12/09/2012 - 66° dia - La Paz
(Folga).
Ontem, finalmente, consegui
concluir a atualização do site. Foram 10 horas seguidas sentado na frente do
computador da lan house. Mas valeu a pena porque outra etapa da expedição já
está compartilhada e isso é muito significativo, pelo menos para mim.
Com as postagens em dia, estava
na hora de conhecer um pouco melhor La Paz. Afinal, atrações não faltam na
maior cidade da Bolívia. No entanto, não acordei cedo. Tranquilo e sem precisar
pedalar, resolvi descansar bastante. Levantei já passavam das oito horas,
preparei meu café da manhã, peguei os mapas da cidade, meu guia da América do
Sul e comecei a estudar por onde iniciaria minha jornada de visitas. Optei pela
Plaza Murillo, considerada a mais importante da cidade, não por menos, neste
ponto estão localizados, nada mais do que o Palácio Legislativo, Palácio
Presidencial e por fim, a Catedral. Desse modo, achei que seria uma boa começar
a conhecer a “capital” por essa região.
Minha saída do alojamento foi
apenas por volta das 10 horas da manhã e antes de ir à Plaza, resolvi passar na
lan house para conferir rapidamente meu e-mail, por sorte, encontrei meu irmão,
desde o começo da viagem não conversava com ele, que estava sem internet. Por
não mandar notícias, pensei que ele não acompanhava a expedição, no entanto,
atentamente, seguia todas as postagens pelo celular. Fiquei muito feliz em
saber que meu hermano está de olho em todos os detalhes desta aventura pela
América do Sul. Abraço, Dé.
Acabei por ficar mais tempo do
que pretendia na internet e com o passar das horas, saí da lan e fui almoçar no
mesmo lugar dos dias anteriores, um modesto restaurante na Avenida Illampu,
apenas há uma quadra da hospedagem onde estou. No local, a refeição custa menos
de quatro reais. A sopa é simplesmente uma das mais completas de toda a viagem
na Bolívia, repleta de legumes, uma delícia. Já o segundo prato não deixa de
ser gostoso, mas a comida é pouca para um estômago que necessita de alimento.
Assim, almoço e vou procurar outro estabelecimento para completar a refeição.
Ainda na Avenida Illampu, esquina
com a Santa Cruz, encontro um restaurante no segundo andar de um prédio, local
simples e a comida custa pouco mais de 4 reais. Aqui, acontece o inverso do
primeiro restaurante, menos sopa e mais comida no segundo prato, detalhe para a
salada que fica pode ser servida à vontade e ainda um copo de suco. Resultado é
que eu comi mais do que minutos antes e quase rolei as escadas quando me
retirei do restaurante. Minha barriga estava extremamente cheia, também,
pudera, duas refeições. Era para eu seguir até a Plaza Murillo na sequencia,
mas a pança cheia não deixou e fui obrigado a retornar ao alojamento onde
esperei um pouco antes de caminhar pelo centro.
Calle Mechor Jimenez
Hospedaje Jimenez
Com o mapa da cidade em mãos não
tem segredo andar por La Paz. O centro da cidade, com sua limitação geográfica,
acaba sendo bem propício para caminhar, já que seu espaço urbano não é grande,
se comparado com outras capitais. Enfim, melhor para mim que não preciso cansar
para conhecer os lugares. (risada sacana).
Sigo na direção da Iglesia San
Francisco e posteriormente ao Obelisco que fica entre duas importantes
avenidas, Sucre e Camacho. Deste ponto sigo pela Calle Socabaya que vai direto
para a Plaza Murillo. No caminho, uma surpresa, policiais bloqueiam a passagem
que também leva até à catedral. O motivo era evitar a presença de manifestantes
mineiros que realizavam protestos com bloqueios de estradas na região. Sei que
também fui impedido de passar, mas continuei a andar na busca de outras ruas
que me levasse ao local desejado.
Iglesia San Francisco.
Elegância, aventura e conforto.
Obelisco
Não demorou muito e encontrei uma
rua que, apesar dos policiais, minha passagem foi permitida, metros depois eu estava
na Plaza Murillo e diante dos importantes prédios que circundam a mesma. O
Palácio Legislativo, sem dúvida é o que mais chama atenção em razão da sua arquitetura.
O prédio presidencial é simples e na sua entrada, soldados fazem a guarda do
local. O mesmo acontece com a catedral que fica ao lado. Já na praça, o que
mais se destaca não é a estátua do ex. presidente Gualberto Villarroel e sim a
quantidade de pombos. Nunca presenciei tantas aves desse tipo em um único
espaço. Na Plaza 25 de Mayo em Sucre havia várias delas, mas nada se compara
com o que existe aqui, nada que eu conheça. Turistas e moradores locais
contribuem para o crescimento populacional dos pombos. Eles alimentam os
pássaros que ao notarem presença de comida, não hesitam em se pendurarem por
todas as partes do seu corpo, simplesmente incrível. Observei toda a
movimentação, registrei e depois peguei o mapa para ver meu próximo destino.
Mirador Killi-Killi não estava próximo, mas decidi conhece-lo.
Plaza Murillo
Palácio Legislativo
Catedral
Catedral
Palácio Presidencial
In foco.
In foco.
O mirante Killi-Killi fica na
Villa Pabón, segui a pé na direção do mesmo, contudo, mesmo com os mapas, foi
preciso pedir informação. Uma mulher disse que estava muito longe e o lugar
ficava bem no alto de um morro (evidente!). Ela aconselhou que eu retornasse
três quadras e pegasse um ônibus verde-claro que estivesse escrito Villa Pabón.
Resolvi perguntar o preço da corrida a um taxista, 10 bolivianos, muito caro. Outro
taxista me chama e diz que faz por 7, acho o valor alto e ofereço 5 bolivianos,
ele aceita. O motorista pergunta se sou israelense, mais uma nacionalidade que
ganho durante a viagem. Também, com essa minha barba, o que mais eu queria? Sei
que o taxista pegou alguns atalhos e logo estávamos no mirante.
Que visão! Logo que cheguei à La
Paz, tive a oportunidade de ter um panorama quase completo da capital. Agora,
no Killi-Killi, a paisagem está completa. E ela é soberba, conforme afirmava
meu guia. O local é alto e proporciona uma imagem maravilhosa. Entre os maiores
destaques, sem dúvida dois chamam atenção. O estádio Hernando Siles, que,
provavelmente é um dos mais altos do mundo. Afinal, está localizado a 3.637
metros de altitude. O estádio há alguns anos foi interditado pela FIFA para jogos
oficiais (lembro bem desse episódio!), mas na sequencia, com justiça, foi
liberado. A justificativa de banir os jogos era por causa dos efeitos da
altitude. Quem manda os jogadores de fora serem despreparados? (outra risada
sacana). A outra observação inevitável é com o monte coberto de gelo que é
possível ver de várias partes da cidade. Infelizmente ainda não descobri seu
nome, desconfio que seja o Illimani. Em todo caso, sua imponência é digna de
respeito e admiração.
Mirante Kili-Kili
Estádio Hernando Siles.
In foco.
Presença garantida e registrada no Mirante Kili-Kili.
Catedral vista do Mirante Kili-kili
No local encontro dois
brasileiros, um da Bahia e outro de Minas Gerais, galera gente boa. Conversamos
um pouco e resolvemos ir visitar o estádio que não fica muito longe do mirante
e ainda está localizado em uma área baixa, logo, o deslocamento foi rápido,
feito à pé mesmo. Bastou pedir informação e seguir na direção recomendada. Em
poucos minutos estávamos na Plaza Arqueológica, que, por sua vez, fica em
frente ao Hernando Siles. O estádio é grande e procuramos a entrada para
conhecer o interior do mesmo, contudo, nossa visita não foi permitida porque
era dia de jogo pelo campeonato boliviano de futebol. Uma pena! Mas só de estar
no local já valeu a caminhada.
Plaza Arqueológica e Estádio Hernando Siles.
In foco.
Estádio Hernando Siles.
Eu segui em direção ao Mercado
Público Camacho e os outros brasileiros pegaram um taxi para o centro. O
mercado não estava muito longe, mas foi preciso caminhar um pouco. No local,
decepção. O prédio é novo, moderno e tudo mais, no entanto, pouco atrativo, não
se compara a nenhum outro que visitei até agora. Até o mercado central de Uyuni
é mais interessante. Fiquei apenas alguns minutos e segui para a região onde
estou hospedado. Pensei em pegar um ônibus, mas pelo mapa percebi que não era seria
tão longe assim, fui a pé.
Uma parte mais rica de La Paz.
Moderno e nada interessante.
Durante o trajeto, caminho pelo
centro da cidade, bem movimentado, seja por veículos, pessoas ou ainda pelo
comércio diversificado da Avenida Camacho. A cidade, neste ponto, não se
diferencia das outras grandes capitais. Por isso, não sou surpreendido pela
agitação e continuo tranquilamente minha caminhada entre o povo boliviano.
Poucos minutos depois estou diante do Obelisco onde o fluxo de veículos é ainda
maior e o trânsito é bem lento.
Centro
Mesma prática que acontece na cidade de Potosí.
A luta continua.
Para minha sorte eu estava a pé e
não precisei esperar o trânsito fluir e cheguei rapidamente à Iglesia San Francisco
e na sequencia no Mercado das Bruxas, um local que compreende algumas ruas
acima da referida igreja. A venda de artesanatos é um dos pontos fortes do
lugar, sobretudo, roupas produzidas a partir da lã de lhamas e alpacas.
Entretanto, o que chama atenção são os vários estabelecimentos que vendem
produtos místicos, exóticos e esdrúxulos. O povo boliviano é bem ligado a
rituais e aqui se encontra de tudo para realiza-los. O item mais inusitado é o
feto de lhama, encontrado com bastante facilidade. O mesmo é utilizado para
rituais de boa sorte. Vale dedicar minutos de uma calma caminhada pela região
para conhecer melhor essa parte da cultura da Bolívia.
Calle de las Brujas
Calle de las Brujas
In foco.
In foco.
Calle de las Brujas
Calle de las Brujas
Feto de lhama.
Calle de las Brujas
Calle de las Brujas
In foco.
In foco.
Mercado das bruxas.
Mercado das bruxas
Transporte público de La Paz.
Aqui na região do Mercado das
Bruxas tem várias agências de turismo e resolvi perguntar sobre os passeios de
bicicleta, o famoso downhill pela Estrada da Morte até Coroico e também quanto
custava para realizar a visita à Tiahuanaco. A primeira atração está entre 300
a 600 bolivianos, depende do tipo da bicicleta. Incluso no pacote está café da
manhã, o transporte até El Cumbre, descida, almoço (buffet) e banho de piscina
em um hotel, camiseta, fotos e vídeos. O preço não é barato e o valor mais em
conta vai sair por praticamente 100 reais, certamente vai pesar no bolso, mas é
algo que parece ser imperdível e que é altamente recomendável por aqueles que
tiveram a oportunidade de descer a “estrada mais perigosa do mundo”. O passeio
começo às 7 horas da manhã e termina somente às 19 horas. Apenas fiz uma
pesquisa nas agências, ainda vou decidir qual dia vou fazer.
Já o passeio para Tiahuanaco (72
km de La Paz) é mais barato, inicialmente 60 bolivianos, mas consegui, após
pedir desconto, por 50 bolivianos, algo em torno de 16 reais. Incluso no pacote
está o transporte à cidade de Tiahuanaco e guia. O pagamento da entrada nas
ruinas e museus anexos é feita no complexo turístico e custa 80 bolivianos. Não
é barato, mas um historiador não pode perder a oportunidade de conhecer melhor
o quão avançada foi a cultura pré-incaica que viveu centenas de anos no
altiplano. Assim, fiz a reserva na Agência New Continental, onde fui bem
atendido pela Mary que curtiu demais minha viagem de bicicleta. Inclusive, acho
que vou fechar o passeio para Coroico aqui, vamos ver.
Já de noite, volto para a Avenida
Illampu para comprar pão e retorno ao alojamento. Como estava sem comer desde o
almoço, preparo vários pães com geléia e logo em seguida faço uma macarronada
de atum. Para não sobrar macarrão, faço o que resta no pacote, mas isso acaba
sendo muita coisa, ainda assim devoro tudo. No final minha barriga está
estufada (de novo!) e eu todo feliz, penso: ganhei todos os quilos que havia
perdido. Vale lembrar que a minha refeição de meio dia foi dobrada. Desse modo,
não demorou muito para eu sentir certo desconforto com tanta comida, mas já era
tarde e eu deveria acordar cedo no outro dia, porque o guia estaria aqui na
hospedagem às 08h15min para seguirmos à Tiahuanaco. Assim, fui tentar dormir e
descansar.
13/09/2012 - 67° dia - La Paz
(Folga).
Meu dia começou muito, mas muito
antes do que o previsto. Ainda não eram quatro horas da madrugada quando fui
obrigado a levantar e fazer uma visita ao banheiro. Eu estava mal! A minha
barriga continuava cheia em razão das várias refeições realizadas no dia
anterior. E meu organismo simplesmente não conseguiu fazer a digestão de tanta
comida.
Após a visita ao banheiro, tudo
fica pior e o desconforto é enorme, começo a ter ânsia de vômito e pego uma
sacola como prevenção, ela, infelizmente, não demorou a ser utilizada. Minha
tristeza era ver que todo o peso adquirido estava indo embora. Tento deitar e
dormir, mas não foi possível. Sou convidado a comparecer ao banheiro outras
vezes. Que situação desagradável! A minha sorte é o que banheiro fica no
interior do quarto, ainda assim ninguém merece acordar pela madruga.
Minhas visitas ao banheiro
duraram até às 8 horas da manhã. Assim, foi impossível dormir. E para variar, conforme
o combinado, o guia da agência apareceu no alojamento às 8h15m para seguirmos à
Tiahuanaco. Claro que eu estava sem condições de fazer o passeio, expliquei a
situação e perguntei sobre a possibilidade de trocar de dia. Foi então que o
guia me disse que seria muito difícil. Em
todo caso, falei que passaria na agência para ver o que poderia ser feito.
Só o que faltava era eu perder 50
bolivianos pagos para ir à Tiahuanaco. Tudo por causa da violenta indigestão.
Agora eu pagava pelo abuso das refeições. Lamentar não leva a nada, então que
eu aprenda com a situação e não repita a gula de ontem. Assim, me restou apenas
preparar um chá para o desayuno. Não queria ver comida na minha frente. Quem
diria!?
Tomei meu chá e fui deitar um
pouco, afinal não dormi quase nada. Mas isso também não aconteceu pela manhã
por causa do desconforto estomacal. Com a minha condição eu não tinha como
planejar nada para o resto do dia, antes do meio dia, um pouco melhor, vou à
lan house para entrar na internet. Fico na torcida para não ser convidado a comparecer
ao banheiro. Por sorte nada de anormal acontece. Como era próximo do meio dia,
saio da lan e vou ao restaurante almoçar. Apesar dos pesares eu não poderia
deixar de comer e perder ainda mais peso. Então fui ver como meu organismo
reagiria com mais comida. Novamente foi tudo tranquilo.
Após o almoço vou à agência de
turismo para ver o que poderia ser feito. Fui no período da tarde pois era o
horário que a Mary (atendente) me disse que trabalhava. No entanto, no
estabelecimento estava somente uma outra funcionária que pediu para eu voltar
após às 16 horas e tentar resolver a situação com moça que me atendeu no dia
anterior. Beleza!
Como eu não poderia fazer muita
coisa resolvi voltar à lan house na intenção de responder os comentários do
site, havia um bom tempo que gostaria de fazer isso. Sei que após as 4 horas da
tarde, retornei à agência e encontrei com a moça que procurava. Ela disse poder
resolver meu caso, mas então fez uma pergunta cruel. Questionou se eu estava em
condições de ir ao passeio amanhã. E agora? Eu ainda não estava 100% e havia
sinais que eu poderia ser surpreendido pelo organismo. Naquele momento eu não
soube responder e ela pediu para que eu retornasse até às 20 horas. Tudo bem!
Das 16 às 19 horas, consegui ter
uma resposta. Eu não tinha condições de fazer o passeio amanhã. Então voltei na
agência para dizer que não poderia fazer a reserva. Mas quando cheguei ao
local, surpresa, o mesmo estava fechado. Bom, restava-me regressar na tarde do
dia seguinte para solucionar o caso.
Na volta para o alojamento,
decido passar em uma farmácia. Não sou adepto de remédios e raramente preciso
deles, mas eu não cogitava permanecer naquele estado. No estabelecimento
explico minha condição e sou orientado a levar dois tipos de comprimido, um
deles, enzimas digestivas. Poderia ter acontecido duas coisas; alimentação
contaminada ou excesso de comida e consequentemente a má digestão. Sinceramente
eu acredito que tenha sido a segunda opção. Afinal, tudo aconteceu após o
jantar que estufou minha barriga. Gula!
Já na hospedagem, a minha janta
de hoje foi somente alguns pães com chá para não pesar o estômago. Aproveito e
tomo os comprimidos, conforme fui recomendado. Após um tempo vou dormir,
precisava descansar. Fui para a cama na torcida para não ter o mesmo
comportamento da noite anterior.
14/09/2012 - 68° dia - La Paz
(Folga).
A noite foi quase tranquila.
Acordei apenas uma vez para ir ao banheiro por volta das 2h30m. Às quatro horas
da madrugada meu celular despertou, estava na hora de tomar outro comprimido.
Neste momento eu já estava melhor e consegui dormir até às sete horas. Levantei
bem disposto e com fome. Fui preparar meu café da manhã, sem exageros. Na
sequencia resolvi tomar um banho para começar bem o dia.
Enquanto estou no banho ouço
alguém bater na porta. Penso que é alguma advertência pelo tempo no chuveiro,
apesar de estar poucos minutos debaixo da água quente. Desligo o chuveiro para
escutar melhor o porquê estavam a me chamar. Surpresa! Era uma funcionária da
agência de turismo dizendo que havia a possibilidade de fazer o passeio hoje,
mas que eu deveria pagar 30 bolivianos, algo em torno de 10 reais. Fico
realmente surpreso e pergunto que horário seria a saída. Às nove horas da
manhã. Tínhamos apenas 15 minutos para encontrar com o pessoal que também faria
o passeio.
Que correria! Primeiro tive que
colocar minha roupa em tempo recorde. No entanto, não achava minha máquina
fotográfica, após revirar o quarto, finalmente achei e então seguimos em ritmo
frenético ao local onde o ônibus aguardava para partir. Corremos por várias
quadras entre o já movimentado trânsito da região central e quando o ônibus
começava a sair, chegamos. Ufa!
O veículo está repleto de
turistas, a maioria europeus. Apesar do meu atraso, depois que embarquei,
outras pessoas chegaram. Finalmente partimos em direção à Tiahuanaco. Claro que
eu não gostei de pagar 30 bolivianos a mais, no entanto, eu aproveitaria o dia
para realizar a visita histórica. E vale ressaltar que apenas aceitei realizar
a viagem (150 km ida e volta) porque eu estava realmente muito bem. Acho que
meu organismo voltou à normalidade.
Foram mais de 1h30m de viagem até
chegarmos ao local desejado. O caminho utilizado foi a Ruta 01, inclusive,
passei novamente pela cidade de El Alto, contudo, desta vez, em outra área, que
também mostrou a significativa extensão territorial do município e seu
conturbado trânsito. Todavia, após El Alto, o trajeto é mais tranquilo pelo
altiplano e a nós, passageiros, bastou observar a paisagem. No interior do
veículo foi possível notar que o acostamento não está nas melhores condições e
nas proximidades de Curva Pucara começa um trecho de subida. Portanto, se você
vier pedalar pela região, esteja preparado e boa viagem.
Na cidade de Tiahuanaco nos
dirigimos ao complexo turístico e na entrada do mesmo é notória a presença de
vários turistas, a começar pela quantidade de ônibus (muitos de excursões de
escola) no estacionamento do local. O número de visitantes é atribuído,
sobretudo, em razão dos sítios arqueológicos que o lugar compreende,
considerados os mais importantes da Bolívia.
Tiahuanaco
Tiahuanaco
Tiahuanaco
Tiahuanaco
Tiahuanaco
Nossa primeira visita foi ao
Museu Cerâmica que apresenta mapas sobre a expansão da cultura Tiahuanaco,
painéis cronológicos, diversas peças em cerâmica e prata, múmias e também o
processo avançado de agricultura que mostra como as técnicas eram empregadas e foram
fundamentais para o desenvolvimento de sua população. Vale destaque para o modo
utilizado para o cultivo de batatas, aliás, estas foram “domesticadas” em
Tiahuanaco e posteriormente levadas a outras partes do mundo, como lembrou
nosso guia.
O Museu Cerâmica, apesar de
pequeno é bem interessante. Infelizmente não é permitido fotografar, mas é
possível ter uma idéia de como a civilização de Tiahuanaco estava avançada,
inclusive, utilizavam a astronomia e chegaram a estabelecer calendários a
partir da mesma. A cultura Tiahuanaco dominou o altiplano por centenas de anos
e sua história remonta a 1500 a.C. e está dividida em períodos, denominados:
Período Aldeano I e II; Urbano Temprano III; Clássico IV e Imperial V.
Na sequencia nossa passagem foi
pelo Museu Lítico, onde a principal atração é o monolítico de 8 metros e 20
toneladas. A obra é simplesmente espetacular. Ela foi encontrada por um
arqueólogo nas ruinas de Tiahuanaco em 1932 e no ano seguinte transferida para
La Paz, no que hoje é chamada Plaza Arqueológica que fica na frente do estádio
Hernando Siles. No entanto, com o decorrer dos anos a obra sofreu danos das
mais diversas formas e há poucos anos foi transferida para o local de onde não
deveria ter saído. Na praça em La Paz atualmente existe uma cópia do
monolítico. Interessante é observar a forma como as figuras estão distribuídas,
todas são repletas de significados. Nosso guia tratou de nos explicar a maioria
deles. Infelizmente não foi possível fotografar o local, no entanto, a cópia
existente em La Paz foi registrada e está aqui no site.
Após a visita aos museus nos
dirigimos para a parte mais esperada, o sitio arqueológico de Kalasasaya. No
local, a primeira parada é na Pirâmide de Akapana, onde temos apenas uma idéia
da dimensão do seu tamanho real, já que boa parte ainda está enterrada. Aliás,
60% de Tiahuanaco já não existe mais. E do que restou, menos de 10% foi
descoberto pelas escavações, estas, pelo que pudemos perceber acontece a um
ritmo mais lento do que a atividade precisa. O motivo, a falta de dinheiro. O
trabalho que ocorre hoje é realizado a partir do pagamento da entrada ao
complexo turístico, que custa 80 bolivianos.
In foco.
In foco.
In foco.
Pirâmide de Akapana
Pirâmide de Akapana
Pirâmide de Akapana
Talvez o mais interessante deste
sítio de Kalasasaya, seja seu templo homônimo, onde funcionava o centro
cerimonial politico e religioso do Império Tiahuanaco. “Recinto ceremonial que
tiene forma retangular y esta orientado de este a oeste, es decir, del saliente
al poniente. En su interior, existen subdivisiones físicas que expresan
legibles espacios de interacción ceremonial y 14 cuartos que están alienados
junto a los muros norte y sur”. No local, o monumento mais singular e
significativo é a Puerta del Sol, uma estrutura arquitetônica e com uma
iconografia ainda não decifrada em sua totalidade e que com várias
interpretações, segundo a placa na frente da escultura.
In foco.
Puerta del Sol
In foco.
In foco.
Kalasasaya visto do alto da Pirâmide Akapana.
In foco.
Em Kalasasaya ainda observamos o
Bloque Megáfono, que consiste em um bloco que contém um buraco na forma do
ouvido humano e que se transforma em um megafone, na época, utilizado para que
as várias pessoas presentes nas cerimonias conseguissem ouvir os “governantes,
los chamanes y otros espiritistas”. O guia fez uma demonstração e realmente o
som é bem amplificado. O que também podemos constatar foram os altares para os
ritos religiosos. Há ainda, um local onde animais (entre eles, fetos de lhama)
eram sacrificados e oferecidos à Pachamama.
Bloque Megáfono
In foco.
Altar.
Local de oferendas.
In foco.
No templo de Kalasasaya tem o
monolítico Ponce e Fraile, o primeiro, uma escultura antropomórfica que foi trabalhada
por igual em todas suas dimensões, no entanto, o que chama atenção é a história
que envolve a obra. Após a chegada dos espanhóis, os mesmos tentaram destruir
Ponce, no intuito, de acabar com qualquer iconografia que não se remetesse ao
cristianismo, no entanto, não lograram êxito em decapitar a escultura e como
alternativa, em um dos braços, foi inserida a figura de uma cruz, na pretensão
de exorcizar os demônios que estariam representados pelo monolítico.
Monolítico Ponce
A marca dos espanhóis.
Fraile é um monolítico também com
forma antropomórfica, contudo, está menos conservado do que a escultura Ponce,
mas isso não significa que o mesmo deixe de ser observado. Destaque para as
cores. O lado escuro sinaliza a parte que estava enterrada.
Monolítico Fraile.
In foco.
Ao lado da entrada de Kalasasaya
existe o Templete Semisubterraneo, um local no mínimo curioso, primeiro por sua
localização, abaixo do solo, depois pelas várias cabeças cravejadas em suas
paredes. Existem duas hipóteses sobre elas, poderiam representar seus
governantes ou então os espíritos do mal, uma vez que o local encontra-se
abaixo da terra. Do Templete Semisubterraneo é possível ter uma visão
esplendida da entrada de Kalasasaya e sua posição estratégica, uma vez que por
sua porta o sol passava duas vezes por ano, no solstício e equinócio.
Templete Semisubterraneo visto do alto da Pirâmide Akapana.
In foco.
In foco
.
.
In foco.
In foco.
Entrada de Kalasasaya
Entrada de Kalasasaya
Registro garantido!
Nos despedimos de Kalasasaya e o
ônibus nos levou a um restaurante para o almoço. A refeição não foi barata, 35
bolivianos, a mais cara de toda a minha viagem pela Bolívia, pouco mais de 11
reais. Pensei duas vezes antes de resolver almoçar, mas decidi comer. Foi uma
excelente idéia. O cardápio era a sopa (quinua) de entrada e o segundo prato
era salada, arroz, batata frita e as opções: omelete/carne de lhama/truta. Meu
pedido foi truta, outra boa escolha. Estava uma delícia! Com exceção do
pescado, o menu poderia ser repetido, já que era servido em um pequeno buffet.
Claro que aproveitei, com moderação.
Pensei que após o almoço
voltaríamos para La Paz, mas o passeio ainda não havia terminado e nos
dirigimos ao sítio arqueológico de PumaPunku, onde está localizado o maior
templo já encontrado em Tiahuanaco. Enormes blocos de pedras polidas podem ser
observados, um deles chega a pesar 132 toneladas. A maior parte do templo está
abaixo da terra, no entanto, a perfeição dos blocos em baixo relevo é algo
realmente admirável.
In foco.
O maior templo descoberto em Tiahuanaco.
Após a visita à PumaPunku, o
passeio em Tiahuanaco estava finalizado e então retornarmos à La Paz, onde
chegamos por volta das 5 horas da tarde. Conhecer Tiahuanaco foi sem dúvida
interessante. Não é sempre que estou diante das realizações de uma civilização pré-incaica,
extremamente avançada e que deixou imensas contribuições para a cultura sul-americana.
E isso é viver a história da nuestra América.
A modernidade.
Manifestação em La Paz.
Em La Paz, ainda fui procurar uma
agência para fazer a descida de bicicleta na Estrada da Morte. Após algumas
pesquisas, havia decidido contratar o serviço por uma agência (Free Bike) que
cobrava 300 bolivianos, menor preço encontrado. No entanto, não havia saídas
para sábado e tive que ir atrás de outro estabelecimento. Então voltei na
agência Barro Biking, onde tinham me cobrado 350 bolivianos mais o pagamento de
25 bolivianos em Coroico. Após um tempo de negociação, consegui desconto e tudo
saiu por 350 bolivianos, pouco mais de 110 reais. Claro que não é barato, mas
esse valor já estava no meu orçamento desde o Brasil. O que consegui economizar
durante a viagem foi gasto aqui. Não poderia deixar de realizar a descida
daquela que é considerada a “estrada mais perigosa do mundo”.
Na agência o pacote completo
inclui; bicicleta, transporte, camiseta, alimentação, cd com fotos e vídeos e
mais todo o equipamento de segurança para a descida. A saída ficou programada
para às 7 horas de amanhã. Agora é aguardar a esperada pedalada pela Estrada da
Morte. Espero sobreviver para escrever no diário de bordo como foi a
experiência.
15/09/2012 - 69° dia - La Paz
(Folga).
Estrada da Morte.
Finalmente chegou o grande dia.
Conhecer e pedalar por aquela que é conhecida como a “estrada mais perigosa do
mundo”.
Coloquei o celular para despertar
e às 6 horas da manhã já estava de pé, afinal, eu deveria estar às 7h00m na
frente da agência Barro Biking, que fica próxima de onde estou hospedado.
Preparei meu desayuno e fui encontrar com o pessoal. No local, soube que o
grupo era formado por cinco bolivianos animados e simpáticos, uma belga mais
tímida e o brasileiro aqui. Mais dois guias e o motorista da van.
Na saída de La Paz. Transporte da agência.
Os bolivianos atrasaram e nossa
saída aconteceu meia hora depois do planejado. Sem problema. O clima no veículo
estava bem divertido e foram várias risadas no percurso de pouco mais de uma
hora entre La Paz e La Cumbre, lugar onde começaríamos o pedal montanha abaixo.
Durante o caminho para La Cumbre, muita subida, afinal saímos dos 3.650 metros
de La Paz e chegamos aos 4.670 metros.
Em La Cumbre, uma paisagem
incrível. O dia estava perfeito para realizar a descida. O frio, como não
poderia ser diferente, se faz presente, mas não é nenhum obstáculo. Os guias
distribuem as roupas impermeáveis e equipamentos de segurança. Não demora muito
e estamos todos prontos para começar a aventura. Por volta das 9 horas da
manhã, partimos, mas não sem antes registrar o momento.
Aventureiros da Estrada da Morte. El Cumbre.
Yo en El Cumbre.
O desafio vai começar.
El Cumbre. 4670 metros de altitude.
O primeiro trajeto da descida é
de vinte quilômetros entre La Cumbre e o posto policial onde é cobrada a taxa
de 25 bolivianos. O trecho é asfaltado e ainda não é a estrada da morte, no
entanto, a região é alta, mas muito alta mesmo. Já estive em lugares onde a
altitude é bastante elevada, contudo, nesta parte dos Andes, a profundidade é
algo inacreditável e a sensação é incrível. Assim, as montanhas, algumas cobertas
de gelo, são sem dúvidas, as mais altas que já vi na minha vida.
Nas alturas.
Registro imperdível.
Os primeiros quilômetros de descida no asfalto.
Começa o downhill .
A rodovia é perigosa, penhascos
estão por todas as partes e o tráfego de veículos, apesar de não ser intenso,
existe. Somos orientados a seguir em fila indiana com uma distância de cinco
metros entre cada bicicleta para evitar qualquer acidente. Várias placas
alertam sobre a presença de ciclista na pista. E não é por menos, a rota é
clássica e diversas pessoas fazem a descida no pedal. Em La Cumbre, muitos
grupos se preparavam para encarar o desafio.
In foco.
In foco.
In foco.
Adrenalina pura.
Adrenalina. Descer em alta
velocidade com toda essa paisagem e altura é sensacional. Nosso grupo faz
algumas paradas para as fotos e logo estamos novamente no ritmo alucinante.
Destaque para o guia que faz os registros fotográficos, o cara tem que ser
profissional para pedalar na descida e ainda tirar as fotos.
A primeira parte termina no posto
policial, local onde devemos pagar a entrada para descer até Coroico.
Estrangeiros pagam 25 bolivianos. Aqui as bicicletas são colocadas na van e
seguimos em direção ao início da Estrada da Morte. Este trajeto foi bem rápido.
No caminho, as montanhas conseguem ficar mais altas e o vale cada vez mais
profundo.
Posto de controle.
Sentir-se próximo do céu sem sair
do chão. Essa era a sensação no começo da Estrada da Morte em Unduavi. Que
altura! Agora a estrada é de rípio: terra e muitas pedras. No horizonte é
possível ver a continuação da estrada à beira dos precipícios. Recebemos outra
orientação, desta vez, para permanecermos sempre no lado direito, longe dos
desfiladeiros. Afinal, ciclistas que realizavam o passeio morreram durante a
descida. Mas não é somente por isso que o local leva este nome. Há pouco tempo
o caminho era a alternativa entre a região dos Yungas e La Paz. Muito
utilizado, o trajeto estreito e à beira de penhascos, somado com o clima, às
vezes, adverso fez muitas vítimas e tornou o lugar conhecido mundialmente.
Estrada da Morte
Estrada da Morte. Aqui começa o verdadeiro desafio na "estrada mais perigosa do mundo"
A descida de Unduavi até Yolosa é
de quarenta quilômetros. E com certeza, cada metro desta estrada é único, seja
pela paisagem ou o perigo constante que acompanha todo o trajeto, que por sua
vez, é marcado por inúmeras curvas fechadas, estas exigem do ciclista toda
atenção. Até é possível descer com certa velocidade, desde que você esteja
acostumado a pedalar por terrenos deste tipo. Caso contrário, faça a descida
bem tranquilo e aprecie a paisagem. Segundo nosso guia, não faz muito tempo que
uma coreana morreu enquanto fazia uma curva. Em seis anos de trabalho no local,
nos disse que já foram mais de oito turistas mortos e também um guia. Aqui não
é brincadeira.
Estrada da Morte.
Estrada da Morte.
Estrada da Morte.
Estrada da Morte.
Estrada da Morte.
Hoje a Estrada da Morte não é
mais utilizada, exceto por veículos de turismo e ciclistas. Uma nova rodovia
foi finalizada há poucos anos e agora a famosa estrada é exclusiva para aqueles
que têm a ousadia em percorrê-la. Assim, além da atenção com as curvas e
precipícios, você tem apenas que tomar cuidado com os demais ciclistas, eles
são vários, todos acompanhados em grupos.
Fazemos a segunda pausa para o
lanche por volta das 11h30m, a primeira foi no posto policial, onde recebemos
um chocolate e iogurte. Nesta segunda parada, pão com ovo frito e Coca-Cola,
simples, mas suficiente para dar uma energia extra e continuar a descida.
Na “estrada mais perigosa do
mundo”, você desce, desce e ainda continua alto, incrível. Sem dúvidas foi um
dos lugares mais fantásticos que eu já estive na vida. Recomendo para todos!
Vale cada centavo investido. E ainda bem que não fiz a descida com a Victoria.
O lugar é pedreira e acaba com a bicicleta. Eu desci com uma Trek de freios a
disco e bem preparada para realizar o downhill, assim é possível ser
“agressivo” durante o caminho sem se preocupar com a bike. Mas, continuar
atento com a estrada é fundamental. Em um determinado trecho o guia nos mostra
o local do último acidente, um carro que se perdeu na curva e caiu no
desfiladeiro. Quatro vítimas fatais. Do alto, é possível ver os destroços do
veículo.
Estrada da Morte.
Estrada da Morte.
Mira o precipício.
Pedal na estrada mais perigosa do mundo.
Estrada da Morte.
Literalmente, estrada da morte.
In foco.
Na descida existem paradas que se
tornaram clássicas para registros fotográficos e dessa forma, também garantimos
o nosso momento para a posteridade. A descida é cansativa para algumas pessoas,
uma boliviana do grupo chega a ficar exausta com a distância e a temperatura
que começa a aumentar conforme a altitude diminui. Eu continuava a descida na
maior felicidade, aproveitava cada metro da famosa e temida estrada.
Registro na Estrada da Morte.
Mais um pouco e adios.
A inspiração vem da capa do cd ao vivo do Biquini Cavadão.
Essa é a mais clássica de todas.
Galera animada. Valeu a companhia.
In foco.
Existe uma parada de controle em
Cerro Rojo para entrega do boleto comprado anteriormente. Tudo fica a cargo da
agência, você tem apenas que se preocupar em descansar e beber uma água, já que
o local é estratégico para isso. Aliás, daqui é possível ver a cidade de
Coroico que fica no alto de uma das montanhas, acima de Yolosa, final da
descida.
Descida a mil.
Cerro Rojo. No lado superior esquerdo; Coroico.
Chegada no posto de controle de Cerro Rojo.
Sentido à Yolasa
.
.
Que tal essa estrada?
Após duas horas e meia de descida
na Estrada da Morte, finalmente chegamos à Yolosa e seus 1.200 metros de
altitude. A temperatura que aumentou durante o caminho é ainda mais elevada
aqui na parte “baixa”. Aliás, eu não ficava abaixo dos 3 mil metros desde a
saída de Sucre, há mais de um mês. E também havia bastante tempo que não permanecia
sem blusa de frio. Em Yolosa foi possível ficar apenas de camiseta numa boa.
No final da descida, as
bicicletas são colocadas na van, devolvemos os equipamentos e seguimos para um
hotel em Yolosa. No local, um buffet aguardava os ciclistas famintos. Foi o
primeiro restaurante com um buffet de verdade que encontrei em quase dois meses
de viagem pela Bolívia. Faltou apenas o feijão, o resto estava à disposição.
Que maravilha! Repeti três vezes e para não passar vergonha argumentei aos
colegas do grupo que precisava de muita energia para continuar meu pedal.
(risada sacana). O almoço estava incluído no pacote, assim como o banho na
piscina do hotel. Mas como eu pensei que estaria frio, não levei roupa para
entrar na água. Mas aproveitei para descansar e apreciar a paisagem do local.
Passeio bem completo, dia inesquecível.
Tranquilidade merecida.
Por volta das 16 horas começamos
o retorno à La Paz, agora o trajeto é pela estrada nova, subida pura e uma
paisagem incrível das montanhas e o vale profundo. Com o passar das horas e
novamente na altitude, o clima começa a fechar e na região de La Cumbre, a
neblina toma conta e a temperatura despenca. Na chegada em La Paz, três horas
depois, uma chuva fraca, que não tirou a beleza que foi o dia.
Sobrevivi à Estrada da Morte!
Hasta la Victoria Siempre!
16/09/2012 - 70° dia - La Paz
(Folga).
Acordei cedo disposto a
aproveitar meu último dia em La Paz e conhecer alguns museus. Então, antes das
9 horas da manhã eu já estava a caminhar pelas ruas na direção da famosa Calle
Jaén, um pequeno calçadão com construções da época colonial e com vários
museus. Com o mapa da cidade em mãos não foi difícil encontrar o local. A
região é mesmo repleta de obras do período colonial, eu particularmente gosto
muito de observar essas construções, sobretudo, quando elas estão preservadas,
como é o caso das que estão distribuídas pelas ruas dessa parte de La Paz.
Construções coloniais.
LEIA!
Casa da Cruz Verde na Calle Jaén.
Asilo. Ambiente nada alegre, infelizmente.
In foco.
Calle Jaén
.
.
Transporte coletivo de La Paz.
Museu Costumbrista Juan de Vargas.
Existem quatro museus municipais
na Calle Jaén e para felicidade do turista menos favorecido financeiramente, a
entrada custa apenas 4 bolivianos e serve para todas as atrações. Finalmente
algo barato sem explorar aquele que pretende conhecer um pouco mais da cultura
e história local.
Primeiro lugar visitado foi o
Museo Costumbrista Juan de Vargas que conta a história e costumes de La Paz de
um modo interessante e diferente, através de miniaturas. Gostei demais da idéia
e também das exposições, explicam muito bem a vida cotidiana dos moradores da
cidade, seja dos anos passados ou da atualidade. É legal para saber os nomes
dos personagens que você encontra com frequência pelas ruas. Recomendo a
visita.
Na sequencia fui ao pequeno Museo
del Litoral Boliviano. Sim, a Bolívia já teve saída para o mar, mas esse
território, região da província de Atacama, foi perdido para o Chile. Um fato
que é muito lembrado pelos bolivianos em todas as regiões do país. Pelo menos
foi possível identificar que a memória da Guerra do Pacífico em 1879 está
fortemente presente na população. O museu reitera esse papel e apresenta, entre
outros materiais, mapas antigos de quando a mina Chuquicamata ainda pertencia à
Bolívia.
In foco.
O terceiro museu foi o de Metais
Preciosos. Suas principais salas estão destinadas ao Ouro e a Prata, ambas com
exposições de peças antigas construídas com estes materiais que pertenceram às
civilizações pré-hispânicas. Entre as interessantes peças, a que mais chama
atenção, certamente são as diademas, seja pelo tamanho ou por suas inscrições.
O local faz questão de frisar que as antigas civilizações dominavam a técnica
de fundição do ouro muito antes da chegada dos espanhóis, claro que os
significados e valores eram diferentes entre as distintas culturas.
Ainda na Calle Jaén, visitei o
Museo Casa de Don Pedro Domingo Murillo, que foi um dos personagens mais
importantes da revolução independentista de La Paz no início do século XIX, não
é à toa que a praça principal da cidade leva seu nome. No local foi enforcado
após a repressão do governo espanhol que prendeu e matou os envolvidos. A
história sobre todo este acontecimento é bem interessante e tem uma importância
nítida para a cidade. Muitas ruas têm o nome dos principais participantes da
dita revolução. No museu, mobílias antigas e um esforço para reconstituir o
local na época que seu mais ilustre morador habitava a residência. Também vale
a visita.
À esquerda a Casa de Murillo.
Após as visitas, almocei e no
período da tarde fui conhecer o Museo de la Coca na Calle Linares, 906. O lugar
é pequeno, mas interessante porque apresenta, através de longos painéis, a
história da folha de coca e sua importância na cultura andina. Também mostra
como foi discriminada, desde a época da colonização até o presente momento. Aborda
a presença de suas propriedades em vários medicamentos e a ainda a manipulação
que transforma a coca em droga e seus malefícios. Existe um guia traduzido em
Português que facilita a leitura dos painéis. A entrada custa 3 reais, mas independente
do preço, vale a pena conhecer o lugar para não ter uma idéia equivocada sobre
essa planta milenar.
Avenida Camacho
.
.
Plaza San Francisco.
In foco.
Calle Sagamaga
Museu da Coca.
No regresso à hospedagem,
novamente uma chuva fraca. Arrumo parte das minhas para partir no dia seguinte,
preparo uma comida e depois vou descansar. A pretensão é sair bem cedo amanhã
para pegar menos trânsito possível.
17/09/2012 - 71° dia - La Paz a
Copacabana.
Após uma semana em La Paz, estava
na hora de colocar a Victoria na estrada e continuar a viagem. Os dias na
“capital” boliviana, na verdade, não foram de muito descanso, mas com certeza
bastante aproveitados. Gostei da minha passagem pela cidade. Também é válido
ressaltar que estou muito bem de saúde e no final acabei por recuperar um pouco
de peso.
Acordei às 5h00 e levantei poucos
minutos depois, havia algumas coisas para guardar e o desayuno que deveria ser
preparado. A pretensão era sair por volta das 6h30m, mas atrasei e fui sair da
Hospedaje Jimenez uma hora depois, não era tão cedo, contudo, o trânsito ainda
estava tranquilo.
Havia duas opções para chegar até
a Ruta 2 que segue para Huarina e posteriormente Copacabana, meu destino. A
primeira seria retornar à El Alto pela autopista, 12 km de subida. A outra
alternativa seria um caminho pela região do cemitério e que não havia sido
recomendada por ser bastante íngreme. Na internet fui traçar um roteiro para
essa saída de La Paz e o trecho indicado foi esse do cemitério. Então, lá fui
eu encarar as subidas.
Que subida! Foram quase sete
quilômetros até chegar à escultura do Che que fica em El Alto. Com certeza o
caminho é mais curto do que pela autopista, mas não é menos fácil, as subidas
são bem fortes e a velocidade máxima chega somente a 6 km/h. Paciência! No topo
da montanha a incrível visão da cidade de La Paz, agora de outro ângulo.
Hasta luego, La Paz.
La Paz.
Quando cheguei à escultura do
Che, um trânsito bem caótico, mas que não me assustou. Continuei o pedal por El
Alto entre um carro e outro. Também fiz várias perguntas pelo caminho para
saber a direção correta. Mais seis quilômetros pela Juan Pablo II aparece uma
placa que indica a distâncias para as cidades por onde passaria. Copacabana
estava longe, mas resolvi que seria meu destino mesmo assim.
El Alto e seu trânsito conturbado.
Na direção certa.
Após a placa são mais oito
quilômetros de intenso movimento pelo perímetro urbano de El Alto e depois fica
mais tranquilo. O caminho é na maior parte plano, asfaltado e com acostamento.
Tudo para uma boa pedalada. Sigo em um ritmo bom e aprecio as paisagens pelo
caminho. O que mais chama atenção é o Tuni Condoriri, uma região de várias
montanhas cobertas de gelo na chamada Cordilheira Real.
Tuni Condoriri
Tuni Condoriri
Tuni Condoriri
Pedale!
Na sequencia, com quarenta
quilômetros pedalados, encontro mais cicloturistas, desta vez um casal, ele
francês e ela chinesa, que viaja em uma tandem pela América e África há mais de
um ano. Conversamos, trocamos informações e no final esqueci de tirar uma foto,
tudo bem. Pelo menos tenho o site deles, para quem tiver interesse: www.africamericabike.com
Com 62 km pedalados desde La Paz
e pouco depois de passar por Batallas, a maior surpresa do dia. A primeira
imagem do mais alto lago navegável do mundo; Lago Titicaca. Sem dúvidas
impressiona pelo seu tamanho, além de sua milenar importância histórica para os
povos da região. São mais 10 km de pedal às margens do lago até chegar à
Huarina. Pensei em almoçar na cidade, mas não encontrei nenhum restaurante
convidativo e pedalei mais um pouco e parei no acostamento para comer os pães
que havia preparado.
A primeira imagem do Lago Titicaca.
Lago Titicaca.
Chegada à Huarina.
Após a refeição continuei o pedal
por uma região repleta de povoados à margem do Titicaca. Agora o sobe e desce
moderado predomina. Aparecem vários restaurantes, mas é tarde e resolvo não
parar. Afinal, de Huarina até Tiquina são mais de 40 km e depois mais 40 para
chegar à Copacabana, ou seja, um longo trecho pela frente.
Titicaca; área de lazer.
Titicaca: área de trabalho.
Sentido Tiquina.
Com 100 km marcados no
velocímetro começa uma longa subida com aproximadamente 10 km que levou boa
parte das minhas energias. No final do aclive uma paisagem esplêndida do Titicaca,
que agora se apresenta muito maior do que eu imaginava. Infelizmente a descida
não é equivalente ao trecho anterior e logo volto a subir mais um pouco para
finalmente encontrar o declive até Tiquina. Aqui é o local onde se atravessa o
Lago Titicaca por balsa até o povoado de San Pedro.
E esse "V" na montanha? Vai para a série: coisas que a gente encontra pelo caminho.
Placa sem graça.
Majestoso Lago Titicaca.
Titicaca.
Cicloturismo às margens do lago sagrado dos Incas.
Chegada à Tiquina.
Em Tiquina, existem várias balsas
e não é preciso esperar muito tempo para fazer a travessia, acho que aguardei
menos de 10 minutos e levei o mesmo período para chegar à outra margem. Claro
que a emoção em navegar por essas águas estava presente. Na balsa, dois
veículos e a Victoria. O preço para atravessar o lago foi menos de dois reais.
O meio de transporte local.
O que não falta aqui é balsa.
Puerto Tiquina
Hora de navegar pelo lendário Titicaca.
San Pedro.
Cheguei à San Pedro às 16h:30m e
ainda faltavam 39 km até Copacabana. A maior parte desta distância foi de
subida. E somente para variar um pouco, 10 km para iniciar a longa jornada que certamente continuaria noite adentro. A
subida forte, me cansou, afinal já era a terceira no mesmo estilo no dia. O que
compensa é o visual maravilhoso do lago que muitas vezes chega a lembrar o oceano
em razão de sua dimensão.
Acima dos 4 mil metros de altitude.
A imensidão do Titicaca.
Não é fácil registrar esses momentos. Detalhe para a sombra da máquina.
Sei que após a longa subida,
desce um pouco, volta a subir e o pedal é acima dos 4 mil metros de altitude.
Algumas partes planas e mais aclives foram percorridos no escuro. Com o avançar
das horas poucos veículos passam pela estrada e sigo sozinho na rodovia que é
amplamente iluminada pelo meu farol. O frio é intenso, acho que desde a Laguna
Colorada não sentia a temperatura tão baixa. Minhas energias estão quase
esgotadas quando mais e mais subidas aparecem à frente. Alguns pequenos
povoados surgem nas encostas do lago, mas eu estava determinado a chegar no meu
último destino na Bolívia. Assim, sigo, ainda que com várias paradas rápidas
para hidratar e retomar o fôlego.
Uma hora teria que começar a
descida e isso aconteceu 10 km antes de chegar à Copacabana. Com a pista em
boas condições e somente com a minha presença, aproveitei e segui em um ritmo
alucinante até aparecer as luzes da cidade, finalmente. Ainda tive que descer
mais alguns quilômetros e na entrada de Copacabana pergunto sobre a direção do
centro e sou informado que o mesmo está a apenas poucos metros. Que maravilha!
Acredite, é Copacabana.
Finalmente no último destino em solo boliviano.
Sigo pelas ruas e passo na frente
de uma hospedagem (Hostal Sonia), mas com sua aparência mais sofisticada e com
a diária possivelmente cara, resolvo não parar. Mas logo depois o recepcionista
aparece na calçada e pergunta se procuro lugar para ficar. Na sequencia
questiono o preço da diária e me surpreendo, apenas 10 reais. O local é um dos
melhores que já fiquei na Bolívia, cama confortável e banheiro no quarto, tudo
muito limpo. Por mais 3 reais ainda é possível ter acesso ao wi-fi, cujo sinal
funciona também no interior do dormitório. O preço baixo é justificado pela
grande oferta de hospedagens em Copacabana. Melhor para quem procura
economizar.
Agora, devo permanecer mais dois ou
três dias para conhecer a cidade e a Isla del Sol, uma de suas principais
atrações. Depois sigo para a fronteira e finalmente começo o pedal no Peru,
onde certamente, a visita à Machu Picchu é a mais esperada.
Hoje o dia foi finalizado com
152,33 km em 10h25m e velocidade média de 14,61 km/h.
18/09/2012 - 72° dia - Copacabana
(Folga)
Aproveitei o dia para atualizar o
diário de bordo e separar as fotos da próxima postagem no site, que deveria
ocorrer hoje, contudo, a velocidade da internet aqui do hotel não é das mais
rápidas e amanhã terei que procurar uma lan house para finalmente fazer a
última atualização em território boliviano.
No mais, durante o meio dia
caminhei pelas ruas da pequena Copacabana na pretensão de achar um lugar para
almoçar. Encontrei o Comedor Popular Santa Marta que é anexo ao humilde mercado
público. O almoço não foi diferente dos anteriores, assim como o preço, 12
bolivianos. Após a refeição, ainda comprei algumas frutas para reforçar a
alimentação.
Amanhã vou visitar a Isla del Sol
na companhia de um casal simpático da Alemanha que também está hospedado aqui
no hotel. Ontem, logo após minha chegada, vieram conversar comigo na recepção e
falaram que haviam me visto no alojamento Constitucional em Sucre há um mês.
Mundo pequeno.
Hasta luego.
19/09/2012 - 73° dia - Copacabana
(Folga) (Visita à Isla del Sol)
Inesquecível.
Vai parecer clichê, mas foi outro
dia memorável.
Acordei às 6 horas da manhã e
levantei poucos minutos depois quando o despertador do celular tocou. Preparei
meu desayuno bem reforçado, afinal, meu dia seria longo. Após a refeição fui
direto ao centro, precisava sacar um pouco de boliviano, pois o que restava não
seria suficiente para meus últimos dias na Bolívia. E eu não queria passar pelo
mesmo sufoco de Challapata, quando fiquei sem a moeda local.
No centro vou ao caixa eletrônico
de um banco privado, mas este permitia saque apenas com o cartão da
instituição. Quase ao lado, outro “cajero automatico”, agora do banco Bisa. A
transação ocorre com uma grata surpresa, é possível realizar a retirada em
dólares. A vantagem é que na hora de trocar para a moeda boliviana e peruana, a
cotação é bem melhor e não perco dinheiro, o que aconteceria se tivesse que
cambiar bolivianos para soles.
Com dinheiro em mãos, volto para
a hospedagem e aguardo o casal alemão para irmos à Isla de Sol. Às oito horas
em ponto nos deslocamos até à orla do Titicaca aqui em Copacabana. No local,
comprei a passagem para a ilha, preço 20 bolivianos, menos de 7 reais. A viagem
de barco inicia às 8h30m e tem duração de 2 horas através do mais alto lago
navegável do mundo. Durante este tempo é possível contemplar suas belas
paisagens.
Porto em Copacabana.
In foco.
Copacabana fica para trás.
Nosso barco é igual a este. Fui na parte de cima e contemplei as paisagens por duas horas até a Isla del Sol.
In foco.
In foco.
In foco.
In foco.
O barbudo e o Titicaca.
In foco.
Titicaca e a Cordilheira dos Andes com suas montanhas congeladas. Fantástico.
Às 10h30m desembarcávamos na Isla
del Sol. Para quem não conhece, o lugar além das belezas naturais tem um
significado muito importante, sobretudo, para os nativos, pois “teria sido
nesta ilhota que nasceram Manco Capac e Mama Ocllo, os quais viriam a ser os
primeiros incas. Diz a lenda que o sol, vendo que os homens viviam como
animais, sentira piedade deles, enviando-lhes um de seus filhos e uma filha
para que lhes dessem o conhecimento das leis e que pudessem, com isso, viver
como homens racionais, prosperando e gozando os frutos da terra.”
Chegada à Challapampa. Isla del Sol.
In foco.
A ilha que hoje exerce grande
fascínio aos turistas, que são inúmeros, foi habitada pela civilização
Tiahuanaco e posteriormente pelos Incas. Os primeiros foram responsáveis pelo
desenvolvimento da agricultura nas altas montanhas que compreendem o local. Para
os Incas, a Isla era um lugar sagrado e por isso, muitas pessoas faziam
peregrinações para a realização de oferendas às divindades. Claro que as
cerimonias eram repletas de significados e a história é mais complexa, mas no
momento, vale ressaltar que o local foi e continua sendo de extrema importância.
Nossa primeira parada é no
povoado de Challapampa, norte da ilha. Somos recepcionados por guias locais que
desejam boas vindas e fazem uma breve explicação sobre as atrações, caminhos e
horários. A principal atração do norte é sem dúvida, o Complejo Chinkana, uma
ruina que em outros tempos foi um pequeno palácio inca. Próximo à ruina está
localizada a Rocha Sagrada “chamada pelos incas de Titi Khar’ka, que significa
“a Pedra do Puma”” Não é obrigatório seguir o guia, assim, o casal alemão e eu,
começamos a caminhada de modo independente até Chinkana. No caminho é cobrada
uma taxa de 10 bolivianos.
Antes de chegarmos à principal
ruina inca da ilha, muito sobe e desce, andar aqui exige certo preparo físico,
com certeza. Não é raro encontrar turistas exaustos e sem fôlego, afinal, a
caminhada acontece acima dos 4 mil metros de altitude. No entanto, as paisagens
são fantásticas e conseguem se superar a cada instante. Apesar de ser um lago,
o Titicaca se assemelha a um mar, inclusive, na ilha existem algumas praias
paradisíacas que nada devem àquelas do oceano. Do alto a beleza fica ainda mais
evidente com um panorama geral. Fiquei admirado, simplesmente é um dos lugares
mais lindos de toda a viagem.
Playa!
Maravilha de paisagem.
Começo das subidas.
Paradisíaco
Sim, eles estão em todas as partes da Bolívia.
Paradisíaco.
Paradisíaco.
Paisagens inacreditáveis para um "lago".
In foco.
Yo!
Liberdade, liberdade!
A caminhada continua e logo
avistamos a Mesa Cerimonial, local onde possivelmente realizavam sacrifícios
humanos e de animais. Seguimos em sua direção e poucos minutos depois estávamos
diante da Mesa e também da Rocha Sagrada. Claro que o momento foi registrado. Logo
a frente está Chinkana. É interessante observar a localização onde o palácio
foi construído e também a sua forma, parecida com um labirinto. Ao lado existe
uma montanha, cuja subida é bem íngreme, do alto é possível observar melhor as
ruinas de Chinkana e ter uma idéia melhor de seu tamanho.
E da-lhe subida.
Em direção à Mesa Cerimonial.
Mesa Cerimonial.
Agradecimento por pedalar dois meses na Bolívia sem maiores problemas.
A Rocha Sagrada.
Ruinas de Chinkana.
Ruinas de Chinkana
Ruinas de Chinkana
Ruinas de Chinkana
Yo e as Ruinas de Chinkana de um outro ângulo.
In foco.
In foco.
Ruinas de Chinkana
Essa é a Bolívia que surpreende!
In foco.
Por volta das 12h30m, após a
visita ao Complexo, seguimos em direção ao sul da ilha (Yumani). No começo
fiquei na dúvida sobre ir ao sul ou retornar à Challapampa. O motivo era o
seguinte: o barco que nos deixou no norte da ilha voltaria para Copacabana às
13h30m. Já no sul, existem saídas às 15h30m e 16h00m. A questão estava sobre a
possibilidade de chegar a tempo de pegar o barco em Yumani. No entanto, um
morador local, ainda em Chinkana, disse que a caminhada levaria 2h30m. Logo,
achei suficiente e resolvi ir ao sul na companhia do casal alemão.
Casal alemão: Anne e Anselm.
A caminhada norte x sul é bem
sinalizada pela Ruta Sagrada de la Eternidad del Sol (Willka Thaki) e
dificilmente você vai se perder por aqui. O trajeto é repleto de inclinações,
mas a paisagem continua maravilhosa. Também existem mais dois postos de
controle (comunidade Challa e Yumani), onde se adquire outros dois boletos, de
15 e 5 bolivianos, respectivamente. O pagamento pega muitos turistas de
surpresa, pois geralmente essa informação não está nos guias. Contudo, o casal
de cicloturistas que encontrei entre La Paz e Copacabana já havia me alertado
sobre as taxas.
Em todo o caminho, desde
Challapampa, é possível encontrar pequenas “tiendas” que vendem água,
refrigerante, bolachas e mais algumas coisas. Logo no desembarque à Isla,
comprei duas Cremositas que seriam meu almoço. Evidente que um lugar turístico
e isolado como este as mercadorias tenham o preço um pouco mais elevado.
Portanto, se você não trouxer comida de Copacabana, esteja preparado para
gastar mais.
Por volta das 14h30m fizemos uma
pequena pausa, a mochileira alemã precisava descansar um pouco para poder
seguir. Também, imagino que não seja fácil caminhar com tanto peso nas costas.
Acontece que eles levavam toda aquela bagagem, pois permaneceriam por mais um
dia na ilha, tentariam acampar em Yumani. No entanto, para quem deseja passar
mais tempo na Isla, hospedagens são encontradas facilmente nas regiões norte e
sul, ambas me pareceram oferecer uma boa estrutura ao turista.
Reação ao ver a subida à frente.
Próximo das 15h30m acontece a
chegada à Yumani, onde foi preciso apenas descer as montanhas em direção aos
barcos que nos leva para Copacabana. Durante a descida, presenciamos a chegada
de inúmeros turistas que optaram por começar conhecer a ilha a partir da região
sul. Faltavam poucos minutos para a saída do barco, então rapidamente fui
comprar minha passagem, mais 20 bolivianos. Depois, ainda tirei uma foto da
Escalera del Inca que é o acesso para a Fuente del Inca. “Na época da
colonização, os espanhóis acreditavam que esta seria a fonte da juventude”.
Sul da ilha.
Finalmente, Yumani.
Transporte de cargas em Yumani.
Camaradas! Grande companhia.
Fuente del Inca.
Na sequencia, me despedi dos
companheiros alemães e fui em direção ao barco que saiu minutos depois. Quase
duas horas mais tarde eu estava novamente em Copacabana onde aproveitei para
registrar a grandiosa Catedral de la Virgen de la Candelaria. A igreja do
século XVII é uma das mais importantes da Bolívia e recebe vários peregrinos de
diversas regiões do país, sobretudo, nas festividades religiosas.
Novamente em Copacabana.
Aqui o turismo é uma das principais atividades da cidade.
Catedral de la Virgen de la Candelaria
Catedral de la Virgen de la Candelaria
Catedral de la Virgen de la Candelaria
Do pátio da igreja, assim como em
praticamente todas as partes de Copacabana, é possível ver o Cerro Calvário,
uma das atrações da cidade. “Ao longo do percurso, cruzes vão marcando as 14
estações da Via Crucis. Na Sexta-Feira Santa, acontece uma procissão iluminada
por velas, que sobe o Cerro Calvário e lembra as paradas pelas quais Jesus Cristo
passou antes da sua crucificação. Segundo a tradição católica, o calvário é o
nome dado ao monte onde Cristo foi crucificado.”
Cerro Calvário ao fundo.
In foco.
Após registrar a igreja vou à
casa de câmbio trocar apenas vinte dólares por bolivianos e depois passo no
mercado público, compro mantimentos e retorno ao hotel e finalizo um longo e
maravilhoso dia.
Grande Bolívia que surpreende!
20/09/2012 - 74° dia - Copacabana
(Folga)
Último dia neste país maravilhoso
chamado Bolívia.
Resolvi ficar hoje em Copacabana
para realizar a última atualização no site em território boliviano. Assim,
aproveito e faço as últimas considerações sobre esse país por onde pedalei
quase dois meses. Aqui foram mais de 3.130 km em 59 dias e gasto aproximado de
1300 reais, ou seja, 22 reais por dia.
A Bolívia é simplesmente
surpreendente. No Brasil, as pessoas tem uma idéia muito, mas muito equivocada
mesmo sobre este país. A Bolívia tem uma cultura extremamente rica e bastante
valorizada por sua população que mantém viva tradições e costumes milenares. E
ao contrário do que imaginamos, o povo é bastante educado, respeito se aprende
desde criança. A história da região nos remonta às civilizações com culturas,
outrora, avançadas e que deixou heranças facilmente encontradas em todas as
partes da Bolívia. Ainda mais recente e não menos interessante é a história da
independência boliviana. É possível notar um patriotismo muito forte, por
exemplo, aqui as bandeiras da Bolívia são exibidas em vários lugares. É o que
acontece no Brasil, de quatro em quatro anos, somente na Copa do Mundo de
futebol, infelizmente.
Segurança. Um fator que muitos
brasileiros acham que não existe em solo boliviano. Novamente estão
equivocados. Claro, violência existe, assim como em todo lugar do planeta, mas
em nenhum momento me senti inseguro, e olha que pedalei por regiões inóspitas e
movimentadas durante o dia e também à noite. Não me ocorreu nenhum problema
neste sentido e a viagem continuou normalmente. Evidente que atenção é
indispensável, sobretudo, nos grandes centros urbanos, mas nestes locais,
também foi tudo tranquilo, até porque, em cidades como Potosí e La Paz, a
polícia se faz mais presente, sobretudo, nos lugares mais movimentados e
frequentados por turistas.
Alimentação. Realmente é um país
onde é possível fazer refeições sem gastar muito. Um almoço econômico, por
exemplo, custa de 3 a 5 reais. Lógico, a comida não é farta, mas você não vai
passar fome. Uma questão que realmente existe aqui é a falta de higiene,
digamos que não é a maior das preocupações deste povo, contudo, felizmente não
tive problemas de saúde em razão disto.
Hospedagem. Acho que em nenhum
outro lugar da América do Sul a hospedagem é barata como na Bolívia. Claro, não
são todos os estabelecimentos que tem preço baixo. Os alojamentos são os
lugares mais econômicos, não existe muito conforto e os banheiros são, na
maioria das vezes, compartilhados, mas isso não impede que você consiga ter uma
boa noite de sono. Aqui é possível encontrar diárias de 6 a 15 reais sem
maiores dificuldades.
Paisagem. Sem dúvidas, um dos
pontos altos, literalmente, da viagem pela Bolívia é a Cordilheira dos Andes
que proporciona paisagens inesquecíveis, aqui facilmente se chega aos céus em
altitudes que passam dos 4 mil metros. Ainda existe o imenso Salar de Uyuni, o
famoso deserto branco. A Laguna Colorada, deserto de Siloli e sua inusitada Árvore
de Pedra. O altiplano com suas montanhas congeladas e o magnifico Lago
Titicaca. São tantos lugares incríveis que apenas uma (ou várias) visita(s)
para poder observar tamanha beleza.
Sem dúvidas a Bolívia é um dos
melhores lugares que já tive a oportunidade de conhecer. Vai deixar saudades e
boas recordações. Aqui o aprendizado foi enorme e já está sendo compartilhado.
Afinal, como diria Leonardo Boff: Ninguém vale pelo que sabe, mas pelo que faz
com aquilo que sabe.
No mais, recomendo a todos: façam
uma visita à Bolívia e surpreendam-se.
Acho que a maioria das
informações sobre os lugares visitados estão aqui no site. Em todo caso,
qualquer dúvida basta perguntar e terei o maior prazer em poder ajudar.
Agradeço àqueles que continuam a
me apoiar de todas as formas. A ajuda de vocês tem sido fundamental para a
sequencia da viagem. Muito obrigado.
A viagem é longa, mas minha
vontade de continuar é ainda maior.
“Hasta la Victoria Siempre”
...Quando o ar voltar, eu escrevo... :D
ResponderExcluir...como dizem os "Cicloturitas": a Distância não é maior do que a vontade de chegar " !
ResponderExcluirOlá Nelson espero um dia ter a oportunidade de conhecer isso tudo, realmente é um país rodeado de história e cultura.
ResponderExcluirMinha visão da Bolívia mudou bastante depois de ler seu diário de Bordo, assim como também mudou muito a minha visão dos nordestinos quando fui lá, e conheci, e vi que aqueles que julgamos ignorantes, mal educados, é uma porção bem pequena que sai de lá para tentar a sorte em outros estados, no caso da Bolívia, Argentina era cheia, maioria eram mal educados, trapaceiros, sujos, etc... mas como disse Amyr Klink "Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver" Abrazos!
ResponderExcluirCara, que leitura chata! cadê os perrengues? pedal em subida de rupio? falta de grana? bifurcações não sinalizadas em desertos? cadê? cadê?? brincadeirinha, huashuahusha. Garoto, faço das palavras do Pablo, as minhas! Que país! Eu não dava um vintém pela Bolivia antes de ler sua jornada, mas felizmente vi que estava muito enganado, estou simplesmente fascinado pelas paisagens deste país, bem como pelo baixo custo da viagem por essas terras, pra quem não liga pra "luxo" é realmente uma tentação! Parabéns por essa etapa completada camaradinha, sigo te acompanhando e desejando que essa aventura fique cada vez melhor!
ResponderExcluirAbraço
O legal de acompanhar sua viagem é que vc enche a narrativa de detalhes. E o melhor, interage, responde aos comentários. Isso nos faz sentir parte da sua viagem. Falecido Valdo era assim também e era bom receber seus emails ou comentários durante o trajeto.
ResponderExcluirTambém sou historiador e o povo diz que sou muito prolixo, pois sempre conto as coisas com introdução, desenvolvimento e conclusão. Prefiro ler assim. Dá pra nos localizarmos, entendermos seu ponto de vista e imaginarmos o resto.
Nelson, perca, ou melhor, invista suas horas nas lanhouses do caminho. Nós, seus leitores assíduos, agradecemos torcendo pelo próximo post com muitas fotos.
Suerte!
Lugares lindos, de dar uma invejinha boa de sua viagem.
ResponderExcluirParabéns! Sigo acompanhando...
Parabéns ai Nelson por ter vencido mais uma etapa (Bolívia), estamos aqui torcendo pela sua trip... um abraço...HA
ResponderExcluirNelson, meus parabéns! Se você ver os primeiros posts perceberá que estou acompanhado sua jornada assiduamente. Avante! Boa viagem.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirQue bom que pude conhecer tudo isso, mesmo que 08 anos depois !!!!!! Simplesmente espetacular ! Muita cultura !!! Concordo com tudo que já foi dito nos comentários acima ! Parabéns Neto !!!
ResponderExcluir