20/08/2012 - 43°
dia - Potosí (Folga)
Acordei cedo com
a pretensão de arrumar minhas coisas eir ao mercado público para comprar
extrato de tomate, açúcar, alguns pãese na sequencia passar rapidamente na lan
house para completar a atualização (no site) do dia anterior que não foi
finalizada em razão do fechamento mais cedo do estabelecimento onde eu estava.
Depois, seguiria viagem.
Pois bem, o dia
começou com um fato inusitado, assim que acordei fui escovar meus dentes e
simplesmente não tinha água. Como não era nem mesmo sete horas da manhã,
suspeitei que algum registro estivesse fechado, mas quando encontrei com a
proprietária do alojamento e perguntei o motivo da falta de água, ela
simplesmente respondeu na maior naturalidade que a água havia congelado e então
pediu que eu esperasse alguns minutos.
A água voltou
duas horas mais tarde. Um sinal evidente que o inverno andino é bem rigoroso.
Dentro do meu quarto marcava 3°C. Imagina a temperatura externa durante a
madrugada. Para fazer a água congelar eu acredito que tivemos marcas negativas
no termômetro.
Enfim, mesmo com
muito frio, fui fazer o que havia previsto. O que atrasou meu planejamento foi
o tempo para acabar a atualização. Demorei quase duas horas, assim, restavam
duas opções, almoçar em Potosí e seguir viagem após a refeição ou ficar na
cidade e partir amanhã cedo. Optei pela segunda alternativa. Assim, poderia
arrumar tranquilamente minhas coisas na Victoria e descansar mais um pouco.
Quando fico
alguns dias em determinado lugar eu escrevo no diário: Folga. No entanto,
dificilmente eu descanso de verdade. Neste período faço uma pausa no pedal e
isso não significa que eu fique parado sem fazer nada. Esse tempo precioso eu
aproveito para conhecer melhor a cidade e a cultura local. É o que tenho feito
aqui em Potosí, confesso que tem sido uma experiência maravilhosa.
Após o almoço
andei pelo centro e o mercado público. Na volta para o alojamento aproveitei
para tomar um banho enquanto a temperatura não despenca outra vez. Mais tarde
passei na lan house para conversar rapidamente com meus amigos e familiares. O
custo da ligação para o Brasil é muito caro aqui em Potosí. Para fazer uma
rápida comparação, em Sucre o minuto para telefone fixo custava R$ 0,22. Já a
ligação realizada de Potosí custa R$ 1,10. Logo, se vou falar 10 minutos
(passam rápidos demais) com a minha mãe, por exemplo, gasto mais de dez reais.
Então é mais fácil mandar notícia pela internet. Daqui alguns dias estarei em
La Paz e acredito que a ligação volte a ser mais barata.
Agora de noite,
preparo alguns pães com geléia e degusto com um chá bem quente para esquentar o
corpo. Depois arrumo a Victoria e escrevo o relato. Amanhã sigo viagem bem
cedo. Meu estoque de comida está bem reforçado, inclusive, comprei banana para
garantir uma energia extra.
Apenas para não
cair no esquecimento, outras curiosidades de Potosí. Nunca vi tanto cadeado nas
portas dos estabelecimentos como aqui na cidade. Um simples comércio é trancado
com quatro, cinco cadeados bem grossos, algo que chama atenção para quem não
está habituado a ver esse tipo de prevenção, pelo menos, dessa forma.
Um fator que
também chamou atenção e que não foi observado em outras cidades é a respeito da
fiscalização do governo municipal com o comércio. Muitos estabelecimentos estão
interditados e com um aviso (clausurado) bem grande na entrada que explica o
motivo. Muitas vezes a falta do pagamento de impostos leva ao fechamento.
Outro detalhe em
Potosí que não foi percebido nos outros lugares que passei é que a prefeitura
também “censura” algumas publicidades, não do tipo outdoor, mas aquelas nas
fachadas das lojas. Ainda não descobri o motivo, mas talvez para colocar uma
placa no estabelecimento tenha que pedir autorização. Sei que não são poucas as
publicidades não permitidas.
Uma última
particularidade. Já comentei em relatos anteriores que as ruas de Potosí são
bem estreitas, logo, o tamanho das calçadas também é bem limitado e não
acompanha o crescimento da população que se espreme nos locais mais
movimentados, como nas principais ruas do centro. Muitas vezes é preciso caminhar
na rua e esta, na maioria dos casos, é destinada à passagem de apenas um
veiculo que para não atropelar nenhum pedestre vive a buzinar, tornando essa
prática um hábito diário.
No mais, gostei
da cidade, sobretudo, da visita ao Cerro Rico e ao desfile que tive a
oportunidade de assistir. Experiênciasmemoráveis.
Hasta luego.
21/08/2012 - 44°
dia - Potosí a Pelca
Hoje foi um dia
reservado de surpresas boas.
Acordei por
volta das 7 horas da manhã após mais uma noite fria em Potosí. Preparei um café
da manhã bem reforçado, vários pães com geléia, chá e banana. A pretensão era
não almoçar para ganhar tempo, por isso uma energia extra logo nas primeiras
horas da manhã.
Fui pagar minha
última diária na recepção e me despedi dos proprietários do alojamento que
acabaram por esclarecer algumas dúvidas sobre a cidade. Segundo eles, a
prefeitura é realmente exigente na cobrança de impostos, por isso vários
estabelecimentos estão lacrados pela falta de pagamento. Já em relação às publicidades,
são “censuradas” porque foram expostas sem autorização do governo municipal.
Infelizmente
minha saída da cidade foi tardia. Já eram 9 horas quando o José da recepção me
explicou o caminho para Uyuni, pouco mais de quatro quilômetros. Durante o
trajeto passeina frente do estádio de futebol da equipe Real Potosí, conhecida
dos brasileiros pela sua participação na competição Libertadores da América.
Também vejo o famoso restaurante-mirante de onde é possível ter uma boa vista
da cidade
Em frente ao estádio da equipe Real Potosí.
Mirante
.Mirante
Na Ruta 5 uma
placa informa que faltam 200 km para chegar naconhecida Uyuni. Era a mesma
distância que havia na minha planilha, um bom sinal. No alojamento me avisaram
que todo o trajeto está asfaltado, pois as obras na rodovia Potosí-Uyuni foram
recém-concluídas, outra notícia boa. Já nos primeiros quilômetros pedalados outra
placa confirma a pavimentação completa pelo caminho.
Falta pouco, apenas 200 km.
Rodovia recém inaugurada. Excelente para pedalar.
Faz muito frio
pela manhã e necessito pedalar com meu corta-vento, que não era utilizado há um
bom tempo. Mas não demorou muito e tive que tirar a jaqueta, as fortes subidas
fizeram meu corpo trabalhar mais e consequentemente transpirar. Apesar de um
pouco de vento contra, foi possível continuar apenas com a segunda pele por
baixo da camisa de ciclismo.
Como a distância
entre Potosí e Uyuni já era de meu conhecimento, planejei percorrer os 200 km
em dois dias. Após a placa no início da rodovia decidi que minha parada seria
em Tica Tica, 118 km distantes de Potosí. A estrada está perfeita para pedalar,
não tenho nenhum motivo para sair do acostamento que também é muito bom. Como
ainda estou na Cordilheira dos Andes, nada mais normal do que ter como
companhia o sobe e desce constante.
As subidas e
descidas são bem longas o tempo todo, geralmente de 5 a 10 km. É uma pena que o
ritmo durante os aclives não seja o mesmo dos alucinantes declives. Em todo
caso, sigo sem lamentar e logo tenho a primeira surpresa do dia. Uma placa na
estrada indica a presença das lhamas, animal típico dos Andes. Tive a
felicidade de conhecê-las na Argentina em 2008 durante a Expedição do Atlântico
ao Pacífico.
Cuidado: Lhamas!
Registrando o momento!
Não demorou
muito e de repente surge uma lhama preta no horizonte. Estava difícil
enquadra-la na câmera fotográfica quando apareceram outras dezenas na companhia
de uma senhora que cuidava das mesmas. Aproveitei para poder fazer vários
registros. As lhamas são bem comuns na Cordilheira dos Andes, contudo, é um
animal pouco conhecido dos brasileiros e o seu jeito, digamos, diferente, chama
atenção, não tem como negar. Eu particularmente, me recordo destes animais desde
um episódio das Aventuras de Tintim que acontece nas Américas. Grande desenho,
diga-se de passagem.
As primeiras lhamas da viagem.
Bom, subidas,
descidas e várias outras lhamas continuam pelo caminho. Entretanto, algo chama
atenção em relação às lhamas, aqui na Bolívia elas são mansas ao contrário
daquelas que encontrei na Argentina e Chile. Estou prestes a completar mais uma
subida quando repentinamente vejo um grupo destes animais a pastar bem nas
margens da rodovia. Não se espantaram com a minha presença e permaneceram a comer.
Subidas que ficam para trás.
Nomes diferentes.
Lhamas por todas as partes.
In foco.
In foco.
Subidas já pedaladas.
A vegetação é
rasteira e não muito diversa.Apenas pequenos arbustos, cactos e poucas áreas
onde uma rala grama – que é a preferência das lhamas – são perceptíveis entre
as montanhas, estas sim, presentes por todos os lados.
Ao final de uma
longa subida, outra surpresa. Vejo um veículo parado no outro lado da pista e
duas pessoas observam algo à beira da estrada. Assim que me aproximo consigo
identificar, uma parte rochosa da montanha está toda congelada. Grossas camadas
de gelo são formadas em razão da água que escorre entre as rochas e a
temperatura extremamente baixa. O resultado é fascinante.
Montanhas cobertas de gelo. Inverno andino.
In foco.
Esse pessoal
parado na estrada me informa que dos 200 km entre Potosí e Uyuni, 100 km são
entre sobre e desce, o restante é descida até o final. Agradeci as informações
e segui em frente. A montanha russa continua e para minha felicidade, outras
áreas congeladas estão pelo caminho e deixam a paisagem espetacular. É incrível
ver como uma cascata simplesmente congela entre as montanhas. Fenômeno muito
bonito. Claro que faço algumas pausas para registrar tudo. Inclusive, no
horizonte consigo identificar as primeiras montanhas com os picos cobertos de
gelo.
Subidas constantes.
Gelo pelas montanhas.
In foco.
In foco.
Olha a tranquilidade.
In foco.
In foco.
In foco.
Paisagem.
As primeiras montanhas com os picos cobertos de gelo.
Cascatas congeladas à beira da estrada.
Após o meio dia
faz ainda mais frio e vou dizer que chega a ser assustador. No inverno essa
região marca -20°C. Não é brincadeira pedalar aqui e qualquer decisão
equivocada pode custar muito caro. Por isso fico bem atento ao horário e à
quilometragem. São pouquíssimos povoados pelo caminho que oferecem alguma
estrutura de apoio. Aproximadamente 25 km após A. de Castilla tem outro povoado
(Chaquilla) com restaurante e hospedagem, cogitei passar a noite neste local,
mas ainda era muito cedo, quase 4 horas da tarde. Segui.
A. de Castilla, encravada entre as montanhas.
No caminho certo para a cidade de Uyuni.
Continuei bem
atento, faltava uma boa quilometragem para chegar à Tica Ticae restavam apenas
mais duas horas de claridade. Para minha sorte peguei um trecho longo de
descida, apareceram três placas seguidas que indicavam o declive, aproveitei e
empreguei um ritmo maior para compensar a subida que certamente chegaria.
O Coyote estava lá no alto à espera do Papaléguas.
In foco.
In foco.
Carretera.
Paisagem
Dezenas, centenas de lhamas.
In foco.
Às cinco horas
da tarde e com quase 100 km pedalados, resolvo parar em um povoado chamado
Pelca. Achei mais prudente não arriscar a chegada em Tica Tica, faltavam mais
de 20 km e segundo informações, trecho com subidas, um senhor chegou a me dizer
que leva 30 minutos de carro. Ao ouvir isso não pensei duas vezes para ficar em
Pelca.
Pelca é um
povoado muito pequeno, adentrei ao mesmo e logo perguntei sobre um alojamento e
me recomendaram uma pensão. No local, encontro a proprietária que me diz o
valor, 15 bolivianos, menos de 5 reais, o menor preço de toda a viagem na
Bolívia até agora. O baixo custo foi logo compreendido, o quarto é muito
simples e os colchões são de palha. O dormitório tem duas camas e a senhora
explica que uma delas já está reservada. Como a Victoria vai ficar do meu lado,
não ligo de compartilhar o quarto.
O quintal da "pensão"
Detalhe para o colchão de palha.
A surpresa maior
vem quando pergunto onde é o banheiro. A senhora se faz de desentendida e sem
jeito diz que o mesmo fica no museu (?), algunsmetros do local. Misericórdia.
Em Betanzos eu encontrei um alojamento sem chuveiro, mas uma hospedagem sem
banheiro é novidade.
Bom, sem muitas
opções eu aceitei ficar no local. Tratei logo de preparar o almoço/janta,
aproveitei que ainda não tinha ninguém no quarto. Até pensei em não escrever
hoje, mas era 18 horas e não havia mais nada para fazer, como continuava
sozinho, resolvi atualizar o diário de bordo. De repente alguém bate na porta,
é o proprietário, marido da senhora que me atendeu. Ele explica que o senhor
que vai compartilhar o quarto comigo é de confiança e que eu não preciso me
preocupar e qualquer coisa basta chama-lo. Acho que ele veio me explicar isso
porque eu fiz várias perguntas para a mulher dele.
Enfim, são
20h30m e até agora não apareceu ninguém. Até o prezado momento minha vontade de
ir ao banheiro é controlável, mas não sei até que horas vou aguentar, espero
conseguir segurar até amanhã cedo. Aliás, quero sair no máximo às sete horas da
manhã, a pretensão é chegar pouco depois do meio dia em Uyuni, onde quero obter
informações sobre as estradas que seguem para as lagunas Verde e Colorada.
Quem acompanha o
diário de bordo percebeu que não tive mais problemas com os raios. Mas hoje eu
ouvi um barulho estranho e quando fui ver, mais uma peça quebrada na roda
traseira, que maravilha. Vou troca-la apenas em La Paz, a princípio não tem
nenhum indicio que outros raios venham a quebrar, pelo menos não ouço mais
nenhum barulho. É o sexto raio quebrado, haja paciência. A notícia boa é que me
aproximo dos 3 mil km e nenhum pneu furado.
O dia foi
finalizado com 99,68 km em 6h26m e 15,48 km/h de velocidade média.
22/08/2012 - 45°
dia - Pelca a Uyuni
Que maravilha
começar o dia com -7°C. e 16 km de subidas.
A noite anterior
não foi das mais confortáveis. Fui dormir e o tal hóspede da cama ao lado não
havia aparecido. Somente por volta das 23 horas que alguém abre a porta, acende
a luz e se identifica. É um homem de La Paz que vende remédios naturais pela região
e também vai passar a noite em Pelca.
Durante a
madrugada a temperatura despenca, no entanto, não é o frio que incomoda e sim o
colchão de palha nada aconchegante. Ainda bem que a noite passou logo e às 6
horas já estou acordado, difícil foi levantar com aquele frio, o termômetro
marca 3°C. Tomei coragem, levantei, arrumei as coisas e às 7 horas, como havia
planejado, estava na estrada.
Nos primeiros
metros em direção à Uyuni faço uma pausa e como as bananas que restaram do dia
anterior, estava com muita fome já que a janta de ontem aconteceu antes das 18
horas. Eu tinha alguns pães na bagagem, mas resolvi comer depois. Na sequencia,
uma subida que parecia não ter fim. Com o frio, altitude próxima aos 4 mil
metros e aquele aclive, ficou muito difícil para respirar e consequentemente
pedalar.
Não pedalo
muitos quilômetros pela subida e agora faço uma parada na intenção de devorar
meus pães e esquentar minhas mãos que congelavam e mal conseguiam trocar a
marcha da bicicleta. Não era para menos, meu termômetro agora marca -7°C. e
isso é realmente muito frio, contudo, minha segunda pele, camisa de ciclismo e o
corta-vento suportam bem a temperatura, o problema maior é nas extremidades,
mãos e pés. Essas partes do meu corpo realmente sofrem demais neste clima. Sem
lamentação o jeito é seguir viagem mesmo abaixo de 0°C. Antes de partir, faço
uma checagem nos raios e vejo que ao invés de um, são dois quebrados. Paciência,
muita paciência andina.
-7º.C para começar bem o dia.
Vegetação
Agora, com dois
raios quebrados, eu serei obrigado a trocar as peças em alguma bicicletaria em
Uyuni. A questão é saber se existe oficina que realize o serviço na cidade. Em
Santa Cruz de la Sierra, segunda maior cidade da Bolívia, eu tive que andar
muito para encontrar um estabelecimento, agora imagina em um município pequeno
como Uyuni.
A subida que não
terminava não era novidade, ontem um senhor havia me falado que o trecho entre
Pelca e Tica Tica levava meia hora de carro. Agora, durante o caminho eu pensava
na decisão correta que tomei em parar em Pelca no dia anterior. No entanto,
mesmo descansado, continuava muito difícil avançar. Paradas rápidas são
frequentes para retomar o fôlego e tentar, sem sucesso, encontrar o final da
subida.
O sol começa a elevar
aos poucos a temperatura, mas ainda faz muito frio. Encontro alguns
trabalhadores na estrada, estão todos com aquelas toucas ninjas, ou seja, não
era apenas eu que sentia o rigoroso inverno andino. Após passar por essas
pessoas é possível ver o término da subida. Ainda faltava um bom trecho e
durante esse trajeto restante, faço registros da parte que acabara de pedalar.
Mais uma subida que fica para trás.
No final da
subida de “apenas” 16 km, um caminhão carregado me ultrapassa, no entanto, na
descida é a minha vez de passar à frente. Mas a distância da descida foi curta,
menos de 3 km e logo o caminhão me ultrapassa de novo. Entretanto, para a minha
felicidade volta a descer e é possível observar que o declive era longo,
ultrapassei o veículo novamente. Foram mais de 8 km de pura adrenalina. No
horizonte, montanhas cobertas de gelo, evidência do frio que ainda sinto,
contudo, já estou sem a jaqueta por causa da transpiração.
Perseguição ao caminhão.
Nas alturas.
Outro trecho pedalado.
Descida, finalmente.
In foco.
Edward Mãos-de-Tesoura
A chegada em
Tica Tica acontece 27 km e três horas após a saída de Pelca. Foram duas horas
de pedal e uma hora entre as paradas. No povoado eu faço outra pausa, mas é
para comprar água, no entanto, a vendedora procurar explorar o “gringo” e cobra8
bolivianos, quase o dobro dos outros estabelecimentos. Perguntei o motivo da
elevação do preço e ela somente resmunga e sugere que eu pegue a água do rio
que passa ao lado (beleza, valeu tia!). Como eu ainda tinha uma reserva de
água, não comprei e fui adiante.
Chegada à Tica Tica
Paisagem
Após Tica Tica
começa o altiplano de verdade. Um terreno plano com extensão de 50 km. No
caminho, centenas e mais centenas de lhamas. Elas atravessam a estrada na maior
tranquilidade, assim como permanecem em suas margens. Também é possível
observar mais montanhas cobertas de gelo. Após o episódio da vendedora
exploradora, achei uma torneira na beira da rodovia, provavelmente daquele
programa governamental “miagua”, aproveitei e abasteci todas minhas garrafas. Economia
de 8 bolivianos.
Torneira. Água grátis.
Altiplano
In foco.
Aqui fica uma
dica, após Tica Tica o único povoado com possibilidade de encontrar comida ou
água mineral é em Pulacayo, aproximadamente 60 km depois, portanto, esteja muito
bem preparado. Embora eu estivesse com comida na bagagem, resolvi não almoçar,
compensava na janta, pensei.
O período da
tarde foi extremamente difícil. A subida no começo do dia havia levado boa
parte das minhas energias e agora o vento contra se incumbira de levar o que
sobrou. Em um trecho sou surpreendido por duas caminhonetes que param devagar
ao meu lado. Mas, para minha felicidade, os motoristas perguntaram se eu
necessitava de água. Não pensei duas vezes em aceitar, completei meu estoque.
Eram veículos de bolivianos que levavam turistas suíços às varias atrações da
região. Agradeci e cada um seguiu seu destino. O meu, chegar em Uyuni.
Após o trecho
plano e com vento contra, o que aparece? Mais subida. Eu não acreditava!E ainda
era possível ver que havia uma boa quilometragem de aclive. A solução foi
devorar umas bolachas, ter paciência e seguir conforme era possível, ou seja,
em um ritmo bem lento, ao contrário do que havia feito no trecho anterior.
Nas alturas, de novo.
Foram mais 6 km
de subida até chegar um ponto com descida de apenas 3 km e então ver a cidade
de Pulacayo. Uma visão nada animadora, subiria ainda mais. A essa altura eu
estava extremamente cansado e quase sem força para avançar. Meu corpo teimava
em parar de pedalar, mas ainda restavam 20 km para Uyuni. As paradas
continuaram frequentes, em uma delas fui obrigado a preparar um suco, sentia
falta de açúcar no sangue. Claro que degustei mais algumas bolachas. Trabalhadores
pelo caminho me informam que é a última subida, depois seria descida até Uyuni.
Maravilha.
À esquerda da foto, bem na parte superior, a subida de Pulacayo.
Mas foi muito
difícil pedalar essa última subida em Pulacayo. Em ambientes como esse a
natureza não perdoa ninguém. Se você não estiver realmente disposto a vencer os
obstáculos pelo caminho, certamente vai ser derrotado. E sinceramente, eu não desejava
cair em um lugar inóspito e frio como este. Então, busquei energia de todas as
partes e encarei os últimos quilômetros finais de subida.
Após a subida.
Últimos metros de aclive.
Após subir mais
6 km em Pulacayo, começa a descida, primeiramente são quase 4 km montanha
abaixo, depois tem um pequeno aclive e então, aproveite, pois serão mais de 10
km de pura adrenalina pelas curvas que levam até Uyuni. Neste momento, todo o
esforço foi recompensado pelo visual do pôr-do-sol, simplesmente fantástico. Que
chegada maravilhosa!
Descida para Uyuni.
Maravilha de pôr-do-sol.
Momento mágico. Descida para Uyuni.
Estou na entrada
de Uyuni exatamente às 18h15m, quando o sol vai embora completamente. Pergunto
a algumas pessoas sobre alojamento e sou orientado a ir ao centro. Sigo pela Avenida
Ferroviaria, a mesma por onde cheguei e logo estou na região central. Pergunto
para uma mulher sobre as hospedagens e recebo uma ajuda fora de série. Cristina,
além de me informar que os hotéis no centro não eram baratos, fez questão de me
levar a um alojamento mais econômico que fica próximo ao terminal de ônibus. No
caminho, conversamos, entre outras coisas, sobre a baixa temperatura. E então falo
sobre os 7°C negativos e ela acaba por confirmar que meu termômetro não estava
equivocado nas primeiras horas da manhã.
Cemitério na entrada da cidade de Uyuni
Uyuni, finalmente.
Mais uma vitória.
Avenida Ferroviaria
Hija predilecta.
Chegamos à
Hospedaje El Salvador (a mesma que o amigo Anderson de Foz havia recomendado),
agradeço à Cristina e vou ver quanto é o preço. 45 bolivianos, menos de 15
reais. Não era das mais baratas, mas como já estava escuro e frio, o termômetro
da cidade marcava 6°C., resolvi ficar. Meu quarto é no segundo andar e por isso
sou obrigado a tirar toda a carga da Victoria. Minha companheira não foi
autorizada a ser levada ao quarto e é trancada no pátio.
O quarto é bom,
limpo, com televisão à cabo e cobertores reforçados, mas o banheiro
compartilhado deixa a desejar. Sem falar que é uma frescura para tomar banho.
No andar onde eu estava o chuveiro não tinha água naquele horário, mas tinha um
aviso que o banho poderia durar apenas 6 minutos. Resumo, eu teria que me
deslocar a outro banheiro e naquele frio tomar um banho extremamente rápido.
Resultado é que fiquei outro dia com o banho atrasado. Deixei para fazer isso
na manhã seguinte.
No quarto,
apenas preparei meu jantar, vi um pouco do noticiário nacional e fui dormir. A
noite indicava que novamente a temperatura diminuiria bastante.
23/08/2012 - 46°
dia - Uyuni (Folga)
Dia destinado
para consertar a Victoria e ter maiores informações sobre as estradas da
região.
Acordei e
demorei um pouco para levantar da cama porque estava muito frio. Por volta das
8 horas da manhã fui andar pela cidade a fim de encontrar o mercado público
para tomar um café da manhã caprichado. Como Uyuni é pequena, facilmente
encontrei o local que também tem espaço destinado para o desayuno. Quatro pães
e duas xicaras de leite com chocolate por pouco mais de três reais. Aprovado.
Parte do mercado público de Uyuni.
Depois continuo
as andanças pelas ruas que ainda estão vazias, a maior parte do comércio abre
após às 9 horas. Em uma das ruas vejo um hotel que está no meu guia/livro e
resolvo perguntar o valor e ver a condição dos quartos e banheiros. O quarto
individual com banheiro compartilhado custa menos de 10 reais. Achei os banheiros
limpos e então resolvi que no final da minha diária na Hospedaje El Salvador eu
me hospedaria no Hotel Avenida.
A famosa torre do relógio.
In foco.
1º.C por volta das 8 horas da manhã
Pelas ruas de Uyuni.
In foco.
Como já era
perto das 9 horas, voltei para a hospedagem e peguei a Victoria para leva-la a
uma bicicletaria a menos de duas quadras da Hospedaje El Salvador. Na pequena
oficina um senhor me atende e diz que é possível fazer o serviço por menos de 5
reais. Assim, deixei quatro raios novos com ele. As peças reservas foram
compradas em Corumbá para um caso de emergência. Uma hora depois retorno para
buscar a Victoria que já está pronta. Foram trocados apenas dois raios. Espero
que aguente a travessia pelas lagunas.
Aqui vai outra
informação. Uyuni, apesar de pequena, tem muita gente que anda de bicicleta,
logo, é fácil achar algumas bicicletarias pela cidade. Elas são bem simples e
talvez conserte apenas o básico, mas ajuda bastante. Confesso que não esperava
encontrar uma oficina aqui no município, contudo, fui surpreendido e assim
tenho condições de avançar pela região de terra que me espera pelos próximos
dias.
Com a Victoria
arrumada, volto para a hospedagem, arrumo minhas coisas e sigo para o Hotel
Avenida na Avenida Ferroviária. O local tem vários quartos e banheiros, tudo
extremamente limpo. Sou acomodado em um quarto no térreo e assim a Victoria
pode ficar comigo dessa vez. Tive que elogiar a proprietária porque realmente a
limpeza é exemplar, seja no quarto ou nos banheiros. Tomei um ótimo banho e
depois fui almoçar em um restaurante ao lado. Menu completo por apenas R$ 3,15.
Portanto, hospedagem com bom preço e ótima localização em Uyuni eu recomendo o
Hotel Avenida.
DAP na Bolívia.
Hotel Avenida, recomendo.
Logo depois do
almoço fui ao conhecido Cemitério de Trens, o local fica aproximadamente 3 km
do centro. Durante o caminho (terra) se passa pela periferia de Uyuni e depois
uma parte bem suja nas margens de uma linha de trem ainda em atividade. Muitos
cacos de vidros e espinhos, então tome cuidado. No cemitério, várias carcaças
de trem, um verdadeiro depósito de máquinas sem utilização há anos. Fiquei
alguns minutos, registrei o lugar e voltei para a cidade.
Cemitério de trens.
Cemitério de trens.
Cemitério de trens.
Cemitério de trens.
Cemitério de trens.
Yo!
Yo!
Cemitério de trens.
In foco.
Presença garantida!
Olha a curva.
Retorno à Uyuni.
De volta ao
hotel, deixo a Victoria no quarto e já me dirijo a uma mercearia para comprar e
estocar comida para os próximos dias. Na cidade acontece um desfile folclórico
em homenagem à Virgem Urkupiña. As ruas ficaram coloridas e dançantes, um
cenário parecido com aquele em Potosí. Como eu estava sem câmera fotográfica,
não registrei. No entanto, amanhã é outro dia de cultura popular e talvez eu
tenha a chance de fotografar o evento.
Acho que devo
permanecer mais um dia em Uyuni, além de aproveitar o desfile, também atualizo
o site. Fiz algumas contas e devo ficar de sete a dez dias sem mandar notícias.
Esse é o tempo que devo levar para percorrer o seguinte roteiro: San Cristobal,
Culpina, Villa Alota, Quetena Chico, Salar de Chaiviri, Valle de Dali, Laguna
Verde, Laguna Colorada, San Juan e no deserto de Uyuni: Incahuasi, Hotel de Sal
e Colchani.
Hoje estive em
algumas agências de turismo (são várias pela cidade) para me informar melhor
sobre as estradas. Dizem que é possível pedalar, mas não recomendam, o caminho
é todo de terra e nas proximidades de Villa Mar começa uma longa subida. Pensei
em fazer o passeio realizado por veículos 4x4 das agências, mas são quase 200
reais para três dias de visitas. Talvez eu gaste essa grana nos vários dias previstos
de pedal pela região, mas acredito que a experiência seja ainda mais
emocionante.
24/08/2012 - 47°
dia - Uyuni (Folga)
Um mês de pedal
pela Bolívia.
Mais uma noite
fria, muito fria. Levanto da cama depois das 7h30m e vou preparar meu café da
manhã, pão e chá. Com a fome saciada eu sigo em busca de uma lan house para
atualizar o site. Como ainda não são 9 horas da manhã, tenho que andar pelas
ruas até encontrar um estabelecimento aberto. Quando finalmente consigo achar
um lugar em funcionamento, a internet é extremamente lenta e resolvo não postar
as fotos (que nem são muitas), demoraria uma semana.
Acho que fui à
maioria das lan aqui de Uyuni, em quase todas estava sem acesso à internet e
quando existia a velocidade era infinitamente lenta. Sem chance de atualizar o
site, paciência. Em Oruro procuro deixar tudo em ordem. Agora é aproveitar o
restante do dia.
A cidade acordou
em festa. É o segundo dia da “Fiesta de laVirgen de Urkupiña”, e logo nas
primeiras horas da manhã é possível ouvir as bandas e o foguetório, sinal que o
dia seria bem animado. Hoje estou com a máquina fotográfica a todo o momento em
mãos para registrar o desfile cultural e folclórico que acontece pelas ruas de
Uyuni.
Torre do relógio.
Catedral. Ensaio para o desfile.
Praça principal.
Homenagem aos trabalhadores ferroviários.
In foco.
Almoço bem cedo
e depois vou arrumar minhas coisas para deixar tudo pronto para a partida de
amanhã. Queria adiantar essa tarefa na intenção de ver o desfile integralmente
na parte da tarde. No entanto, assim que coloco o alforje traseiro, a surpresa;
pneu furado. Não acreditei, mas era verdade, o primeiro pneu furado da viagem.
Foram 2954 km sem me incomodar com isso. Eu não gosto de trocar pneu, muito
menos no frio. Mas sem alternativa, mãos à obra. Era um furo minúsculo e tenho
quase certeza que foi durante o pedal para o cemitério de trens. Ainda citei no
relato de ontem sobre os cacos de vidros e espinhos. Bom, remendei a câmara de
ar furada e rapidamente estava tudo pronto.
Com a questão do
pneu resolvida, arrumo as coisas e vou caminhar pelas ruas para assistir o
desfile. Não sou o único a fazer isso e uma multidão acompanha a festa, uma
linda festa, diga-se de passagem. Observo atentamente as cores, músicas, danças
e, sobretudo, o comportamento das pessoas que participam do evento. É
justamente esse detalhe que deixa tudo ainda mais charmoso. As pessoas se
incorporam ao espirito da festa e isso faz a diferença. A minha impressão é que
elas sentem uma enorme satisfação em fazer parte da cerimonia.
Fiesta de la Virgen de Urkupiña
Fiesta de la Virgen de Urkupiña
Fiesta de la Virgen de Urkupiña
Eu precisaria de
muitas aulas para entender o significado de cada fantasia ou vestimenta que é
exibida pelos participantes do desfile. Mas, fica evidente que os detalhes tem
sua importância. Uma mulher tenta me explicar rapidamente, no entanto, é uma
tradição de anos para se aprender em poucos minutos, me resta aproveitar essa
oportunidade de admirar mais uma expressão popular local.
Fiesta de la Virgen de Urkupiña
Fiesta de la Virgen de Urkupiña
Fiesta de la Virgen de Urkupiña
Fiesta de la Virgen de Urkupiña
Fiesta de la Virgen de Urkupiña
Fiesta de la Virgen de Urkupiña
Fiesta de la Virgen de Urkupiña
Fiesta de la Virgen de Urkupiña
Ao contrário do
que presenciei em Potosí, aqui o desfile é realizado, em sua maioria, por
jovens e adultos, contudo, muitos idosos também se fazem presentes. Digamos que
é uma festa para todas as idades. Pessoas de outras localidades participam da
homenagem à Urkupiña. É tanta gente que o desfile ainda continua, já são mais
de 12 horas de festa.
Fiesta de la Virgen de Urkupiña
Fiesta de la Virgen de Urkupiña
Fiesta de la Virgen de Urkupiña
Fiesta de la Virgen de Urkupiña
Fiesta de la Virgen de Urkupiña
Fiesta de la Virgen de Urkupiña
Fiesta de la Virgen de Urkupiña
Fiesta de la Virgen de Urkupiña
Fiesta de la Virgen de Urkupiña
Fiesta de la Virgen de Urkupiña
Fiesta de la Virgen de Urkupiña
Fiesta de la Virgen de Urkupiña
Fiesta de la Virgen de Urkupiña
Fiesta de la Virgen de Urkupiña
Fiesta de la Virgen de Urkupiña
Fiesta de la Virgen de Urkupiña
Fiesta de la Virgen de Urkupiña
Fiesta de la Virgen de Urkupiña
Fiesta de la Virgen de Urkupiña
Durante a tarde
chegou um casal de brasileiros aqui no hotel. Viajam de moto desde Sarandi no
Paraná e seguem para Antofagasta, litoral do Chile. Por coincidência, Daniel
também é historiador, formado na UEM, logo, não faltou assunto durante a
conversa.
25/08/2012 - 48°
dia - Uyuni a Culpina K.
O celular
despertou às 6 horas da manhã, mas só levantei meia hora depois, estava muito,
muito frio. A primeira coisa que fiz foi olhar o pneu traseiro para ver se
ainda continuava cheio. Tudo em ordem! Depois preparei meus pães com geléia e
um chá quente para começar bem o dia. Na sequencia arrumei minhas coisas e às
8h15m estava na rua em direção à saída para Villa Alota, 150 km distantes de
Uyuni.
Um dos mapas mais completos da região
Um dos mapas mais completos da região.
O caminho para
Alota é fácil de encontrar e rapidamente pedalo os primeiros quilômetros pela
estrada de terra. Fico surpreso pela condição da estrada, esperava algo bem
pior, parecido com o itinerário para La Higuera. No entanto, agora a situação é
outra, a começar pelo relevo, o trajeto é todo plano e isso me ajuda a manter
um ritmo maior, pelo menos nos primeiros quarenta quilômetros. Neste trecho a
estrada de terra é muito batida e por vezes chega a parecer com asfalto e nem a
poeira é levantada, ainda bem, já que o tráfego, principalmente dos veículos
4x4 das agências de turismo, é maior nas primeiras horas da manhã.
Primeiros quilômetros de estrada de terra em direção à Laguna Coloroda.
A paisagem muda
e agora finalmente estou diante do magnífico salar de Uyuni. A estrada passa ao
lado das extremidades do salar, assim é possível ver o branco inconfundível do
maior deserto de sal do mundo. Tenho a companhia do salar por aproximadamente
quarenta quilômetros. Essa distância seria marcada por algumas mudanças. A
primeira alteração ocorre no sentido da estrada. Um desvio me obriga a seguir
por um caminho paralelo ao principal (em obras). Um trecho horrível com muita
areia e que várias vezes afundou minha bicicleta. Ainda bem que o desvio durou
apenas quatro quilômetros.
As "orillas" do Salar de Uyuni.
Salar de Uyuni.
Transporte de sal.
Na companhia do maior deserto de sal do mundo.
Salar de Uyuni.
Lhamas também no Salar de Uyuni.
Quando voltei
para a pista principal, a condição era outra, continuava plano, mas a terra
batida cede espaço para uma infinidade de pedras e buracos que obrigatoriamente
me faz reduzir a velocidade. Foi preciso muita paciência para pedalar pelos
próximos dez quilômetros até o povoado de Ramaditas. Depois a estrada volta a
melhorar um pouco e agora um vento lateral quase favorável, se não ajuda muito,
pelo menos não atrapalha, contudo, a sensação térmica é muito baixa. Já passa
do meio dia e continuo com meu corta-vento.
Ramaditas e uma pequena melhora na estrada.
Ramaditas: Povoado minusculo.
Faço uma pausa
por volta das 13 horas para almoçar na estrada deserta, devoro os pães que
havia preparado pela manhã, estavam ótimos com a geléia. Repetirei isso amanhã,
já que saciou minha fome e deu energia para seguir por vários quilômetros, que
por sua vez, não mudam muito, seja em relação ao relevo, condição da estrada ou
pela paisagem. Durante o caminho um enorme silêncio que às vezes é quebrado
pela buzina dos poucos veículos que passam e me cumprimentam.
Como Alota fica
aproximadamente a 150 km de Uyuni e a condição da estrada não é das melhores,
cogito parar em San Cristobal ou Cupina k. que são povoados com estrutura
completa de apoio; hotel, restaurante, hospital, internet e telefone. Vila
Vila, 10 km antes de San Cristobal também possibilita tais recursos. Essas
localidades são conhecidas como “pueblos autenticos” certamente por disponibilizar
esse diferencial em uma região pouco habitada.
Em direção ao pueblo modelo.
In foco.
Pura estrada de terra.
In foco.
San Cristobal
In foco.
A maior surpresa
do dia, sem dúvidas, foi encontrar o salar de Uyuni, não esperava visualiza-lo
por essa região mais ao sul da cidade de Uyuni. Em todo caso, com esse
gigantesco deserto à minha frente foi possível deparar-me com uma fauna limitada
e diferente, bastante comum para a região das lagunas – principalmente a Laguna
Colorada –, os flamingos. Hoje, na passagem por um pequeno rio foi possível
flagrar e registrar alguns deles. Fiquei surpreso, pois a região extremamente
desértica quase não apresentava nenhum sinal de vida animal.
In foco.
Os primeiros flamingos.
Resolvi ficar em
Cupina K. onde cheguei por volta das 17 horas, procurei um alojamento ao qual
fui indicado mas era muito caro. Na segunda opção encontro hospedagem por 11
reais. O lugar é simples, mas o quarto é limpo e ainda tem televisão à cabo. Não
encontrei nome no local, apenas foi denominado na indicação como “casa de
pedra”, fica ao lado da parada de ônibus na praça, não tem como errar.
Finalmente em Culpina K.
Fica a dica das
distâncias:
Uyuni para
Ramaditas: 51 km.
Ramaditas para
Vila Vila: 25 km.
Vila Vila para
San Cristobal: 16 km.
San Cristobal a Cupina K.: 15 km.
É difícil achar
esses números acima na internet ou mapas, portanto, deixo as informações para
quem pretende passar pela região.
Devidamente
alojado, tomei um banho e fui comprar água, geléia e pão para o café e o almoço
de amanhã. Na volta preparo a janta e escrevo um pouco no diário.
Finalizei o dia
com 107,11 km em 7h10m e velocidade média de 14,94 km/h.
26/08/2012 - 49°
dia - Culpina K.a Villa Mar
Novamente é
difícil levantar da cama. A temperatura durante a madrugada e as primeiras
horas da manhã são extremamente baixas. Sem falar que o colchão era muito bom e
propício para continuar deitado. Mas era preciso seguir viagem, portanto,
preparei meu café da manhã com os pães comprados no dia anterior e fui para
mais um dia na estrada.
Às 07h45m estou
na estrada e o tempo, diferentemente dos dias anteriores, está nublado. Para
começar bem, uma subida logo na saída do povoado, foram quase três quilômetros
para aquecer as pernas. No final da subida já é possível ver no horizonte as
várias montanhas com os picos cobertos de gelo. Conforme me aproximo das
montanhas o frio fica cada vez mais intenso e não demora para minhas mãos
congelarem. O termômetro marca -5°C. Com a bicicleta em movimento a sensação é
horrível, parece que o corpo inteiro vai começar a congelar. Minhas
extremidades são as que mais sofrem. Sem alternativa, vou em frente na
esperança que o tempo melhore.
Após a subida eis a paisagem.
In foco.
50 km para chegar à montanha da direita.
A condição da
estrada não piora e isso já é um bom sinal. Aliás, para minha surpresa, o caminho
é muito bem sinalizado para a região. E após alguns quilômetros surge a
primeira placa sobre a distância restante para Villa Alota. Seria menos do que
eu imaginava. As pessoas chegaram a me dizer que seria de 60 km, no entanto,
foram apenas 45 km pedalados.
In foco.
Nos 45 km entre
Culpina K e Alota estiveram presentes durante o caminho; uma longa reta; as
várias montanhas cobertas de gelo; a borda de um salar que desconheço o nome; e
novamente os flamingos. Claro, o frio continua e o sol demora a aparecer.
Frio, muito frio.
In foco.
In foco.
In foco.
Chegada à Villa Alota.
Em direção à Villa Mar.
A chegada à
Villa Alota me reservava algumas surpresas, não muito agradáveis. Sigo pela
estrada principal e encontro um senhor local com a sua bicicleta, pergunto
sobre o caminho que vai para Villa Mar e ele me indica seguir até o cruzamento
e então virar à esquerda. A permanência na estrada principal me levaria para o
Chile, poucos quilômetros à frente e que não era meu destino.
Sigo na direção
recomendada e vejo apenas uma estrada à esquerda, no entanto, o local não se
parece nada com um cruzamento e vou direto (sentido Chile), muito embora,
suspeite que esteja equivocado. Não vou muito longe e resolvo voltar, pois o
caminho não parece ir à direção de Villa Mar, o senhor apontou o alto de uma
montanha à esquerda.
Retorno até o
tal “cruzamento” onde a pichação em uma parede indica Zoniquera, um povoado
próximo de Villa Mar. Mesmo sem ter certeza sobre a direção exata, sigo por
este caminho e aprecio as paisagens fantásticas, chego próximo a uma montanha
que era visível desde a saída de Culpina K., ou seja, mais de 50 km do local
onde me encontro.
Excelente orientação.
Paisagens magnificas.
Para a minha
sorte, avisto dois veículos 4x4, faço sinal de parada e peço informações sobre
o caminho certo. Aquele era mesmo o sentido para Villa Mar, mas eu mal sabia
que era somente o começo de uma longa batalha para encontrar a direção certa.
Agradeço os motoristas e sigo pela estrada que agora atravessa pequenos
riachos. A paisagem é incrível.
Atravessar pequenos riachos se tornou comum nesta região.
Registro garantido.
A estrada
margeia um rio de pequenas proporções e determinados trechos aparentam sinais
de cruzamentos de carros, evidencia que o rio não era profundo. Entretanto,
sigo direto e vejo uma ponte em construção, continuo em frente e agora me vejo
em um local que não levaria ao topo da montanha que enfim vai à Villa Mar.
Neste local encontro com uma família que me informa que devo retornar próximo à
ponte e então atravessar o rio.
Perdido a gente encontra lugares como este.
É pombão, estufa o peito porque o frio tá pegando.
Como a ponte
estava em construção tive que atravessar o rio por uma parte onde algumas
lhamas caminhavam e parecia ser raso, puro engano. O leito começou a afundar
com o peso da bicicleta e metade dos alforjes estava debaixo d’agua. A primeira
coisa que pensei foi no computador, certamente estaria molhado. Para levantar a
bicicleta com mais de 50 kg até a outra margem do rio foi extremamente
trabalhoso, mas enfim consigo atravessar. Só então lembro que o interior do
alforje traseiro está revestido com saco de ração de cachorro, que por sua vez,
são impermeáveis. Assim, minhas coisas estavam secas. Ufa!
Aqui eu atravessei à outra margem.
Do outro lado da
margem, uma infinidade de caminhos, difícil saber qual a direção certa. Claro
que não acertei na primeira tentativa. Fui a uma trilha que acabou em um
minúsculo povoado em que não tinha nem alma penada. Retorno e tento identificar
qual caminho parece ser mais utilizado, no entanto, todos têm várias marcas de
veículos e isso não me ajuda, o tempo passa e continuo perdido.
Realidade da estrada antes da subida
Como é domingo,
poucos veículos de agências turísticas passam pelo local. Resolvo parar e
esperar alguém surgir entre o emaranhado de caminhos. Para não perder tempo,
decido comer os pães que preparei para o almoço. Quando degusto o segundo pão,
vejo uma poeira ser levantada no horizonte. Era um veículo que parecia vir em
minha direção. Fico extremamente contente e faltou apenas eu acenar emocionado
que nem aqueles sobreviventes de navios que ficam perdidos em uma ilha deserta.
No entanto, a caminhonete seguiu por outro trilho. Deixei o resto do almoço no
alforje e fui tentar achar o caminho pelo qual o veiculo passou. Dessa vez a
estrada parece seguir para o alto da montanha, contudo, o trajeto é muito
arenoso e de difícil acesso.
Durante o começo
da subida, outro veículo passa por mim e então pergunto se estou na direção
certa para Villa Mar, finalmente sou informado que sim. Essa era a temida
subida que várias pessoas, desde Uyuni, falaram que eu teria que enfrentar. Mas
na real, minha felicidade em pedalar pelo caminho correto era tamanha que não
demorei muito em completar o aclive que realmente tem um nível de dificuldade
bem alto. São mais de 7 km de pura montanha acima. No trecho final surgem mais
veículos 4x4 e as pessoas começam a me aplaudir ao ver meu esforço para
completar a subida. Um turista fez a questão de abrir a janela para aplaudir.
Achei muito bacana e isso me deu um ânimo ainda maior.
Trecho da subida em terreno arenoso que fica para trás.
Mais um pouco de aclive.
No topo da montanha.
Após a subida um
enorme trecho plano, contudo, o que chama atenção é o Valle de Rocas, parece
uma plantação extensiva de rochas que nasceram, cresceram e foram esquecidas no
meio do nada. Sério, a paisagem é incrível e por vários quilômetros impressiona
quem acompanha suas formas.
Valle de Rocas.
Valle de Rocas.
Valle de Rocas.
Valle de Rocas.
Valle de Rocas.
Valle de Rocas.
O vento me ajuda
e sigo em um ritmo razoável em direção à Villa Mar até começar aparecer várias
bifurcações. Nas primeiras ainda consigo identificar o caminho com mais trilhos
e então vou pelo caminho correto, sabia disso por encontrar outros veículos. No
entanto, do nada surge uma bifurcação em que ambas as direções parecem muito
utilizadas. Fico parado por alguns minutos na expectativa de aparecer alguém e
me dizer por onde seguir. Mas como já é tarde, ninguém aparece e resolvo
seguir. Pedalo, pedalo e não vejo nada e ninguém pelo caminho. Uma área
totalmente inóspita. O caminho que resolvi seguir começa a ficar estranho e
suspeito que o melhor a fazer é voltar.
Decida-se e esteja preparado.
Antes de voltar
à bifurcação vejo um ônibus no horizonte, quase a sumir do meu campo de visão,
ele certamente pegou a outra direção. E se era um ônibus, provavelmente iria
para um lugar mais povoado, pensei. Então, não hesitei e na volta peguei um
atalho (existem milhões) que me levaria até o caminho onde o veiculo teria
passado.
Para completar o
cenário, a estrada fica pior, mais arenosa e continua deserta. Um caminhão
aparece na minha frente e aceno quase desesperado na intenção de faze-lo parar.
Eu precisava saber se estava na direção certa. O motorista, muito gente boa,
responde que Villa Mar estava a pouco mais de 5 km. Que maravilha, eu pensava
que a distância seria maior. Entretanto, com a condição da estrada nada
favorável, esses quilômetros levaram um bom tempo até visualizar o povoado. Eu
sabia que no local haveria hotel, por isso o planejamento de chegar a esse
lugar.
Areia, muita areia.
Finalmente,
pouco depois do pôr-do-sol, estou em Villa Mar, mais uma vitória, chegar aqui
não foi nada fácil. Além de tudo, a região é extremamente fria e acampamento só
em último caso. Apesar de levar um equipamento de camping para baixas
temperaturas, o frio é intenso demais e me sinto bem mais seguro em um
alojamento. Por isso, tratei de buscar uma hospedagem, valor: 11 reais.
Pensei que cairia um temporal.
Finalmente, Villa Mar.
In foco.
A hospedagem não
tem nome, mas é a primeira que você encontra quando chega ao povoado. Converso
com o proprietário sobre o caminho a seguir. Explico que desejo chegar à Laguna
Verde viaQuetenapara depois subir até a Laguna Colorada. Então o senhor me
explica que o caminho que pretendo seguir não é aconselhável pelo pouquíssimo
trânsito e o difícil acesso. Informa-me que é possível chegar primeiro à Laguna
Colorada pela estrada que passa pela Laguna Capina. Trajeto aproximadamente de 80
km.
Com essas
informações vou ao meu quarto, pego os mapas e começo a pensar no que fazer. E
ainda existe outro fator. Agora tenho o conhecimento que terei que pagar 150
bolivianos para entrar na Reserva Nacional de Fauna Andina Eduardo Avaroa, ou
seja, quase 50 reais. É a metade do valor que tenho em moeda local. Assim, meu
dinheiro será insuficiente para os dez dias que ainda terei que pedalar,
incluindo o Salar de Uyuni.
Após pensar
muito, traço uma nova rota e descarto passar na Laguna Verde. Desse modo, sigo
para Laguna Colorada e depois vou para o norte em direção à San Juan e
posteriormente a entrada ao salar de Uyuni. Em relação ao dinheiro, tentarei
encontrar algum brasileiro nas hospedagens da Laguna Colorada, se tiver sorte,
poderei trocar alguns poucos reais por bolivianos e assim seguir mais
tranquilo. Em Uyuni não fiz o câmbio porque a cotação estava muito baixa.
No quarto,
preparo a comida e vou dormir cedo. O caminho para Laguna Colorada, pelo que me
falaram, tem uma subida bem mais pesada do que aquela depois de Alota.
Portanto, será mais um dia difícil.
Hoje finalizei
com 103 km em 8h37m e velocidade média de 11,79 km.
Fica a dica, de
Villa Alota até Villa Mar, a distância deve ser de 60 a 65 km.
27/08/2012 - 50°
dia - Villa Mar a Salar Capina
A pretensão do
dia seria chegar à Laguna Colorada. Mas muitas surpresas pelo caminho me
fizeram ficar no único ponto de apoio possível entre Villa Mar e a Laguna
Colorada; Salar Capina.
Comecei o dia
perdido, de novo. Às 8h00 da manhã sigo na direção que me foi recomendada. O
proprietário do alojamento me disse com certa convicção que em 2 km haveria um
desvio para a direita que seguiria para a Laguna. Na saída do povoado, pergunto
a direção da estrada e agora outro senhor diz que em 1 km estaria o tal desvio.
Em todo caso, deveria ir para a direita.
Alojamento em Villa Mar.
Pelas ruelas de Villa Mar.
Na saída de Villa
Mar o frio da manhã é exibido pelas águas congeladas de um rio à beira da
estrada. Temperatura negativa é comum na região, sobretudo, no inverno. Então,
novamente tenho que pedalar com muito frio. Pouco mais de 1,5 km aparece um
desvio e à direita. Mas suspeitei na hora por não me parecer muito utilizado e
não entrei. Direto a estrada fica estranha e acho que o caminho correto era
mesmo o desvio de antes. Retorno e sigo por ele. Existem marcas de veículos no
desvio, mas eu simplesmente não conseguia ver para onde a estrada seguia.
Quando apareceram mais bifurcações eu fiquei ainda mais na dúvida. Resolvo
voltar e esperar por alguém na entrada desse desvio e assim ter uma direção
correta.
Rios congelados, uma realidade a mais de 4 mil metros de altitude.
In foco.
In foco.
O "falso" desvio.
O difícil foi
aparecer alguém. O tempo passava e eu não estava confortável com isso.
Novamente estou prestes a ir por esse desvio quando vejo sinal de poeira e veículo
no horizonte. Espero ansioso pela aproximação do automóvel, mas mesmo com meu
gesto o motorista passa em alta velocidade e não para. Sem tempo a perder, sigo
para o desvio e pedalo poucos metros quando vejo outro veículo, retorno e agora
tenho a informação que desejo.
A minha sorte
foi não seguir por esse primeiro desvio, ele não é o caminho em direção à
Laguna Colorada. O desvio verdadeiro fica a quase 3 km de Villa Mar e tem uma
placa que nada se refere à Laguna, mas que serve de referência para próximos
viajantes que se atreveram a pedalar pela região.
A referência para o "verdadeiro" desvio.
Bom, no desvio
aparentemente correto, nenhuma alma pelo caminho. Apenas poças de água
congelada que são quebradas com a passagem da bicicleta. Juro que nunca
imaginei isso, mas as surpresas estavam apenas no início.
Gelo pelo caminho.
A estrada é
horrível e agora inúmeras pedras tomam conta do caminho. Sigo bem devagar
quando avisto mais uma bifurcação, escolho o lado direito que direciona para a longa
subida que me avisaram. Apenas minutos depois um veículo aparece e confirma que
sigo pela estrada correta, no entanto, ratifica que a subida é “larga”. O
guia/motorista pergunta se preciso de água e na mesma hora respondo que sim, seria
bom completar minha reserva. Mas para minha surpresa ele me oferece uma garrafa
de 2 litros, lógico que aceitei. Desde então tenho pedalado com mais de 4
litros de água.
Estrade de rípio. Cruel!
Parte da subida de 11 quilômetros.
Sobre a subida. Realmente,
a primeira impressão não foi das melhores. O trecho durante o aclive não
melhora e começa uma jornada que parecia não ter fim. Foram mais de 11 km de
subidas que somente não são ininterruptas porque aparecem duas descidas leves
que existem somente para você poder subir mais depois.
A subida foi
complicada por causa da estrada, muito buraco e pedra em toda sua extensão. Por
vários trechos a velocidade do pedal era de 4 km/h, nunca imaginei pedalar tão
devagar, mas não tinha escolha. Avançava devagar e nada de aparecer o final da subida.
Chegar à Laguna Colorada no final do dia me parecia uma realidade distante.
Aqui eu não havia pedalado nem a metade da subida.
Durante a subida,
vários veículos 4x4 passam e me cumprimentam. Hoje, todos os passageiros de um
veiculo, incluindo o motorista, me aplaudiram. Essa atitude me levou a refletir
sobre esse gesto. Certamente pedalar naquele terreno não deveria ser muito
comum e como meu pai recentemente me disse: toda ação tem uma reação. Então, os
aplausos provavelmente eram pela determinação em viajar pela região inóspita e
de terrenos acidentados com apenas uma bicicleta.
Aplauso em nossa
sociedade é um gesto nobre, infelizmente direcionado em poucas ocasiões. Fiquei
a me perguntar qual foi a última vez que aplaudi alguém e sinceramente não
encontrei a resposta. E talvez isso tenha acontecido por dois motivos. Primeiro,
a minha possível falta de sensibilidade para enxergar atitudes cotidianas que
mereçam tal reconhecimento. Segundo, talvez esses atos não estejam por
acontecer com a frequência que deveriam. Sei que ficarei ainda mais atento e
não hesitarei em aplaudir diante de situações merecedoras de meu
reconhecimento. E você, quando foi a última vez que aplaudiu alguém ou foi
aplaudido?
A subida foi sem
dúvidas uma das piores que já pedalei. Não foi fácil chegar ao topo, mas quando
isso aconteceu estava na hora de aproveitar a descida de quase 8 km que foi
interrompida algumas vezes por novas subidas. Sei que eu estava bem cansado
quando avistei a Laguna Capina e o salar que leva o mesmo nome. Os lugares
proporcionam uma bela paisagem que apenas não é mais bem observada porque o
vento contra começa a piorar e fica tudo ainda mais difícil.
Na metade da subida. Próximo aos 5 mil metros de altitude.
Lama para melhorar a situação.
Agora, ao lado
do salar Capina, o pedal fica mais pesado, mesmo no plano, o terreno continua
irregular e o vento contra abaixa abruptamente a temperatura, sinto muito frio
e ainda não é 5 horas da tarde. Pedalo e penso em qual decisão tomar, a Laguna
Colorada estava distante e não haveria tempo hábil para chegar até a mesma.
Acampar seria apenas em último caso. Restou-me outra opção, que por sua vez,
surgiu à minha frente: o alojamento dos trabalhadores do salar.
Salar/Laguna Capina.
E a estrada continua "maravilhosa"
Olha o estilo da curva à frente.
Laguna Capina.
Em Villa Mar o
proprietário da hospedagem me falou sobre o “acampamento” dos trabalhadores e
agora tudo indicava que os prédios no horizonte só poderia ser ele. Aproximar
do alojamento não foi fácil, a estrada que já era péssima fica pior com a
quantidade de areia que se estende por muitos quilômetros. Agora pense, eu já
estava cansado por causa da subida de 11 km, depois aparece o vento contra e o
frio e para completar o cenário, areia. Somente com muitapersistência chego ao
tal acampamento, olho atentamente e parece não ter ninguém, acho estranho e
confiro novamente quando vejo alguém no interior de uma área mais nova, minha
sorte começava naquele momento.
Quem me atendeu
foi um trabalhador que realizava uma pintura interna no prédio. Explico minha
situação e pergunto se existe a possibilidade de passar a noite em alguma
dependência do alojamento. Ele pede para esperar e logo um superior aparece.
Era Ramon, que ouviu meu quase apelo para poder permanecer a noite no local.
Ele pensa um pouco e me pede para aguardar. Como fazia muito frio, eu estava
todo encolhido e acho que isso pesou na decisão do Ramon que na sequencia
permitiu minha entrada.
No interior do
prédio o forte cheiro de tinta nem incomodava, queria mesmo era descansar. Fui
direcionado (junto com a Victoria) a um dormitório com quatro camas e uma
lareira, no entanto, somente eu passaria a noite no lugar, que maravilha. O
local era limpo, arrumado e com vários cobertores disponíveis, tudo que
precisava no momento. Ramon me faz as perguntas básicas, inclusive, onde eu
havia almoçado. Respondo que estou sem a refeição e então ele faz uma cara de
espanto e vai embora.
Troquei de roupa
e fiquei debaixo das cobertas, estava bem frio. Permaneço bem quieto e penso que
tenho que preparar o jantar, minha macarronada de atum. Ouço barulho de panelas
e começo a sentir um cheiro de comida, a cozinha fica próxima do quarto e logo
imaginei que eu poderia ser convidado para jantar, algo que seria excelente. No
entanto, o tempo passa e ninguém aparece. Resolvo finalmente começar a
cozinhar. Meu macarrão está quase pronto quando o Ramon aparece e diz que a
partir das 19h30m eu posso me dirigir ao refeitório para jantar. Que maravilha!
Agradeço o convite e respondo que estarei presente.
No final das
contas eu comi a macarronada que fiz e depois fui jantar com o pessoal. O
refeitório ficou cheio aos poucos. O alojamento que parecia abandonado quando
cheguei estava lotado após às 18 horas. A comida foi simples, arroz, tomate,
batata frita e um pedaço de frango frito, típica refeição boliviana. Apesar do
meu primeiro jantar, eu ainda estava com fome e não demorou para a comida do
refeitório sumir do meu prato. Prestei atenção para ver se alguém repetiria
para eu ir no embalo, mas como isso não aconteceu, agradeci novamente ao Ramon
e fui para o quarto finalmente descansar.
Eu estava muito
feliz, horas antes eu não tinha onde passar a noite e agora estava abrigado e
alimentado. As coisas têm ocorrido de tal forma durante a viagem que às vezes
me faltam palavras para descrever meus sentimentos. Sei que a positividade
influência muito e pensamento positivo não me falta, ainda bem.
28/08/2012 - 51°
dia - Salar Capina a Laguna Colorada
Que noite!
Acordei à 01h30m da madrugada e não era por causa do frio, embora a temperatura
estivesse extremamente baixa. Despertei sem motivo algum e comecei a pensar na
vida, família, fé, amizade, dinheiro e várias outras coisas. Fiquei minutos a
refletir sobre esses assuntos. Ainda dedicarei uma postagem exclusiva para
eles. Depois, observei através da janela, como o céu estava estrelado e
posteriormente prestei atenção no silêncio absurdo que estava no local,
incrível.
Depois de tudo,
voltei a dormir e sonhei com a Glória Maria, repórter da Rede Globo. Podem dar
risada, mas isso tem um motivo. Tempos atrás ela fez uma reportagem na Bolívia
e abordava justamente a Laguna Colorada. A matéria foi impactante e nunca mais
esqueci. Agora, eu estava finalmente prestes a conhecer o lugar e talvez a
ansiedade tenha transportado a Gloria Maria para meus sonhos, vai saber.
Enfim, acordei
cedo, arrumei minhas coisas e às 07 horas voltei ao refeitório. No dia anterior
fui convidado para tomar o café da manhã e claro que eu não negaria, minha
reserva de comida havia terminado. No desayuno, pão, chá e leite. Consegui
repetir o pão e o leite, assim reforcei meu estômago e estava pronto para sair
em direção à Laguna Colorada.
Acampamento dos trabalhadores do Salar Capina.
Ramon havia me
avisado que a Laguna ficava aproximadamente a 40 km. Assim, às 8 horas eu já
estava novamente na estrada. Não demorou 5 minutos e minhas mãos congelaram,
dessa vez a rapidez com que isso aconteceu me surpreendeu. O frio extremamente
intenso ficou pior com o vento contra. Meu corpo inteiro simplesmente congelou
e isso com menos de 2 km de pedal. Pensei em retornar ao acampamento, mas
resolvi seguir viagem. Entretanto, continuar como eu estava seria impossível e
tive que, pelo menos, colocar a luva de lã, simplesmente eu não conseguia mover
meus dedos.
O frio não
passava, o vento insistia em permanecer e o sol demorava a esquentar. Um leve
aclive marca os primeiros quilômetros da estrada que melhora um pouco, agora
com menos pedras e areia. Ao redor, montanhas cobertas de gelo marcam a
paisagem. Meu deslocamento era lento em razão do frio e o vento contra. Muitas
vezes parei na intenção de esquentar minhas mãos. Neste momento havia perdido a
sensibilidade dos dedos e era uma dificuldade até mesmo para tirar foto.
Paisagem.
Vicuñas.
Após 20 km,surpresa.
Uma descida que levava direto a uma laguna. Pensei que não era a Laguna
Colorada, estava longe dos 40 km que o Ramon havia me orientado. Em todo caso,
vejo uma cor predominante, branco. Não sabia identificar se era gelo, sal ou
qualquer outra coisa. Aproveitei a descida de 6 km e cheguei à entrada da
Reserva Nacional de Fauna Andina Eduardo Avaroa. Eu estava mesmo diante da
famosa e esperada Laguna Colorada (4.278 m de altitude). Agora outras cores são
visíveis e fazem jus ao nome do local.
Finalmente, Laguna Colorada.
In foco.
Laguna Colorada
Laguna Colorada.
Quase na entrada da Reserva Nacional.
Na entrada tenho
que pagar os quase 50 reais para poder conferir as belezas naturais do parque.
Sou informado pelo mal encarado guarda-parque que tenho a permissão de
permanecer quatro dias no interior da Reserva. Os guardas com estilo de
guerrilheiros me avisam também que existem dois caminhos para chegar ao outro
lado da Laguna Colorada, local onde ficam as hospedagens. A primeira opção
seria dar a volta na laguna, 23 km. O outro caminho era próximo da entrada do
parque, 13 km. A segunda opção é tentadora, mas de início estava descartada,
pois eu pretendia registrar as belezas da Laguna Colorada, que poderiam ser
mais bem visualizadas em um pedal ao seu entorno.
Sigo admirado
pela quantidade de flamingos (espécie chilena, andina e james), eles são dezenas,
centenas, milhares. Algo realmente incrível, um espetáculo que fica ainda mais
bonito com as cores da água, sobretudo, o vermelho que se intensifica a partir
do meio dia em razão dos pigmentos das algas, conforme é mencionado no meu
guia. É surpreendente como o conjunto da obra deixa o cenário único. As aves
caminham e parecem dançar sobre a água já que a profundidade é de apenas 80 cm.
Laguna Colorada
Laguna Colorada
Laguna Colorada
Laguna Colorada
Victoria guerreira.
Laguna Colorada
Laguna Colorada
Laguna Colorada
Laguna Colorada
Se por um lado a
beleza da laguna é espetacular, a estrada é repleta de buracos e deixa o
deslocamento lento, bom para observar e registrar melhor todo aquele ambiente.
Contudo, chega um momento às margens da laguna onde existe uma placa que diz;
No haypaso. E a estrada que vejo os veículos 4x4 passarem é a que leva para a
Laguna Verde e não faz a volta na Laguna Colorada. E agora? O jeito é voltar na
entrada do parque e seguir pelo caminho alternativo, aquele de 13 km. Um guarda
me informou apenas que era um trecho arenoso e cheio de pedras, algo que não era
novidade se levar em conta o trajeto realizado para chegar à região.
Que caminho
horrível. Se você vier visitar a região, independente do veículo, jamais
escolha esse caminho. Foi um dos piores que pedalei na viagem. Nos primeiros
quilômetros ainda consigo vencer facilmente os obstáculos com as pedras e a lama,
contudo, aos poucos começa o trecho com areia, muita areia. Agora, com muito
esforço consigo avançar, pelo menos até a bicicleta atolar, o que acontece por
várias e várias vezes. Tirar a Victoria da areia é um sacrifício, são mais de
50 kg e isso pesa demais. O visual da laguna também é bonito, mas a situação
acaba por não favorecer um olhar mais atento. As horas se passam e eu ainda não
consigo chegar à outra margem.
A estrada altenativa para o outro lado da Laguna Colorada.
In foco.
Registro garantido.
Laguna Colorada.
Com um esforço
do tamanho da beleza da Laguna Colorada, consigo chegar finalmente à outra
margem às 17 horas. Eu estava extremamente cansado por causa do esforço para
tirar a bicicleta da areia. No outro posto do guarda-parque apresento meu
boleto e sigo em direção aos alojamentos. Paro na hospedagem do senhor
Eustáquio, diária R$ 9,50 e mais R$ 4,00 para tomar banho. Não penso duas vezes
e permaneço no local.
No quarto ao
lado do meu tem um grupo de turista, os veículos 4x4 fazem paradas de pernoite
aqui. Aproveito o movimento de pessoas e vou perguntar se tem algum brasileiro.
A resposta é negativa e seguida de uma pergunta; O que eu queria com um
brasileiro? Então explico minha situação financeira, que tenho poucos
bolivianos e pretendo trocar alguns reais. Uma francesa se solidariza e aceita
me ajudar, troco cem reais pela moeda local.Perdi um pouco de dinheiro porque
fiz o câmbio pela maior cotação encontrada em Uyuni, 2,90, baixa se comparada àquela
da fronteira, onde 1 real valia 3,17 bolivianos. No entanto, isso seria
suficiente para chegar à Oruro e por enquanto eu não precisava me preocupar com
essa questão. Agradeci bastante a francesa que disse por mais de uma vez; vou
confiar em você. Na boa, ainda sugeri a ela fazer o câmbio em La Paz que ainda
sairia no lucro.
Mais uma vez
estou sem almoçar, decisão estratégica, tenho adotado ela nessa região inóspita
em que raramente na hora do almoço estou em algum povoado que sirva a refeição.
Assim, busco reforçar o café da manhã e durante o dia detono as bolachas ou
pães. Mas agora, final de um longo dia de pedal, a fome é cruel.
Comento que
estou sem comer e me oferecem uma sopa com carne de lhama por 15 bolivianos, o
preço de um prato completo. Com a minha fome aceito a sugestão, nem troco de
roupo e me dirijo à cozinha onde sou convidado a compartilhar a mesa. A sopa
estava uma delícia, ganhei outro prato e alguns pãezinhos diretamente de San
Pedro de Atacama no Chile, que fica próximo daqui. Depois, um pouco mais
familiarizado, me servem um chá que foi muito bem-vindo.
Bom, mesmo com
dinheiro, não teria tempo de ir visitar a Laguna Verde, levaria dois dias para
ir e mais dois para voltar. Mas isso não me desanima, estou suficientemente
satisfeito de conhecer a Laguna Colorada. Assim, amanhã vou até aArbol de
Piedra, um local que não pode ficar fora do roteiro de jeito nenhum, pois tem
um significado especial. Depois vejo qual caminho é a melhor opção para chegar
ao Salar de Uyuni.
O quarto onde
estou é compartilhado, tem mais seis camas. Apesar do senhor Eustáquio me dizer
que apenas eu ficaria no dormitório, por volta das 20 horas apareceu um
guia/motorista que dormiu em uma das camas. Sem problema.
Dia finalizado
com 50,14 km em 5h58m e velocidade média de 8,38 km/h.
O dia começou de
madrugada. Os veículos de turismo partem geralmente às 5 horas da manhã. Assim,
trinta minutos antes começa a movimentação. Compreendo a situação e não me
incomodo e volto a dormir por mais alguns minutos.
Levanto por
volta das 7 horas da manhã com uma baita fome, meu estoque de bolacha acabou e
assim vou até o senhor Eustáquio perguntar se ele não me vende alguns pães. Sua
esposa diz que não e naturalmente devo ter feito uma cara de fome/decepção com
a notícia que minutos depois a mulher aparece com uma sacola de pão e me cobra
apenas 2 bolivianos. Maravilha! Preparei um chá e tomei meu café da manhã.
Decidi que hoje
conheceria apenas a Arbol de Piedra pelo período da tarde, assim poderia
descansar um pouco pela manhã. Desse modo, aproveitei as primeiras horas do dia
para atualizar o diário. Tem sido difícil escrever durante esses dias, o
cansaço e o frio têm sido demais e a opção é chegar no alojamento, às vezes
tomar banho, preparar a janta e dormir.
Na hora do
almoço preparei minha comida e logo depois fui em direção a Arbol de Piedra, uma
das atrações da Reserva que foi esculpida pelo vento. A famosa Árvore de Pedra fica
no Desierto de Siloli que estampa a capa de um dos livros do amigo cicloturista
Valdo (Valdecir João Vieira), um senhor que pedalou até os 65 anos de idade e infelizmente nos deixou
enquanto realizava sua volta ao mundo de bicicleta. Quando comecei a viajar há
seis anos, pela internet o Valdo compartilhou dicas preciosas, sem falar no incentivo
de sempre. Pela sua relação com o cicloturismo e a influência que este teve em
seu estilo de vida é que admiro ainda mais o memorável amigo.
O trajeto de 18
km até a Árvore de Pedra é marcado por subidas, buracos e pedras. Acho que
levei quase 2 horas para chegar ao local que deve estar próximo aos 5 mil
metros de altitude. Mas vou falar uma coisa, fiquei mais emocionado do que ao
ver a Laguna Colorada. Era uma homenagem pessoal que acabava de fazer ao Valdo.
Uma forma de agradecer seus ensinamentos e que toda sua experiência e
conhecimento não foram em vão. Sua última viagem foi batizada de Pedalando pela
Paz e acredito que tenha atingido seu objetivo, pois conforme alguém disse uma
vez; se você muda uma pessoa, você muda o mundo. E certamente o Valdo foi e
continua a ser influência para muitas pessoas que descobriram, sobretudo, a paz
interior. Um abraço, camarada.
Arbol de Piedra
Arbol de Piedra
In foco.
Arbol de Piedra. Homenagem ao amigo Valdo.
Quando cheguei à
Árvore de Pedra já havia alguns turistas que registravam o local, aproveitei a
presença deles para tirarem fotos minhas, imagina se eu iria embora sem fazer
um registro para a posteridade. O tempo passa e mais turistas chegam para
conhecer o lugar. Acabo involuntariamente por ser uma atração à parte, muita
gente vem conversar comigo e faz um monte de perguntas. Foi bom demais, falei
com franceses, italianos, espanhóis, israelenses e claro, brasileiros. De
repente uma galera do Brasil estava reunida, conheci um pessoal maneiro demais,
paulistas e um cara de Rondônia. Perdoem-me não lembrar os nomes, era muita
gente e emoção demais.
As meninas de
São Paulo perguntaram se eu queria alguma coisa, pois elas tinham muita comida
no carro. Claro que eu disse que não poderia negar nada e assim me trouxeram
maça e pacotes de bolachas. O rapaz de Rondônia ainda completou minha garrafa
de água. Acho que a galera curtiu a presença de um brasileiro que chegou de
bicicleta no local. Sei que estava um clima bem legal naArbol de Piedra, gostei
muito. Obrigado por tudo pessoal.
Falaram-me que
havia um cicloturista que chegava próximo à Árvore, vindo da direção da Laguna
Hedionda, mas ele empurrava a bicicleta e talvez demorasse um pouco. Esperei um
bom tempo e não apareceu ninguém, certamente parou em algum lugar para montar
acampamento. Esse caminho de Laguna Colorada até Chiguana que passa por mais
algumas lagunas, era uma opção para eu chegar até o Salar de Uyuni, mas todos
com quem conversei disseram que o caminho estava muito ruim, pior do que estes
que enfrentei até então. Assim, não tive dúvidas, fazer o caminho de volta: Villa
Mar e Alota, desta última seguir para San Agustin, San Juan e na sequencia
Chuvica, a entrada para o salar.
Vale dizer que
uma italiana ao saber que eu era historiador falou que os professores de
história na Itália são muito ruins porque ficam presos somente aos livros. Fez
questão de frisar que eu seria um professor diferente e ainda tirou uma foto
minha com a sua filha. Uma viagem de bicicleta para esse fim de mundo, em uma
das áreas mais inóspitas da Bolívia, certamente não é nada fácil, mas então
você tem esse contato com as pessoas e percebe que nada é em vão. Cada giro no
pedal tem seu significado.
Despeço-me daÁrvore
de Pedra com boas recordações. A volta à Laguna Colorada é mais rápida, a
descida e o vento ajudam. Na hospedagem vou direto à cozinha comer mais uma
sopa enquanto a janta não fica pronta. Na verdade o jantar preparado era para
os turistas, ao final de cada tarde, novos aparecem, são trazidos pelas
agências que por sua vez oferecem hospedagem e alimentação.
Caminho entre Laguna Colorada e Arbol de Piedra.
A mais de 4.200 metros de altitude.
Laguna Colorada.
Quando a comida
dos outros turistas ficou pronta, fui chamado para comer na cozinha junto com
os proprietários e membros da família. Mais uma sopa deliciosa de quinua. Nesta
noite conversamos e rimos demais, um ambiente muito bom, aquele tipo de lugar
que você sente que é bem recebido. O senhor Eustáquio fez questão de me mostrar
um certificado emitido pelo Departamento de Potosí que o parabeniza como o
primeiro hoteleiro de Laguna Colorada. Não por menos, ele vive no local há
quarenta anos.
Entre as conversas
do jantar descubro algumas curiosidades. Aqueles adornos que algumas lhamas têm
são colocados na época do carnaval. Aliás, uma lhama demora aproximadamente
três anos para ficar pronta para o abate. O preço varia de 315 a 410 reais. Em
determinadas regiões da Bolívia ela é criada como o gado é no Brasil. Em Sucre
eu havia experimentado a carne de lhama, é gostosa, mas não achei muito
diferente da carne bovina, depende do preparo.
Claro que
falamos sobre política e uma frase chamou atenção, um familiar disse que a
Bolívia é rica financeiramente, mas que o dinheiro não é revertido para a
população. Qualquer semelhança com o Brasil não é mera coincidência. Em todo
caso, aprovam o governo de Evo Morales, disseram que pelas mudanças que vem
sendo feitas é possível que permaneça mais um governo.
Falamos pouco
sobre futebol, mas não é a primeira vez que o nome sensação do momento é
direcionado ao Neymar. Eu só disse uma coisa; está ganhando muito. Ainda recebi
uma infinidade de dicas sobre as estradas e por fim, outro jantar. A esposa do
senhor Eustáquio havia preparado um monte de macarronada para os turistas e
eles não comeram quase nada. Logo, fui servido de novo. O que sobrou ainda foi
embrulhado para eu comer na estrada no dia seguinte. Também ganhei pães para o
café da manhã. Imagina minha cara de felicidade. Detalhe, não me foi cobrado
nada por isso.
Na hospedagem
ainda funciona uma pequena mercearia onde comprei água e bolacha. Os preços são
inflacionados com a desculpa/justificativa da distância, algo até
compreensível. Portanto, não se assuste se encontrar itens básicos pelo dobro
do preço. Após reforçar meu estoque fui descansar para o dia seguinte.
Que dia
inesquecível! Um dos melhores da viagem, com certeza.
30/08/2012 - 53°
dia - Laguna Colorada a Villa Mar
Acordei cedo com
a intenção de estar na estrada às 7 horas da manhã, mas novamente o frio não
possibilitou tal façanha e somente uma hora depois fui começar a pedalar. O dia
aparentemente não reservava muitas surpresas já que eu estaria por fazer o
caminho de volta.
Hoje, o retorno
à entrada da Reserva Nacional ocorreu pela volta completa na Laguna, exatos
23,5 km, caminho que eu deveria ter feito no dia que cheguei à Reserva. Naquela
parte onde existe a placa: No Hay Paso, bastaria seguir pela estrada lateral,
simples assim. Não tem erro. Durante o resto do caminho, aproveitei o amanhecer
para fazer mais alguns registros fotográficos da Laguna Colorada que novamente
estava deslumbrante com seus personagens ilustres.
Hospedagens da Laguna Colorada.
Amanhecer na Laguna Colorada.
Segundo meu
guia/livro, as partes brancas na laguna que parecem icebergs são placas de gesso,
bórax e sal.
Laguna Colorada.
Laguna Colorada.
In foco.
Yo!
À direita, o estreito caminho alternativo que vai à outra margem da Laguna.
Segundo meu
guia, as partes brancas na laguna que parecem icebergs são placas de gesso,
bórax e sal.
Da entrada da
Reserva até o Acampamento no Salar Capina foram 26 km. Os primeiros 6 km de
pura subida, nem me lembrava de que havia descido tanto dois dias atrás. Foi
tenso completar o trecho bem íngreme. E como presente por finalizar a subida,
um veiculo 4x4 para ao meu lado e o passageiro pergunta se preciso de água. Era
o rapaz de Rondônia que acabou por deixar 2 litros para minha reserva. Agradeci
e continuei em frente.
Subidas para variar.
A pretensão era
chegar à Villa Mar, seria difícil pela condição do terreno, mas eu estava
disposto a isso. Na verdade, após conhecer Valle de Rocas, Salar/Laguna Capina,
Laguna Colorada, Arbol de Piedra e Desierto de Siloli, eu quero mais é estar
diante do famoso e lendário Salar de Uyuni que agora ao invés de temido é
desejado. Após dias de pedal nesta estrada de terra horrível, não vejo a hora
de pedalar pelo deserto branco, sem subida, buraco, pedra e poeira.
O trecho até o
Salar Capina foi de ritmo forte quando a estrada ajudou. Uma máquina havia
deixado um trecho do caminho mais “liso” e então aumentei a velocidade para
ganhar tempo. O vento era fraco e não atrapalhou. Assim, cheguei ao acampamento
no salar por volta das 14 horas. Faltavam mais de 30 km para Villa Mar.
Acampamento no Salar Capina.
No acampamento
encontrei o Ramon e disse que havia mudado o roteiro para chegar ao Salar de
Uyuni, agradeci novamente pela hospedagem do outro dia e me mandei. A luta
contra o tempo era o maior desafio. Difícil pedalar rápido com uma infinidade
de buracos e pedras. Depois do Salar Capina havia outro trecho de subida, na
verdade várias subidas e bem íngremes, praticamente 7 km que custaram a passar.
Mas depois chegou a hora aguardada. Descer os 11 km que me fizeram sofrer três
dias atrás.
Salar Capina.
Laguna Capina.
Extremamente ingreme.
Realmente não foi um trecho fácil.
Montanha abaixo
com a estrada em péssimas condições está longe de ser agradável, mas com
certeza era melhor que subir todos aqueles quilômetros. Lembrava constantemente
do esforço que havia feito quando fui à Laguna Colorada. Em todo caso, a luta
contra o relógio continuava, pois após a descida tinha um trecho ainda pior,
era plano, mas com muitas pedras e eu não queria passar no local de noite.
Assim, tentei descer um pouco mais rápido, mesmo com bastante trepidação na
Victoria. A sombra nas montanhas era um sinal que o sol já estava de partida e
eu deveria pedalar sem parar, exceto para algumas poucas fotos.
Finalmente descida.
Final de tarde.
Consegui
terminar a descida de 11 km e o sol ainda era visível, mas no trecho irregular
repleto de pedras foi quase impossível passar dos 10 km/h. A Victoria aguentou
firme todos os solavancos, que eram maiores e frequentes. O sol se vai por
completo e agora o frio se faz presente junto com uma lua maravilhosa. Consegui
um registro magnífico das montanhas cobertas de gelo, a lua e o crepúsculo que
deixou a paisagem digna de um retrato.
Magnifico!
A noite chegou e
ficou tudo escuro, com esforço ainda pedalei sem farol até às 19 horas, depois
tive que ligar para enxergar melhor, no entanto, com o farol o meu campo de
visão era limitado e isso impediade ver caminho com a melhor condição, desse
modo fui obrigado a passar por buracos e pedras de todos os tamanhos. Minha
torcida era para que a Victoria continuasse inteira. Sinceramente, tenho uma
confiança enorme na minha bicicleta, por isso enfrento esse tipo de situação
com ela.
Por falar em
situação, pedalar no escuro estava previsto hoje. E só aceitei esse desafio
porque conhecia o caminho para Villa Mar, caso contrário eu não pensaria duas
vezes em deixar o trecho para o dia seguinte. Agora, mesmo durante a escuridão
eu conseguia identificar a direção correta, inclusive no cruzamento que vai
para Villa Mar ou Quetena. Deste ponto em diante eu sabia que eram apenas mais
3 km. Felizmente ficava cada vez mais próximo e não era sem tempo, o frio
estava intenso, afinal o velocímetro indicava que eram quase 20 horas.
A comemoração
solitária foi novamente feita ao ver as luzes da pequena Villa Mar, outra vez
estava prestes a concluir um longo dia de pedal. Na entrada do povoado parei em
uma hospedagem diferente daquela da vez passada, no entanto, havia apenas
quarto compartilhado. Então segui em direção ao alojamento que fiquei três dias
atrás, certamente não estaria lotado e conhecia as condições do local. Demorei
um pouco para encontra-lo, pedalar em um povoado, ainda que pequeno, mas pouco
iluminado não é fácil. No alojamento vou direto ao banho que estava um dia
atrasado. Aqui nesta região inóspita a água do chuveiro é aquecida à gás, uma
pena que existe programação no equipamento e meu banho quente durou apenas 6
minutos, ainda bem que consegui deixar tudo limpo.
Após o banho fui
preparar minha comida de sempre. Antes de chegar ao alojamento até parei em uma
mercearia para ver as possibilidades de compra, mas só havia bolacha, macarrão
e atum/sardinha para comer. A culpa não é minha por essa dieta. Infelizmente as
opções na região são limitadas, achar pão, por exemplo, é muito difícil, frutas
então, nem se fala. O jeito é preparar uma macarronada de atum. Claro que não
supre todos os nutrientes que necessito, mas pelo menos alivia um pouco a fome.
Não estou enjoado do mesmo cardápio quase todos os dias, mas quero comer algo
com mais sustância, não tenha dúvida. No entanto, acredito que um menu mais
completo somente em Oruro ou La Paz, daqui alguns dias.
O dia foi
finalizado com 89,90 km em 9h53m e velocidade média de 9,09 km/h.
31/08/2012 - 54°
dia - Villa Mar a San Agustin
Por volta das 8
horas da manhã já estou na estrada novamente. A primeira metade do dia foi sem
muitas surpresas, o caminho até Alota eu havia passado dias atrás e novamente
enfrentei o longo trecho plano em um terreno bem arenoso e depois desci sete
quilômetros ao emaranhado de caminhos que me deixou perdido da outra vez.
Outra laguna ao fundo.
Areia e mais areia.
Pois bem, desta
vez não me perdi em nenhum momento de Villa Mar até Alota, a chegada nesta
última eu prestei bem atenção para compartilhar as informações corretas para
que outras pessoas não se percam ao fazer o caminho em direção à Laguna
Colorada com saída de Alota.
Descida para Villa Alota.
Paisagem.
Para quem está
vindo de Alota e vai para Villa Mar, tem que seguir até o cruzamento onde do
lado direito existe uma placa que segue para San Agustin e do lado esquerdo tem
apenas um pedaço de muro com a escrita Zoniqueira, vá para essa direção e ao se
deslocar 2,60 km haverá uma travessia para a outra margem do pequeno rio. Não
tem erro. Depois basta seguir pela estrada principal que está bem marcada. Mas
prepare-se, para você será 7 km de subida com muita areia pelo caminho. Fica a
dica.
Aqui é a travessia "verdadeira".
Casas à direita. Ponto de referência.
Para mim, de
Villa Mar até o cruzamento de Alota foram 48 km. Cheguei pouco depois das 13
horas e fui à Alota para encontrar algum lugar para almoçar, precisava comer um
pouco de arroz com alguma coisa. Achei um alojamento onde também servia comida,
já era tarde e somente eu me encontrava no local. O preço, bem salgado, o mais
caro da viagem pela Bolívia, 25 bolivianos. Depois de muita conversa o valor
caiu para 20 bolivianos, ainda estava alto, mas ficou por isso mesmo. Sopa de
quinua, arroz, uma coxa de frango e gelatina de sobremesa. Comi e segui em
direção à San Agustin.
Villa Alota.
Na saída de
Alota um senhor me avisou que seriam aproximadamente 40 km para San Agustin com
5 km de subidas. Quando ele falou sobre a subida eu, naturalmente, falei
animado: somente? Pois é, depois de um mês de pedal no Andes com aclives de 10,
15 e 20 km pelo caminho, o que são meros 5 km?
Outra informação
que obtive ainda na Árvore de Pedra é que o trajeto estava bom. Então, com
esses detalhes, pensei que seria fácil percorrer a distância das 14 às 18
horas. Puro engano. No cruzamento sigo para San Agustin e pouco depois uma
bifurcação, começou bem. Vou pela estrada aparentemente mais utilizada e dois
quilômetros depois estou na propriedade de uma mineradora. Caminho errado.
Retorno e sigo pela estrada à esquerda que por sinal também era horrível. Aqui
nesta região uma estrada consegue superar a outra em relação às péssimas
condições. Essa era repleta de pedras e consequentemente dificultou o avanço.
Muita paciência.
Sentido San Agustin.
Mais uma estrada de rípio ao extremo.
Cavernas pelo caminho.
Mas se existe
algo que merece ser ressaltado é a paisagem, independente do caminho ela é incrível.
Agora o pedal margeava um rio que corria em meio a um vale com montanhas
rochosas dos lados. A tranquilidade toma conta do local e apenas os pássaros e
as lhamas movimentam o ambiente bucólico.
Ambiente bucólico.
In foco.
In foco.
In foco.
Aproximadamente
17 km após Alota aparece a subida, bem íngreme, diga-se de passagem. E sua
extensão foi de quase 7 km, ficou muito alto em pouco tempo e o término da
subida custou a chegar. A informação que eu tinha é que depois seria apenas
descida até San Agustin, puro engano, de novo. Desci menos de 1 km e voltei a
subir um pouco para então começar a descer de verdade, uma pena que o terreno
irregular não permitiu uma velocidade maior.
A subida começa logo à frente.
Metade do aclive.
Quase no final da subida.
Nas alturas.
Finalmente no topo.
Descida para San Agustin.
Outra vez eu
estava em uma luta contra o tempo, a diferença é que agora eu não conhecia o
caminho e não tinha a mínima idéia do que poderia vir pela frente, por isso
pedalava em um ritmo maior quando o terreno começou a ficar mais arenoso e por
vezes derrapei o pneu dianteiro e quase fui ao chão. A descida com mais de dez
quilômetros não termina e escurece. Ligo o farol e sigo com dificuldade, a
Victoria frequentemente atola na areia, haja paciência.
Sei que por
volta das 19 horas cheguei à pequena San Agustin, que aparece do nada após uma
curva entre as montanhas. O ambiente pouco iluminado me faz bater em uma das
primeiras casas que encontro, no entanto, ninguém atende meu chamado e vou
adiante. Pouquíssimas pessoas estão nas ruas, a temperatura já é bastante
baixa, mas finalmente encontro dois rapazes próximo à praça e pergunto sobre
algum alojamento. Um deles pega o celular e pede para eu esperar um momento.
Logo depois aparece um senhor com a chave do quarto onde eu ficaria. Tive a
sorte de parar na frente da administração municipal, que por sua vez, havia
dormitório para convidados, mas como eu não era um, me cobraram 20 bolivianos,
pouco mais de 6 reais.
O quarto é limpo
e com vários cobertores, entretanto, não tem chuveiro e vou ficar outra vez sem
banho, paciência. Importante é que eu poderia descansar sem passar frio. No
mesmo prédio, na parte de baixo, funciona uma lan house, na hora eu não
acreditei, pois em nenhum lugar indicava que havia acesso à internet no
povoado. Fui apenas conferir o e-mail, mas a velocidade era extremamente baixa.
Para ter uma idéia, a página do Google demorou mais de quatro minutos para abrir.
Desse modo, não consegui fazer muita coisa e voltei para o quarto. Na vila
encontro apenas bolacha para vender, como eu havia almoçado, decidi que os
biscoitos recheados seriam minha refeição noturna.
O dia foi
finalizado com 88,16 km em 8h42m com velocidade média de 10,11 km/h.
01/09/2012 - 55° dia - San Agustin a San Juan
E começa mais um
mês! Que os dias de setembro sejam ainda melhores.
Estou cada vez
mais próximo do término dessa jornada por uma das regiões mais inóspitas das
Bolívia. A quilometragem para chegar ao Salar de Uyuni fica menor a cada dia,
no entanto, o trajeto continua a superar o anterior. Acredite, é possível a
estrada ficar ainda pior.
A saída de San
Agustin foi por volta das 8 horas da manhã, horário menos cruel para começar a
pedalar. Avisaram-me que o caminho para San Juan seria de aproximadamente 40
km, metade de pura areia. Notícia que revelou-se verdadeira logo nos primeiros
metros. Que dificuldade para avançar. Na verdade não é somente a estrada que se
supera a cada dia, eu também tenho tido paciência para além da conta. Somente
com muita calma para não se estressar com essas estradas. Sigo lentamente pelo
caminho que se faz em vários. Acho que começo a me adaptar com essa realidade
das bifurcações. Estou mais atento à Rosa dos Ventos nos mapas e assim procuro
decifrar a verdadeira direção.
Praça de San Agustin.
25 km de pura areia.
Caminhos, escolha o seu.
Outra laguna.
In foco.
Após algumas
horas um motociclista local passa por mim e confirma que estou no caminho
certo, pelo menos isso, já que a estrada piora a cada metro. O trecho prevalece
plano e poucas subidas são encontradas, ao contrário da areia que fica cada vez
mais alta e se torna um verdadeiro obstáculo.
O caminho
deserto e arenoso permaneceu por 25 km até chegar a um salar por onde,
finalmente, consegui manter a velocidade acima dos 20 km/h, já que não havia
nenhum obstáculo à frente. No salar os caminhos também se multiplicam e sigo
pela direção que me parece obvia a partir da leitura dos mapas. Pelo jeito
tenho aprendido bem e consigo ir pela direção correta sem perguntar a ninguém,
afinal, não apareceu nenhuma pessoa para isso.
Mais um salar pelo caminho.
In foco.
Siga os trilhos.
Após o salar e
quase na chegada à San Juan, novamente a areia toma conta, por sorte o povoado
está próximo. Apesar da pouca quilometragem no dia (38 km), resolvo parar no
local. Eu precisava descansar um pouco melhor, os últimos dias foram desgastantes.
Assim, pouco depois das 13 horas, eu estava na hospedagem do senhor Clemente,
12 reais com o banho quente disponível. E tomar um belo banho foi a primeira
coisa que fiz. Depois fui andar pelo pequeno povoado atrás de comida. Nada de
almoço para servir e muito menos pão. Restou-me comprar quinze pacotes de
bolacha, parte delas foi meu almoço. Triste realidade. Preciso de comida, sinto
que perdi mais peso. Por isso já estou decidido a ficar ao menos uma semana
parado em La Paz para recuperar as energias que perdi nestes longos dias por
essa desafiante região.
San Juan.
Durante a tarde
fiquei um bom tempo a escrever o relato e depois preparei meu jantar de sempre.
Vale ressaltar que apesar da alimentação limitada, estou bem fisicamente,
enfrentar as subidas e distâncias não é nenhum problema para meu corpo.
Evidente que fico cansado, mas no dia seguinte já estou recuperado para outra
jornada. Mesmo com o frio, meus joelhos continuam ótimos. E até o momento,
nenhum sinal de gripe e olha que estou diariamente no ambiente mais propício
para encontra-la. Mas espero continuar firme, forte e saudável para avançar até
o final da expedição.
O dia foi
finalizado com 38,21 km em 4h12 e velocidade média de 9,06 km/h.
02/09/2012 - 56°
dia - San Juan a Chuvica
Acordei ainda
mais animado, finalmente chegaria ao Salar de Uyuni. Resolvi que o pedal de
hoje seria até Chuvica, localizada no mapa como a entrada para a “estrada” que
segue à Isla Incahuasi, no meio do salar. Assim, amanhã eu tenho o dia inteiro
para atravessar de sul a norte o maior deserto de sal do mundo. A pretensão é
ir à Incahuasi e posteriormente Tahua.
Minha saída de
San Juan aconteceu no mesmo horário dos dias anteriores, por volta das 8 horas
da manhã. Para não me perder perguntei a direção correta por várias vezes para
as pessoas que encontrava na rua. Achar a saída foi fácil, a dificuldade se deu
emconciliar as informações, cada pessoa me dizia uma coisa.
Eu apenas
gostaria de saber o caminho para Colcha K, povoado que fica aproximadamente 30
km de San Juan. Um senhor me orientou que eu deveria seguir em frente e no
“letreiro” (placa) eu deveria virar à esquerda e ir pelas margens da montanha.
Quando cheguei na placa a orientação que a mesma apontava era para continuar
pela estrada e não mudar a rota, fui pela placa e algum tempo depois parei um
veículo 4x4 na intenção de obter maiores detalhes. O motorista afirmou que
faltavam mais 5 km para a tal entrada à esquerda. Pedalei a distância e nada.
Parei outro veículo e o condutor disse que mais 7 km haveria uma entrada de
cada lado da estrada e eu deveria ir para a bendita esquerda, será que agora a
informação estava correta?
Quando chegou na
bifurcação segui para à esquerda meio desconfiado e não avancei muito. Essa
estrada, para variar, tinha duas direções, uma que levava para o povoado de
Santiago e a outra era paralela ao caminho principal por onde eu comecei o dia.
Na dúvida voltei para essa estrada e esperei um carro passar e me orientar
melhor. Não demorou muito e finalmente aparece alguém para informar
corretamente a direção a seguir.
Eu deveria
pedalar mais alguns quilômetros até encontrar uma placa que indicava a entrada
para Colcha K. Da saída de San Juan até essa placa foram 12 km, o “letreiro”
como eles dizem, informava que Colcha K estava 18 km à esquerda. Segui a
orientação e percebi que acabei na estrada paralela a qual me encontrava
minutos antes. Toda essa confusão porque o pessoal não explica direito. Esse
último motorista me disse ainda que após a placa eu finalmente iria pelas
margens da montanha, foi o que aconteceu.
Finalmente uma placa.
Bom, nem preciso
dizer que a estrada continuava ruim, aqui não tem alternativa, infelizmente. Sei
que após a placa para Colcha K, aparece ele, o mítico, lendário e temido Salar
de Uyuni. Ainda não pedalaria por ele, no entanto, me fez companhia, novamente,
por vários quilômetros. Desta vez, ainda mais imponente.
Imponente Salar de Uyuni.
A estrada
paralela que contorna a montanha está repleta de caminhos. Novamente fui pela
leitura que fiz do mapa e completei a volta na montanha, existem entradas para
o salar, não caia na tentação de se aventurar por ele, pelo menos agora. Sem me
perder chego a Colcha K. após passar pelo batalhão do exército. No pequeno povoado
eu decidira parar e almoçar, meu café da manhã não havia sido caprichado e meu
estoque de comida acabara em San Juan.
Chegada à Colcha K.
Iglesia em Colcha K.
Em Colcha K. fui
orientado a ir à praça principal e procurar algum restaurante, era quase meio
dia e estava tudo fechado, procurei comida em várias mercearias e também se
encontravam fora de expediente. Em uma das tentativas uma mulher me explicou
que aos domingos ela não trabalhava. Só então eu me dei conta que era final de
semana, na viagem a gente acaba por não atentar a esse tipo de coisa.
Mas para a minha
sorte um senhor me indicou um quiosque na frente da igreja. A senhora que me
atendeu serviu no interior da bagunçada mercearia um prato com arroz, salada,
duas batatas cozidas e frango, este último devorei ao ponto de quase não sobrar
o osso. A fome é triste. Achar comida por essas bandas não é fácil e quando se encontra
o jeito é não desperdiçar nada. Durante o almoço adivinha o que toca na rádio
boliviana? O maior ritmo de Michel Teló, não é a primeira vez que a ouço em território
estrangeiro. Paciência. Tem gosto para tudo.
Colcha K.,
distante 30 km de San Juan, é simples e parece um povoado mais avançado, chama
atenção o campo de grama sintética que pelo jeito foi recém inaugurado.
Localizado na entrada da cidade, sua cor verde contrasta com branco intenso do
salar de Uyuni de um lado e as cores das casas de outro.
Campo com grama sintética. Salar de Uyuni ao fundo.
Após o almoço
sigo para Chuvica, distância desconhecida. Sei que após Colcha K, tive que ir
pela direção da Vila Candelária, cuja placa informava 10 km, o caminho havia
sido indicado por um senhor em Colcha K. Logo após este acesso, outra
bifurcação. Desta vez vou pela trilha aparentemente mais utilizada para ver
onde vai sair. Ela vai direto para o salar, sentido cidade de Uyuni, não é o
caminho que preciso e retorno até a outra direção.
Siga à esquerda.
Como é domingo,
não vejo ninguém por horas na estrada. Não tinha certeza sobre o caminho, mas
tudo indicava que eu estava na direção certa, principalmente por que uma rede
elétrica margeava a estrada. Deduzi que a eletricidade seguia para o povoado
anunciado na placa. Somente depois de muito tempo um veículo 4x4 aparece e
confirma que estou na estrada certa. Faltavam aproximadamente 15 km. Algumas
pedras no caminho tem uma quilometragem marcada e ela estava de acordo com a
distância que o motorista disse que restava.
Em direção à Chuvica.
A estrada
péssima evita um deslocamento mais rápido, em determinadas partes o jeito é
pegar um pequeno atalho pelo salar, agora sim pedalo pelo deserto de sal
mundialmente conhecido. Mas o trecho é curto e logo volto para a estrada
principal. Vale lembrar que durante todo o trajeto no período da tarde, além
das lhamas eu ainda encontrei mais jumentos, estes em pleno Salar de Uyuni,
realmente eles estão por toda Bolívia, herança dos espanhóis.
Jumentos no salar.
Siga reto e pegue um atalho pelo salar.
Pedalando no salar de Uyuni.
Após uma curva
apareceu uma construção encravada na montanha, cheguei mais perto e pelas
informações era uma caverna que poderia ser visitada após pegar a chave em um
estabelecimento mais à frente. No local, a 3675 metros de altitude, o destaque
também fica por conta dos cactos petrificados, uma paisagem, no mínimo,
curiosa. A placa informativa diz que estou na região de Tanil Vinto que é
repleta de atrações. Estou diante de uma delas.
Cactos pretificados.
Continua alto.
In foco.
Feito o registro
fotográfico do local, continuei o pedal e logo após a curva aparecem algumas
construções, pelo informativo anterior deveria ser os hotéis e centro de
informações ao turista. Passei na frente e fui direto à entrada que havia para
o salar onde algumas placas apontavam que eu acabava de chegar (às 16 horas) à
Chuvica, meu objetivo do dia. Após Colcha K. foram mais 23 km de pedal.
Chuvica.
In foco.
Fui às
construções para obter mais detalhes. Quando entrei em uma delas, a surpresa: é
toda feita de sal e logo na entrada percebo que é um hotel. Por curiosidade
pergunto o preço da diária, 30 bolivianos, menos de 10 reais. Aceito na hora.
Não seria a primeira vez que eu passaria a noite em uma obra realizada de sal.
Em Salinas Grandes na Argentina, em 2008, acampei no interior de um restaurante
desativado, também feito de sal. No entanto, agora era um hotel em pleno
funcionamento. Chão repleto de sal, assim como as paredes, camas, cadeiras e
mesas.
O proprietário
do local, Anastácio, me mostra o caminho que devo seguir no dia seguinte. Do
lado de fora do hotel me aponta para o vulcão Tupuna onde fica o povoado de
Tahua, na outra margem do salar. No caminho estava a Isla Incahuasi,
aproximadamente 35 a 40 km de Chuvica, segundo ele.
Assim que estou
hospedado vou em direção auma mercearia, a única do local.Eu precisava comprar
algo para comer e atravessar o salar amanhã. No entanto, não tem ninguém no
estabelecimento e o Anastácio me diz que somente mais tarde os donos estariam
presentes. No hotel, volto a escrever no diário quando começam a chegar os
vários turistas trazidos pelos veículos das agências de turismo da cidade de
Uyuni. São de diversas nacionalidades, ouço os mais diferentes idiomas.
A hora passa e a
fome fica maior. Na mercearia ninguém para atender e eu tenho apenas seis
pacotes “mini” de bolacha. Começo a pensar em alguma coisa e então vou
perguntar ao Anastácio se não é possível preparar um prato de comida para mim.
Acontece que nas hospedagens que recebem os turistas das agências, elas que
preparam as refeições incluídas nos pacotes. Como eu estava de modo
independente, não tinha direito, mas com muita insistência consegui a janta que
seria servida às 20 horas.
Às 19 horas o
gerador do hotel ligou e o local passou a ter energia, mas aqui também não tem
tomadas nos quartos e logo a bateria do computador acaba e sou obrigado a parar
de escrever. Na recepção a tomada está repleta de outros carregadores. Paciência.
Na procura de algo para fazer, vou novamente à mercearia, que agora está
aberta, ainda que seu funcionamento seja à luz de velas. No local, certa
decepção, poucas coisas para comprar e apenas levo uma garrafa de 2 litros de
água. Isso não era um bom sinal.
Voltei pensativo
ao hotel. O que fazer para atravessar o maior deserto de sal do mundo? Já ouvi
tantas histórias e recomendações que parecia loucura realizar essa façanha
apenas com bolachas e água. Mas tudo se encaminhava para isso.
Na hora da
janta, cardápio completo, sopa e o segundo prato, este com batata e banana
frita, frango assado e uma omelete. Não tinha arroz, mas ainda assim consegui
enganar a fome, pelo menos naquele momento. Depois fui dormir para encarar o
desafio do dia seguinte.
03/09/2012 - 57°
dia - Chuvica a Tahua (Travessia Salar de Uyuni)
Mais um dia
memorável, para posteridade.
O que fazer com
apenas dois litros de água e dois pacotes de bolacha? Atravessar o maior
deserto de sal do mundo. O gigantesco Salar de Uyuni.
Acordei por
volta das 6 horas e minutos depois comecei a arrumar minhas coisas nos
alforjes. Claro que não demorou muito para a fome se manifestar. Até a tarde de
ontem eram seis pacotes de bolacha, mas tive que acabar com dois e agora pela
manhã decidi comer mais dois, era meu desayuno.
Victoria no Hotel de Sal.
Registro garantido.
Hotel de Sal em Chuvica.
Hotel de Sal em Chuvica.
Hotel de Sal em Chuvica.
Claro que o
recomendado é tomar um excelente café da manhã para começar bem o dia,
sobretudo, se na lista de atividades consta exercícios físicos. Mas meus
amigos, aqui a realidade é outra. A pouca comida disponível na mercearia era
extremamente cara e meu dinheiro quase no fim. Desse modo, optei por atravessar
o deserto apenas com os dois últimos pacotes “mini” da famosa bolacha
Cremositas e mais dois litros de água.
Essa decisão da
comida/água não foi loucura da minha parte, talvez possa ter sido arriscada,
concordo, porém era estratégica. Eu tinha informações sobre as distâncias e a
localidade dos locais por onde passaria. Nos meus cálculos seria possível
atravessar o salar em um dia. No entanto, com a minha tática eu não poderia
cometer erros e muito menos esmorecer diante da fome, que certamente eu
sentiria. Assim, às 07h45m fui encarar um dos maiores desafios dessa longa
expedição.
Despeço-me do
proprietário do hotel de sal e sigo na direção da estrada que adentra o salar.
Faz frio, mas é tolerável. O vento contra é pouco e a principio parece não
atrapalhar. A condição da estrada nos primeiros 5 km é horrível, bem diferente
do tapete que eu imaginava que seria. Na minha concepção eu pensei que seguiria
reto por vários quilômetros até chegar àIsla Incahuasi e depois virava em
direção ao vulcão Tupuna e consequentemente Tahua. Assim, avancei e a estrada
ficou cada vez pior, tentei caminhos paralelos, mas o solo salgado afundava
como se fosse areia. E agora?
A entrada para o gigantesco Salar de Uyuni.
Primeiros quilômetros
Observei que
alguns veículos 4x4 seguiam por um desvio cerca de um quilômetro atrás. No
local tem uma pequena flecha, contudo, desconsiderei por achar que o caminho
levaria direto para Tahua sem passar na Isla que eu pretendia conhecer. Esperei
um pouco e logo uma caminhonete apareceu e me informou que eu deveria pegar o
mesmo caminho que os automóveis. Sorte que eu não avancei muito e assim tive
que retornar apenas 1 km.
No caminho correto
os primeiros quilômetros são tranquilos e com os trilhos deixados pelos
veículos bem nítidos. É possível aumentar o ritmo do pedal e não penso duas
vezes em fazê-lo. Eu precisava ganhar tempo a todo custo. O vento que era fraco
na saída de Chuvica, agora não tinha força nenhuma e isso para mim é como se
ele estivesse a favor. O vento tem sido um dos grandes vilões dos cicloturistas
no salar. Então, a situação atual era uma grande vantagem que eu tratei de
aproveitar.
A imensidão do salar. Tente seguir pelos trilhos.
Os trilhos
desaparecem e voltam o tempo inteiro. Como não tenho GPS, a forma que utilizei
para não me perder foi seguir na direção do vulcão, melhor referência não
existe. Assim, no caminho certo, logo volto a ver os trilhos novamente. Outro
fator inconstante é a condição do solo. Esqueça se você acha que aqui é um
tapete. Poucos trechos estão lisos, a maioria é repleto de pedras de sal e
tenho que pedalar como se tivesse em um calçamento de pedras irregulares. Como
não posso perder tempo, passo por cima sem muita cautela. A Victoria entendeu a
situação e colaborava.
Não demora muito
e na mesma direção do Tupuna vejo uma ilha bem pequena e justamente pelo
tamanho achei que poderia não ser a Incahuasi, mas a direção levava a crer que
eu poderia estar equivocado. Em todo caso, como está no caminho, vou ao seu
encontro. O ritmo chega a ser superior a 20 km/h em alguns trechos. O barulho
dos alforjes dianteiros é grande por causa das pedras, mas não tenho escolha.
Se meus bagageiros aguentaram até o momento, não seria agora que me deixariam
na mão.
Muita gente
considera que o Salar de Uyuni é a atração mais bonita da Bolívia. Não sei, mas
acho que discordo dessa opinião. Claro que o deserto branco tem suas
particularidades incontestáveis. Mas para mim o que chama atenção não é sua
beleza e sim a sua dimensão. Realmente sua área é enorme e conforme eu pedalava
mais branco ficava a minha volta. As únicas coisas visíveis são as montanhas ao
redor que ficavam menores ou maiores a depender da direção que você segue. Para
mim a possível Incahuasi e o vulcão Tupuna ficavam maiores com a minha
aproximação.
Após aqueles
primeiros veículos que indicavam o caminho correto, não vejo mais nenhum outro
e sigo sozinho o tempo todo. No entanto, vejo um ponto escuro bem distante,
próximo a tal ilha. A princípio penso que é um carro de turismo, no entanto,
seu deslocamento era devagar, cogitei ser uma moto, mas a velocidade também não
era compatível. Resolvi parar e sacar uma foto com zoom. Não tinha erro, era um
cicloturista.
O outro viajante
se aproxima. É o australiano Bob “Buff3y” Stanley (buff3ysbicyclingblog.com) que
faz a rota Alaska x Ushuaia, ou seja, está quase concluindo sua viagem que já
tem mais de um ano. Conversamos tranquilamente em espanhol e ele confirma que
aquela é mesmo a Isla Incahuasi e está a 12 km de distância, muito mais do que
eu pensava. O australiano vinha de La Paz por um caminho diferente do que estou
a fazer. Ele passou pelo Salar de Coipasa e havia pernoitado na Isla Pescado,
que fica próxima à Incahuasi, inclusive, é visível de onde estávamos.
Cicloturista australiano.
Isla Pescado.
Aproveito a
presença do australiano e peço para que ele tirar algumas fotos minha, afinal,
fazer um registro desse magnifico lugar é obrigatório e sozinho isso se torna
mais difícil. Nos despedimos e cada um seguiu seu caminho. Desejei sorte, ele estava
indo à Laguna Colorada por Chiguana, estrada que ninguém me recomendou. Em todo
caso, o cara viaja a mais de um ano, não seria o primeiro obstáculo que
enfrentaria.
Presença garantida e registrada.
Pedal no maior deserto de sal do mundo.
Eu e a Isla Incahuasi ao fundo.
Travessia do famoso deserto branco.
Avanço em
direção à Incahuasi e quando estou quase perto vejo mais dois cicloturistas,
achei que era o casal italiano que o Buff3y comentou que acampou em Incahuasi.
Nos aproximamos e a primeira coisa que ouço é a pergunta: Você é francês?
Respondo que sou brasileiro e somos apresentados. É outro casal, esse é da
Alemanha. Jons e Martina (velowostok.blogspot.com) percorrem a América do Sul,
inclusive, passarão pelo litoral brasileiro e disse que tem hospedagem
garantida (não é verdade, amigos praieiros?). O casal é muito simpático, mas
nossa conversa é breve, ambos estávamos um pouco apressados. Eles se dirigiam à
Chuvica e posteriormente para Laguna Colorada. Vieram da mesma direção do
australiano. Antes de nos despedirmos eles dizem que vão pedalar mais uma hora
e depois farão uma pausa com “galletas”, ou seja, não sou o único que tem as
bolachas como companhia certa.
Cicloturistas alemães.
Finalmente estou
diante da famosa Isla Incahuasi. O que chama atenção mesmo é sua localização,
literalmente no meio do salar. Na ilha é possível observar uma enorme
quantidade de cactos em uma área verde que cobre a extensão de Incahuasi. No
local funciona o restaurante que o australiano disse que é muito caro, um prato
simples por quase 50 bolivianos e que logo foi descartado pelo meu bolso. E
também há um pequeno museu. Para usufruir da ilha tem que pagar 30 bolivianos.
Eu apenas observei e pedi informação sobre qual caminho seguir em direção à
Tahua.
Isla Incahuasi
Isla Incahuasi
Isla Incahuasi
Antes de seguir
na direção do vulcão Tupuna que compreende em seus pés o povoado de Tahua, faço
a degustação do meu primeiro pacote de bolacha. Afinal, cheguei em Incahuasi ao
meio dia, após 49 km de pedal. Poxa, minha comida já era limitada e uma bolacha
ainda resolve cair no chão e com o recheio para baixo, maldita lei de Murphy.
Não pensei duas vezes em pegar a bolacha, tirar o sal e mandar para dentro. O
que não mata, engorda. E eu preciso ganhar peso.
Um guia de
turismo me disse que havia mais 50 km para chegar em Tahua. Recomendou que
bastava seguir os trilhos e ir na direção da base da montanha (Tupuna) que não
tinha erro. Assim, segui para completar a outra metade do caminho. A forte
claridade que é refletida pela luz do sol no salar é de fazer chorar,
literalmente. Nem os óculos escuros (que não são falsificados) dão conta do
recado e frequentemente tenho que parar e enxugar os olhos marejados. Não pense
em passar pela região sem óculos escuros, a menos que pretenda ficar cego.
Isla Incahuasi fica para trás.
Temido, lendário, famoso e imenso Salar de Uyuni.
O caminho oscila
entre trechos bons e péssimos, estes últimos são aqueles onde a forma geométrica
é presente no solo. O “encaixe” entre
elas acaba por formar um buraco que por sua vez, causa uma trepidação horrível.
Mais uma vez, nenhum veículo passa por mim e continuo na direção do Tupuna.
As formas geométricas.
In foco.
Por volta das 15
horas faço uma pausa para comer meu último pacote de bolacha. Com tanto buraco
no caminho, consegui sentir meu estômago vazio, sensação muito ruim. Comia cada
bolacha de olhos fechados e imagina que degustava as sobremesas gostosas que
minha mãe e suas amigas fazem. Foi um jeito de trabalhar o psicológico. Água não
foi nenhum problema, tinha de sobra.
A energia está aqui!
O vulcão Tupuna
fica cada vez mais próximo e consigo visualizar algumas casas, mas pela
distância, que ainda não era de 50 km desde Incahuasi me fez duvidar se era
realmente Tahua. Pelo sim ou não, avanço já em clima de comemoração.
Independente do povoado estava prestes a terminar minha travessia pelo famoso
Salar de Uyuni. A estratégia havia funcionado. Eu estava muito feliz por ter
tomado uma decisão que acabou por mostrar-se eficiente.
Vulcão Tunupa.
Mais um pouco do que ficou para trás.
Avisto os
últimos quilômetros de salar e não tem mais erro, vou em direção à vitória. Às
15h45min, após 87 km em 6h25m de travessia em puro sal, de sul (Chuvica) a
norte (Tahua), eu havia concluído a temida passagem pelo deserto branco.
Comemorei sozinho ao conhecido pulo no salar. A travessia está feita e o maior
deserto de sal do mundo está conquistado na raça. É muita felicidade, muita
mesmo. Como dizia Nietsche; O que não me mata me fortalece.
Últimos quilômetros no salar.
Comemoração mais do que merecida. O salar foi conquistado.
Homenagem aos grupos: DAP, CicloturITA, MTB Foz e Três Lagoas.
Victoria e o vulcão Tunupa ao fundo.
A única parte alagada no salar que eu pedalei.
Tahua.
Vou à direção do
povoado e após muita procura encontro um alojamento barato. O local não tem
nome, mas você pode acha-lo ao procurar pelo alojamento do Hector que é
proprietário da escola, certamente indicarão a localização. A diária custa
apenas 10 reais, mas não tem banho quente. Eu queria mesmo era comida e a
proprietária me serviu dois pães com ovos por menos de 2 reais. Devidamente
alojado fui às compras. Eu tinha mais 50 bolivianos e resolvi gasta-los com
alimentação. Desse modo, comprei 20 pães, geléia, macarrão, atum, extrato de
tomate e chá. Com exceção do chá, os outros itens são adquiridos na pretensão
de suprir a refeição dos próximos dois dias. Me restaram apenas 8,80
bolivianos.
No refeitório do
alojamento preparo mais alguns pães com geléia e a dona pergunta se vou querer
jantar. Então explico que tenho pouco dinheiro. O jantar completo custo 12
bolivianos e questiono se é possível tirar a sopa do cardápio e faze-lo pelo
dinheiro que tenho. Ela diz para eu não me preocupar e assim que a refeição
ficar pronta me chama. Maravilha!
Vale lembrar que
fiquei sem dinheiro local desde Laguna Colorada. Esses bolivianos que
terminaram em Tahua eram aqueles que a francesa havia trocado. Agora, eu estou
sem dinheiro para chegar à Challapata, mas pelo menos tenho comida garantida
para os próximos dois dias. Apesar da distância desconhecida, acho que é o
tempo suficiente para chegar em Challapata e ir ao banco sacar alguma grana. Vai
dar tudo certo.
Durante o fim da
tarde eu aproveito o quarto com tomada para recarregar o computador e colocar o
diário de bordo em dia. De noite o pessoal me chama para a janta e tenho uma
surpresa. Servem-me o prato completo, sopa e segundo. O prato complementar
estava um delicia, pela primeira vez em mais de um mês o arroz foi substituído
por quinua, anteriormente saboreada apenas nas sopas, estava muito gostosa, ainda
mais que estava acompanhada de tomate, pepino e carne de lhama, que por sua
vez, estava excepcional. Agradeci demais os proprietários pela compreensão em
oferecer o jantar com aquelas minhas últimas moedas. Foi para terminar o dia da
melhor forma possível.
O dia foi finalizado com 89,51 km em 6h42m e velocidade média de 13,33 km/h.
04/09/2012 - 58°
dia - Tahua a Jayu Quta
Acordei e assim
que levantei avistei o deserto branco de Uyuni da janela do meu quarto. Meu
café da manhã já estava pronto desde a noite anterior, então precisei apenas
repor as energias para mais um dia de pedal. Arrumei minhas coisas e fui me
despedir dos proprietários, estes ainda me serviram dois pães com chá, claro
que não recusei. Antes de partir fiz o reabastecimento das minhas garrafas de
água, 4 litros no total. Afinal eu estava sem dinheiro e tinha que aproveitar a
água potável disponível.
Salar de Uyuni da janela do meu quarto.
Com o café da
manhã que ganhei, acabei por atrasar minha saída que somente aconteceu por
volta das 8h30m. Fiquei um pouco perdido para achar o caminho para Salinas de
Garci Mendoza e isso atrasou mais uns minutos. Paciência. Meu destino era
chegar em Challapata, uma cidade maior, contudo, com distância desconhecida
desde Tahua. O Hector me disse que eram 5 horas de automóvel, ou seja, as
chances de chegar no mesmo dia eram remotas. No entanto, segui na direção de Challapata.
A saída de Tahua
foi marcada por uma longa subida e depois sobe e desce em uma estrada que
continuava ruim. No começo, placas indicam algumas localidades. Fui no sentido
de Alianza, onde cheguei 12 km depois. Povoado simples que parecia abandonado e
isso acontece porque a maioria dos moradores saem cedo para trabalhar em outras
áreas rurais. Descobri isso em San Juan. Enfim, após Alianza surge uma
bifurcação que me deixou em dúvida e não havia ninguém para esclarecê-la. Pela
primeira vez liguei o computador na estrada para conferir o mapa, mas esse
lugar e os próximos ainda não estão presentes no mesmo.
Adeus, salar.
Sentido à Alianza.
Igreja em Alianza.
Na bifurcação
resolvi seguir o mesmo caminho dos postes de eletricidade (à esquerda),
estratégia adotada anteriormente e que funcionou. Agora eu pedalava sem a
presença de ninguém, seja a pé, carro ou moto. O sobe e desce continua e eu
apenas torço para estar na direção correta à Salinas. Para minha felicidade no
topo de uma subida avisto uma extensa área branca, acertei o caminho.
Salinas de Garci Mendoza.
Salinas de Garci Mendoza.
Não demorou e um
veículo apareceu e confirmou que estava na direção para Salinas. Fui em frente,
passei por mais alguns povoados e após 27 km cheguei ao vilarejo de Irpani que
constava em um dos meus mapas. Já era meio dia e resolvi parar e almoçar os
pães preparados especialmente para essa refeição. Depois continuei pela estrada
que conseguiu piorar e foi por uma direção contrária ao salar, estranhei, mas
foi apenas um enorme contorno pela montanha para chegar no município de Salinas
Garci Mendoza, 37 km de Tahua. Pedi informações sobre a distância para
Challapata, mas ninguém soube dizer com precisão.
Em direção à Salinas
Tunupa.
Cortaram a montanha.
Chegada à Salinas.
Quinua, fica a dica.
Como eu estava
sem dinheiro, comecei o dia ciente que precisaria acampar, bastaria achar um
lugar aparentemente seguro. Depois de Salinas fiquei de olho no horário para
montar acampamento ainda com claridade. Durante o caminho, pouquíssimas casas e
nada de povoados. Pensei que meu camping seria selvagem, no meio de áreas
abertas, já que não havia nada além das montanhas que margeavam à distância a
estrada.
Agora em direção à Challapata.
O majestoso
vulcão Tunupa fica para trás e meu velocímetro passa dos 70 km às 18 horas
quando vejo algumas casas no horizonte. O plano era pedir permissão para
acampar, nada mais. Chego ao modesto local e sou recepcionado por um cão
realmente em fúria que somente acalmou com a presença de um senhor. Expliquei a
situação e o que precisava. Ele vai conversar com uma mulher e na volta me
encaminha para um quarto, na verdade era um depósito, onde vários sacos de
ração abarrotavam o lugar que também havia um colchão e cobertores em um canto.
Perfeito, era mais do que eu precisava.
Adios, Tunupa.
O senhor me
deixou à vontade para descansar e então arrumei o ambiente, coloquei meu saco
de dormir por cima dos cobertores e fui preparar a janta, afinal, havia reposto
meu estoque de comida em Tahua, aliás, gastei meus últimos bolivianos com isso.
Mas, meu botijão de gás está quase no final e não tinha certeza se aguentaria
cozinhar o macarrão. No entanto, em outro canto do cômodo havia um fogareiro e o
gás ao lado me convida a testa-lo, funciona. Não tinha dúvidas, prepararia
minha comida naquela peça.
No final das
contas eu estava muito feliz por tudo que acabara de acontecer. Havia concluído
mais uma etapa, não chegara em Challapata, mas me encaminhava para isso. Pensei
que seria meu último dia em estrada de terra, no entanto, tem mais pedreira no
dia seguinte. Tudo bem, se aguentei até o momento, não vai ser agora que vou
desistir. Hasta la Victoria Final.
O dia foi
finalizado com 71,52 km em 7h50m e velocidade média de 9,11.
05/09/2012 - 59°
dia - Jayu Quta a Challapata.
A madrugada foi
tranquila, apesar do ambiente bagunçado, não fui atacado por nenhum inseto
peçonhento, que a princípio era uma preocupação. Apesar do cômodo ficar ao lado
da estrada, isso também não prejudicou meu sono. Assim, despertei por volta das
6 horas da manhã e fui tomar meu desayuno. Sim, eu ainda havia reservas de pão
com geléia e chá. Na sequencia arrumei minhas coisas e quando estava quase
pronto o senhor apareceu para saber se eu partiria em breve. Acontece que ele
também estava de saída para mais um dia de labuta.
Local onde passei a noite.
Despeço-me e
agradeço muito o senhor e vou para a estrada mais cedo, desta vez às 7h30m já
estou a esquentar as pernas em mais um dia de viagem. Ontem, durante o caminho,
havia algumas pedras que indicavam uma quilometragem decrescente, suspeitei que
seria a distância restante para Challapata, um motociclista local acabou por
informar uma distância parecida. Desse modo, hoje fico atento para encontrar as
tais pedras e saber o quanto precisaria pedalar. Somente após 12 km fico ciente
que restam mais de 80 km. Seria um dia longo, muito longo.
Local onde passei a noite.
Local onde passei a noite.
Vale ressaltar
que logo após minha saída e com pouco mais de 3 km estou diante da cratera
aberta por um meteorito no povoado Jayu Quta. Pela ilustração em alguns mapas eu
tinha conhecimento do acontecido na região, mas não esperava que estivesse bem
ao lado da estrada. Claro que registrei o momento, não é todo dia que estou
diante de algo dessa magnitude.
Jayo Qota
Cratera.
Olha o tamanho da cratera.
Os primeiros 25
km são marcados pela estrada ruim e algumas subidas, apenas uma delas é
bastante íngreme, mas depois as coisas começam a melhorar. O trajeto fica mais
plano e uma rodovia em construção aparece no caminho. A mesma está bloqueada
para veículos motorizados, o que não é meu caso. Assim, sigo pela estrada em
obras, não está asfaltada neste trecho, mas é menos irregular e evita um pouco
os solavancos que tenho enfrentado nos últimos dias.
Subida à vista.
Já no topo da montanha.
Passar as
barricadas na estrada nova foi uma tarefa à parte e que por vezes impedia meu
avanço rápido e eu precisava ganhar tempo para chegar ao meu destino. Na
verdade eu estava ansioso para chegar ao asfalto. Este foi aparecer
permanentemente após o povoado de Quillacas, após 72 km. Foram mais de 850 km
de estrada de terra, areia e sal nos últimos 12 dias. Meu corpo sofreu muito
com esse terreno acidentado e assim nada melhor do que voltar ao asfalto, ainda
mais em um longo trecho plano.
Barricadas na estrada em construção.
Obras!
Finalmente asfalto.
De Quillacas à
Huari foram 37 km pedalados em pouco tempo, consegui manter, 20 a 23 km/h. No
entanto, aquela distância marcada nas pedras pelo caminho era referente à
Huari. E isso me pegou de surpresa. Eu precisaria pedalar mais 15 km e a essa
altura eu estava muito cansado, com muita fome e quase sem água. Ainda assim,
consegui empregar um ritmo bom e às 18h15m cheguei finalmente à Challapata.
Em Challapata.
Chegar à
Challapata significou que havia outra tarefa a fazer, passar no banco para
sacar dinheiro. Eu estava na expectativa porque seria a primeira vez que utilizaria
meu cartão no exterior. No começo do ano eu passei na minha agência bancária e
solicitei a liberação de seu uso em outros países. Agora eu torcia para a
transação ocorrer perfeitamente.
Em Challapata
peço informação de como chegar ao centro e posteriormente no banco. Só então
sou orientado que o banco não tem caixa eletrônico. E ai começa uma série de
indagações da minha parte. O que fazer diante da situação? Me encaminho ao
centro e converso com alguns policiais que informam ser possível sacar o
dinheiro diretamente com o atendente. Para minha sorte eles trabalham com a
bandeira Plus, a mesma do meu cartão. Contudo, o banco estará aberto somente às
9 horas do dia seguinte.
Outra missão, encontrar
um alojamento que aceite o pagamento apenas no dia seguinte, após o saque no
banco. Fui a um lugar e os proprietários estavam em viagem, no outro a
recepcionista mal educada não quis saber da situação e rejeitou minha
hospedagem. Quase 8 horas da noite e resolvo procurar um local para acampar.
Mas fazer isso no escuro é tenso e ninguém me disponibiliza um espaço seguro.
Decido voltar ao centro e procurar outro alojamento. Dessa vez tenho sorte.
A proprietária
do Alojamiento “Virgen de Lujan” na Calle Oruro esquina Campo Santa Cruz foi
compreensiva e aceitou me hospedar, 25 bolivianos do quarto e mais 5 do banho.
Algo em torno de 10 reais. O local é bem limpo. Assim, tomei meu banho e fui
preparar a janta. Meu último mantimento, pelo menos o gás aguentou mais uma
refeição. Agora eu apenas espero que seja possível sacar o dinheiro, caso
contrário, não sei como vai ser. Pensamento positivo.
O dia foi
finalizado com 120,71 km em 10h08m e velocidade média de 11,89 km/h.
06/09/2012 - 60°
dia - Challapata a Oruro
Com certeza já
tive noites melhores. A situação financeira não me deixou ter um sono
tranquilo. Não era nem mesmo cinco horas da madrugada e eu estava acordado. A
ansiedade para, finalmente, sacar o dinheiro era enorme. Afinal, eu dependia da
retirada no banco para pagar o alojamento e comprar comida. A essa altura eu
não tinha nada para comer e a fome já anunciava querer alimento.
O banco abre
apenas às 9 horas da manhã, como eu estava acordado desde madrugada, aproveitei
para atualizar o diário de bordo. Por volta das 08h30min fui em direção à
instituição financeira. O Banco Union (nacional) ficava bem longe do alojamento
e isso me rendeu alguns quilômetros de caminhada. No local a triste notícia,
era impossível realizar o saque no caixa, somente no “cajero automático” que,
por sua vez, não existe em Challapata. Ainda assim fui tentar em um banco
privado que fica bem no centro, mas a resposta foi a mesma. E agora, o que
fazer?
No caminho para
o alojamento pensei um milhão de coisas que poderiam acontecer apesar de
qualquer justificativa que eu verdadeiramente sustentasse. Imaginei que
poderiam chamar a polícia porque o gringo brasileiro hospedou e agora não queria
pagar. Cogitei a possibilidade de ir à Oruro de ônibus, passar em um caixa
eletrônico, pegar o dinheiro e retornar. Mas para isso eu deveria ter a verba
da passagem, logo a idéia foi descartada. Eu ainda poderia apresentar minha mão
de obra, fazer algum serviço em troca da hospedagem. Eu tinha que suscitar uma
idéia o quanto antes.
O mais difícil
era pensar em uma solução com a fome que eu estava e todo aquele cheiro de
comida pelas ruas. Parece que de pirraça, toda esquina tinha um vendedor
ambulante a oferecer algo para comer, incrível. Inclusive, hoje, depois de
muitos dias, vejo frutas e mais frutas para vender. E meu estômago estava
apenas com a pouca janta da noite anterior. Realmente minha situação era
complicada. Na volta ainda encontrei um estabelecimento que comprava dólar,
perguntei se aceitavam reais, mesmo com uma cotação baixa para mim, mas a
resposta foi negativa. Não tinha jeito, teria que conversar com os
proprietários da hospedagem.
Finalmente
cheguei ao alojamento e fui logo à recepção encontrar com os responsáveis. No
local a Heide (dona) me cumprimenta, respondo e na sequencia busco utilizar o
melhor espanhol possível para que meus argumentos fossem, ao menos,
compreendidos. Explico que estou com problemas e preciso de ajuda. Falo sobre a
situação nos bancos e que não tenho dinheiro nem mesmo para comer e ainda
preciso, de alguma forma, chegar à Oruro.
A Heide ouve
atentamente e num momento pergunta de quanto eu preciso. Eu simplesmente não
esperava essa pergunta e apesar de tentadora, respondi que não precisava de
dinheiro, gostaria apenas que a hospedagem não viesse a ser cobrada. Ela não
pensou duas vezes e disse que não tinha problema. Para minha felicidade ela
havia compreendido aquele momento difícil pelo qual eu passava, tanto que ainda
me deu cinco pães que foram devorados enquanto eu arrumava minhas coisas.
Oruro estava a
120 km de Challapata e já era quase 10h30m quando eu finalmente estou pronto
para encarar uma difícil jornada. O problema é que eu não tinha nada para comer
durante o caminho. No estômago apenas os pães e nas pernas o cansaço do dia
anterior e da caminhada matinal até o banco. Em todo caso, eu havia resolvido o
problema maior que foi a cortesia da hospedagem. Agora restava pedalar na raça
até Oruro e torcer para conseguir sacar o tal dinheiro.
Na saída do
residencial, peço perdão à Heide pela situação e agradeço imensamente sua
compreensão. Eu ainda sou surpreendido e ganho meia dúzia de bananas que seria minha
única alimentação durante o pedal. Em relação à água eu estava tranquilo,
abasteci todas minhas garrafas, quatro litros garantidos.
Na estrada busco
estabelecer um ritmo maior do que o normal, o trajeto plano favorece e pedalo
acima dos 20 km/h e começo a fazer cálculos para saber, aproximadamente, que
horas estaria em Oruro. Mas infelizmente o cansaço aparece aos poucos e a
velocidade cai e a média vai para 15 km/h. Ainda assim não era ruim e faço
novas contas para ter idéia se é possível chegar antes da escuridão.
Infelizmente não, eu teria que enfrentar a movimentada Oruro de noite.
O altiplano se
faz presente em sua essência e o caminho é todo plano, excelente para pedalar,
desde que se esteja em condições para isso, claro. Tive que administrar as
poucas bananas e assim comia uma a cada quilometragem estipulada. A fome era
imensa e eu poderia comer todas de uma vez, mas tive que pensar a longo prazo,
afinal 120 km são 120 km.
Durante a tensa
manhã e também de tarde, tentava manter a calma e pensava comigo, uma viagem
também tem seus problemas e se eu não conseguir supera-los, a expedição não
será concluída. Assim, mantive a paciência e observei a quilometragem passar. A
paisagem não tem muita novidade e se resume a montanhas de um lado e o lago
Poopo do outro, no entanto, este último está muito longe e pouco é visível. Quase
não tiro fotos, hoje realmente o dia estava atípico e sinceramente eu queria
mesmo é chegar logo em Oruro para resolver essa questão do dinheiro.
Chegada à Poopo.
Povoado de Poopo.
Uma observação.
A estrada deve ser uma das mais perigosas da Bolívia, nunca vi tanta cruz às
margens da rodovia como neste trecho entre Challapata e Oruro. Na metade do
caminho vejo o primeiro acidente em praticamente dois meses de viagem. Um
caminhão perdeu a direção e estava tombado na beira da pista. Outras pessoas
estavam no local e eu não sei o que aconteceu com o motorista porque não parei
e muito menos fotografei o acontecido.
No horizonte,
nas proximidades de Machacamarca, vejo que há veículos parados e penso que é
outro acidente, mas me aproximo e percebo que existe uma longa fila. Pessoas
estão na pista e resolvo perguntar qual o problema. Tenho apenas a resposta que
acontece um bloqueio. Avanço pela fila de veículos e chego à primeira barricada
com árvores e pneus queimados. Minha passagem é liberada, assim como foi no
protesto entre Sucre e Potosí. A bicicleta e seus poderes.
Mais um protesto.
Sou obrigado a
passar por mais três barricadas, uma delas o pessoal simplesmente parou dois
vagões de trem no meio da pista. Os ânimos estavam bem exaltados e não ousei
fotografar, apenas perguntei o motivo da mobilização e uma mulher respondeu que
era contra o alcalde (prefeito) que não havia realizado obras no município e
agora estava com a pretensão de permanecer no governo graças ao apoio de outras
lideranças políticas. A população logo respondeu contrária a essa aliança e
resolveu se manifestar, para isso bloqueou a estrada que agora tinha pelo menos
cinco quilômetros de congestionamento.
Não fotografei a
paralização e segui para alcançar meu objetivo. Chega o pôr-do-sol e ainda
restam mais 18 quilômetros. Passam das 18 horas e o movimento na estrada fica
maior, pedalo com muita atenção, mesmo no acostamento que é presente em toda
extensão da rodovia. Após Machacamarca os sinais de acidentes fatais estão por
todos os lados. Em muitos trechos é possível encontrar cruzes em um espaço
menor a um quilômetro. Por isso, não vacilo em seguir com cuidado e claro, ligo
o farol e a lanterna traseira no modo intermitente.
Passo dos 100 km
quando acabo com a última banana. Minha estratégia havia funcionado, não que eu
estive sem fome, mas consegui energia suficiente para encarar a pedalada.
Claro, em alguns momentos a fraqueza era evidente e a velocidade diminuía
drasticamente e nestas horas eu apenas pensava que deveria ser forte para não
desistir. Muitos povoados pelo caminho foram tentadores para um possível
pernoite, mas eu deveria chegar de qualquer jeito em Oruro.
Quanto mais
próximo de Oruro maior o fluxo de veículos e mais estreito fica o acostamento.
Para minha sorte, carros e caminhões, certamente pouco acostumados com o
pisca-pisca da bicicleta, acabam por diminuir a velocidade ao passarem por mim.
Não demora e vejo as luzes da grande cidade. Finalmente eu estava prestes a
chegar a um centro urbano de grande porte, pelo menos para o padrão boliviano.
Chegada ao anoitecer em Oruro.
Na entrada da
cidade pergunto sobre a direção do centro e me informam que está a mais de 4 km
à frente. É descida e sou obrigado apenas a prestar atenção no trânsito e nos
cachorros. Eles são vários. Em Challapata também eram muitos, foi a cidade que
mais notei esses animais pelas ruas. Enfim, avanço e faço mais uma parada para
pedir informação. Dessa vez tenho ainda mais sorte e recebo uma explicação bem
detalhada. O rapaz me aconselha seguir direto (Av. Ejercito), passar sob uma
ponte em forma de circulo e na sequencia, continuar pela avenida até a mesma
chegar à linha férrea (Av. 6 de agosto). Ainda me disse que durante a Av. do
Ejercito eu encontraria vários caixas eletrônicos, inclusive do Banco Mercantil
(recomendado por muitas pessoas em razão das taxas mais baixas).
Essa Avenida do
Ejercito é bem movimentada e o trânsito se torna meio caótico, sorte que estou
adaptado a isso e sigo sem maiores problemas. No final da avenida eu vejo o
caixa eletrônico e meu coração dispara. Finalmente o “cajeroautomatico” que
tanto fez falta em Challapata. Agora restava saber se meu cartão funcionaria no
exterior.
Ansiedade pura.
Coloco o cartão na máquina e sigo as instruções sem dificuldades. O aviso
inicial diz que o limite é de 500 dólares. Lógico que não realizaria um saque
desse valor. Assim, digito um valor menor e aperto a tecla para confirmar.
Espero um pouco e logo aparece que a transação não pôde ser efetuada.
Simplesmente não acreditei na mensagem, eu estaria em uma situação ainda pior
se ela permanecesse.
Faço uma nova
tentativa, apenas mil bolivianos, algo em torno de trezentos reais. Repito o
processo e repentinamente ouço o barulho do dinheiro a sair da máquina. Que
alivio! Isso não apenas me salvaria momentaneamente, mas também garantiria o
saque no decorrer da viagem. Assim, quem estiver disposto a colaborar com a
expedição, não se preocupe, faça sua contribuição que conseguirei recebe-la e
certamente será muito bem-vinda.
Com o dinheiro
em mãos sigo pela Avenida 6 de Agosto em direção a uma estátua que fica na
região do terminal rodoviário que concentra uma variedade de alojamentos
econômicos. O local é mais distante do centro, mas tem um comércio movimentado.
No caminho faço algumas paradas, mas as hospedagens estão lotadas. Avanço mais
um pouco e sou abordado por uma senhora que pergunta se estou à procura de
hospedagem. Ela diz ser proprietária do estabelecimento Residencial San
Francisco de Assis. A diária, 25 bolivianos, menos de 8 reais, incluindo banho
com água quente. O local é grande, tem vários quartos e tudo é bem limpo e
organizado. A Victoria ficou no pátio porque meu quarto é no terceiro andar. Já
passam das 20 horas quando estou finalmente alojado.
Tomo um banho e
logo na sequencia fui procurar um local para jantar. Vários comerciantes
ambulantes vendem lanches, frangos fritos e coisas que não vão me sustentar.
Ando várias quadras e acho um lugar que não tem ninguém. Entro e pergunto se ainda
tem comida, com a resposta positiva aguardo faminto pelo meu prato. Arroz,
bastante salada, batata, bife e ovo fritos por três reais. Estava uma delícia e
peço outro, mas dessa vez a mistura foi trocada por linguiça frita. Comi tanto,
mas tanto que passei mal. Meu corpo não estava mais acostumado com alimentação
farta, coitado.
Volto para o
hotel e desabo na cama. Que dia longo! Mas valeu, superei meus limites,
consegui chegar à Oruro e ainda saquei o dinheiro que fez uma falta enorme nos
últimos dias. Com tudo isso, daqui para frente não andarei com pouca moeda
local. Lógico que por motivo de segurança não levarei uma quantia exorbitante,
mas o suficiente para não faltar.
O dia foi
finalizado com 124,71 km em 8h23m e velocidade média de 14,85 km/h.
07/09/2012 - 61°
dia - Oruro (Folga).
Finalmente um
dia de folga. Folga? Que nada!
O corpo
acostumado a acordar cedo não se importou em cumprir seu papel e logo após às 7
horas da manha eu já estava de pé. Não havia nada para comer e então fui à rua
em busca de algo para o desayuno. Ando quadras e mais quadras e nenhuma
mercearia aberta. Realmente não adianta lamentar, a maior parte do comércio
abre somente após as 9 horas, paciência. Paciência? Vai dizer isso para um
estômago faminto. Sigo a caminhar e pergunto onde fica o mercado público.
Infelizmente muito longe, mais de vinte quadras. O que fazer?
Na noite
anterior, quando fui jantar, lembro que passei em frente a uma padaria que na
ocasião estava fechada, então hoje resolvo conferir se a mesma já estava na
ativa. Para minha felicidade a panificadora está aberta e o pão acaba de sair
do forno. E ainda melhor, custa apenas 0,40 bolivianos cada, dez centavos mais
barato que outros lugares. Para completar, o pão é um dos melhores que
experimentei na Bolívia. Comprei vinte deles na intenção de complementar as
refeições seguintes.
Assim que sai da
padaria fui em direção ao terminal rodoviário, minutos antes havia passado pelo
local e notei que vendedores ambulantes serviam café da manhã. Agora o local
está mais tranquilo e resolvo pedir um copo de leite com chocolate para
acompanhar com meus pães. É normal as pessoas aparecerem com pão e pedirem
alguma bebida no lugar. Notei bastante essa prática nos mercados públicos.
Então, agora foi a minha vez de fazer isso.
Atento, vejo
como a mulher prepara meu leite com chocolate. Ela pega uma lata, despeja um
pouco de leite, adiciona uma pequena colher de Toddy e acrescenta água
fervendo. Era algo parecido com o que uma senhora fez no mercado central em
Potosí. Isso me chamou atenção porque seria possível levar aquela lata de leite
na bagagem e preparar durante a viagem. Mas que leite era aquele? Fiquei de
procura-lo assim que alguma mercearia estivesse aberta.
Após o desayuno pelas
calçadas da movimentada rodoviária vou novamente às compras. Com o passar do
tempo agora já é possível encontrar estabelecimentos abertos. Entro em uma
“tienda” e começo a reposição do meu estoque de alimentos. Levei macarrão,
atum, bolachas, extrato de tomate, suco, geléia, chocolate em pó e também
aquela lata de leche vaporizada, assim é chamado. Você precisa apenas adicionar
um pouco, colocar chocolate ou café e depois acrescentar água fervendo. Assim
disse a atendente, agora bastava testar.
Na volta para a
hospedagem, guardo as coisas e converso com a proprietária sobre um local onde seria
possível lavar a bicicleta. Ela diz que a menos de uma quadra havia um
lava-jato. Então fui saber se era permitido, entretanto, no local, um
funcionário estranhou meu pedido e negou qualquer possibilidade de limpar a
bicicleta, ainda que eu pagasse pela água consumida. Paciência. Retornei ao
alojamento e comentei com a dona Maria que então me autorizou a lavar a
Victoria no pátio do estabelecimento. Perfeito!
A Victoria
estava extremamente suja, coitada. Lavei-a com balde e demorei “apenas” três
horas para deixa-la brilhando de novo. Durante a limpeza era visível a crosta
de sal que aparecia e saia por todas as partes. Um banho era realmente
imprescindível. A passagem pelo salar danifica as peças da bicicleta se a mesma
não for limpa na sequencia. Assim, estava mais do que na hora de uma limpeza
geral. Por isso levei todo esse tempo, mas pelo menos agora a minha companheira
estava pronta para novos desafios. Vale ressaltar que todas as peças estavam
intactas e nada sofreram com os vários dias de pedal pela terra, areia e sal.
Mais uma vez, a confiança no equipamento fez toda a diferença.
Quase às 14
horas fui procurar um lugar para almoçar. Achei um restaurante familiar barato,
mas a comida era bem pouca e a minha refeição foi rápida. Em seguida retorno ao
alojamento para lavar algumas roupas. Certas peças eu havia levado na
lavandeira nas primeiras horas da manhã. Era preciso um serviço especializado
para tirar toda a poeira acumulada nos vários dias pela região da Laguna
Colorada. De manhã também aproveitei para lavar meu tênis que estava em um
estado deplorável. Eu deveria utilizar o tanque disponível, não é toda
hospedagem que possibilita seu uso. Eu ainda limpei todos os alforjes. Desse
modo, meu dia de folga foi na verdade de muito trabalho.
No final da
tarde eu estava cansado, mas muito feliz por ter a oportunidade em deixar tudo
limpo, assim, em La Paz eu terei tempo para descansar. Agora de tarde restava
preparar algo para comer. Pensei logo nos pães e para acompanhar, leite com
chocolate. Fiz o mesmo processo que a senhora que me atendeu e achei o leite um
pouco fraco. Então coloquei um pouco mais de leite (dois dedos) e acrescentei
outra colher de chocolate, ficou perfeito. Acho que a lata deve render seis
copos de 200 ml. Vale a pena, não apenas pelo preço, pouco mais de dois reais,
mas também pela possibilidade de transporta-lo, ainda mais nesta região onde a
temperatura ajuda a conservar o leite sem a necessidade de um refrigerador.
Quando fui
buscar minhas roupas lavadas, passadas e cheirosas, conversei bastante com o
casal proprietário do local. Eles acharam bem interessante a viagem e o que me
chamou atenção foi uma frase que a senhora disse ao marido; “Nossa, lugares na
Bolívia que nós mesmos não conhecemos”. Não foi a primeira vez que ouvi algo
neste sentido. Muitas pessoas, por exemplo, nunca ouviram falar em La Higuera. Infelizmente
é uma realidade que eu espero não durar muito tempo. Acho que o conhecimento
adquirido ao viajar é tão precioso quanto aquele que aprendemos na escola ou em
casa.
Durante a noite
volto no mesmo restaurante do dia anterior e desta vez peço apenas um prato
para não passar mal. A comida, novamente está maravilhosa, uma das melhores
nestes mais de 40 dias na Bolívia e por um preço que é dos menores. Fiz questão
de parabenizar a proprietária. Depois regresso ao hotel para finalmente
descansar e poder seguir em direção à La Paz.
Vale uma última
ressalva. Oruro, apesar de grande, tem poucos lugares a serem visitados. A
cidade é famosa, sobretudo, pelo seu carnaval, que acontece na mesma época que
o nosso no Brasil. E apenas pelos desfiles que presenciei em Potosí e Uyuni,
imagino que a festa deles deve ser realmente muito interessante. Quem sabe
futuramente não tenha a oportunidade de visitar a cidade durante o evento.
Parabéns pela
Independência Brasil!
08/09/2012 - 62°
dia - Oruro a Tholar
Sábado. A
pretensão era sair por volta das 6 horas da manhã para avançar o máximo
possível na direção de La Paz, desse modo, domingo restariam poucos quilômetros
para chegar na “capital”. Eu até acordei cedo, mas tive que arrumar as coisas
no alforje e ainda preparar os pães com geléia para o café da manhã e também o
almoço. Assim, somente às 8h30m comecei a pedalar.
Estoque reforçado.
Final da Avenida 6 de Agosto.
In foco.
Avenida 6 de agosto. Uma linha férrea passa no meio da rua.
Oruro é uma
cidade grande e foi preciso pedalar quase cinco quilômetros para encontrar a
estrada que segue para La Paz. A rodovia está em processo de duplicação e logo
é possível deparar-se com as máquinas e trabalhadores pelo caminho. A pista tem
acostamento, mas em função das obras, muitas vezes ele está repleto de pedras
ou tomado por montanhas de terra e então é preciso ter atenção redobrada já que
o tráfego de veículos é intenso.
In foco.
Na saída de Oruro.
Rodovia em fase de duplicação.
Mais obras.
A distância
entre Oruro e La Paz é superior a 230 km e hoje eu deveria pedalar no mínimo
até AyoAyo, povoado a mais de 150 km de Oruro. O trajeto é quase todo plano e o
vento é imperceptível, com isso consigo avançar a uma velocidade muitas vezes
maior que 20 km/h. Chego à Caracollo e tenho uma surpresa, a cidade está 10 km,mais
próxima do que indica minha planilha. A diferença dessa distância, acredito eu,
seja em razão da localização da hospedagem onde fiquei em Oruro, mais próxima
da saída para La Paz.
Caracollo.
Caracollo.
Em Caracollo
está o cruzamento para Cochabamba, que por sua vez, não era meu destino e assim
permaneço na estrada que vai para La Paz. Ao meio dia e com mais de 50 km
pedalados faço uma pausa para almoçar meus pães e passar o protetor solar já
que o sol no período da tarde praticamente ficaria na minha frente. A
curiosidade ficou por conta das mulheres no acostamento que vendiam marmitas
para o pessoal que trafegava pela rodovia. Primeira vez que vejo isso na
Bolívia. Juro que a tentação para comprar a comida foi grande, mas resolvi não
arriscar. Estou a mais de 45 dias no país e não é agora que pretendo ter
problemas com alimentação.
Marmitas à beira da rodovia.
Mais uma laguna pelo caminho.
Após vinte
minutos de pausa sigo para completar mais 100 km até o final da tarde. Com o
mesmo ritmo da manhã isso seria possível sem maiores dificuldades. O pedal
continua tranquilo e parece que após a limpeza da Victoria eu avançava com
quilos a menos de carga. Na verdade, eu estava mais bem alimentado e descansado
com a “folga” em Oruro e agora isso possibilita aproveitar todos os fatores a
favor, algo que não aconteceu entre Challapata e Oruro.
A segunda
surpresa do dia foi em relação ao encontro com mais dois cicloturistas que
pedalavam juntos desde Cusco no Peru. Um japonês que começou a viagem na Cidade
do México e um colombiano que estava na estrada desde Bogotá. Ambos se
deslocavam em direção ao sul da Argentina e hoje o destino seria Oruro.
Conversamos, trocamos algumas informações sobre hospedagens e condições da
estrada e nos despedimos.
Ryota e Sebastian
Ryota e Sebastian
Na sequencia o
altiplano continua a predominar e tenho poucas subidas pelo caminho, talvez a
maior inclinação tenha sido na chegada à Sica Sica, aproximadamente 100 km após
Oruro. Existem vários povoados pelo caminho, um com o nome mais diferente que o
outro. A maioria oferece uma estrutura básica para os viajantes, inclusive, com
alojamentos. Patacamaya é uma ótima opção de parada, contudo, resolvi seguir.
Nomes diferentes.
Nomes diferentes.
Nomes diferentes.
Após Patacamaya
começou o vento contra que despencou minha velocidade média que até então
estava na casa dos 20 km/h. Eu poderia reclamar, mas resolvi não lamentar,
afinal, agora o trecho era asfaltado, sem muitas subidas e eu tinha comida
disponível. Então, poderia ser bem pior. A solução foi encarar o vento e as
obras pelo caminho. Com calma chego à AyoAyo pouco após as 18 horas. Eu estava
cansado com a quilometragem e pelo ritmo maior. Mas no povoado descubro que não
existe alojamento. Hospedagem somente 10 km à frente no próximo “pueblo”. Que
maravilha!
Novamente tenho
que pedalar de noite e agora em uma estrada muito movimentada e com o
acostamento várias vezes intransitável. O que me salva, mais uma vez, é meu
farol e lanterna que piscavam e chamavam atenção de quem passava por mim e
consequentemente diminuíam a velocidade. Buzinas o dia todo estiveram
presentes, mas não para cumprimentar, agora eles alertam para que você se
mantenha no acostamento e por nenhum motivo vá para a pista. Afinal, ninguém
quer atropelar um ciclista.
Faltavam apenas
10 km para um povoado que eu não sabia o nome, parecia uma distância curta, mas
a canseira, escuridão e situação da estrada me fizeram completar o trecho em
praticamente uma hora. Por volta das 19 horas chego à Tholar. A notícia boa não
era somente a presença de hospedagens, mas agora restavam 10 km a menos para
chegar à La Paz, distante 70 km de Tholar. E novamente estou feliz por mais um
dia de pedal.
Finalmente em Tholar.
No povoado
existem dois hotéis, me informaram que o preço não varia muito e então fui ao
Hotel Porvenir. No local, a surpresa, 40 bolivianos a diária, uma das mais
caras do último mês. Pode parecer pouco, 12 reais, mas para o bolso de um
cicloturista isso pesa. E mais, o preço não era nada compatível com as
instalações e serviços oferecidos. O prédio é grande e alto, meu dormitório
fica no quarto e último andar. Existe um banheiro ao lado, contudo, o banho
deve ser tomado no térreo. Que maravilha!
A Victoria ficou
no pátio e levei as coisas mais importantes para o quarto e depois fui jantar.
A refeição saiu por 15 bolivianos e não saciou minha fome. Comprei uma água,
voltei para o quarto, preparei um suco e comi mais dois pacotes de bolachas.
Agora eu tenho que fazer de tudo para não perder peso. Infelizmente vou ter que
gastar mais para isso.
O hotel fica ao
lado da movimentada rodovia, mas sinceramente isso não incomoda, o que faz um
barulho muito maior são os pombos no forro do teto de madeira. Não sei por que
eles me colocaram naquele quarto. Anteriormente perguntei se não havia nenhum
outro mais abaixo e a resposta é que os dormitórios estavam todos ocupados.
Duvido! O local tinha vários quartos e seria preciso muitas pessoas para lotar
o estabelecimento. Enfim, resta-me tentar dormir ao som dos veículos e
pássaros.
O dia foi
finalizado com 163,52 km em 9h15m e velocidade média de 17,64 km/h, esta última
foi a mais alta de toda a viagem.
09/09/2012 - 63°
dia - Tholar a La Paz.
Domingo e finalmente
prestes a chegar à La Paz, além de conhecer a “capital” mais alta do mundo,
poderei atualizar o site e descansar, preciso muito descansar.
Acordei e
levantei por volta das 6 horas da manhã, meu desayuno foi com os pães comprados
em Oruro e acompanhados com um suco já que meu gás acabou e não posso esquentar
a água para o chá, sem problema. Após a refeição, arrumo as coisas e me preparo
para sair. O tempo está extremamente nublado como há muito tempo não ficava.
Fico na torcida para não chover justo agora que a Victoria está limpa.
Tholar vista da janela do meu quarto no último andar do hotel.
Às 7h30m já
estou na estrada para completar os 70 km restantes para La Paz. Pensei que a
estrada estaria tranquila, afinal era domingo, mas o movimento continuou o
mesmo do dia anterior. Sigo com paciência e atenção. Um sobe e desce é
constante e meu ritmo não é igual ao de ontem, o vento contra continua a
impedir o deslocamento mais fácil. O trecho é marcado por inúmeros desvios em
razão das obras. E quando eles surgem, adeus acostamento e sou obrigado a
dividir um curto espaço com outros veículos, tem que ter muito sangue frio para
pedalar ao lado deles, sobretudo, dos caminhões e ônibus.
Movimento na estrada em plena manhã de domingo.
Não sou o único
a viajar de bicicleta pela região e tenho encontrado vários cicloturistas. Hoje,
em mais uma área de desvio, vejo um casal na direção contrária, logo eles se
aproximam e somos apresentados. São os holandeses Patrick e Janneke
(mooiopreis.nl) que percorrem a América Latina no pedal. Começaram a viagem em
Lima e seguem à Ushuaia, extremo sul da Argentina. Hoje se dirigiam à
Cochabamba e depois Sucre, Potosí e Uyuni. Fiquei de mandar um e-mail com o
endereço das hospedagens onde fiquei nestas três últimas localidades.
Conversamos mais um pouco e cada um seguiu seu caminho.
Cicloturistas holandeses.
Os quilômetros
passam e logo avisto a cidade El Alto, região metropolitana de La Paz. Conforme
me aproximo, mais o cenário fica movimentado; veículos, pessoas, animais e tudo
o que vocêpossa imaginar por todos os lados. O trânsito é complicado e lento no
perímetro urbano da parte mais periférica do município. Depois chego à parte
central e a concentração de vans que fazem o transporte pelas localidades é
enorme e de repente estou no meio dos passageiros que entram e saem destes
veículos. Algo bem parecido com Ciudad del Este no Paraguai. Como estou
acostumado com isso, apenas sigo com atenção e a situação melhora aos poucos,
principalmente quando aparece a autopista.
El Alto.
Região periférica de El Alto.
Região mais central de El Alto.
Acho que foram
aproximadamente 15 km pedalados pela rodovia que corta El Alto. Na parte final
segui pela Avenida Marginal que é mais tranquila. Às vezes pergunto sobre a
direção para La Paz apenas para ter certeza que estou no caminho certo, para
minha sorte é preciso apenas seguir.
In foco.
Em El Alto,
ainda passo por um local de comércio intenso e também pela área industrial.
Muitos produtos, sobretudo, alimentícios são produzidos aqui na região. Avanço
alguns quilômetros e finalmente chego a um pedágio que deseja boas vindas à La
Paz. Poucos metros depois um mirante com a fantástica visão da cidade, algo
realmente deslumbrante.
Esta marca está na maioria dos produtos produzidos na Bolívia.
Chegada à La Paz.
In foco.
No mirante,
registro o momento e converso com um senhor que tira uma foto minha no local.
Na sequencia aparecem dois cicloturistas, um espanhol e o outro francês que
pedalam pela América do Sul. Eles chegavam de Copacabana e ficam alguns dias em
La Paz. Conversamos pouco e logo cada um seguiu em direção à descida que leva
para a capital.
La Paz ao fundo.
Com mais de 4 mil km pedalados, finalmente La Paz.
La Paz.
La Paz.
Autopista ao lado.
Francês e espanhol em direção à La Paz.
A descida é de
adrenalina pura. Afinal, El Alto está há 4.100 metros de altitude e La Paz
3.650 metros. Assim, foram mais de 10 km montanha abaixo. O trânsito é
movimentado, mas não chega a ser um caos, talvez pelo fato de ser domingo.
Aliás, minha chegada neste dia foi estratégica justamente por isso. Uma placa
diz que é proibido o trânsito de bicicletas na autopista, mas sem alternativa,
eu e outros ciclistas seguimos pelo local. Na descida vou pelo acostamento e em
um determinado trecho um buraco aparece de repente e não tenho chance de
desviar. A Victoria guerreira, felizmente aguentou bem a batida e nada
aconteceu. Um pneu furado era tudo o que não precisava no momento.
Ainda na
descida, começa a chuviscar, mas não dura muito tempo. Sigo e já na parte baixa
da cidade pergunto como chegar à igreja São Francisco. No meu guia/livro esta
região tem hospedagens baratas e o australiano que encontrei no salar de Uyuni
recomendou por também ser segura. Não demorou muito e logo estou na frente da
igreja. Mais algumas perguntas e sou orientado a subir algumas quadras. Sei que
fui parar próximo ao famoso Mercado das Bruxas.
Na procura por
alojamento, encontrei a Hospedaje Jimenez. Um senhor que trabalha na recepção
me atendeu muitíssimo bem e informou que o quarto disponível era individual e
com banheiro por 40 bolivianos, algo em torno de 13 reais. Não pensei duas
vezes e resolvi ficar. O lugar é limpo e o ambiente me pareceu bem agradável.
Assim, às 14 horas estava devidamente acomodado.
Aqui na
hospedagem tem cozinha disponível e sua utilização custa um real. Fiz meu
almoço no local porque meu gás para cozinhar acabou em Oruro. Após a refeição
fui procurar um lugar para telefonar para meus pais, fazia um bom tempo que não
mandava notícias. Aqui a ligação é mais barata, quase o mesmo preço de Sucre. Assim
é possível conversar um pouco mais com os familiares.
Andar pelas ruas
de La Paz significa subir ou descer, ladeiras por todos os lados. Caminhei à
procura de comida. Precisava comprar alimento para começar meu período de
engorda. Afinal, devo permanecer de 5 a 7 dias aqui na cidade e vou aproveitar
parar ganhar peso. Demorei em encontrar, mas finalmente achei pão, um bom
começo, comprei vários. Depois achei frutas e levei laranjas e bananas. Durante
a caminhada também encontro o local onde o recepcionista da hospedagem me disse
que havia o gás que eu precisava. Na verdade é uma loja de camping e o pequeno
botijão saiu por volta de 13 reais, praticamente o mesmo preço que paguei no
Brasil. Fiquei muito satisfeito com a aquisição, não esperava encontrar fácil,
ainda mais em pleno domingo. Posso voltar a cozinhar novamente.
No retorno à
hospedagem, preparo pão com geléia e também meu leite com chocolate, depois
como algumas frutas e vou separar as fotos para colocar no site. Amanhã quero
me dedicar na atualização das fotos e relatos. Nos próximos dias quero conhecer
melhor o centro, a catedral, o museu da coca e ainda fazer o downhill na
estrada da morte e uma visita à Tiahuanaco onde existe o sítio arqueológico e
um museu sobre a civilização pré-incaica que ocupou o altiplano.
Claro, vou
procurar descansar um pouco. Os dias na região da Laguna Colorada e Salar de
Uyuni me deixaram cansado. Afinal foram mais de 850 km apenas em estradas de
terra, pedra, areia, sal e muita subida entre um lugar e outro. Lábios, pés e
mãos estão rachados em razão do frio. Inclusive os dedos das mãos ainda estão
um pouco dormentes. Minhas virilhas estão assadas, na carne viva (agora em
processo de recuperação) e a bunda com machucados que já formaram casca. Pois
é, meus amigos, viajar de bicicleta é um dos melhores meios para se conhecer os
lugares, culturas, histórias e pessoas, mas está longe de ser o mais fácil. É
preciso algum sacrifício e muita determinação para superar os obstáculos e
alcançar os objetivos. Afinal, “a grandeza da vitória está na dificuldade em
obtê-la”, não se esqueçam disso.
Até agora foram
dois meses e 4.210 km pedalados. Agora faço essa pausa em La Paz e na sequencia
sigo para Copacabana, meu último destino na Bolívia, depois atravesso a
fronteira para o Peru, onde finalmente pretendo encontrar a cidade perdida dos
Incas, Machu Picchu.
O dia foi
finalizado com 75,55 km em 5h00m e velocidade média de 15,10 km/h.
10/09/2012 - 64°
dia - La Paz (Folga).
Atualização do
site.
Aproveito a
oportunidade e peço desculpas pela demora em realizar novas postagens. Espero
que compreendam o motivo. Estive em uma das áreas mais remotas da Bolívia, onde
ainda não existe internet. Encontrei acesso nas cidades de Uyuni e San Agustin,
todavia, a velocidade era extremamente lenta e impossível de fazer qualquer
coisa, até mesmo enviar um e-mail. Em todo caso, agora as postagens voltam a
ser mais frequentes.
No mais,
agradeço o apoio de todos. Obrigado de verdade pelos comentários aqui no site.
Assim que possível vou responder todos. E continuem a mandar suas mensagens,
elas são bem-vindas, podem ter certeza.
Antes de seguir
para Copacabana volto a fazer uma nova postagem sobre os dias em La Paz.
Abraço a todos.
“Hasta la
Victoria Siempre”
11/09/2012 - 65°
dia - La Paz (Folga).
Outro dia dedicado à atualização do site.
...só poderei ler a noite, mas já rolei todas as fotos, e estou sem palavras hermano...
ResponderExcluir...cada pedacinho desse roteiro, é como se tivessemos passado por lá...
Registro Maravilhoso de tudo !
Imensamente agradecidos pela homenagem aos Grupos !
...cara, estou me sentindo aquele passarinho preso na gaiola, assistindo aos outros voarem...
...só que a diferença entre nós e os passarinhos presos, é que podemos planejar nossa Liberdade !
Hermano, depois de ler, comento...
Abraço para você de todos aqui, conte conosco !
HLVS !
Buenas hermano.
ExcluirPois é Marcão, com certeza a Bolívia é um país que muitas vezes nos deixa sem palavras. Infelizmente no Brasil, temos uma idéia muito equivocada do que realmente é essa nação. Belezas naturais, cultura extremamente rica e uma história milenar. Portanto, liberte-se e permita-se planejar uma viagem por esta região, certamente será inesquecível.
Abração, camarada.
HLVS
Caramba, devagarinho estou lendo sobe todas as suas viagens, parabéns, vc é corajoso, esta fazendo o que muita gente sonha mas não tem coragem. eu adoro pedalar, sempre ando de bike, mas até hoje a maior distância que fiz foi 40km, qualquer dia eu vou me aventurar em uma viagem curta para iniciar...
ResponderExcluirna verdade o que mais me da medo é a questão da segurança nas estradas, tenho medo de ser assaltado ou agredido por alguem, gostaria muito de saber de você como você lida com isso, se já tentaram te assaltar, e se em outros paises que você passou é seguro.
pena que não tenho grana para te ajudar, mas prometo que se eu acertar na mega sena eu financio suas viagens.
valeu abraço e boa sorte!!!
Bortolini.
Buenas Bortolini.
ExcluirAgradeço pelas suas palavras. Como diz o Amyr Klink, uma hora é preciso parar de sonhor e partir. Eu costumo dizer também que é necessário criar as oportunidades e aproveita-las. É exatamente isto que faço atualmente. E sinceramente está sendo uma experiência única. A viagem está realmente maravilhosa.
Se o maior obstáculo para você começar a viajar de bike é a segurança, tenho uma boa notícia. Pegue a "magrela" e siga para a estrada, pois há seis anos acompanho o mundo do cicloturismo e não me lembro de ninguém a mencionar problemas com essa questão. Claro, é válido lembrar que atenção nunca é demais. Portanto, com os devidos cuidados é bem tranquilo. Comigo nunca me aconteceu nada, seja no Brasil ou no exterior. Muitos me falaram que a Bolívia era perigosa e etc. Mas sinceramente, após 2 meses, em nenhum momento me senti inseguro, seja nas áreas inóspitas ou grandes centros urbanos, de dia e noite. Por isso, nada melhor do que conhecer os lugares com seus próprios olhos.
Quando fizer sua primeira viagem, entre em contato para relatar sua experiência. Boa sorte e também torço para você ganhar na mega sena, rs. E continue a acompanhar o site.
Abração.
Olá Nelson. Sensacional, sua viagem e os relatos!
ResponderExcluirSou formada em Geografia pela Unioeste MCRondon,logo, amo viajar, mas nenhuma das minhas viagens se compara a riqueza das suas. Entro sempre pra ver suas atualizações e leio todos os relatos, é incrível. Parabéns pela viagem, força no pedal.
Abraços
Daia Gemelli
Buenas Daia.
ExcluirObrigado por acompanhar o diário de bordo e também pelos comentários. Legal saber que você é uma colega de profissão. Não me surpreendo que goste de viajar, afinal, é uma das melhores formas de conhecer aquilo que está nos livros e, sobretudo, as coisas que não nos são apresentadas, não é verdade? Pelo menos as viagens de bicicleta tem sido uma maneira excelente para se adquirir conhecimento. E independente do meio de locomoção, não deixe de viajar.
No mais, você enquanto geógrafa, certamente iria gostar demais de uma visita à Bolívia, recomendo. E obrigado pela força e mantemos contato
Abraço.
hola, chamigo!
ResponderExcluirdemorei mas consegui ler tudo!
maravilha! que bom que está tudo correndo bem (dentro do possível)
abraços e boa sorte!
Elton Xamã
Campo Grande/MS
Buenas camarada.
ExcluirNovamente agradeço por acompanhar a expedição e pela força de sempre.
Eu também estou na torcida para que a viagem continue uma maravilha. Até o momento tem sido uma experiência única. A cada dia tenho uma supresa (boa) pelo caminho, portanto, pensamento positivo para que tudo ocorra bem.
Abração.
Hasta
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirCara, seu relato tá mais fluído, saiu daquele estilo TCC! Imagino a sua alegria ao ser bem recebido após aquela "pedreira" que foi a chegada às Lagunas. Abraço!
ResponderExcluirBuenas hermano.
ExcluirLegal saber que o texto está com uma leitura mais fácil. E cara, realmente a recepção na hospedagem na Laguna Colorada foi muito boa, certamente não esquecerei a forma como fui tratado e da excelente companhia dos proprietários do estabelecimento. Sem falar da emoção que foi conhecer a região.
Abração
To lendo e comentando lá vai uma dica: ponha jornal ou outro papel dentro das luvas, da camisa... a propósito: não estava frio o suficiente pra começar a pedalada com luvas?
ResponderExcluirValeu a dica, Guilherme. Espero não precisar utilizar, mas se houver necessidade, lembrarei dessas dicas. Então, eu estava com a luva fechada de ciclismo, desenvolvida para o frio e já havia pedalado somente com ela a uma temperatura de 7°C negativos. Na Laguna Capina, eu não imaginei que estaria extremamente frio fora do acampamento. Com o congelamente instantâneo das mãos, fui obrigado a colocar a luva de lã por cima da luva de ciclismo. Não havia feito isso em outras ocasiões porque a mão fica muito "gorda" e não muito confortável. Mas acho que já passei pela região mais fria e agora tenho somente mais alguns dias de inverno.
ExcluirAcho que é isso camarada.
Abração
Me Brother fiquei feliz em saber que vc está bem! acho que não só eu mas todos que estão acompanhando ficaram preocupados com o passar dos dias e sem nenhuma notícia.Enfim está sensacional...estava lendo a última atualização e viajando junto....Parabéns!!!Nelson a vitória pertence ao mais perseverante...então vamos nessa!!!
ResponderExcluirAbraços e até a próxima atualização.
Guylherme
(Aracaju/SE)
Buenas Guylherme.
ExcluirDesculpa pela preocupação, camarada. Mas como mencionei, a região era inóspita e quando havia internet a velocidade era extremamente lenta. Aliás, neste momento estou em Copacabana e não posso atualizar o site porque a internet aqui na cidade não permite, muito lenta. Espero que no Peru, seja mais fácil para realizar as postagens.
No mais, agradeço as palavras, valeu pela força e vamos nessa.
Abração.
Michel Teló no salar? hahaha
ResponderExcluirNão bastasse o areião, o frio, a falta de comida, as subidas e o deserto, ainda tem que enfrentar Michel Teló!
Amigo, vc merece um prêmio!
Buenas Márcio.
ExcluirTive que rir muito desse comentário. Realmente uma trilha sonora diferente teria sido mais inspiradora, rs. Curioso é que a maioria das músicas brasileiras tocadas aqui na Bolívia é sertaneja. Enfim, como disse, existe gosto para tudo.
Ainda bem que tenho um mp3 com muito rock n roll \,,/
Abraço.
APOS AS BIFURCAÇÕES,FRIO,AREIA,JUMENTOS,SALAR,E A FALTA DE MOEDA LOCAL;SÓ MESMO COM MUITA PERSISTÊNCIA, FOCO NO OBJETIVO E SEGUINDO NORMAS E REGRAS,ESTE E O CARA!
ResponderExcluirBuenas Papito!
ExcluirPois é pai, somente com muita persistência mesmo. Uma turista alemã me perguntou de onde vinha tanta determinação. Soube apenas responder que para começar uma viagem como esta é preciso, antes mesmo de iniciar a pedalar, ter objetivo e determinação, caso contrário, nos primeiros obstáculos a derrota é certa. E apesar da viagem ser longa, minha vontade de continuar é muito maior, pois sinto que meus objetivos e sonhos estão sendo realizados. E isso é maravilhoso.
No mais, muito obrigado pela força.
Abração.
Vou Confessar uma coisa, fiquei lendo e quase que apostando que você iria voltar e pagar a Dna. Heide, mas isso não ocorreu. Essa idéia passou pela sua cabeça no caminho até Oruro?
ResponderExcluirCara esta D+ essa CicloSelvagem, continue firme você é um Heroi!
At.
Sergio Cascavel/PR
Buenas Sergio.
ExcluirEntão, voltar não estava nos planos, afinal, eram 120 km. E sinceramente, durante o caminho para Oruro eu pensava apenas na real posssibilidade de encontrar um caixa eletrônico e fazer o saque para então poder comprar comida. A fome e a expectativa eram demais!
No residêncial, perguntei para a Heide, mais de uma vez, como eu poderia paga-la e nas respostas, ela enfatizou para que eu não me preocupasse. Era uma ajuda! Então resolvi pedir se havia um cartão da hospedagem, seria uma forma de divulgar o lugar para outros viajantes, era um modo de agradecer pela ajuda. Ela então me deu o cartão de visitas com os dados que estão aqui no site. Por isso segui viagem tranquilo e claro, agradecido pela ajuda e compreensão do tamanho da beleza da Bolívia.
Acho que é isso, camarada. Valeu a força.
Abraço.
Legal, agora entendi, sim fecho muito bem, e a generosidade do caminho também é aceita.
Excluircontinue assim!!!! bravo bravo bravo.
Uma curiosidade, os dois Cicloturistas que você encontrou postaram fotos e vídeos tomando banho nas águas do salar, você não desfrutou??
ResponderExcluirAt.
Sergio/Cascavel
O lugar em questão seria Ojos del Salar? Se for, não foi possível desfrutar pois o mesmo se encontra em uma rota diferente daquela por onde passei. O Salar de Uyuni é imenso e existem vários trechos para percorre-lo, no meu caminho estava "apenas" a Isla Incahuasi.
ExcluirAbraço.
Hasta