28/11/2012 - 143°
dia - Cuenca a Zhud
Finalmente
ultrapassei a marca dos cem quilômetros em um dia pelas estradas equatorianas.
Antes de começar
o relato de hoje mencionarei alguns acontecimentos de ontem. Logo pela manhã,
assim que terminei de atualizar o site, fui à bicicletaria que passei em frente
quando cheguei à Cuenca. No local a minha primeira pergunta foi a respeito da
existência de um pneu Pirelli. Infelizmente não trabalhavam com a marca. Então
comprei um pneu de marca desconhecida com tamanho de 1.95 e cravo baixo por dez dólares. O
proprietário garantiu que roda 10 mil quilômetros, mas eu posso apostar que sua
durabilidade não chega nem mesmo aos 5 mil. Os cravos baixos tem a metade do
tamanho daqueles no Pirelli. Veremos!
Bicicletaria Austro e o seu segurança. rs.
Na bicicletaria,
finalmente o pneu dianteiro (Pirelli) foi trocado com 7.782 km. Eu acho que
aguentaria chegar aos 8 mil quilômetros, mas resolvi não arriscar, suas
costuras estavam cada vez mais à mostra. Após a troca do pneu foi a vez das
sapatas dos freios. O par das borrachas me custou cinco dólares. Um
investimento mais do que necessário.
É preciso pedalar muito para deixar um Pirelli neste estado.
Depois que a
Victoria ficou novamente inteira, voltei para a hospedagem e na sequencia fui
às ruas caminhar. Aproveitei e passei na lan house para responder os
comentários pendentes. Na hora do almoço retornei ao mesmo local dos dias
anteriores e a refeição foi básica. No período da tarde liguei para a mãe e
finalmente consegui falar com ela. Que saudade!
Antes de regressar
ao hostal, tratei de comprar pão e mais geléia. Em uma mercearia encontrei a
famosa bolacha peruana GN. Pensei que não acharia mais a marca em território
equatoriano, uma vez que estou cada vez mais distante do Peru. Foi uma grata
surpresa. Comprei o suficiente para alguns dias. De volta ao Hostal Siberia
comecei a arrumar minhas coisas, preparei a janta e fui dormir.
Hoje eu acordei
com o despertador às 5h00m, mas fui levantar apenas 45 minutos depois. Essas
minhas “folgas” não tem nada de descanso e a vontade de permanecer na cama era
enorme. Mas eu tinha que partir e continuar o pedal em direção à capital. Então
tratei de agilizar as coisas. Tomei meu café da manhã e posteriormente levei
toda a bagagem para a recepção, coloquei os alforjes na Victoria, despedi-me do
pessoal e me direcionei para a saída da cidade às 6h45m.
Ontem quando
estive na lan house aproveitei para ver qual trajeto deveria ser feito para
retornar à Panamericana. Hoje precisei apenas seguir pela rua onde eu me
encontrava até chegar à Avenida das Américas. O percurso foi apenas dois quilômetros,
mas demorou bastante para ser pedalado. Muitos semáforos insistiam em exibir a
luz vermelha quando era a minha vez de atravessar. Paciência! No Brasil ou
exterior, respeitar as leis de trânsito é o básico.
Na Avenida das
Américas bastava eu seguir em direção à Panamericana que ficava há seis
quilômetros de distância. A maior parte deste trecho foi em descida e
rapidamente voltei à rodovia desejada para finalmente completar o itinerário à
Quito.
A Rodovia
Panamericana depois de Cuenca está duplicada, mas não há acostamento. No
entanto, isso não foi um problema, apesar do fluxo de veículos, tudo ocorreu
tranquilamente. Eu sabia (através do site RIDE GPS) que até a marca dos trinta
quilômetros a descida seria predominante e para a minha felicidade a informação
se concretizou.
Na Panamerica em direção à Quito.
Panamericana também denominada E-35.
Descida antes de Azougues (ao fundo).
Um pouco antes
da chegada em Azougues (33 km de Cuenca) as subidas apareceram, todavia, ainda
estava tranquilo de pedalar. O trajeto era para ser todo de aclive por mais de
trinta quilômetros, mas para a minha surpresa, praticamente a metade desta
distância oscilou entre subidas e descidas. A monstruosa ascensão surgiu logo
após Biblian, um distrito/cidade que é tão próximo de Azougues que não consegui
identificar o limite territorial entre as duas localidades.
Apoiado. Passarela não é enfeite.
As placas simpáticas pelo caminho.
O que aquelas placas fazem no chão? É a tal montanha-russa.
Início da subida e a tentação no acostamento. Sacanagem!
In foco.
Com 42
quilômetros pedalados, estava na hora de começar a viagem aos céus, de novo. O
tempo estava meio estranho desde a saída de Cuenca. Às vezes parecia que as
nuvens se dissipariam, no entanto, momentos depois já se anunciava que a chuva faria
questão de me acompanhar. Independente do clima comecei a subida.
O aclive teve
“apenas” dezessete quilômetros. Após Biblian o acostamento apareceu já que a
pista dupla terminou. Esse espaço é sempre uma segurança a mais. No começo a
montanha me deu uma “colher de chá” e subida era realizada com uma velocidade
de 8 a 10 km/h. Acha pouco? Antes de chegar à Cuenca a velocidade, em circunstâncias
parecidas, não passava dos 6 km/h. Avante!
A montanha é
traiçoeira. Aliás, a Cordilheira dos Andes não é de facilitar. Se isso
acontecer, pode esperar que coisa “braba” vem pela frente. Foi justamente o que
começou a suceder. O trajeto ficou cada vez mais íngreme e no horizonte eu
enxergava apenas os vales esverdeados com algumas casas e mais subidas. Ela (a
cordilheira) tenta uma, duas, dezenas de vezes, mas não consegue me nocautear. Hoje eu estava diferente e mesmo com a
ascensão meu ritmo continuava razoável e olha que nem toquei nas bolachas, algo
que geralmente ocorre nas pausas para restabelecer a energia.
Entre uma subida e outra...
Aclives, aqui eles estão por todas as partes.
In foco.
As surpresas da natureza.
Ambiente bucólico.
Chovia em algum lugar.
Mais uma subida vencida.
A descida que estava anotada na minha agenda não apareceu na sequencia e tive
que completar a montanha-russa por mais alguns quilômetros. Já passava do meio
dia e eu começava a sentir fome, mas ao invés dos restaurantes, na minha frente
só havia neblina. Ficou alto demais e logo o tempo estava todo fechado. A
temperatura ambiente diminuiu, mas resisti em colocar a segunda-pele e
continuei.
A descida
esperada surgiu. Ainda não comentei, mas descer com freios novos e regulados é
outra coisa. Sinto-me bem mais seguro. Em caso de emergência (leia-se buracos e
outros obstáculos) basta acionar os manetes e a resposta é imediata, frenagem
garantida. Foi uma boa decisão realizar a troca dos equipamentos em Cuenca.
Estava em dúvida de fazer isso apenas em Quito. Enfim, tudo certo.
A “bajada” me
fez congelar. Foram aproximadamente dez quilômetros montanha abaixo entre muita
neblina e o vento proporcionado pela velocidade alta. Quando cheguei à Cañar,
cidade considerada a capital arqueológica e cultural do Equador (não me
pergunte o porquê), a primeira coisa a fazer foi procurar um restaurante. A
essa altura já era quase 13h30m e faltava pouco para as lombrigas saírem pela
boca à procura de alimento.
Cañar.
Chegada à capital arqueológica e cultural do Equador. E Quito, onde fica na história?
Finalmente
apareceu um restaurante no perímetro urbano de Cañar. Estava bem lotado e isso
geralmente é sinal que o preço é baixo e a refeição não deixa a desejar. O
almoço custava apenas dois dólares, sopa, segundo (carne de gado), suco e
sobremesa. Tudo muito bom e saboroso.
Não sei por que,
mas não consigo ficar muito tempo sentado na cadeira dos restaurantes. Seria um
momento perfeito para descansar, contudo, por mais contraditório que possa
parecer, apenas consigo tirar a “sesta” com mais pedalada. Acho que acostumei
com isso. Poucos são os momentos na estrada em que eu paro e realmente descanso.
Às vezes eu faço uma pausa para comer as bolachas e tomar uma água, mas sem
sair da bicicleta e apenas por cinco, dez minutos, no máximo. E muitas vezes
são cinco horas de pedal em cada turno. Desse modo tenho avançado sem maiores
problemas.
Após o rápido
almoço, voltei à estrada, não sem antes colocar a segunda-pele. A descida continuou
e fui obrigado a tirar o corta-vento do alforje, havia muito tempo que não
utilizava essa peça, nem me lembro de quando foi a última vez. Mas foi uma
ótima decisão. A descida foi acompanhada de muita neblina que, cada vez mais
densa, não demorou em tornar-se uma fraca chuva. Assim, a vestimenta do fundo
do “baú” foi mais do que útil. Com o sobe e desce da sequencia eu comecei a
suar um pouco, mas logo os declives pelo caminho trataram de esfriar o corpo de
novo. Isso é pedalar no Equador. Poucos dias atrás eu quase não aguentava de
tanto calor. Incrível!
Condição climática comum pelas montanhas.
A quilometragem
na parte da tarde passou rapidamente e por volta das 17 horas eu estava em
Zhud. Pela primeira vez no Equador o velocímetro marca 100 km em um dia de
pedal por essas estradas encravadas nas montanhas. Na entrada do povoado
perguntei sobre a existência de hospedagem. A chuva continuava e levantar acampamento
seria apenas em último caso. Disseram-me que meus companheiros, ou seja, outros
cicloturistas ficavam sempre em uma casa grande de dois pisos. A localização?
As pessoas apenas apontaram para a descida na rodovia e falaram que ficava à
esquerda. Fui conferir.
Essas
informações precisas me deixam sempre com uma pulga atrás da orelha. Encaminhei-me
para o local indicado e à beira da rodovia apareceu dezenas de casas grandes
com dois pisos. Que maravilha! Perguntei em uma delas, não era. Questionei em
outra residência e a resposta foi a mesma, contudo, o rapaz que me atendeu
disse que havia um albergue na entrada do povoado. Como aquelas pessoas não me
falaram desse lugar?
Em direção ao
albergue tive que enfrentar o trajeto que agora era de subida e enquanto fazia
mais esse esforço, um homem me parou e perguntou se eu procurava hospedagem.
Então disse que estava indo ao albergue e o senhor quase inconformado mencionou
que era para eu dar meia volta e seguir para o “residencial”, “hotel”,
“pesqueiro” de uma senhora que eu não soube compreender o nome. Esse era o
local que os outros cicloturistas se alojavam. O homem, no entanto, apenas
disse que o lugar se encontrava após a curva. Lá fui eu, novamente.
Passaram uma,
duas, três, quatro curvas e nada de residencial, hotel ou pesqueiro. Avancei
dois quilômetros e perguntei em uma casa sobre a existência do local. A mulher
não soube me falar e então continuei em frente mais um pouco. Neste momento eu
já cogitava pedalar até encontrar um local seguro e coberto para montar
acampamento, apesar das condições do tempo.
Na rodovia,
encontrei uma mulher que disse não haver nenhuma hospedagem na região. Que
maravilha! Como a estrada estava estranha, resolvi perguntar se ela levava à
Quito. Foi quando tive a surpresa. Era a rodovia para Guayaquil. Logo, eu
deveria, de qualquer maneira, regressar à entrada de Zhud.
Voltar para Zhud
significava uma coisa, encarar dois quilômetros de subida em uma estrada sem
acostamento e com uma mistura de neblina e chuva. Às vezes eu esqueço parte das
informações que recebo (risada sacana), mas dessa vez eu lembrei que o senhor
havia me dito que a hospedagem também era um pesqueiro. Então quando voltava,
achei uma entrada quase perdida às margens da estrada e fui verificar. Comecei
a ouvir barulho de água e quando olhei ao redor, notei um pequeno letreiro que
dizia “Truchas” e apontava para o caminho de terra que agora era de lama. Fui
conferir!
O local é na
verdade uma chácara com várias casas e tanques para a criação do pescado em
questão. Cheguei e fui recepcionado pelos cachorros. Na primeira casa pela qual
passei, tudo indicava que eu estava no lugar certo, isso porque havia uma placa
que informava: Descanso del viajero. Chamei, bati palmas e ninguém atendeu. Fui
em direção à outra casa, fiz o mesmo procedimento e nada. Paciência! Voltei
para a primeira residência e resolvi aguardar para ver o que aconteceria.
Poucos minutos após
os chamados, um homem apareceu na entrada da segunda casa e veio em minha
direção e confirmou que o local é pouso para quem viaja de bicicleta. Pergunto
o preço e ele questiona se eu quero hospedagem e janta. Digo que preciso saber
os preços primeiro. Então ele retorna à casa para confirmar os valores. Na
volta o homem disse que a hospedagem custava 10 dólares e a refeição 5 dólares.
Que facada! Argumentei que desde a fronteira eu havia pago 5 dólares nas
hospedagens e que era brasileiro e não andava com euros e etc. Ele pediu para aguardar
e novamente voltou à casa. Fiquei na espera.
Quando o homem
voltou, tive uma notícia boa. Ele disse que a mulher (provavelmente a dona do
lugar) cobraria apenas cinco dólares pelo fato de eu ser brasileiro, porque
alemães e suíços pagam dez dólares sem chance de negociação. A refeição não
poderia ter desconto porque a comida estava cara, ele disse. Ótimo, eu
precisava mesmo era da hospedagem. A janta eu poderia preparar rapidamente.
O quarto fica
naquela primeira casa que eu vi assim que cheguei ao local. A residência possui
dois dormitórios. Fui direcionado ao piso superior. Quando entrei no cômodo
tive uma surpresa maravilhosa. Local aconchegante e típico de um ambiente do
campo. Gostei demais! Fiz um registro fotográfico do local, preparei a janta e
na sequencia comecei a escrever o diário de bordo.
Quarto aconchegante da chácara. Descanso merecido.
Hospedagem no campo. Perfeita!
In foco.
Yo!
Amanhã quero
sair cedo novamente. Para variar tem mais subidas pelo caminho e a solução é
seguir o máximo possível para ficar cada vez mais próximo de Quito. Acho que
até domingo eu chego na capital. Pensamento positivo.
Dia finalizado
com 104,79 km em 8h21m e velocidade média de 12,52 km/h.
29/11/2012 - 144°
dia - Zhud a Alausí
Mais um dia de
pedal nas nuvens.
A noite na
chácara foi extremamente tranquila. A chuva que caiu durante toda a madrugada
foi parar somente por volta das 5 horas da manhã quando eu acordei. O aconchego
da cama e o ambiente propício para descansar foram uma grande tentação para
permanecer no local, mas era preciso avançar.
Assim que
levantei fui observar o tempo e a constatação não foi das melhores. Muitas
nuvens entre as montanhas e para variar ainda chuviscava um pouco. A
temperatura àquela hora da manhã era baixa e não hesitei em vestir a
segunda-pele.
Infelizmente tive que deixar este lugar.
A hospedagem.
In foco.
A "recepção" estilosa.
Arrumei minhas
coisas, tomei meu desayuno, completei minhas garrafas com água diretamente da
vertente (qualidade garantida, segundo o proprietário) e na sequencia fui
encarar as subidas. Na saída aproveitei para registrar aquele tranquilo lugar.
Se você chegar na entrada certa, essa será a visão da hospedagem.
Para quem vem de
Cuenca a maneira mais fácil de achar essa hospedagem é da seguinte forma. Na
chegada à Zhud, ainda na rodovia, tenha o semáforo como referência. Direto segue
à Cuenca e para a esquerda se vai à Guayaquil, pegue esse segundo caminho e
continue 900 metros pela descida até a primeira curva à esquerda. Haverá uma
entrada demarcada com pneus, mas ainda não é este o acesso. Siga poucos metros
na estrada e encontrará a segunda entrada com uma pequena placa (quase
imperceptível) sobre a venda de Truchas, desça pelo caminho sinuoso e tenha um
merecido descanso. Não se esqueça de falar que é brasileiro para ganhar um
desconto de 50%. Fica a dica.
Assim que voltei
à estrada (7h00m) me direcionei ao trevo (mencionado acima) e no caminho para
Cuenca as subidas ficaram cada vez mais íngremes. A paisagem era simplesmente
incrível. Era quase impossível visualizar o vale em razão das nuvens.
Espetáculo da natureza que somente àqueles que estão nas alturas tem o
privilégio de contemplar.
O vale encoberto pelas nuvens e a estrada à Guayaquil.
Devido ao
esforço para completar as subidas, em pouco tempo precisei retirar a vestimenta
extra por causa da transpiração. A extensão do aclive inicial foi de sete
quilômetros. Posteriormente uma série de sobe e desce foi marcada pela paisagem
que continuava caracterizada pelas nuvens em meio às montanhas.
Paisagem nas montanhas.
In foco.
Divisa de
província. Passei a pedalar pelo estado de Chimborazo. Mas a mudança não
expandiu ao relevo da estrada e muito menos à paisagem que às vezes ficava
comprometida pela neblina que não demorou a aparecer, sobretudo, nos trechos
mais elevados do caminho, este, por sua vez, tem descidas fantásticas e subidas
assombrosas.
Prestes a pedalar na provincia de Chimborazo.
Paisagem pelo caminho.
Tente pronunciar sem esquecer que o "J" tem som de "R". Não é fácil, rs.
Neblina nas alturas.
Pouco antes da
cidade de Chunchi encarei um dos piores aclives de toda a viagem. A dificuldade
não estava relacionada à distância e sim à sua inclinação. A velocidade não
passava dos 5 km/h e as pausas para restabelecer a energia eram frequentes. Com
a altitude a temperatura ambiente diminuiu, mas ainda assim, meu corpo pegava
fogo com o esforço para completar cada metro que parecia uma eternidade.
Para chegar ao outro lado eu teria que descer e subir muito, mas muito mesmo.
Chunchi no horizonte.
A subida monstruosa. Vai ser ingreme assim no Equador.
Inclinação bizarra.
Após o trecho
demasiadamente íngreme, finalmente apareceu Chunchi às margens da rodovia. A
cidade é pequena, mas oferece uma boa estrutura para quem está de passagem pela
região. Há restaurantes, hospedagens, mercados, internet e mais uma diversidade
de serviços e produtos. Não precisava de nada e apenas continuei pelo perímetro
urbano até a saída do município.
Na estrada
pedalei por mais subida, descida e neblina. Com o passar das horas o tempo
melhorou um pouco. Próximo ao meio-dia o sol até esboçou uma aparição entre as
nuvens e a temperatura aumentou. Aqui é possível presenciar as quatro estações
em poucas horas. Por enquanto meu corpo tem se mantido firme e forte diante toda
essa oscilação, espero que continue assim.
Com 66
quilômetros pedalados parei por volta das 13 horas em La Moya, uma pequena vila
onde felizmente apareceu um restaurante à beira da rodovia. Não havia nenhum
cliente no local, mas ainda tinha almoço e isso é o que importava. O menu
tradicional custou apenas dois dólares. Sopa com trigo e o segundo prato com
bastante arroz, salada e carne cozida. Foi o suficiente para saciar o estômago
por algumas horas.
Ainda no restaurante
sou informado que teria mais uma forte subida pelo caminho, no entanto, não era
muito íngreme. Fui conferir! A informação estava relativamente correta. Em um
primeiro momento a inclinação foi suave, mas de toda forma não foi fácil
completa-la já que a temperatura estava cada vez mais elevada. A subida de seis
quilômetros me levou à Guasuntos, um pequeno vilarejo no alto da montanha.
Na saída de La Moya. Tempo aberto.
Chegada à Guasuntos. Tempo fechado.
Após a passagem
por Guasuntos tudo mudou em questão de minutos. Novamente nas alturas a
temperatura caiu bruscamente e uma densa névoa deixou a visibilidade comprometida
mais uma vez. Uma placa indicava que eu estava próximo do Nariz do Diabo, uma
atração (?) turística da região. Em razão da forte neblina eu não consegui
enxergar o nariz ou qualquer outra parte do dito cujo.
Pois é..
Descida. Com as
distâncias estampadas nas placas que frequentemente são encontradas pelo
caminho, eu estava ciente que faltava pouco para chegar à Alausí. Para minha
felicidade o deslocamento até o referido lugar foi realizado por um forte declive.
A velocidade média durante a descida foi de 50 km/h. Ultrapassei diversos
veículos já que havia congestionamento em razão dos caminhões que desciam a
montanha lentamente.
Cheguei à Alausí
todo molhado por causa da neblina. A estratégia foi parar na cidade porque na
sequencia havia uma longa subida com mais de vinte quilômetros e a chuva
ameaçava cair a qualquer momento. Desta forma, às 15 horas, eu estava no centro
da cidade à procura de uma hospedagem. Encontrei o Hotel Panamericano onde a
diária custava 10 dólares. O preço não foi negociável, mas aceitei ficar porque
tinha internet wi-fi e eu necessitava ver meu e-mail e analisar a altimetria do
dia seguinte.
Chegada à Alausí. O monumento de San Pedro é uma das atrações da cidade.
As acomodações
do Panamericano são boas. Quarto e banheiro (compartilhado) limpos e ambiente
tranquilo. Precisei apenas tomar um banho e descansar, afinal meu corpo estava
cansado por causa do acumulo de subidas durante o dia. Já que a hospedagem
custou mais do que o normal, resolvi fazer a janta para economizar. Preparei
uma macarronada e por volta das 22 horas fui dormir.
Dia finalizado com
83,35 km em 6h31m e velocidade média de 12,76 km/h.
30/11/2012 - 145°
dia - Alausí a Riobamba
Dia de
visualizar o ponto mais alto do Equador.
A noite foi relativamente
tranquila na hospedagem. Fui dormir tarde e estava cansado, mas mesmo assim
acordei por volta das 5 horas da madrugada quando apareceram novos hóspedes que
não se preocuparam em manter o silêncio exigido pelo local e horário.
Como eu tinha
que levantar cedo não me estressei com a balbúrdia, o mesmo não ocorreu com uma
francesa que ficou toda revoltada porque teve 25 minutos do seu sono
interrompido. Ela soltou os “cachorros” no proprietário por ele não solicitar
silêncio aos novos clientes. Queria ver se ela tivesse hospedada no Hostal San
Francisco em Catamayo no episódio da briga do casal.
Assim que
levantei fui verificar o tempo. Estava nublado, mas pelo menos não chovia. Acho
que boa parte da água caiu pela madrugada. Não estava com muita pressa para
sair e fiz o procedimento sagrado de quase todas as manhãs; arrumei minhas
coisas, preparei o desayuno e fui à estrada.
Voltar à
Panamericana significava encarar uma subida íngreme pelas ruas de Alausí, isso
porque a cidade fica encravada no vale das altas montanhas. Na rodovia eu sabia
que uma ascensão de 25 quilômetros estava a minha espera. Com toda essa
quilometragem eu procurei manter a calma para que a parte psicológica ajudasse
a parte física a superar mais este obstáculo.
A vista de Alausí durante a subida em direção à Panamericana.
In foco.
Nada melhor do que começar o dia nas alturas. Misericórdia!
In foco.
Aqui tudo tenta te assustar, rs.
Sentido à Riobamba.
Meu objetivo no
dia era chegar à Riobamba que ficava aproximadamente a cem quilômetros de
Alausí. O pior trecho seria essa subida monstruosa no começo da manhã. Quando
eu penso que as montanhas não podem mais me surpreender elas sempre provam o
quanto estou equivocado. Eu custava a acreditar na inclinação da estrada. Era
algo que parecia irreal. No momento eu pensei no que fazer para meu corpo
(cansado) não sucumbir diante daquele cenário.
Minha estratégia
foi continuar tranquilamente. É melhor pedalar com uma velocidade de 5 km/h do
que não avançar. Parava apenas para retomar o fôlego e recuperar as energias,
que por vezes eram repostas com as infalíveis galletas rellenas. Para evitar
que o deslocamento mais lento prejudicasse, de qualquer forma, a parte
psicológica, tratei de escutar minha seleção musical. E para não deixar o
“motor” sobreaquecer a solução foi hidratar-me frequentemente.
Com pouco mais
de cinco quilômetros eu já não avistava mais a cidade de Alausí que
desaparecera entre as imensas montanhas. À minha frente curvas e mais curvas
que eram acompanhadas de aclives cada vez mais íngremes. Após contornar a
montanha tive uma surpresa, começou a descer. Fiquei sem entender nada porque
naquele instante eu mal completava 9 dos 25 quilômetros de subida que estavam
previstos. Em todo caso, eu é que não vou reclamar de descida.
Pode acreditar, Alausí está no meio das montanhas.
Durante a
descida inesperada encontrei um senhor à beira da estrada e resolvi perguntar
se mais a frente existia alguma subida como aquela que acabara de ficar para
trás. Com muita simpatia ele disse que havia apenas um pequeno aclive, mas que
não se comparava ao trecho pedalado. Curioso pela viagem me fez um monte de
perguntas e no final, para “estragar” a conversa, me pediu um dólar. Certamente
ele pensou que eu era mais um gringo com o bolso estufado de dinheiro. Estava
equivocado e não ganhou nem um centavo sequer. Agradeci as informações e
continuei o pedal.
A descida
misteriosa durou apenas três quilômetros e me fez compreender que o trecho a
seguir completava aqueles vinte e cinco que estavam previstos. E foi justamente
o que aconteceu. As informações que o senhor me deu também não se mostraram totalmente
verdadeiras. Após 15 km pedalados desde Alausí e a passagem por Tixan (pequeno
povoado) as subidas voltaram a ficar mais íngremes, mas não se comparavam
àquelas de minutos atrás, ainda bem.
A paisagem
continuou bucólica, pastagens e pequenas plantações são visualizadas nas partes
em que a montanha permite. Na estrada os derrumbes são frequentes, capacete é
fundamental para não ser atingido por pequenas quedas de barreiras que não
raramente são flagradas. Por sorte ainda não fui alvo de nenhuma pedra.
A brincadeira das "crianças", rs.
"Perdeu "playboy", a vaca é minha" rs.
Por essas bandas o perigo vem de todos os lados.
A subida
predomina entre Tixan e Palmira (30 km após Alausí). Neste trecho a presença
indígena em pequenas comunidades é bastante forte. Aparentemente eles
sobrevivem da agricultura e da criação de animais.
Com a chegada em
Palmira, tudo indicava que o principal obstáculo do dia havia sido superado. Eu
estava feliz e aliviado. Comecei a descida, mas logo apareceu mais uma subida
que felizmente foi curta e apenas surgiu para me presentear com outras
descidas. Em uma delas alcancei um novo recorde de velocidade nesta expedição;
76,59 km/h. Adrenalina pura!
Finalmente descida para aliviar um pouco e bater o recorde de velocidade na expedição.
O trajeto
continuou plano e com um pequeno declive por cerca de quinze quilômetros até a
cidade de Guamote onde aproveitei para almoçar. Cardápio e preço padrões. Um
senhor, morador local, que também fazia a refeição no estabelecimento ficou
curioso e sentou-se à minha mesa para me acompanhar no almoço e saber mais
detalhes sobre a viagem. Não me incomodei e achei a conversa bem interessante.
São momentos como estes que aproveito para praticar melhor o idioma e também
para conhecer um pouco mais sobre a região, seu povo e costumes.
Parada em Guamote para almoçar.
Alimentado, retornei
à estrada e o tempo que estava aberto voltou a fechar. Escapei por muito pouco
da chuva em razão da curva que apareceu na estrada. A mesma também me
encaminhou para uma longa subida de aproximadamente cinco quilômetros. Haja
perna para aguentar tanta subida.
Na sequencia as
montanhas ficaram menores e bastou aproveitar o longo trecho plano e com uma
paisagem maravilhosa que me lembrou da chegada à Cusco no Peru. Comunidades
indígenas continuaram a aparecer à beira da estrada que agora também
apresentava a linha férrea que faz o trajeto Alausí x Riobamba. Para minha
surpresa até uma lhama surgiu nas pastagens.
Em território indigena.
In foco.
Como é bom poder enxegar paisagens como estas, sobretudo, sem as enormes montanhas ao redor.
Aqui o transporte ferroviário é mais uma atração turistica.
O caminho que lembrou a chegada à Cusco.
In foco.
Eu que não esperava encontrar as lhamas no Equador, fui surpreendido.
In foco.
A viagem não
acaba quando chegamos ao destino final. Há várias formas de continua-la, seja
pelas palavras, fotografias ou pensamentos. Felizmente tenho conhecido vários
lugares nos últimos anos e por diversas vezes ao passar em uma região acabo
associando à outra já visitada. Hoje passei por uma parte na estrada que muito
me lembrou o Ribeirão da Ilha em Florianópolis, faltava apenas a presença do
mar (pensei na hora), no entanto, avancei mais um pouco e não é que apareceu
uma lagoa para deixar o ambiente ainda mais parecido. Achei incrível. Sem
dúvida o pedal no período da tarde foi o mais agradável dos últimos dias.
Ribeirão da Ilha equatoriano, rs.
Que lugar mais "desagradável" para pedalar.
Uma das maiores
surpresas do dia foi visualizar o vulcão (ainda ativo) Chimborazo. É o ponto
mais alto do Equador com 6.310 metros de altitude. Seu pico está sempre coberto
de neve, mas poucas vezes é possível enxerga-lo por causa das nuvens que
geralmente estão ao seu redor. Eu sabia que o território equatoriano é repleto de
vulcões, mas não esperava vê-los e muito menos pedalar ao lado do maior deles.
A experiência é única e indescritível, ainda mais quando o perigo eminente está
mais próximo do que se imaginava.
Em meio às nuvens estava ele, o gigante Chimborazo.
In foco.
Igreja do século XVI em Colta.
Região de Colta.
O vulcão/nevado
Chimborazo me fez companhia de Colta até Riobamba em um trajeto onde a descida
predominou e favoreceu o deslocamento mais rápido até o meu destino final no
dia. Na entrada de Riobamba resolvi procurar uma hospedagem na imensa cidade. Direcionei-me
ao centro que parecia não chegar nunca. Durante o caminho não apareceu nenhum
hostal, hotel ou algo do gênero. Foram mais de seis quilômetros para,
finalmente, chegar à área central.
Chimborazo de outro ângulo.
Arco-iris, acho que é a primeira vez que vejo na viagem.
Pedal ao lado maior vulcão do Equador.
Chimborazo.
Afinal, esse sol vai predominar ou a chuva vai aparecer? Aqui tudo é possível.
In foco.
O ponto mais alto do país. Mais de 6 mil metros de altitude.
Faltava somente mais um pouco.
Em direção ao centro de Riobamba.
No centro de
Riobamba eu começava uma verdadeira peregrinação em busca de um lugar para
passar a noite. Perguntei a algumas pessoas sobre os locais mais econômicos e
fui conferir as diárias. As hospedagens mais baratas (5 dólares) estavam todas
lotadas. Nos hotéis do centro histórico encontrei diárias de 15 a 20 dólares
sem chance de negociação. Preço extremamente elevado para meu bolso. Depois de
Cuenca é a maior cidade que eu visito no Equador, impossível que não tinha um
hostal mais barato. Fui garimpar uma barbada!
Pedalei, pedalei
e pedalei mais um pouco atrás de hospedagem. Fiquei mais de 40 minutos em busca
de um lugar barato para ficar. Em cada nova tentativa o valor apenas ficava
maior, mas não desanimei e continuei a pesquisar. Em uma área, ainda no centro,
finalmente achei o Hotel Manantial onde fui muito bem atendido pelo Jorge que
ainda concedeu um pequeno desconto e fechou a diária por sete dólares em um
quarto bem confortável com cama de casal, banheiro (água quente!) e televisão. Tive
apenas que tirar todos os alforjes para levar a Victoria ao dormitório (piso
superior), mas a essa altura eu nem ligava para isso. O importante é que após
mais um dia cansativo eu tinha um lugar para descansar. Isso é o que eu
precisava.
Tomei um belo
banho e fui às ruas para comer, estava com fome e precisava repor todas as
energias perdidas pelas quilométricas subidas. O centro da cidade é bastante
movimentado e bonito com suas ruas de pedra e prédios históricos. Na região
encontrei um restaurante barato que me serviu o jantar por 2 dólares. Arroz, lentilha,
banana assada e frango. Tudo simples e gostoso, mas que infelizmente não matou
minha fome.
Antes de voltar
ao hotel aproveitei para comprar mais pão para preparar o desayuno do dia
seguinte. Quando regressei ao quarto não resisti e devorei alguns pães com
geléia. Era o corpo exigindo sua recompensa após tanto trabalho. Não poderia
ignora-lo porque apesar da canseira, o dia seguinte seria de mais subida. Por
isso, após o café da noite, fui dormir.
Dia finalizado
com 101,81 km em 8h16m e velocidade média de 12,30 km/h.
01/12/2012 - 146°
dia - Riobamba a Latacunga
Comecei o mês
pedalando ao lado do mais alto vulcão do país.
Dezembro marca
uma data especial. Há seis anos eu descobria o incrível mundo do cicloturismo
ao realizar minha primeira viagem de bicicleta entre Marechal Cândido Rondon e
Foz do Iguaçu no Paraná. A ousadia, que inicialmente foi taxada de loucura,
simplesmente tornou-se um estilo de vida.
Hoje sou muito
mais feliz por tudo que pude vivenciar e pelos novos horizontes, histórias,
culturas e pessoas que conheci e continuo conhecendo sobre duas rodas. Afinal
já são sete países e sete estados brasileiros que eu tive a oportunidade de
visitar pedalando. E ainda há um mundo inteiro para conhecer. Atualmente
percorro a nossa maravilhosa América do Sul que é simplesmente surpreendente.
Desde que passei
a empregar a bicicleta com maior frequência em meu cotidiano, são mais de 40
mil quilômetros pedalados contabilizados em viagens, passeios, competições e
utilização diária como meio de transporte. Os números não podem ser
desprezados, mas muito mais importante é todo o aprendizado adquirido,
sobretudo, a valorização de uma vida simples que, ao contrário do que muita
gente pensa, é mais do que suficiente para ser feliz.
Sinceramente agradeço
a todos que me acompanharam durante esta maravilhosa jornada que felizmente não
acabou. Amigos verdadeiros, esse é um dos maiores presentes que o cicloturismo
me proporciona. Obrigado, camaradas.
A noite foi bem
tranquila, mas infelizmente não foi suficiente para descansar totalmente o
corpo surrado pelas montanhas. Pensei em ficar um dia mais em Riobamba para
recuperar as energias, contudo, o dia amanheceu lindo e eu simplesmente não
poderia desperdiçar aquela raridade ainda não presenciada aqui no Equador. O
céu estava praticamente sem nuvens. Um verdadeiro milagre!
Arrumei minhas
coisas, tomei meu café da manhã e fui para a estrada. A saída de Riobamba
aconteceu por um trajeto diferente, mas não menos extenso do que aquele de
ontem. A diferença é que também comecei o dia com subida. Aliás, eu teria
dezenas de quilômetros para subir, mais uma vez. Antes de sair da cidade
aproveitei para fazer um registro fotográfico do centro histórico onde também
está situada a estação ferroviária. Uma placa indicava o caminho para o tal
Nariz del Diablo com passagem por Cajabamba, Guamote, Alausí e Huigra.
Centro histórico de Riobamba. Estação ferroviária à direita.
Prédios coloniais de Riobamba.
Estação ferroviária.
Daqui se parte para o tal Nariz del Diablo.
Sentido à Panamericana.
Arte é arte.
No caminho certo. Repare no céu sem nuvens. Não demorou uma hora para a situação mudar completametnte.
Foi fácil
encontrar a Panamericana (duplicada em determinadas partes e com acostamento) e
poucos minutos depois eu começava a subida que prometia ser bastante longa.
Segundo o gráfico da altimetria seriam mais de 35 quilômetros montanha acima. E
foi praticamente o que aconteceu, salvo por uma e outra descida curta que
apareceu pelo caminho, este, por sua vez, trouxe uma surpresa; alerta de cinzas vulcânicas.
Chimborazo já coberto por algumas nuvens.
Isso que é placa de advertência.
In foco.
"Se correr o bicho pega. Se ficar o bicho come" rs.
Chimborazo ao fundo. Registro garantido com o ponto mais alto do Equador.
Obras pelo caminho.
In foco.
Que lugar mais sem vergonha para colocar essa placa. Pura ilusão.
Acho que vai chover.
Lhamas e vacas no mesmo pasto você encontra somente pelos campos equatorianos, rs.
Da série: Coisas que a gente encontra pelo caminho.
Perigo eminente. Uma das maiores surpresas da viagem.
Eu me aproximava
da província de Tungurahua, este nome em quéchua significa garganta de fogo.
Não é à toa que o vulcão que leva a mesma nomenclatura está frequentemente em
erupção. Confesso que a sensação de saber que a qualquer momento o “monstro”
pode despertar, não é das melhores. A província também compreende o mais alto
vulcão em atividade do mundo, o gigante Cotopaxi.
Chegada à provincia de Tungurahua.
O céu que
amanheceu praticamente sem nuvens começou a alterar e incrivelmente em poucas
horas estava com a aparência de que a chuva não demoraria a cair, infelizmente.
Quando eu digo que aqui tudo muda o tempo todo, pode acreditar que não é exagero
da minha parte. Por isso e outras coisas que também não ouso duvidar da
capacidade destes vulcões surpreenderem a qualquer momento.
Acredite, este é o Chimborazo apenas algumas horas depois da saìda de Riobamba.
Com trinta
quilômetros pedalados e o final das subidas fortes, encontrei mais um
cicloturista, outro francês, Simón saiu do Alasca e segue em direção à Ushuaia,
está há cinco meses na estrada e pretende completar o trajeto em mais quatro
meses. Conversamos um pouco porque começava a chuviscar e ninguém estava a fim
de pegar o temporal que se pronunciava. Para nossa felicidade, teríamos (apesar
da direção oposta) descida pelos próximos quilômetros.
Durante a
descida para Ambato não consegui escapar da chuva. Mas desta vez a jaqueta
impermeável estava à mão e bastou vesti-la e encarar a tempestade. Mesmo com
chuva a descida foi fantástica. Durante o declive encontrei o primeiro acesso
para a cidade de Baños, famosa pelas atrações turísticas; águas termais,
escaladas pelos vulcões da região, entre outras. Eu resolvi seguir em direção à
Ambato, onde parei para almoçar em um restaurante na entrada da cidade. O tempo
já estava aberto e o sol brilhava apesar das nuvens.
A placa mais desejada, rs.
Logo após a chuva no trevo de acesso à Baños.
Minutos depois em Ambato o tempo já estava bem melhor.
No restaurante à
beira da estrada o almoço custava dois dólares. O garçom disse as opções do
cardápio e o único nome compreensível foi frango ensopado e que eu não estava
muito a fim de comer. Um dos pratos acompanhava batata e algo com nome
estranho. Ao perguntar do que se tratava o atendente trouxe a iguaria para me
mostrar, mas foi tão rápido que apenas notei que era molho de alguma coisa.
Resolvi pedir este prato. Quando a comida chegou à mesa, surpresa: dobradinha.
Aquela mesma que não agrada meu paladar. Mas isso não falou mais alto que a
fome e devorei sem pensar duas vezes. Bucho de boi à parte, a refeição estava
boa.
Fiquei pouco
mais de meia hora no restaurante e na sequencia voltei à estrada. A cidade de
Ambato é uma das maiores do país e foi uma longa jornada passar por seu
perímetro urbano. Trecho marcado por extensas descidas, subidas e mais
derrumbes. Uma das vias da estrada duplicada estava fechada em razão da queda
de barreira. No local, vários homens realizavam o trabalho de contenção.
Descida para sair do perimetro urbano de Ambato.
Ambato.
Via obstruida pela queda de barreira.
Contenção para evitar mais derrumbes.
Após a saída de
Ambato o tempo voltou a fechar e não demorou a chover, de novo. Segui debaixo d´água
e com vento contra por vários quilômetros. O clima amenizou quando cheguei em
Salcedo. Na entrada da pequena cidade várias placas orientam a evacuação dos
moradores em caso dos vulcões da região resolverem expelirem suas lavas, cinzas
e fumaças toxicas. Isso tudo demonstra que o assunto é tratado com seriedade.
Mais chuva pelo caminho. Tenso!
Aviso básico em Salcedo.
Da série: Coisas que a gente encontra pelo caminho.
Avancei um pouco
mais e resolvi terminar o dia em Latacunga. Após um longo caminho cheguei ao
centro e me direcionei ao Hostal Tiana que algumas pessoas havia me recomendado
por ser o mais barato e bastante frequentado por turistas alemães, suíços e
holandeses. Isso me pareceu um pouco contraditório, mas fui conferir, até
porque não encontrei outra opção.
Chegada à Latacunga.
Com certa
dificuldade encontrei a hospedagem que procurava. O estabelecimento está
localizado em um calçadão no centro histórico. O ambiente aparentemente mais
agradável que o normal já indicava que o preço também seria proporcional ao
conforto oferecido pelo hostal. A habitação mais barata custava 9,50 dólares,
quase o dobro do que estou acostumado a pagar. A diferença é que havia internet
e café da manhã disponível. Mas isso não foi o que definiu minha permanência. A
canseira era maior que tudo naquele momento. Eu precisava tomar um banho,
jantar e dormir. Por isso fiquei na hospedagem.
Quando fui ao
encaminhado ao quarto, tive uma surpresa. Era compartilhado e por isso seu
valor era mais baixo. Havia um francês em um dos quatro beliches e isso não foi
nenhum problema. O dormitório era confortável e eu poderia descansar sem
maiores problemas. Quando fui tomar banho a água quente não durou três minutos
e tive que terminar a limpeza do corpo suado com uma água congelante.
Sacanagem! Ponto negativo!
Devidamente
limpo fui caminhar pelas ruas para encontrar algum restaurante econômico para
jantar. Foi difícil, mas finalmente encontrei um lugar razoavelmente barato. A
refeição custava 3,70 dólares. Havia apenas pratos a la carte. Meu pedido foi
um bife à milanesa que era acompanhado de arroz e salada. O atendente do local também
é ciclista e conversamos um pouco sobre a região. Inclusive me disse um caminho
bem mais curto para voltar à Panamericana no dia seguinte. Foi uma boa noticia
já que eu me preparava para pedalar os quase seis quilômetros entre a pista e o
centro. Após o jantar voltei para a hospedagem e fui dormir. Precisava
descansar.
Dia finalizado
com 107,17 km em 8h30m e velocidade média de 12,58 km.
02/12/2012 - 147°
dia - Latacunga a Quito
O dia foi muito
mais do que a esperada chegada à capital equatoriana.
Não coloquei o
celular para despertar porque gostaria de descansar por mais tempo antes de
seguir viagem. Mas meu corpo “teimoso” e acostumado em acordar cedo não me
deixou dormir mais do que o habituado e às 5h40m eu já estava acordado. Fiquei
um pouco na cama e às 6 horas comecei a arrumar minhas coisas sem muita pressa,
afinal o café da manhã seria servido somente uma hora depois.
Com as coisas
arrumadas fui ao terraço do hostal onde no dia anterior o recepcionista havia
falado que a paisagem era muito bonita. Subi as escadas e ao chegar no local
tive uma baita surpresa. Dois vulcões cobertos de gelo. O maior deles era o
imponente Cotopaxi, o mais alto vulcão em atividade do mundo com 5.897 metros
de altitude. O céu sem muitas nuvens possibilitou admirar e registrar as
belezas naturais e uma parte da cidade.
Cotopaxi: vulcão mais alto em atividade do mundo.
Cotopaxi
Latacunga e mais um vulcão ao fundo.
O café da manhã
foi bem simples. Ainda bem que eu não esperava a refeição aos moldes
brasileiros. Dois pães, um pouco de geléia, um copo de leite, suco e ainda uma
banana. Tudo muito gostoso, mas muito limitado. Ainda bem que eu tinha pacotes
de bolacha para reforçar o desayuno.
Acabei por sair
cedo da hospedagem. Às 7h30m seguia pela direção que o ciclista havia me
recomendado no dia anterior. Foi bem fácil e pouco tempo depois eu já estava na
Panamericana que passou a apresentar três vias em ambos os sentidos. Afinal a
capital do país, segundo as placas na estrada, estava apenas a setenta e sete
quilômetros.
Com o tempo bom
e a temperatura agradável comecei pedalando praticamente ao lado do majestoso Cotopaxi.
Estava tudo tranquilo quando com dez quilômetros um policial de moto me abordou
no acostamento. Fiquei um pouco apreensivo e tentei demonstrar normalidade
diante das perguntas básicas. Como disse em outra postagem, converso somente o
necessário e procuro não estender a conversa com essas pessoas de fardas. Mas o
policial não parava de fazer perguntas e parecia mesmo curioso em saber
detalhes da viagem.
Pedalando ao lado do Cotopaxi.
Victoria
Yo, Victoria e o Cotopaxi.
Sem comentários.
Enquanto
respondia as perguntas do policial curioso, um grupo de ciclistas com speed
passou pelo acostamento e me cumprimentou. Dois deles diminuíram a velocidade
para ver se havia algum problema, mas não chegaram a parar. A conversa parecia
não ter fim e eu queria voltar a pedalar logo para aproveitar o tempo bom das
primeiras horas da manhã.
Minutos depois
da passagem dos ciclistas, dois resolveram voltar para conferir se havia algum
problema comigo. Aposto que desconfiaram da cobrança de alguma propina. Na
verdade eu também tive a mesma sensação, embora ninguém anteriormente tenha
mencionado sobre essa prática por parte da policia equatoriana. Aliás, poucos
policiais rodoviários são encontrados pelas estradas do país, pelo menos na
E-35. Como não havia acontecido nada, disse para os simpáticos ciclistas que
estava tudo bem. Neste momento o policial mencionou que estava apenas
conversando e até falou um pouco da minha viagem para eles.
Após uns quinze
minutos parado no acostamento, finalmente fui “liberado” para seguir viagem.
Apesar de não ter acontecido nada, achei a situação bem tensa. Gostei da atitude
dos ciclistas em retornarem para verificarem se havia algum problema. Muitos
speedeiros (sem generalizar) no Brasil passam pela gente de mountain bike e
sequer nos cumprimentam. Por isso, antes de seguirem com o treinamento,
agradeci aos equatorianos pela preocupação.
Conforme
avançava, mais impressionado eu ficava com o Cotopaxi. É uma verdadeira mistura
de sentimentos. Ao mesmo instante que é possível se deslumbrar com sua beleza e
imponência é difícil não pensar nos estragos que podem ocorrer a partir de seu
processo natural. Mais uma surpresa desta magnifica expedição.
Um vulcão vizinho ao Cotopaxi.
Isso é pedalar na Panamericana no Equador.
In foco.
Na noite
anterior aproveitei a internet no hostal Tiana e analisei o roteiro de
Latacunga à Quito. O gráfico da altimetria era assustador e apontava para 35
quilômetros de aclive. E desta vez não houve erro, infelizmente. O pedal
somente não foi mais complicado porque nos primeiros vinte quilômetros após
Latacunga a inclinação é razoável e até possibilita um deslocamento mais
rápido. Eu mantive o ritmo baixo porque estava realmente cansado. Foi um longo
trecho de subidas desde a saída de Cuenca. Esperava ansioso pela chegada em
Quito para finalmente descansar. Mas antes era preciso terminar a subida
monstruosa.
Os seis últimos
quilômetros da subida monstruosa foram os piores e mais íngremes. Levei um bom
tempo para completa-los. Maior que o aclive, somente a beleza e magnitude do
Cotopaxi que é visualizado dos mais diferentes ângulos. Após o término da
subida foram quatro quilômetros de montanha-russa e então finalmente começou a
descida. Vinte e dois quilômetros montanha abaixo. Que maravilha!
Durante a subida monstruosa. Cotopaxi fica para trás.
Finalmente o término da subida.
Descida! Agora faltam apenas 300 quilômetros para chegar na Colômbia.
Durante a
descida encontrei um casal de cicloturistas em uma tandem, mas como estavam no
outro lado da rodovia, apenas nos cumprimentamos à distância e cada um seguiu
seu destino. Pouco antes da cidade de Machachi parei em um restaurante à beira
da estrada. O local era pequeno e suportava menos de dez pessoas em seu
interior. Quando cheguei havia muita gente e parecia não ter mais espaço nas
duas mesas. Mas o pessoal se espremeu e encontraram um lugar para eu poder
almoçar com eles.
A refeição foi a
mais barata encontrada em território equatoriano, 1,70 dólares. Menu
tradicional, sopa típica e segundo. O prato complementar estava bastante
caprichado (sem eu pedir) com muito arroz, salada, banana e carne frita. Uma
delícia. Estava com fome e resolvi repetir o segundo prato que sem a sopa custou
um dólar. Novamente estava irresistível. Não deixei um grão de arroz para
contar história. (Risada sacana).
Após o almoço
fui completar a descida. Com 65 quilômetros desde Latacunga, apareceu um trevo
que dava acesso à zona norte da capital via Pifo. A placa orientava que a
permanência na rodovia eu seguiria para a zona sul e ao centro. Fiquei um pouco
em duvida, mas poucos metros depois encontrei um senhor que confirmou que eu
deveria seguir em frente, sentido centro.
Quito a poucos quilômetros.
Com 70
quilômetros apareceu a ponte que o senhor havia me orientado a passar por baixo
em direção à Avenida Bolívar. Para confirmar e não ter a possibilidade de pegar
o caminho errado confirmei a informação com um caminhoneiro que estava no
acostamento. Em um primeiro momento ele afirmou que eu deveria seguir por cima
da ponte (sentido Av. Maldonado), mas após pensar melhor disse que eu poderia continuar
em direção à Bolívar que seria mais fácil para chegar ao centro histórico,
local onde eu pretendia ficar hospedado durante minha permanência em Quito.
Siga pela Avenida Bolìvar.
O caminhoneiro
ainda disse que eu deveria seguir mais 20 quilômetros até encontrar um novo
trevo por onde eu deveria entrar e me informar melhor para chegar ao meu
destino. A maior parte desta distância, para variar, foi de subida. Pelo
caminho avistei boa parte da enorme região periférica da capital.
Mais uma vez
minha estratégia de chegar a uma capital se demonstrava bem sucedida. O tempo
estava bom e ainda havia claridade suficiente para completar o trajeto até o
centro. O acesso a essa região apareceu na exata distância que o caminhoneiro tinha
me informado. Claro que perguntei algumas vezes antes de chegar a este ponto.
Tudo para não pegar nenhum caminho errado. A essa altura o trânsito era intenso,
digno de uma capital, mas não assustava. Precisei apenas tomar as devidas
precauções.
Em território quitenho.
A parte periférica da capital.
Do trevo de
acesso na rodovia ao centro histórico foram mais de cinco quilômetros. É complicado
de explicar o caminho percorrido em razão das várias ruas, avenidas e atalhos
que peguei a partir das orientações que recebia, mas de modo geral não é
difícil, basta perguntar várias vezes, se necessário, a cada cem metros para
não ter erro.
Pedalando pelas ruas e avenidas de Quito.
Mirante El Panecillo e a Virgem de Quito.
Próximo ao
centro histórico perguntei mais uma vez como chegava à região. Então um homem
recomendou que antes de um túnel à frente, havia um estacionamento e que eu
poderia entrar pelo mesmo para sair direto ao local desejado. O lugar estava
denominado como Estacionamento La Ronda. A princípio parecia um espaço
destinado a algum supermercado e fiquei receoso em entrar. No entanto, um
segurança veio a meu encontro e disse que eu poderia seguir sem problema.
Na saída do
estacionamento eu estava no centro histórico, repleto de ladeiras, construções
antigas e pessoas, sobretudo, turistas estrangeiros. A região chamada de La
Ronda estava bastante policiada, um policial se aproximou e por curiosidade
começou a me fazer as perguntas de praxe. Aproveitei e questionei sobre uma
hospedagem barata na região. Então ele me informou sobre o Hostal Loja onde
possivelmente a diária custaria de 8 a 10 dólares. Fui conferir!
No Hostal Loja
fui muitíssimo bem recebido pelo proprietário que informou que a diária custava
7 dólares. Por ser no centro histórico (próximo da Plaza e Iglesia Santo
Domingo) achei o preço razoável e decidi ficar no local. O quarto é simples,
mas tem banheiro privado com água quente e televisão. O importante é que o
local é seguro e tranquilo. A Victoria ficou na recepção. O senhor Victor
(dono) apenas alertou que depois das 22 horas as portas são trancadas e não há
entradas ou saídas. Sem problema, eu não costumo sair de noite mesmo.
Assim, às 18
horas eu estava devidamente alojado. Devo permanecer aqui por cinco, seis dias
para descansar, atualizar o diário de bordo e claro, conhecer a capital
equatoriana que é considerada Patrimônio Cultural da Humanidade por preservar
vários prédios coloniais que estão localizados, em sua maioria, no centro
histórico.
Após tomar banho
fui caminhar um pouco para ver se achava um local para jantar. Próximo da
hospedagem encontrei um restaurante bem simples, mas com a refeição muito boa e
barata. O prato com arroz, salada, banana e carne custou apenas 1,50 dólares. O
menor preço até agora no Equador. Pela quantidade e qualidade da comida, não tenho
o que reclamar. Perfeito.
Após o jantar
fui comprar pão, leite e frutas naquele mercado do estacionamento pelo qual
passei quando cheguei à região. Mas para minha surpresa o local é apenas um estacionamento.
Sem problema. Fui a uma mercearia e comprei o que precisava, exceto as frutas.
Pelo menos o café da manhã estava garantido. Voltei para hospedagem e fui
dormir. Precisava descansar.
Mais uma etapa
concluída com sucesso!
Dia finalizado
com 95,98 km em 7h35m e velocidade média de 12,65 km/h.
03/12/2012 - 148°
dia - Quito (Folga)
Dia dedicado
exclusivamente para atualizar o diário de bordo.
04/12/2012 - 149°
dia - Quito (Folga)
Dia para
conhecer Quito. A primeira cidade no mundo declarada como Patrimônio Cultural
da Humanidade.
Parabéns a você
que viaja a bordo desta expedição e acompanha o diário desde o início. Essa é a
página 300 do relato que busca compartilhar as experiências, histórias,
culturas, informações, pensamentos, sentimentos, aventuras e tantas outras
coisas desta surpreendente viagem pela América Latina.
O diário de
bordo não é um livro e como o próprio nome sugere, contém os acontecimentos cotidianos
da expedição Cicloturismo Selvagem: Pedal pela América Latina. Neste sentido,
felizmente, a viagem não é monótona e sempre proporciona diversas surpresas e
fortes emoções a cada dia. Uma das formas de demonstra-las é escrevê-las por
esse meio. Deste modo, peço desculpas se o texto acaba sendo longo, mas um dos
objetivos da expedição é este: compartilhar o máximo possível daquilo que está
no meu caminho. Espero que compreendam.
Hoje não
madruguei, todavia, ainda era cedo quando levantei e fui preparar meu café da
manhã. A refeição matinal estava caprichada; pão com geléia, leite
achocolatado, suco e banana. Tenho que aproveitar esses dias de folga para
ganhar peso que certamente será perdido na estrada, sobretudo, durante a
“escalada” pela Cordilheira dos Andes.
Após o desayuno
fui às ruas para conhecer melhor a capital equatoriana. Quito está a 2.850
metros de altitude e próxima da famosa linha do Equador que divide o mundo
entre hemisfério norte e sul. Apesar disto, o clima na cidade é agradável. Embora
nesta época do ano a chuva ocorra com frequência, sobretudo, no final da tarde
e de noite. A temperatura é amena e em determinadas horas um friozinho até
exige uma vestimenta mais reforçada.
Quito leva esse
nome em razão da comunidade indígena quitus que habitava a região no século XV
quando foram derrotados pelos incas que, por sua vez, foram dominados pelos
espanhóis que dois anos mais tarde completaram este processo em 6 de dezembro
de 1534, data considerada a fundação da cidade. Amanhã a cidade completa 478
anos e muitos eventos já acontecem desde o mês passado. Será feriado na capital
e diversas atrações estão agendadas para ocorrem em todas as regiões. Claro que
eu não vou perder essa oportunidade e sairei logo cedo para conferir as
festividades.
A cidade não é a
maior do país (posto destinado à Guayaquil), mas com 1,5 milhão de habitantes
não deixa de ser uma metrópole. Conforme lembra o guia Viajante Independente, a
capital vive constantemente sob ameaças de terremotos e da erupção do vulcão
Pichincha.
A capital está
dividida em algumas áreas, as mais procuradas pelos viajantes são o centro
histórico e a parte moderna, chamada de Mariscal. Estou alojado no reduto
antigo que mais desperta meu interesse. Sou fascinado pelos prédios coloniais e
aqui eles são inúmeros. A preservação de uma extensa área colonial levou a ONU
a conceder à Quito o titulo de Patrimônio Cultural da Humanidade. Foi a
primeira cidade a receber essa denominação no mundo. Não é à toa que é
considerada uma das mais importantes capitais da América do Sul no que diz
respeito a cultura e história. Estou em um lugar que agrada qualquer
historiador.
Além dos prédios
históricos e diversos museus, Quito conta com vários templos religiosos,
segundo meu guia de viagem, há 87 igrejas, número expressivo graças às ordens
religiosas que competiam para construir mais igrejas bonitas. Enfim, por tudo
isso que eu resolvi sair bem cedo da hospedagem, sabia que não me faltariam
lugares para conhecer.
Como estou no
centro histórico não precisei caminhar muito para chegar à Plaza de la
Independencia, conhecida também como Plaza Mayor ou Plaza Grande. Resolvi
começar por este ponto porque é simplesmente onde está concentrado o Palácio
Presidencial, a Catedral e a Prefeitura de Quito.
Sem dúvidas a
praça principal é bonita e charmosa, todavia, muito mais interessante é observar
o movimento das pessoas (inclusive, muitos turistas) e os prédios coloniais a
sua volta. E não me refiro ao palácio governamental que pouco chamou minha a
atenção, tampouco meu olhar foi direcionado por muito tempo para a Catedral. O
mesmo não aconteceu com aquele que outrora foi o Palácio Arzobispal. Hoje o
local é destinado para pequenas lojas e restaurantes, mas ainda preserva o
charme colonial, lugar bem agradável para uma visita.
Plaza de la Independencia.
Plaza de la Independencia.
In foco.
Palácio Presidencial
In foco.
Catedral.
In foco.
Palácio Presidencial.
In foco.
Primeira cidade declarada como Patrimônio Cultural da Humanidade.
Palácio Arzobispal
Palácio Arzobispal
Prefeitura de Quito.
Após a passagem
pelo coração do centro histórico fui conhecer a famosa Iglesia de la Compañia
de Jesús, considerada a “mais fantástica e ornamentada igreja do Equador”. O
acesso ao interior da mesma estava fechado, contudo, sua fachada é simplesmente
deslumbrante, uma verdadeira obra de arte que foi construída a partir de pedras
vulcânicas. Sua localização não favoreceu o registro fotográfico, mas valeu a
tentativa.
Iglesia de la Compañia de Jesús.
In foco.
In foco.
Iglesia de la Compañia de Jesús.
A maioria das
construções, para não dizer todas, do centro histórico se remete à época
colonial. A sensação de caminhar por um ambiente assim é sempre uma volta ao
passado. Algo que aconteceu também em Sucre, Potosí, La Paz, Cusco, Lima,
Cuenca e outras cidades. Nossa América Latina reserva surpresas que pouco
conhecemos. Felizmente tenho a oportunidade de vivenciar e aprender mais sobre
estes lugares.
Caminhada pelo centro histórico.
Caminhada pelo centro histórico.
Voltei à Plaza
Grande para me direcionar à Basílica del Voto Nacional, uma igreja que chama
atenção pela sua arquitetura inspirada na Catedral de Notre Dame em Paris. Com
certeza é um dos templos religiosos mais bonitos que conheci durante a viagem.
É a única com este estilo no Equador. Com 117 metros de altura é possível
observa-la de vários pontos do centro histórico. Aliás, o centro pode ser
visualizado do alto de uma de suas torres, basta pagar 2 dólares. Resolvi não
realizar a escalada. Estava deslumbrado com toda aquela construção. Observe as
gárgulas (local por onde escorre a água da chuva) em forma de animais nativos.
Acho que dificilmente encontrarei esse detalhe em outra igreja. Interessante!
Em direção à Basílica.
In foco.
Para entrar na
igreja não é preciso pagar e assim aproveitei para conhecer o interior daquela
fantástica construção iniciada desde 1926. O lugar é enorme e possui vários
espaços. Destaque para a escultura dos apóstolos e os vitrais na área
principal. O falecido Papa João Paulo II esteve no local em 1985. Sua escultura
é exibida na entrada da igreja. Independente se você é budista, católico,
protestante ou ateu, a visita é imperdível.
Interior da Basílica.
Entrada e homenagem ao Papa João Paulo II.
Basílica del Voto Nacional
Basílica del Voto Nacional
Basílica del Voto Nacional
Basílica del Voto Nacional
Gárgula: Tartaruga.
Gárgula: Tartaruga.
Gárgula: Iguana.
Gárgula:Animal não identificado.
Gárgula:Animal não identificado.
Gárgula: Seria um bùfalo?
Gárgula:Animal não identificado.
Gárgula:Seria um tatu?
Gárgula:Animal não identificado.
Quando voltava
para a região da Praça Grande passei na frente do Museu Camilo Egas, que foi um
famoso pintor equatoriano que até então eu desconhecia. Fui convidado a
conferir o lugar pelo guarda que faz a segurança na entrada do museu. Como não
precisava pagar é claro que não perdi a oportunidade de conhecer as obras do
artista.
Calle Venezuela.
Bandeira equatoriana.
O museu é
pequeno, mas muito bem conservado e com vários trabalhos de Camilo Egas que
teve suas obras reconhecidas também no exterior. Utilizou vários estilos em
suas telas; indigenista, surrealista, expressionista, abstracionista e também o
cubismo. Gostei da visita e recomendo. Fica na Calle Venezuela poucas quadras
abaixo da Basílica.
Após a visita ao
museu resolvi almoçar em um restaurante quase ao lado. O almoço custava apenas
1,50 dólares. A sopa estava bem caprichada, já o segundo prato não tinha muita
comida e estava limitado a um pouco de arroz e salada de macarrão com atum.
Somente não fiquei com fome porque meu desayuno tinha sido reforçado.
Na parte da
tarde o tempo que não estava muito bonito desde as primeiras horas do dia,
resolveu fechar de uma vez. A qualquer momento a chuva cairia na capital equatoriana.
Antes de isso acontecer fui mais uma vez à Praça da Independência e
consequentemente à Plaza San Francisco que compreende o Monastério e a Igreja
de mesmo nome. O local “representa um dos maiores conjuntos arquitetônicos
existentes em centros históricos de cidades ibero-americanas”.
Registro garantido no coração do centro histórico.
Movimento na frente do Palácio Arzobispal.
In foco.
Palàcio do vice-presidente.
Plaza e Iglesia San Francisco.
Plaza e Iglesia San Francisco. Exposição de fotografias no detalhe.
Caminhava pela
Praça San Francisco e enquanto observava os prédios históricos da região a
chuva começou. Abriguei-me em uma loja e posteriormente fui ao mercado próximo
comprar pão e leite. Como não parava de cair água e eu estava perto do hostal,
caminhei na chuva mesmo.
In foco.
Ensaio para o desfile no dia do aniversário da cidade. 6 de dezembro.
Iglesia San Francisco.
Plaza San Francisco.
Iglesia San Francisco.
Plaza San Francisco.
Plaza e Iglesia San Francisco.
Na região da
Plaza e Iglesia San Domingo, parei e registrei o local onde também fica uma das
estações de aluguel de bicicleta. Uma ótima iniciativa de Quito. Depois
regressei à hospedagem e voltei a escrever o diário de bordo. De noite fui ao
mesmo restaurante simples do primeiro dia para jantar. Na sequencia voltei ao
Hostal Loja para descansar após um longo dia de caminhada.
Plaza e Iglesia San Domingo.
Trolebus: Transporte público inspirado na capital paranaense, contudo, movidos à eletricidade.
Estação de aluguel de bicicleta.
Estação de aluguel de bicicleta.
05/12/2012 - 150°
dia - Quito (Folga)
Dia dedicado
exclusivamente à atualização do diário de bordo e também para mais uma postagem
no site.
Amanhã é
aniversário da capital e aproveitarei a data para conferir os desfiles e
atrações programadas para a data especial. Também desejo ir à região moderna de
Quito. Há vários museus bem recomendados e pretendo realizar a visita a alguns
deles.
Acho que
voltarei à estrada somente no sábado. Em Tulcán, fronteira com a Colômbia,
farei uma última postagem em território equatoriano, isso deve acontecer até o
dia 12 de dezembro, quando eu já estarei no hemisfério norte.
Obrigado a todos
pelo apoio.
Grande abraço.
Hasta luego!
06/12/2012 - 151°
dia - Quito (Folga)
Parabéns Quito.
478 anos de fundação.
Aniversário da
capital equatoriana e felizmente eu estava presente para acompanhar as
festividades preparadas para celebrar a data em questão. As homenagens têm sido
realizadas desde o mês passado. Todos os canais da televisão aberta mostraram
exaustivamente matérias relacionadas à cidade e a programação das comemorações.
Acordei cedo e
por volta das 8 horas da manhã fui até a praça da independência, esperava
acompanhar algum desfile ou algo do gênero, mas não encontrei nada pelas ruas
do centro histórico no aniversário da cidade. As atividades estavam marcadas
para começar às 9 horas, contudo, nenhum movimento diferente evidenciava o
início do evento. Aliás, nem mesmo a imensa exposição de flores que a televisão
exibiu ontem e afirmou que continuaria hoje, estava na praça.
A exposição de
flores com milhares de exemplares destaca a importância equatoriana no setor,
uma vez que o país produz e exporta as mais diversas flores. Infelizmente não
pude admirar. Paciência!
Sem nenhuma
comemoração, caminhei pelas ruas do centro onde eu ainda não havia passado.
Novamente foi um passeio interessante. Com o passar das horas voltei à praça
principal e nenhum evento especial era realizado naquele instante. Retornei à
região do hotel e procurei uma lan house para mandar noticias, sobretudo, aos
familiares.
Resolvi
descansar após o almoço e o período da tarde foi dedicado exclusivamente a
isso. Afinal, com o diário de bordo e o site atualizados, eu precisava apenas
relaxar e aproveitar o momento para restabelecer as energias. Pela televisão eu
soube que o desfile (um deles) estava marcado para acontecer de noite e na área
moderna de Quito. Como a região é longe do centro histórico nem me animei em
acompanhar.
A televisão
equatoriana possui diversos canais abertos, mas a maioria não passa nada de
interessante. É bem parecido com o que acontece no Brasil. Um espaço precioso
utilizado para coisas cada vez mais inúteis. Lamentável! O único canal que vale
a pena conferir é o teleSUR que é venezuelano e exibe matérias jornalísticas da
América Latina em quase toda sua programação. Gostei bastante.
Antes de dormir
resolvi ver uma película. Como não havia nada na televisão fui verificar os
filmes no computador que eu ainda não tinha visto. Além da trilogia do Senhor
dos Anéis, Sete dias com Marilyn estava na lista daqueles que restaram para
ver. Resolvi assistir esta segunda opção com a excelente atuação da Michelle
Williams, aquela mesma de Dawson’sCreek. Achei que seria um filme pouco
interessante, mas superou minhas expectativas. Recomendo.
07/12/2012 - 152°
dia - Quito (Folga)
Finalmente fui
conhecer a região moderna da capital.
Eu não poderia
passar por Quito sem conhecer duas coisas; Museu Nacional do Banco Central e o
Vivarium. Ambos estão localizados na área moderna da cidade, conhecida como
Mariscal. A região dita moderna fica distante do centro histórico, mas ainda
assim resolvi caminhar até ela. Para aproveitar bem o dia, acordei cedo e pouco
depois das 7 horas da manhã eu já caminhava pelas ruas em direção aos museus.
Não encontrei
nenhum mapa da cidade para levar comigo durante a jornada pela parte moderna,
todavia, para não ficar perdido eu tornei a fazer algo que se mostrou muito
eficiente em outras ocasiões. Tirei fotografias do pequeno mapa que consta no guia
Viajante Independente. Dessa forma, basta ver e aumentar a imagem na câmera e a
localização das principais atrações está em mãos. Isso tudo sem precisar levar
o pesado livro. Fica a dica.
Foto do mapa do centro moderno. Solução para não carregar peso.
Sai bem cedo da
hospedagem, contudo, assim que deixei a parte histórica, o movimento,
sobretudo, de veículos, pelas ruas e avenidas já era enorme. Mas isso não deixa
a capital com uma poluição sonora. O trânsito parece fluir sem maiores
dificuldades com exceção de uma e outra parte.
Caminhei por
extensas avenidas e passei por alguns parques de lazer para chegar ao Museu
Nacional. No local tive a primeira surpresa. A entrada era gratuita e não
precisei pagar os dois dólares conforme informava o guia. Maravilha! O museu é
considerado um dos mais importantes do país e por isso fiz questão de visitar suas
salas que apresentam coleções sobre Arqueologia, Ouro, Colonialismo, República
e Arte Contemporânea relacionadas principalmente ao Equador. As duas primeiras,
sem dúvidas são as mais interessantes na minha opinião.
Museu Nacional do Banco Central.
Museu Nacional do Banco Central.
Museu Nacional do Banco Central.
Museu Nacional do Banco Central.
Múmia - Museu Nacional do Banco Central.
Museu Nacional do Banco Central.
Museu Nacional do Banco Central.
Museu Nacional do Banco Central.
Museu Nacional do Banco Central.
O museu é grande
e com muita coisa para conhecer. Painéis informativos (espanhol/inglês) estão
por todas as partes e ajudam a compreender melhor as peças e obras em
exposição. Claro que no final da visita a canseira é quase inevitável, mas vale
a pena conhecer um pouco mais sobre a região a partir de uma perspectiva
diferente. Recomendo!
Era meio dia
quando sai do museu e me direcionei ao Vivarium que segundo meu guia tinha uma
das melhores exibições de répteis e anfíbios da América do Sul. Sem dúvida essa
informação foi a que mais despertou minha vontade de conhecer o local. Foi
preciso caminhar bastante para chegar ao suposto enderenço. Durante o trajeto
fiquei atento para encontrar um restaurante econômico, mas infelizmente não
encontrei e continuei a andar.
No guia
informava que o Vivarium estava localizado entre as ruas Reina Victoria e Santa
Maria, mas não achei nada pela região. Perguntei aos moradores e todos
desconheciam a existência do museu pelas redondezas. Um segurança me informou
que talvez eraaquele existente no Parque Carolina, que ficava bem longe de onde
eu me encontrava. Não acreditei que o guia estava errado. Fui a uma lan house e
entrei no site do museu que realmente dizia que sua localização era na Avenida
Rio Amazonas no referido parque.
Eu já havia
caminhado bastante e continuar a pé certamente prejudicaria minha parte física
no pedal do dia seguinte. Então resolvi pegar um ônibus, além do deslocamento
mais rápido eu poderia comprovar o porquê o transporte público é um dos orgulhos
dos moradores da capital.
Antes de pegar o
ônibus fui almoçar em um lugar que aparentava ser sofisticado, mas a refeição
era razoavelmente econômica. O menu tradicional custou $ 2,25 e a surpresa
estava no segundo prato que além do arroz e salada, estava acompanhado de um
molho com marisco, pedaços de peixe e camarão. E para “variar” havia também uma
banana assada. A fruta é amplamente produzida no Equador, sobretudo, em
Machala, por isso, não raramente é encontrada na gastronomia, seja, assada,
frita ou cozida. Para ter uma idéia, ela está presente até mesmo nas sopas.
Enfim, o almoço estava bem saboroso, apesar de eu não ser um apreciador de
mariscos.
A passagem do
ônibus custa somente 25 centavos de dólar, pouco mais de 50 centavos de real.
Achei muito barata se compararmos a outras capitais sul-americanas e,
sobretudo, com as cidades brasileiras. Em outra postagem eu fiz referencia aos
trólebus que tem via exclusiva e são movidos por energia elétrica. Pois bem, notei
que nem todos os ônibus articulados que percorrem essas vias se locomovem por
esse tipo de energia, entretanto, sem dúvidas o tempo de deslocamento de um
ponto a outro é bem menor já que não precisam disputar espaço com outros
veículos.
Para além dos
ônibus articulados há àqueles convencionais, do mesmo tipo que estamos acostumados
a ver no Brasil. Em Quito eles geralmente são da cor azul. Também custam $
0,25. Foi um desses que peguei para chegar ao Parque Carolina. No ônibus não há
roleta e o cobrador mais parece um passageiro normal. Ele começa a cobrar a
passagem somente após um determinado ponto. Pelo menos foi o que aconteceu
naquele momento.
Fui orientado a
descer quando cheguei ao destino desejado. Por sorte o Vivarium estava bem
próximo e não precisei andar muito. No local a entrada custava 3 dólares, mas
por aquilo que prometia apresentar, valia a pena. O “museu” apresenta algumas
cobras, sapos, iguanas, pequenos jacarés e tartarugas.
Entrada do Vivarium
In foco.
A maioria dos
animais é procedente do Equador e sem dúvidas são interessantes, bonitos e até
exóticos. Mas achei extremamente pequeno o espaço reservado para cada um deles.
A sensação foi a mesma de ver um pássaro preso na gaiola. Também esperava ver
muitas outras espécies, contudo, o local está dividido em apenas três pequenas
salas. Foi uma visita aquém das expectativas, sobretudo, porque o guia
mencionava que o local tinha uma das melhores exibições de repteis e anfíbios
da América do Sul. O Vivarium não chega nem perto do que é apresentado no
Parque das Aves em Foz do Iguaçu, para ter um exemplo.
Após a visita ao
tal Vivarium, decidi voltar a pé para a hospedagem. Passei por uma parte do
Parque Carolina que possui uma área enorme e é bastante frequentado pelos
moradores locais para a prática de vários esportes. Digamos que é um pouco
parecido com o Parque do Ibirapuera em São Paulo. Enquanto paulistano sou
suspeito para falar, mas o Ibirapuera me pareceu muito mais charmoso, embora o
parque no coração de Quito seja bem simpático.
Parque Carolina.
No Parque
Carolina há um longo trecho de ciclovia onde foi possível ver muita gente se
locomover com as bicicletas alugadas. Elas estão pelas ruas em todo o centro
moderno. São muito mais utilizadas nesta região do que centrohistórico. Sem
dúvida foi bonito e interessante ver que o sistema funciona, principalmente nos
locais que oferecem infraestrutura para que o ciclista se desloque com mais
segurança. Não sei precisar quantos quilômetros de ciclovias e ciclo-faixas a
capital oferece, entretanto, pude notar que em algumas avenidas importantes
elas estão presentes.
Ciclovia no Parque Carolina
Faixa especial para ciclista em horário especifico.
Na volta o meu
ritmo de caminhada não era o mesmo, então eu aproveitava o passo mais lento
para observar melhor o movimento por esta parte da cidade. Cheguei a entrar em
um shopping, mas estou cada vez menos consumista e todo aquele ambiente não me
fez sentir à vontade e não passei do primeiro piso. Rapidamente voltei às ruas.
Apesar de ser
uma capital, Quito não apresenta (na minha visão) todo aquele ambiente eufórico
de pessoas desesperadas, seja no trânsito ou pelas calçadas. Obviamente que o
movimento é maior, a cidade, ao contrário do que disse anteriormente, possui
2,2 milhões de habitantes e não 1,5 milhão como havia mencionado. Mas apesar
disso, achei bem tranquilo caminhar por essa região moderna.
Na Avenida Rio Amazonas.
Prédio das Nações Unidas
O centro moderno
leva esse nome somente para diferenciar da parte histórica, porque no mais é
bem parecido com outras capitais no que diz respeito à arquitetura, dimensões e
serviços oferecidos. Destaque para as áreas verdes transformadas em parques. Felizmente
elas não são raras de encontrar pela região.
No meu retorno a
pé encontrei várias bicicletarias, mas nenhuma tinha o pneu Pirelli, acho que
realmente vou encontra-lo apenas no Brasil. Paciência. Continuei a caminhada e
passei por ruas e avenidas diferentes e que me obrigaram a recorrer ao mapa,
quando fui ver eu havia andado um monte e havia mais do que o dobro para chegar
ao centro histórico. Sem chance, peguei um ônibus.
Desta vez fui a
uma estação de trólebus. Em cada uma delas há dois funcionários, um responsável
pela bilheteria e outro pela segurança. Se você tiver uma moeda de 25 centavos
basta adiciona-la na catraca e entrar na estação. Tudo muito simples. Os ônibus
articulados são frequentes e o tempo de espera é mínimo. Mas nem tudo é uma maravilha.
Por ser um transporte mais rápido, não raramente os articulados estão lotados.
Estação do Trolébus.
Entrei no ônibus
e na mesma hora me transportei para o metrô de São Paulo em horário de pico.
Estava pior que uma lata de sardinha. O motorista avisa (com microfone) que vai
fechar as portes e na sequencia menciona a próxima estação que será realizada a
parada. Em algumas delas é possível fazer baldeação para outros ônibus. Muito
parecido com aquele sistema dos metrôs. Inclusive, em determinadas estações há
várias pessoas que descem e deixam o ambiente mais tranquilo e assentos livres
podem facilmente ser encontrados.
Desci na estação
errada e tive que voltar um trecho para chegar ao centro histórico. Mas valeu a
pena, no caminho encontrei uma região comercial bastante movimentada. Parei em
um salão de beleza e decidi ficar menos feio. Cortei meu cabelo pela segunda
vez na viagem. O corte custou apenas 1,25 dólares.
No centro
histórico fui direto para a hospedagem tomar um banho e na sequencia retornei
às ruas para ir ao mercado comprar pão e bolacha. Levei a câmera fotográfica
para registrar a noite em Quito, mas nem utilizei a máquina porque não achei
nada diferente, nenhuma iluminação especial, nem na Praça Grande e muito menos
nas fantásticas igrejas. Após as compras, finalmente retornei ao Hostal Loja e
fui preparar as coisas para voltar à estrada no dia seguinte.
08/12/2012 -
153° dia - Quito a Otavalo
Hora de voltar à
estrada.
Acordei às 5
horas, mas levantei somente 45 minutos depois para começar a arrumar o resto das
coisas, preparar o desayuno e seguir viagem. O trajeto até Otavalo não seria
longo, cerca de cem quilômetros, mas a estratégia era sair cedo para pegar
menos trânsito na saída da capital.
Por volta das 7
horas da manhã eu estava pronto para deixar o Hostal Loja, não sem antes
agradecer o senhor Victor Hugo pela hospedagem. Segui em direção à Avenida 10
de Agosto que consequentemente me levaria para a Rodovia Panamericana. O
trajeto foi realizado tranquilamente e pelo caminho apenas parei na pretensão
de confirmar com algumas pessoas o sentido correto para Otavalo.
A saída da
cidade, como era prevista, é extremamente longa, contudo, a maior parte foi em
declive e facilitou o deslocamento que somente era interrompido por um e outro
sinal vermelho pelo caminho. Com mais de dez quilômetros pedalados apareceu,
pela primeira vez, uma placa que indicava a Panamericana e o monumento da
Metade do Mundo. Continuei em frente.
Em direção à Panamericana. À esquerda, a equivocada Mitad del Mundo.
Não sabia
direito se o monumento Mitaddel Mundo ficava próximo da rodovia ou se era
necessário pegar algum outro trajeto, mas a placa indicava que eu deveria sair
da pista principal. O lugar é muito conhecido e destacado pelo turismo, entretanto,
o famoso monumento está localizado em uma antiga demarcação de onde
supostamente cruzava a Linha do Equador. Hoje, sabe-se que a linha imaginária que
divide o planeta Terra em Hemisfério Norte e Sul não passa por este ponto.
Como o monumento
não está localizado onde realmente se encontra a Linha do Equador, achei que
seria muita sacanagem visitar o lugar e fazer um registro falso de que estaria
ao mesmo tempo em cada metade do mundo, como se costuma fazer. Por isso
continuei o pedal pela pista principal e fiquei atento para encontrar alguma
placa na estrada que indicava a passagem da linha imaginária, mas não apareceu
nada. Paciência! Importante é que eu atravessei a metade do mundo pedalando e
agora estou no Hemisfério Norte.
A região
metropolitana custou a passar e por alguns trechos pedalei pela avenida
marginal que estava mais tranquila. Sei que foram mais de 20 quilômetros para
finalmente encontrar a rodovia propriamente dita. Na sequencia uma descida
fantástica estava no meu caminho e claro que posteriormente uma subida
monstruosa me esperava.
Região Metropolitana.
Descida quilometrica. Céu cinzento.
Existem duas
formas de chegar em Otavalo a partir de Quito. Uma delas é por Guayllabamba e
Tabacudo. Este caminho é mais curto, contudo, com mais subidas, por isso,
apesar da orientação do Google Maps, resolvi seguir pela alternativa disponível.
A segunda opção era continuar pela E-35 em direção à Cayambe. A distância é um
pouco maior, no entanto, o relevo tem apenas uma subida forte. Comecei o dia
com a intenção de seguir para Otavalo via Cayambe.
O trevo para
Cayambe deveria ficar nas proximidades de Guayllabamba, fiquei atento, todavia,
não localizei nenhum acesso. Em Guayllabamba apareceu uma estrada, mas os
moradores disseram que eu deveria continuar naquela em que eu estava e que as
placas indicavam que era caminho para Otavalo e Tulcán. Quilômetros depois eu
descobri que era o caminho via Tabacudo. A rota mais montanhosa. Não sei em que
momento eu deixei a Panamericana, em todo caso, aquele caminho também me
levaria ao destino. Apenas desejava que a estrada estivesse em boas condições.
As subidas não
demoraram em aparecer. Entre o árduo sobe e descehavia dois aclives com mais de
dez quilômetros cada. Essas foram as partes mais difíceis do pedal. Novamente
estava nas alturas das alturas e acima das montanhas ao redor. Na paisagem era
possível observar os vales, rios e algumas áreas cobertas dedicadas ao cultivo
de plantas e principalmente suas flores.
Nas alturas..
Essas áreas cobertas são destinadas ao cultivo de flores.
Yo!
Cada vez mais alto.
A estrada ficava para trás.
Por volta do
meio dia passei por Tabacudo e pensei em almoçar, mas as opções não eram muito
convidativas. A maioria parecia ser voltada a um público mais endinheirado. Dessa
forma não cogitei parar e continuei. Sabia que havia apenas mais uma subida
forte e depois a descida predominaria até Otavalo onde eu poderia comer alguma
coisa.
A subida após
Tabacudo foi mais longa do que eu imaginava. Mas como eu não estava com demasiada
fome (milagre!), pedalei tranquilamente pelo aclive. Com 82 quilômetros
marcados no velocímetro, finalmente retornei à Panamericana. Pensei que seria
somente descida para chegar à Otavalo, mas algumas subidas curtas trataram de
tardar minha chegada à cidade.
Monumento em homenagem à cultura local.
Vale destacar que
após o retorno à Panamericana o pedal aconteceu pela província de Imbabura onde
pude verificar mais um vulcão (inativo). Curioso foi ver a moça que confirmou
minha suspeita (que era um vulcão) dizendo na maior naturalidade que aquele era chiquitito e não estava mais em
atividade. O que também chamou atenção foi o Lago San Pablo que fica ao lado do
vulcão e deixa a paisagem ainda mais bonita.
De volta à Panamericana.
Mais uma província equatoriana.
O vulcão chiquitito.
Lago San Pablo.
In foco.
Lago San Pablo e o vulcão à direita.
Vai uma carne de porco aí?
Monumento em um dos povoados antes de Otavalo.
Quanto mais eu
me aproximava de Otavalo, mais nítida era a presença indígena pela região. Não
é à toa que Otavalo possui o maior mercado indígena da América do Sul.
Inclusive, resolvi ficar um dia na cidade somente para conhecer sua maior
atração.
Por volta das 15
horas finalmente cheguei ao meu destino e me direcionei ao centro para
encontrar uma hospedagem barata. Segundo meu guia, sábado é o dia de maior
movimento na cidade, uma vez que as ruas acabam por virar uma grande feira
livre.Os inúmeros visitantes e/ou compradores acabam por lotar a capacidade das
hospedagens e tornam a diária ainda mais cara. Com isso eu já estava preparado
para ter que desembolsar um pouco a mais.
No primeiro
hostal visitado a diária custava 16 dólares. Muito cara apesar dos serviços
oferecidos. Então resolvi pedir ajuda para os moradores locais que me indicaram
uma região com hospedagem mais econômica. Quando me direcionava ao local
recomendado comecei a me deparar com uma movimentação enorme de pessoas pelas
ruas que, por sua vez, estavam tomadas por barracas onde eram comercializados
os mais diversos produtos, desde artesanatos até mercadorias made in China.
Recepção em Otavalo.
Ruas tomadas por barracas e pessoas.
O movimentado sábado pelas ruas de Otavalo.
Frutas, verduras e legumes.
Passei no meio
da multidão e ao lado de uma extensa área que parecia um mercado público. A
principio cheguei a suspeitar que seria o conhecido mercado indígena. Mas
naquele momento eu estava preocupado mesmo em achar um lugar barato para ficar.
Para desviar das ruas mais movimentadas peguei um caminho alternativo e
finalmente cheguei à área recomendada.
No Hostal Maria
a diária custava sete dólares, mas com o pedido de desconto acabou por seis
dólares. Quarto confortável com cama de casal e banheiro privado com água quente.
Aqui cabe uma observação: Como a temperatura ambiente na serra é mais baixa em
razão da altitude, a maioria das hospedagens dispõe de banheiro com água
quente. O Hostal Maria me pareceu bem agradável e não hesitei em permanecer no
local.
Quando fui levar
a Victoria ao pátio do hostal, uma surpresa; barulho de câmara de ar murchando.
O pneu traseiro esvaziou em questão de segundos. Não havia nenhum objeto
cortante pelo caminho, então só poderia ter sido o rasgo na borda do pneu Kenda
que foi identificado alguns dias atrás. A abertura é a mesma causada no Pirelli
trocado em Nasca. Quase certo que a causa é a calibragem baixa. Com o excesso
de peso no alforje traseiro, o aro acaba “comendo” a borda e consequentemente a
câmara. No entanto, eu não poderia encher mais o Kenda porque se não ele
escaparia do aro como aconteceu antes de Lima. Resultado, outro pneu
inutilizado.
Dos males o
menor. O pneu poderia ter furado na estrada e isso aconteceu somente na chegada
ao hostal. Assim que descarreguei toda a bagagem e levei para o quarto no piso
superior, tomei um banho e fui ao local onde o recepcionista indicou que
poderia ter uma bicicletaria. Cheguei ao local que para a minha felicidade
ainda estava aberto. Afinal era mais de 4 horas da tarde de um sábado. Consegui
encontrar um pneu 1.95 da marca Duro por 9 dólares. Espero que consiga rodar
uma quilometragem maior que o Kenda e faça jus ao nome que recebe.
A roda traseira
está com um raio quebrado. Antes de Quito eu escutei um barulho estranho, mas
não achei nada anormal. Somente hoje quando tirei o alforje traseiro que
identifiquei a peça danificada. Na bicicletaria eles não realizavam o serviço
naquele momento. Então vou ter que continuar a viagem assim mesmo até encontrar
um local para realizar a troca. Desde Lima eu não tinha problema com isso,
então nem posso reclamar muito. Paciência.
Voltei para a
hospedagem, guardei o pneu novo e aproveitei que ainda estava claro para voltar
às ruas e observar com mais calma todo aquele movimento. Otavalo é simplesmente
um lugar único. É uma típica cidade do interior que soube se modernizar sem
deixar a cultura de lado. Os indígenas são maioria e estão por todas as partes.
Pelas ruas facilmente se escuta o idioma quéchua falado entre eles.
O que chama
atenção é que os indígenas desta região são parecidos com ciganos. Em um
primeiro momento cheguei a pensar que realmente se tratava do povo nômade.
Também não é fácil de confundi-los. A roupa tradicional utilizada pelas
mulheres é uma longa saia preta e uma blusa branca com vários detalhes. No
pescoço elas exibem correntes que aparentam ser de ouro, metal que também é
encontrado nos dentes de algumas delas. Algo no mínimo muito curioso.
Pelas ruas eu
ficava admirado com a quantidade de pessoas e o número de barracas que ocupavam
vários quarteirões. Fiquei intrigado porque muitos produtos não eram indígenas
e sim chineses. Mercadorias que encontramos facilmente pelos camelôs do Brasil.
Então resolvi verificar o mapa da cidade no meu guia e descobri que o famoso
mercado ficava algumas quadras de onde eu estava.
Antes de
conferir o maior mercado indígena da América do Sul, passei pela praça
principal (Parque Bolívar) onde estão localizadas a prefeitura e a igreja San
Luis. O local é simples, mas extremamente agradável. Sem dúvidas é uma das
praças mais simpáticas que estive em toda a viagem. Aliás, a cidade toda se
apresentou como uma das surpresas mais agradáveis do Equador.
Parque Bolívar.
Prefeitura.
Monumento em homenagem ao indigena. Iglesia San Luis ao fundo.
Caminhei algumas
quadras e finalmente cheguei à Plaza de Ponchos onde está localizado o mercado
indígena. A praça é tomada por inúmeras barracas em um cenário muito parecido
com aquele das ruas anteriores. A diferença é que os produtos não são
fabricados no outro lado do mundo. O colorido do mercado é exibido nas mais
diferentes mercadorias, sobretudo, nas roupas de alpaca. São blusas, ponchos,
toucas, luvas e outros acessórios para temperaturas baixas. Ainda é possível
encontrar cobertas, redes, tapetes, chapéus e uma infinidade de outros objetos,
como bijuterias e até mesmo instrumentos musicais típicos.
Finalmente no maior Mercado Indigena da América do Sul.
Mercado Indigena
Mercado Indigena
Triciclo aqui é bastante comum. Existe até mesmo uma associação deles na cidade.
O maior dia de
movimento na cidade é no sábado, portanto, a agitação era imensa por quase
todas as ruas. Há estrangeiros, mas a maioria dos compradores são pessoas que
moram na região. O clima na cidade se torna incomparável. Uma atmosfera difícil
de descrever. Passei rapidamente pelo famoso mercado porque pretendia voltar no
dia seguinte para olhar com mais calma.
Antes de voltar
para a hospedagem passei em um supermercado (normal) e comprei pão, leite e
chocolate em pó para repor meu estoque. Depois caminhei bastante pelas ruas e
ainda achei um estabelecimento que vendia as bolachas peruanas GN. Novamente eram
as mais baratas entre as opções. Não pensei duas vezes para levar quatros
pacotes grandes que contabilizam ao todo, 32 pacotes de galletasrellenas.
Combustível suficiente para enfrentar as subidas que restam pelo caminho.
De noite a praça
principal fica ainda mais charmosa com a iluminação especial. Algo que não
encontrei na Plaza Grande de Quito, por exemplo. Se você estiver de passagem
pelo Equador, não deixei de visitar Otavalo pelo menos por dois dias, se
possível, no final de semana quando a cidade se transforma.
Parque Bolívar à noite.
Iglesia San Luis.
Demorei em
encontrar um restaurante que servisse o menu tradicional por um preço baixo.
Mas nofinal achei um local simples onde a refeição custava apenas 1,75 dólares.
Sopa e frango assado com arroz e salada. Básico e suficiente. Voltei para o
Hostal Maria e fui descansar.
Dia finalizado
com 101,48 km em 7h26m e velocidade média de 13,62 km/h.
09/12/2012 - 154°
dia - Otavalo (Folga)
Cinco meses de
viagem!
Parte da manhã
dedicada à atualização do diário de bordo.
No período da
tarde fui visitar de novo o mercado indígena. As mercadorias realmente são
baratas e geralmente acompanhadas de um bom desconto. Infelizmente essas roupas
de inverno são volumosas e pesadas, sem chance de aproveitar a oferta e levar
uma recordação da tecelagem local.
Plaza dos Ponchos - Mercado Indígena
Plaza dos Ponchos - Mercado Indígena
Plaza dos Ponchos - Mercado Indígena
Detalhe para a roupa típica. Não lembra a vestimenta dos ciganos?
Plaza dos Ponchos - Mercado Indígena
In foco.
Plaza dos Ponchos - Mercado Indígena
Plaza dos Ponchos - Mercado Indígena
In foco.
Plaza dos Ponchos - Mercado Indígena
In foco.
Plaza dos Ponchos - Mercado Indígena
Hoje a maioria
das ruas estava sem as inúmeras barracas de ontem. Sinal evidente que sábado
realmente é o dia de maior movimento na cidade. Foi bacana ver que horas após
toda aquela agitação as ruas encontravam-se limpas. Serviço de limpeza
eficiente que também acontece no restante do país.
As ruas tranquilas e limpas durante a manhã de domingo.
Muitas ruas tem ciclovia.
Região central.
Bananas assadas são servidas no carrinho ao fundo.
No final da tarde
voltei ao hostal e troquei o pneu e a câmera de ar. Depois tomei um banho e
comecei a ver Senhor dos Anéis. A trilogia foi a única que restou para ver no
computador. Não sou muito fã desse estilo de filme e por isso não tive
interesse em assisti-lo anteriormente. Mas confesso que gostei da primeira
parte. Acho que o filme aborda alguns valores perdidos nos dias de hoje. Quando
tiver oportunidade verei a sequencia.
Quando fui sair
para jantar, verifiquei que o pneu trocado estava murcho. Misericórdia! Eu estava
limpo e nada disposto a realizar a troca da câmera furada naquele horário. Fui
jantar meio que inconformado de ter que perder tempo no dia seguinte para poder
seguir viagem. Principalmente porque eu queria sair cedo para chegar na
fronteira com a Colômbia.
Jantei no mesmo
lugar da noite anterior e posteriormente voltei para a hospedagem e fui dormir.
Estava decidido a trocar a câmera furada somente na manhã seguinte. Também
resolvi que não colocaria o celular para despertar porque eu precisava ter uma
boa noite de sono, sobretudo, para descansar as pernas.
10/12/2012 - 155°
dia - Otavalo a San Gabriel
Maior
quilometragem diária pelas estradas equatorianas.
Madruguei
naturalmente. Levantei às 4h30m sem precisar do despertador. Aproveitei o
horário e não pensei duas vezes para começar a trocar a câmera de ar furada. Acho
que foi justamente esse o motivo que me fez acordar mais cedo.
Rapidamente
saquei a roda traseira e verifiquei o que havia de errado. Um furo minúsculo
foi o responsável por outra troca mal sucedida. Tudo indica que na última vez
que remendei a câmera, este furo tenha passado despercebido. Paciência. Troquei
a câmera e logo na sequencia comecei a arrumar minhas coisas. Por último,
preparei o desayuno e fui à estrada exatamente às 7 horas.
Para a minha
felicidade a Panamericana faz uma volta por Otavalo e assim não precisei
regressar ao caminho por onde cheguei. A saída da cidade estava mais perto do
que havia imaginado e bastou seguir as recomendações obtidas pelas poucas
pessoas que caminhavam nas tranquilas ruas. Inclusive foi possível verificar a
Plaza dos Ponchos sem o mercado indígena. Pensei que as barracas permanecessem
no local, mas estava enganado. Pelo jeito as mesmas são retiradas sempre ao
final do dia. Processo que deve ser bem trabalhoso aos comerciantes.
Plaza dos Ponchos sem as barracas.
Durante a noite
choveu mais uma vez, contudo, o dia amanheceu apenas nublado, melhor assim. A
temperatura era baixa e resolvi sair vestido com a jaqueta corta-vento,
todavia, nos primeiros quilômetros tive que retirar em razão da excessiva
transpiração. Fiquei somente com a segunda-pele.
A pretensão do
dia era audaciosa, chegar à Tulcán, na fronteira com a Colômbia. Para isso eu
teria que pedalar aproximadamente 150 quilômetros. Distância 1/3 maior do que
estava acostumado a fazer em solo equatoriano. A ousadia tinha motivo, segundo
minha análise da altimetria, as descidas seriam generosas, muito embora as
subidas quilométricas estivessem presentes pelo caminho. Para completar o
objetivo era preciso sair mais cedo e isso infelizmente não aconteceu. Ainda
assim comecei o pedal com o pensamento de concluir a meta traçada.
Os quilômetros
iniciais foram bem tranquilos. O trecho entre Otavalo e Ibarra, denominado de
autovia, está praticamente novo e com três vias em cada lado da rodovia. O
acostamento é quase inexistente, mas isso não chegar a ser um problema. São
aproximadamente vinte quilômetros entre as duas cidades e o trajeto em sua
maioria foi reaizado por um declive, como já era esperado. Rapidamente estava
em Ibarra que é um município de médio porte e que possivelmente oferece toda a
estrutura para o viajante que passa pela região.
Autovia Otavalo-Ibarra
Após Ibarra as
descidas continuaram a prevalecer e a velocidade média era alta. Apenas uma e outra
subida curta estava pelo caminho. Em um determinado momento eu estava no alto
de uma montanha de onde foi possível observar um longo vale pela frente. O
mesmo era cortado pela estrada em que eu me encontrava, ou seja, havia um longo
trecho de “bajada” para ser concluído. Que maravilha!
Lago após Ibarra.
Descida em direção ao vale.
O trajeto pelo
vale foi emocionante, sobretudo, em razão das paisagens das inúmeras montanhas
ao redor. Inquestionavelmente é muito difícil pedalar pela cordilheira, mas da
mesma forma é impossível ficar indiferente à sua magnifica beleza e imponência.
Por isso me restou continuar a descida em um ritmo forte e admirar toda àquela
natureza.
Pedalando entre as montanhas.
O vale é repleto
de pequenas comunidades negras que tem na agricultura e artesanato a principal
fonte de renda, sobretudo, na região de Chota que chama atenção para outras
duas coisas: A diversidade de hospedagens denominadas hosterias. Aparentemente
elas oferecem uma estrutura bem completa a seus clientes. Não sei se o preço da
diária é muito alto, mas pode ser uma opção para quem precisar de um lugar para
passar a noite. A outra curiosidade é para uma planta (parece mato) que supostamente
é colocada sobre a estrada para secar. Achei um abuso utilizarem a rodovia para
realizar esse processo, mas me pareceu que é uma prática bem comum e que os
motoristas da região estão acostumados.
Faltava apenas cem quilômetros para chegar à Colômbia.
Os nomes encontrados pelo caminho.
Região repleta de hosterias.
Secagem em plena rodovia.
Cheguei aos 60
quilômetros com a média de 19 km/h, uma marca bem acima do normal desta
expedição. Dez quilômetros depois e pouco antes do meio dia eu achei melhor
parar em um restaurante no povoado de El Juncal onde a descendência africana
também predomina. No estabelecimento a refeição estava caprichada em todos os
sentidos. Menu tradicional custou apenas dois dólares. Destaque para a salada
com vários legumes e o suco natural de acerola que estava uma delícia.
Após 45 minutos
no restaurante estava na hora de voltar à estrada. O trajeto infelizmente não
continuou o mesmo da parte da manhã. Na saída de El Juncal existe uma ponte
sobre o rio que atravessa o vale, a mesma é a divisa entre as províncias de
Imbabura e Carchi, esta última lhe deseja boas vindas com aquela que seria a
maior subida do dia. Foram praticamente 20 quilômetros montanha acima. Trecho
extremamente íngreme e difícil de completar. Levou boa parte das minhas
energias.
A última província equatoriana.
El Juncal ficava pequenina no horizonte.
Acima dos 3 mil metros de altitude.
Durante a subida
encontrei um senhor que trabalha para a concessionária responsável pela rodovia
e comecei a conversar sobre o trajeto. O diálogo durou mais do que o esperado e
no final soube que o trecho a seguir também seria em direção aos céus. O senhor
me disse que outros dois cicloturistas estavam praticamente seis horas na minha
frente. Agradeci pelas informações e continuei o pedal.
Com a subida
mais difícil do que o imaginado seria impossível chegar à Tulcán no mesmo dia.
O objetivo passou a ser outro: alcançar a cidade de San Gabriel antes do
anoitecer. Após a ascensão de 19 quilômetros, infelizmente a descida não
apareceu como era desejada. Um chato sobe e desce na estrada quase me levou a
exaustão. Estava muito, mas muito cansado e chegar à San Gabriel naquele
momento já seria uma grande vitória.
Essa subida era uma das mais leves. Pode acreditar!
Da série: coisas que a gente encontra pelo caminho.
Fui obrigado a
devorar vários pacotes de bolacha porque minha fome é cada vez mais insaciável,
seja antes, durante ou depois do pedal. Entre uma pausa e outra para retomar o
fôlego eu aproveitava para recuperar as energias.
Quando eu achava
que finalmente surgiria uma descida considerável para aliviar os músculos das
pernas que estavam pesadas, a montanha-russa insistia em continuar. São quase 6
mil quilômetros pela Cordilheira dos Andes e estou saturado de subidas, meu
corpo tem resistido bem a todo esse traiçoeiro relevo, mas não sou de ferro e
sinto que apesar de forte, minhas pernas começam a pesar com o acúmulo de
montanhas. O meu esforço agora é para que esse peso não seja transferido para a
parte psicológica por que ela tem que estar bem para ajudar meu avanço final
pela cordilheira na Colômbia.
Com muito
sacrifício finalmente cheguei à San Gabriel exatamente às 18h10m, não sem antes
encarar uma última subida em direção ao centro da pequena cidade. Fui procurar
uma hospedagem que havia sido recomendada. No Residencial Orfeus fui muito bem
recebido pela colombiana Esperanza. A diária custava 6 dólares e como estava no
preço econômico padrão, resolvi ficar. Quarto confortável, limpo e com
televisão a cabo. O banheiro é compartilhado, mas não deixa a desejar na higiêne.
Ambiente tranquilo.
A primeira coisa
a fazer na hospedagem foi tomar um banho quente para relaxar os músculos. Na
sequencia fui ao centro para jantar, estava com fome e por dois dólares
encontrei um restaurante que servia a refeição tradicional. Tudo muito saboroso.
A noite estava
fria e voltei logo para a hospedagem. Cansado não fiz outra coisa a não ser me
encaminhar direto para a cama. Fui dormir por volta das 21 horas sem colocar o
celular para despertar, afinal não precisaria acordar cedo porque a distância
para o dia seguinte seria baixa uma vez que meu destino é a cidade de Ipiales
em território colombiano, cerca de 50 quilômetros de San Gabriel.
Dia finalizado
com 113,26 km em 8h49m e velocidade média de 12,84 km/h.
Tenho que lhe dar um "puxão" de orelha, onde ja se viu passar com colegas cicloturistas e não parar para hablar!!! tse tse tse. Bricadeiras a parte, tenho uma pergunta, verifiquei as fotos de 3 cicloturistas que passaram pelo Salar e todos fizeram as fotos "saltando" é algum ritual ???
ResponderExcluirOutro detalhe desde o inicio da sua viajem, já conto com a visita de 5 cicloturistas pela minha humilde residência, Canadá, Venezuela, Africa do Sul, Polonia e França. Que experiência divina, realmente valeu pela recomendação!!!
at.
Sergio
Buenas Sergio.
ExcluirNao mereço o puxao de orelha, rs. A rodovia no ponto onde encontrei os cicloturistas era duplicada e separada por uma mureta de concreto e muito movimentada. Sem chance de parar e trocar algumas palavras. Mas quando é possível sempre faço questao de parar e conversar. Afinal sao pessoas que sabem muito bem como è o dia-a-dia na estrada. Esclarecido? rs
Em relaçao ao salar. Nao sei bem se chega a ser um ritual. Mas é uma foto que nao pode falar para quem visita a regiao, rs. Eu fiz questao de registrar meu salto. Claro que foram várias tentativas para ter um clique mais ou menos, rs.
Sobre os cicloturistas que recebeu em sua casa, todos entraram em contato pelo Warmshowers? Sem dúvida é uma experiencia interessente. Uma verdadeira troca de conhecimentos. Parabéns pela iniciativa.
Grande abraço, Sergio.
Sim todos via Warmshowers, e uma informação interessante a que esta aqui agora(francesa), cruzou com os primeiros hospedados aqui canadenses na Bolivia, e eles comentaram que foram muito bem recebidos no Brasil rsrsrr muito legal.
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEu não me recordo em sua passagem pelos países de língua Espanhola você citar "café da manhã" e sim desayuno hahahah. No início deste relato, você faz isso.
ResponderExcluirNo mais, como já mencionei antes. Ler esse relato é como ler um bom livro, você se transporta para dentro da história. Parabéns mais uma vez Nelson. Como ainda não conheço sua cidade (Foz do Iguaçu) quero ter o prazer de um dia desses visita-lo lá. Irei com esposa e filha e quero ter o prazer de um pedal por aquelas bandas. Sou de Campinas, moro na região metropolitana aqui, na Cidade de Valinhos, estando por estas parte do Brasil, sinta-se a vontade para me visitar. Josemar/Valinhos/SP
Buenas camarada.
ExcluirMuito bom saber que os detalhes na escrita não passam despercebidos. Então, na verdade o "desayuno" é utilizado sem um motivo especifico. Quer dizer, serve mais para evitar a repetição de "café da manhã".
No mais, agradeço de novo pelas palavras de incentivo. E certamente será um prazer recebe-los em Foz do Iguaçu. Sem dúvidas a cidade vai surpreender vocês. Além de todas as belezas naturais conhecidas, existem ótimas trilhas para podermos pedalar e conhecer outras partes da região. Reserve uma data para realizar a visita no segundo semestre do ano que vem quando já estarei em casa.
Também agradeço pela hospitalidade. Já estive por essas bandas quando fui de Foz à Belo Horizonte. Mas pode deixar que em uma próxima oportunidade eu comunico minha presença.
Grande abraço.
Hasta luego.
Mais uma vez parabéns pelo excelente relato Nelson.
ResponderExcluirNão anda sentindo a bicicleta mais pesada?
Porque tu tá carregando uma penca de gente junto com você rsrs
Tu é meu herói.
Não sei se vai conseguir ler esse comentário antes da próxima atualização, mas se conseguir, por favor, garanta vários registros da divisão do mundo.
Abraço e ótimo pedal.
Buenas Vicinius.
ExcluirMuito obrigado pelo grande incentivo. Sem dúvidas suas palavras também tem um grande peso para o avanço da viagem.
Você tem toda razão, a bicicleta está muito mais pesada, rs. Agora eu sei porque as subidas estao cada vez mais dificeis para serem completadas, rs. Brincadeiras à parte é sempre um grande prazer ter a companhia de vocês todos.
Em relação aos registros na metade do mundo, infelizmente não forem realizados. Os motivos estão relatados no dia 153 do diário de bordo. Acho que você já deve ter lido. Agora é torcer para encontrar a placa que indica linha imaginária quando eu voltar para o hemisfério sul. Isso deve acontecer no Amapá daqui alguns meses.
Grande abraço e continua a bordo da expedição.
Hasta luego!
Olá Nelson. Obrigado por responder meu email sobre a facilidade de se encontrar gás.
ResponderExcluirOutra pergunta: qual site vc usa para saber a altimetria do caminho â frente?
Amanhã vou para a Chile fazer a carretera austral espero poder continuar seguindo sua fantástica aventura. Parabéns.
Oi Roberto,
ExcluirDesculpe-me a minha intromissão, vc tem algum blog para acompanharmos sua expedição.
A carreteira Austral é um plano futuro nosso.
Abraços,
Sônia
Buenas Roberto.
ExcluirDesculpe-me pela demora em respondê-lo. Certamente você já deve estar na estrada. Em todo caso, fica a resposta. Tenho utilizado o excelente serviço (gratuito) oferecido pelo http://ridewithgps.com É muito fácil de utilizar e ajuda bastante.
Muito bom saber que também está em viagem. Essa é uma região que ainda não conheço. Desejo que você aproveite o máximo possível de cada momento.
Seguindo o comentário do Leco/Sonia, se tiver um site com relatos e fotos, não deixe de divulga-lo aqui para pordermos acompanhar sua aventura pela América do Sul.
Qualquer pergunta basta entrar em contato.
Grande abraço.
Hasta luego!
Monte Cotopaxi = Monte Fuji
ResponderExcluirBoa viagem!
Japa-sun
Buenas Japa Sun.
ExcluirAinda não conheço o Monte Fuji, mas agora que você mencionou, realmente não são muito diferentes. Devem ser parentes distantes, rs.
Grande abraço.
Hasta Siempre!
Oi Nelson,
ResponderExcluirTudo bem?
Que lindas fotos do vulcão, fantásticas!
Quando estamos pedalando alguns caminhos e lugares lembram outros, legal você lembrar do Ribeirão da Ilha, devem ser memórias boas, pois sei que gostou muito de morar em Floripa.
Também achei legal a atitude dos ciclistas de speed, aqui eles nem olham para nós. Por que será?
Ah, nossa viagem para as serras está toda planejada já, estamos ansiosos para que chegue o dia da saída...
Um abração...estamos sempre juntos com você...
Buenas amigos.
ExcluirAqui está tudo bem, apesar das subidas quilometricas. Mas o importante é que o avanço está sendo realizado.
Ah que saudade de Florianópolis, sem dúvida é um lugar que ainda quero voltar para morar e aproveitar toda essa natureza maravilhosa. Certamente viver na Ilha da Magia foi uma das melhores experiências da minha vida. Um enorme aprendizado e diversos momentos inesqueciveis. Me aguardem que eu voltarei, rs.
Estarei na torcida para que a viagem de vocês seja excelente. Aproveitem cada momento pois eles serão únicos.
Grande abraço.
Hasta luego!
Ola mi hijo,ler estes teus relatos esta sendo uma terapia, justamente em funçao das belas fotos , juntamente com a tua maneira de relato.
ResponderExcluirQue Deus te ilumine.Abraços OldDad.
Buenas Papito!
ExcluirÉ sempre um prazer poder compartilhar essa experiência com vocês. Muito bom saber que continua acompanhando e gostando dos relatos desta viagem surpreendente em todos os sentidos.
Grande abraço, pai.
Hasta la Victoria Final!
CORREÇÃO(ESTES TEUS RELATOS ESTAO SENDO),desculpe-me rs.
ResponderExcluirOld Dad
Amore Querido,
ResponderExcluirAdorei a hospedagem na chácara, super intensa
Quito é uma cidade lindíssima, as construções são incríveis... Ah, adorei a gárgula de tartaruga, iguana e os demais animais não identificados, rsrs
Muito legal a passagem de bus ser barata e o transporte público ser de qualidade em algumas horas do dia, rsrs
Tome cuidado nestas estradas e espero que você encontre uma descida infinita ou uma reta infinita tb... este sobe desce me deixou cansada de ler imagina vc q tá pedalando.
Boa sorte...
Toda positividade pra ti.
Bjs