Último dia de 2012.
O que fazer para terminar o ano
bem? Simples. Apenas descansar, agradecer por ter realizado vários sonhos e
lavar a companheira. Sim, a Victoria ficou limpa depois de muito tempo. Vai
começar 2013 brilhando. Foi meu presente, atrasado, de natal para aquela que
tem me acompanhado fielmente nesta jornada.
Também comemorei o saldo positivo
de acessos ao site. Em 2012 foram completadas 20 mil visitas provenientes de
mais de 60 países que totalizaram 70 mil páginas visitadas. Como um dos
objetivos desta expedição é compartilhar todo o conhecimento adquirido,
acredito que eu esteja no caminho certo. Por isso eu agradeço verdadeiramente a
todos àqueles que têm colaborado com a divulgação do site. Muito obrigado
mesmo.
No período da noite o jantar foi
especial e com a mesa bastante farta para não faltar comida nos próximos meses,
conforme manda a tradição. Para além da refeição caprichada, a família
Castelblanco reunida deixou o clima ainda mais especial. Não tinha certeza de
onde passaria a virada de ano, contudo, foi uma ótima decisão permanecer na
capital colombiana.
Logo após a contagem regressiva
para a entrada de 2013, desejei feliz año
para toda a família colombiana e mentalizei coisas positivas para meus
familiares e amigos distantes. Pela primeira vez em muito tempo eu não desejei
nada específico, não me achei neste direito. Somente fiz um agradecimento por
tudo àquilo que conquistei durante o ano maravilhoso que acabara de passar,
sobretudo, por encontrar o caminho da felicidade, que sem duvida continuará a
ser percorrido.
01/13/2012 - 177° dia - Bogotá
(Folga)
Primeiro dia de 2013. O ano
começou muitíssimo bem.
Para aproveitar a data especial,
a família Castelblanco combinou de passear no famoso Cerro de Monserrate.
Alejandro, meu anfitrião, equiparou a importância do local para a capital
colombiana, como o Cristo Redentor ao Rio de Janeiro. Sem dúvida a comparação
criou certa expectativa para realizar a visita a um dos pontos turísticos mais
famosos de Bogotá.
O passeio não tinha horário
definido, ninguém estava a fim de acordar cedo no feriado. Ainda mais que fomos
dormir somente de madrugada. Eu levantei apenas por volta das 9 horas da manhã.
Aproveitei e conectei o Skype para poder falar e ver a minha mãe depois de
quase 6 meses. Após um tempo de espera, finalmente meu irmão realiza a chamada
e coloca a mãe na tela do computador. Que emoção! Nossa primeira reação foi
deixar cair lágrimas de felicidade.
Começar o ano falando com a mãe
foi excelente. Nossa conversa durou mais de uma hora, contudo, poderíamos ficar
muito mais tempo que não faltaria assunto. Tenho me comunicado pouco com ela em
razão dos horários. Mas o importante é que parte da saudade foi amenizada.
Também foi maravilhoso saber que continuo com o seu apoio para concluir meu
sonho. Isso sem dúvida é fundamental.
Acho que pouco depois do meio a
família toda estava reunida para iniciar o passeio. Nosso deslocamento ocorreu
via TransMilenio, o transporte de ônibus moderno da capital. Caminhamos até a
estação mais próxima e aguardamos o veículo chegar. O sistema todo é muito
parecido com o metrô de São Paulo, desde os pontos positivos aos negativos.
Como era feriado a tranquilidade pairava sobre a estação, contudo, aquela não
era a realidade cotidiana, conforme mencionou o Alejandro.
Estação de ônibus do TransMilenio.
A implantação do TransMilenio
está em vigor desde 2000 e sua eficácia, sobretudo, na diminuição do tempo no
deslocamento, acabou por ter a preferência de muitos passageiros que não
raramente extrapolam a capacidade suportada pelo veículo, principalmente nos
horários de maior movimento, que por sua vez, são aqueles que têm a tarifa mais
elevada, uma medida para estimular as transferências em outros horários. Mas,
por constatação própria, a estratégia ainda não chegou ao resultado esperado,
pois ainda é possível ver muitos ônibus lotados, nada comparado ao limite
excedido da capital equatoriana.
Isso é prestar atenção nas informações do guia, rs.
Se não me engano a tarifa do ônibus
articulado custa pouco menos de dois reais. Por atravessar toda a capital e
permitir a baldeação entre várias linhas, o preço é bastante acessível,
principalmente se compararmos ao transporte público brasileiro.
Rapidamente nosso ônibus chegou e
seguimos para outra estação e consequentemente realizamos a transferência para
a linha que nos levaria até o Monserrate. Como esses veículos transitam por
vias exclusivas, nosso deslocamento não demorou quase nada e em pouco tempo
estávamos na região desejada.
Aos pés de Monserrate fica a
Quinta de Bolívar, casa onde o famoso libertador sul-americano morou e que hoje
funciona como um museu. O local estava fechado, mas ainda assim registramos
nossa passagem pelo privilegiado local.
Monserrate ao fundo.
Quinta de Bolívar.
Quinta de Bolívar.
Registro garantido.
Quinta de Bolívar.
O Cerro Monserrate é visualizado
de boa parte de Bogotá, sobretudo, nas proximidades do centro histórico e
internacional. Existem três opções para se chegar ao topo. A mais econômica é a
caminhada pela trilha que leva aos 3.200 metros de altitude. Quem não está a
fim de caminhar 2,35 km de montanha acima, pode utilizar o funicular, veículo
bem estranho e que eu não conhecia. A passagem custa quase cinco reais (apenas
a ida). Esse também é o preço do teleférico que em poucos minutos também lhe
deixa no alto do morro.
Trilho do funicular
Teleféricos.
Teleféricos.
Na entrada da bilheteria de Monserrate.
Lhamas, elas também estão presentes na Colômbia.
A maioria da família optou por
subir através do modo mais econômico, ou seja, pela trilha. Para economizar,
essa também foi a minha escolha. O caminho está revitalizado e com várias
placas que indicam os principais pontos de parada e suas distâncias. Durante o
trajeto é possível encontrar barracas que vendem, entre outras coisas, bebidas
para amenizar os efeitos da jornada. A subida não é fácil e requer certo
condicionamento físico. Não é raro encontrar pessoas paradas na intenção de
retomar o fôlego.
Camarada Alejandro e seu primo no começo da subida da trilha.
Início da caminhada. Seriam mais de dois quilômetros montanha acima.
In foco.
O feriado levou muita gente ao
Monserrate e a trilha estava bastante movimentada com pessoas de todas as
idades e nacionalidades. Existe uma igreja no topo da montanha e que atrai
muitos devotos ao local. Fiéis sobem a trilha, descalços ou de joelhos. Apesar
do fluxo de pessoas, nada nos impediu de contemplar a magnifica paisagem de
Bogotá.
Bogotá começa a aparecer de outro ângulo. Destaque para a Torre Colpatria, maior edifício da Colômbia.
Andres (irmão do Alejandro) durante a subida.
Sem pressa deixo a multidão passar..
Uma pausa para observar a imensa capital colombiana.
Vamos Santiago, você consegue, só mais um pouco, rs. Coitado!
Quanto mais se avança pela
trilha, melhor é o ângulo para ver a dimensão da capital colombiana. É possível
visualizar as principais avenidas, prédios e monumentos históricos. É sem
dúvida um passeio imperdível para admirar a cidade de outro ponto de vista.
Aliás, se você, por ventura, não é religioso, o principal motivo da subida é a
paisagem fantástica de Bogotá.
A trilha faz parte da Reserva Forestal Protectora de los Cerros
Orientales de Bogotá que comporta diversos animais e uma rica vegetação,
conforme, orientam as placas, contudo, foi difícil flagrar algum animal, acho
que o número de pessoas acaba por afasta-los. Independente disto, terminamos a
subida em praticamente uma hora de caminhada. Em determinados trechos a
inclinação fica ainda mais acentuada, mas nada que um passo mais tranquilo não
resolva.
No alto de Monserrate a visita
fica ainda mais completa. O panorama da cidade é espetacular. A igreja é
simples e o que mais se destaca no interior da mesma é um monumento de Jesus
Cristo. Ao lado do templo fica o caminho que leva ao corredor das
“lembrancinhas” e às barracas que servem comidas com um preço muito maior do
que o habitual. Estávamos com fome, mas a exploração turística nos fez deixar a
refeição para mais tarde.
Um registro panorâmico no topo de Monserrate. Foto: Andres Castiblanco.
Paisagem no alto da montanha.
In foco.
A imensa Bogotá.
Altitude básica na Cordilheira dos Andes.
Iglesia
In foco.
In foco.
In foco.
A igreja que atrai inúmeros devotos ao topo de Monserrate.
Interior da igreja.
In foco.
Parte da família Castelblanco. Alejandro ficou responsável por tirar a foto.
No corredor das lembrancinhas.
Um chá de coca para recuperar as energias, rs.
Uma pena que o preço da refeição é absurdo.
Após um tempo no alto da
montanha, estava na hora de descer. Resolvemos pegar uma das alternativas
rápidas que é oferecida. Teleférico foi a opção. Eu nunca andei neste meio de
transporte e achei a oportunidade excelente para sentir a sensação. Para a
minha felicidade, meu bilhete foi pago pela família. A descida é extremamente
rápida e não leva mais de três minutos. Ainda assim valeu a experiência.
Teleférico.
Na fila para começar a descida pelo teleférico.
Início da rápida descida..
A última imagem privilegiada de Bogotá.
Quando saímos do teleférico uma
placa afirmava que turista estrangeiro não precisava pagar. Mas era tarde demais e o dinheiro já estava
nos caixas da empresa responsável pelo equipamento. Mas fica a dica caso você
apareça no local e não esteja a fim de pagar o ingresso pelos modos mais rápidos
e fáceis.
Na volta realizamos uma caminhada
pelo centro e paramos em uma Broasteria
para degustar o famoso e típico frango frito e assado que são especialidade
destes estabelecimentos. Apesar de estarem presentes em todos os países por
onde passei, foi a primeira vez que parei em um lugar assim. A experiência foi
interessante, sobretudo, porque a família deixou o ambiente bastante animado.
Mais uma vez não me deixaram pagar e fui presenteado de novo.
Com a barriga cheia, caminhamos
mais um pouco e tive a felicidade de ver a iluminação das festividades de final
de ano de algumas ruas e praças. Destaque para a Torre Colpatria e da Plaza da
Independencia. Na sequencia pegamos o ônibus e voltamos para a casa onde
encerramos o maravilhoso dia. Comecei o ano em ótima companhia e com um
excelente passeio. Gostei. Obrigado família Castelblanco.
Torre Colpatria
Plaza da Independencia
02/01/2013 - 178° dia - Bogotá
(Folga)
Estava determinado a voltar à
estrada hoje. Mas a longa e cansativa caminhada de ontem e o convite para
permanecer mais um dia na casa do anfitrião falaram mais alto. Achei melhor
descansar mais um pouco antes de retornar ao pedal. O dia foi dedicado
exclusivamente a isso.
03/01/2013 - 179° dia - Bogotá a
Honda
Voltei à estrada impossível.
Também não faltaram acontecimentos inesperados.
Acordei de madrugada. O
despertador do celular tocou às 5h30m, contudo, levantei somente meia hora
depois. Tomei meu desayuno tradicional e também àquele oferecido pela casa. O
Alejandro tinha combinado de me acompanhar até a saída da cidade. Gentileza que
não foi recusada. Às 7h20m estávamos de partida.
Infelizmente não me despedi dos
pais do anfitrião porque eles estavam dormindo, mas deixei meu sincero
agradecimento por toda a hospitalidade. A recepção não poderia ter sido melhor.
Gostei bastante de conversar com a Dona Luz Marina (mãe), sem dúvida suas
sábias palavras serviram como mais um aprendizado nesta viagem. Também não me
esquecerei dos seus saborosos pratos que são preparados com amor, conforme ela
mesma fazia questão de mencionar.
Ainda era cedo, mas as ruas da
capital já estavam movimentadas. Seguimos na direção do Parque Bolívar, o maior
parque urbano do país. O Alejandro me convidou algumas vezes para pedalar até
este local, mas eu queria deixar a Victoria de folga, na verdade era eu quem
precisava de descanso, por isso a visita aconteceu somente hoje.
No Parque encontramos com a
Michelle, uma amiga do Alejandro que ficou de nos acompanhar. Na sequencia
continuamos o trajeto pelo interior do imenso e agradável local que lembra
bastante o Ibirapuera em São Paulo e o Parque Carolina em Quito. Destaque mais
uma vez para o sistema cicloviário que está presente por todos os locais.
Incrível.
Uma das mais importantes bibliotecas da capital no Parque Bolívar.
Parque Bolívar. Nesta área aconteceu o show do Iron Maiden.
Parque Bolívar
Alejandro e Michelli
Parque Bolívar.
Acho que dificilmente eu encontrarei outro lugar como este.
Enquanto pedalávamos no Parque
Bolívar a Victoria apresentou um sério problema. O cabo do câmbio dianteiro se
rompeu. Eu havia percebido que a marcha estava estranha logo nos primeiros
quilômetros, mas achei que não era nada demais. Mas dos males o menor. Por
sorte a Michelle conhecia a localização da bicicletaria de um dos mecânicos
mais bem conceituados da Colômbia. Ele poderia rapidamente consertar a
bicicleta, desde que estivesse acordado, afinal, ainda era bem cedo.
Seguimos para a bicicletaria do
Eduardo Russi, Calle 63c, N° 70-68. Celular 311 2943835. O local ainda estava
fechado, mas como era caso de emergência, conseguimos atendimento. O Russi me
pareceu muito gente boa e rapidamente trocou o cabo danificado. Aproveitei a
oportunidade para ver se não havia algum pneu 1.90 para levar na bagagem. Isso
porque o pneu traseiro da marca Duro que foi comprado em Otavalo já estava
muito gasto e apresentava sinais que a qualquer momento poderia me deixar na
mão. E eu não queria mais surpresas deste tipo.
O Russi acabou por me presentear
com um pneu Maxxis 1.95 que ainda estava com mais de meia vida. Com o suporte
da oficina para levantar a bicicleta, não precisei sacar o alforje traseiro e o
pneu também acabou trocado. Russi disse que a marca Duro realmente é
conceituada e seu desempenho faz jus ao nome que leva, contudo, o peso da
bagagem (traseira) e a temperatura do asfalto tenham contribuído para o
desgaste. O serviço total custou praticamente dez reais.
Ainda em relação aos pneus, descobri
que o dianteiro da marca Hutchinson é bastante renomado. Tinha uma bicicleta
muito top na oficina com um pneu da mesma marca. Começo a suspeitar que sua
duração de dez mil quilômetros, como disse o vendedor de Cuenca (Equador), seja
verdadeira.
Entre trocas de peças, ajustes e
conversas, permanecemos uma hora na bicicletaria. Às nove horas voltamos a
pedalar, mas não pelo caminho traçado anteriormente. O Russi nos indicou um
roteiro com menos subidas para sair de Bogotá e sua recomendação foi acatada.
Com 20 quilômetros pedalados deixávamos a capital para trás, não sem antes
enfrentar um trânsito típico das grandes capitais. Por sorte as ciclovias
ajudam bastante e nos permite locomover com segurança.
Nossa saída da cidade aconteceu
pela ruta 50-08A em direção à Villeta. O trajeto foi bem tranquilo e
praticamente todo plano. Seguimos sem dificuldades mesmo quando o acostamento
ficou quase inexistente. Com todos os fatores a favor, o deslocamento aconteceu
rápido e poucos minutos antes do meio dia já estávamos em Albán com 60 km
pedalados. Neste local começaria a mais
longa descida do trajeto. Era também o lugar em que eu voltaria a pedalar
sozinho. Deste ponto os meus guias retornariam à Bogotá.
Em direção à Albán.
Esse pequeno ciclista pedala muito. Me ultrapassou sem piedade, rs.
In foco.
Mais uma despedida. Estava na
hora de agradecer ao anfitrião por toda sua enorme dedicação e ajuda durante
minha estadia em Bogotá. Alejandro é sem dúvidas um ciclista com espirito
hospitaleiro e que não mede esforços para apresentar a cidade e deixar que você
se sinta realmente em casa. Valeu mesmo, camarada. Quando regressar ao Brasil,
as portas de casa estão abertas à sua visita. Grande abraço.
Em Albán. Despedida do anfitrião e camarada Alejandro.
Na despedida acabei por notar que
uma das minhas garrafas de água ficou na bicicletaria. O item não era de muito
valor e poderia facilmente ser reposto. A “indignação” era de ter esquecido
algo pela primeira vez durante a viagem. Espero que seja a última coisa
material que eu deixe no caminho.
Ao meio dia comecei a descida que
rapidamente deixou Albán para trás. Precisei apenas tomar cuidado com as curvas
e degraus no asfalto para avançar. No caminho encontrei um ciclista bem
estranho. Era um colombiano que dizia ser cicloturista e que vinha de Bogotá
(onde sua bagagem se encontrava) e seguia para Guaduas que, segundo ele, era um
povoado histórico. Eu fiquei muito desconfiado de toda a história e do próprio
sujeito. Comecei a pensar em várias coisas.
A única fotografia realizada durante a descida.
O ciclista estranho estava muito
estranho mesmo. Pedalava de calça jeans, blusa de frio na cintura e sem nenhuma
garrafa de água. E a sua bicicleta simples estava limpa como se estivesse
acabado de sair da loja. Ele começou a puxar conversa, mas respondi apenas o
básico porque eu estava bastante desconfiado de toda aquela ladainha que não se
encaixava. Na primeira oportunidade deixei ele para trás e aproveitei o horário
e um restaurante no caminho para almoçar.
O restaurante ficava em Villeta,
no final da descida que durou exatamente 35 quilômetros. O almoço padrão custou
6 mil pesos. A refeição estava boa e relativamente farta. Fiquei pouco mais de
meia hora no local e não visualizei a passagem do ciclista estranho. Talvez ele
também tenha realizado uma pausa para almoçar.
Eu tinha consciência que havia
uma longa subida pelo caminho, pelas minhas contas ela deveria ter algo em
torno de quinze quilômetros, todavia, não tinha certeza onde começava. Mas a
minha dúvida foi esclarecida logo após a saída do restaurante em Villeta. A
inclinação apareceu e custou a terminar. Sua extensão foi de dezoito quilômetros,
distância pedalada em pouco mais de 2 horas. Mais uma subida finalizada com
sucesso.
Após a subida quilométrica o
trecho passou a mesclar aclives e declives. O trânsito continuava intenso,
assim minha atenção permanecia redobrada, sobretudo, porque começou a escurecer
e eu ainda estava na rodovia em razão das várias subidas que apareceram e
levaram as últimas energias. Mas eu ainda tinha uma carta na manga; minha
determinação. Eu estava incrivelmente disposto a chegar em Honda, como havia
cogitado no início do dia.
Chegar à Honda significava que
uma hora aquela oscilação do relevo terminaria e uma descida me levaria ao
local desejado. Foi exatamente o que aconteceu. Por causa do horário não foi possível
ver a distância em que o declive começou, mas foram vários quilômetros até a
cidade onde eu encerraria meu dia.
Em Honda comecei uma longa
jornada. Minha primeira missão foi ligar para um contato do Warmshowers e
verificar se era possível pernoitar em sua casa. Mas infelizmente não tive
sorte com a hospitalidade do membro da rede. Os telefones estavam desligados e
a opção foi iniciar a busca por hospedagem.
Achar um lugar para passar a
noite em Honda foi um sufoco. Muitas hospedagens estavam lotadas e aquelas com
habitações disponíveis custavam muito para meu bolso. Procurei em mais de sete
estabelecimentos e sem sucesso retornei à área central para ver se encontrava
alguma luz no fim do túnel.
Honda é uma cidade que está a 314
metros de altitude, ou seja, nesta época do ano o calor é quase insuportável. A
temperatura alta leva as pessoas paras as ruas e estas encontravam-se bastante
movimentadas, sobretudo, na principal praça da cidade, que por sua vez, está
localizada quase ao lado da enorme ponte que permite acesso ao município. Foi
nesta região que um rapaz perguntou se eu procurava hospedagem. O jovem era
estranho e seu jeito “malandro” me fez ficar esperto e com poucas palavras. Ele
me sugeriu um hotel no final da subida desta rua da ponte e meio que
desconfiado, fui conferir.
A referência para achar o lugar
indicado era identificar a entrada em forma de arco do estabelecimento. Essa
parte alta da rua estava deserta e não muito iluminada, por isso fiquei atento
a cada movimento diferente nas redondezas. Sem dificuldade encontrei o
estabelecimento às 19h30m. Uma senhora confirmou que o local era mesmo uma
hospedagem e que havia habitação disponível. Para a minha felicidade o preço
estava compatível com o meu bolso.
O hotel deve ter um nome, mas não
encontrei, na verdade o local está em decadência. Tudo indica que em outros
tempos foi uma das principais hospedagens da cidade. Tem vários quartos, amplo
estacionamento e até mesmo uma piscina que atualmente está fora de uso. Mas
como eu me acostumei a todo tipo de lugar e não precisava de luxo, fiquei mais
do que satisfeito com o dormitório simples que me custou 15 mil pesos.
O quarto não tinha ar
condicionado, contudo, uma “turbina” de avião estava instalada no teto e em
pouco tempo o ambiente estava completamente gelado. Depois de um longo e
cansativo dia eu pensei que poderia descansar um pouco, mas ainda faltava
procurar comida. A fome era enorme e eu precisava jantar. Antes de sair à
procura de alimento, não hesitei em tomar um banho. A água gelada estava muito
boa, sinal evidente da alta temperatura ambiente.
Nas ruas eu tive a mesma
dificuldade de minutos atrás. Foi impossível encontrar um restaurante. Achei
apenas as famosas broasterias e
sorveterias abertas. Estas últimas, sem dúvidas, eram uma tentação, mas eu
precisava de uma refeição completa. Por isso caminhei por várias quadras,
contudo, nada do que eu procurava apareceu. A opção foi parar em uma lanchonete
e pedir um cachorro quente e uma hamburguesa.
Enquanto os lanches eram
preparados fiquei a prestar atenção no movimento das pessoas nas ruas. Ver
famílias reunidas sempre me deixa balançado. A saudade dos meus familiares fica
cada vez maior. Nos últimos anos eu passei muito tempo longe de casa, seja por
causa da universidade ou em razão do trabalho e estadia em Florianópolis, mas
acontece que agora o contato é bem mais difícil em razão da distância. Sem
dúvida gostaria de poder falar mais com meus pais, irmão, avó e tios. Talvez
essa questão seja uma das mais difíceis para se encarar em uma viagem longa.
Acho que voltar ao Brasil vai amenizar um pouco a saudade, uma vez que meu
telefone volta a ficar ativo após tanto tempo.
Levei a refeição para a habitação
e degustei os lanches com um suco. Tudo estava uma delicia. Pena que não tinha
mais, porque meu estômago ainda aguentava outras duas ou três hamburguesas.
(Risada Sacana).
Antes de dormir eu me cobri com
um lençol porque eu saberia que a noite seria gelada demais. Não existia um
controle de velocidade na turbina e a mesma faltava apenas me levantar da cama
com a sua potência. Desliga-la era suicídio em razão da temperatura elevada,
por isso a solução foi dormir no congelador.
Dia finalizado com 168,52 km em
10h01m e velocidade média de 16,80 km/h.
04/01/2013 - 180° dia - Honda a
Puerto Serviez
Dia com surpresa boas e outras
nem tanto.
Apesar do quarto congelante, a
noite foi tranquila. Acordei pouco depois das 5 horas, mas a canseira não
permitiu que eu levantasse no mesmo instante. A quilometragem do dia anterior
me deixou com as pernas pesadas. Mas de qualquer forma era preciso continuar a
viagem. Eu estava animado (apesar de cansado) e queria aproveitar isso para
motivar meu desempenho na estrada.
Depois de tantos desayunos
diferentes na casa da família Castelblanco, hoje meu café da manhã voltou ao
tradicional pão com geléia e suco. Após a refeição matinal, arrumei minhas
coisas e tratei de coloca-las na Victoria e voltei à estrada.
Minha saída do hotel aconteceu
somente às 7h30m. O tempo estava aberto e a temperatura ainda era amena, mas eu
tinha plena consciência que seria somente por mais alguns minutos. A estrada
passou a ser denominada como 40-10 no departamento de Tolima. O relevo e a
paisagem ajudou bastante o ritmo da pedalada. Por mais de cem quilômetros o
trajeto permaneceu praticamente plano e ajudou a aumentar a velocidade média.
Começando o pedal com uma leve descida para deixar as montanhas para trás.
In foco.
Trajeto praticamente todo plano.
A paisagem também mudou e a
rodovia seguia ao lado do Rio Magdalena. O ambiente é arborizado e apresenta
uma fauna e flora bastante interessante. Lugar agradável para começar o dia.
Com o passar das horas a
temperatura aumentou e não foi fácil avançar debaixo do sol escaldante. Não
estava fácil nem mesmo para os animais. A região passou a ter muitas pastagens
com a criação de gado e búfalos. Ambos se protegiam nas sombras das árvores.
Estas também estavam à beira da rodovia e me ajudavam bastante, mas
infelizmente não era o tempo todo.
Sol forte e a temperatura elevada. Quente, muito quente.
Búfalo
Os espertos animais pegando uma "fresca".
Flagrante!
In foco.
Mais um flagrante ao lado da estrada.
Com 35 quilômetros pedalados eu
cheguei à Puerto Salgar e antes de atravessar a ponte sobre o Rio Magdalena fui
abordado pelos soldados que faziam a segurança do local. Tratava-se de um posto
fixo da Fuerza Aerea Colombiana. Pediram meus documentos e depois começaram com
as perguntas básicas sobre a viagem. Eu estava tranquilo e não tive problema
para respondê-las.
A conversa com os soldados
começou a se estender e eu percebi que algo estranho estava para acontecer.
Revistaram minha bolsa de guidão e visualizaram minha máquina fotográfica e
pediram para ver minhas fotos. Como são muitos registros, ficaram alguns
minutos nesta função. Neste período pediram para eu falar coisas em português.
Algo bastante constrangedor porque eles não estavam nada interessados em ouvir.
Após mais de dez minutos parado
eu tive o primeiro pedido de propina desta viagem. Eram cinco soldados, mas foi
o superior que descaradamente começou a “solicitar” um regalo brasileño. Quando ele mencionou essas palavras eu saquei na
hora qual era a sua intenção e me fiz de desentendido. Pouco tempo depois ele
voltou a proferir as mesmas palavras e incluiu a palavra moneda. Aparentemente eu estava calmo, mas meu coração batia
aceleradamente. Eu respondi na mesma “moeda”, disse que não tinha nada do
Brasil. Repeti isso quando ele fez o pedido pela terceira vez. Maldito!
O sem vergonha que deveria honrar
seu uniforme da força aérea colombiana percebeu que eu não me submeteria àquele
pedido e então liberou meu documento e a câmera fotográfica, não sem antes
deixar um aviso: boa sorte no norte. Peguei minhas coisas e educadamente ainda
desejei um bom trabalho e me mandei. Tem hora que é preciso ter muito controle,
porque na verdade eu queria é falar para aquele sujeito ter uma atitude
decente. Não entendo esse povo que ganha muito bem e ainda precisa manchar suas
carreiras com atos deste tipo. É lamentável.
O fato me pareceu bastante
isolado porque não tive nenhum problema com as inúmeras barreiras do exército e
da policia que estão por todas as estradas colombianas. Estranho foi encontrar
esse comportamento justo com um “profissional” da Força Aérea que deveria ser
um exemplo e não pedir propinas, muito menos pelo fato do viajante ser apenas
um “turista estrangeiro”. Fica a dica galera, em situação parecida, não ceda e
também não se desespere, mantenha a calma e diga até o final que não tem nada
de dinheiro.
Eu atravessei a tal ponte e
continuei o pedal bem furioso, acho que na verdade eu estava bastante indignado
com a situação. Precisei seguir alguns quilômetros para que esse sentimento
começasse a ficar menor.
Para aliviar a tensão, nada
melhor do que comer. (Risada sacana). Eu estava com muita fome (para variar) e
com 68 km pedalados parei em um restaurante para almoçar. O preço estava mais
alto do que o normal, 8 mil pesos. No prato não havia nada de diferente para
justificar o valor. Meu pedido para ter mais arroz não foi atendido. O destaque
da refeição foi o feijão com banana. Também descobri que o copo de
suco/refresco pode ser repetido sem custo adicional. Não hesitei em solicitar
mais uma bebida gelada na mesa. O calor estava insuportável.
Ainda no restaurante passei o
protetor solar e minutos depois voltei a enfrentar o sol. A temperatura era uma
das mais altas de toda a viagem. Mas ainda assim continuei o pedal em direção a
qualquer lugar que me levasse ao caminho em direção à Medellín, Cartagena e
Santa Marta.
Com 84 km eu finalmente encontrei
um trevo, mas ao invés de me mostrar o sentido correto, acabou por me deixar um
pouco confuso. Uma placa indicava que à esquerda a estrada seguiria para Medellín
e à frente levaria à Santa Marta. Eu não pensei muito na hora porque achei que
esse caminho à esquerda era alternativo para Medellín, como Santa Marta estava
no meu roteiro e era, junto com Cartagena, um dos meus principais destinos, fui
à sua direção.
O trevo para Medellín. Continuei em direção à Santa Marta.
Fui bem tranquilo e a pensar que
estava no caminho correto. A estrada continuava com as sombras das árvores e
amenizava um pouco o efeito do verão no norte da América do Sul. Poucos
quilômetros após o trevo à Medellín encontrei três cicloturistas no pequeno
povoado de Trique. Eles estavam preparando suas coisas para voltar ao pedal
após a sesta. Parei e fui conversar com a galera para saber mais sobre a
viagem.
O trio era da mesma família,
Mauricio (pai), Luis (filho) e Juan (primo). Ambos são de Bogotá, onde
começaram a viagem com destino à Santa Marta. Com exceção de Luis que já
pedalou na Ásia, os outros são “pedaleiros” de primeira viagem. Em todo caso,
os três me pareceram bem simpáticos e simples. Viajavam em um estilo bem
“mulambiker” e a bagagem deles me lembrou bastante àquela da minha primeira
expedição, quando eu ainda nem tinha alforje.
Fiquei feliz ao saber que o
pessoal tinha o mesmo destino do que o meu, sinal que eu estava no caminho
certo e que finalmente eu poderia ter companhia para pedalar. Perguntei se
poderia fazer parte do grupo e com a resposta positiva voltamos à estrada.
Entre as conversas eu estranhei apenas o fato de mencionarem que eu não
encontraria mais subidas pelo caminho. Oras! Pela análise da altimetria eu
ainda teria que enfrentar as últimas montanhas. O que teria acontecido com
elas? Fiquei a pensar e continuei em frente.
O grupo pedalou bem e forte. A
velocidade ficou quase sempre acima dos 20 km/h. Minhas pernas que estavam
pesadas no inicio do dia já estavam em seu estado normal e eu poderia ver
claramente o quanto estou bem fisicamente. Apesar de estar com quase o dobro de
carga em relação aos demais, conseguia completar facilmente as subidas que
apareceriam pelo caminho. É até engraçado chama-las de subidas após encarar as
montanhas andinas, mas de qualquer forma era nestas inclinações que eu deixava
o pessoal para trás e logo parava na intenção de continuarmos juntos.
O final da tarde não nos reservou
muitas surpresas no que diz respeito à vegetação e relevo. Acho que somente a
temperatura conseguiu ficar ainda mais alta a ponto de fazermos parar em um
quiosque à beira da estrada para descansar e, sobretudo, manter a hidratação. O
Juan acabou por me pagar um suco e o Luís, água mineral. Claro que não fiquei
sem agradecer.
No outro lado da rodovia um hotel
parecia me chamar para um merecido descanso. Eu já havia pedalado mais de cem
quilômetros e com toda aquela temperatura eu poderia muito bem terminar o dia
no local, no entanto, a galera queria completar essa mesma marca, contudo,
ainda necessitavam pedalar mais de vinte quilômetros. Resolvi acompanha-los
mais um pouco.
O pessoal estava disposto a
acampar no final do dia, mas eu não botei muita fé neste plano, eu queria ver
quem seria o corajoso de dormir dentro de uma barraca com aquela temperatura e
sem tomar banho. Eu acompanhei a galera para ver qual seria o desfecho da
história.
O pedal entre a montanha-russa de
parque de diversão de quinta categoria durou até o anoitecer quando finalmente
apareceu um posto de combustível em Puerto Serviez. No local um hotel com preço
acessível fez a galera abandonar o lance do acampamento. O quarto com duas
camas e ar condicionado custava 15 mil pesos para cada. Fui dividir a habitação
com o Juan.
Os cicloturistas colombianos na pequena montanha-russa.
In foco.
Magnifico pôr-do-sol.
Não havia um restaurante no local
e a nossa janta se resumiu a cachorro quente e hamburguesa. Não é algo que
sustenta muito e tampouco é barato, mas sem dúvida é deliciosamente saboroso.
Novamente foi uma pena não poder comprar outro. Paciência! A conversa com o
pessoal durante a “refeição” foi interessante com muitas histórias e risadas.
Quando voltamos o quarto continuava
quente, ainda que o ar condicionado estivesse ligado. Ao reclamar na recepção o
atendente justificou a alta temperatura ambiente, por isso o aparelho não
suportava esfriar o cômodo. Para essa função uma pequena turbina de avião foi enviada
à habitação.
Dia finalizado com 136,85 km em
8h21m e velocidade média de 16,38 km/h.
05/01/2013 - 181° dia - Puerto
Serviez a El Opon.
Problemas mecânicos e o
descobrimento de um novo caminho.
A galera combinou de sair para
pedalar às 6 horas da manhã. Achei o horário muito bom e com o ritmo de ontem
eu poderia acompanha-los tranquilamente que não comprometeria meu planejamento
para chegar ao Caribe.
Acordei às 5 horas da madrugada e
após arrumar minhas coisas na Victoria, que ficou dentro do quarto, comecei a
preparar meu desayuno. No horário marcado estava pronto para começar mais um
dia de pedal. Dia que, por sua vez, iniciou novamente maravilhoso, com um
nascer do sol espetacular.
O pessoal queria tomar o desayuno
antes de partir, mas o restaurante que na noite passada não servia o jantar,
também não proporcionava a refeição matinal. A galera então comeu umas
guloseimas e na sequencia nos direcionamos à estrada.
A região nos apresentou uma
novidade, as máquinas coletoras de petróleo. Elas são diversas em ambos os
lados da rodovia. Mas na verdade o que impressionava era o amanhecer na
estrada. Estava simplesmente fantástico.
Paisagem bucólica durante o amanhecer.
In foco.
Mais uma ave da rica fauna da região.
In foco.
Retirada de petróleo.
In foco.
Os primeiros quilômetros foram
tranquilos até o câmbio dianteiro da bicicleta do Juan começar a desregular. O
seu meio de transporte é antigo e suas peças são simples. Não cheguei a
perguntar se uma revisão foi feita antes da viagem. De qualquer forma eles
fizeram uma gambiarra na peça e voltamos a pedalar.
Não demorou muito tempo e
apareceu um restaurante à beira da estrada que servia o desayuno que o trio bogotano
esperava. O café da manhã ao qual eles estão acostumados é aquele mesmo
oferecido na Bolívia, Peru e Equador, ou seja, uma refeição completa. Eu não
precisava comer porque não estou acostumado com esse prato matinal, mas a minha
fome insaciável falou mais alto e também fiz o meu pedido. O preço é o mesmo
das outras refeições. Esta saiu por 6 mil pesos.
O desayuno foi reforçado com
sopa, arroz, omelete, arepas e suco. Apesar de ser mais uma refeição no dia,
estava ciente que não poderia me dar o luxo de degusta-la também nos próximos
dias, afinal é um gasto a mais que faz a diferença na contabilidade para a
sequencia da expedição.
Ficamos um bom tempo parados no
restaurante e quando voltamos à estrada a temperatura já estava elevada e o sol
começava a castigar. Pela primeira vez coloquei os maguitos que ganhei do Alejandro (Bogotá) porque meu protetor solar está quase por acabar. A sensação térmica só não era maior em razão das árvores que
continuavam a sombrear o caminho que passou a ser mais plano do que o trecho
pedalado no dia anterior.
Estrada arborizada. Sombra perfeita.
Camarada Juan.
Não avançamos muito e o pessoal
resolveu fazer uma nova parada para matar a sede com suco e refrigerante. Neste
momento comecei a pensar se continuar a acompanha-los seria uma boa idéia. Não
pela companhia, mas pelo tempo das paradas e o dinheiro que eventualmente se
gasta em cada uma delas.
Surpresa. No restaurante havia um
mapa da região e então descobri que eu estava em um caminho diferente daquele
inicialmente planejado. O trajeto em questão me levaria direto à Santa Marta,
sem passar por Medellín e tampouco por Cartagena. E o fato de não passar por
essa segunda cidade me deixou um tanto pensativo porque é um dos lugares mais
visitados da Colômbia e eu não poderia deixar de conhecê-lo. Eu deveria pensar
no que fazer.
Por este mapa eu descobri que estava em um novo caminho.
A notícia boa de toda a história
é que eu havia realmente deixado Cordilheira dos Andes para trás. Passei mais
de cinco meses pedalando pelas suas montanhas, desafiando-as, combate-a-combate
e no final não tive nem a chance de me despedir e dizer: obrigado por todo o
ensinamento, mas não é desta vez que você vai me derrotar. Ainda assim, fica
todo o meu respeito.
Pessoalmente é uma grande vitória
“conquistar” os Andes, apenas quem já encarou a cordilheira sabe de suas
dificuldades; as subidas intermináveis; inclinações absurdas; precipícios;
temperaturas baixas; e muito mais. Para apreciar a beleza andina é preciso
muita paciência e determinação para não ficar pelo caminho. Felizmente eu posso
dizer que saí vitorioso em minha jornada pela maior cadeia de montanhas do
mundo.
De volta à estrada eu pensava nas
alternativas que eu tinha para não deixar de conhecer Cartagena que acabou por
ficar fora do meu trajeto. Cogitei deixar a bicicleta em um hotel de Santa
Marta e visitar a cidade histórica de ônibus e regressar no dia seguinte. Mas
para isso eu deveria encontrar uma hospedagem de confiança. Pedalar Santa Marta
x Cartagena x Santa Marta seria gasto de tempo e, sobretudo, dinheiro. Por isso
a opção foi logo descartada.
Com as paradas longas durante a
manhã, não demorou muito para chegar o horário do almoço e claro que uma nova pausa
foi declarada pelo grupo, inclusive pela minha pessoa. Com 60 km pedalados
paramos em um restaurante simples, mas bastante simpático. O atendimento foi
muito bom e a refeição bem servida. O prato caprichado com sopa, arroz,
macarrão, carne e salada custou 7 mil pesos. Mais uma vez a limonada estava
disponível e estupidamente gelada. Perfeita para a ocasião. Novamente foi
repetida.
Como já mencionei em outras postagens,
meu almoço é breve e pouco tempo depois da refeição eu já volto a pedalar. No
entanto, o pessoal da capital colombiana tem outro estilo de viagem. Para eles
a parada após o almoço é longa e me pareceu sagrada. Respeitei essa decisão,
mas estava louco para voltar a pedalar. O local era convidativo para descansar
e o Luis e Juan não demoraram a começar a cochilar em cima da mesa. Eu fiquei
apenar a acompanhar o noticiário da televisão que alertava para a época de seca
da região. E pensar que o inverso acontece na Cordilheira que não está longe
daqui.
Após quase duas horas de almoço e
em comum acordo, resolvemos voltar ao pedal, finalmente. Eu voltei à estrada
com todo gás. Não estou acostumado a descansar tanto tempo assim, então eu
estava mais do que preparado para encarar aquele trajeto relativamente
tranquilo.
Eu tinha uma meta no período da
tarde, pedalar mais quarenta quilômetros para alcançar a marca centenária no
final do dia. Falei isso com o pessoal, mas acho que eles não ficaram muito
animados. Acredito que eles pretendiam fazer uma distância menor. De qualquer
forma, continuamos em frente. Revezávamos a dianteira como uma equipe de
ciclismo. Nas subidas eu disparava como se estivesse sem nenhum peso na
Victoria. Modestamente eu estava impossível. (Risada sacana)
Em um povoado o Juan parou numa
pequena bicicletaria para trocar o câmbio dianteiro. Acho que permanecemos uma
hora no local e no final das contas quase nada foi feito. O mecânico não me
pareceu muito entendido no assunto e seu trabalho maior foi tirar e colocar a
peça novamente no lugar, segundo ele, o problema é que a mesma havia sido mal
instalada.
O tempo que já estava curto ficou
ainda mais limitado com a parada na bicicletaria, por isso quando voltamos a
pedalar eu comecei a puxar o ritmo da pedalada e não parei mais. Afinal eu
tinha que completar pelo menos cem quilômetros. Eu estava cada vez mais forte
nas subidas e cheguei a me surpreender com tal agilidade de escalador com a
bicicleta carregada.
Quando avançava demais eu parava
e esperava o pessoal reagrupar para seguir em frente, mas uma hora ninguém
apareceu e eu suspeitei que haviam parado em algum lugar para passar a noite.
Então eu resolvi seguir adiante com a minha jornada solitária. Foi uma pena não
poder me despedir da família. Mas valeu a experiência de pedalar com eles. Fica
aqui meu agradecimento pela companhia.
O sol foi embora mais uma vez e a
noite chegou enquanto eu ainda estava na estrada. A quilometragem esperada
estava quase sendo alcançada, mas o problema é que nenhuma hospedagem aparecia
pelo caminho. Parecia-me incrível, porque desde Honda existem vários pequenos
povoados e a maioria com hotel, hostal ou residências, mas agora não tinha nem
mesmo uma comunidade.
Mais um final de tarde na estrada.
Durante o almoço o proprietário
do restaurante mencionou um povoado com um nome estranho; El Opon, então eu pedalava
à sua espera. Mas eu avançava na escuridão e não enxergava nenhum sinal de
vilarejo na minha frente. O velocímetro marcou 106 km quando finalmente um hotel
apareceu logo na entrada do povoado em questão.
A diária neste hotel que fica
paralelo a um posto de combustível estava em 25 mil pesos. Valor alto demais. O
recepcionista me avisou que 200 metros à frente eu encontraria outra opção. Fui
conferir. Para a minha infelicidade o local estava lotado e o próximo
estabelecimento ficava a mais de 15 km. Distância que eu não estava disposto a
cobrir naquele horário.
Voltei no primeiro hotel e
perguntei se não era possível fechar o quarto em 20 mil pesos. Chorei um pouco
e combinamos por este preço. Ainda era alto, mas já tinha um desconto, menos
mal. As hospedagens se tornam um pouco mais caras na região por causa do ar
condicionado. Era o caso desta habitação que por sinal é bastante confortável e
limpa. Destaque para o ventilador com controle remoto que também estava
presente na parede. Achei a idéia do controle genial. Já tem isso no Brasil? Eu
nunca vi.
Ventilador moderno com controle remoto.
Os chuveiros aqui não tem água
quente, algo que é compreensível. A água gelada na verdade é morna e suficiente
para tomar um excelente banho. Foi o que eu fiz antes de sair para jantar em um
restaurante próximo do hotel. No local o menu tradicional custou 6 mil pesos.
Retornei à hospedagem e fui dormir o sono dos justos.
Dia finalizado com 106,97 km em
6h16m e velocidade média de 17,06 km/h.
06/01/2013 - 182° dia - El Opon a
San Alberto
Uma marca significativa: 10.000
quilômetros pedalados.
Acordei de madrugada, mas para
não perder o costume, levantei quase meia hora depois do celular despertar. Não
sei por que ainda faço isso, depois sempre fico a pensar que esse tempo poderia
ser aproveitado no sono. Paciência.
Meu desayuno foi fraco e se
resumiu a bolacha e suco. Meu pão acabou e não achei nenhum lugar para fazer a
reposição do mesmo. Não demorei muito para sair do hotel porque aqui na região
a estratégia é começar o pedal o quanto antes para aproveitar a temperatura
mais amena. Por isso eu deixei a hospedagem por volta das 7 horas.
Mais uma vez o dia estava bonito
e sem nenhum sinal de chuva. Na estrada eu fico atento ao velocímetro que em
poucos minutos marca 10 mil quilômetros pedalados em menos de 6 meses desde Foz
do Iguaçu. Não estou muito ligado a esses números, mas essa distância foi
percorrida no trajeto mais difícil de toda a expedição e por isso merece
atenção.
Uma marca que significa muita superação em menos de seis meses de viagem.
A estrada não apresentou muitas
novidades, o acostamento estava presente na maior parte do trajeto, mas o problema
é que os degraus e buracos comprometem seu estado. Por outro lado, a paisagem
continua maravilhosa em todos os sentidos e as surpresas continuam ao alcance
dos olhos de quem sabe prestar atenção aos detalhes da mãe natureza.
A obra de arte dos filhos da mãe natureza.
In foco.
O arquiteto responsável pela engenhosa "casa".
In foco.
In foco.
Paisagem
In foco.
Sempre em frente ..
Logo após o inicio da rodovia
45-13 a região é repleta de palmeiras que são cultivadas para terem o óleo de
palma extraído. São vários hectares dedicados à sua plantação.
Região das Palmeiras de onde é extraído o óleo de Palma.
In foco.
In foco.
Ainda não era meio dia quando
resolvi parar e almoçar. Infelizmente a refeição custava 12 mil pesos e o
proprietário sugeriu a metade do prato por 6 mil. Achei que poderia ser uma boa
idéia e aceitei. O ruim é ver os pratos mais vazios e a comida desaparecer do
recipiente ainda mais rápido. Paciência.
O mais chato do restaurante foi
ver o tratamento com desdém do proprietário comigo. Não sou fresco e não gosto
de paparicos, mas ser tratado com diferença em relação aos demais me parece
injusto. Será que é porque ele pensou que eu não tinha dinheiro? Seria pela
minha roupa e o meu estado? Não sei. Sei é que não fiquei à vontade, nem mesmo
para pedir água e completar minhas garrafas. Terminei meu almoço, descansei uns
minutos e voltei à estrada em uma temperatura que chegava próximo dos 40°C.
Eu estava com pouca água quando
saí do restaurante e pensei que seria incrível se alguém parasse para me
oferecer o liquido sagrado. Assim como acontecia na região da Laguna Colorada
na Bolívia. E não é que meu pedido foi realizado em tempo recorde. Não passou
meia hora desde a minha saída do restaurante e uma caminhonete buzinou e parou.
Quando me aproximei cumprimentei o Juan (que também é ciclista) e sua família. Ele
perguntou se eu precisava de alguma coisa e ofereceu água, que na mesma hora
foi aceita. A garrafa de 600 ml estava literalmente congelada. Falei obrigado e
também expliquei rapidamente sobre a viagem e que me direcionava à Santa Marta.
Ele disse que seguia para mesmo destino e nos despedimos.
A caminhonete do Juan andou
poucos metros e começou a voltar. Ele desceu do veículo e perguntou se eu tinha
algum lugar para ficar em Santa Marta. Com a minha resposta negativa, ofereceu
seu apartamento para a minha estadia na cidade. Não sabia como agradecer a
hospitalidade. Mencionei que era tudo o que precisava para deixar a bicicleta e
visitar Cartagena. Ao passar o endereço ele disse que o imóvel ficava na beira
da praia. Eu mal podia acreditar. Ficaria hospedado de frente para o Caribe.
Misericórdia! Também anotei seu telefone e falei que em quatro dias eu estaria
no local.
Tem coisas que acontece que
realmente são incríveis. Se eu não tivesse saído para pedalar àquele horário,
não encontraria com o Juan e tampouco teria um lugar para ficar em Santa Marta.
Vale lembrar que a minha permanência breve no restaurante ocorreu em razão da
indiferença do proprietário com a minha pessoa. É aquela antiga história,
quando uma porta se fecha outras tantas se abrem, basta percorrer o caminho
certo.
Meia hora depois de encontrar com
o Juan sou novamente abordado, desta vez uma família de ciclista de
Barrancabermeja me oferece um litro de água, novamente congelada. A garrafa era
perfeita para substituir àquela esquecida na bicicletaria de Bogotá. Eu estava
em um dia realmente iluminado. A família fez questão de tirar uma foto comigo e
ainda ofereceu hospedagem se por acaso eu viesse a passar por sua cidade.
O trajeto no período da tarde foi
praticamente plano e a quilometragem passou rapidamente. O objetivo de chegar à
San Alberto poderia ser facilmente concluído. Enquanto eu me direcionava para a
parte final da pedalada tive mais uma surpresa no dia. Na realidade foi uma
grande lição.
Paisagem pelo caminho.
Trajeto plano..
Eu pedalava tranquilamente quando
encontrei um homem sentado debaixo das palmeiras com a sua bicicleta. Cumprimentei
e segui em um ritmo razoável. Não demorou muito e o homem me alcançou. Fiquei
desconfiado com a sua aproximação e não lhe tratei com a devida atenção. A
pessoa era extremamente simples, assim como sua bicicleta antiga estilo Caloi
10 (mas sem marchas), onde levava algumas coisas no guidão. Pedalava com apenas
um tênis. O outro pé estava descalço.
O mais curioso foi quando ele
perguntou meu nome e ao responder a minha mesma pergunta disse que também se
chamava Nelson. Eu achei muita coincidência e pensei sinceramente que aquele
homem estava de brincadeira comigo e não tinha boas intenções. A gente ouve
cada história nessa vida que ultimamente é difícil saber quem é quem. Confesso
que fiquei apreensivo.
Durante os quilômetros que se
seguiram eu apenas respondia curtamente às perguntas curiosas do meu suposto
xará. Ele disse que seguia para San Martin, uma cidade que ficava 30 km depois
de San Alberto que era onde eu encerraria meu dia. Achei essa distância entre
as duas cidades muito longa para ser completada por aquele senhor e isso
colocava ainda mais desconfiança na minha cabeça.
Eu descobri que o Nelson é
trabalhador rural que faz serviços nas comunidades da região. Fez questão de
ressaltar os vários lugares na redondeza onde esteve com sua bicicleta.
Inclusive respondeu à minha curiosidade sobre o tênis em apenas um pé. Segundo
ele, a peça foi achada na estrada e era excelente para frear a bicicleta. Neste
momento ele mostrou seu par de calçado antigo e bastante gasto, sobretudo,
aquele que era utilizado como freio.
Com o tempo minha desconfiança em
relação ao Nelson ficava menor. Parecia mesmo que ele era uma boa pessoa e que
o nome era somente uma coincidência. Em um momento eu ofereci água, mas ele
rejeitou, quando finalmente aceitou minha garrafa já estava quase vazia e então
ele tomou o resto que havia. Fiquei chateado de não poder ajudar com um pouco
de água.
Na chegada em San Alberto ele
recomendou que eu entrasse no centro da cidade para procurar uma hospedagem
mais barata. Fez questão de me acompanhar ao local. Eu estava muito cansado e
com bastante sede. Pensei em parar num lugar e convida-lo para beber um
refrigerante, mas quanto mais nos aproximávamos do centro, maior era o
movimento e nenhum lugar me parecia convidativo.
Nelson me acompanhou até a frente
do Hotel Galeon no centro da cidade. No local já apareceu um monte de gente por
causa da bicicleta e um garoto surgiu oferecendo outra hospedagem e eu disse
que não seria mais necessário. Eu estava meio sem saber o que fazer durante
toda aquela movimentação. Queria entrar logo no hotel para saber o preço da
diária e finalmente descansar.
O meu xará observava toda aquela
cena e parecia não entender a minha reação. Ao me despedir do Nelson perguntei
se ele precisava de alguma coisa. Ele com um sorriso humilde disse que estava
tudo bem e não necessitava de nada. Eu nem mesmo tive a coragem de pedir para
que ele esperasse para tomar uma água ou refrigerante antes de seguir sua longa
jornada pela escuridão que se aproximava. Apenas agradeci por sua imensa ajuda
em me acompanhar ao hotel.
Na hospedagem a diária custava
apenas 15 mil pesos. O quarto era pequeno, simples e com um ventilador de teto
que não era uma turbina e cumpria bem o seu propósito. O diferencial do hotel
acabou por conta do wi-fi, cuja senha foi gentilmente liberada pelo atendente.
Na recepção do hotel eu não
resisti à tentação e comprei um refrigerante de 1,5 litros bastante gelado.
Enquanto eu tomava a bebida lembrava de quão estupido eu fui a ponto de não
poder oferecer ao menos uma água ao Nelson. Justamente no dia em que eu havia
sido presenteado duas vezes com o liquido sagrado. Não me conformava com a
atitude e prometi a mim mesmo que se encontrasse ele novamente na estrada faria
questão de pagar um almoço. Seria um gesto de agradecimento e desculpa pela
minha falta de sensibilidade que talvez a canseira e a situação do momento
tenham me impedido de ter.
Tomei um banho, fui jantar no
restaurante ao lado do hotel e posteriormente fui dormir.
Dia finalizado com 147,93 km em
8h47m e velocidade média de 16,83 km/h.
06/01/2013 - 182° dia - San
Alberto a Pelaya
Se você tiver a segunda chance,
não desperdice-a.
A noite foi tranquila na
hospedagem e me permitiu um descanso merecido. Acordei cedo e após o desayuno
me mandei para a estrada. Voltei a pedalar às 7h30m. O objetivo do dia era
avançar mais de cem quilômetros, contudo, sem uma cidade pré-estabelecida como
destino.
Mais uma vez o dia amanheceu
bonito e quente. A saída de San Alberto foi sem dificuldade e em poucos minutos
eu estava na rodovia em direção à San Martin. A distância entre essas duas
localidades é de aproximadamente trinta quilômetros e o trajeto é todo plano. O
deslocamento seria normal se não fosse a ausência total de acostamento e o tráfego
intenso de veículos.
Começo do trecho sem acostamento entre San Alberto e San Martín.
Alerta para a presença de animais na rodovia. Infelizmente encontrei vários sem vida.
Chegar à San Martin foi
complicado em razão da falta de um espaço seguro para pedalar. O trecho é
bastante perigoso e por vezes é impossível até mesmo olhar para os lados. A
concentração era exclusivamente para manter a bicicleta em linha reta sobre a
faixa da direita. É preciso muito sangue frio para não se assustar com os
carros e caminhões que passam centímetros do guidão da bicicleta. Eu ficava a
imaginar como o Nelson (colombiano) tinha encarado, sem nenhum item de
segurança, o trajeto na noite anterior.
Com muita paciência cheguei à
cidade onde o meu xará falou que provavelmente nos encontraríamos já que seus
familiares residem no local. Eu estava quase no final do perímetro urbano
quando fui abordado pelo Nelson. Que felicidade vê-lo novamente. Conversamos no
acostamento e durante a conversa me desculpei por não poder oferecer nem mesmo
uma água gelada. Com uma simplicidade incrível ele disse que não havia do que
me desculpar.
Grande Nelson em San Martín.
Com sua bicicleta antiga, Nelson
pensou bastante se me acompanhava pelos próximos quilômetros, mas resolveu
permanecer em San Martin para descansar. Ele pretendia voltar ao local onde nos
encontramos no dia anterior para trabalhar. Com essa decisão eu não tinha a
oportunidade de pagar uma refeição, como tinha prometido a mim mesmo caso
encontrasse-o novamente. Mas tive a grande chance de pedir desculpas e trata-lo
com a devida atenção e sem paranóias.
Na estrada, o acostamento foi
aparecer somente após 42 quilômetros pedalados desde San Alberto. Tinha passado
da hora de encontrar um lugar seguro para continuar a viagem. Esse trecho
também apresentou obras na rodovia. A duplicação está em andamento e certamente
vai melhorar a vida de muita gente, sobretudo, dos ciclistas.
Começo do acostamento em uma rodovia recém construída.
Nos primeiros quilômetros
pedalados com acostamento um ciclista me ultrapassou em alta velocidade. Era o
Nelson com a sua “roupa de ciclismo” e a mesma bagagem com a qual ele estava no
dia anterior. Ele não resistiu ficar parado em casa e resolveu me fazer
companhia na estrada. Como ele mesmo mencionou, àquela era uma oportunidade
para treinar e manter o condicionamento físico.
Não faltaram assuntos durante o
pedal na companhia do meu xará, que por sua vez, tem um ritmo bem forte. Seu
equipamento mais limitado não impede de avançar com uma velocidade maior. Para
acompanha-lo, restou-me trabalhar mais as pernas. Foi bom que a quilometragem
passou rapidamente.
Em Aguachica, maior cidade da
região, paramos em um restaurante à beira da estrada. O local era simples e o
Nelson não se importou de aceitar meu convite para almoçar. A refeição não era
das mais baratas, mas foi muito bom poder proporcionar aquele momento para uma
pessoa simples e prestativa. O cardápio estava longe de ser o mais caprichado.
O menu tradicional acompanhava sopa e segundo, este último tinha pouco arroz
mas quase 1/4 de frango assado. Um pedaço bastante generoso.
Desta vez o almoço não tinha a
presença da limonada gratuita, por isso pedi um refrigerante de 1,5 litros para
amenizar o calor que àquela altura era extremamente forte. Almoçamos
rapidamente. Durante a refeição Nelson mencionou que aquele era um baita
banquete. Sinceramente fiquei sem palavras e muito emocionado.
Devidamente alimentados, voltamos
à estrada. Nelson ficou de me acompanhar até a subida mais forte que estava
alguns quilômetros à frente. Na verdade o trecho após Aguachica apresenta três
ou quatro subidas mais inclinadas, mas nada comparada aquelas na Cordilheira
dos Andes. Talvez a maior delas tenha aproximadamente um quilômetro de
extensão. Foi fácil completar essa pequena montanha-russa. Talvez o maior
obstáculo tenha sido apenas a temperatura que estava nas alturas.
Nelson durante a subida. Detalhe para o pé esquerdo descalço.
A felicidade do garoto, rs.
Plantação de algodão pelo caminho.
Acho que a companhia do Nelson
totalizou aproximadamente 60 quilômetros. Durante o percurso foi possível ver o
quanto ele é apaixonado pelo esporte, especialmente em relação ao ciclismo e
atletismo. Contou-me um pouco da sua história de vida e das mudanças que a
atividade física proporcionou ao seu cotidiano. Ele estava bastante feliz em
poder me acompanhar, ainda que poucos quilômetros. Sua vontade era seguir até
Santa Marta para conhecer o mar, mas ainda era preciso economizar para poder
realizar este sonho. A despedida foi emocionante de ambas as partes. Nelson em
uma ação inesperada se ajoelhou no acostamento e pediu a Deus que me guiasse no
restante da viagem. Sem dúvida foi uma cena que jamais esquecerei. Encontrar
essa pessoa iluminada pelo caminho foi um aprendizado enorme.
Sozinho, pedalei mais poucos
quilômetros e cheguei ao distrito de Pelaya às 16 horas. Ainda era cedo, mas
resolvi encerrar o dia para descansar. A primeira hospedagem que apareceu no
perímetro urbano foi o Residencial Flores. A diária custava 15 mil pesos e o quarto
era relativamente confortável e com ventilador capaz de refrescar o ambiente.
No local eu aproveitei para escrever o diário de bordo no final da tarde. De
noite fui jantar no restaurante da própria hospedagem.
Durante o jantar apareceu um
cicloturista (estilo mulambiker) que chegava àquele momento no distrito. Estava
com pouca bagagem e procurava local barato para passar a noite. O preço da
hospedagem não foi convidativo e então ele achou melhor pesquisar outros
lugares. Não cheguei a conversar com ele porque foi tudo muito rápido e apenas
observei, de longe, seu breve dialogo com o proprietário do residencial.
Antes de finalmente retornar ao
quarto e dormir, aproveitei para passar em uma padaria para garantir o desayuno
da manhã seguinte.
Dia finalizado com 115,68 km em
7h09m e velocidade média de 16,17 km/h.
08/01/2013 - 184° dia - Pelaya a
Bosconia
Um dia recheado de surpresas.
Após uma boa noite de sono estava
na hora de continuar a viagem. Fiz minha alimentação básica e pouco depois das
6 horas da manhã eu retornei à estrada. Meu objetivo era extremamente
audacioso, chegar à Bosconia no final do dia. Isso significava que o pedal
seria longo, aproximadamente 170 km, por isso não hesitei em sair nas primeiras
horas da manhã.
O tempo bom permitiu contemplar o
nascer do sol mais uma vez. Iniciar o dia com essa maravilha natural é sempre
um incentivo a mais para continuar firme e forte para concluir a meta desejada.
"Amanhece o dia.. com um leve toque de poesia.."
Os primeiros quilômetros foram
relativamente tranquilos e sem maiores novidades. Trajeto praticamente todo
plano, acostamento razoável e muitas árvores ao lado da rodovia que continuavam
a amenizar a temperatura. O problema que começou tímido e tomou grandes
proporções ficou por conta do vento contra que diminuiu drasticamente a
velocidade média.
Vamos quebrar a banca, rs.
Coitado dos moradores locais.
Em uma região onde a temperatura é sempre elevada, nada melhor do que pedalar por estes caminhos.
Com pouco mais de 50 km pedalados
e ainda enfrentando a ventania, o cicloturista que chegara à Pelaya na noite
anterior me ultrapassou e simplesmente cumprimentou e continuou. Segui mais um
pouco e ele estava parado na intenção de recuperar as energias para vencer o
forte obstáculo natural. Não pensei duas vezes em fazer uma pausa e obter
maiores detalhes sobre a sua viagem.
O cicloturista era o Ramiro que é
de Bogotá, mas pedalava desde Honda em direção à Cartagena. Para chegar a esta
cidade ele tinha um roteiro bem estranho. De Bosconia seguiria para Sincelejo e
posteriormente para o litoral norte. Como tínhamos o mesmo objetivo de terminar
o dia em Bosconia, continuamos juntos o pedal até a referida cidade.
Cicloturista Ramiro da capital colombiana.
Ramiro é professor de educação
física e já tem seus mais de quarenta anos, contudo, ainda pedala bastante e em
um ritmo muito forte. Não foi fácil acompanha-lo, sobretudo, porque o peso da
minha bagagem era infinitamente maior que aquele transportado em sua simples
bicicleta. De qualquer forma, ambos seguimos determinados para chegar ao
destino, mesmo que para isso fosse necessário empregar uma força descomunal
para vencer o vento e também a temperatura elevada.
Quase próximo ao meio dia
encontramos um pequeno rio à beira da rodovia e o Ramiro, ao contrário de mim,
não pensou duas vezes em parar no local e fazer um mergulho para refrescar um
pouco. Desde Honda a região apresenta vários lugares como este ao lado da
estrada. Muitos estavam lotados no momento da minha passagem e por isso eu não
havia, apesar da tentação, realizado nenhuma parada para amenizar a temperatura
corporal. Mas agora a situação era diferente, o local era limpo (água
cristalina) e não tinha ninguém além dos peixes que eram facilmente
visualizados à flor d’água. Impossível desperdiçar uma oportunidade como esta.
Local perfeito para um mergulho
In foco.
In foco.
In foco.
O Ramiro entrou na água com toda
sua vestimenta, inclusive, de tênis, segundo ele, a estratégia de seguir com a
roupa molhada permitia sofrer menos com a temperatura do horário. Sem dúvida a
idéia tem sua lógica, mas eu achei melhor entrar na água apenas de calça. Os
peixes do local não estranharam nossa presença e ficaram a poucos centímetros
da gente. O ambiente todo era muito propicio para descansar e refrescar. Acho
que permanecemos quinze minutos aproveitando toda aquela natureza.
Quando voltamos à estrada, logo
passamos por San Roque que também contava com hospedagens e restaurantes, mas
apesar do horário e da fome, resolvemos seguir um pouco mais. Decidimos almoçar
poucos quilômetros depois em um restaurante no cruzamento para Chiriguana. O
local conta com vários estabelecimentos às margens da estrada e lugar não falta
para realizar a refeição. O menu tradicional custou 7 mil pesos e estava
caprichado. A limonada com gelo foi bem-vinda à mesa.
Se não me engano, pedalamos mais
de cem quilômetros na parte da manhã. Pelas condições climáticas isso foi um
grande feito, sem dúvida. Mas ainda faltava bastante, Bosconia estava distante
e ainda precisaríamos pedalar mais setenta quilômetros durante a tarde e
provavelmente uma parte da noite.
Ramiro não tem frescura e logo
após o almoço retornamos a pedalar, mesmo com o sol a pino. Felizmente o vento
perdeu a intensidade e o nosso ritmo foi ainda maior e os quilômetros passaram
rapidamente pela região que começou a exibir uma paisagem cada vez mais seca em
razão da estação. Como mencionado anteriormente, a época é de pouca chuva e a
falta de água deixa as pastagens com uma cor diferente daquela visualizada dias
atrás. Nesta mesma área também surgiram as minas de carvão. O mesmo é
transportado por trem para Santa Marta e consequentemente à várias partes do
mundo através do oceano.
Transporte de carvão para a costa caribenha.
O camarada da capital colombiana
realizava sua primeira viagem de bicicleta e com certo receio em relação à
segurança na estrada, optou por não levar sua maquina fotográfica. Para que ele
tivesse registros fotográficos dessa experiência inédita no cicloturismo, fiz
questão de tirar algumas fotos para envia-las posteriormente por e-mail. Já
passei por situação parecida e sei o quão importante é ter uma lembrança destes
momentos. Claro que a principal recordação fica na memória, mas é bacana ter
outro tipo de registro.
Ramiro ao lado do trânsito pesado da rodovia.
Valeu a companhia, camarada.
Avançamos e chegamos ao famoso
trevo denominado Cuatro Vientos. Na verdade não sei exatamente o porquê o local
é bastante conhecido. A única coisa diferente, estranha e desagradável é a
presença de inúmeros vendedores de gasolina ilegal à beira da estrada. São
dezenas de pessoas que acenam (com um funil na mão) aos motoristas que não
hesitam em parar e abastecer com o combustível de procedência desconhecida, mas
infinitamente mais barato. O local abriga, sem nenhuma segurança, uma
quantidade enorme de gasolina, não sei como medidas governamentais ainda não
foram tomadas para evitar um acidente de proporções gigantescas.
Cuatro vientos e a oferta de combustível às margens da rodovia.
Talvez o trecho para passar por
Cuatro Vientos seja inferior a 3 quilômetros, mas ainda assim é suficiente para
querer sair o quanto antes daquele ambiente com alta periculosidade. O cheiro
também é muito forte e nada agradável. Triste imaginar que muitas pessoas
sobrevivam naquele cotidiano nada propício para morar, trabalhar e, enfim,
viver.
Seguimos com a velocidade sempre
acima dos 20 km/h. Estávamos cansados, mas a nossa determinação para chegar à
Bosconia era algo incrível. Para continuar com energia, paramos em uma
mercearia e pedimos um refrigerante gelado para aliviar a sede. Aproveitei e
também comprei pão e doce. Já pensava no desayuno do dia seguinte. Não estava
nada disposto a ficar sem a refeição matinal.
Na estrada nos deparamos com mais
um fantástico pôr-do-sol que apenas não foi mais bem observado porque a estrada
nos retirou boa parte do acostamento. O espaço que nos restou, para variar, não
estava em sua melhor condição e não raramente tínhamos que pedalar na pista.
Dividir espaço com carros e caminhões velozes está longe de ser agradável para
qualquer ciclista.
Pôr-do-sol
Em busca de equilibrio, rs.
A noite chegou e ainda faltavam
aproximadamente vinte quilômetros para chegarmos à Bosconia. Acendemos as luzes
da bicicleta e continuamos pedalando forte na intenção de alcançarmos o nosso
destino o quanto antes. Isso ocorreu pouco depois das 19 horas. Mas a nossa
jornada não havia terminado, precisávamos encontrar uma hospedagem barata.
Nossa pesquisa por um hotel em
Bosconia foi longa, mas infelizmente todos os estabelecimentos pesquisados
tinham preços absurdos. Na saída de uma hospedagem fomos abordados por uma
criança que nos perguntou se estávamos à procura de hotel. Nossa resposta foi
junto com a indagação se o mesmo era econômico. O esperto menino disse que a
habitação com ventilador custava 15 mil e com ar condicionado, 20 mil pesos.
Era o preço padrão e então resolvemos conferir as instalações.
O lugar não tem nome (pelo menos
visível) e fica atrás de um restaurante chamado El Volante (acho que é isso!).
O preço era o mesmo que o menino havia nos avisado, mas com uma observação. O
preço da diária era por habitação e não por pessoa. Assim, um quarto com duas
camas custou apenas 15 mil pesos. Foi uma ótima idéia acompanhar aquele menino
que no final ganhou um trocado do Ramiro e também do dono da hospedagem. A “barbada”
era nosso prêmio pela árdua trajetória do dia.
O quarto era simples, mas tinha
televisão, dois ventiladores e banheiro privado. Antes de tomar um banho fui
jantar no restaurante que fica na frente da hospedagem. A refeição saiu por 8
mil pesos e estava repleta de carne. Garantiu parte das proteínas necessárias
para o dia seguinte.
Tomei um banho e voltei às ruas
para encontrar uma lan house para localizar melhor o edifício do ciclista Juan
em Santa Marta. Na internet descobri que o local é extremamente luxuoso e fica realmente
de frente para o Mar do Caribe. Independentemente da situação financeira, o
anfitrião me pareceu bastante simpático e eu não deixei a idéia de ficar em sua
residência. Fiz algumas anotações e regressei à hospedagem para finalmente dormir
após um longo dia.
Dia finalizado com 174, 43 km em
9h32m e velocidade média de 18,28 km/h.
09/01/2013 - 185° dia - Bosconia
a Santa Marta
Pedalar ao lado do Caribe não tem
preço.
Acordei de madrugada e antes das
5 horas eu já estava levantado para começar a arrumar minhas coisas. A
pretensão era sair o mais cedo possível em razão da audácia de querer chegar à
Santa Marta no final do dia. A ousadia estava relacionada à distância entre as
duas cidades, superior a 150 quilômetros.
De Bosconia o cicloturista Ramiro
seguiria para Sincelejo, ou seja, um caminho diferente do meu, contudo, não
menos fácil. Seu objetivo era pedalar na casa dos duzentos quilômetros. Assim
ele também tratou de agilizar sua saída antes do nascer do sol.
Preparei meu desayuno com pão,
geléia, rapadura e suco. Com a alimentação matinal concluída estava na hora de
voltar à estrada. Desejei sorte para o Ramiro e após a despedida comecei a
girar os motores, digo, as pernas.
A saída da hospedagem aconteceu
por volta das 6 horas da manhã e não demorei muito para me deparar com os
mesmos problemas do dia anterior, temperatura alta, vegetação seca, falta de
acostamento decente e vento contra. Mas se eu quisesse avançar era preciso
deixar esses obstáculos para trás e me superar. Por isso fui à luta.
Pastagem cada vez mais seca pelo caminho.
O trajeto continuou pela rodovia
45 em direção à Santa Marta. Em poucos quilômetros eu estava em mais um
departamento, desta vez, denominado Magdalena. Foi nesta região que eu tive uma
baita surpresa ao estacionar a bicicleta para tomar água e comer um pacote de
bolacha. Não, não havia nenhum problema mecânico na Victoria. Era algo muito
maior do que isso, literalmente. Eu avistara naquele momento a Serra Nevada de
Santa Marta. Como o próprio nome sugere, montanhas são cobertas pelo gelo.
Mais um departamento.
Serra Nevada de Santa Marta.
In foco.
O incrível foi observar a
montanha nevada próxima ao mar e em um ambiente que registra elevadas
temperaturas nesta época do ano. Na internet descobri que é a “maior elevação
próxima ao mar, independente da corrente montanhosa dos Andes”. Não à toa o
lugar é realmente impressionante, mesmo admirado à distância. Afinal, apesar de
parecer próximo à estrada, certamente são necessários alguns quilômetros para
chegar até a base das montanhas cujo topo ultrapassa os três mil metros de
altitude.
Ainda bem que as montanhas ficaram restritas à lateral da rodovia.
In foco.
A serra de Santa Marta é extensa
e somente foi possível observar a montanha nevada por um período, ainda assim
foi um prato cheio para a lente da câmera fotográfica. Pensei que seria a maior
surpresa do dia, mas para a minha felicidade eu estava enganado.
O pedal continuou tranquilo e por
volta do meio dia parei (com pouco mais de 60 km pedalados) em um restaurante à
beira da estrada e almocei porque meu estômago já exigia alimento. A refeição
custou 8 mil pesos e estava com bastante arroz, conforme foi solicitado. Apesar
de não vir acompanhada com feijão e suco, a quantidade de carne era absurda. De
qualquer forma não deixei nada no prato. Desperdiçar comida deveria ser
considerado um crime.
Após o almoço continuei a
enfrentar o calor que em determinados momentos era amenizado pelas sombras que
por sorte continuaram a aparecer ao lado da rodovia. O que também começou a
surgir com mais frequência foram as barreiras do exército e da polícia. Mas não
tive nenhum problema e tampouco minha passagem foi obstruída.
Embora a intenção inicial era de
chegar à Santa Marta, eu estava cansado depois que o velocímetro alcançou a
marca dos cem quilômetros, afinal, no dia anterior o pedal foi de quase 175 km
em um ritmo bastante forte para o padrão que tenho empregado nesta expedição.
Desta forma eu decidi que na primeira hospedagem do caminho eu encerraria meu
dia. Mas é aquela velha história, quando você mais necessita, não aparece
aquilo que procura.
Não me lembro do nome do povoado,
talvez seja Rio Negro, não tenho certeza, em todo caso, foi onde finalmente
apareceu um hotel. Mas a diária estava muito cara, algo em torno de 30 reais.
Como foi negado qualquer desconto, fui obrigado a seguir viagem até a próxima
hospedagem em Ciénaga que ficava quase a 20 km de onde eu me encontrava.
Continuar o pedal cansado
certamente não é uma das melhores coisas que se pode acontecer durante uma
viagem. Mas por outro lado, o momento exige superação extrema para poder
avançar. É justamente nestas horas que você passar a ter conhecimento de forças
que não imaginava ter. Esse descobrimento pessoal é incrível. E quando você
passar a ter consciência da energia que ainda possui ela própria passa a ser um
incentivo para ir mais longe.
Com 135 km pedalados eu cheguei a
um cruzamento que me trouxe uma noticia não muito animadora. Ciénaga ficava na
direção oposta à Santa Marta e eu não estava disposto a sair do meu roteiro
apenas por causa de uma hospedagem. E como Santa Marta, neste momento, já não
estava tão longe, achei que poderia chegar, ainda que de noite, no destino
traçado no início do dia. Mas havia um detalhe, eu precisava avisar meu
anfitrião sobre a minha chegada.
Entrada para o Troncal del Caribe.
Finalmente na Costa Caribenha.
Na estrada parei em uma casa onde
uma placa informava Minutos. Ainda
não mencionei, mas desde que atravessei a fronteira essa é uma das coisas que
mais se encontra nos estabelecimentos, seja mercearias, bares, restaurantes,
barracas e outros lugares. Trata-se de um celular que realiza chamadas a um
preço fixo por minuto. Geralmente funcionam apenas para números locais e
regionais a um custo de 150-200 centavos de pesos colombianos. Para uma
emergência o sistema é muito útil. Quer dizer, isto quando o telefone do outro
lado não está na caixa postal, situação em que se encontrava o número do Juan.
Paciência! Eu tentaria chegar à sua casa de qualquer forma.
Eu tratei de resgatar minhas
últimas energias para empregar um ritmo maior e chegar o quanto antes na casa
que me receberia em Santa Marta. Já que eu chegaria um dia antes do previsto e
não conseguira avisa-lo, pelo menos não gostaria de aparecer tardiamente no
local. Por isso a velocidade aumentou consideravelmente para a situação física
em que eu me encontrava.
Ainda com claridade e a menos de
20 km de Santa Marta (centro) eu consegui visualizar o Mar do Caribe pela
primeira vez. E não foi qualquer encontro. Aconteceu justamente durante o
pôr-do-sol que tanto eu esperei para presenciar no Pacífico e que a natureza
permitiu apenas aqui no norte da Colômbia. Era um presente por completar seis
meses de viagem. Acho que dificilmente esquecerei o momento, a euforia e o
sentimento de felicidade em contemplar o espetacular entardecer no mar.
Mar do Caribe pela primeira vez no horizonte.
Pôr-do-sol no Caribe. Sensação indescritível.
In foco.
In foco.
A noite chegou e com ela o
trânsito mais intenso de Santa Marta. Procurei ligar a lanterna e o farol para
ser bem visualizado pelos motoristas. Com muita atenção continuei, entre os
veículos, em direção ao aeroporto, a
referência para chegar em Pozos Colorados, onde ficava o apartamento da família
do Juan. Apareceu uma placa que indicava o aeroporto, mas logo depois eu soube
que o mesmo havia ficado para trás e não entendi onde errei o caminho. Para a
minha sorte o edifício que eu deveria encontrar é bastante conhecido na cidade
e ao pedir informação de como chegar até o local, um ciclista se dispôs a me
acompanhar até a entrada da rua. Maravilha!
Ao chegar ao enorme e luxuoso
edifício eu nem me importei que estava sujo, cansado e não muito cheiroso
(Risada sacana). Se eu estava no local é porque eu deveria conhecer alguém
importante que residisse em um de seus vários apartamentos. Talvez por isso eu
tenha sido muitíssimo bem recepcionado pelos porteiros que informaram o Juan
sobre a minha chegada.
O vento era insuportável na
recepção do edifício e por pouco a Victoria e eu não somos levados aos céus.
Ainda bem que o Juan logo apareceu e também foi muito bem receptivo e
compreendeu minha chegada inesperada. Na portaria fui obrigado a registrar meu
nome para ganhar uma pulseira que garantia acesso nas dependências do prédio.
Coisa de lugar muito, mas muito sofisticado.
Devidamente registrado, fui
encaminhado ao apartamento do anfitrião. A Victoria subiu junto comigo pelo
elevador, ainda bem que o mesmo suportava muitos quilos. Também não faltou
espaço para guarda-la no apartamento onde toda a família estava reunida. Cumprimentei
todos e na sequencia fui jantar na sacada do local, de frente para o mar. Na
sobremesa eu experimentei arepa com abacate. Uma combinação perfeita. São
coisas que uma viagem de bicicleta lhe proporciona, convívio nos mais
diferentes ambientes e com pessoas das mais variadas classes sociais.
Conversei bastante com o Juan
sobre a viagem e os mais variados assuntos, inclusive sobre a minha visita à
Cartagena e seus atrativos imperdíveis. Aliás, eu teria que conhecer a cidade
histórica já no dia seguinte porque a família voltaria à Medellín (onde
residem) em três dias, ou seja, esse era o tempo que eu tinha disponível para
permanecer no apartamento. Neste período eu teria que visitar Cartagena e
talvez o Parque Tayrona com suas praias paradisíacas e que o Juan mencionou
como sendo as melhores da Colômbia. Ressaltou várias vezes que o local era
imperdível e que eu deveria, necessariamente, reservar um tempo para visita-lo.
A família de Medellín já
visitou o Brasil. Conheceram o Rio de
Janeiro, Paraty e algumas praias do litoral paulista. Na próxima passagem pelo
país eles pretendem conhecer Florianópolis onde tem uma amiga que reside na
ilha. Quando mostrei as minhas fotos de Floripa eles ficaram encantados e o
Juan até parou de recomendar a visita à Tayrona já que as praias da Ilha da
Magia também são belíssimas.
Fui dormir um pouco sem saber
direito o que fazer nos próximos dias. Uma coisa era certa, eu deveria pegar um
ônibus para Cartagena nas primeiras horas do dia seguinte. Isso porque a viagem
tem duração média de 4 horas. O Juan tentou me ajudar ligando para as empresas
a fim de saber os horários de partidas, contudo, nenhuma atendeu aos telefonemas.
Então combinei com o anfitrião que na manhã seguinte eu não madrugaria,
precisava descansar e também não queria acordar a família.
Dia finalizado com 157,44 km em
9h49m e velocidade média de 16,01 km/h.
10/01/2013 - 186° dia - Santa
Marta x Cartagena (Folga)
A noite não poderia ter sido mais
confortável. Dormi em um sofá-cama instalado na sala do apartamento. O ambiente
estava com uma temperatura bastante agradável em razão do moderno e eficiente ar
condicionado do local. Foi mais do que suficiente para eu ter uma boa noite de
sono e descansar após uma semana de pedal intenso entre Bogotá e Santa Marta.
Acordei por volta das 7 horas da
manhã, mas como estavam todos dormindo, fiquei quieto na cama e resolvi
levantar somente aos primeiros sinais de movimento na casa, algo que aconteceu
praticamente uma hora depois. Não demorou muito e o desayuno estava servido,
tudo muito saboroso e preparado pela Mari que trabalha para a família.
A vista para o mar no apartamento do anfitrião Juan.
Mar do Caribe.
In foco.
O Juan fez novas tentativas de
ligação para o terminal rodoviário e finalmente conseguiu a informação sobre os
horários dos ônibus para Cartagena. O próximo veículo sairia às 9 horas, ou
seja, eu precisava arrumar minhas coisas básicas rapidamente e me direcionar
para a rodoviária. O local fica aproximadamente oito quilômetros do apartamento
e por isso consegui uma carona com os anfitriões.
Cheguei a tempo na rodoviária e
ao comprar a passagem descobri que o ônibus partiria apenas às 9h20m. O
deslocamento aconteceu pela empresa Expreso
Brasilia e custou 30 mil pesos aos meus bolsos, algo em torno de 30 reais.
Não é um valor baixo se comparado com países como Bolívia e Peru, mas pelo
menos também não é exorbitante, sobretudo, em uma época de intenso movimento
nesta região turística.
O ônibus (um micro-ônibus) saiu
exatamente no horário. Estranhei que ninguém pediu a passagem ou sequer
qualquer documento para eu realizar o embarque. Na entrada do veículo um
policial realizava revistas em determinados passageiros, contudo, ingressei sem
ser abordado. Também eu não tinha quase nada de bagagem, apenas minha bolsa de
guidão com itens de higiene, a máquina fotográfica e carregava meu livro/guia
sobre a América do Sul. Infelizmente não tive tempo de tirar fotos das
informações sobre Cartagena e fui obrigado a leva-lo comigo.
A viagem foi tranquila e sem
maiores imprevistos. O ônibus foi parado em uma barreira do exército e após uma
revista no veículo e a conferência dos documentos voltamos à estrada. A
paisagem atrás da janela não tem a mesma perspectiva que a bicicleta oferece,
contudo, ainda assim era incrível observar o majestoso Mar do Caribe bem ao
alcance dos meus olhos.
O ônibus fez poucas paradas pelo
caminho, talvez a mais longa tenha ocorrido em Barranquilla onde desembarcaram
e embarcaram passageiros. O motorista compensava, na estrada, qualquer eventual
atraso neste sobe e desce de pessoas. Eu estava sentado na frente por falta de
opção (não existe assento reservado) e essa localização permitia acompanhar
todas as manobras arriscadas do condutor, incluindo ultrapassagens perigosas.
Não à toa eu me sinto muito mais seguro atrás do guidão da minha bicicleta.
Com a audácia do senhor motorista,
nossa chegada em Cartagena aconteceu 30 minutos a menos do que o previsto, ou
seja, o trajeto foi apenas de 3h30m. Eu tinha conhecimento que a rodoviária
ficava longe do centro da cidade e que o deslocamento para essa região levaria
aproximadamente meia hora. Então antes de enfrentar o ônibus para o casco histórico eu parei em um
restaurante, ainda na rodoviária, para almoçar e recarregar as energias. A
refeição custou 6 mil pesos e o cardápio não tinha nenhuma novidade. Simples e
saboroso.
Após o almoço foi a hora de
enfrentar o calor e pegar um ônibus ao centro. Para a minha felicidade não
precisei esperar nem um minuto e o ônibus saiu do terminal em direção ao local
desejado. O veículo possuía ar-condicionado, mas o calor chegava a tal ponto
que era impossível sentir muita diferença no interior do veículo. A passagem
custou 1,700 pesos e foi paga a um cobrador que fica sentado ao lado do
motorista. Mas também existem empresas que possuem veículos sem ar condicionado
e com a passagem a 1,500 pesos. Geralmente neste caso você encontrará o
cobrador na porta a chamar seus passageiros.
Cartagena é histórica. Sua
fundação é datada de 1533 e foi uma cidade estratégica e um importante porto
mercantil da Coroa Espanhola, conforme lembra o Guia Viajante Independente. Certamente
aqueles que vem conhecer a Ciudad
Amurallada estejam, sobretudo, interessados em sua história e arquitetura.
Não por menos o local é Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade. Todavia,
a primeira impressão está longe de ser a imaginada para um lugar com tanta
riqueza.
Para quem chega pela rodoviária,
o caminho até a região do centro histórico é longo e passa por uma boa parte da
periferia da cidade. O movimento é intenso pelas ruas que são disputadas
freneticamente pelos veículos. Ônibus, taxis e automóveis são responsáveis
diretamente pela poluição sonora. Outra coisa que não é nada agradável é a
limpeza. Parece que esse aspecto não é primordial nesta área da cidade. Talvez
seja culpa dos próprios moradores e também da gestão governamental. Sei que é
muito triste visualizar tanto lixo jogado nas ruas e avenidas.
Cartagena é imensa e sua
população ultrapassa um milhão de habitantes e acredito que a maioria viva
nesta zona periférica. O comércio é intenso e está presente por todos os lados.
Em determinadas partes lembra muito toda aquela agitação de Ciudad del Este no
Paraguai. Isso tudo eu observava atrás da janela do ônibus durante esse longo
trajeto até o destino desejado, que por sua vez, era a Plaza de Los Coches, uma das
principais praças da cidade. Solicitei ao motorista me deixar o mais próximo
possível do local. Aqui não tem campainha e muito menos ponto de ônibus
especifico. Para descer, em qualquer lugar, é preciso literalmente gritar. A
palavra mais utilizada entre os passageiros é parada. Algo muito parecido com o que acontece na Bolívia.
O motorista me avisou que eu
deveria descer e seguir mais duas quadras para chegar até a Plaza de Los Coches.
Essa região central continuava movimentada em relação ao número de veículos e
pessoas, mas sem dúvida já é mais limpa e atrativa. Afinal é aqui que se concentram
os principais pontos turísticos da cidade que é uma das mais visitadas da
Colômbia.
Rapidamente cheguei à praça por
onde começaria minha caminhada para conhecer o centro histórico. Não estava
muito à vontade por causa do livro (guia) que era carregado nas mãos. Eu parecia
um típico turista, faltava apenas a câmera fotográfica no pescoço. Por falar em
turista, ele está por todas as partes dessa área, algo que é bastante
compreensivo, eu não precisei andar muito para observar os casarões e prédios
antigos, charmosos e bastante coloridos. Nas ruas e praças é comum encontrar
vendedores a oferecer doces, frutas, sorvetes e sucos, tudo para amenizar o
calor que permanece o ano todo, mas que nesta época é ainda mais intenso.
Plaza de Los Coches. Carruagem para um passeio pelo centro histórico.
Movimento entre as vielas e prédios antigos, charmosos e coloridos.
Sacadas sempre com muitas flores.
Plaza Bolívar
Plaza Bolívar
O livro carregado não me permitia
uma mobilidade confortável, sobretudo, para fazer os registros fotográficos.
Então comecei minha busca por hospedagem. Mal sabia que aquela seria uma longa
jornada. Fui orientado a procurar as mais econômicas na região chamada
Getsemani. Meu guia também apontava algumas ruas neste bairro onde era possível
encontrar algumas barbadas.
Getsemani fica próximo do Paseo
de los Martires que, por sua vez, está localizado ao lado da Torre do Relógio.
Na Calle Media Luna há muitos hotéis com a aparência mais simples, contudo,
estavam todos lotados. Caminhei por outras ruas e quando achava um hostal,
hotel, albergue e alojamento, a resposta era a mesma, não tinha habitação disponível
para uma pessoa. Minha andança já era de mais de uma hora e eu comecei a
suspeitar que teria que desembolsar mais para passar a noite na cidade.
Torre do Relógio ao lado da Plaza de Los Coches.
Quase fiquei em um hostal onde a
diária era de 50 reais, mas pensei melhor e fui pesquisar mais um pouco. Quase
ao lado deste encontrei um estabelecimento que também estava lotado, contudo, o
proprietário, atencioso, ligou para um lugar com a finalidade de saber se
haveria uma cama disponível para mim. A resposta foi animadora e fui recomendado
ao Hostal de las Chancletas.
O Hostal de las Chancletas ficava
longe de onde eu me encontrava, mas eu tinha conhecimento de como chegar ao
local, por que além do mapa, eu havia passado bem próximo do lugar minutos
atrás. Caminhei rapidamente e logo estava na recepção para confirmar a reserva
feita por telefone pelo proprietário da outra hospedagem. A diária custava 30
mil pesos em um quarto compartilhado. O dormitório tinha dois beliches e era
limpo e organizado, assim como os banheiros no lado de fora. Um pequeno armário
com chave estava disponível para eu guardar minhas coisas com segurança. Foi o
que eu fiz antes de tomar um banho e sair novamente às ruas, isso às 18 horas.
Não gosto de sair à noite,
sobretudo, em lugares que não conheço, mas eu deveria encontrar um lugar para
jantar e comprar alguma coisa para o desayuno do dia seguinte. Passei por várias
ruas do centro histórico e tirei algumas fotos. O local é muito mais movimento
durante a noite. Turistas e moradores locais invadem as vielas, bares e lojas
da região. As praças são utilizadas por artistas que logo conseguem atrair um
bom público com suas atrações.
Torre do Relógio ao anoitecer no Paseo de los Martires.
Palácio do Governo Departamental.
Artistas na Plaza de Los Coches.
Típicas vendedoras de frutas de Cartagena.
In foco.
Não encontrei muito policial
pelas ruas, mas a área me pareceu segura e andei sem problema por muitos
quarteirões até achar um supermercado onde comprei pão, geléia, bolacha,
rapadura e refrigerante. Logo na saída do estabelecimento eu parei em uma praça
e boa parte destes mantimentos serviu como a janta, já que não achei nenhum
restaurante com preço acessível.
Voltei ao hostal e os outros
hóspedes ainda não estavam no quarto. Eram duas mulheres, uma da Argentina e
outra de Bogotá. Eu aproveitei a tranquilidade e fui dormir por volta das 20
horas. Era cedo, mas eu estava bastante cansado e tinha que recuperar as
energias para o dia seguinte, pois eu pretendia conhecer e registrar com mais
calma a Ciudad Amurallada.
11/01/2013 - 187° dia - Cartagena
x Santa Marta (Folga)
Cartagena sem dúvida é um dos
lugares mais interessantes da Colômbia.
A noite foi tranquila no quarto
compartilhado. O pessoal foi bem educado e todos souberam se comportar para
permitir um descanso merecido.
Acordei às 5 horas da manhã e com
muito cuidado para não acordar os demais, levantei, peguei meu desayuno e fui
degusta-lo em uma mesa do lado de fora. Na sequencia fui às ruas para
aproveitar o máximo possível do tempo que ainda me restava. Por volta de meio
dia eu deveria estar no terminal rodoviário para pegar um ônibus para Santa
Marta. Então tratei de agilizar minha visita aos pontos turísticos de
Cartagena.
A rua do Hostal de las Chancletas.
Calles charmosas
Sair nas primeiras horas do dia
foi a melhor coisa que eu poderia ter feito para conhecer com mais calma a
linda Cartagena. Comecei minha caminhada pela Torre del Reloj um símbolo da cidade e portal de entrada para o
centro histórico. Cheguei ao local pelo Paseo de los Martires que fica ao lado
do Parque del Centenario e do Centro de Convenções, este último, localizado às
margens da Baia de Cartagena. É nesta área que partem os barcos que realizam os
passeios para as praias e ilhas da região.
In foco.
Calle de la Media Luna,
In foco.
Monumento no Paseo de los Martires.
Torre do Relógio
Baia de Cartagena. Centro de Convenções ao lado esquerdo.
In foco.
In foco.
In foco.
In foco.
Amanhecer em Cartagena
In foco.
Solmáforo.
Os preços dos passeios de barco
não me pareceram exorbitantes, em torno de 30-40 reais, deve ser interessante
visitar as praias paradisíacas que os cartazes anunciam, contudo, meu tempo era
limitado e eu tinha outro objetivo. Mas fica a dica para quem estiver de
passagem pela cidade. O passeio deve ser ao estilo daqueles existentes em
Florianópolis/SC e Paraty/RJ, ambos altamente recomendados.
Na sequencia fui ao Parque de la
Marina onde existem esculturas em homenagem aos participantes colombianos na
Guerra da Coreia. Depois, ao lado do Mar do Caribe, comecei o passeio pela orla
de onde é possível compreender porque Cartagena é conhecida como Ciudad Amurallada. São onze quilômetros
de muralhas que outrora eram responsáveis pela proteção da cidade durante os
conflitos com piratas e outros países, como lembra o Guia Viajante.
Parque de la Marina.
Parque de la Marina.
Homenagem aos combatentes na Guerra da Coreia.
Reconhecimento do governo coreano à participação colombiana na Guerra da Coreia
Parte da muralha com mais de 11 quilômetros
In foco.
Olha o carro do Google Street View. Passou por mim dias atrás na estrada.
Bocagrande ao fundo.
In foco.
Ciudad Amurallada
Ciudad Amurallada
Ciudad Amurallada
Ciudad Amurallada
Ciudad Amurallada
Registro garantido ao lado do mar caribenho.
Avenida Santander
Ciudad Amurallada
Ciudad Amurallada
Registro em um dos baluartes da muralha.
Ciudad Amurallada
Ciudad Amurallada
Ciudad Amurallada
Ciudad Amurallada
Bocagrande. A Miami caribenha.
Ciudad Amurallada
Ciudad Amurallada
Ciudad Amurallada
Após a caminhada na orla, comecei
a observar alguns dos 50 quarteirões do século 16 e 17 que compreendem o centro
histórico. Com estilo que lembra a arquitetura de outras cidades visitadas
nesta expedição, os prédios e casarões são um charme à parte. Destaque para as
sacadas geralmente com muitas flores que deixam o ambiente ainda mais
interessante e bonito.
Pelas ruas históricas
In foco.
Teatro Heredia
Charmosas e floridas sacadas
Cores intensas.
Passei também pelo Museu Naval e
a Plaza e Igreja San Pedro Claver. Na praça fica o Museu de Arte Moderna que
possui algumas de suas obras no lado de fora e permite que o público aprecie a
arte que representa algumas figuras simbólicas da cidade. Lugar muito agradável
e que vale uma visita com mais calma. A Plaza La Aduana fica praticamente ao
lado e sua principal atração talvez seja a estátua em homenagem à Cristóvão
Colombo e o prédio da prefeitura. Ambos estão localizados próximos à Plaza de
Los Coches, uma das principais da cidade e que concentra em seus prédios
históricos o famoso Portal de los Dulces, onde várias mulheres vendem as
guloseimas que o nome sugere. No local também se encontra algumas casas de
câmbio. Dê preferência a elas e fuja dos cambistas da rua, são oportunistas e
nada confiáveis.
Museu Naval
Frente do prédio do Festivel Internacional de Cine de Cartagena.
Iglesia San Pedro Claver
Plaza San Pedro Claver
Obra do Museu de Arte Moderna
Obra do Museu de Arte Moderna
Obra do Museu de Arte Moderna
Obra do Museu de Arte Moderna
Plaza la Aduana
Homenagem à Cristóvão Colombo.
Prefeitura de Cartagena
Plaza de Los Coches.
Plaza de Los Coches.
Portal de los Dulces
Praças não faltam no centro
histórico e uma das mais simples e não menos interessante e simpática talvez
seja a Plaza Bolívar. Ela está localizada entre a Catedral, o Palácio do Governo
do Departamento, o Museu do Oro e o famoso Palácio de la Inquisicion onde hoje
funciona o museu que aborda a prática executada pela Igreja Católica a partir
do século XVI. A entrada é cara e por isso não realizei a visita, mas dizem que
é um dos museus mais interessantes da cidade. Fica a dica.
Plaza Bolívar
Plaza Bolívar
Catedral. O interior está restaurado e muito mais bonito que a parte externa.
Catedral
Palácio do Governo Departamental
Palácio de la Inquisicion
In foco.
In foco
In foco
In foco.
Vendedoras de frutas na Plaza Bolívar
In foco.
Na Plaza Bolivar também encontrei
o Germán um cicloturista colombiano com mais de 70 anos e que já conheceu
praticamente toda a América do Sul de bicicleta. Está há três meses em
Cartagena e pretende arrecadar verba para seguir à Venezuela, Guianas e
Suriname. Achei interessante sua estratégia de exibir seu veículo na praça e
aguardar por doações. Segundo ele, seu projeto está relacionado com os direitos
humanos. Valeu a conversa.
Germán, cicloturista colombiano.
Eu não poderia deixar de visitar
a Plaza Santo Domingo onde fica a igreja de mesmo nome. O local abriga a famosa
obra do artista Fernando Botero, conhecida como “La Gorda”. A estátua é sem
dúvida uma peculiaridade do centro histórico.
Iglesia Santo Domingo
"La Gorda" de Botero.
"La Gorda"
Plaza Santo Domingo
Saindo desta região central fui
ao Fuerte de San Felipe que não fica muito longe. Acho que precisei caminhar
vinte minutos para chegar ao “maior castelo construído pelos espanhóis nas
Américas”. O local merece uma visita com a devida atenção e isso requer tempo,
algo que eu não tinha disponível, mas apenas de observar sua parte externa eu
já fiquei satisfeito.
Teatro de Cartagena
Castelo de San Felipe
Castelo de San Felipe
Castelo de San Felipe
Abordagem simpática dos vendedores ambulates com os turistas.
In foco.
Voltei ao hostal, peguei minhas
coisas, entreguei a chave do armário e fui encontrar um ônibus para me levar à
rodoviária. Precisei andar até uma área próxima do castelo San Felipe e rapidamente
estava em direção ao terminal. No local o ônibus partiria para Santa Marta
somente às 13h30m, ou seja, eu tinha uma hora para almoçar e foi o que fiz na
praça de alimentação.
O ônibus saiu no horário
previsto, contudo, diversas paradas longas nos terminais das outras cidades e
um acidente na rodovia atrasou a viagem em 3 horas. Cheguei somente de noite na
rodoviária de Santa Marta. No local fui obrigado a pegar um taxi por dez reais
(depois de muito choro) para ir ao edifício do Juan. Quando finalmente estava de
volta, o relógio já marcava 19h30m. O dia foi extremamente longo, mas valeu
cada esforço para conhecer a belíssima Cartagena, apesar de todos os problemas
das regiões mais afastadas do centro histórico.
Conversei mais um pouco com a
família e preparei minhas coisas para partir na manhã do dia seguinte.
12/01/2013 - 188° dia - Santa
Marta a Mingueo
Novamente pedalando ao lado do
Caribe.
Acordei cedo e fui direto à
sacada do apartamento para terminar de arrumar minhas coisas e admirar a
paisagem privilegiada do Mar do Caribe. Eu não poderia partir sem antes me
despedir e agradecer a hospitalidade recebida pela família. Mas para isso eu
precisava esperar que o pessoal acordasse, algo que aconteceu apenas por volta
das 8 horas.
A vista durante o desayuno.
Mar do Caribe.
Sacada do apartamento. Pronto para começar mais um dia de viagem.
Um desayuno foi preparado
especialmente para mim e às 9 horas da manhã eu voltava à estrada. A saída de
Santa Marta foi relativamente tranquila. O que realmente atrapalhou foi o vento
contra muito forte que deixou as inclinações dos quilômetros iniciais ainda
mais complicadas para serem concluídas. Não era nada muito íngreme, mas a
Victoria não tem nenhuma aerodinâmica com toda essa bagagem e o vento contra acaba
sempre por se tornar um grande obstáculo.
Edifício do anfitrião em Santa Marta.
Nesta parte das subidas
visualizei mais um acidente nas estradas colombianas, desta vez, felizmente, de
pequenas proporções e apenas com danos materiais para ambos os condutores. Após
23 km pedalados finalmente terminou os aclives e começou um trecho mais
moderado e muito mais fácil para pedalar. Pensei que avistaria o mar o tempo
todo, mas a única coisa que eu enxergava era a densa vegetação ao redor.
Eu estava no caminho para o Parque
Tayrona, mas resolvi não conhecê-lo porque pretendo aproveitar melhor o Mar do
Caribe na Venezuela que também reserva praias paradisíacas. Sem falar que é
preciso desembolsar uma grana alta na entrada do Parque e como o local é
frequentado por muitos estrangeiros, certamente os gastos com alimentação e
hospedagem não são dos mais baratos. Apenas para ter idéia de distância, essa
entrada fica a 34 km do terminal rodoviário de Santa Marta.
Chegada à entrada do Parque Tayrona.
Nas proximidades do Parque
Tayrona é possível encontrar locais para camping à beira da estrada, mas não
tenho a mínima idéia do valor e também não consegui visualizar a infraestrutura
disponível. O que eu consegui enxergar poucos quilômetros depois foi o
belíssimo Caribe que no momento me pareceu o paraíso e uma grande tentação para
cair na água. Mas é estranho que não encontrei nenhum acesso para chegar à
praia. Todas as entradas eram particulares. Sem muita opção a solução foi
continuar em frente.
Encontro de um rio com o Mar do Caribe. Fantástico.
In foco.
Os restaurantes da estrada
estavam muito caros e a refeição mais barata custava dez reais. Para economizar
achei melhor preparar meu próprio almoço debaixo de uma árvore à beira da
rodovia. Na verdade parecia mais o meu tradicional café da manhã, mas ainda
assim serviu para saciar um pouco a fome.
A estrada desde a saída de Santa
Marta me pareceu bastante razoável e quase sempre com acostamento. Foi neste
espaço que encontrei, na direção oposta, mais um cicloturista colombiano. Este
tinha ainda mais o estilo mulambiker e, segundo ele, já havia percorrido vários
países da América do Sul, inclusive, com passagem por Foz do Iguaçu.
Conversamos um pouco e antes da despedida ele me alertou sobre o caminho entre
Riohacha e Maicao. A região deveria ser evitada de bicicleta por causa da
presença dos indígenas que costumam assaltar os viajantes. Ninguém havia me
falado nada anteriormente, por isso não fiquei muito preocupado com o aviso.
Cicloturista colombiano ao melhor estilo "mulambiker".
Na sequencia eu finalmente
encontrei um acesso à praia, mas infelizmente estava repleta de pedras para
realizar um mergulho, mas não perdi a oportunidade de fazer um registro com a
Victoria, eu e o Caribe. Essa parte onde a estrada segue ao lado do mar é a
única sem acostamento e com o fluxo significativo de veículos que requer uma
atenção redobrada. Afinal é fácil se distrair com uma paisagem maravilhosa ao
lado.
Nada melhor do que conhecer os lugares ao vivo e a cores.
Paisagem perfeita na estrada.
Segundo acidente. Desta vez a
situação foi mais grave. Um caminhão perdeu o controle em uma descida e invadiu
a pista contrária onde um ônibus estava. O motorista deste último veículo para
evitar a batida frontal jogou o mesmo para a lateral da pista, chocando-se com
o barranco. Quando passei no local a rodovia estava toda bloqueada e longas
filas se formavam em ambos os lados. Ambulâncias já estavam no local para
atender as vitimas do ônibus, mas acho que o motorista foi o que mais saiu
ferido. Eu consegui seguir viagem pedalando pela vala às margens da pista,
único local que não estava obstruído.
Mais um acidente nas estradas colombianas.
A rodovia ficou sem movimento por
quase duas horas até ser novamente liberada. Com essa condição foi muito mais
seguro observar a toda a natureza ao redor. Quando o trânsito voltou ao normal
eu já estava praticamente no povoado de Mingueo um dos poucos da região onde há
hospedagem. A mesma custou 20 mil pesos no Hotel Doris, um lugar limpo,
confortável e com um ventilador capaz de refrescar o quarto. Recomendo.
Pedalando ao lado do mar caribenho. Maravilha!
Devidamente limpo fui ao
restaurante que fica do lado do hotel para jantar. Minutos depois outro hóspede
apareceu e sentou-se na mesma mesa para fazer sua refeição e ter mais detalhes
da viagem. Era um senhor com nome complicado (grego) que trabalhava em uma
grandiosa obra que é realizada na região. Foi uma conversa bastante agradável e
inteligente. Posteriormente regressei ao hotel e fui descansar. Para quem
começou o pedal às 9 horas da manhã até que o dia rendeu.
Dia finalizado com 107,67 km em
7h21m e velocidade média de 14,62 km/h.
13/01/2013 - 189° dia - Mingueo a
Cuatro Vias
Enfrentamento indígena. Será?
O dia começou tranquilo,
resultado da noite igualmente calma no Hotel Doris. Acordei mais uma vez de
madrugada e desta vez não demorei para levantar. Eu estava realmente disposto a
começar o pedal às 6 horas da manhã. Por isso arrumei minhas coisas, degustei
meu desayuno e fui à estrada.
Novamente o tempo é bom e não há
nenhum sinal de chuva pelo caminho. O que indicava que nas próximas horas a
temperatura já estaria elevada, no entanto, na saída do hotel nem mesmo o vento
era intenso como nos dias anteriores. Precisei apenas seguir com paciência.
Afinal havia traçado um plano ousado, tentar chegar à fronteira com a Venezuela
no final do dia. Isso significava pedalar mais de 170 km.
O trajeto plano favoreceu um
ritmo maior nos quilômetros iniciais, contudo, não foi possível manter a
velocidade alta em razão do vento que passou a ser contrário. Sem poder avançar
como gostaria, aproveitei para observar melhor a fauna e flora da região.
Flagrei um pássaro muito bonito que tive a oportunidade de registrar também no
Pantanal. Lugar bastante agradável para pedalar.
Puente Bomba? Porque alguém coloca um nome deste? Só pode ser para assustar.
O mesmo pássaro fotografado no Pantanal.
In foco.
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In foco.
Faltava pouco para chegar na divisa com a Venezuela.
Passei pela ponte terrorista e por sorte não me aconteceu nada, rs.
Com 60-70 km pedalados eu estava
em Riohacha que é a capital do departamento de La Guajira. Para mim este lugar
significava o ponto mais ao norte do meu roteiro na América do Sul. Caso você
tenha curiosidade, procure Riohacha no Google Maps e veja aonde eu e a Victoria
chegamos.
Chegada ao ponto mais ao norte da América do Sul no meu roteiro.
Aproveitei que havia vários
restaurantes no perímetro urbano de Riohacha e parei na intenção de alimentar
as lombrigas. O almoço teve mais uma novidade da gastronomia colombiana, Conejo en coco. Carne de coelho na mesa
com bastante arroz e uma salada deliciosa de maionese. Para acompanhar, um copo
de limonada bem gelada. Tudo por 7 mil pesos. A carne diferente é muito
saborosa e com um gosto peculiar, difícil comparar com alguma coisa.
Durante o almoço algumas pessoas
me recomendaram permanecer na cidade e partir apenas na manhã seguinte em razão
da violência (?) na estrada. Eu bem que fiquei tentado a descansar no local,
mas não encontrei nenhuma hospedagem simples pelo caminho e por isso continuei
a viagem.
Minha saída de Riohacha
significava entrar em território indígena e não demorou para aparecerem as
primeiras comunidades à beira da estrada. Mas sinceramente eu estava bem
tranquilo em relação aos boatos de assalto e violência. Já ouvi tanta coisa
nestes meses de estrada que já estou acostumado com esse alvoroço que muitas
vezes não termina em nada.
Território indígena.
A maior parte das comunidades
indígenas está mais afastada da estrada e escondida por uma vegetação parecida
com a do agreste nordestino fora da época de seca. Seus moradores apresentam
apenas os traços indígenas e aparentemente são “modernos” e com vestimentas
normais. Certamente algum costume ancestral deve permanecer, mas como não houve
um contato mais próximo não sei precisar qual.
A estrada é praticamente toda
plana e somente não permitiu um deslocamento mais rápido em razão do vento
(brisa como eles chamam) contra. A temperatura também estava elevada e a minha
água foi consumida em tempo recorde. Isso que agora carrego quase 4 litros na
bagagem. Como o trajeto não tem nada além das comunidades indígenas, uma hora
eu teria que pedir água para eles e então poderia ter uma idéia de qual seria a
recepção.
Parei em uma casa às margens da
rodovia e solicitei um pouco de água. Não houve muita conversa, mas não
hesitaram em completar minhas garrafas. A única curiosidade que eles tiveram
foi saber de onde eu era e para onde seguia viagem. Em nenhum momento me pareceram
perigosos. Até pode ser que um e outro caso isolado tenha acontecido na região,
mas acho que infelizmente as pessoas acabam por generalizar e o preconceito se
espalha de forma assustadora.
Logo depois de abastecer as
garrafas eu fui chamado do outro lado da estrada. Havia uma caminhonete
estacionada e várias pessoas na frente de uma casa. Chamaram-me apenas porque
estavam curiosos para saberem mais detalhes da viagem. Ofereceram um copo de
água gelada e recomendaram que eu encerrasse o pedal em Cuatro Vias onde havia
um posto policial e eu poderia montar minha barraca. O alerta deles estava
relacionado mais ao fato que a noite se aproximava e o mesmo não acontecia com
a fronteira com a Venezuela. Agradeci as informações e continuei em frente.
Em um determinado momento (km 42)
apareceu um pedágio e um policial fez sinal para eu encostar a bicicleta. Ele
queria apenas fazer a mesma advertência que eu já havia recebido sobre os
indígenas da região. Também recomendou terminar o pedal em Cuatro Vias onde o
posto policial era seguro para passar a noite. Mas lembrou que eu deveria
pedalar rapidamente porque o local estava a aproximadamente 15 quilômetros.
Eu estava cansado, mas achei
forças para empregar um ritmo mais forte para chegar o quanto antes em Cuatro
Vias. Não estava com medo dos índios, somente não gostaria de montar
acampamento muito tarde. Sei que não demorei para chegar ao local desejado. Às
18 horas eu pedia autorização aos policiais para montar minha barraca em algum
lugar seguro. Solicitaram meu passaporte e depois foram comunicar o comandante
sobre a minha presença. Com a resposta positiva fui liberado a passar a noite
debaixo de um enorme quiosque desativado ao lado do posto policial. Perfeito.
Rapidamente levantei acampamento
e pouco tempo depois estava tudo organizado. Até havia uns restaurantes no famoso
trevo da região, mas achei melhor não deixar minhas coisas sozinhas, apesar da
segurança oferecida pelo “vizinho”. Para não dormir com fome preparei um café
da noite. Às 19 horas estava preparado para finalmente descansar.
Dia finalizado com 138,44 km em
9h53m e velocidade média de 14,00 km/h.
NELSON MEU CAMARADA SHOWWWWWW MUITO SHOWWWWWW MESMO MEU CAMARADA TENHA UMA BOA VIAGEM AI AGORA EU TO ME ATUALIZANDO NO SATE TA UM SHOWWWWWWWWW E A LA VITORIA COMO VAI .......
ResponderExcluirHÁ MEU CAMARADA JÁ IA ESQUECENDO AGORA VOU LER AS NOVIDADES DA VENEZUELA ,,,,,,,,
ResponderExcluirFiquei pensando sobre o encontro dos "Nelsons". Vivi algo parecido em 2010, no Caminho de Santiago. A nossa desconfiança e a nossa "rudeza" por conta do que a vida nos apresenta deixa-nos meio petrificados diante de uma pessoa simples e evoluída.
ResponderExcluirO mais interessante disso tudo é que, observando por outro prisma, você, Nelson, apareceu na vida de algumas pessoas, mesmo à distância, e pode ter modificado seus modos de encarar suas próprias vidas.
Pense nisso.
Força, companheiro!
Lindo relato Nelson, maravilhoso acompanhar sua viagem.
ResponderExcluirTudo de bom.
Esse pôr do sol no mar do caribe é brincadeira...
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