sábado, 6 de outubro de 2012

Peru II

 04/10/2012 - 88° dia - Cusco (Folga).

Merecido descanso. 

Talvez esse tenha sido o dia que eu realmente pude descansar desde o início da viagem. Apesar de ter várias coisas para conhecer na cidade, sobretudo, no centro histórico, resolvi que hoje aproveitaria o sossego da Hospedaje Estrellita, onde ainda permaneço já que hospitalidade do Warmshowers não aconteceu por imprevistos de última hora com a anfitriã. 

O corpo acostumado em acordar cedo não hesitou em mais uma vez cumprir sua tarefa e às 6h30m já estava pronto para começar outro dia. Na cozinha da hospedagem tomei meu café da manhã que nos últimos dias tem sido bem caprichado. Conforme disse em uma postagem anterior, o desayuno, incluso na diária, consiste em dois pães, geléia, margarina, ovo frito/“revuelto” e chá ou café, esses dois últimos, à vontade. No entanto, tenho complementado esse cardápio com mais pães (comprados sempre no final da tarde do dia anterior) e o leche evaporada com chocolate. Aqui no Peru, esse tipo de leite também é facilmente encontrado no comércio.

Após a refeição matinal regresso ao quarto e começo analisar, mais uma vez, o roteiro em direção ao Oceano Pacífico. Terei dias bem complicados pela frente. Subidas com mais de cinquentas quilômetros estão pelo caminho. Talvez seja o maior aclive de toda a expedição, contudo, na sequencia, antes de chegar ao mar, a descida também será nas mesmas proporções. Assim, resta-me aproveitar esses dias de folga e recarregar as energias para encarar o próximo desafio.

Com o dia mais tranquilo, procurei fazer algumas coisas que estavam pendentes e também resolvi criar a minha “vaquinha virtual”, uma recomendação do amigo Audálio Jr. (pedalafloripa.com) para conseguir levantar um apoio financeiro maior para a sequencia da viagem. O serviço é totalmente seguro e oferece mais opções para quem estiver interessado em colaborar com meu projeto pela América Latina. Por exemplo, agora é possível contribuir com a utilização do cartão de crédito (parcelamento em até 12x) e também por meio de boleto bancário. Não importa o valor, qualquer ajuda é muito bem-vinda. Para colaborar, clique aqui!

Ao meio dia fui almoçar, desta vez, sozinho. Decidi ir ao mesmo restaurante que dias atrás ofereceu feijão no cardápio, entretanto, hoje ele não fazia parte do menu. No almuerzo, sopa e o segundo prato com nome de Malaya con salada rusa; arroz, um pedaço de carne bovina frita, beterraba e batata. Simples, mas gostoso. A pouca comida me fez pedir outro “segundo”, desta vez um tal de Saltado, pedaços de carne com cebola refogada, uma delícia. A sopa dessa segunda refeição eu pedi para levar, poderia aproveita-la com pão no final do dia.

Após o almoço descansei um pouco e fui trocar a câmara de ar furada do pneu dianteiro e depois voltei à internet para pesquisar mais sobre essa região peruana. Também aproveitei para conversar com meus amigos que mesmo à distância sempre me incentivam. Obrigado, camaradas.

Durante a noite havia combinado de ir, na companhia do casal alemão, a um festival de cinema independente (entrada franca) que acontece aqui na cidade, no entanto, quando chegamos ao local indicado no folheto, a surpresa, estava fechado. Aconteceu que a dona Anne confundiu as datas e ficamos sem filme. Sem problema. Caminhamos um pouco pelo centro e nos encontramos com Santiago e Luisina da Argentina.

O pessoal resolveu conferir uma casa noturna onde ofereciam uma bebida grátis, conforme mencionava o panfleto recebido na Plaza de Armas. No local, música, bebida e fumaça de cigarro para todos os lados. Ambiente que realmente eu não curto e não me sinto à vontade. Assim, fiquei apenas um pouco para fazer companhia e logo me despedi dos amigos viajantes. Inclusive, amanhã a Anne e Anselm viajam para Lima, combinamos de manter contato para quem sabe nos encontrarmos no norte do país e pegarmos umas ondas no Pacífico. 

Para quem gosta de sair à noite, o centro histórico de Cusco é repleto de bares, restaurantes e casas noturnas, muitos lugares com música ao vivo. Se você fizer um passeio noturno pelas ruas ao redor da Plaza de Armas vai receber vários panfletos desses estabelecimentos que para chamar a clientela acaba por oferecer a primeira bebida como cortesia da casa. Onde estávamos, ganhei um copo de refrigerante, já que não bebo nada alcoólico. 

Por volta da meia noite retornei à hospedagem e fui dormir com o pretensão de conhecer melhor a cidade no dia seguinte.

05/10/2012 - 89° dia - Cusco (Folga).

Ontem fui dormir mais tarde, no entanto, isso não me impediu de acordar naturalmente às 6 horas da manhã de hoje. Paciência! 

Pela manhã arrumei minhas coisas e atualizei o diário de bordo. Na hora do almoço voltei ao restaurante de ontem. Estava lotado! Todas as mesas ocupadas. O jeito foi procurar uma cadeira vaga e compartilhar algum espaço da mesa com outras pessoas. Aqui, assim como acontece na Bolívia, esse costume permanece. Aliás, fica a dica, se vieres para esses países, não se preocupe em pedir licença (permiso) para sentar-se, aqui eles não estão habituados a este palavreado. Na maioria das vezes, mencionam “aprovecho” às pessoas presentes. Ao final da refeição alguns voltam a dizer a mesma palavra ou então “gracias”. Portanto, seja educado e não se esqueça das palavras mágicas.

No restaurante optei novamente pela Malaya, contudo, desta vez ela estava acompanhada de lentilha, que lembra um pouco feijão, este, raramente presente nas mesas peruanas e que muito me faz falta. A comida estava boa. Interessante aqui no Peru é que as refeições são mais diversificadas, no entanto, não espere por uma carne de qualidade. Ainda assim, resolvi pedir um menu completo para levar e deixar a janta garantida.

Quando voltei para a hospedagem acabei por não resistir à tentação e almocei parte daquela que seria minha janta. Para a refeição noturna deixei apenas a sopa. Alimentei-me muito bem esses dias em Cusco, café da manhã, almoço e janta, caprichados. Possivelmente ganhei um pouco de peso, entretanto, não é possível afirmar quanto porque dificilmente se encontra balanças nas farmácias. Mas, sinceramente acho que pelo menos um quilo eu consegui recuperar. 

Não é apenas o ganho de peso que tem me deixado feliz. Estou muito contente por tudo que tem acontecido durante a viagem, que por sua vez, está melhor do que havia sonhado e planejado. Os lugares mais aguardados foram conhecidos e os obstáculos mais difíceis, superados. Afinal, consegui sobreviver o inverno inteiro, maior parte dele pedalando na temida Cordilheira dos Andes, geralmente acima dos 3 mil metros de altitude e com temperaturas negativas.

Apesar de faltar muito para o término da expedição, é possível dizer que ela está dividida em duas partes, antes e depois de Cusco (Machu Picchu). Esta primeira parte era fundamental para o avanço da viagem. Chegar aqui seria uma verdadeira prova para meu corpo e mente. Com muito planejamento, paciência e determinação, superei essa etapa. Conheci lugares magníficos e suas particularidades; pessoas interessantes, histórias, culturas e belezas naturais. Aprendi muito em praticamente três meses de viagem, inclusive, a respeito de mim mesmo. E com todo aprendizado sei que é possível continuar a viagem tranquilamente. 

Continuaria a expedição amanhã, sábado, mas resolvi partir apenas no domingo. Achei que um dia a mais de descanso seria totalmente justo antes de começar essa segunda etapa. Com essa decisão, a tarde de hoje foi dedica a conhecer um pouco melhor o centro histórico. Peguei o mapa da cidade e saí a caminhar pelas ruas. 

Conforme já mencionado, Cusco é repleta de museus, igrejas e parques arqueológicos, contudo, a entrada da maioria dessas atrações é somente permitida com o boleto turístico que custa mais de 100 reais, muito caro e por isso não fiz sua aquisição. Dessa forma, minha caminhada tinha como objetivo observar as construções das civilizações pré-hispânicas, sobretudo, inca e também a arquitetura da época colonial, presente em várias partes do centro histórico.

Pelas vielas do centro histórico.

Centro histórico. Proximidades da Plaza de Armas.

 Av. El Sol

 
 Av. El Sol.

 
 Iglesia La Merced.

Iglesia Santa Teresa. Toda feita de pedra, peculiar.

Caminhar por essa região central de Cusco é realmente uma volta ao passado. Para quem gosta de história é um passeio imperdível. Passei pelas principais igrejas da cidade, inclusive, a San Cristóbal, de onde é possível ter uma vista interessante do centro histórico. No entanto, para chegar a esse ponto foi preciso subir vários degraus das escadarias existentes pelo caminho. Afinal, Cusco está situada entre as montanhas dos Andes. 

 As subidas pelo caminho.

 
 Escadaria básica.

 Literalmente na Rua da Amargura, rs.

 Degraus já conquistados na Rua da Amargura.

Iglesia San Cristóbal.

Plaza de Armas e Companhia de Jesus vistas de San Cristóbal.

No pátio da Iglesia San Cristóbal, além do visual, aproveitei para ouvir um guia que explicava a história local para outros viajantes. Essa é uma boa forma de saber mais sem precisar gastar. Economia se faz de todas as maneiras (risada sacana). Em Machu Picchu aconteceu a mesma coisa, com a diferença de que o número de guias é bem maior, o que possibilita aumentar ainda mais seu conhecimento. 

Eu já estava satisfeito com aquele panorama da cidade, mas o que era bom ficou ainda melhor. De San Cristóbal é possível ver o monumento do Cristo (bem conhecido na cidade) no alto da montanha. Momentos antes, quando eu estava na Iglesia de La Merced resolvi perguntar o preço de um taxi até este local. Mas o preço (10 reais) era muito caro e resolvi não fazer a corrida. Mas, meio sem querer, cheguei a pé próximo do Cristo. E ainda era possível ficar ainda mais perto. Assim, resolvi encarar a subida para ter outro ângulo da cidade.

Cristo blanco.

Na metade da subida para o Cristo tive outra surpresa. Eu estava diante da entrada para o Parque Arqueológico de Saqsaywaman que abriga a ruina inca mais próxima de Cusco. No local existe um posto de controle, no entanto, aqui a entrada é permitida sem o boleto turístico apenas para quem vai visitar o Cristo, que fica na mesma área do parque arqueológico. Aproveitei que não precisava pagar e continuei a subida. 

Saqsaywaman

Não demorou e logo apareceu parte das ruinas e também outro posto de controle, deste local em diante, somente com o boleto. Assim, me restou registrar os incríveis paredões com suas pedras enormes e encaixadas perfeitamente. Difícil imaginar algo deste tipo sem a utilização das tecnologias que conhecemos hoje. Essas rochas pesam centenas e centenas de quilos. Segundo meu guia/livro, o local, conforme mencionam os estudiosos, poderia ter sido uma fortaleza e/ou um santuário, palco de cerimonias e rituais incas.

Ruinas de Saqsaywaman

Ruinas de Saqsaywaman

Observe o tamanho das pedras. Incrível.

Encaixe perfeito.

In foco.

Cidade de Cusco ao fundo.

In foco.

Após o registro de Saqsaywaman fui para a trilha que segue até o Cristo, é íngreme, mas não muito extensa. Em poucos minutos eu estava na frente do monumento e com um panorama de toda a cidade. Que visual incrível! É possível ver todo o centro histórico; praças, igrejas, ruas, vielas e as casas da época colonial com seus pátios internos. Sem falar que também é possível ver melhor as ruinas incas que estão logo ao lado. 

Panorama de Cusco no monumento do Cristo.

 Panorama de Cusco no monumento do Cristo.

Catedral, Companhia de Jesus e Plaza de Armas.

 Viva el Peru.

 
 Ruinas de Saqsaywaman

No Cristo, que não se compara ao Redentor carioca, também existe uma variedade de coisas para turista ver, ouvir e comprar; artesanatos, música ao vivo (cd à venda) e até uma lhama com adornos bem chamativos para tirar foto com quem estiver disposto a colaborar com algum trocado. Fiquei um tempo a observar a paisagem, fiz alguns registros, inclusive com o músico que me chamou para tirar a foto com ele, sem cobrar por isso e depois comecei a descida de volta.

Músico peruano

 In foco.

Ao som de uma típica música peruana.

Ônibus que percorre os pontos turísticos de Cusco.

 A volta para o centro histórico.

Final de tarde em Cusco.

No regresso para a hospedagem, passei por ruelas bem charmosas nas proximidades da Plaza de Armas, gostei de caminhar pelo local que também compreende algumas escadarias. Por elas, tive outra surpresa ao ver um ciclista que descia todo equipado. Fui parabeniza-lo pela ousadia quando ouço seu comunicado em um rádio alertando que o caminho estava liberado. Na hora saquei que era mais um passeio oferecido pelas agências de turismo. Havia mais nove ciclistas, todos desceram em alta velocidade. Sem dúvida é interessante e curioso, não somente pela audácia, mas também por pedalar em um local reservado para pedestres.

As ruelas da cidade.

Descida pelas escadarias.

 Descida pelas escadarias.

 Ruelas da cidades.

Outra curiosidade, agora na Plaza de Armas que estava com um movimento maior do que o habitual. No local, vários policiais, arquibancada montada e muita propaganda. Algum evento estava para acontecer. Perguntei para um senhor e ele me respondeu que amanhã começaria uma arrancada de veículos. Os carros “preparados” estavam concentrados próximos da catedral. Achei estranho realizarem um evento deste tipo em um lugar histórico. Realmente não compreendi o motivo. Ah, turistas! Dãããm! 

Arrancada em pleno centro histórico.

Já estava escuro quando voltei ao Estrellita. Na mercearia ao lado comprei mais alguns pães para comer com a sopa que havia pedido no almoço e assim a janta estava preparada. Vale ressaltar que a sopa servida nos restaurantes é repleta de legumes e algumas coisas que eu não consigo identificar, mas como assim mesmo, até agora não me fez mal e espero que continue apenas a me trazer benefícios com seus nutrientes.

Após a janta, esperei um tempo e fui dormir o sono dos justos.

06/10/2012 - 90° dia - Cusco (Folga).

Meu último dia de folga em Cusco. 

Hoje completo noventa dias de viagem. Tempo, não? 

Como já visitei o que estava ao meu alcance aqui na cidade, aproveitei o dia para atualizar o diário de bordo e fazer a última postagem de Cusco. A próxima deve ocorrer somente em Nasca. 

No mais, muito descanso. Amanhã de volta à estrada.

Para aqueles que acompanham e comentam no diário de bordo, meu muito obrigado. As palavras de incentivo de vocês são como uma energia extra para o avanço da expedição. Agradeço de verdade.

Abraço a todos. 

Hasta luego!

07/10/2012 - 91° dia - Cusco a Curahuasi


Voltei à estrada em grande estilo. 

A contabilidade, apenas das subidas, totalizou mais de 42 quilômetros no dia.
 
Acordei bem cedo, havia colocado o celular para despertar às 4h45m, mas levantei somente 15 minutos mais tarde e comecei a arrumar minha bagagem. Assim que deixei tudo pronto fui até a cozinha ferver a água para meu leite com chocolate. Os pães com geléia estavam preparados desde a noite anterior. Assim, rapidamente degustei o desayuno e estava pronto para partir. 

Gostaria de ter saído mais cedo, no entanto, me despedi da agradável Hospedaje Estrellita somente às 6h30m. Vale mencionar que gostei muito da hospedagem, talvez tenha sido um dos lugares que mais me senti à vontade em toda a viagem. Está bem localizada, próxima do centro histórico e rodeada de restaurantes econômicos, padarias e lavanderias. Sem falar que está na frente de uma boa oficina/loja de bicicletas. Deve ser por tudo isso que o local é a preferências entre muitos cicloturistas. Perdi as contas de quantos viajantes sobre duas rodas encontrei na hospedagem, a maioria da França e Alemanha. Posicionei a Victoria no pátio para tirar uma foto, mas no fim acabei por esquecer. No entanto, na internet tem vários registros da Estrellita. Em todo caso, tem a minha recomendação.

Bom, sair de uma cidade relativamente grande geralmente não é fácil, seja pelo trajeto, por vezes complicado e longo ou seu trânsito caótico. Como minha partida aconteceu no domingo, minha dificuldade foi achar o caminho certo para Abancay. Apesar de estudar o mapa e traçar o roteiro na internet, fui obrigado a pedir informações às pessoas nas ruas. Por sorte um senhor me explicou a direção exata e não teve mais erro, embora eu continuasse a perguntar para outros moradores locais se estava no caminho indicado. Tudo para não ficar perdido.

O caminho era o mesmo realizado pelo ônibus que nos levou para Santa Maria, inclusive, passei na frente do terminal terrestre de Quillabamba. Seguir por essa direção significava uma coisa; subir, subir muito. Foram mais de sete quilômetros de ascensão que me deixaram com uma visão fantástica de Cusco. Dessa vez eu tinha um ângulo diferente e não menos interessante da cidade e também sua periferia.

A cidade de Cusco de um outro ângulo.

 A cidade de Cusco de um outro ângulo.

No final da subida a paisagem muda, sem exagero, radicalmente. Que coisa mais linda ver tudo verde, certamente em razão da fertilidade do vale e isso explica as várias áreas destinadas à agricultura. Desse modo, observei tudo atentamente antes de começar a descer, aliás, o declive também teve sete quilômetros de extensão. Na sequencia um longo trecho que aparentemente é plano, entretanto, a considerar a velocidade do pedal, subentende-se que na verdade a descida continua. Que maravilha!

A placa com as distâncias logo no começo da descida.

 Verde por todas as partes.

Anta! Não, eu não fiz nada para ser chamado dessa forma. Anta é o nome do município que fica 27 quilômetros depois de Cusco. Com a descida, ainda que mascarada, cheguei rapidamente a este lugar. Apesar do nome peculiar, a cidade me pareceu desempenhar um papel fundamental na região, sobretudo, em razão da sua economia agrícola. O trânsito bem movimentado também chama atenção de quem passa pelo perímetro urbano. Aqui a moto-taxi peruana volta a ser bem utilizada. Engraçado que em Cusco não encontrei nenhuma, mas aqui elas estão por todas as partes a buzinar sem parar, seja para chamar os clientes ou para alertar suas passagem. 

Anta e seu meio de transporte popular.

Em Anta apareceu a primeira placa informativa sobre a direção para Lima, sinal que estava no caminho correto para a capital peruana. Adiante, o cenário não muda muito, ambiente bucólico e a estrada continua a propiciar um deslocamento mais rápido por outros dezoito quilômetros aproximadamente. Depois começou a segunda longa subida do dia, desta vez foram dez quilômetros para suar e encharcar a camisa. 

Típica moto-taxi peruana.

 Área destina à agricultura.

  
 Plantações.

Proteção contra os invasores, rs.

 
 Muitas casas tem animais e/ou cruzes no telhado. Ainda não descobri o motivo.

Pelo caminho é possível encontrar vários sítios arqueológicos, menos famosos do que aqueles estampados nas agências de turismo. Um pedágio marca o final da subida. Se você chegar até ele, comemore, a descida existente ultrapassa os cinquenta quilômetros, conforme aponta os mapas e a altimetria da região. Antes de começar a “bajada” parei em uma “tienda” para comprar as bolachas que me esqueci de adquirir em Cusco. Infelizmente não eram as Cremositas e o preço também não era dos mais baixos, cinquenta centavos de sol um pacote mini e com bolachas bem pequenas e não muito recheadas. Em todo caso, ajudou a estabelecer o açúcar no sangue. 

Em direção à descida.

Após pedalar 56 km desde a saída de Cusco, o horizonte aponta a longa descida que tem pela frente. Aliás, que paisagem fantástica. Aproveitei a presença de um morador local e pedi para fazer um registro fotográfico. Depois comecei a descer pelas sinuosas curvas que caracterizam praticamente todo o declive.

Descida em direção à Limatambo.

 Registro garantido!

Apesar das curvas, bem fechadas, diga-se de passagem, a descida é maravilhosa. O trajeto continua marcado pelas plantações, aqui elas estão presentes por todas as montanhas. Muitas recebem irrigação, que por vezes, ultrapassa o limite das propriedades e acaba na estrada. Logo após outra curva, levei uma borrifada que mais do que molhar me assustou, não esperava algo deste tipo. Depois fiquei mais atento e em nenhum outro momento fui pego desprevenido e consegui desviar das “armadilhas”. 

Estrada sinuosa.

 As irrigações pelo caminho.

 Curvas fechadas!

A descida continua alucinante. Faço mais uma pausa apenas para perguntar a um senhor camponês que cultivo era aquele no qual ele trabalhava com sua enxada. Era ervilha. Primeira vez que vejo a plantação das mesmas. Destaque para suas flores roxas. Aliás, a minha curiosidade foi despertada justamente em razão da quantidade das áreas destinadas para a sua cultura em todo declive percorrido.

Após 27 km de pura descida, chego a Limatambo. É quase meio dia e resolvo almoçar. A refeição não é barata, cinco soles. Quer dizer, achei cara porque estava acostumado a pagar 2,50 soles em Cusco. Em todo caso, a moça que me atende diz que a comida vai ficar pronta em 10 minutos. Enquanto espero, converso com um senhor peruano que também aguarda pelo prato. Era um senhor aparentemente simples, mas com uma bagagem de vida enorme, havia conhecido vários países da Europa e Ásia. Assim, assunto não nos faltou até que o almoço viesse a ser servido. Demorou bem mais do que o previsto. O menu; arroz, ensalada rusa (batata/beterraba/ervilha) e frango assado. O prato estava caprichado. 

Arroz, ensalada rusa e pollo al horno.

Desta vez fiz um registro fotográfico da refeição. Geralmente almoço em lugares bem simples e com várias pessoas humildes, então fico meio sem jeito para sacar a máquina e tirar foto da comida. Mas, já que me fizeram esse pedido, a partir de agora, sempre que possível, a imagem da culinária local estará presente aqui no site.

Após o almoço estava na hora de continuar a descida. Afinal, no dia seriam aproximadamente 50 km de declive e eu havia percorrido pouco mais da metade. A paisagem muda novamente e agora a estrada se estende no meio de enormes montanhas e às margens de um rio. É uma área geologicamente instável e os desmoronamentos estão por todas as partes. As quedas de barreiras com frequência acabam por danificar o asfalto que fica inexistente em alguns trechos. Com a passagem dos veículos, sobretudo, ônibus e caminhões, a poeira é levantada sem piedade. 

Trecho com asfalto destruido pelos desmoronamentos.

Entre montanhas.

Durante a descida vejo dois cicloturistas no horizonte. Era um casal da França que começou a viagem em Quito e tinha como destino final Ushuaia. Conversamos bastante e passei todas as informações possíveis sobre o caminho e também a forma mais econômica de visitar Machu Picchu. Afinal, como sempre costumo dizer, conhecimento é para ser compartilhado. Estávamos em uma situação bem parecida, teríamos uma forte subida pela frente, já que a minha descida estava no fim, infelizmente.

Casal francês.

Depois que sumiram com o "tio" Bin, o jeito foi sair pedalando pelo mundo, rs.

Cordilheira dos Andes.

 Passei, literalmente, por baixo da montanha rochosa. Sinistro.

O que marca a divisa cruel entre o final da descida e o começo da subida é a Ponte Cunyac que fica 105 km de Cusco. Aquele camponês das ervilhas havia recomendado que eu acampasse neste lugar, pois a subida no período da tarde seria bem desgastante fisicamente em razão da temperatura. Realmente esquentou e tive que tirar minha segunda pele antes de começar a temida ascensão. Segundo meus cálculos, deste ponto em diante seriam pelo menos cinquenta quilômetros de pura subida.

Ponte Cunyac.

 E começa o longo trecho de subida.

Desafio. Encarar as subidas andinas nunca é fácil, mas felizmente eu estava muito bem preparado, física e psicologicamente. Afinal, tive um treinamento intensivo nos últimos dois meses. Assim, com muita paciência, vencia os quilômetros que me deixavam cada vez mais nas alturas. A paisagem do cânion de Apurimac é fenomenal. A estrada serpenteia as imponentes montanhas em direção ao céu. 

Cânion de Apurimac

Cânion de Apurimac

 Talvez 1/5 da subida dessa parte do dia.

Esse trecho já havia sido pedalado. A cara era em razão do que vinha a seguir, rs.

É muito difícil se acostumar com a Cordilheira dos Andes, no máximo, com o tempo você consegue lidar um pouco melhor com ela, não mais que isso. Desse modo, continuo a ficar surpreso com a subida que parece não ter fim. Após cada curva, outra inclinação e assim sucessivamente por vários e vários quilômetros. A região continua com desmoronamentos. Em um trecho metade da estrada foi simplesmente montanha abaixo. Sinistro!

Use capacete, rs.

 Metade da rodovia já foi montanha abaixo

No meu planejamento original a pretensão era completar o trajeto Cusco x Abancay em dois dias. Mas confesso que, com a descida anterior de praticamente 50 quilômetros achei ser possível percorrer o trecho em um dia. No entanto, a subida que se fez presente me fez voltar ao plano inicial e isso significava acampar em algum lugar pelo caminho, já que nenhum povoado se encontrava pelo mesmo, ao menos era o que eu imaginava.

Vale ressaltar que após a barulhenta cidade de Anta, as buzinas voltaram em forma de cumprimento, havia muito tempo que isso não acontecia, talvez em nenhum outro dia em território peruano eu recebi tantos incentivos. Os motoristas e passageiros também acenavam como forma de apoio para completar a subida. E realmente esse simples gesto tem um poder incrível que faz a diferença.

Com quase vinte quilômetros de subidas encontro um motorista parado no acostamento e resolvo perguntar se existe hospedagem somente em Abancay, distante mais de 70 km daquele local. E a resposta foi animadora. Havia o município de Curahuasi e estava apenas há três quilômetros. Evidente que eu estava um pouco cansado, mas a notícia que acabara de receber me animou ainda mais para encarar esse trecho final. 

Já era noite quando cheguei à Curahuasi (após 25 km de subida) que na verdade demorou muito mais do que 3 km para despontar no horizonte. Em todo caso, eu havia completado a primeira parte do grande desafio. Na entrada da cidade pergunto sobre hospedagem barata e algumas pessoas se propõem a me acompanhar até um hostal. No local uma moça nada atenciosa diz que a diária mais barata custa 15 soles, preço mediano. Eu até poderia levar a bicicleta para o quarto, mas deveria subir uma escada enorme, já que a garagem estava trancada. Com o desdém da mulher, resolvo procurar outro lugar.

Encontrei o Hostal Union que fica às margens da rodovia, no local também funciona um restaurante. No começo da conversa a diária custava 20 soles, mas a negociação terminou em 10 soles (pouco mais de 8 reais), ótimo preço. A Victoria ficou segura no pátio do estabelecimento. Quarto e banheiro bem agradáveis e limpos, recomendo. Devidamente hospedado e de banho tomado, fui jantar no restaurante da propriedade. Cardápio bem parecido com aquele do almoço, frango assado.

Antes de dormir ainda fui a uma lan house para conferir rapidamente o resultado das eleições no Brasil. Espero que os candidatos eleitos representem bem seu povo. Regressei ao hostal e antes de entrar no quarto me lembrei de conferir o tempo, estava limpo, sem nuvens e com muitas estrelas, sinal que o dia seguinte estaria, novamente, bom para pedalar. Melhor assim. Desabei na cama.

Dia finalizado com 130,83 km em 8h59m e velocidade média de 14,54 km/h.


08/10/2012 - 92° dia - Curahuasi a Abancay


Acordei cedo. Às cinco horas da madrugada já estava de pé. Mas tive uma surpresa nada agradável. Barulho de chuva. Fui ver e não acreditava, o tempo estava bem fechado e caia bastante água. Paciência! Não seria aquela condição climática que impediria minha saída para encarar mais 25 km de subida. Entretanto, não apressei minha volta à estrada que aconteceu somente às 7h15m.

Quando resolvi sair do hostal apenas chuviscava. Apesar disso a temperatura não estava muito baixa, mas ainda assim fui pedalar com a segunda pele e o corta vento. Não fui muito longe e tive que tirar essas roupas, ficou quente demais e o suor me deixaria mais molhado do que a fina chuva. Segui apenas com uma camisa de ciclismo.

 Tempo nebuloso no começo do dia.

A forte subida esteve presente desde a saída de Curahuasi e conforme eu avançava mais próximo das nuvens ficava. A estrada faz umas voltas imensas em direção ao topo das montanhas. Logo, não é aquele tipo de subida mais íngreme, contudo, não deixa de ser menos cansativa por isso. Com a altitude mais elevada apareceu o frio. A temperatura simplesmente começou a despencar. O vento contra em determinado sentido das inúmeras voltas me obrigou a colocar a jaqueta antes de continuar a subida. Em um momento ouço um forte estalo, típico barulho de raio quebrado. Paro, olho atentamente e não vejo nada. Sigo viagem.

O traço à direita é por onde continua a subida.

Pequenos povoados aparecem pelo caminho, mas como eu estava abastecido de água e com a barriga cheia, não precisei fazer nenhuma pausa, exceto aquelas para retomar o fôlego para completar cada quilômetro de aclive. O trajeto que já me deixava próximo do céu desde o dia anterior, apenas completava sua missão e eu pedalava literalmente nas nuvens. Incrível.

Cada vez mais alto.

 Quilômetros e quilômetros de subida.

 
 Acima das nuvens.

 E o frio tá "brabo"

Com quase 25 quilômetros de subida e por acreditar estar no topo, faço uma pausa para registrar o momento. Quando me preparo para sair, vejo dois cicloturistas no sentido contrário. Eram dois senhores da República Tcheca que também começaram a viagem em Quito/Equador, no entanto, finalizariam em La Paz. Assim como os outros ciclistas que encontrei pelo caminho, eles também me falaram muito bem a respeito do Equador. Todos foram unânimes a mencionar que o país tem pessoas amáveis e a recepção é ótima. Estou ansioso para passar a fronteira. 

Com aproximadamente 20 km de subida.

Registro da Victoria no lugar onde eu pensei ser o topo da montanha.

Cicloturistas da República Tcheca.

Cicloturistas da República Tcheca.

Os europeus também me deram uma notícia nada animadora. Eu teria mais 10 quilômetros de subida pela frente. Realmente foi difícil de acreditar na informação, mas não haveria motivo para desconfiar deles. Sem lamentar, a solução novamente foi encarar o trecho desafiador. Com o passar das horas o tempo fica melhor e as nuvens começam a se dissipar e o sol a aparecer para iluminar meu caminho. Esse último trecho demorou para terminar. É muita subida para apenas um ciclista.

Após 35 km de pura subida, esse é o visual.

Após 35,64 km em 5h02m eu havia terminado a subida, finalmente. Que felicidade! A alegria ficou ainda maior quando na sequencia apareceu a cidade esperada. Precisava apenas completar a descida para chegar até Abancay. O clima só não era de festa total porque encontrei um raio quebrado e, além disso, descobri que o pneu traseiro começava a abrir nas bordas onde se encaixa no aro. Bom, poderia resolver isso na cidade. Avante!

In foco.

 Finalmente, Abancay.

A descida foi em ritmo alucinante e pouco mais de uma hora eu havia completado os 35 km. No final do declive encontrei outro cicloturista, um belga que estava em uma reclinável toda moderna. Também tinha começado a viagem em Quito e seguia em direção ao fim do mundo, Ushuaia. Entre outras coisas, perguntei sobre o conforto da bicicleta, mas pela cara dele, não parece ser muito propícia para enfrentar essas subidas dos Andes. Aliás, ele teria que enfrentar a subida de todo o trecho que eu acabara de descer. Desejei sorte.

 Cicloturista belga.

Era apenas 15 horas e eu já estava em Abancay (“apenas” 1844 m de altitude), resolvi parar na cidade porque o caminho a seguir seria apenas 150 km de subida, segundo altimetria da região. Logo, seria melhor encarar mais essa pedreira somente no dia seguinte. No município, perguntei a direção para o centro e comecei a busca por uma hospedagem barata. Encontrei o Hostal Samy na Jr. Arequipa, rua com um comércio bem forte. A diária foi de 15 soles, quarto e banheiro simples, mas tudo tranquilo. Tive autorização para levar a Victoria ao quarto, mas antes precisei tirar a bagagem já que o dormitório ficava no terceiro piso.

Alojado, fui preparar um macarrão instantâneo para matar a fome, estava sem almoço e já passava das 3 horas da tarde. Claro que não fiquei satisfeito apenas com o único “miojo” que havia disponível, mas mesmo com a barriga vazia fui às ruas na esperança de encontrar uma bicicletaria para trocar o raio quebrado e comprar um pneu novo. 

Na recepção do hostal o funcionário me explicou o caminho para a única bicicletaria que ele conhecia na região. Facilmente encontrei o local que não ficava longe da hospedagem. No entanto, fui muito mal atendido por uma mulher que parecia não querer clientes em seu estabelecimento. O mecânico não estava e somente atenderia na manhã seguinte. Não havia pneu cravado 1.90 (tamanho que utilizo na Victoria). No estoque, somente um Kenda e outro de marca desconhecida, ambos no tamanho 2.125 por 20 e 12 soles, respectivamente. Juro que fiquei na dúvida se comprava ou não, mas era um pneu grande demais. Por fim, acabei por não levar e sinceramente o atendimento acabou por influenciar minha decisão. 

Do lado de fora da bicicletaria fiquei a pensar no que eu poderia fazer. Perguntei a algumas pessoas sobre a existência de outra loja, mas ninguém soube informar. Paciência! Restava depositar toda a confiança no Pirelli, apesar do estado critico em que se encontrava. Afinal, certamente não foi do dia para a noite que ele começou a rasgar, portanto, deve aguentar um pouco mais, quem sabe até Nasca. Se por ventura acontecer o pior, terei que improvisar.

Na hospedagem fui tomar um banho antes de retornar à rua para comprar mantimentos e jantar. Vale fazer uma observação a respeito do Hostal Samy. Após muito tempo é a primeira hospedagem que oferece papel higiênico. Na Bolívia e também aqui no Peru isso é uma raridade. Parece um fato sem muita importância, mas na hora do aperto faz a diferença. Desse modo, não vacile, ande sempre com esse item na bagagem se vieres para essa região. Claro que isso se aplica às hospedagens mais econômicas, não sei como é a situação nos lugares mais sofisticados e muito provavelmente ficarei a dever essa informação.

Com banho tomado fui procurar pão para comprar. No Peru, eles raramente são vendidos nas ruas como na Bolívia. Geralmente são encontrados em padarias, pequenas mercearias e supermercados. Para minha sorte não precisei caminhar muito e próximo ao hostal achei uma padaria e comprei nada menos do que vinte pães. Eu tinha que ser estratégico. Eles seriam divididos entre o café da noite de hoje, desayuno e café da tarde de amanhã. Claro que devorei alguns assim que saí do estabelecimento. Eu estava com fome e aqueles pães pediam desesperadamente para serem devorados. Foi inevitável.

Fui à procura de uma lan house para conferir rapidamente o e-mail e tive uma surpresa muito boa. Minha vaquinha virtual está aumentando. E esse fato me deixou muito feliz, não apenas pela questão financeira, mas por saber que existem pessoas (algumas ainda não conheço) que se identificam com o projeto que está sendo realizado. Isso para mim é muito significativo. Posso dizer que não tenho patrocinadores, mas tenho vários colaboradores que tem ajudado bastante no avanço da viagem. 

Claro que não resolvi começar a expedição sem dinheiro, mas minha reserva financeira é para uma viagem econômica. Por isso eu digo que qualquer ajuda é bem-vinda, pois ela possibilita, por exemplo, uma refeição a mais no dia. É por este motivo que resolvi criar a vaquinha. Acho que é compreensivo. Para todos aqueles que contribuíram, meu muito obrigado. Como costumo dizer, cada centavo será bem revertido, não tenham dúvidas. Se você deseja colaborar, clique aqui!

Após uma visita rápida à internet finalmente fui jantar. Continuava com muita fome.  No restaurante na mesma rua da hospedagem, a refeição custava 5 soles, pelo jeito este é o preço padrão no Peru. No cardápio, sopa e o segundo prato, este com duas opções, bisteca ou caucau de frango. Já que a carne não é das melhores aqui no país, resolvi pedir o caucau (molho de batatas e ervilhas). Foi uma ótima decisão. Estava uma delícia, entre aqueles experimentados, este foi o melhor. Fiz questão de elogiar a cozinheira. Infelizmente não levei a câmera fotográfica e consequentemente não registrei essa culinária peruana. Fica para a próxima.

Ainda em relação à culinária local, mais uma observação: Geralmente os restaurantes oferecem pratos extras, conforme anunciam os letreiros na frente dos estabelecimentos. Não sei exatamente o preço porque não perguntei, mas acredito que seja um pouco mais caro para ter no prato algo mais diferenciado (cardápio bem variado). Por enquanto continuo com o menu tradicional.

Voltei para a hospedagem com a barriga cheia e no quarto capotei na cama. Pela primeira vez não precisei de coberta para dormir, estava muito quente, quer dizer, em comparação às temperaturas baixas que enfrentei nos últimos meses. Desta vez somente um lençol foi suficiente.

O dia foi finalizado com 73,99 km em 6h23m e velocidade média de 11,58 km/h.


09/10/2012 - 93° dia - Abancay a Chalhuanca  

Madruguei. Quer dizer, tentei. O celular despertou às 4 horas da manhã. A pretensão era sair bem cedo para enfrentar o aclive monstruoso dos próximos 150 quilômetros. No entanto, meu corpo estava cansado em razão da extensa subida de ontem e me pediu para ficar mais um tempo na cama, fui obrigado a atendê-lo. 

Passava das 5 horas quando resolvi levantar, preparar o café da manhã e arrumar as coisas para seguir viagem. Acabei indo para a estrada somente às 7 horas, não sem antes perguntar ao recepcionista a direção para sair da cidade, sentido Nasca. Com as devidas informações segui pelas, ainda tranquilas, ruas de Abancay. Facilmente encontrei o caminho que desejava, todavia, precisei pedalar 5 quilômetros para chegar novamente à estrada. Tudo tranquilo.

Amanhecer da janela do quarto do hotel.

 De volta à estrada. Sentido Nasca.

O dia começou quente e não precisei mais do que a camisa de ciclismo para pedalar. Ainda com a temperatura mais elevada do que o normal para as primeiras horas da manhã, a paisagem parecia de inverno. Fenômeno lindo proporcionado pela natureza e o relevo da região. Para minha surpresa, foram mais 10 quilômetros de descida entre montanhas e nuvens. Sim, pedalei literalmente nas nuvens. Sensação indescritível. 

Maravilha de natureza.

 In foco.

 
Pedalando nas nuvens.

Durante a descida uma placa indica que Chalhuanca está a 117 km. Tentaria chegar a esta cidade se a altimetria permitisse. No horizonte uma estrada rasgava a montanha em direção a seu topo e perguntei ao senhor no acostamento se aquele era o caminho para Nasca. Já me preparava psicologicamente para enfrenta-la quando a resposta foi animadora. Aquele trajeto era para um distrito de nome complicado. Segundo me disse esse senhor, para Nasca o caminho era “pampa”, como eles se referem aos trechos planos das estradas. 

 Falta pouco.

Claro que eu desconfiei da informação recebida, sobretudo, porque a análise da altimetria indicava que pelos próximos 150 km o trajeto era todo de subida. Mas na prática não era o que parecia e então eu compreendia o porquê o homem havia mencionado “pampa”. Na verdade não chegava a ser exatamente plano, mas era bem tranquilo avançar pela agora Ruta 26.

 Ruta 26

Com um giro de 360° era possível ver apenas montanhas, a estrada que margeava um extenso rio e o céu nublado, nada mais. Assim foi por vários e vários quilômetros. Claro, no caminho as evidências de desmoronamentos continuaram. Não é à toa que as placas na rodovia indicam a instabilidade geológica da região. 

Montanhas por todos os lados.

In foco.

Derrumbes pelo caminho.

 O extenso rio presente por vários quilômetros às margens da estrada.

Conforme as horas passam o tempo fica mais “aberto” e o azul do céu começa a aparecer entre as nuvens. A primeira coisa que me veio à cabeça foi o Oceano Pacífico. Ainda estava longe, é verdade. Mas saber que eu estava em sua direção me deixava muito feliz. Não vejo a hora de cair na água, pegar umas ondas e curtir todo o visual que apenas o mar pode oferecer. Confesso que sinto saudade de Florianópolis e da época que morei na praia. Tenho muitas lembranças boas deste sonho realizado. Um dia ainda volto para lá. No entanto, no presente momento é hora de seguir em direção ao litoral peruano. Avante.


 A beleza da paisagem e o céu azul que começa a aparecer entre as nuvens.

 
 In foco.

 Em direção à Lima.

A estrada é uma das mais estranhas de toda a viagem. Não somente pelas inúmeras curvas que impedem qualquer possibilidade de ver um horizonte diferente de montanhas. Mas o relevo é incrivelmente “louco”. Na estrada a sensação não é de subida, apesar da existência gradual da altitude e o rio que desce no sentido contrário, muito embora, por vezes tive que fixar bem os olhos para saber sua real direção, tudo porque a rodovia “engana” demais. Em todo caso, eu continuava a pedalar sem maiores dificuldades. 

In foco.

 In foco.

Para quem esperava muita subida, essa situação da estrada me deixou com uma mistura de sentimentos. Aproveitava o momento, mas não via a hora de encarar e “matar” de uma vez a subida verdadeira. No entanto, nada do temível aclive aparecer, mas certamente uma hora isso deveria acontecer.

O caminho não é totalmente deserto e a cada 15 km surgem pequenos povoados que fazem da agricultura sua principal fonte de renda. Contudo, para complementar a situação financeira, alguns moradores vendem água, refrigerante e outras coisas básicas para viajante comprar. Fica a dica para quem vier pedalar por essas bandas. Eu não precisava de nada e continuei.

Na hora do almoço apareceu o distrito de Santa Maria, distante 70 km de Abancay. Para minha felicidade foi o único lugar com restaurante em todo o trajeto. Claro que não poderia deixar de aproveitar e parei para almoçar. O preço da refeição é aquele padrão, cinco soles. Mas antes de pedir a comida, pergunto se o prato é bem servido e com a resposta positiva, aguardei o menu; sopa e arroz com frango ensopado. O segundo prato estava realmente bem caprichado e acompanhava bastante arroz temperado, uma novidade na viagem.

Ainda em Santa Maria recebi informações animadoras. Até Chalhuanca a estrada continuava “pampa”, ou seja, seria totalmente possível chegar ao local pretendido sem maiores dificuldades, pelo menos era o que eu imaginava naquele momento. Os moradores locais com quem conversei me disseram que a tal subida que eu tanto queria eliminar de uma vez estava após Chalhuanca. Era a conhecida “siete vueltas”. A julgar pelo nome eu poderia pensar no estilo do aclive. Mas deveria me preocupar com ele apenas no dia seguinte. Por isso, adelante!

No período da tarde a situação não mudou muito em relação à estrada, no entanto, ficou muito, mas muito quente e por vezes tive que aplicar o protetor solar, ainda assim a pele queimava, o suor escorria e o pensamento continuava no Oceano Pacífico. Não sei por que, mas o azul do céu me fazia associa-lo ao mar. E para diminuir a distância para chegar ao litoral só havia uma forma; pedalar bastante.

Após muito pedal a quilometragem aumentou e com o passar das horas a noite chegou, com ela um vento totalmente fora do comum. Há anos eu não enfrentava uma ventania tão forte como aquela. Talvez a última desse jeito tenha sido no Deserto do Atacama (Chile). Era muito difícil manter a bicicleta em linha reta e por vezes cheguei a sair do acostamento. A situação não era mais tensa porque a estrada é bem tranquila e seu horário de maior movimento é na parte da manhã quando tem mais ônibus pelo caminho. Afinal é um dos trajetos entre a capital (Lima) e a famosa Cusco. De qualquer forma, foram 10 quilômetros de batalha contra o vento até finalmente chegar à Chalhuanca às 18h30m.

 Vento, ventania..

Como a estrada “engana” em relação ao relevo, no final do dia eu estava cansado, ainda mais com a rajada de vento inesperada, então, assim que apareceu a entrada da cidade fiquei atento para encontrar uma hospedagem e finalmente descansar. Para minha felicidade não foi difícil achar um lugar para passar a noite, mas não foi na primeira tentativa que obtive sucesso. No primeiro hostal pesquisado a diária estava 30 soles e com desconto ficou apenas 5 soles mais barato, ainda assim era muito caro e resolvi fazer outra pesquisa. No hostal quase ao lado consegui fechar negócio por 20 soles, pouco mais de 16 reais. A Victoria ficou bem segura na garagem enquanto eu segui para o quarto na intenção de tomar um belo banho, afinal, com o calor e consequentemente o suor, nada melhor que uma ducha para ficar limpo novamente.

No hostal que, infelizmente não lembro o nome, na verdade era complicado demais para minha memória não esquecer, mas que fica à esquerda da estrada principal, tive uma surpresa nada agradável quando fui tomar o banho. Eu já estava sem roupa quando descobri que simplesmente não havia água. Era inacreditável, o local é todo limpo, organizado, construções aparentemente novas, mas não havia água. Alertei a proprietária e ela pediu para que eu esperasse meia hora que então a bomba seria ligada e mandaria água para a parte superior do prédio. Paciência.

Para não ficar sem fazer nada enquanto a água do chuveiro não aparecia, resolvi andar pela pequena cidade que tem a estrada principal (Ruta 26) como a sua “avenida” mais movimentada. Nesta via foi possível notar a presença de inúmeras hospedagens que muito provavelmente eram mais baratas e com água disponível. Mas não fiquei a lamentar e fui procurar um lugar para jantar, contudo, a refeição mais barata custava 5 soles. Parece que não encontrarei outro lugar como Cusco onde a comida custava metade desse valor. Resolvi não jantar e comecei a busca por pão. Fui orientado ir a uma padaria, no local comprei 15 pães. Em uma mercearia levei uma geléia e depois voltei para a hospedagem, já havia passado mais de meia hora e a água deveria estar disponível.

Água? Que nada! A proprietária se enrolou para dar uma desculpa, mas logo notei que infelizmente permanecia sem tomar banho. Geralmente não ligaria para essa situação, no inverno não há muito problema, mas no verão, digo, com temperaturas mais altas, a sensação de dormir sujo não é das melhores. Azar da proprietária já que o jogo de cama, todo limpo e cheiroso, ficaria em um estado totalmente adverso do qual se encontrava. 

No quarto bem arrumado, uma pequena televisão que me distraiu um pouco enquanto preparava um macarrão para comer com pão. Existe um canal chamado TV Perú, e ao que tudo indica é estatal, lembra um pouco a nossa TV Cultura. Achei alguns programas bem interessantes. Mas de modo geral os canais de televisão, abertos ou fechados, não se diferenciam muito daqueles que estamos acostumados no Brasil. Tem novela com seus vilões e mocinhos; programa policial; reality show; futebol e também aqueles joguinhos entre homem x mulher, ou seja, coisas que me fazem lembrar que eu não preciso nem um pouco deste aparelho. Ver as coisas ao vivo e a cores com os próprios olhos é muito mais interessante.

Com a janta pronta, degustei vários pães com macarrão e na sequencia fui dormir para descansar o corpo para enfrentar as “siete vueltas” no dia seguinte.

O dia foi finalizado com 127,37 km em 9h57m e velocidade média de 12,79 km/h. 

10/10/2012 - 94° dia - Chalhuanca a Quillcaccasa 

A noite não foi das mais confortáveis com toda aquela sujeira. Assim, logo que acordei, por volta das 5 horas da manhã, fui direto ao banheiro para ver se havia água, felizmente estava disponível. Voltei para o quarto, peguei minhas coisas e fui tomar um banho. Era estranho porque em poucas horas eu estaria sujo novamente, de qualquer forma, seria menos sujeira acumulada.

Após o banho, degustei o desayuno que preparei na noite anterior (pão/geléia) e o leite evaporado que não estava com uma “cara” muito boa. Acho que a partir de agora, com a temperatura mais elevada, terei que descartar esse tipo de alimento. Depois da refeição, arrumei a bagagem e fui para a estrada às 7 horas da manhã.

Tempo bom mais uma vez. Não sei a temperatura porque meu termômetro quebrou quando fui à Machu Picchu, mas acredito que passava dos 15°C. e não precisei mais do que a camisa de ciclismo para começar a pedalada. Aliás, os primeiros quilômetros demonstraram que o trecho não seria muito parecido com o dia anterior. Agora as subidas já não enganavam tanto, contudo, a paisagem continuava bonita com as montanhas e suas mais variadas formas. A estrada permanecia sinuosa e com um charme todo especial. Pena que pedalar sozinho limita os registros fotográficos. Gostaria muito de ter mais fotos minha neste lugar. Paciência! 

Cabos de alta tensão nos Andes é assim.

In foco.

Beleza de estrada.

Eu pedalava sem pressa e seguia em um ritmo bem tranquilo. Dessa forma, pouco depois das 11 horas da manhã cheguei ao distrito de Promesa com apenas 32 km percorridos em um “suave” aclive. Aproveitei que havia restaurante à beira da estrada e resolvi almoçar. O preço e o cardápio eram parecidos com aqueles de ontem, 5 soles pelo menu com sopa e arroz temperado com frango assado. Novamente faço o pedido de um prato bem servido. E quando chegou, estava realmente caprichado e gostoso também. Desta vez, para variar um pouco, comprei um suco de pêssego (1,5 litros) para acompanhar a refeição. Com aquele calor, foi uma boa decisão.

Antes de sair do restaurante, onde eu era o único cliente, passei o protetor solar mais uma vez, esperei alguns minutos e fui para a estrada encarar aquela que muitos haviam falado pelo caminho, as “siete vueltas”. Segundo a proprietária do restaurante, em poucos metros eu estaria aos pés da subida. Fui conferir.

Dois quilômetros após a saída do restaurante apareceu uma placa que indicava a temida subida. O horário não era dos mais favoráveis para percorrê-la, mas sem muitas opções fui encarar o desafio ao qual algumas pessoas diziam que tinha de 6 a 30 km de distância. Lógico que preferi acreditar na primeira opção, mesmo sabendo que dificilmente ela estaria correta.

 E vai começar a temida "siete vueltas"

A subida é íngreme e a cada volta a altura impressiona e o visual é magnifico. Felizmente estou muito bem treinado com as subidas andinas e tranquilamente avanço, ainda que lentamente, pelas inúmeras curvas. Não sei quem deu o nome de “siete vueltas”, mas confesso que a pessoa esqueceu de multiplicar, porque na prática, parece que são dezenas delas em um formato que é bonito de ver conforme se completa cada etapa da subida. 

E já fica alto na primeira volta.

 Objetivo; topo da montanha à frente.

 
 Algumas voltas depois..

 
 .. mais voltas ..

Minha companheira fiel.

O calor foi o maior obstáculo dessa parte do dia, sem dúvidas. Mas consegui manter a respiração normalizada, apesar da altitude; a calma; hidratação necessária e ainda aproveitei o visual. Assim, demorei 2h45m para completar 13 km desta forte subida. A velocidade média girava entre 5 a 7 km/h. Antes devagar do que ficar parado. No topo da montanha (acima dos 4 mil metros de altitude) a felicidade de vencer mais um difícil obstáculo. Tenho me superado a cada dia e isso eleva muito meu moral, algo essencial para uma viagem longa como esta. 

Muitas voltas depois..

 Quase no final da subida.

Como a dona do restaurante havia me avisado, apareceu com o final da subida, o povoado de Iscahuaca. Até havia um alojamento, mas ainda era muito cedo e resolvi seguir viagem em direção à Pampamarca, distrito onde a mesma mulher do almoço disse haver hospedagem. Mas o caminho não foi como eu esperava. Após a subida não começou a descer e para variar o mesmo vento forte do dia anterior apareceu, desta vez ainda mais cedo. Ficou extremamente difícil para avançar. A queda de temperatura foi brusca demais e fui obrigado a colocar meu corta-vento. Conseguem imaginar, minutos atrás eu estava todo suado e o calor era quase insuportável e pouco tempo depois o frio era responsável por gelar todo meu corpo. Coisas que você encontra nos Andes.

 Acima dos 4 mil metros de altitude, de novo.

Além do vento e da temperatura baixa, surgiram também centenas de alpacas, lhamas e vicunhas. Não é à toa que Iscahuaca promove a “Feria Nacional de Camelidos Sudamericanos”. Sinceramente não pensei encontrar mais esses animais pelo caminho, foi uma bela surpresa. A Alpaca tem um charme encantador. 

 Alpacas.

Em Iscahuaca um caminhoneiro me alertou que Pampamarca ficava há 50 quilômetros de distância. Com aquele vento seria impossível chegar a este lugar e mais uma vez comecei a procurar um lugar seguro para acampar, já que não haveria hospedagens pelo caminho. Na primeira oportunidade eu estava disposto a parar o pedal, pois não havia condições para seguir viagem, mesmo que ainda houvesse duas horas a mais de claridade.

Ainda tive que enfrentar mais de dez quilômetros de ventania antes de parar. Do nada surgiu um povoado, Quillcaccasa. Ninguém havia comentado sobre sua existência, portanto, foi uma baita surpresa encontra-lo pelo caminho. Lugar muito pequeno com mercearias e restaurantes do mesmo tamanho e extremamente simples. Hospedagem? Nenhum sinal! Ainda assim resolvi perguntar a duas pessoas que arrumavam suas motos à beira da estrada sobre algum lugar para passar a noite. Foi quando o inacreditável aconteceu. Disseram-me que bastava procurar a mulher do restaurante ao lado. Fui ver se não estava a sonhar.

 Chegada à Quillcaccasa.

A mulher do restaurante confirmou a informação dos rapazes e disse que havia um quarto onde eu poderia descansar. O preço, apenas 10 soles. Pela simplicidade do lugar, no meio do nada e pelo preço mais baixo se comparado a outros estabelecimentos, na mesma hora me lembrei da “hospedagem” casca grossa que fiquei em Quiquijana, onde estava tudo muito sujo e quase não havia condições de dormir. Restou-me esperar para ver a real situação.

Esperei a mulher encontrar a chave do quarto, algo que levou pelo menos quinze minutos. Tempo necessário para aumentar minhas expectativas em relação ao interior do dormitório. A considerar a parte de fora, tudo indicava que era muito simples, o cômodo era de adobe, assim como a maioria das casas do povoado. Quando a senhora finalmente apareceu com as chaves, fiquei surpreso com o lugar, ambiente agradável na medida do possível. Havia sete camas no local, todas limpas e com vários cobertores. O banheiro ficava na parte de trás do quarto em um espaço reservado para a criação de galinhas. Tinha chuveiro, mas a higiene do lugar me desencorajou a tomar outro banho. Afinal, eu já estava de banho tomado, lembra? Não desperdiçaria água. (risada sacana). 

Fiquei muito pensativo com o que acabara de acontecer. Às vezes, quer dizer, muitas vezes, parece que estou sendo guiado e nestes momentos sempre sinto a presença do meu avô, que infelizmente nos deixou há alguns anos. Em situações como a de hoje eu fico a imaginar meu grande companheiro dizer; Filho. Pare aqui!  São muitas coincidências para serem simples coincidências. Fé e religião, cada um tem a sua ou não. Sei que não estou sozinho nesta jornada e isso me deixa muito mais confortável e confiante. Afinal, quem disse que para estar junto tem que estar perto? Saudade imensurável meu avô.

As horas passaram rapidamente e por volta das 18 horas tenho outra surpresa. Apareceu um batalhão de gente para dividir o quarto. Eram motoristas que transportavam uma máquina agrícola enorme de Lima para Cusco. Entre eles, havia um policial que fazia a escolta da carga. Pessoas bem simpáticas e não tive problema nenhum com eles. Logo depois nos encontramos no restaurante para jantar. 

O jantar saiu por 5 soles; sopa e arroz cubano com ovo, banana frita e salada. Tudo simples, mas gostoso. Na “tienda” ao lado comprei pão e depois, já de volta ao quarto, deixei preparado com geléia para o desayuno do dia seguinte e fui dormir. Demorei um pouco para pegar no sono em razão do movimento do pessoal no dormitório. Mas depois foi preciso apenas descansar para recuperar as energias.

Dia finalizado com 58,87 km em 6h58m e velocidade média de 8,49 km/h. 

11/10/2012 - 95° dia - Quillcaccasa a Puquio

 A noite não foi das mais tranquilas. Durante a madrugada ouvia roncos e conversas. Compartilhar o quarto com outras pessoas é algo que ainda não me deixa muito confortável. Isso é um fato. 

Os trabalhadores acordaram às 5 horas da madrugada e logo em seguida foram embora. Minutos depois foi a minha vez de levantar, tomar meu café da manhã e partir para a estrada. O dia seria muito longo. Por isso, exatamente às 6h20m eu entregava as chaves do alojamento para a proprietária e começava a pedalar.

O dia estava bonito, com sol e um céu totalmente sem nuvens, típico das altas altitudes. Não havia mais o terrível vento do final do dia de ontem, contudo, o frio castigou nas primeiras horas desta manhã. Após o episódio com a neve, voltei a sentir um frio de arrepiar e literalmente congelar, sobretudo, minhas mãos que voltaram a sofrer com a baixa temperatura. Certamente estava abaixo de zero grau.

Para variar, subida para esquentar as pernas. Foram dezenove quilômetros logo de cara. O frio e a altitude me fizeram lembrar que felizmente estou prestes a deixar esse ambiente desafiador que é a Cordilheira dos Andes. Afinal, sigo em direção ao Oceano Pacífico. Depois, encontrarei essas montanhas gigantescas somente no Equador. 

Estava realmente muito frio e não era à toa que minhas mãos estavam congeladas. As poças de água e as cascatas à beira da estrada estavam todas congeladas. Isso é viver a realidade dos 4 mil metros de altitude. Pelo caminho os “camelidos” estavam por todas as partes. Pequenos povoados também. E onde tem gente, existe cachorro, que por sua vez, na maioria dos casos, não vai com a cara do ciclista e logo começa toda aquela barulhada que ecoa pelas silenciosas montanhas. O jeito é não dar atenção e os deixarem latirem até cansarem, geralmente funciona. 

Tudo congelado.

 In foco.

 Alpacas e lhamas.

Após a cachorrada e o término da subida estava na hora de começar a descer. Foram oito quilômetros montanha abaixo até chegar ao distrito de Pampamarca que fica há 85 km de Chalhuanca e 47 km do topo das “siete vueltas”, apenas para deixa-los bem informados. Neste local existe restaurante e hospedagem caso alguém precise quando passar pela região. Como ainda era cedo não precisei de nada e continue meu caminho.

Final da primeira subida.

Pampamarca à vista.

Logo após Pampamarca, voltei a subir todo o trecho que acabara de descer, que coisa triste. Subidas sem fim e cada vez mais íngremes. Foram nove quilômetros de pura ascensão. Desta vez não eram as lhamas e alpacas que acompanhavam meu esforço para completar o trajeto difícil. Pela primeira vez na viagem apareceram as Vizcachas, um roedor típico dos Andes que assemelha-se com um coelho. Durante a Expedição Do Atlântico ao Pacífico, encontramos algumas delas no Chile em 2008. Deparar com elas é sempre uma grata surpresa, difícil encontra-las e ainda mais complicado é fotografa-las, são ariscas e rapidamente se deslocam ao perceberem sua presença. Mas com muita paciência consegui registra-las antes de continuar as subidas.

Subida básica.

Vizcachas

Vizcacha

 Subida para variar um pouco.

 
 Trecho já pedalado.

 Montanhas cobertas de gelo, o frio ainda predomina acima dos 4 mil metros de altitude.

Após completar o aclive de 9 km, começou um trecho com subidas e descidas um pouco menos agressivas. No período da tarde finalmente apareceu Negro Mayo, um povoado onde eu estava ansioso para chegar. Deste ponto em diante eu estava com a altimetria impressa até Puquio, presente dos cicloturistas da República Tcheca. Assim seria mais fácil identificar o que a estrada me reservava. No distrito até cogitei parar no restaurante à beira da estrada, mas havia muita gente no local (acontecia um campeonato de futebol) e não achei uma boa deixar a bicicleta do lado de fora. Todo cuidado é pouco. Segui sem almoço, mas não sem antes comer as sagradas bolachas recheadas.

Ruta 26 em ótimo estado de conservação e com acostamento em toda extensão.

Negro Mayo.

 In foco.

 Alpaca charmosa.

 Vicunhas.

Uma coisa precisa ser dita. Não adianta prever a Cordilheira dos Andes, mesmo que esteja com a altimetria e todos os dados em mãos. No papel a inclinação pode parecer quase inexistente, mas na prática a realidade é totalmente diferente. Pedalar após a passagem pelo distrito de Negro Mayo foi bem cansativo. Subidas por todos os lados e quando você acha que não é mais possível ir para o céu, surge uma curva e logo depois outra subida. É incrível, simplesmente não tenho muito que falar, simplesmente é algo fora de série ou de qualquer coisa com a qual se possa comparar. 

Vale ressaltar que atenção por essas estradas nunca é demais. A cada curva mais fechada uma ou várias cruzes indicam que acidentes fatais na região é mais do que comum, infelizmente. Mas, sinceramente não me surpreendo, muitos motoristas simplesmente “voam” mesmo com todo o trajeto perigoso que exige o máximo de cautela.

Pelo caminho algumas lagunas são responsáveis por embelezar ainda mais a paisagem. Em uma delas encontrei novamente os flamingos. Em razão do forte vento que começou no período da tarde, o registro fotográfico não foi dos melhores. Estava difícil estabilizar a imagem. Mas valeu a intenção. Essa parte do itinerário é marcada por mais subidas. Como as curvas continuam, em alguns momentos o vento foi contra e em outros ajudou um pouco. 

Lagunas.

Flamingos.

In foco.

In foco.

Após muita subida aparece uma placa que indicava Puquio há 31 km. Finalmente eu estava na parte onde começava a descida espetacular. Deste ponto em diante bastou aproveitar e apreciar a paisagem, que neste momento era marcada pelo magnífico pôr-do-sol, havia muito tempo que não presenciava esse espetáculo, nos Andes, em razão das altas montanhas o sol geralmente se esconde mais cedo. Mas agora sua beleza se fazia presente da melhor forma possível.

Finalmente descida

In foco.

In foco.

 Pôr-do-sol na estrada.

Puquio.

 Crepúsculo.

A descida de 30 km foi fantástica. E já estava escuro quando finalmente cheguei à Puquio. Foi um longo dia e que merecia um bom descanso. Assim, pedi informações sobre hospedagens e me recomendaram ir até a praça principal no centro da cidade. Para chegar lá tive que encarar um último desafio, uma subida extremamente íngreme e de terra. Pensei comigo, é agora que meu Pirelli vai rasgar de vez. Coloquei na marcha mais leve e com as poucas energias que me restavam consegui completar mais essa parte e cheguei ao hotel. 

Na hospedagem que também não me recordo o nome, mas é a que fica próxima da igreja na praça, não tem segredo. Lugar é um pouco mais sofisticado do que o padrão, a diária começou em 30 e acabou nos 23 soles. Não era barato, mas como já estava tarde, resolvi ficar. Quarto extremamente limpo e organizado, coisa linda. Banheiro compartilhado é razoável. A Victoria ficou no pátio do local na companhia de motocicletas de outros viajantes. 

Eu estava com muita fome por que não havia almoçado. Assim, depois que tomei banho a primeira coisa a fazer foi procurar um restaurante. Mas infelizmente não tive muito sucesso, nenhum servia o menu tradicional, apenas frango assado com batata frita e mais nada. E eu sabia que somente isso não seria suficiente, logo, achei melhor não gastar dinheiro com essa alimentação. Minha busca passou a ser focada nos pães, mas estes também não foram fáceis de serem encontrados. A única opção foi comprar os pães vendidos por uma mulher na rua, no entanto, o tamanho era 1/3 do que costuma ser. Não tinha alternativa, levei assim mesmo e voltei para o hotel.

Na hospedagem preparei leite (aquele mesmo que não estava com a cara boa) com chocolate e mais alguns pães com geléia. Foi a solução para enganar um pouco a fome. Na sequencia fui dormir o sono dos justos.

Dia finalizado com 138,06 km em 10h20m e velocidade média de 13,35 km.



12/10/2012 - 96° dia - Puquio a Villatambo


Mais uma vez comecei o dia cedo. Levantei pouco depois das 5 horas da manhã, comi os minúsculos pães na companhia do leite com chocolate, arrumei minhas coisas e fui para a estrada. A saída do hotel aconteceu às 7 horas. Novamente o dia estava muito bonito.

Praça principal em Puquio.

Pensei que o dia seria bem tranquilo, mas eu não posso me esquecer por um segundo que estou na Cordilheira dos Andes e aqui tudo pode acontecer. Inclusive surgirem subidas onde já não acreditava existir. Em Puquio os proprietários da hospedagem me alertaram sobre as subidas pelo caminho. Mas, segundo meus dados altimétricos a descida seria muito maior. Em todo caso, fui conferir.

A pretensão era chegar a Nasca, mas logo no começo do pedal fui surpreendido pelas subidas. 10 km para começar a esquentar o corpo todo, que maravilha. Depois, sobe e desce e finalmente montanha abaixo por também 10 km e mais sobe e desce e novamente um forte declive, agora com extensão de 7 km. Nesta última parte perguntei para um senhor no acostamento se daquele ponto em diante seria apenas descida. Infelizmente a resposta não foi animadora, eu teria que enfrentar uma ascensão bem forte. E elas surgiram após a ponte Vado.

E Puquio fica para trás.

 Mais subida logo no começo do dia.

Hora de descer um pouco.

In foco.

Que subida! Não terminava nunca e por incrível que pareça, na altimetria não constava nenhuma ascensão de tal forma. Realmente fui surpreendido. Quando encontrei o povoado Vado, poucos quilômetros após a ponte com mesmo nome, perguntei se depois da curva que eu via no horizonte acabava a subida. Não deveria nem ter perguntado para não ouvir a resposta. O senhor me apontou para o alto da montanha e mostrou até onde eu deveria pedalar. Realmente inacreditável.

 Subida na região do povoado Vado.

Como eu achei que seria um dia tranquilo, não levei muita comida, na verdade estava apenas com um pacote de macarrão, temperos oriundos dos “miojos” da vida e somente uma bolacha que foi devorada logo no começo do pedal. Desse modo, perto do meio dia a fome já era grande naquela subida inesperada que não terminava. O vento era forte e não havia chance de parar e cozinhar, contudo, ter sorte é algo fundamental e repentinamente surge uma “casinha” à beira da estrada. Era uma proteção para passagem de água, lugar perfeito para preparar minha refeição. 

Restaurante particular, rs.

In foco.

Na “casinha” coloquei a água para ferver e consequentemente cozinhar o macarrão e enquanto não ficava pronto eu devorava o chocolate em pó que estava na bagagem. Achei uma excelente opção e o pote ficou com algumas colheradas a menos. Depois degustei o macarrão na companhia de uma garrafa pequena de suco, também preparada de última hora e para finalizar, a sobremesa foi mais chocolate em pó. Eu necessitava de energia para pedalar o restante da subida. Na real eu não conseguia enxergar o final do aclive, apenas que teria que subir muito, muito mesmo.

Fiquei quase uma hora parado no “almoço” e depois voltei a pedalar. A subida durou somente 16 km. Foi bem cansativa. Antes de terminar, encontrei um camponês que ainda me disse que na sequencia eu teria uma parte “pampa” até o pedágio e depois mais subida. No ar ele “desenhou” o formato da subida. E realmente eu não acreditei que seria possível subir ainda mais, eu já estava bem acima dos 4 mil metros de altitude. Misericórdia.

 Quase no final da subida antes do pedágio de Pampa Galera.

Bom, o camponês estava coberto de razão, exceto que a parte pampa na verdade era uma leve inclinação. O pedágio de Pampa Galera não demorou a surgir na estrada. Passei sem pagar mais uma vez, felizmente ciclista não precisa desembolsar um tostão para pedalar por essas estradas do Brasil e da América do Sul. O pedágio fica há 54 km de Puquio. 

Após o pedágio e antes e começar a subida, uma placa de aclive parecida com aquela que encontrei antes de Cusco. No entanto, dessa vez, ela realmente fazia jus ao seu desenho assustador. Eu mal havia terminado uma subida de 16 km e já tinha que enfrentar outra com extensão desconhecida. Haja paciência andina!

 E a subida foi realmente ingreme.

A subida depois do pedágio durou mais 8 km que demorou bastante para ser percorrido. Eu estava cansado e o vento contra não ajudava em nada. E a cada nova curva outra ascensão aparecia pelo caminho. Se você quer subir na vida, não pense duas vezes, venha pedalar na Cordilheira dos Andes. (risada bem sacana).

A montanha ao fundo foi a que rendeu 16 km de subida.

Hasta luego, subidas.

Uma hora todo aquele tormento de subidas teria que chegar ao fim. E isso aconteceu após 62 km pedalados quando apareceu a placa que informava o território da Reserva Nacional Pampa Galera. Se conseguires chegar a esse ponto, comemore muito. Porque é praticamente o término das subidas. Digo praticamente, pois depois aparecem pequenas inclinações que não são quase nada perto do trecho medonho que acabara de ser concluído. Mas a descida predomina, embora a sensação seja de pedalar por um trecho plano, não à toa a Reserva leva o nome que tem. 

"Hasta la Victoria Siempre"

Pelo caminho, muitas vicunhas, aqui elas são maioria em comparação aos outros camelidos dos Andes. Placas orientam os motoristas sobre a travessia destes animais pela pista. Em um determinado trecho encontrei uma vicunha atropelada no meio da estrada. Realmente é uma região que merece muita atenção dos condutores. 

Quando o velocímetro marcava 77 km, aproveitei que um caminhoneiro estacionava seu veículo no acostamento e perguntei sobre os povoados que encontraria a seguir. Ele menciona Villatambo, que estava a mais de 30 km. Era uma distância e tanto para pedalar. E a noite chegaria em pouco tempo. No entanto, o motorista fez questão de frisar que daquele ponto em diante era somente descida até Nasca. Ele me pareceu bem ciente do que falava e então resolvi pedalar até o povoado em questão.

Descida, descida e mais descida. Que maravilha! Nada mais do que merecido após sofrer com todas as subidas que enfrentei desde a saída de Cusco. A velocidade acima dos 30 km/h agora era visível por vários quilômetros. À minha frente, somente mais descida. Eu até poderia chegar à Nasca, mas para isso eu teria que pedalar de noite sem aproveitar o visual. E para, além disso, eu não queria chegar à cidade obrigado a ficar na primeira hospedagem em razão do horário e tomado pelo cansaço. Por isso, seguia em direção à Villatambo.

Mais uma noite começa na estrada.

A noite chegou e com ela o frio. Eu já havia colocado o corta-vento desde o início da Reserva, pois estava ciente que a descida em alta velocidade faria a sensação térmica despencar. E não teve erro. A temperatura despencou e meu corpo começava a congelar, não preciso nem falar a situação das minhas mãos. No entanto, ainda assim, aproveitava a descida e pedalava forte para chegar o mais cedo possível na tal vila. 

Já passava das 18h30m quando finalmente cheguei à Villatambo, eu estava literalmente congelado. O local é pequeno, mas bem movimentado, com mercearias, restaurantes e borracharias. Parece ser uma parada estratégica para ônibus e caminhões. Encontrei com cinco policiais assim que parei a bicicleta e perguntei sobre a existência de algum lugar para passar a noite. Um deles foi bem prestativo e começou a explicar minha situação nos restaurantes na intenção de conseguir alojamento. Em um deles recebemos a resposta positiva e o policial ainda pediu que a atendente me servisse uma bebida quente. Agradeci por sua ajuda e aguardei o chá que logo estava na mesa. Realmente eu precisava esquentar meu corpo. Na sequencia, aproveitei para jantar. Cinco soles a refeição, arroz e ovo frito, mais nada. Eu estava com fome e ainda repeti o prato. 

A hospedagem na parte superior do restaurante me custaria 15 soles, mas com a negociação e o argumento que sou brasileiro e não gringo com euro ou dólar, fechamos por 10 soles. Não havia banheiro, mas o quarto era razoável. Após o jantar, deixei a bicicleta dentro do restaurante e levei as principais coisas para o quarto e fui descansar. 

Dia finalizado com 111,09 km em 9h01m e velocidade média de 12,31 km/h.


13/10/2012 - 97° dia - Villatambo a Nasca


Com a minha estratégia de ontem, hoje eu precisaria pedalar aproximadamente 50 km para chegar à Nasca, toda essa distância montanha abaixo. Que beleza!

Acordei naturalmente por volta das 5 horas da manhã, mas não tive muita pressa para levantar, hoje o dia realmente seria tranquilo, sem maiores surpresas pelo caminho. Então, preparei meu desayuno com os pães comprados no dia anterior ainda no restaurante e depois arrumei minhas coisas e quando comecei o pedal já passava das 7 horas.

Quando fui pegar a bicicleta no restaurante tive uma surpresa nada agradável. Alguém foi limpar o local e possivelmente ao tirar a Victoria do lugar acabou por quebrar o encaixe da lanterna traseira que tanto faz a diferença em um pedal noturno. Agora vou ter que fazer alguma gambiarra ou tentar colar com “super bonder” peruana, vamos ver como vai ficar.

Na estrada, finalmente um dia iniciado com descida, muita descida. Que coisa mais linda. Eu pedalava e comemorava aos gritos, sozinho mesmo, já que meus grandes amigos não podem estar presentes para compartilhar tamanha felicidade. A rodovia é repleta de curvas e por isso, muitas vezes é possível ultrapassar os caminhões que são obrigados a diminuir a velocidade para não passar direto por elas. No horizonte, a cadeia de montanhas fica menor a cada quilômetro completado, afinal, é minha despedida da Cordilheira dos Andes em território peruano. Em todo caso, a paisagem é incrível com a altura que ainda existe e a estrada que segue ao lado de enormes precipícios. Adrenalina pura.

Descida desde os quilômetros iniciais. Maravilha!

In foco.

À beira de precipicios.

Deserto.

Victoria!

Vai dizer que não emociona? rs.

Sem comentários.

 Ultrapassei os dois, rs.

 
 In foco.

 
 Ainda bem que é descida.

 
 Placa sumida, finalmente você apareceu, rs.

 Emociona qualquer "estradeiro", pode confessar, rs.

Foram cinquenta quilômetros de pura descida. Se somarmos com o declive final de ontem são 84 km seguidos de montanha abaixo. Incrível, não? As surpresas não haviam terminado. A paisagem desértica cede espaço para um verde que surge do nada ao meio das montanhas que agora são bem pequenas. Nasca é visualizada no horizonte e seria apenas questão de minutos para alcança-la. 

O verde no deserto, sensacional.

 Finalmente a cidade de Nasca.

In foco.

Esse "cacto" é utilizado na indústria farmacêutica. Muitas áreas destinas à sua plantação.

Na verdade, foram mais 8 km de pedal após o término da descida, contudo, essa última parte do trajeto é bem tranquila e com leves subidas pelo caminho. Vale ressaltar que é uma das primeiras cidades onde sua entrada (periferia) não está jogada às moscas e repleta de lixo às margens da estrada. Um ponto positivo para as autoridades locais. Na hora em que eu passava, funcionários faziam o serviço de recolher o lixo deixado na região. 

Seguir para o centro da cidade foi muito fácil. Bastou seguir a Panamericana (direção à Lima), onde registrei a chegada à Nasca (região mais seca do país) e logo após o trevo estava na região central, extremamente movimentada, diga-se de passagem. Aqui começou a minha peregrinação em busca de hospedagem barata. No primeiro lugar onde parei, a diária mais barata estava 20 soles. Achei que poderia encontrar mais em conta e fui pesquisar em outros lugares. Entretanto, dormitório de 30 soles foi o mais econômico que achei. Voltei para a primeira opção.

Mais uma etapa conquistada!

Pneu furado. A sorte está ao meu lado. O Pirelli aguentou exatamente até onde deveria. Em seu estado atual nem fiquei chateado em vê-lo murcho, no entanto, eu deveria encontrar uma bicicletaria para comprar um pneu novo. Desde sua aquisição, ele rodou exatamente 5.872 km e teve apenas 2 furos. Está ótimo! Todavia, antes de troca-lo, primeiro eu tinha que chegar naquela hospedagem de 20 soles.

Hospedaje Condor II. Recorde esse nome e se possível não apareça aqui. O local fica apenas a meia quadra da Plaza de Armas, coração da cidade. As instalações são razoáveis, no entanto, o barulho da região é infernal, sobretudo, em razão dos veículos e o maldito hábito de não tirar a mão da buzina. Sem contar que na frente do hostal fica uma série de vendedores ambulantes que oferecem cd piratas, o problema é que a música para atrair os clientes toca em um volume ensurdecedor. Para completar o ambiente, meu quarto era o mais barato porque ficava em uma garagem transformada em dormitório. Abria a porta e saia direto na calçada. Imaginem o barulho local.

Bom, nas primeiras horas eu procurei não esquentar com todo aquele barulho, contudo, a pretensão de escrever o relato de bordo foi para o espaço, sem chance de concentração com aquela situação. Aproveitei e fui almoçar em um restaurante logo na esquina. Comida boa, mas custava 6 soles. No menu, sopa e o segundo prato que acompanhava além de um pedaço de carne, um alimento que esqueci o nome mas era parecido com feijão. Estava gostoso.

Após a refeição voltei para o quarto e comecei a pensar no que poderia fazer. Resolvi sair de novo na pretensão de encontrar um pneu. Ninguém soube me dizer sobre uma bicicletaria, contudo, me informaram sobre um local que possivelmente havia peças de bicicleta para comprar. Próximo da Plaza de Armas, esse lugar recomendado realmente vendia pneus, no entanto, encontrei apenas um Kenda 2.10 cravado, sem muita opção, resolvi levar por 16 reais. 

 Guerreiro Pirelli à esquerda e o novo Kenda, espero que aguente ao menos 2 mil km.

De volta ao quarto, fiz a troca do pneu e aproveitei para remendar duas câmaras de ar. Depois fui procurar um salão para cortar o cabelo e a barba. Sim, estava na hora, após três meses. Em um primeiro lugar o cabelereiro queria cobrar 15 soles, achei caro e fui atrás de um preço mais econômico. Achei um salão unissex onde a mulher me cobrou 10 soles. Fiquei quase uma hora no lugar para voltar aos meus 26 anos. Primeiro a cabelereira passou a máquina zero no cabelo e depois na barba e para mim isso era o suficiente. No entanto, do nada ela começou a passar o creme de barbear e na sequencia a fazer a barba com gilete. Pelo jeito isso estava incluso no pacote e deixei sem falar nada. Mas foi estranho ver uma mulher a fazer minha barba pela primeira vez. Enfim, agora vou deixar crescer por mais três meses. 

Retornei à hospedagem e a recepcionista tentou não rir, mas não conseguiu ao ver meu novo visual, realmente fiquei bem diferente. Tomei um banho e voltei à rua para encontrar um mercado e outro lugar para ficar no dia seguinte. Facilmente achei um local para reabastecer meus mantimentos. Em relação à hospedagem, recorri ao meu guia/livro. Fui a um tal de Hostal Acueduto, 25 soles com banheiro privado e o principal, muito silêncio, combinei de voltar no dia seguinte, já que havia fechado negócio no Condor II.

Experimentei a tal Inca Kola, famoso refrigerante peruano. Normal.

A parte da noite foi complicada demais. O barulho ficou ainda mais intenso e mesmo cansado, mal consegui dormir. Acho que somente altas horas da madrugada ficou mais calmo, porém, neste horário eu estava prestes a levantar.

Dia finalizado com 58,92 km em 2h26m e velocidade média de 24,07 km/h.

14/10/2012 - 98° dia - Nasca (Folga)

Após a pior noite da viagem eu levantei e não estava nas minhas melhores condições. Que lugar horrível para ficar. Sei que preparei meu café da manhã e fui tentar escrever o diário de bordo, eu tinha que aproveitar que nas primeiras horas do dia o local estava menos barulhento. Mas ainda assim não consegui me concentrar muito e a escrita rendeu pouco. 

Eu estava na expectativa de chegar logo meio dia para sair daquele lugar e ir para o outro hostal. Enrolei o máximo possível para a hora passar e quando foi 11h30m, com minhas coisas já arrumadas, entreguei a chave e fui embora sem olhar para trás. No entanto, tive uma surpresa quando cheguei ao Hostal Acueduto. A funcionária não deixou levar a bicicleta ao quarto, argumentou que a mesma não entraria. Eu disse que ontem o recepcionista havia permitido, mas não teve conversa, não fui autorizado. Paciência!

Fui procurar outra hospedagem. Em mais duas ou três na região central a diária era cara, aliás, Nasca é uma cidade nada barata. Resolvi procurar uma recomendação do guia, que fica em uma área mais afastada do centro. Demorei um pouco para encontrar o caminho, mas finalmente achei a Pousada Guadalupe, próxima da Panamericana, saída para Lima. No local, o silêncio impera, contudo, tive que esperar alguns minutos para saber se um quarto seria liberado. Fiquei na expectativa.

Após meia hora de espera, o quarto na Pousada Guadalupe foi liberado, finalmente poderia descansar em paz. A diária, 20 soles, o mesmo preço do “infernal” Condor II. E agora havia wi-fi disponível. Que maravilha! Recomendo o lugar para todos. Ambiente tranquilo e familiar. 

Na pousada também funciona uma agência de turismo da família. Fui ver quanto estava o passeio para o Cemitério de Chauchilla, que fica quase 30 km de Nasca. No dia anterior um taxista havia cobrado 50 soles para me levar ao lugar. Achei muito caro. Aqui na agência o preço inicial, com transporte e guia também foi de 50 soles, mas com muita negociação, fechamos em 30 soles mais a entrada ao cemitério que custa 8 soles. Não é barato, mas acho que o passeio, marcado para amanhã (segunda-feira) valerá a pena. 

Devidamente alojado, troquei de roupa e voltei ao centro, apenas para almoçar no mesmo lugar de ontem. Dessa vez tinha feijão no cardápio, estava muito bom. Regressei para a pousada e comecei a escrever o relato com tranquilidade e assim passei toda a tarde e parte da noite. Acho que segunda ou terça-feira o site estará atualizado.

15/10/2012 - 99° dia - Nasca (Folga)

Não precisava, mas o corpo já acostumado acordou naturalmente às 5h30m. Aproveitei que ainda estava cedo e preparei logo o desayuno e voltei a escrever o diário de bordo. Afinal, às 10 horas da manhã o guia passaria aqui na pousada para irmos até Chauchilla. 

No horário combinado o guia Carlos apareceu e seguimos para o Cemitério de Chauchilla, não sem antes passarmos no aeroporto para pegarmos um casal da Espanha que também faria o passeio. Para chegar ao local desejado, foi necessário seguir 20 km pela Panamericana (sentido Arequipa) e depois um trecho (indicado na estrada) de terra de 7 km. O cemitério que outrora foi um lugar sagrado para civilização Nasca, hoje é uma das principais atrações da região. No local é possível ver algumas tumbas e suas múmias. Vale lembrar que esta civilização foi uma das pioneiras na arte da mumificação no continente americano. O clima seco da região desértica favoreceu que a técnica viesse a ser bem sucedida e realizada com todos os mortos, sem distinção de classe social. 

Cemitério de Chauchilla

 Múmia da civilização Nasca.

 
 In foco.

 Crianças mumificadas.

Conforme nos explicou o Carlos e também consta no guia do Viajante Independente, os mortos eram enterrados (sempre voltados para o Leste) com boa parte de suas riquezas, entre elas, ouro e pedras preciosas, isso chamou atenção dos saqueadores que por décadas do século passado aproveitaram para levar esses itens para colecionadores estrangeiros, incluindo a bem elaborada cerâmica Nasca. 


 Cemitério de Chauchilla

Tumbas construidas em adobe.

In foco.

O lugar é no mínimo interessante e vale uma visita para entender como funcionava o processo de mumificação e qual era a relação da civilização Nasca com seus mortos. No cemitério, existem mais de 10 tumbas – construídas em adobe – abertas (assim eram deixadas pelos saqueadores) onde é possível ver múmias, esqueletos e crânios de adultos e crianças. Fazer a visita na companhia de um guia é uma ótima dica para entender melhor a respeito do local.

Em cada tumba eram enterrados de 7 a 8 mortos.

 In foco.

Cemitério de Chauchilla.

In foco.

Detalhe para as cerâmicas.

A cabeleira dos "feiticeiros"

 In foco.

 
 In foco.

 Voltado à leste, posição do nascer do sol, significava o renascer para a outra vida.

In foco.

Se não me engano, no livro Avenida das Américas, do cicloturista Carlos André Ferreira, existe uma foto deste lugar e desde quando fiz a leitura (2008) fiquei com essa imagem na memória e a vontade de um dia conhecer o local pessoalmente. Também por isso fiz questão de visitar Chauchilla. Valeu a pena!

 
Apareceu um vivo sem barba e cabeleira, rs.

Após a visita ao cemitério fomos ao “Taller de Ceramica da Emilia” para ver como “supostamente” eram feitas as cerâmicas da civilização Nasca. Uma senhora que hoje toma conta do local é filha de um renomado pesquisador e também ceramista que por décadas se dedicou a entender como era realizado o processo das refinadas cerâmicas nascas. A passagem por esse local também foi bem interessante.

 Oficina de cerâmica.

Oficina de cerâmica.

Na volta para Nasca aproveitei para registrar o Cerro Blanco, uma das maiores dunas de areia do continente e um dos locais preferidos daqueles que praticam sandboard. Incrível como em meio a montanhas rochosas surge toneladas de areia. Natureza e seus mistérios. Por falar em enigmas o maior deles talvez esteja relacionado às Lineas de Nasca, principal atração turística da cidade. No entanto, para conhecê-las é preciso reservar um passeio aéreo que custa 90 dólares. As famosas e enormes linhas e figuras, desenhos realizadas no deserto supostamente pela civilização Nasca estão distantes da cidade, entretanto, duas delas podem ser observadas de um mirante existente na Rodovia Panamericana, sentido à Lima, custa apenas 2 soles, será a minha forma de observar (na quinta-feira) essa preciosidade que impressiona por suas formas e tamanhos. 

Cerro blanco.

Durante a conversa com o casal espanhol, fui questionado se viajava de ônibus ou avião, quando respondi bicicleta, ficaram bem surpresos. Na sequencia acabei por ganhar meu dia quando ouvi deles; “hablas muy bien español”. Sei que tenho muito que aprender, espanhol não é tão fácil como se pensa. E falar outro idioma não é somente mencionar algumas poucas palavras. Assim, continuo meu aprendizado, mas pelo menos acho que já não estou mais no nível básico. Que beleza! 

Novamente em Nasca fui deixado na Plaza de Armas para almoçar. Mas o restaurante que eu frequentei nos últimos dois dias estava fechado. Então fui à opção sugerida pelo Carlos (guia). No Restaurante Costumbres a refeição era um pouco mais cara, 8 soles o menu tradicional, contudo, o prato estava bem caprichado, inclusive com muito feijão e arroz. Matei um pouco a saudade da culinária brasileira. 

  
 Restaurante Costumbres.

Menu.

Sopa mesmo com um calor de 30°.C

Feijão, bastante feijão. Que maravilha!

Depois, na volta a pé para a pousada, registrei um pouco da região central. Nasca é uma cidade pequena, apenas 70 mil habitantes e não há muito que conhecer além das atrações mencionadas. Quer dizer, as várias agências de turismo ainda oferecem passeios pelo deserto, mas não sei se o investimento compensa. No município ainda existe o famoso aqueduto construído pela civilização Nasca que também parece ser bem interessante.

Maria Reiche, uma das maiores estudiosas das Lineas de Nasca.

Plaza de Armas.

 Linhas. Em Nasca elas estão por toda a cidade.

 Plaza de Armas.

 Típico uniforme escolar.

Cerâmica em destaque na Plaza de Armas.

 Desenhos das famosas figuras na região central.

Veículo de passeio no deserto.

Bodegas por todas as partes, rs.

In foco.

Na pousada voltei a escrever o diário de bordo até o final do dia. Atualizar o site nunca é uma tarefa fácil, mas sempre tem um grande significado para mim.

Rua da pousada em obras.

Pousada Guadalupe, simples mas confortável.

16/10/2012 - 100° dia - Nasca (Folga)

Marca histórica. 

Cem dias entre céu e estrada. 

O que fazer? Escrever! Sim, o dia foi dedicado exclusivamente à atualização do diário de bordo. 

Com certeza essa marca de cem dias renderia boas palavras, contudo, o fragmento dos meus sentimentos e olhares a respeito do que foi conhecido e vivido nestes dias já está bem relatado.

Na quinta-feira (18/10) volto à estrada e sigo para Ica, Pisco (Reserva Nacional de Paracas) no Oceano Pacífico e finalmente Lima, onde desejo passar meu aniversário (22/10). Vamos ver o que acontece pelo caminho.

No mais, resta-me agradecer a todos que continuam a me apoiar das mais diferentes formas. Muito obrigado.

Atenciosamente,

Nelson Neto. 

17/10/2012 - 101° dia - Nasca (Folga) 

Com o site atualizado e alojado em uma tranquila hospedagem eu poderia somente descansar. Mas nem tudo foi conforme o planejado. Em razão de um desequilíbrio intestinal fui obrigado a ficar de “molho” no quarto, sem disposição para fazer muita coisa.

Minhas últimas refeições foram boas e em lugares aparentemente higiênicos. E aqui no país tenho tomado somente água mineral, logo, existem duas possibilidades para eu ter passado mal. A mais provável é que tenha sido o leche evaporada que não estava com uma cara muito boa em razão das temperaturas mais elevadas. A segunda; o jantar em Villatambo com arroz e ovo frito. Digo isso porque meu organismo começou a ficar estranho logo que cheguei à Nasca.

Desde as primeiras horas da manhã de hoje, por incrível que pareça, eu estava sem fome e meu desayuno se resumiu apenas a um pequeno pacote de bolacha. As horas passaram e inúmeras foram as minhas visitas ao banheiro compartilhado da pousada. Paciência!

Na hora do almoço decidi sair e procurar uma farmácia. No estabelecimento a funcionária me indicou um comprimido que melhoraria minha situação. Na sequencia voltei para a hospedagem, infelizmente sem almoçar por que não sentia fome. Nem eu mesmo conseguia acreditar, mas era verdade, estava sem vontade de comer nada. 


No período da tarde continuei meu repouso forçado e aproveitei para ficar na internet já que não havia muitas coisas para fazer. O intestino continuava bagunçado e tudo indicava que não voltaria ao normal em poucas horas. Assim, achei conveniente não forçar a situação e cancelei a minha volta à estrada amanhã. Partirei apenas na sexta-feira. Acho que um dia a mais será suficiente para minha total recuperação.

De noite, a fome apareceu, mas a vontade de sair era quase nula, consequentemente, fiquei sem o jantar e fui dormir na esperança de acordar melhor.


18/10/2012 - 102° dia - Nasca (Folga)


Acordei um pouco melhor e com certa fome. Preparei um modesto café da manhã e voltei a repousar. Essa situação de não poder fazer muita coisa é horrível. Por sorte eu estava na tranquila hospedagem Guadalupe que garantiu sossego para o descanso forçado. 

Com a melhora eu havia recuperado a disposição e também a fome que voltou a aparecer na hora do almoço. Assim, próximo ao meio dia fui ao centro da cidade fazer uma refeição completa. No restaurante foi servido o menu tradicional, no segundo prato: arroz, feijão, um pouco de salada e frango ensopado. Comi tudo e a barriga ficou estufada.

Voltei para a pousada e infelizmente o almoço não foi aceito pelo intestino que voltou a se revoltar. Que situação mais desconfortável. Em todo caso, continuei a tomar muita água para não desidratar e também a comer banana, fruta recomendada para ocasiões como esta. 

De noite a situação havia piorado e eu não estava nada bem.  Mas ainda assim resolvi voltar à estrada no dia seguinte. Por isso resolvi dormir mais cedo e ficar na torcida para acordar bem e poder seguir viagem.

28 comentários:

  1. Nelson que incrível!!! Machu Picchu certamente foi sensacional! Simplesmente indescritível a sensação de ver as fotos e acompanhar os relatos, é um dos lugares que ainda penso em conhecer.
    Ano que vem devo ir à Lima, no Encontro de Geógrafos da América Latina.
    Força na sequência desse sonho de viagem.
    Continuo acompanhando os relatos aqui.

    Forte abraço
    Daia

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    1. Buenas Daia.

      Primeiramente, agradeço por acompanhar e comentar sempre no diário de bordo. É sempre muito bom ler suas mensagens positivas. Muchas gracias.

      Sem dúvida Macchu Picchu foi um sonho realizado. Muita emoção para colocar em palavras.

      Em Lima não deixe de conhecer o centro histórico. A Plaza de Armas é simplesmente uma das mais charmosas da América do Sul. Uma volta ao passado. Visita imperdivel.

      Abração.

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  2. Haaa, tenho que retirar meu passaporte rsrsrs, continua encrível a expedição "Fuerza y ​​adelante".

    At.
    Sergio/Cascavel

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    1. Buenas camarada.

      Sergio, não se preocupe com o passaporte, aqui na América do Sul, você vai precisar do mesmo apenas se visitar as Guianas, sobretudo, a francesa, que ainda exige visto. Nos demais países o acesso é garantido apenas com a identidade. Portanto, agora basta "cair" na estrada.:)

      Abração hermano.

      Hasta.

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  3. Nelsão... safadão.... to pensando aqui comigo como que o bagajegeiro dianteiro esta aguentando... trincado e continua firme e forte???? Bah, tu é um cara de sorte... aproveite ao máximo sua trip, os relatos estão ótimos, estou na carona! Abraço guri véio!!!

    Jamanta

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    1. Buenas Alexandre.

      Pois é camarada, o bagageiro dianteiro, apesar da pequena parte danificada (ainda coloco uma foto dele no site), continua firme e forte. Depois que ele aguentou todo a péssima estrada de ripio da Laguna Colorada e o salar de Uyuni na Bolivia, acho muito dificil ele quebrar. Se isto acontecer será em razão do uso demasiado, uma vez que o peso da bagagem fica cada vez menor. Em todo caso, pensamento positivo. Que a sorte seja minha companheira fiel, além da Victoria, claro.

      Valeu pela força de sempre meu amigo.

      Abração.

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  4. Parabéns pela aventura e pela coragem....comecei com esse tal de cicloturismo a poucos dias...e resolvi fuçar na internet para ver que tinha algum maluco como eu... que mesmo depois de grande ainda adora peladar por aí.... He he he...eu feliz da vida que consegui chegar na cidade vizinha de bike....he he he...então acho na net relatos como desse blog...do pessoal pedalando pelo mundo, e o mais interessante, por cidades que sempre quis conhecer...... cada vez que leio seu blog...me motiva mais e mais viajar por aí.... ...mais uma vez parabéns e boa sorte....

    Ass: Eduardo

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    1. Buenas Eduardo.

      Obrigado pelas palavras.

      Seja, muito, mas muito bem-vindo a esse mundo sem volta que é o cicloturismo. Após a primeira viagem a vontade é de não parar mais e conhecer cada vez mais esse mundão que nos pertence.

      Nesta viagem tenho encontrado vários "loucos" como nós. É sempre uma inspiração a mais conhecer suas histórias e aventuras pelas estradas da vida. Como costumo dizer aqui no diário, conhecimento é para ser compartilhado. Por isso também faço questão de relatar essa expedição, para que outras pessoas possam ter interesse em conhecer aquilo tudo aquilo que não nos apresentam em outros lugares.

      Espero que continue a bordo da expedição e siga em frente com seus projetos.

      Abração.

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  5. Faltou colocar a foto depois de raspar a cabeleira e a barba.... he he he.... quando tiver um tempo posta aí... para ver a mudança visual...


    Ass:Eduardo

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    1. Hahai, estava terminando de atualizar o site quando você escreveu o comentário, a foto estava sendo postada. Em todo caso, agora o resultado do novo visual já está disponível. :)

      Hasta luego!

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  6. Parabéns! Já estive em vários lugares por onde passou e fico emocionado lendo seu relato!

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    1. Obrigado Guto.

      Imagino sua reação ao recordar destes lugares inesquecíveis. Encontra-los durante a jornada tem sido uma surpresa muito boa e que proporciona sempre fortes emoçoes e experiências incriveis.

      Por tudo isso tenho aproveitado cada momento para observar e absover aquilo que está ao meu redor.

      Abração.

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  7. hola, chamigo!

    esqueci de perguntar antes, mas em algum momento vc teve falta de água? o frio ajuda muito a não perder líquido, mas é uma coisa que não pode faltar, mesmo com o corpo acostumando a tomar pouco.

    seguimos aqui do MS acompanhando os relatos,
    boa sorte.

    ps: enfiei uma merrequinha na vaquinha.

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    1. Buenas camarada.

      Desculpe-me pela demora em responde-lo, tem sido uma grande correria para escrever, postar as fotos e atualizar o site. Em todo caso, é sempre significativo receber os comentários e claro, responde-los. Enfim, vamos ao que interessa.

      Uma vez fiquei sem água na Bolivia. Na verdade eu sai para pedalar sem completar as garrafas porque achei que em poucos quilometros acharia algum lugar para abastecer o "motor". Puro engano. Apareceu uma subida interminável pelo caminho (estrada de ripio) que demorou muito para ser pedalada. Para variar não surgiu nenhum lugar onde eu poderia pegar o sagrado liquido. Mas consegui suportar a situação e horas depois eu finalmente encontrei uma torneira com água potável.

      No mais, tem sido tranquilo. Muitas pessoas alertam para essa questão da água nas regioes da Laguna Colorada e Salar de Uyuni na Bolivia. Realmente é preciso estar atento e abastecer as garrafinhas sempre que possível por que há poucas opçoes pelo caminho, mas elas existem. Portanto, basta nao pensar duas vezes, na primeira oportunidade, necessariamente, tem que completar sua reserva de água. Eu passei por essa parte sempre com 4 litros na bagagem e não precisei pegar água de rio e muito menos utilizar meu filtro de água.

      O problema na Bolivia e Peru é que a água não é tratada e quase sempre é preciso desembolsar uma verba para compra-la. É verdade que não é cara, mas é um dinheiro que poderia ser economizado. Algumas vezes é possível pega-la da torneira apenas se é fervida na sequencia, conforme orientação dos moradores locais. Algo que é meio inviável quando trata-se de vários litros.

      No mais, muito obrigado pela contribuição financeira. Pode ter certeza que a ajuda será muito bem revertida. Valeu pela força de sempre.

      Abraçao.

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  8. Elias Gomes (Old Dad)18 de outubro de 2012 às 11:39

    Só de ver as imagens dos Andes e MachuPichu, fico com vertigens

    Boa Sorte, Filhão.

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    1. Buenas mi padre.

      O que? Medo de altura? E a viagem de moto pelo mundo, como fica? Esses lugares são imperdìveis. Vai ter que começar a perder a tal vertigem. :)

      Abração, pai.

      Hasta luego!

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  9. Sei que na estrada devemos dormir com um olho aberto e outro fechado, mas considerando seu relato de uma noite pessimamente dormida, e considerando ainda vc protegido em um quarto, recomendo protetores auriculares. São um tanto desconfortáveis, mas abafam muito os ruídos...

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    1. Buenas hermano.

      Valeu pela dica, camarada. Na primeira oportunidade lembrarei de compra-los. Muito embora, espero mesmo não ter que passar novamente por uma situação como aquela. Mas a gente só aprende na prática. E desde então tenho procurado ficar em lugares mais tranquilos e longe da muvuca que encontrei em Nasca.

      Abração.

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  10. Olá Nelson,

    conheci seu blog essa semana através de um fórum de pedal, e já o li desde o começo. E no aguardo das novas aventuras!! Simplesmente não dá vontade nenhuma de parar de ler! Fantástico seus relatos e fotos. Seria legal pôr uns vídeos, caso dê espaço na câmera.
    Agora, se possível descreva as peças de sua querida e guerreira Victoria. Observei que o quadro é um GTS. A bike é qual modelo de GTS? Ou foi montada? Vi vários relatos em fóruns não recomendando essa bike, por ter uma facilidade de quebra do quadro. Conte sua opinião.

    Abraço, e continue com sua boa sorte! :)

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    1. Buenas camarada.

      Seja muito bem-vindo ao diário de bordo. Espero que aproveite, mesmo à distância, toda a viagem. Aliás, parabéns pela leitura em tempo recorde. Afinal o relato chega próximo das 300 páginas.

      Em relação ao vídeo. Espaço tem bastante, mas infelizmente não será possível realizar a postagem porque é muito trabalhoso, uma vez que é um processo demasiadamente demorado e a internet aqui não colabora. Então, por enquanto, ficarei somente com os relatos e fotos, que por sinal, também exigem um bom tempo para publica-las. Espero que compreenda.

      A Victoria é uma GTS M5 com grupo Shimano Alivio 24 marchas e freios V-Brake e um kit (guidao, mesa e canote) GTS Alpha 2. Comprei as peças separadas no exterior e montei no Brasil.

      Sobre a fragilidade, desconheço comentários deste tipo. Aliás, tenho visto sempre boas recomendaçoes. Inclusive, no Paraná muitos ciclistas utilizam a marca para competiçoes de Cross Country. Eu nao tenho o que reclamar. São mais de 20 mil km desde que comprei e até o momento nada aconteceu e olha que passei pelos mais variados terrenos, muitas vezes com a bike carregada. Dessa forma, recomendo a marca com certeza.

      Abraçao e valeu pela força.

      Hasta!

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  11. ONTEM,UM MOLEQUE QUE NASCEU EM SÂO PAULO E CRESCEU EM FOZ, HOJE UM CIDADÃO SUL AMERICANO, AMANHÃ UM CIDADÃO DO MUNDO:ESTE
    É O JEITO NATURAL DO MEU PIÁ DE ADQUIRIR CONHECIMENTO PELO MUNDO:NO PEDAL, POR ISSO TE DESEJO NÃO SÓ FELIZ ANIVERSÁRIO, COMO TAMBEM FELIZ PEDALADA.
    UM BEIJO DO TEU OLD DAD

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    1. Buenas, papito.

      Sem palavras. Mais uma vez, muito obrigado pelos parabéns. Com certeza essas palavras são mais que um presente, são um verdadeiro incentivo para seguir cada vez mais firme e forte. Afinal, há toda uma América do Sul para conhecer antes de me "jogar" para o mundo,rs. Valeu pai.

      Abração.

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  12. Oi NELSON,Guri Feliz Aniversário que Nossa Senhora te acompanhe sempre e que tu consiga sempre escrever este livro ao vivo para nós todos. Um abraço carinhoso. Maria do Carmo. Pelotas RS

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    1. Buenas Maria do Carmo.

      Sei que a data especial passou há agum tempo, mas mesmo assim, faço questão de agradecer pela lembrança e também por toda a força que você, mesmo muito longe, tem oferecido com palavras de incentivo e carinho. Muito obrigado.

      Seja sempre bem-vinda a bordo da expedição.

      Grande abraço.

      Hasta Siempre!

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  13. Verdade... ontem foi seu aniversario.

    Parabéns cara. Que legal que deu um trato na cabeleira pra passar essa data rs.
    Parabéns pelo aniversário, pelas superações, por compartilhar essa aventura com a gente... enfim... parabéns por existir cara. Não raro fico emocionado lendo aqui.

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    1. Buenas Vinicius.

      Obrigado pelo parabéns e por toda a força. Confesso que com essas palavras, quem fica emocionado sou eu. Por isso não me canso de escrever e sempre que possível, realizar as postagens. Esse processo é uma parte fundamental da viagem, pode ter certeza.

      Grande abraço.

      Hasta!

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  14. Sua barriga está virando um abismo igual aqueles de filme: tudo o que cai lá some pra sempre! rs...

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    1. Buenas camarada.

      Também não poderia ser diferente, as refeiçoes, apesar de saborosas, não são fartas, por isso é necessário abastecer o "motor" sempre que possível com aquilo que está ao meu alcance, rs.

      Abração.

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