. Para a minha felicidade tenho muitos amigos na cidade que já me convidaram a permanecer em suas casas. Desde já meu sincero agradecimento pela hospitalidade, camaradas.
No mais, peço desculpas pela demora em atualizar o site, esses últimos dias foram extremamente complicados para escrever e realizar novas postagens. Espero que compreendam e aproveitem a leitura desta nova atualização e não hesitem em deixar seus comentários.
Grande abraço.
"Hasta la Victoria Siempre"

23/03/2013 - 258° dia - Boa Vista a Iracema
Retorno à estrada. Sentido Manaus.
Talvez uma das partes mais difíceis de uma excelente hospitalidade seja a hora da partida. Eu poderia facilmente ficar outros tantos dias na casa da família Leão, mas era preciso continuar a viagem e por isso, novamente, chegava a hora da despedida. 
Fui sair de Boa Vista somente às 8h30m e o horário tardio se justificava pela atualização do diário de bordo no dia anterior. A mesma foi finalizada apenas na parte da noite, após três dias extenuantes de muita escrita. Dessa forma achei mais sensato não colocar o celular para despertar na manhã de hoje, contudo, naturalmente levantei às 6 horas e rapidamente comecei a arrumar minha bagagem, não sem antes tomar um café da manhã reforçado.
Quando eu me preparava para sair da residência, a chuva começou de forma tímida, porém não ganhou força e minutos depois já permitia meu retorno à estrada. Registrei a despedida dos anfitriões e iniciei outro dia de pedal. 
Grande Aluizio. Um exemplo de ser humano.
Andréa: Simpátia em pessoa.
O caminho até a saída da cidade de Boa Vista era muito fácil e por isso não tive nenhum problema para encontrar a BR 174 sentido à Manaus. A capital do Amazonas estava aproximadamente a 750 quilômetros que eu pretendo pedalar em sete dias. 
Ainda no perímetro urbano de Boa Vista fiz questão de parar em uma farmácia e ver o quanto de peso eu havia ganho durante os dias na casa da família Leão. A balança confirmou a minha  suspeitava de estar com três quilos a mais depois da farta e deliciosa refeição que foi preparada durante a minha estadia. A notícia me deixou muito feliz, pois eu estava apenas um quilo abaixo daquele marcado antes do começo da expedição. Para quem chegou a perder quase dez quilos no decorrer da viagem essa informação era mais do que bem recebida.
Antes de retornar à BR 174 a chuva voltou a cair e desta vez sem nenhum sinal que seria passageira. Mas eu não me preocupei com a condição climática porque estava demasiadamente feliz. O diário de bordo tinha sido atualizado, meu peso aumentado e eu me direcionava à Manaus, um dos lugares mais desejados para conhecer durante a viagem em território nacional. Estava no caminho certo para a continuidade da expedição.
Apesar da chuva, a temperatura que ainda era elevada foi amenizada e não se tornou um problema. Na rodovia em direção ao Amazonas a BR 174 na saída de Boa Vista estava duplicava e com um acostamento bastante generoso, contudo, o cenário permaneceu apenas por dez quilômetros quando a pista voltou a ficar simples. O acostamento praticamente continuou com o mesmo espaço, todavia, a pavimentação não se equiparava àquela da pista e prejudicava um deslocamento mais rápido. De qualquer forma empreguei um ritmo muito bom porque o relevo plano e a minha parte psicológica colaboravam para isso. Aproveitei o momento favorável e avancei.
Em direção à Manaus
Distâncias
Como a minha saída de Boa Vista foi tardia, a pretensão no dia era pedalar ao menos cem quilômetros, distância que coincidiria com a chegada à cidade/distrito de Iracema. O caminho para este lugar se mostrou com uma vegetação mais rasteira e campos com pastagens onde a criação de gado bovino era bastante perceptível. Em contrapartida poucas casas eram visualizadas à beira da rodovia. 
Balneários não faltam na região.
Campos abertos sem muita vegetação.
A chuva continuou forte até por volta do meio-dia quando eu cheguei à Mucaji, primeira área urbana desde Boa Vista. Com aproximadamente 60 quilômetros avistei a ponte sobre o rio Mucaji e na sequencia o vilarejo homônimo onde aproveitei o horário para almoçar. A atendente do restaurante mencionou que tinha prato feito e refeição. A diferença é que a primeira opção é como o próprio nome sugere e a comida é servida em apenas um prato por um custo de oito reais. Já a refeição é dois reais mais cara, mas em compensação cada ingrediente vem à mesa em um prato separado e a quantidade é um pouco maior, fator determinante para a minha escolha.
No cardápio uma refeição típica da região, a famosa carne de sol, arroz, feijão, salada, a sagrada farinha e água gelada. Sim, aqui em Roraima é comum pedir água (torneira) gelada. O liquido sagrado é servido sem nenhum custo adicional e geralmente em uma garrafa de 2 litros, ou seja, água não falta e a econômica com bebida é garantida.
Vale destacar ainda que Mucaji, apesar de pequena, conta com mais de uma hospedagem, restaurantes e um comércio relativamente satisfatório pelo tamanho do local. Para quem não tem o costume de pedalar longas distâncias pode ser uma opção de parada depois de Boa Vista. Eu continuei em direção à Iracema.
Após Mucaji o trajeto foi uma verdadeira oscilação, seja no relevo que passou a ter uma série de sobe e desce e a paisagem que mesclava mata fechada e pastagens. Para variar o período da tarde foi marcado por mais chuva forte que durou muito tempo, mas que não resultou na minha parada, exceto para colocar novamente a capa na bolsa de guidão e seguir viagem.
Paisagem à beira da estrada.
In foco.
Choveu dois minutos após o registro dessa imagem.
Apareceu em cima do alforje para pegar uma carona.
Assim como a quilometragem, a hora também passou e por volta das 16 horas eu já estava na pequenina Iracema com cem quilômetros pedalados. A chuva, no entanto, não deu trégua e por isso fui obrigado a perguntar o preço do hotel às margens da rodovia. A aparência, não diria sofisticada, mas nada simples da hospedagem indicava que o preço da diária não seria baixo, contudo, não custava nada perguntar. 
A resposta do proprietário foi assustadora. O quarto para uma pessoa sairia por “apenas” cinquenta reais. A justificativa do preço elevado é que o dormitório tinha ar-condicionado e televisão a cabo, coisas que eu não precisava. Na ausência de uma habitação mais simples ou com desconto eu agradeci pelas informações e continuei debaixo de chuva em busca por alguma fazenda para montar acampamento já que a próxima cidade (Caracaraí) estava a quarenta quilômetros de distância.
Na estrada eu precisei pedalar aproximadamente dez quilômetros quando avistei uma propriedade rural em que um casal se encontrava debaixo de um pequeno galpão, era a minha chance de solicitar um espaço para passar a noite. Fui atendido pela mulher que ao meu pedido foi conversar com o homem que arrumava uma antiga caminhonete. Ao longe pediram para eu abrir a porteira. Minha permissão havia sido concedida. Que maravilha!
Na fazenda eu montei acampamento debaixo do galpão onde o veículo era consertado. O local coberto era mais do que suficiente para me proteger da chuva que insistia em cair. Durante essa tarefa de levantar a minha pequena casa eu conversava com o casal e explicava sobre a viagem. Com o diálogo foi possível perceber que eles ficaram mais tranquilos com a minha presença e certa confiança começava a ser depositada na minha pessoa. 
Acampamento
Durante a conversa com o pessoal eu fui informado que poderia utilizar o banheiro externo de uma antiga, velha e abandonada casa da fazenda. O cômodo, apesar de simples, tinha chuveiro e todas as peças fundamentais em funcionamento. Era tudo o que eu precisava para ficar limpo após mais um dia de pedal.
Devidamente limpo após o banho, comecei a degustar as mangas coletadas em Boa Vista. Aquelas frutas seriam meu jantar, pelo menos era o que eu imaginava, mas felizmente estava enganado. Domingos (caseiro) apareceu no galpão e me convidou para a refeição noturna em sua casa, na companhia da sua família. Eu realmente não esperava o convite e fiz uma pergunta estúpida a ele; tem certeza? Claro, ele respondeu. Na mesa da simples cozinha eu jantei sozinho porque toda aquela comida havia sido preparada para mim. Arroz, feijão e uma macarronada com carne moída. O anfitrião disse que não jantava naquele momento e ressaltou que eu poderia ficar à vontade para me servir o quanto fosse necessário. Não exagerei, mas fiquei satisfeito após provar aquela saborosa refeição. Estava muito feliz.
Voltei à barraca, terminei de escrever algumas coisas e antes de dormir resolvi ir ao banheiro. Enquanto me sentia uma majestade no trono real, percebi a entrada daquilo que, erroneamente, identifiquei como uma borboleta gigante que aproveitou-se de uma abertura no teto do banheiro para me fazer companhia. Não me assustei com tal presença, mas confesso que fiquei surpreso quando notei que, na verdade, tratava-se de um morcego. Aquele bicho horrendo fixou-se de ponta-cabeça acima da porta e ficou a me observar enquanto eu, imóvel, fazia o mesmo. Aquela coisa bizarra não parava de me fitar e a sua única reação era mexer as orelhas quando eu emitia qualquer sonido. Fiquei muito indignado com a falta de respeito daquele ser medonho que não respeitou minha privacidade.
A vida de rei naquele banheiro da casa abandonada me cansou e eu precisava sair da peça e, sobretudo, da mira daquele mamífero voador. Ao levantar do trono pensei que o morcego ficaria assustado, bateria asas e voltaria para o lugar de onde veio, ainda que ao tentar tal manobra se esbarrasse em mim, no entanto, para a minha surpresa, ele permaneceu imóvel. Aproveitei esse momento e rapidamente abri e fechei a porta e voltei para o acampamento com a finalidade de recuperar as energias para o dia seguinte.
Dia finalizado com 109,67 km em 7h21m e velocidade média de 14,91 km/h.
24/03/2013 - 259° dia - Iracema a Poço Iriruta
Hoje foram completadas 1.000 horas pedaladas. A marca, no entanto, foi alcançada em um dia nada fácil.
Realmente é muito tempo pedalando.
A noite no acampamento foi tranquila, contudo, a madrugada foi chuvosa e quando acordei ainda continuava caindo água. Eu estava preparado para seguir viagem e a chuva permanecia. Sem alternativa a solução foi começar o pedal debaixo de muita água. Claro que antes de voltar à estrada, agradeci e me despedi do anfitrião.
Às 7h30m eu retornava à BR 174 e em poucos minutos percebia que o pneu traseiro estava furado. Apesar de ter plena consciência que na estrada estamos sujeito a esse tipo de situação, eu realmente não esperava que isso viesse acontecer naquele momento, sobretudo, porque era somente o segundo dia do pneu Pirelli. Trocar pneu nunca é uma tarefa agradável, com chuva então, nem se fala. Para variar não tinha nenhuma área coberta nas proximidades e isso me fez encher o pneu algumas vezes até encontrar um espaço para fazer o serviço necessário sem precisar ficar na chuva.
Precisei pedalar 10 quilômetros para encontrar uma fazenda à beira da estrada onde havia uma pequena área coberta sobre a porteira. Quando cheguei ao local a chuva já era fraca e em meia hora o pneu estava trocado e eu finalmente continuava a viagem em direção a Caracaraí que estava próxima.
O deslocamento, mesmo após o pneu trocado, continuava lento em razão das inclinações que apareceram na estrada e por volta das 11 horas da manhã e com apenas 35 quilômetros pedalados eu estava em Caracaraí. A rodovia passa por fora da pequena cidade e neste trajeto eu não identifiquei nenhuma hospedagem. Visualizei apenas um pequeno restaurante que estava fechado e descartava qualquer hipótese de almoçar àquele horário. O que encontrei às margens da estrada foi um posto de combustível onde aproveitei para calibrar o pneu traseiro que estava um pouco murcho.
Logo após a saída do perímetro urbano de Caracaraí notei que o pneu traseiro estava novamente furado, mas que murchava muito lentamente e que eu poderia continuar daquele jeito, pelo menos, até a hora do almoço.
Dez quilômetros depois de Caracaraí passei, mais uma vez, pelo Rio Branco que além da sua extensão apresentou algumas pessoas que habitavam suas margens. Encontrei dois estabelecimentos que aparentavam ser pequenos restaurantes, mas que estavam fechados, infelizmente. Eu estava com muita fome, mas foi necessário seguir até achar alguma coisa pelo caminho.
Próximo a ponte sobre o Rio Branco.
In foco.
Moradores às margens do Rio Branco.
Rio Branco.
Após a ponte sobre o Rio Branco o trajeto mostrou-se bastante deserto e a surpresa ficou por conta do acostamento que terminou quando eu completava 65 quilômetros pedalados. A tranquilidade da rodovia impediu que a falta de um espaço seguro tornasse o pedal mais tenso, mas ainda assim foi preciso uma maior atenção para evitar qualquer acidente.
Final do acostamento.
Somente depois de 75 quilômetros eu fui encontrar um pequeno vilarejo cujo nome eu desconheço, mas que, apesar do horário tardio, já passava das 14 horas, havia um restaurante que ainda servia almoço. Para a minha felicidade, um buffet, por dez reais, estava disponível e não perdi a oportunidade de caprichar meu prato por duas vezes até ficar realmente satisfeito.
Quando fui pegar a Victoria para continuar a viagem, o pneu traseiro estava completamente murcho, mas como tudo indicava que o furo era mesmo pequeno, achei melhor apenas encher e trocar no final do dia. Se a estratégia não funcionasse eu seria obrigado a parar fora da pista e realizar a indesejada troca. De qualquer forma voltei a pedalar.
O pedal durante o período da tarde foi sem maiores novidades, a paisagem continuou oscilando entre pastagens e mata fechada, essa última ficou mais evidente dez quilômetros após a saída do restaurante, quando apareceu uma entrada para o Parque Nacional do Viruá. Na sequencia tornei a me deparar com inúmeros igarapés e, para variar, diversas subidas.
Em determinados momentos deste trajeto vespertino eu tive que parar e encher o pneu traseiro que esvaziava muito lentamente. Mas mesmo com pneu furado o deslocamento continuava e a hora passava. Quando cheguei à marca dos cem quilômetros comecei a procurar uma propriedade rural para montar acampamento. Por volta das 17 horas encontrei uma fazenda que parecia ideal para passar a noite, contudo, minha permanência foi recusada. Mas pelo menos a pessoa que me atendeu mencionou que 2 quilômetros depois eu encontraria uma “maloca” onde eu poderia facilmente montar acampamento. Fui conferir.
A tal maloca, que na verdade tratava-se de um quiosque, ficava realmente próxima e estava localizada em um pequeno povoado. Na frente do terreno existe uma pequena barraca de frutas onde a proprietária mencionou que não existia problema algum em passar a noite naquela área coberta. O local me pareceu seguro, sobretudo, porque os proprietários do quiosque moravam bem ao lado e garantiram que eu poderia ficar tranquilo em relação a isso.
Montei acampamento debaixo da maloca e na sequencia comecei a trocar a câmara furada, mas que àquela altura ainda estava cheia. Não achei o furo e suspeitei que o ar saia de um remendo que foi novamente consertado. Sei que remendei a câmera reserva, coloquei no pneu e depois de muito tempo a Victoria estava inteira de novo.
Durante a indesejada tarefa de trocar a câmera furada eu conversei com um dos filhos dos proprietários da casa ao lado. O adolescente Leonardo mostrou-se muito atencioso, prestativo e não hesitou em me contar mais sobre a região, inclusive, ofereceu uma das frutas mais conhecidas do norte; tucumã. A fruta tem o tamanho de uma goiaba pequena, a casca também é parecida, contudo, o sabor é totalmente peculiar e não sei como descrevê-lo, porém é gosto e segundo me informaram, bastante nutritivo.
Leonardo mencionou que o jantar estava quase pronto e questionou se eu não gostaria de um prato de comida. Claro que não pude recusar, afinal, naquele momento eu já havia descartado qualquer possibilidade de preparar a própria refeição pela canseira acumulada durante o dia. Não demorou muito e um prato com arroz e peixe foi servido. Tudo muito simples, mas extremamente saboroso, sobretudo, o pescado que é um dos mais famosos da região; Tambaqui.
Após o jantar fui conversar com um caminhoneiro que estacionou o veículo ao lado da maloca. O paraense Adriano me informou sobre as condições da estrada até a capital amazonense e ainda explicou sobre a questão da travessia de barco/navio/balsa entre Manaus e Belém. O meu deslocamento entre essas duas localidades será realizado pelo famoso Rio Amazonas. O objetivo da viagem é pedalar sempre que possível, contudo, a região carece de estrada e por isso a opção pelo navio. Depois das dicas recebidas, finalmente fui dormir.
Dia finalizado com 108,06 km em 8h18m e velocidade média de 12,99 km/h.
25/03/2013 - 260° dia - Poço Iriruta a Rorainópolis
Na companhia das araras, igarapés, chuva e também a incrível hospitalidade dos moradores locais.
A noite no acampamento foi bastante tranquila e apesar de ser um espaço aberto, o local se mostrou seguro e por esse motivo meu sono quase não foi interrompido durante a madrugada. 
A "maloca" que serviu como área coberta para meu acampamento.
Aprender a tomar café preto foi sem dúvidas um importante aprendizado no decorrer da viagem. A bebida que é uma das mais consumidas no mundo é também um sinal de cordialidade e somente o fato de aceita-la é uma resposta a essa gentileza. E por isso aceitei a xicara oferecida pelos moradores ao lado da maloca. Aproveitei a bebida quente para comer minhas bolachas e completar o café da manhã antes de voltar à estrada.
Às 7 horas estava novamente pedalando. Meu objetivo era um pouco incerto no que diz respeito ao local onde eu encerraria o dia, portanto, comecei o dia com a pretensão de completar, ao menos, cem quilômetros.
O tempo nublado nas primeiras horas da manhã indicava que a chuva seria minha companhia mais uma vez. De qualquer modo não esperei a condição climática melhor e continuei pela estrada que 17 quilômetros depois simplesmente ficou sem asfalto. O trecho em obras permaneceu por mais 3 quilômetros que foram percorridos lentamente em razão dos buracos resultantes das máquinas que trabalham no local.
Chuva à vista e ausência de asfalto.

Pesadelo de qualquer cicloturista.
A surpresa boa após completar o trecho sem pavimentação ficou por conta de um caju encontrado à beira da estrada. A fruta, ainda na árvore, se destacava pela sua cor intensa entre o verde da mata e o preto do asfalto. Não pensei duas vezes em parar, apanhar e degustar aquele complemento do café da manhã. Estava muito suculento.
Caju à beira da estrada.
In foco.
O céu ficava cada vez mais escuro, mas a chuva custava a aparecer, assim como as casas e fazendas pelo caminho que continuava repleto de igarapés e áreas alagadas que geralmente são lugares onde a fauna e flora se mostram ainda mais ricas. Já as palmeiras de buriti são facilmente visualizadas por todas as partes. 
Buriti
Mais chuva pelo caminho.
In foco.
Essa região sul de Roraima não é diferente das outras em relação à extensas áreas pouco habitadas. Somente após 30 quilômetros que começaram a aparecer algumas fazendas e casas às margens da rodovia. Por isso é sempre bom andar com uma quantidade maior de água e comida para evitar passar por uma situação de emergência.
O trajeto durante essa primeira parte do dia foi tranquilo no que diz respeito ao relevo, já que poucas subidas apareceram para retardar o avanço. O que evitou um deslocamento mais rápido foi justamente a pavimentação que oscilava trechos bons e ruins. Mas ainda assim cheguei à Novo Paraiso, único lugar que o mapa apontava entre Poço Iraruta e Rorainópolis. A cidade fico logo depois do trevo para a rodovia 210 sentido à São João da Baliza.
Aproveitei a chegada à Novo Paraíso para almoçar no único restaurante que existe no pequeno povoado. Fato que talvez justifique o preço elevado da refeição. O buffet acompanhado por um simples rodizio de carnes custava 17 reais. Com fome em razão do horário e sem maiores opções o jeito foi pagar o valor e comer até não poder mais. (Risada Sacana)
Acho que engordei pelo menos um quilo durante o almoço, não poderia pagar 17 reais sem deixar a barriga forrada. Claro que o resultado não foi dos melhores. Quase não consegui sair da cadeira, mas após alguns minutos a digestão começou a ser feita e na sequencia voltei à estrada preparado para pedalar novamente por outro trecho em obras. O trajeto em questão apareceu dez quilômetros depois e sua extensão foi de aproximadamente quatro quilômetros. Desta vez a falta de pavimentação estava acompanhada de inúmeros buracos que obrigava todos os veículos a manterem a velocidade baixa.
Trechos em obras: realidade da "nova" BR 174.
Após o trecho em obras parei no pequeno vilarejo denominado Martins Pereira e abasteci minhas garrafas de água porque a temperatura continuava quente e a hidratação era maior. Vale destacar a recepção dos moradores locais que me trataram muitíssimo bem. Uma senhora fez questão de mencionar que admirava os ciclistas viajantes que, com certa frequência, aparecem pela região.
Além das belezas naturais essa área entre Novo Paraíso e Rorainópolis concentra diversas madeireiras que facilmente são visualizadas à beira da estrada. Não sei se o funcionamento desses estabelecimentos acontece de forma legal perante as leis, todavia, deparar com vários caminhões abarrotados com árvores enormes não é nada interessante, principalmente quando temos conhecimento que a região norte do país registra os maiores índices de desmatamento, sobretudo, na Amazônia. 
Realidade na região.
Por volta das 16 horas cheguei à Rorainópolis, talvez a maior cidade desde Boa Vista. A estrutura do municipio me fez parar no acostamento e verificar a disponibilidade de sinal no celular. Eu precisava mandar notícias para a família e aproveitei o serviço existente para ligar e dizer que estava tudo bem e que nos próximos dias eu ficaria sem poder contata-los em razão dos lugares ermos do caminho a seguir.
Assim que desliguei o telefone encontrei um hotel na saída da cidade e pensei que seria uma excelente oportunidade para descansar melhor o corpo para enfrentar os próximos dias que muito provavelmente seriam finalizados em alguma propriedade rural e consequentemente dentro da barraca.
No Hotel Catarinense a diária custava 50 reais, mas paguei somente 40 reais após o desconto concedido. Além das instalações novas e limpas, uma das justificativas do valor nada barato era o café da manhã incluído. E sem dúvida esse detalhe foi fundamental para a minha permanência no local.
No período da noite eu fui conhecer e pagar os proprietários do hotel. Ana Maria e José são de uma cidade no interior de Santa Catarina, mas já vivem em Roraima mais de duas décadas. Durante a longa conversa com o casal eu fui convidado a jantar na companhia deles. E claro que não recusei a hospitalidade oferecida, sobretudo, pela admiração à expedição e todo o projeto por trás da viagem. Eu fiquei extremamente agradecido pela refeição e por todas as palavras de apoio.
Dia finalizado com 88,66 km em 6h51m e velocidade média de 14,88 km/h.
26/03/2013 - 261° dia - Rorainópolis a Jundiá
Linha do Equador: Retorno ao hemisfério sul.
A noite foi totalmente tranquila e possibilitou o restabelecimento de boa parte das minhas energias. O dia seria longo e eu necessitava estar muito bem fisicamente para alcançar o objetivo de chegar à famosa Reserva Indígena Waimiri Atroari que estava aproximadamente 140 quilômetros de distância.
O café da manhã começou a ser servido após às 6h30m e prontamente eu fui um dos primeiros hóspedes a sentar à mesa. A refeição matinal estava simples, porém bastante saborosa e farta. Para variar me alimentei além da conta, mas desta vez existia um motivo. A estratégia era suprir a ausência do almoço, que por sua vez, seria descartado justamente para balancear as finanças investidas no hotel.
Na noite anterior a proprietária Ana Maria mencionou durante a conversa que prepararia um lanche para eu levar na viagem, mas com todo aquele café da manhã eu sinceramente pensei que essa refeição extra tinha sido esquecida, no entanto, quando eu me retirava da mesa ela apareceu com uma sacola com seis pães recheados com mortadela, queijo e margarina. Imaginem a cara de felicidade da “criança” ao receber aquele que seria seu almoço.
Com a barriga cheia voltei para o quarto, peguei a Victoria, fiz uma vistoria para ver se não tinha esquecido nada e na sequencia fiz um sincero agradecimento aos simpáticos proprietários e comecei a pedalar somente às 7h45m. 
Pousada Catarinense
O tempo aberto, sem chuva e vento, somado ao relevo plano, favoreceu o deslocamento nos primeiros vinte quilômetros. Mas aqui tudo muda o tempo todo, sobretudo, em relação ao clima. Em poucos minutos o céu que estava limpo começou a ficar repleto de nuvens e a sinalizar que a chuva não tardaria a começar. O que também não demorou em aparecer foi mais um trecho em obra, desta vez com extensão de vinte e cinco quilômetros.
Céu praticamente sem nuvens no começo do dia.
.. uma hora depois .. várias nuvens ..
.. duas horas depois ..
Em tempo recorde o céu fica cada vez mais nebuloso.
Durante a lenta travessia na estrada de terra eu lembrava das palavras do senhor Domingos, caseiro da fazenda onde montei acampamento em Iracema. Segundo ele, essas partes inacabadas é somente uma forma para conseguir desviar ainda mais verba pública. Sinceramente eu não duvido que essa prática seja verdadeira ao considerar o histórico de corrupção, sobretudo, dos políticos brasileiros.
Após o trecho sem pavimentação apareceu uma pista totalmente restaurada e com acostamento que permitiu uma observação melhor da fauna e flora às margens da rodovia, principalmente de igapós, partes alagadas da floresta. Aqui na região é possível visualizar dezenas de áreas cobertas de água que muito provavelmente seja resultado da precipitação frequente. 
Igapós: áreas alagadas, comum na região.
In foco.
In foco.
Aos quarenta quilômetros surgiu a pequena Nova Colina, um distrito que chama atenção pela quantidade de madeireiras que compreende. O lugar também oferece hospedagem e restaurante. Como eu tinha o lanche para o almoço, continuei em frente. 
Madereira na região de Nova Colina.
In foco.
Primeira vez que vejo a palavra transeuntes em uma placa. Antes havia escutado apenas na música: O Segredo do Universo do Raul Seixas.
Ainda falta muita coisa para concluir a obra.
Por volta do meio-dia parei em um dos poucos lugares disponíveis à beira da estrada. O estabelecimento denominado como peixaria era mais parecido com um bar e ponto de encontro dos cachaceiros da redondeza. Enfim, uma mulher estava no local e não se importou que eu realizasse o “almoço” em uma das mesas, que por sua vez, ficava ao lado de um pequeno e bonito rio cercado por inúmeras árvores. 
Paisagem ao lado do "boteco".
Enquanto degustava os lanches preparados  pela Dona Ana Maria e observava a natureza, tive a felicidade de flagrar um bando de macacos que passeavam e quebravam os galhos das árvores. A velocidade no deslocamento destes animais impediu um registro fotográfico melhor. Mas acho que não faltarão oportunidades de conseguir enquadra-los na lente da camera.
Às 13h10m eu já estava de volta à estrada. O tempo ficou todo nublado e um chuvisco até chegou a cair por alguns minutos, mas não ganhou força e o temporal ficou apenas na ameaça. A falta do acostamento tornou a impedir um pedal mais seguro, mas ainda assim foi possível registrar, finalmente, várias araras-azuis nas palmeiras ao lado da rodovia. A presença dos animais servia para me lembrar de que estava cada vez mais próximo do estado do Amazonas.
A triste realidade do acostamento ainda não concluido.
Isso é a Amazônia.
In foco.
A quilometragem infelizmente não acompanhou a passagem das horas e a chegada à Reserva Indigena ficava cada vez mais difícil. Na verdade até mesmo a Linha do Equador custava a aparecer. O que encontrei pelo caminho quando o velocímetro marcava 95 quilômetros foi a Vila do Equador que apresenta uma infraestrutura básica para o viajante que passa pela região.
A Linha do Equador infelizmente não fica na Vila do Equador. O nome do povoado apenas indica uma aproximação da linha imaginária que divide os hemisférios norte e sul. O local apareceu somente 20 quilômetros depois, entre a rodovia e um Centro de Turismo pertecente à Vila do Jundiá, que infelizmente está abandonado. A construção fica exatamente ao lado do esperado ponto que marcava a minha volta ao Hemisfério Sul. Claro que não deixei de registrar de vários ângulos a passagem histórica pelo local. Estava emocionado e extremamente feliz por chegar àquele ponto. 
Linha do Equador localizada na BR 174. Retorno ao Hemisfério Sul.
In foco.
Em dois hemisférios ao mesmo tempo. Foto para a posteridade.
Centro de Turismo abandonado. Dinheiro público jogado fora.
Eu cheguei a visitar o Centro de Turismo ao lado do marco da Linha do Equador para ver se havia algum segurança no local, mas estava totalmente abandonado. É triste ver um investimento jogado fora. Isso porque o local compreende um espaço significativo e que certamente custou muito dinheiro aos cofres públicos. O lugar me pareceu seguro para montar acampamento, mas infelizmente eu estava sem muita água para beber e utilizar no preparo do jantar e o local não tinha nenhuma torneira. Sem muita opção a solução foi continuar o pedal até encontrar uma casa na beira da estrada e solicitar um espaço para acampar.
O pôr-do-sol na Linha do Equador foi simplesmente fantástico. O crepúsculo também estava magnifico. Mas enquanto a noite se aproximava e nenhuma casa aparecia, a floresta cada vez mais fechada se transformava, sobretudo, no que diz respeito à sonoridade. Eu procurava manter a calma diante de um cenário cada vez mais deserto. Àquela altura eu gostaria apenas de encontrar uma casa para montar acampamento, mas infelizmente as poucas que apareciam não tinham área coberta e ficavam ao lado de lugares alagados. 
Obra de arte da mãe natureza.
Sem palavras.
Novamente sem opção, continuei em frente, estava cansado, contudo, ainda restava energia para tentar chegar na entrada da Reserva Indígena. Mas ainda que eu não tivesse mais força eu teria que sair daquele lugar de qualquer jeito. Aquele barulho de sapo e outros seres não identificados nos igarapés e igapós era simplesmente sinistro. Para variar, um cachorro surgiu repentinamente do mato e me deu o maior susto e olha que ele nem sequer precisou latir. O pessoal falou tanto de onça na Reserva Indigena que a hora que o bicho apareceu foi a primeira coisa que me veio na cabeça. Coração acelerou de verdade. (Risada sacana).
O trânsito de veículos na rodovia após às 18h30m ficou cada vez menor porque os portões da Reserva fecham às 18 horas. Aproveitei essa tranquilidade para pedalar no meio da pista e longe do mato à beira da estrada. Não queria ser surpreendido por qualquer animal, muito embora o caminho estivesse iluminado pela lanterna e a lua que facilitavam a minha visão. Mas ainda assim não enxergava nenhum sinal da vila que ficava na entrada da Reserva. A sorte foi que o relevo, relativamente fácil, colaborou para pedalar mais forte. Caso contrário o avanço teria sido ainda mais complicado.
Às 19h30m eu encontrei uma casa à beira da estrada que me pareceu um lugar bom para acampar, uma vez que tinha área coberta que me protegeria em caso de chuva. Quando me aproximei do portão notei que algumas pessoas estavam no fundo da residência e ao meu chamado um senhor se aproximou e pediu para eu entrar. Após a minha apresentação permitiu que eu passasse a noite no local.
Quem me atendeu foi José, caseiro da propriedade rural, um senhor que já foi garimpeiro e andou por muitos lugares do Brasil e também do exterior. Inclusive viveu no Paraná por algum tempo. Trabalhou como “laranja” na Ponte da Amizade em Foz do Iguaçu quando essa tarefa ainda era lucrativa. Hoje leva uma vida tranquila em Roraima.
José preparava a janta na companhia de mais dois amigos. Um peixe cozido estava sendo preparado. Enquanto a refeição não ficava pronta, conversávamos sobre os mais diversos assuntos, a maioria relacionada à vida na região. A prosa foi silenciada somente quando o arroz e a traíra foram servidos. Não recusei o convite para jantar e matei a fome que já era grande.
Antes de dormir ainda fui tomar um banho no simples banheiro externo da humilde residência. O típico banho de balde que é facilmente encontrado no interior da Venezuela estava presente e foi assim que fiquei limpo novamente.
Eu tinha um espaço disponível na área coberta para montar acampamento, mas acabaram me oferecendo uma rede para dormir e com a canseira de horas de pedal não pensei duas vezes em aceitar a sugestão. Precisava descansar de qualquer forma.
Dia finalizado com 136,15 km em 9h08m e velocidade média de 14,88 km/h.
27/03/2013 - 262° dia - Jundiá a Abonarí
Finalmente a travessia da Reserva Indígena Waimiri Atroari.
A noite foi péssima simplesmente porque não me adaptei com a rede que me foi concedida para descansar. Com isso foi praticamente impossível encontrar uma forma de ficar mais confortável e, finalmente, descansar. Mas esse não foi o único motivo pelo qual não consegui restabelecer as energias. A natureza se encarregou de completar a festa.
Durante a madrugada eu comecei a ouvir barulhos estranhos, oriundos de todos os lados possíveis. Como a rede estava atada debaixo da área, na parte externa da casa, eu fiquei muito próximo de toda a mata fechada que cercava a propriedade, contudo, o primeiro sonido diferente surgiu a poucos metros de onde eu me encontrava. Uma tartaruga que estava sendo criada, temporariamente, no banheiro que fica no lado de fora da residência, tentou escapar do local e acabou ficando de ponta cabeça e se rebatendo toda para voltar à posição normal. Claro que levantei e virei o animal indefeso. Minha vontade era de devolvê-lo para a natureza, mas infelizmente eu não tinha muito que fazer, uma vez que não conhecia direito aquelas pessoas e não queria criar confusão que poderia terminar muito mal.
A tartaruga e o seu “grito” para voltar ao normal, também estava longe de ser o som mais incômodo daquelas horas que pareciam não ter fim. Isso porque, frequentemente, eu acompanhava o relógio para ver se já era o momento de levantar e seguir viagem, já que descansar estava muito difícil, ainda mais quando eu comecei a escutar um barulho que, em um primeiro momento não foi identificado, mas sua permanência me fez associa-lo com o som de “desespero” emitido pelos porcos quando estão amontoados nos espaços dedicados à sua criação. Acontece que me parecia muito improvável que alguém tivesse esse animal na região, afinal eu estava próximo de um Reserva Indígena e as propriedades ao redor eram quase inexistentes. O que seria realmente aquilo?
Não sei se existe uma palavra para o coletivo de porco, mas ela poderia muito bem ser utilizada para descrever o momento, porque aquele som que ecoava pela floresta parecia ser de uma centena daquele animal. Engraçado que em alguns momentos “eles” se calavam e o silêncio apenas não imperava em razão de pássaros noturnos que também se manifestavam na calada da noite. Quando eu finalmente conseguia cochilar, era novamente acordado pelo som dos “porcos” que assustadoramente mais parecia zumbis. Quer dizer, eu nunca vi um zumbi, mas conseguia me lembrar do filme “Resident Evil”. Sei que custou para o tempo passar e, para variar, minha rede estava cada vez mais próxima do chão, resultado da experiência do sujeito aqui, em amarrar o leito que deveria ser meu local de descanso.
A madrugada foi chegando ao fim e por volta das 5h30m o pessoal começou a acordar e logo eu já levantei para arrumar minhas coisas e voltar à estrada. Eu estava todo quebrado, mas precisava começar a pedalar bem cedo para não ficar dentro da Reserva Indígena após o período permitido.
Fui convidado a tomar um café e enquanto degustava a bebida eu contava sobre os barulhos estranhos da madrugada. Foi quando eu soube que não tinha nada relacionado com porco. Na verdade era um macaco que eu não recordo o nome, mas que emite o som para demarcar território e conquistar suas fêmeas. Essa é a Amazônia que surpreende e assusta.
Antes de sair da propriedade onde passei a noite, ganhei um pouco de tucumã e não pensei duas vezes em aceitar a fruta bastante conhecida na região porque meu estoque de comida estava quase zerado, quer dizer, havia macarrão na bagagem, mas eu tinha conhecimento que preparar o almoço dentro da Reserva seria bastante complicado. Mas em último caso eu teria que achar uma forma para reabastecer o “motor” com aquilo que tinha à disposição. Uma das opções era parar na Vila do Jundiá e comprar alguma coisa para a refeição matinal e o almoço, contudo, me informaram que os estabelecimentos estariam abertos somente por volta das 8 horas. Acontece que eu não poderia perder todo esse tempo para adquirir os mantimentos. Às 6h10m eu voltava à estrada, não sem antes agradecer os anfitriões por toda a ajuda concedida.
Local onde pernoitei e escutei os mais diferentes sonidos da floresta.
O dia amanheceu bonito e não demorou muito para o sol brilhar forte no horizonte, certeza de mais um dia quente e provavelmente chuvoso no final da tarde. A Reserva Indígena estava mais distante do que eu imaginava, precisei pedalar aproximadamente 6 quilômetros até a Vila Jundiá e mais 1 quilômetro até a entrada da Reserva Waimiri Atroari. Para a minha felicidade, existe um posto de combustível um pouco antes desse ponto. O local conta com uma pequena mercearia e lanchonete. Aproveitei para comer um salgado, comprar alguns pães com margarina e dois pacotes de bolacha. O preço não foi dos mais baixos, mas pelo menos eu não ficaria com tanta fome durante a pedalada. 
Sol nascente.
Passei pela entrada da Reserva quase às 7 horas da manhã, no local existia apenas uma corrente no chão, uma vez que a mesma impede a passagem apenas a partir das 18 horas até às 6 horas. Se não me engano tinha um posto de fiscalização, mas naquele momento estava sem ninguém. 
Entrada da Reserva Indigena Waimiri Atroari
Começava a "pressão" de pedalar no interior de uma reserva indigena.
A Reserva Indigena, segundo o mapa que carrego, tem 125 km de distância e seu território se estende até o Estado do Amazonas, ou seja, eu teria que, obrigatoriamente, pedalar essa distância para sair da reserva. É expressamente proibida a permanência de qualquer pessoa dentro deste espaço exclusivo para os indígenas. A priori eu pensei que teria até às 18 horas para sair, contudo, se nesse horário a entrada ainda é liberada, quer dizer, que a saída fica acessível para quem precisar. Com isso eu fiquei mais tranquilo, contudo, não gostaria de pedalar pela região durante a noite. Muitas pessoas me alertaram sobre a existência de animais silvestres, sobretudo, onça. 
Os primeiros quilômetros na Reserva Indigena.
Por falar em animais, logo no início da Reserva existe uma placa alarmante a respeito dos animais mortos por veículos. São mais de 7 mil em um período de 16 anos. Realmente é um absurdo que os motoristas simplesmente não tenham consciência de que estão dirigindo em uma área que é o habitat de centenas e centenas de animais. Ainda bem que o meu deslocamento é realizado pela bicicleta e que oferece riscos quase nulos. 
Resultado da falta de consciência dos motorista.
In foco.
O ambiente no interior da Reserva é surpreendente. A estrada literalmente passa por meio da floresta. E não existe nada ao redor que não seja árvore e mais árvore e somente árvore. Não existe área de desmatamento, está tudo extremamente preservado, algo que chama atenção de quem está acostumado com o ambiente devastado do Paraná com suas terras voltadas, sobretudo, para o cultivo das plantações extensivas.
O trecho da BR 174 que passa pela Reserva está muito bem conservado e conta com acostamento, contudo, este não está em suas melhores condições, todavia, com o movimento relativamente baixo de veículos é tranquilo pedalar na pista. O relevo também colabora com o deslocamento, ao menos nos primeiros cinquenta quilômetros, onde as subidas são minoria.
A imensidão verde que parece não ter fim acaba proporcionando um ambiente propicio para uma rica e abundante fauna e flora. Por toda a estrada é possível encontrar uma infinidade de pássaros. É verdade que a maioria deles não é visualizada, contudo, é inevitável não ouvir a sinfonia que ecoa pela floresta. 
Flora.
Falta pouco para chegar à capital amazonense.
O que também me surpreendeu enquanto pedalava tranquilamente pelo acostamento foi identificar um filhote de jabuti que estava se direcionando à estrada. Não pensei duas vezes em parar, pega-lo e leva-lo a uma área afastada da rodovia. Não sei se foi a melhor opção, mas naquele momento foi o que consegui fazer pelo animal indefeso que provavelmente aumentaria os números da placa alarmante no começo da Reserva.
A vida em suas mãos.
Pequeno jabuti sobre a bolsa de guidão.
Encontrar aquela pequena tartaruga terrestre me fez reforçar a idéia de como um deslocamento de bicicleta é diferenciado de qualquer outro veiculo motorizado. Acho que seria praticamente impossível um motorista visualizar aquele animal. A possibilidade de observação é simplesmente uma das coisas que mais me fascina nessa arte de pedalar. É certo que, infelizmente, detalhes ainda passem despercebidos, mas procuro ficar cada dia mais atento para tudo que está ao meu redor e, principalmente, refletir sobre cada nova “descoberta”.
Por falar em descoberta, consegui flagrar, inclusive, pela lente da câmera fotográfica, um dos vários macacos que pulavam de galho em galho das árvores à beira da estrada. Já tinha ouvido a algazarra em um trecho anterior, mas não tinha visto nada, dessa vez, no entanto, parei a bicicleta e comecei a observar minuciosamente até encontra-lo no visor da máquina. Registro garantido. Acho que minha presença não era bem-vinda porque eles começaram a emitir um ruído estranho e por isso eu tratei logo de deixa-los em paz. Muitas placas de trânsito pelo caminho orientam para não atrapalhar os animais, assim, achei melhor seguir viagem.
Registro garantido.
Após cinquenta quilômetros a estrada continuou com muito verde por todos os lados, todavia, o relevo passou a apresentar muito sobe e desce e a velocidade média baixou drasticamente. O relevo, no entanto, não foi o único vilão, a temperatura aumentou consideravelmente por volta do meio-dia e tudo ficou ainda mais complicado, inclusive, a minha situação com a reserva de água. Eu estava com pouco mais de dois litros de água que deveriam ser racionados porque não tinha, aparentemente, nenhum local para fazer o reabastecimento, mas economizar o liquido sagrado sob essas condições climáticas é muito, mas muito difícil. Eu sinceramente já cogitava, em último caso, pedir água para os motoristas. 
Igapós são constantes em Waimiri Atroari.
Talvez seja a melhor imagem para definir o que é pedalar no meio da floresta. Que tal?
Por volta do meio dia parei debaixo de uma árvore e comecei a degustar os pães comprados no posto de combustível. Rapidamente eles foram devorados e não saciaram quase nada a minha fome. Então lembrei dos tucumãs que estavam na bagagem e acabaram por fazer parte da sobremesa.Vale ressaltar que um pouco antes desse ponto existe uma construção que eu não consegui identificar sua finalidade, principalmente porque a placa de entrada proibida me fez desistir de qualquer aproximação, muito embora não tivesse visualizado ninguém no local. Em último caso pode ser um local para solicitar água.
Se não me engano, ainda faltavam 60-70 quilômetros para pedalar no período da tarde e por isso não demorei muito no “descanso” do almoço e continuei a viagem por meio da floresta. Era o último trecho no Estado de Roraima, conforme anunciava a placa decrescente da quilometragem da rodovia.
Com 86 quilômetros pedalados eu estava na divisa entre os Estados de Roraima e Amazonas. Precisei apenas atravessar a ponte sobre o Rio Alalaú para chegar a mais um Estado brasileiro. Infelizmente não existe uma placa de boas vindas, mas de qualquer modo, a sensação de pedalar no Estado que concentra florestas, rios, fauna e flora em proporções gigantescas, era incrível. Confesso que demorei em ter idéia de que seguia (de bicicleta) pela Floresta Amazônica em sua essência. Que privilégio!
Último quilômetro no Estado de Roraima.
Ponte que faz a divisa entre Roraima e Amazonas.
Primeiro registro fotográfico em solo amazonense.
Victoria e eu no Estado do Amazonas.
No Estado do Amazonas a viagem continuou pela Reserva Indígena e a estrada permaneceu denominada BR 174, onde o acostamento ficou ainda pior e praticamente impossibilitava o tráfego sobre o mesmo. Por sorte o fluxo de veículos era baixo e transitar na pista não oferecia maiores riscos.
Poucos quilômetros após a divisa, mais exatamente quando o velocímetro marcava 92 km, tive uma surpresa muito boa. Apareceu a entrada da Mineração Taboca que é administrada e/ou tem controle realizado pelos índios. Não hesitei em me direcionar até o local para pedir água. Talvez a minha presença não fosse vista com bons olhos, mas fui pensar isso apenas depois. De qualquer forma eu fui recebido sem nenhum problema e maiores indagações. Abasteceram minhas garrafas de água e minutos depois voltei, tranquilamente, à estrada.
Com o “motor” refrigerado eu precisava apenas continuar em um ritmo mais forte para poder chegar à saída da Reserva antes das 18 horas. As subidas continuavam pelo caminho, contudo, com menos intensidade do que na última parte de Roraima. O que ainda aparecia e com muita frequência eram os igapós que em determinadas áreas pareciam verdadeiros igarapés. Em um dos rios à beira da estrada eu me deparei com outra surpresa.
Enquanto pedalava escutei o som de algo mergulhando ligeiramente e na mesma hora pensei que, finalmente, estava diante de um jacaré. Instantaneamente parei a bicicleta e ao tentar localizar o animal responsável pelo barulho, identifiquei que não se tratava de um crocodilo e sim de uma, duas, várias lontras que olhavam e faziam graça com a cabeça fora d’água. Claro que registrei o momento vivenciado pela primeira vez com esses mamíferos aquáticos durante a viagem.
Lontras pelas águas dos igarapés.
Outro animal visualizado pela primeira vez foi uma cutia que atravessava tranquilamente a estrada. Por muito pouco ela não foi atropelada por um veículo que, infelizmente, andava em uma velocidade muito além daquela permitida na Reserva. Mas ainda bem que o animal conseguiu voltar à mata em tempo, mas não sem antes ser registrado pela lente da câmera fotográfica.
Flagrante de uma cutia.
Por volta das 17h30m eu finalmente encontrei a saída da Reserva que foi anunciada por uma área de mata aberta e completamente alagada em decorrência de um rio existente no local. No posto de fiscalização indígena alguém grita ao me ver passar e imediatamente eu paro a bicicleta já pensando que teria que passar por alguma vistoria para ver se não estava levando alguma coisa daquele espaço protegido. Mas, para a minha surpresa, os índios apenas me cumprimentaram de longe e a passagem estava liberada. A travessia na Reserva foi de 126 km, completados em pouco mais de 9 horas de pedal.
Mata aberta e área alagada, sinal evidente que era o final da Reserva Indigena.
Reserva Waimiri Atroari fica para trás.
Estava extremamente feliz por ter concluído a travessia da Reserva antes das 18 horas, conforme eu havia estipulado. Os índios me avisaram que existia uma vila mais à frente e continuei o pedal para ver se encontrava algum lugar seguro para montar acampamento. O pequeno povoado de Abonarí apareceu exatamente cinco quilômetros depois e, atentamente, fiquei a observar a melhor opção para passar a noite. Na frente de um controle aduaneiro tinha uma propriedade rural com um espaço coberto e bastante propicio para o acampamento. Fui solicitar a permissão para permanecer no local.
Não sei exatamente se era uma chácara, sitio ou fazenda, mas concederam permissão para o acampamento. Fui muitíssimo bem recebido pelos moradores que após uma primeira conversa me convidaram para o jantar. Claro que não recusei o convite, mas antes da refeição eu ainda tive a oportunidade de utilizar o banheiro externo para tomar um banho.
No caprichado jantar, mais uma vez, o peixe estava presente, somente para eu não esquecer que o alimento é um dos mais importantes para a região. E não poderia ser muito diferente em razão dos inúmeros rios existentes. Foi curioso ver as espinhas do pescado sendo dadas aos cachorros que, acostumados, não hesitaram em comer sem passar mal, ao menos, aparentemente. Brinquei com os anfitriões que no Amazonas até os cachorros estão acostumados com essa dieta. Após uma conversa bastante agradável fui descansar.
Dia finalizado com 140,07 km em 9h53m e velocidade média 14,16 km/h. 
28/03/2013 - 263° dia - Abonarí a Presidente Figueiredo
Muita chuva e uma infinidade de subida.
A noite foi tranquila no acampamento, acordei somente uma vez em razão da forte chuva que desabou, mas não prejudicou meu descanso já que eu estava em uma área coberta, medida adotada, justamente, para não ser surpreendido pela precipitação constante da região.
Levantei por volta das 6 horas da manhã e comecei a desmontar a barraca e poucos minutos depois eu já estava pronto da seguir viagem. Mas antes de voltar à estrada, aceitei o convite para degustar o café da manhã que estava reforçado, principalmente porque tinha um cuscuz que acabava de ficar pronto. Sem dúvida a hospitalidade dos anfitriões foi mais do que bem-vinda, até porque eu não tinha mais nada de mantimento para realizar a refeição matinal. 
A fantástica casa da árvore construida por um dos moradores do local onde passei a noite.
A casa foi preparada para todos os tipos de situações. Garantia comprovada.
Victoria debaixo do local que serviu para acampamento.
Os responsáveis pelo local. Muito obrigado pela hospitalidade, camaradas.
Comecei a pedalar exatamente às 07h40m sob um tempo muito nublado que indicava mais chuva pelo caminho. Vale ressaltar, a quem possa interessar, que Abonarí conta com restaurantes e até mesmo simples hospedagens. Também vale mencionar que o caminho após essa pequena comunidade é repleto de subidas bastante íngremes. Foram aproximadamente 20 quilômetros de uma verdadeira montanha-russa. O acostamento existente continua ruim, mas com o fluxo maior de veículos, não há muita alternativa a não ser enfrentá-lo. 
Em direção à Manaus.
O caminho após Abonarí não é dos mais habitados e somente algumas fazendas são encontradas à beira da estrada. A primeira comunidade aparece apenas depois dos 25 quilômetros. Nova Jerusalém no km 174 da BR 174 pode servir de parada a quem estiver pela região. Não recordo exatamente se existe hospedagem, mas sem dúvida há pequenas mercearias onde é possível adquirir mantimentos básicos, sem falar, é claro, da hospitalidade dos moradores que certamente deve existir.
O céu ficou cada vez mais escuro e sinalizava que um temporal estava prestes a cair. Mas a principio eu não me preocupei com isso, sobretudo, em razão da minha determinação em chegar, pelo menos, à Presidente Figueiredo no final do dia. A cidade estava aproximadamente 100 quilômetros de Abonarí e apesar de uma quilometragem relativamente baixa, as subidas entre as duas localidades, dificultava cada vez mais o deslocamento. 
Será que vai chover?
Depois de Nova Jerusalém, várias comunidades são encontradas e o caminho passa a ser razoavelmente habitado, embora sem muita estrutura para viajantes. Eu estava sem nenhuma bolacha ou qualquer outro mantimento para reforçar o estômago durante o exercício físico. Apesar de ter tomado o café da manhã um pouco mais reforçado, eu já esperava ansioso pelo almoço, isso se encontrasse um restaurante ao lado da estrada.
A chuva demorou a cair e quando isso aconteceu, foi com pouca intensidade, uma vez que a maioria das nuvens estava dispersa. Continuei em frente apesar da condição climática que é quase inevitável pela região. Já acostumado a pedalar com chuva, não tive nenhum problema em avançar. O que dificultou um pouco foi o sobe e desce que voltou a ficar acentuado depois dos 40 quilômetros. Precisei de muita paciência para completar uma série de inclinações que exigia a utilização das marchas mais leves.
Por volta do meio dia encontrei um restaurante em uma pequena vila localizada 55 quilômetros depois de Abonarí. O prato feito custou 10 reais e estava, além de caprichado, muito saboroso. No local encontrei um caminhoneiro que, infelizmente, afirmou que o trajeto até Presidente Figueiredo continuava marcado pelo sobe e desce.
O período da tarde foi marcado, sobretudo, pelo forte temporal que começou a cair quando o velocímetro marcava 80 quilômetros. Pedalei com muita chuva nos últimos dias, mas nada se comparava àquela situação. Para se ter uma idéia, quase não se avistava mais veículos na pista em decorrência da visibilidade praticamente nula. Em determinado momento pensei em parar em um posto da Polícia Rodoviária, mas não seria uma estratégia inteligente porque a temperatura corporal cairia drasticamente durante o período de espera. E a chuva não demonstrava nenhum sinal que passaria em poucos minutos, ou seja, uma parada implicaria em montar acampamento, mas ainda era cedo e, apesar de toda aquela água, eu estava disposto a chegar à Presidente Figueiredo. Continuei.
Eu sinceramente não gostaria de chegar à Presidente Figueiredo debaixo de chuva porque isso significava que seria praticamente impossível conhecer as principais atrações turísticas da cidade, as famosas cachoeiras que muitas pessoas haviam mencionado como uma visita imperdível. Mas com aquele clima não tinha sentido pedalar por estradas de terra e ainda ficar sem um registro fotográfico das maravilhas da região. A cidade talvez possa ser comparada à Brotas em São Paulo, no que diz respeito aos esportes de aventura. 
As inclinações da estrada continuaram, conforme havia mencionado o caminhoneiro. Então tive que encarar essa combinação nada agradável de subida e chuva. Mas eu continuava tranquilo e abusava do meu fone de ouvido que não foi retirado durante o temporal. Uma música aumentava meu moral diante daquelas condições não muito favoráveis para pedalar. Acho que acabei descobrindo que o fone é a prova d’água porque ambos os lados continuaram funcionando normalmente.
Depois de muito sacrifício cheguei à Presidente Figueiredo por volta das 17h30m. A chuva continuava, mas com menos intensidade, entretanto, descartei a possibilidade de acampamento. Por isso, na entrada da cidade fui direto ao centro para encontrar uma hospedagem econômica. Achei o Hotel dos Viajantes onde um quarto muito simples custou 30 reais com desconto. Se o preço e a estrutura física do dormitório não eram dos mais convidativos, pelo menos a recepção foi tranquila, sobretudo, porque eu estava encharcado e apesar dos esforços, foi impossível não deixar uma poça de água pelo caminho percorrido.
Assim que descansei um pouco fui começar a retirar a bagagem para ver quais os prejuízos aquele tanto de água tinha causado no interior do alforje. Mas para o meu alivio, a maior parte das coisas estava seca e pude tomar um banho tranquilamente.
Durante a noite ainda fui andar pelo centro à procura de um supermercado para comprar bolachas para o café da manhã do dia seguinte. Encontrei facilmente o estabelecimento e na sequencia retornar ao hotel para fazer o jantar. Foi a primeira vez, desde que saí de Boa Vista, que não ganhei a refeição noturna. Por isso, tive preparar uma macarronada com sardinha, que, para variar, estava simples, porém saborosa, se bem que sou um pouco suspeito para emitir esse tipo de informação, pois com a fome que eu tenho, tudo fica extremamente delicioso. (Risada sacana).
No hotel eu mandei uma mensagem para o amigo e cicloturista Kayo Soares de Manaus, perguntando se era possível me encontrar na estrada no dia seguinte e se havia problema permanecer por um dia em sua casa. Isso porque eu tinha combinado com a minha anfitriã (Fabiane) que chegaria apenas no sábado, mas como o pedal entre Boa Vista e Manaus seria realizado com um dia de antecedência, eu precisava de um lugar para ficar na sexta-feira. O Kayo, no entanto, não hesitou em dizer que me encontraria na estrada e que eu poderia ficar sem problema em sua residência. Assim eu chegaria e deslocaria na capital amazonense sem maiores dificuldades. Foi uma excelente notícia para terminar o dia.
Dia finalizado com 102,01 km em 8h13m e velocidade média de 12,39 km/h.
29/03/2013 - 264° dia - Presidente Figueiredo a Manaus
Finalmente a chegada à capital amazonense.
Descanso sem dificuldade no Hotel dos Viajantes. O ventilador, como em outras ocasiões, parecia mais uma turbina de avião, não somente pela potência, mas também o barulho era muito parecido, contudo, a canseira e a necessidade de recuperar as energias, impediu que o sono viesse a ser interrompido por causa do equipamento que não foi desligado porque a temperatura, mesmo com a chuva, continuava elevada.
Assim que levantei fui imediatamente degustar a sagrada e energética bolacha, afinal, eu precisava comer alguma coisa para começar a pedalar. E apesar do valor da hospedagem, o café da manhã não estava à disposição. Na sequencia coloquei a calça, meias e tênis ainda molhados, terminei de arrumar a bagagem e voltei para a estrada.
Pouco depois das 7 horas da manhã eu começava a pedalar debaixo de chuva. Sim, para variar continuava caindo água. Sem muita opção o jeito foi seguir viagem. Na saída da cidade eu parei em um posto de combustível para calibrar os pneus. Eu precisava contar com a eficiência máxima dos meus equipamentos para compensar o clima desfavorável.
As subidas permaneceram com as mesmas inclinações do dia anterior e a chuva que estava moderada se transformou em uma verdadeira intempérie que exigiu muita atenção na estrada. A situação não ficou mais tensa porque o acostamento possibilitava certa segurança, embora sua pavimentação não estivesse nas melhores condições.
A paisagem não mudou muito em relação ao cenário encontrado na última semana, contudo, a ausência de fotografias ocorreu mesmo em razão da ininterrupta chuva que não permitia meu avanço mais rápido nas descidas já que o acostamento precário somado à água no pavimento resultava em perigo eminente de queda. Para não correr risco de levar um tombo por falta de prudência eu pedalava cada vez mais com paciência. Ainda assim, por muito pouco não fui para o chão, isso porque em alguns momentos os obstáculos no acostamento me obrigava ir à pista e passar obrigatoriamente pelo degrau existente entre uma parte e outra que, por várias vezes, quase fez o pneu dianteiro escorregar.
A chuva durou exatamente 3 horas, no entanto, apenas 15 minutos depois o asfalto já estava todo seco e a temperatura ambiente era elevada ao ponto de parecer que não havia caído um pingo de água. Esse clima na Amazônia é realmente incrível. 
O sobe e desce entre Presidente Figueiredo e Manaus.
Por volta dos 50-60 quilômetros apareceu um posto da polícia rodoviária e para a minha total surpresa eu fui abordado, questionado se era brasileiro e chamado ao interior do local. Já pensei logo que seria realizada uma vistoria na bagagem, algo que não aconteceu nos oito meses fora do Brasil, no entanto, a abordagem foi apenas para ter mais detalhes da expedição. Isso porque um dos policiais tinha pedalado na Suíça anos atrás e, identificando-se com os cicloturistas que percorrem a região, se solidariza de alguma forma. Eu pude reabastecer minhas garrafas com água mineral trincando de gelada. Também fui informado que três quilômetros à frente eu encontraria um restaurante chamado Carga Pesada. Estava na hora do almoço e eu precisava completar a reserva de energia.
No restaurante eu paguei dez reais em um prato feito que tinha um delicioso peixe frito que desconheço o nome, mas que foi o suficiente para me deixar com a barriga cheia. Não demorei muito no estabelecimento e poucos minutos depois do almoço eu já estava de volta à estrada. Havia avisado o Kayo que por volta das 17 horas estaria próximo da capital e então aumentei o ritmo para não atrasar muito.
Com aproximadamente 80 quilômetros pedalados visualizei o Kayo Soares no sentido contrário da rodovia. O camarada tinha pedalado muito porque Manaus estava há mais de 30 quilômetros de distância. Não sei se mencionei em outra postagem, mas conheço o Kayo pela internet há vários anos, quando ele ainda esboçava as primeiras experiências no cicloturismo. Hoje encontrei um cicloturista com muito conhecimento, quilômetros e diversas histórias na bagagem para contar a outros interessados na modalidade. Confira seu site: http://artepedal.blogspot.com.br/
Antes de seguirmos para Manaus, fizemos uma pequena pausa no acostamento para merendar, essa palavra é bastante utilizada aqui no norte e não passa do nosso conhecido (no Sul-Sudeste) café da tarde. O camarada levou pedaços de bolo e suco porque sabia que não seriam recusadas e realmente não foram. A refeição complementou o almoço e deu ainda mais energia para pedalar pelas inúmeras subidas que ainda apareciam pelo caminho.
Pedalar em boa companhia é sem dúvida mais interessante, sobretudo, para quem viaja sozinho há quase nove meses. Conversar, contar histórias, rir, ter maior conhecimento a respeito da região e tantas outras coisas é a parte vantajosa de viajar com outras pessoas. Sem esquecer, é claro, de que é possível ter alguém que faça registros fotográficos em que você aparece, algo que se torna mais dificil em uma viagem solitária.
Completando mais uma das centenas de subida da região. Foto: Kayo Soares.
Final da subida. Foto: Kayo Soares.
In foco.
Sentido à capital amazonense.
Pouco antes de chegar à capital, nos deparamos com uma aranha (provavelmente caranguejeira) que se direcionava do acostamento para a pista. Fizemos com que ela retornasse à floresta antes que viesse a ser atropelada por um veículo. Claro que não deixamos de registrar o momento. O Kayo Soares, morador da Amazônia e acostumado com esses animais, arriscou até uma aproximação maior para fazer uma comparação do tamanho daquele aracnídeo com a sua mão. 
Kayo Soares buscando contato com o aracnídeo
In foco.
In foco.
Já na entrada da cidade, com pouco mais de cem quilômetros pedalados, nos direcionamos à casa da mãe do anfitrião que nos aguardava para mais uma merenda. Ainda bem que familiares de ciclistas já estão habituados com essa nossa fome praticamente sem fim. No local fui muito bem recebido e após a rápida refeição estava de volta às ruas de Manaus para ir à residência onde o Kayo mora com a sua namorada. Já estava escuro e pedalávamos por uma região que merece um pouco de atenção em relação à segurança, contudo, como o amigo ciclista é morador local e conhece onde é “permitido” passar, seguíamos pelos atalhos, becos, vielas, ruas e avenidas.
Pouco antes de chegar à Manaus.
Finalmente no coração da Amazônia.
De Foz do Iguaçu à Manaus, pedalando.
Eu buscava observar, apesar da canseira, escuridão e do trânsito movimentado, tudo aquilo que estava ao meu redor. Estávamos em uma região periférica e por isso não raramente deparávamos com uma realidade bastante simples, sobretudo, em relação às residências e as próprias pessoas. Mas isso não significa que sejam inferiores ou superiores a alguém de outras localidades, pensar dessa forma seria um equivoco.
Na casa do Kayo fui mais uma vez muito bem recebido e após tomar um banho fui convidado a jantar na companhia da família e outros amigos ciclistas. Acho que hoje terminei o dia sem perder nenhum grama, afinal, foram cinco refeições muito bem-vindas, diga-se de passagem. Já estava tarde e por isso não demorei em capotar num espaço reservado para eu poder passar a noite.
Dia finalizado com 129,53 km pedalados em 10h11m e velocidade média de 12,70 km/h.
30/03/2013 - 265° dia - Manaus (Folga)
Primeiro dia de folga na capital amazonense.
Hoje foi um daqueles dias que a gente não esquece. A começar pela noite tranquila e com descanso garantido. A manhã também foi sossegada e precisei apenas separar as roupas sujas para lavar. Aproveitei a disponibilidade da máquina para deixar as vestimentas limpas. Assim como não desperdicei a oportunidade de fazer um backup de 45 Gb distribuídos entre fotos e vídeos da viagem. Agora todo o material está salvo no HD do camarada Kayo. Já tinha passado da hora de fazer esse trabalho.
Local de descanso. A organização faz parte do processo, rs.
O anfitrião convidou alguns amigos ciclistas para um almoço especial; Tambaqui assado. O pessoal começou a aparecer aos poucos e repentinamente a casa estava repleta de bicicletas, ciclistas e muitas conversas interessantes. Confraternização talvez seja a melhor palavra para definir o momento. O ambiente estava excelente e muito animado. O silêncio aconteceu somente na hora em que o peixe foi servido com um baião-de-dois preparado pela dona da casa. Almoço simplesmente espetacular, não à toa fui um dos últimos a deixar a mesa. Mas também não é todo dia que eu tenho o prazer em degustar um Tambaqui pescado na Amazônia.
As bicicletas estacionadas de um lado e o tambaqui assando de outro.
In foco.
Tambaqui: O melhor peixe da Amazônia provado até o momento.
A galera do Saga Bike. Foi uma honra conhecer vocês.
No período da tarde rolou uma conversa muito descontraída entre a galera. Assistimos vídeos de viagens e não hesitamos em contar várias histórias. Eu particularmente achei fantástica aquela atmosfera de conhecimento. Aprendizado único. Todos escutavam atentamente cada situação narrada. Sentia-me entre verdadeiros amigos de longa data. Em um determinado momento a conversa foi gravada para deixarmos de recordação para as próximas gerações. (Risada sacana).
No final da tarde arrumei minhas coisas para ir à casa da outra anfitriã, mas a saída foi atrasada em razão de um temporal que se aproximava. Sei que já estava quase anoitecendo quando começamos a pedalar. Como eu ainda não conhecia o caminho, o Kayo me acompanhou pelos 11 quilômetros até chegar à casa da Fabiane, onde ela me aguardava. Agradeci ao camarada pela excelente hospitalidade e ainda combinamos de marcar um pedal pelas trilhas da região, uma vez que vou ficar na cidade por mais alguns dias.
Chegada à casa da Fabiane.
A receptividade na casa da Fabiane também foi excelente e assunto não faltou nesse primeiro contato. Inclusive eu soube maiores detalhes a respeitos dos lugares que ela se prontificou a me apresentar nos dias seguintes.Acho que ainda não comentei, mas nós temos um amigo em comum no Rio de Janeiro e foi através dessa intermediação que começamos a conversar e surgiu a hospitalidade que foi rapidamente aceita.
Dia finalizado com 11,23 km pedalados em 0h56m e velocidade média de 11,95 km/h.
31/03/2013 - 266° dia - Manaus (Folga)
Páscoa.
Dia dedicado exclusivamente a um merecido descanso.
Ao ligar para a minha mãe tive a triste notícia que nosso gato Sid tinha morrido. Infelizmente ele sofreu uma fratura na coluna que o deixou sem movimento nas pernas traseiras e isso acarretou toda uma situação onde ele parou de andar, comer e beber. Mesmo com atendimento veterinário ele não conseguiu se recuperar.
Ainda sem poder se locomover por mais de duas semanas, Sid foi um guerreiro por enfrentar toda essa situação sem demonstrar o que provavelmente estava sentindo. Muitos amigos ciclistas estiveram em casa e conheceram seu espirito valente e brincalhão. Sid que fazia amizade facilmente. Mas infelizmente ainda existe “ser humano” que desconta nos animais a frustração do cotidiano. Digo isso porque a paralisia certamente foi causada a partir de uma pancada que ele recebeu.
Apesar de termos conhecimento gravidade do estado de saúde daquele que nos acompanhou por mais de 4 anos, tínhamos muita esperança em sua recuperação, contudo, mesmo com todos os esforços ele não resistiu e nos deixou em plena Páscoa. Muitas coisas nessa vida fogem do nosso entendimento e agora nos resta lembrar os vários momentos em sua companhia. Sentirei sua falta, camarada.

Na hora do almoço foi a vez de provar o Tambaqui assado preparado pela mãe da Fabiane. Mais uma preciosidade que tive a oportunidade de saborear. Muito bom mesmo.
01/04/2013 - 267° dia - Manaus (Folga)
Retorno à universidade.
Aceitei o convite da Fabiane, estudante de Serviço Social, e fui visitar a Universidade Federal do Amazonas (UFAM). O campus do setor norte é simplesmente imenso e fica em meio a uma extensa área verde. Acho que não seria exagero dizer que é a universidade, literalmente, na floresta. Mas engana-se quem pensa que esse fato implica em uma estrutura física precária. Essa não foi a realidade presenciada, deparei-me, em um primeiro contato, com uma universidade que apresenta satisfatórias condições físicas para o estudo. Inclusive com prédios novos e outros em construção.
A minha passagem pela UFAM ocorreu no começo de uma semana definitiva para a instituição que passava pela campanha do segundo turno para eleger o novo reitor. A minha anfitriã participa de uma das chapas que está na disputa e consequentemente não deixou de aproveitar a presença para reforçar o movimento em favor à sua candidata. Acabei, ainda que de forma tímida, participando desse processo. Foi interessante apoiar a reeleição de uma pessoa que trouxe muitos avanços para a universidade.
Regressar a uma universidade me fez lembrar os tempos da graduação. Não sinto falta das provas e relatórios de textos com prazos rígidos de entrega, contudo, gostara muito de ter novamente os acirrados debates, simpósios, semanas acadêmicas e toda essa atmosfera encontrada no ambiente universitário. Voltar a esse tipo de instituição me fez reviver os planos de fazer o mestrado em História. Ainda estou pensando a respeito, quem sabe no próximo ano.
Na universidade acabei conhecendo amigos da Fabiane, destaque para as simpáticas e animadas Daiany e Alcione que me fizeram companhia em momentos que a minha anfitriã realizava campanha nas salas de aula. Entre as conversas me contaram que não raramente animais aparecem pelos corredores da universidade. A principio suspeitei das informações, mas não demorou muito e surgiu uma serpente para assustar os mais desatentos. Nada como estudar na floresta amazônica para ter esse tipo de surpresa.
Na volta para casa, já no período da noite, foi possível presenciar a ineficácia do transporte coletivo na cidade. Em um dos pontos de ônibus, aqui chamados de parada, nossa espera foi longa. Mas de qualquer forma isso não foi suficiente para deixar o dia menos interessante.
02/04/2013 - 268° dia - Manaus (Folga)
Dia dedicado quase exclusivamente à atualização do diário de bordo.
Na parte da noite fui conhecer, na companhia da Fabiane e Daiany, um dos pontos turísticos mais famosos da capital; magnifico Teatro Amazonas, inaugurado no final do século XIX é a expressão mais significativa da riqueza da região durante o Ciclo da Borracha. Hoje, infelizmente o teatro estava com as portas fechadas, mas ainda assim foi possível ficar impressionado com seu tamanho e arquitetura, sem contar a história por trás de todo esse projeto. Nos próximos dias pretendo fazer uma nova visita para conhecer a parte interna e realizar registros fotograficos com mais luminosidade.
Famoso Teatro Amazonas.
Uma parte da história do Teatro Amazonas e também da própria cidade foi contada pelas mulheres inteligentes que me acompanhavam. Nada melhor do que uma excelente companhia para conhecer melhor a região a partir de uma perspectiva de quem mora e participa da realidade do município.
Largo de São Sebastião na frente do Teatro Amazonas.
No centro da cidade ainda visitei algumas praças talvez menos conhecidas, porém não menos interessantes. Todavia, um dos lugares que mais chamou atenção, sem dúvida, foi o Parque Senador Jefferson Peres, local resultante de uma revitalização urbana realizada pela prefeitura e que muito agrada moradores e turistas. A extensa área conta ainda com espaços destinados à prática de esportes e um agradável passeio meio a um jardim, diga-se de passagem, muito bem cuidado. Vale a pena uma visita.

Parque Senador Jefferson Peres.
Fabiane e Daiany, as mulheres inteligentes e animadas que me acompanharam pela cidade.

Parque Senador Jefferson Peres.
03/04/2013 - 269° dia - Manaus (Folga)
Dia dedicado quase exclusivamente à atualização do diário de bordo.
A mãe da minha anfitriã – que também me recebeu muito bem – é grande entusiasta de uma das maiores manifestações folclóricas da América Latina; Festival Folclórico de Parintins que expressa lendas, mitos e tradições do povo amazônico. E foi ela que me contou mais detalhes sobre o festival que faz questão frequentar quase todos os anos.
Atualmente o espetáculo, que acontece em junho na ilha de Parintins (distante 420 km de Manaus), tem transmissão televisiva em rede nacional, contudo, pouco se conhece dessa festividade em outras regiões do Brasil. Talvez o que muitos devem conhecer é a existência dos bois Garantido e Caprichoso, ambos surgidos no início da segunda década do século XX. Aqui foi possível entender melhor a história por trás desses dois animais.
“O Bumbódromo de Parintins tem capacidade para 40 mil pessoas e em cada uma das três noites de espetáculo, apresentam-se cerca de 4000 brincantes, representando seu boi favorito. [...] O espetáculo é dividido em 2h30 de apresentação para cada competidor e a cada noite um show diferente surpreende pelos mais belos e impressionantes elementos de cena, luz, som e interpretação. No dia seguinte à última apresentação é revelado o vencedor da festa”
O que mais me chamou atenção é que o festival acaba sendo uma forma de manter a cultura dos povos da Amazônia. Uma prova disso é a própria mãe da Fabiane que conhece muitas coisas da região a partir do Festival, sobretudo, pelas músicas de cada boi. Eu particularmente achei tudo bem interessante, inclusive, os dvds que tive a oportunidade de assistir. Uma pena que não estarei na região na data do evento, mas quem sabe em outras ocasiões.
Hoje na hora do almoço eu provei o famoso Pirarucu, peixe encontrado no Rio Amazonas e bastante conhecido pelo seu tamanho. O pescado preparado estava muito saboroso, contudo, ainda não supera o Tambaqui assado. De qualquer forma é mais um prato típico que eu tenho a oportunidade de degustar. Viajar é bom demais.
Almoço especial com Pirarucu.
04/04/2013 - 270° dia - Manaus (Folga)
Dia dedicado exclusivamente à atualização do diário de bordo.
05/04/2013 - 271° dia - Manaus a Urucará (Folga)
Chegou o dia de viajar para o interior do Amazonas.
Quando entrei em contato com a Fabiane ela me apresentou um roteiro que poderíamos fazer durante a minha passagem por Manaus. Um dos locais que seria visitado era justamente sua cidade natal (Urucará), no interior do estado. A escolha fazia parte de um trabalho que ela coordenaria no dia 07/04 e que eu também estava escalado para participar. O serviço remunerado sem dúvida apareceu em um momento importante e ajuda a pagar parte dos gastos durante a estadia na capital amazonense.
Para chegarmos à Urucará pegamos um ônibus na precária rodoviária de Manaus. Muito embora, várias pessoas chegam à capital por meio de barco ou avião, é inadmissível que uma capital tenha um terminal rodoviário em uma situação critica e pior do que muitas cidades do interior do interior, sobretudo, para um lugar que receberá eventos importantes como, por exemplo, a Copa de 2014. De qualquer forma às 8 horas pegamos o ônibus em direção ao nosso destino.
Acho que foram aproximadamente 6-7 horas de ônibus até a cidade de Itapiranga onde pegamos uma lancha sentido à Urucará. O Rio Paraná da Eva é a “estrada” para se chegar ao município do interior. Aliás, se você pegar um mapa do Estado vai perceber que a maioria das cidades tem acesso apenas por barco e, às vezes, avião.
Com quase uma hora de viagem de lancha, finalmente chegamos à Urucará para passarmos 3-4 dias hospedados na casa de familiares da Fabiane, que por sua vez, está localizada de frente para o rio onde aportamos.  A cidade é pequena e talvez tenha aproximadamente 20 mil habitantes e poucas ruas, contudo, ainda assim preserva toda a peculiaridade da natureza da Amazônia que eu pretendo conhecer nos próximos dias.

Em um primeiro momento chama atenção o número de motocicletas no municipio. O veículo motorizado sobre duas rodas parece significar status e por isso, mesmo sem necessidade, boa parte da população exibe orgulhosa seu patrimônio. Eu particularmente acho um abusurdo, mas resta-me apenas observar e torcer para que essa realidade seja transformada. Vale ressaltar também que há muitas bicicletas pelas ruas, contudo, um número significativo delas é movida à eletricidade, uma questão bastante curiosa e que eu realmente não esperava encontrar na região.
A vista do quintal da casa dos familiares da Fabiane.
Em um breve passeio no final da tarde paramos em um pequeno estabelecimento para comer o tradicional e reforçado Tacacá que " é preparado com um caldo fino e bem temperado geralmente com sal, cebola, alho, coentro do norte, coentro e cebolinha, de cor amarelada, chamado tucupi, sobre o qual se coloca goma de tapioca, também conhecida como polvilho, camarão seco e jambu. Serve-se muito quente, temperado com pimenta, em cuias." Eu havia degustado esse prato típico na capital, contudo, este de Urucará estava infinitamente melhor. Para quem deseja uma refeição saborosa e com sustância, essa é a opção. 

Tacacá: Iguaria da região amazônica.

Vai um Tacacá aí?
06/04/2013 - 272° dia - Urucará (Folga)
Pescar na Amazônia não tem preço.
Hoje nosso dia foi dividido entre trabalho e diversão.
No período da tarde fui ao treinamento ministrado pela Fabiane para que eu e os demais fiscais estivéssemos aptos à aplicar a prova do governo do estado aos professores da rede estadual, no dia seguinte. A tarefa levou um tempo maior do que imaginávamos e por isso estávamos “somente” com o final da tarde e a noite à nossa disposição. Aproveitamos e fomos pescar no flutuante que serve como embarque e desembarque de passageiros, localizado, praticamente na frente da nossa hospedagem.

Antes de começar a pescaria, aproveitamos para registrar o magnifico pôr-do-sol em plena Amazônia. Um cenário simplesmente esplêndido que mereceu ser clicado de todos os ângulos. Confira um pouco do visual que estava diante dos nossos olhos:
Região portuária de Urucará

Flutuante onde resolvemos pescar.
Registro imperdível do pôr-do-sol.
.. de outro ângulo ..
Pôr-do-sol na Amazônia.
Pôr-do-sol na Amazônia.
E que a minha vida continue iluminada.
Entardecer em Urucará
Pôr-do-sol na Amazônia.
Pôr-do-sol na Amazônia.
Pôr-do-sol na Amazônia.
Pôr-do-sol na Amazônia.
Pôr-do-sol na Amazônia.
Pôr-do-sol na Amazônia.
Não estávamos nada preparados para pescar e por isso nosso equipamento foi quase no improviso, uma simples vara de pescar e algumas linhadas. Cortamos um pedaço de carne e utilizamos como isca, tudo sem muita frescura, como tem que ser. Simples assim.
Eu pesquei, na companhia do meu avô, por muitas vezes em diversas fases da minha vida, contudo, após o seu falecimento há 6-7 anos eu voltei a praticar essa arte somente em outras duas ocasiões com o meu tio em São Paulo, não sei, mas me parece que perdi um pouco da alegria em pescar, contudo, esse sentimento foi, de certa forma, recuperado na noite de hoje. Acho que devo isso a vários fatores, companhia animada e ímpar da Fabiane, a pesca em plena Amazônia e os peixes que facilmente eram fisgados, mesmo com os equipamentos inapropriados. Foi simplesmente inesquecível. 
Olha a felicidade da criança.
A responsável por tudo isso.
07/04/2013 - 273° dia - Urucará (Folga)
Dia dedicado ao trabalho, sim trabalho. (Risada Sacana)
Hoje pela manhã fui caminhar um pouco pela região portuária para registrar o tempo fechado que anunciava uma forte chuva que não demorou a cair.
Temporal
Lá vem a chuva, corre.
Almoçamos mais cedo e ao meio-dia estávamos prontos para começar o trabalho. Minha função não era das mais difíceis e precisei apenas acompanhar os participantes antes e durante as provas, tudo muito simples, mas cansativo, afinal, saímos da escola apenas às 18 horas, após a finalização de todo o  processo burocrático.
 De volta ao lar tivemos uma grande surpresa. A família dos dois garotos indígenas que alugam um quarto na casa do avô da Fabiane, estava presente. Acontece que eles são indígenas legítimos, se é que posso assim dizer, eles moram muito distante de Urucará e vem à cidade uma ou duas vezes por mês para receber o beneficio oferecido pelo governo e vender os produtos feitos na aldeia, principalmente, farinha.
A família indígena quase não falava português e esse fato me chamou atenção, porque deparar com tal situação em seu próprio país não é algo que acontece todo dia e eu tinha plena consciência desse fato histórico. Aliás, a Fabiane também ficou deslumbrada com a presença deles. Na tentativa de manter um diálogo, o inteligente aqui, começou a falar, naturalmente, em espanhol, sem perceber que estava no Brasil. Agora imagine, se eles mal sabem português, o que eu tinha que falar em espanhol? Acho que eu passei tantos meses falando o idioma oficial dos países vizinhos que ao ver os índios pensei que estava na Bolívia, por exemplo, onde a maior parte da população é indígena e geralmente fala espanhol e quéchua/aimará. Paciência.
Indigenas da Amazônia.
Se o idioma era um problema no sentido de conseguir uma melhor comunicação com os indígenas da Amazônia, o mesmo não aconteceu quando eles visualizaram o vídeo da minha viagem em que apareço acima dos 4 mil metros de altitude a uma temperatura de 7° negativos e debaixo de muita neve no Peru. Foi um momento bastante emocionante ver a expressão e o olhar fixo daquelas pessoas que poderiam não entender uma palavra do que estava sendo dito, mas que talvez conseguissem imaginar a situação. 
Os índios assistindo um dos vídeos da minha viagem.
Logo após mostrar o vídeo da neve, tivemos uma surpresa, um dos índios apareceu com um notebook todo moderno. Era a sua vez de compartilhar vídeos realizados na aldeia em que vivem. Assistimos à cerimonias e festividades com diversas peculiaridades. Em um momento, por exemplo, é possível visualizar vários macacos capturados, mortos e que seriam degustados depois de assados. Uma realidade muito diferente da nossa.
08/04/2013 - 274° dia - Urucará (Folga)
Nosso último dia em Urucará.
Tínhamos combinado de sair para algum balneário da região durante o período da manhã, mas acabamos marcando para o meio-dia, todavia, antes do almoço começou uma chuva que impossibilitou a realização de qualquer planejamento. Paciência. 

Com o tempo chuvoso restou registrar os animais do quintal.
No final da tarde, com o tempo um pouco melhor, saímos para caminhar até o novo porto da cidade onde atualmente aportam as balsas com veículos e os mais diversos produtos. Era para a instalação ser utilizada também como embarque/desembarque de passageiros, mas essa funcionalidade não interessou aos moradores que continuam utilizando a antiga opção.
Rio Paraná da Eva em Urucará
Realidade dos moradores ribeirinhos.


 
Realidade dos moradores ribeirinho.


Balsa: importante meio de transporte.
Sinal de um novo tempo.
De frente para o rio ficamos apenas observando a natureza em suas mais diversas e belas formas, inclusive, foi neste local que ligeiramente visualizei o famoso boto que, infelizmente, não foi flagrado pelas lentes da câmera, mas que ainda assim me deixou bastante animado por ter a oportunidade de conhecer toda essa fauna da Amazônia. Por isso e muito mais que estou vivendo um dos momentos mais felizes da minha vida. 

Flagrante
Paisagem típica da região.

Cena do cotidiano.

Mais um pôr-do-sol fascinante.

09/04/2013 - 275° dia - Urucará x Manaus (Folga)

Dia dedicado exclusivamente para retornar à capital amazonense.

Hoje tivemos que acordar ainda mais cedo porque a lancha sairia de Urucará exatamente às 6 horas da manhã. Foi um pouco corrido, mas no final conseguimos pegar a embarcação em direção à Itapiranga para então seguir à Manaus de ônibus.

Pouco antes de sairmos de Urucará a chuva começou, mas ainda assim a viagem continuou e apesar da condição climática não tivemos nenhum imprevisto. Dessa vez o trajeto foi até mais rápido e em 40 minutos estávamos no nosso primeiro destino onde precisamos apenas aguardar o ônibus por alguns minutos.

A viagem Itapiranga x Manaus também foi tranquila e a única surpresa foi o aumento considerável no preço da passagem que subiu de 42 para 52 reais. Como eu estava a trabalho, não precisei desembolsar esse montante, mas ainda assim fica a ressalva para a prática abusiva que foi justificada pelo aumento do combustível. Lamentável.

10/04/2013 - 276° dia - Manaus (Folga)

Dia dedicado quase exclusivamente à atualização do diário de bordo.
No período em que estive em Urucará foi praticamente impossível escrever o diário de bordo, até porque eu também queria aproveitar ao máximo para conhecer o lugar. Novamente em Manaus comecei a árdua tarefa de atualizar o diário, mas acontece que sempre aparece algo interessante para fazer e conciliar ambas as coisas parece impossível. Mas sigo firme e forte na luta.
Muitas vezes uma simples, porém interessante conversa sobre os mais diversos assuntos, sobretudo, relacionados à região despertam minha atenção de tal forma que as horas passam rapidamente e quase não consigo tempo para escrever. Por isso peço compreensão dos estimados amigos leitores que assiduamente acompanham o site. Mantê-lo atualizado ainda é um dos objetivos do meu projeto.
Pé-de-moleque e a fruta amazônica Mari-Mari.
11/04/2013 - 277° dia - Manaus (Folga)
Finalmente no Rio Amazonas! Uhuuuuuu!
Hoje seria um dia dedicado à atualização do diário de bordo, mas recebi o convite da mãe da Fabiane para conhecer a famosa Praia da Ponta Negra que está localizada no Rio Negro, que por sua vez, é um dos vários nomes que recebe o Rio Amazonas (maior do mundo) em toda a sua extensão.
A Ponta Negra é um dos lugares mais conhecidos da cidade, todavia, por cinco meses ficou interditado em razão das 13 mortes ocorridas por afogamento no ano passado.  As vitimas em sua maioria eram pessoas embriagadas e crianças que ficaram sem os cuidados dos pais. De qualquer forma, a praia passou por uma revitalização e foi inaugurada ontem. Por isso aproveitamos para conhecer o novo visual do ponto turístico.
Do Distrito Industrial até a Ponta Negra, um dos bairros mais luxuosos de Manaus, levamos cerca de 1h30m de ônibus. Mas valeu a pena todo esse tempo no deslocamento, pois na chegada ao local eu estava simplesmente diante do maior rio do mundo. O famoso Rio Amazonas. Sensação indescritível. 
Na Praia da Ponta Negra no Rio Negro (Amazonas)
A praia da Ponta Negra, segundo afirma quem conhecia o local, está bem diferente. Algumas pessoas aprovaram as mudanças, outras já tem uma opinião diferente e certo saudosismo ao modelo antigo. Eu particularmente gostei bastante do que encontrei por lá. Se não fosse a ausência de sal e ondas na água, seria uma praia legitima.
Praia da Ponta Negra

Praia da Ponta Negra

Praia da Ponta Negra

Calçadão da Ponta Negra

Com a temperatura elevada e aquela água à disposição foi impossível não mergulhar no maior rio do mundo. Mais uma experiência única que essa viagem me proporciona. Estou cada dia mais e mais feliz.

As águas do Rio Negro estavam relativamente quentes e talvez por isso eu tenha permanecido quase 3 horas sem sair da água, somente curtindo aquela paisagem impar. Vale destacar também a Ponte do Rio Negro que apesar de toda a discussão sobre o superfaturamento da obra, foi inaugurada recentemente e hoje liga Manaus a outras cidades do interior.
Ponte do Rio Negro
Ponte do Rio Negro
Depois de muitas horas dentro d’água estava na hora de ir embora. Voltar para casa não foi fácil. O trânsito de Manaus que no horário normal já é complicado, fica ainda pior na hora do rush. Levamos simplesmente 2 horas para chegar em casa. No ônibus lotado eu apenas imaginava como seria muito melhor realizar o trajeto em uma simples bicicleta.  
Passeio aprovado. Fica a recomendação.

12/04/2013 - 278° dia - Manaus (Folga)
Dia dedicado exclusivamente à atualização do diário de bordo.
13/04/2013 - 279° dia - Manaus (Folga)
Dia dedicado exclusivamente à atualização do diário de bordo.
14/04/2013 - 280° dia - Manaus (Folga)
Dia dedicado exclusivamente à atualização do diário de bordo.
15/04/2013 - 281° dia - Manaus (Folga)
Hoje a pretensão era finalizar pelo menos a atualização do diário de bordo para realizar a postagem amanhã, contudo, as inúmeras surpresas no decorrer do dia mudaram os planos mais uma vez.
Recebi em apenas um dia, três convites para conceder entrevista a respeito da viagem de bicicleta pela América Latina. Quem primeiro entrou em contato foi o pessoal da TV Cultura aqui do Amazonas. A entrevista seria no dia seguinte e, para variar, ao vivo, algo que eu ainda não havia vivenciado, contudo, sem hesitar, aceitei participar do programa ao meio-dia e fiquei de enviar por e-mail um material com fotos e vídeos.
Separar as fotos mais bacanas da viagem foi mais difícil do que imaginava, isso porque já são mais de 40 GB somente de imagens, ou seja, selecionar os melhores registros dos nove meses de expedição demanda um tempo enorme. E enquanto eu separava esse material recebi o segundo telefonema. Era mais um convite de entrevista, dessa vez por parte da Rede Amazônica, filiada à Rede Globo, que também perguntou se era possível fazer a filmagem amanhã. Como a gravação seria no período da tarde, aceitei o convite. O pessoal solicitou um material extra e fiquei responsável por leva-lo na hora da entrevista, que por sua vez, seria na praia da Ponta Negra. Achei o lugar perfeito para a matéria.
Depois de nove meses eu estava prestes a ceder as primeiras entrevistas da viagem. Acontece que no exterior eu não procurei nenhum meio de comunicação para divulgar a expedição. E aqui no Brasil não foi diferente, mas acontece que por essas bandas eu tenho muitos amigos e conhecidos que estão acompanhando a viagem, Keyce Jhones é um deles, morador de Manaus não hesitou em enviar aos jornais a sugestão de pauta sobre a minha passagem pela cidade. Um dos amigos da Fabiane estuda Comunicação na UFAM e também fez o mesmo procedimento. Por isso os telefonemas começaram a aparecer.
Eu continuava a difícil seleção das fotos quando mais uma pessoa entra em contato, desta vez era do jornal impresso EM TEMPO, também aqui de Manaus. É um dos mais importantes da cidade e também não recusei a entrevista, todavia, mencionei que não tinha tempo para ir ao jornal no dia seguinte. Assim combinamos de que eu responderia as questões enviadas por e-mail, contudo, o tempo passou ligeiramente e no final do dia, cansado, eu não tinha nem selecionado as fotos e muito menos respondido as perguntas para o jornal. E agora? O que fazer? Dormir!
Eu não consigo mais fazer os neurônios funcionarem a partir de um determinado horário, então achei melhor dormir, acordar cedo no dia seguinte e pensar no que fazer.  Mas antes de finalizar o dia eu tive a idéia de enviar um e-mail para a TV Cultura com o endereço do meu site para que eles mesmo fizessem a seleção das fotos para colocar no ar durante a entrevista que, diferente da Rede Globo, seria ao vivo e consequentemente exigia uma urgência maior no envio das fotos. Já era uma questão resolvida.
16/04/2013 - 282° dia - Manaus (Folga)
Dia histórico na minha vida.
Três entrevistas em um mesmo dia. Sinceramente não sei se isso vai acontecer de novo nos próximos cem anos. (Risada Sacana)
Acordei cedo para resolver as duas questões pendentes; terminar de selecionar as fotos e responder as perguntas enviadas por e-mail. Acontece que apesar de todos os esforços para manter a calma, foi praticamente impossível não ficar tenso. E eu simplesmente não sabia o que fazer primeiro.
Depois de pensar por um período resolvi ligar para a jornalista do EM TEMPO e fazer a sugestão de responder as perguntas pessoalmente, era uma forma de ganhar tempo. No entanto, ela necessitava das informações antes das 14 horas, então combinamos que assim que eu terminasse a entrevista na TV Cultura eu seguiria direto para o edifício do EM TEMPO. As fotos ela também poderia escolher no site. Mais uma questão solucionada.
Ainda restava selecionar as fotos e vídeos para a Rede Globo, mas eu já não tinha tempo para mais nada. Às 9 horas o camarada Kayo Soares, atendendo a um pedido de ajuda, apareceu aqui na casa da Fabiane para me acompanhar por essa maratona: TV Cultura, Jornal EM TEMPO e Ponta Negra (local combinado com a Rede Globo). Detalhe, todos os jornalistas pediram se não era possível ir com a bicicleta carregada. Por isso precisei de ainda mais tempo para colocar os alforjes na Victoria, ambos estavam sujos, mas naquele momento eu nem me importei com isso, afinal, era a realidade da viagem.
Antes de sair de casa eu tinha decido que levaria o netbook na bagagem e mostraria as fotos e vídeos para o pessoal da Rede Globo e caso eles tivessem interesse passariam o material para algum pen-drive.
Começamos o pedal às 10h15m. O tempo estava nublado e parecia que não demoraria muito para chover. Era só o que faltava, chegar encharcado no estúdio, onde eu deveria estar às 11 horas para entrar, ao vivo, uma hora depois. Felizmente, entre a casa da Fabiane e a TV Cultura foram apenas 6 quilômetros e mesmo com o trânsito complicado e as ruas esburacadas, conseguimos chegar a tempo e antes da chuva começar.
Fomos muito bem recebidos na TV Cultura e orientados a seguir diretamente ao estúdio que mais parecia uma câmara de frigorifico de tão frio que estava. Detalhe, eu estava com a minha roupa sexy e curta de ciclista (Risada Sacana).
O clima no estúdio, apesar de literalmente frio, era de tranquilidade, nem parecia que em poucos minutos alguém estaria apresentando um programa ao vivo. Acho que isso acabou por me deixar mais calmo. Estava sentado à espera de alguém para me dizer qual seria o procedimento da entrevista, mas o tempo passava e ninguém tocava no assunto. Acho que duas pessoas perguntaram se eu era o ciclista viajante, mas não falaram mais nada. Somente em cima da hora que a apresentadora apareceu no estúdio e me avisou que eu entraria no segundo bloco e que a conversa seria mais um bate-papo com as perguntas que talvez fossem de curiosidade de muita gente. Tudo bem, simbora.
A Victoria que também entrou no estúdio foi chamada para ir ao cenário para aparecer na chamada de entrada, mas houve uma falta de comunicação entre os câmeras e a companheira surgiu nas lentes somente na chamada antes do comercial do segundo bloco.
A entrevista durou cerca de sete minutos e foi bem tranquila. Eu estava um pouco nervoso no começo, mas acho que isso é normal para quem nunca apareceu ao vivo na televisão. As perguntas foram aquelas que eu tenho o maior prazer em responder quase todos os dias, já que é a curiosidade de muitas pessoas que encontro pelo caminho. A única coisa que poderia ser mais bem explorada é em relação ao material fotográfico. Durante a entrevista ficou claro que eles pesquisaram somente as fotos do tópico Brasil II, mas enfim, o resultado final pode ser conferido abaixo: 

Entrevista, ao vivo, na TV Cultura - Amazonas
Entrevista, ao vivo, na TV Cultura - Amazonas

Registro fotográfico com a apresentadora.


 
Depois da entrevista seguimos direto para a redação do Jornal EM TEMPO. No meio do caminho eu recebo o telefonema de um produtor do site do Globo Esporte que gostaria de fazer uma entrevista comigo. Infelizmente tive que dizer que a agenda estava cheia. (Risada Sacana). Claro que não disse com essas palavras, mas expliquei a situação pra ele e pedi que me ligasse somente no final da tarde.
Rapidamente chegamos ao Jornal EM TEMPO e por quase meia hora respondi as questões da jornalista Chris Reis que anotava as informações em uma caderneta que ficou com várias folhas preenchidas, afinal, eu tive tempo e liberdade para falar um pouco mais, muito embora eu poderia ficar horas e horas que ainda existiriam histórias a serem contadas. Deixei o cartão de visitas com o endereço do site para que ela pudesse conferir as fotos e outras informações, caso viesse a ser necessário.

Após a entrevista um fotógrafo profissional foi chamado para fazer alguns registros. Victoria e eu parecíamos modelos na rua. Faz pose pra lá, pra cá, e isso, aquilo, maior barato. Foi tudo muito rápido porque já começava a chover. Acho que no final ocorreu tudo certo, ainda bem.

Saímos do jornal e seguimos direto para a casa do Alex, um amigo ciclista que morava próximo e estava à nossa espera para o almoço. Chegamos à residência do camarada e um Tambaqui assado acabava de ficar pronto. Ser bem recebido e ainda degustar o melhor peixe da Amazônia não tem preço.

Por volta das 16 horas, Kayo, Alex e eu pegamos as magrelas e começamos a pedalar em direção à Ponta Negra. A entrevista estava marcada para às 16h30m e por isso precisávamos seguir em um ritmo forte. Mas isso não foi um problema porque o relevo e, sobretudo, a pavimentação colaborou para empregarmos uma velocidade maior e chegar em cima da hora ao local combinado. Quem atrasou foi justamente a equipe da televisão que apareceu somente 15 minutos depois.
Passagem na frente do CIGS: Centro de Instrução de Guerra na Selva.

CIGS
O local da entrevista não poderia ter sido melhor, ao lado do maior rio do mundo, acho que não me cansarei de frisar essa característica do Amazonas. Não sei exatamente quantos minutos durou a conversa, mas gostei bastante e acho que falei tudo certo. Agora é esperar para ver como vai ficar a edição. Quando mencionei o site e disse que eles poderiam encontrar fotos e vídeos, não precisei nem mostrar o material que tinha no computador. No final consegui cumprir meus três compromissos, graças a Deus.
 
Entrevista para a Rede Amazônica - Rede Globo


Entrevista para a Rede Amazônica - Rede Globo

Da Ponta Negra até o Distrito Industrial foi 1h30m, mais rápido do que o deslocamento de ônibus. E olha que eu estava com a bicicleta carregada. Sem dúvida eu não me vejo em outro meio de transporte que não seja a “magrela”.
O produtor do site do Globo Esporte me ligou durante a entrevista e por isso não foi possível atende-lo, quando tentei retornar não obtive sucesso. Vamos ver amanhã.

Dia finalizado com 44,50 km em 3h20m e velocidade média de 13,31 km/h.
17/04/2013 - 283° dia - Manaus (Folga)
Dia dedicado exclusivamente à atualização do diário de bordo.
Ainda na parte da manhã consegui falar com o produtor do site do Globo Esporte aqui do Amazonas que fez a entrevista por telefone mesmo. Mencionou que a matéria deve sair em no máximo dois dias. Ficarei na espera.
18/04/2013 - 284° dia - Manaus (Folga)
Dia dedicado exclusivamente à atualização do diário de bordo.
A matéria no site do Globo Esporte já está online e pode ser visualizada no seguinte endereço: http://glo.bo/11h2Cd7

Chamada da matéria na página principal do Globo Esporte - Amazonas
Eu particularmente gostei do resultado. A primeira entrevista para o Globo Esporte a gente não esquece.
19/04/2013 - 285° dia - Manaus (Folga)
Dia dedicado exclusivamente à atualização do diário de bordo.
20/04/2013 - 286° dia - Manaus (Folga)
Dia dedicado exclusivamente à atualização do diário de bordo.
21/04/2013 - 287° dia - Manaus (Folga)
Dia dedicado exclusivamente à atualização do diário de bordo.
A matéria no Jornal EM TEMPO foi publicada na edição deste domingo. A mesma ocupa uma página inteira e destaca a importância do diário de bordo. Gostei bastante. Mas vale ressaltar que ela traz alguns equívocos, como por exemplo, trocar Foz do Iguaçu por Curitiba. Minha família nunca morou na capital paranaense. Ainda mencionam que eu garanto ter pedalado por toda a América Latina quando na verdade, pedalei por todos os países latinos da América do Sul.

A máteria pode ser lida na integra no seguinte endereço: http://issuu.com/amazonasemtempo/docs/emtempo-21-04-13/17

Fotografia utilizada no jornal Em Tempo - Manaus - Amazonas
No mais, achei que foi mais uma excelente ferramenta para divulgar o cicloturismo e também a bicicleta como meio de transporte.
22/04/2013 - 288° dia - Manaus (Folga)
Dia dedicado exclusivamente à atualização do diário de bordo.
Hoje a entrevista gravada para a Rede Globo foi exibida no programa Globo Esporte aqui do Estado. Foi uma matéria rápida e que teve um começo muito bom com a arte realizada dos locais percorridos, mas pecaram um pouco na hora de escolher as fotos, colocaram imagens da primeira viagem longa: A Travessia do Paraná realizada em 2007. Paciência. Ainda assim valeu a experiência. Veja abaixo:

 
 
23/04/2013 - 289° dia - Manaus (Folga)

Dia dedicado exclusivamente à atualização do site.

Buenas meus amigos.

Finalmente o site voltou a ser atualizado, peço a compreensão de todos pela demora para fazer uma nova postagem. Mas como vocês perceberam no diário de bordo, muitas coisas aconteceram nas últimas semanas e por isso estive ausente, contudo, pretendo não ficar tanto tempo sem mandar notícias. 

No mais, espero que vocês tenham uma excelente leitura dessa nova atualização. Eu vou permanecer em Manaus até o começo do mês que vem, ainda preciso conhecer muitos lugares e tenho que aproveitar a oportunidade porque não é todo dia que estou na Amazônia. Sem falar que antes de continuar a viagem ainda vou fazer uma atualização que vai vir com supresas. Aguardem!

Grande abraço a todos.

"Hasta la Victoria Siempre"