22/06/2013 - 349°
dia - Fortaleza (Folga)
Dia
movimentado. Aquisição de peças para Victoria à caranguejo na Praia do Futuro.
Por volta das 8
horas da manhã o camarada Fernando passou na casa do anfitrião Daniel para me
levar a uma bicicletaria do outro lado da cidade onde muito provavelmente eu
encontraria as peças para repor na Victoria. A maioria delas estava em falta na
Savana Bike Shop e por isso saímos à procura por outras lojas que,
incrivelmente, também careciam de catraca, corrente, coroa e câmbio traseiro,
componentes do grupo Alivio 24 velocidades da marca Shimano.
Na loja Crisciclo
que fica no bairro Parangaba, encontramos todas as peças necessárias,
inclusive, um velocímetro da marca Echowell U12 para substituir o meu Sigma 906
que infelizmente teve a fiação danificada em São Luís no Maranhão. Como não
cheguei a fazer uma pesquisa sobre ciclocomputador, desconheço a qualidade
desse adquirido hoje, contudo, a vendedora garantiu que a marca é muito boa e
resistente à chuva, algo muito importante para quem pedala em todas as
condições climáticas. Esse fator, por exemplo, me fez deixar de lado o Cateye que
estava na prateleira e não tem uma reputação muito boa com água. Este velocímetro
da Echowell foi aprovado pelos funcionários da loja após passar nos testes realizados e por isso acabou sendo comprado. Gostaria de ter adquirido um com temperatura,
no entanto, estava em falta e vai ficar para outra oportunidade.
Sei que toda a
“brincadeira” na loja resultou em 311 reais. Uma grana alta demais para quem
está em fase de economia. Mas a Victoria é uma chave fundamental para meu
avanço, se ela não estiver em condições de seguir viagem eu não consigo
finalizar a expedição. Por isso a esperança é que os amigos que estejam
acompanhando o diário de bordo colaborem pela vakinha ou depósito, para
balancear novamente as finanças.
Compradas as
peças, retornamos à Savana onde a Victoria se encontra há alguns dias e deve
permanecer pelo menos até a próxima segunda-feira, data marcada para o término
da revisão e a troca das peças. Serviço realizado sem custo, um apoio da Savana
para a expedição. Com isso vou ter que permanecer mais um dia em Fortaleza e
voltar à estrada somente na terça-feira. Paciência. Importante é que a minha
companheira vai sair da UTI e ganhar alta em poucos dias.
Victoria na UTI. Reposição das peças. |
De volta à casa
do Daniel, comecei a responder os comentários pendentes no diário de bordo.
Quem deixou mensagem nos tópicos Brasil II, III e IV pode conferir que agora já
está respondido. Peço apenas desculpa e compreensão pela demora.
No período da
tarde havíamos combinado de ir à Praia do Futuro para tomar um banho de mar e
comer caranguejo, especialidade local. Saímos tarde de casa e chegamos à praia somente
por volta das 16h30m. Em pleno sábado as areias de uma das principais praias da
capital cearense estavam com um número bastante reduzido de pessoas por causa
do jogo do Brasil contra a Itália pela Copa das Confederações. Isso
possibilitou uma maior tranquilidade para curtir o lugar e saborear, pela
primeira vez, o caranguejo.
Como mencionei
na postagem anterior, a Praia do Futuro é repleta de barracas, uma delas é a
Chico do Caranguejo que, como o próprio nome sugere, tem o crustáceo como especialidade
da casa. O Daniel sabia que eu ainda não conhecia tal iguaria e fez questão de
pedi-la. Enquanto esperávamos o prato principal, degustamos alguns camarões na
companhia de uma água de coco gelada. Tudo isso bem de frente para o mar.
Que vida boa, obrigado meu Deus.
Quando o
caranguejo chegou à mesa, começou as presepadas do sujeito aqui. Isso porque é
preciso toda uma técnica para conseguir tirar alguma carne das patas/pernas do crustáceo.
E esse processo é realizado com a ajuda de um pedaço de cano (ou martelinho) para
bater e rachar a “casca” do caranguejo. Se os mais experientes já fazem uma
sujeirada para apreciar a saborosa carne, imagina quem nunca fez isso antes. Pois
é, a mesa ficou em uma situação, digamos, bem critica. Brinquei com o Daniel
dizendo que isso é coisa para se fazer uma vez na vida e outra na morte.
(Risada Sacana).
A carne do
caranguejo é gostosa, saborosa, mas é muito pouca para o trabalho que se tem
para “garimpa-la”. Um peão com muita fome não tem paciência para isso não. Para
a minha felicidade eu nem estava demasiado faminto, assim, calma não me faltou
para curtir toda a situação.
No final, um
caldo de caranguejo chegou à mesa para finalizar extremamente bem a experiência
com a especialidade da casa. Que coisa mais deliciosa. Provei sopa e caldo por
mais de oito meses durante a parte estrangeira da expedição, mas nenhum se
compara a esse provado na Praia do Futuro. Simplesmente maravilhoso. Esse sim é
para ser degustado muitas e muitas vezes. Certamente será solicitado em novas
oportunidades.
Como já estava
tarde e a tarefa de manusear o caranguejo levou um bom tempo, acabei sem entrar
na água, mas isso não foi nenhum problema. Presenciamos um magnifico pôr-do-sol e eu tive a oportunidade de conhecer
um pouco mais da nossa gastronomia. Tenho que agradecer imensamente ao Daniel
que, além do convite, não me deixou arcar com nenhuma despesa. Muito obrigado,
camarada.
Na parte
interna da barraca do Chico do Caranguejo ainda assistimos os minutos finais do
jogo do Brasil que ainda marcou mais um gol com a nossa presença na torcida. Somos pé quentes. (Risada Sacana). Comemoração garantida. Depois
restou voltar para casa com a barriga extremamente cheia, tomar um banho e
dormir.
23/06/2013 - 350°
dia - Fortaleza (Folga)
Dia dedicado
exclusivamente ao descanso.
Registro do perigeu lunar. |
24/06/2013 - 351°
dia - Fortaleza (Folga)
Finalmente a
Victoria recebeu alta.
No período da
tarde o Daniel me avisou que eu poderia buscar a Victoria na Savana porque ela
estava pronta. O amigo Fernando se propôs a me levar na loja e rapidamente
cheguei ao “hospital” para levar minha companheira para casa.
Na Savana, eles
também realizaram a troca do núcleo do cubo traseiro. Era ele que estava
fazendo o estalo no dia que cheguei à Fortaleza. Apenas essa peça me custou,
com desconto, quase 100 reais. Pelo menos acho que agora a Victoria está pronta
para continuar a viagem sem me surpreender novamente. Não quero precisar fazer
mais nenhum investimento na parte mecânica. Talvez terei que trocar o pneu
traseiro porque, infelizmente, o Pirelli não vai aguentar chegar no Paraná. Não
sei se comentei, mas com a temperatura ambiente elevada, o asfalto tem
derretido os pneus. Normalmente eles durariam 7-10 mil km no Sul, mas não
chegarão nem na metade dessa quilometragem aqui no nordeste.
Ainda na Savana,
conheci e conversei com um pessoal bacana, incluindo os funcionários e o
proprietário Alfredinho que me presentou com mais uma camisa de ciclismo, dessa
vez uma relíquia, sua camisa de participação no Brasil Ride (importante
competição que acontece no país). Muito obrigado a todos.
Moisés, eu, Alfredinho e Jymmy |
Com a Victoria
em mãos fui pedalar pela Beira-Mar com o Daniel que aproveitou para me levar ao
Dragão do Mar, um importante e grandioso centro cultural de Fortaleza. Sem
dúvidas é um dos lugares mais agradáveis da capital. Além de espaços destinados
à cultura, há também vários prédios antigos onde hoje funcionam bares e
restaurantes que oferecem excelente um ambiente com música ao vivo. muito recomendável
para famílias, casais e amigos. Gostei.
Centro Dragão do Mar. |
Escultura do poeta popular cearense Antônio Gonçalves da Silva, o Patativa do Assaré. |
Na volta para
casa pedalamos novamente pela Beira-Mar que estava lotada. É sempre muito bom ver
pessoas de várias idades praticando exercícios físicos. Foi possível, por
exemplo, conferir gente caminhando, correndo, andando de skate, patins,
bicicleta, jogando futebol de areia e dançando capoeira.
A cidade está
muito policiada e a cada quarteirão dessa região da Beira-Mar é possível
visualizar dois, três policiais. Acho que a medida é por causa das
manifestações que tem acontecido em todo o Brasil nos últimos dez dias.
Fortaleza que também é sede da Copa das Confederações não ficou de fora dos
protestos e acredito que por isso exista mais policiais nas ruas. Também nos
deparamos com o ônibus da seleção espanhola que estava sendo escoltado pela
Polícia Rodoviária. Mais tarde soube que eles tinham passado o dia na
Praia do Futuro em uma parte que foi reservada somente para eles. Um absurdo!
Em casa, tive
tempo apenas de jantar, tomar um banho e dormir. Não cheguei nem mesmo a
arrumar minhas coisas para partir no dia seguinte porque estava com muito sono.
Com o novo
velocímetro já consigo ter dados mais completos sobre as pedaladas:
Dia finalizado
com 11,75 km em 1h08m e velocidade média de 10,20 km/h.
25/06/2013 - 352°
dia - Fortaleza a Morro Branco
Dia de retornar
à estrada.
Como eu não
havia arrumado a bagagem no dia anterior, precisei acordar cedo para colocar
tudo em ordem e sair o quanto antes. Desse modo, levantei às 5 horas da
madrugada e comecei a tarefa que levou mais tempo do que imaginava. Gostaria de
ter saído da casa do Daniel por volta das 6 horas, mas infelizmente isso foi acontecer
somente às 07h30m, não sem antes degustar um caprichado café da manhã e me despedir e agradecer a família que simplesmente proporcionou uma das melhores estadias da viagem. Muito obrigado por tudo.
Meu trajeto
consistia em seguir na direção do Rio Grande do Norte, mas antes de passar
por mais uma divisa ainda precisava completar outro trecho em território cearense. A
primeira parada estava programada para acontecer na praia de Morro Branco na
cidade de Beberibe. A família do Daniel tem uma casa no local que foi oferecida
para a minha hospedagem. Claro que não recusei a sugestão e o local foi incluído no itinerário.
Morro Branco é
uma praia muito conhecida do litoral cearense em razão das falésias que
encantam turistas e moradores locais. Para chegar à Beberibe eu precisava pegar
a CE-040 que também me levaria à divisa com o Rio Grande do Norte.
Pensei que a
saída da capital em direção à CE-040 seria complicada, sobretudo, porque era
horário de rush, mas foi muito mais fácil do que eu imaginava. Bastou seguir as
orientações do Daniel, perguntar para algumas pessoas no caminho e seguir as
placas para rapidamente chegar à rodovia. Precisei apenas de atenção com
trânsito.
O tempo nublado
anunciava que a chuva, que caiu minutos antes da minha saída, voltaria a
qualquer momento. Não queria pedalar debaixo d’água naquele instante porque
meu corpo ainda estava frio e a Victoria limpíssima. (Risada Sacana). Seria uma
pena ver a minha companheira suja depois de toda a atenção que ela recebeu nos
últimos dias. Aliás, a diferença na pedalada é notória com a mudança das peças.
Sem dúvida valeu o investimento.
A chuva
felizmente não apareceu e permitiu um avanço tranquilo. Com 15 quilômetros eu
deixava a capital e passava a pedalar pelo município de Eusébio. Vale destacar
que praticamente todo esse trajeto foi marcado pela presença de uma ciclovia
que, sem dúvida, garante a segurança do ciclista em meio a essa multidão de
veículos.
A CE-040 foi
bastante elogiada por aqueles com quem conversei sobre a estrada. E não é
difícil entender o motivo; pista duplicada, asfalto muito bom, acostamento
largo e com a mesma pavimentação da pista dos veículos. Tudo o que um ciclista
deseja.
O relevo não
apresentou inclinações muito fortes e foi permitido seguir em um ritmo
razoável. No começo eu cheguei a ficar assustado com a minha média na casa dos 18
km/h. Não sabia se eu estava mais “forte” pelo descanso dos últimos dias, se a
bicicleta estava muito mais rápida ou as duas coisas ao mesmo tempo. Sei que foi tudo muito
tranquilo.
Entre Fortaleza
e Morro Branco seriam aproximadamente 85 km e por isso planejei chegar às 15
horas no local desejado. Pelo caminho as novidades ficaram relacionadas aos vários
engenhos de cana na beira da estrada nas proximidades de Pindoretama. No mais,
não houve muitas surpresas.
O tempo fechado
ficou pelas bandas de Fortaleza e quanto mais eu me aproximava de Beberibe,
mais quente ficava, sobretudo, à medida que as nuvens se dispersavam de uma vez. Mas hoje a
minha maior preocupação não era com a temperatura alta e sim com o vento contra
que deve ficar cada vez mais forte conforme eu sigo para o Rio Grande do Norte,
contudo, essa questão começou a aparecer somente por volta das 11 horas e ainda
assim não assustava.
Ao meio-dia
comecei a ficar com fome, mas num primeiro momento hesitei em parar e quando
finalmente as lombrigas falaram mais alto, não achei nenhum restaurante pelo
caminho e decidi que seguiria sem almoço até Morro Branco que não estava muito
longe.
Vale ressaltar, novamente, a condição da estrada. Não me recordo de ter encontrado uma rodovia
estadual como a CE-040. É bom ver um investimento do governo estadual em que a
obra é realizada com seriedade. A rodovia chega muito próximo dos padrões
das estradas privatizadas no estado de São Paulo. A diferença aqui é que
não existe pedágio, pelo menos eu ainda não passei por nenhum. Aliás, se não me
engano, desde Roraima eu não encontro pedágio.
Por volta das
13h30m passei pela entrada de Beberibe que não demorou muito para surgir no
horizonte. Típica cidade pequena do interior, suas peculiaridades são
encontradas no início do perímetro urbano, onde, por exemplo, caixas de som estão
espalhadas pelos postes de iluminação. A programação fica por conta da rádio
local. Fazia tempo que não me deparava com esse tipo de coisa. Como meu
destino era Morro Branco, segui as placas e fui à sua direção.
Da entrada de
Beberibe à Morro Branco são aproximadamente 8 quilômetros. Com o endereço e
referência em mãos, fui procurar a casa da família do Daniel, demorei um pouco
para achar em razão da falta de placas referentes aos nomes das ruas, mas
encontrei após perguntar para os moradores. Quando cheguei ao local, bastou
ligar para o caseiro que toma conta da casa para me entregar as chaves.
O caseiro
apareceu por volta das 15h30m e então finalmente entrei na agradável e
confortável casa da praia. Ficaria apenas hoje em Morro Branco, conheceria as
falésias e amanhã seguiria viagem, mas essa casa é convidativa demais para
descansar e aproveitar o mar que pode ser visualizado do quintal. A piscina é
outro fator para permanecer no local. Refrescar-se um pouco diante dessa
temperatura do nordeste não é nada mal. Dessa forma, achei que seria válido
ficar amanhã para conhecer com mais calma os atrativos naturais.
Com a decisão
de permanecer mais um dia em Morro Branco, reservei a parte da tarde para
testar a piscina, descansar e fazer alguns telefonemas para compartilhar a alegria de estar em um local como este. Também aproveitei para passar em
um mercadinho para comprar os ingrediente para fazer uma macarronada que seria
o jantar de hoje e o almoço de amanhã.
Amanhã cedo
quero ir à praia, finalmente mergulhar no mar e conhecer as famosas falésias.
Dia finalizado
com 90,09 km em 6h20m e velocidade média de 14,10 km/h.
26/06/2013 -
353° dia - Morro Branco (Folga)
Falésias de
Morro Branco, mais uma beleza natural pelo caminho.
A noite foi
tranquila e acordei naturalmente por volta das 6h30m e levantei poucos minutos
depois para ver como estava o tempo. Céu com poucas nuvens e o sol brilhando
forte. Maravilha. Tomei meu café da manhã “reforçado” com bolacha e leite,
separei a bolsa de guidão para colocar a câmera fotográfica e na sequencia saí
em direção à praia.
Como mencionei,
o mar é visualizado da casa onde estou, ou seja, não precisei me deslocar nem
500 metros para poder pisar na areia e molhar os pés na água salgada que ainda
estava gelada, afinal, o relógio marcava 07h30m. Registrei esse reencontro com
o mar e comecei a caminhada pela praia. Não demorou muito e as primeiras
jangadas apareceram no horizonte. A maioria ainda estava na areia, mas algumas
já zarpavam para mais um dia de trabalho.
A praia de
Morro Branco me pareceu muito bonita, a água por essas bandas é um pouco esverdeada e deixa o
ambiente ainda mais convidativo a um banho de mar, mas ainda não estava na
hora, principalmente porque a temperatura continuava baixa. Por isso continuei
a caminhada até me aproximar das barracas à beira do mar. Ainda estavam
fechadas, mas pela estrutura, tudo indica que na alta temporada e finais de
semana devem ficar lotadas.
Eu não estava
interessado em barraca, queria mesmo é conhecer as falésias e elas começaram a
desapontar pouco depois dessa área. Sozinho e sem nenhum conhecimento sobre região, iniciei a visita às falésias pela “saída” do trajeto que normalmente é
realizado pelos turistas que fazem o passeio com guia. Isso eu fui saber no
final, mas tudo bem. Importante é que eu estava diante de um interessante e
bonito fenômeno da natureza. As falésias, segundo o dicionário, são escarpas
íngremes, à beira-mar, por efeito da erosão marinha. Por escarpa, entenda-se,
rampa ou declive de terreno.
Logo no começo
das falésias, a primeira surpresa, uma casa antiga com uma faixa dizendo que
ali havia sido gravada (1982) a novela Final Feliz. A moradia naquela ocasião era
habitada por Stenio Garcia. Como eu não era nascido na época, não tenho o minimo conhecimento e lembrança dessa novela. Talvez os mais antigos que acompanham o
diário de bordo devem recordar.
As falésias
impressionam pelas formas e cores. É simplesmente uma obra de arte esculpida
pela natureza. Em um primeiro momento apenas contornei elas pela praia, mas
depois que encontrei moradores locais, descobri que era possível subir o morro depois
de uma barraca que havia mais a frente. No caminho registrei ainda mais essas
maravilhas que tenho a oportunidade de conhecer pela primeira vez em território
nordestino.
Com a referência
passada pelos moradores, comecei a subir as falésias pela “saída” na parte denominada Monumento Natural das Falésias. Deste ponto em diante é possível ter um
panorama do que realmente é o local, simplesmente incrível. Labirintos se
formam por causa da erosão e deixam o lugar ainda mais interessante.
As falésias
seguem por uma extensa área que fiz questão de visitar em sua totalidade, pelo
menos até o final da praia de Morro Branco. Quando cheguei próximo da outra
praia, onde também era possível visualizar torres de energia eólica, comecei o
caminho de volta seguindo por um ponto mais alto. No vídeo que eu fiz chamei de
topo do topo das falésias. Foi desse ponto que consegui enxergar a cidade de
Beberibe.
Enquanto
caminhava para a praia passei pelo farol, cuja entrada é proibida, mas que
também proporciona uma vista bem interessante, sobretudo, da praia de Morro
Branco. Foi então que começaram a aparecer os primeiros turistas. E não eram
poucos e estavam acompanhados de guias. Apenas lamentei o horário que eles
tinham começado o passeio. Acho que já passava das 10 horas da manhã e o sol
castigava qualquer um.
Como eu entrei
pela saída, nada mais coerente do que sair pela entrada. E foi assim que
finalizei meu passeio pelas falésias, não sem antes fazer mais alguns registros
que certamente ficaram marcados como um dos mais bonitos da viagem.
Na saída, digo,
entrada, parei em uma barraca onde um senhor vendia artesanatos e durante a
conversa ele me explicou que o retorno daqueles turistas era realizado de Buggy.
Ele não chegou a me falar o preço do passeio, mas disse que se o retorno fosse
a pé, o guia não estipulava um preço, você pagava de acordo com as informações prestadas.
Nesta área
também me deparei com mais uma casa da tal novela, desta vez, a residência
tinha sido habitada pelos atores José Wilker e Natália do Valle. Final Feliz
foi a primeira novela da Globo gravada no Ceará. O bacana é que o lugar não
explora o turista no que diz respeito à cobrança de entrada ou para fazer fotos
e vídeos. Em inúmeros outros lugares seria a oportunidade perfeita para colocar
uma taxa. Hoje no local funciona uma loja de artesanatos.
De volta à
praia não hesitei em cair na água que a essa altura já estava quente. Deixei
minhas coisas em uma barraca onde somente o proprietário se encontrava e fui,
finalmente, mergulhar no Oceano Atlântico. Que coisa boa! Água quente, mar não
muito agitado e ondas pequenas que até poderiam servir para surfar com
bodyboard, mas como não encontrei a prancha para alugar, fiquei apenas na
vontade. Nadei, brinquei, levei uns caldos, surfei os jacarés e depois retornei
para casa já era quase meio-dia.
Almocei a janta
de ontem. A refeição do dia anterior foi preparada justamente pensando no
almoço de hoje. Economizaria tempo e dinheiro. E a macarronada ainda continuava
deliciosa. Logo depois fui lavar um pouco de roupa e comecei a escrever no
diário de bordo para não deixar acumular. Se tudo der certo quero fazer essa
atualização em Natal ou no máximo em João Pessoa na Paraíba.
Quando o sol
baixou um pouco resolvi encarar a piscina que estava muito convidativa. Tenho
que aproveitar aquilo que está à minha disposição. Vai saber quando terei outra
oportunidade como essa. Vivenciar momentos como esse, sozinho, talvez não seja
o mais adequado, mas consigo dar risada de mim mesmo e tornar a solidão um
pouco menos cruel.
Depois de
curtir a piscina, voltei a escrever e enquanto estava concentrado no diário de
bordo, comecei a ouvir uma gritaria. Era o povo comemorando o gol do Brasil.
Nem lembrei que a seleção estava jogando a semi-final da Copa das Confederações.
Como aqui não tem televisão, voltei à região da entrada das falésias que
concentra um comércio com bares, restaurantes e pousadas. Muito provavelmente algum
estabelecimento estaria passando o jogo. Não teve erro, uma lanchonete exibia a
partida. Comecei a ver somente o segundo tempo. Apesar de não ser fanático por
futebol, achei legal acompanhar o jogo que estava bem movimentado e terminou
com a vitória do Brasil sobre o Uruguay.
Voltei para
casa depois do jogo e tornei a escrever. Agora são 20h13m e estou quase
finalizando o relato de mais um dia de viagem. Amanhã quero sair bem cedo daqui
para poder completar, no mínimo, 150 quilômetros e chegar ao Rio Grande do Norte.
No caminho fica a famosa praia de Canoa Quebrada, mas pelo que vi na internet, o
local não diferencia muito de Morro Branco, além de ser extremamente turística
e cara, por isso não fará parte do meu trajeto.
27/06/2013 - 354°
dia - Morro Branco (Ceará) a Mossoró (Rio Grande do Norte)
Surpreendente
chegada ao Rio Grande do Norte.
A noite na casa
da praia foi tranquila e exatamente às 5 da manhã o celular despertou e
levantei logo em seguida. Arrumei a bagagem que estava praticamente toda no
alforje e tomei um simples café da manhã a base de bolacha e leite. Deixei a
residência organizada da forma como encontrei, tranquei a porta e fui começar
mais um dia de pedal, não sem antes procurar a casa do caseiro para pode
entregar a chave. Isso às 6h30m.
O caseiro me
avisou que havia um caminho alternativo para retornar à CE 040. Segundo
ele, o trajeto não passava pelo centro de Beberibe e nem voltava ao local por
onde eu tinha entrado na cidade. Peguei as informações e continuei.
No trevo para o
centro de Beberibe parei em uma borracharia para calibrar o pneu e o
proprietário me avisou que esse caminho alternativo estava com muita pedra,
terra e não era aconselhável. Recomendou continuar sentido ao local por onde
cheguei na cidade. Foi o que eu fiz.
Como peguei o
mesmo caminho de dois atrás, não tive nenhum erro para retornar à estrada. De
volta à CE 040 – que foi extremamente elogiada no relato de ontem – fiquei
surpreso ao verificar o término da pista duplicada, contudo, a estrada simples não
deixou de ter um excelente acostamento, no mesmo nível da pista. Avante.
O tempo mais
uma vez estava aberto e a temperatura quente nas primeiras horas do dia, somente
para variar. O vento contra também marcava presença, mas de forma moderada, o
que não acontecia na mesma proporção era a minha fome. Fui obrigado a parar em
uma lanchonete cuja propaganda na estrada dizia que tinha caldo de cana e
pastel. Não pensei duas vezes em pedir o café da manhã complementar.
Mas o local oferecia apenas pastel no momento. Sem alternativa, solicitei somente o salgado para ter uma energia extra.
Novamente na
estrada meu objetivo era almoçar em Aracati que ficava aproximadamente 75 km de
Morro Branco, no entanto, o destino final estava programado para acontecer na
divisa com o Rio Grande do Norte, que totalizaria no velocímetro cerca de 130
km. Pelo caminho, sem muitas novidades, a paisagem mesclava mais uma vez;
arbustos, coqueiros e cajueiros.
O relevo também
continuou favorável com poucas subidas e possibilitou minha chegada à Aracati por
volta do meio-dia com 75 km pedalados. A cidade é relativamente grande se comparada
com as outras da região, mas para minha felicidade não precisei pedalar pelo
perímetro urbano porque a rodovia passa por fora, aliás, daqui para frente a
viagem continuaria por uma rodovia federal: BR 304.
A nova estrada
prejudicou o meu avanço por causa, exclusivamente, do acostamento que não era
compatível com a pavimentação da pista principal. Agora a área “sagrada”
parecia uma lixa com inúmeras pedras pequenas e soltas. Sem falar nos buracos
que eventualmente eram preenchidos pelas rodas da bicicleta. Tudo isso somado a
uma temperatura elevada e o vento contra. Para melhorar a situação nenhum
restaurante apareceu após Aracati e a fome bateu forte na companhia da canseira.
Sem opção a solução era torcer para encontrar alguma refeição à beira da
estrada.
Ao invés de
aparecer um restaurante, surgiu o trevo para a praia de Canoa Quebrada que é
bastante conhecida por suas águas e falésias. Confesso que pensei em visitar,
mas depois de conhecer Morro Branco descartei essa possibilidade, sobretudo,
porque os preços “turísticos” não são nada convidativos e o local ficava longe
demais do meu caminho em direção ao Rio Grande do Norte. Avante.
Na estrada,
após um posto de fiscalização, finalmente um restaurante. Já passava das 13h30m
e o estabelecimento não tinha muitos clientes. O buffet simples custava dez
reais e com exceção da carne, era possível comer à vontade. Imagina se meu
prato não se transformou em um arranha-céu por duas vezes. Tudo em nome da
moral e dos bons costumes. (Risada Sacana).
No restaurante
perguntei a um motorista sobre a distância restante para a divisa com o Rio
Grande do Norte. Segundo ele, ainda faltavam 35 quilômetros distribuídos em
poucas subidas. O senhor questionou se eu conseguiria chegar à Mossoró (70 km)
até o final do dia. Respondi que seria praticamente impossível e que a
pretensão era terminar o pedal logo após a travessia para o estado
vizinho. Eu mal sabia do tamanho equívoco que estava cometendo ao proferir
aquelas palavras.
Em razão do
clima, a permanência no restaurante foi maior do que costuma ser e após 1h30m
de descanso, finalmente retornei à estrada para completar os meros 35 km até a
divisa com o RN. A distância foi confirmada por uma placa logo após a volta
para a BR 304 que passou a apresentar em suas margens uma extensa área
pertencente à Petrobras que explora petróleo daquelas terras.
A quilometragem
restante para a divisa terminou por volta das 17h30m quando finalmente cheguei
ao destino desejado. Pela primeira vez nesta expedição eu realizava a travessia
entre estados brasileiros na escuridão. Apesar do horário, o sol já havia ido
embora e me restou registrar o momento de uma forma aquém da esperada, todavia,
fotografei o ingresso ao nono estado brasileiro desta expedição. Mais uma vez
estava muito feliz.
O problema é
que na divisa entre os estados as poucas casas de um vilarejo no Ceará não me
pareceram convidativas a um descanso e por isso continuei pedalando em
território do Rio Grande do Norte onde a próxima cidade (Mossoró) estava há
quarenta quilômetros.
A rodovia
continuou denominada como BR 304, contudo, em condições muito melhores,
principalmente no que diz respeito ao estado do acostamento. Com a melhoria da
pavimentação a velocidade média aumentou consideravelmente. E isso favoreceu
também a parte psicológica, já que meu objetivo não era avançar depois da
divisa. Estava tudo ao meu favor. O insistente vento contra finalmente tinha
dado uma trégua e o relevo também proporcionava um deslocamento mais fácil. Com
o aumento da quilometragem e a ausência de casas à beira da rodovia, não tinha
motivos para não avançar à Mossoró.
Mesmo na
escuridão, o avanço para Mossoró foi absolutamente tranquilo, mas o mesmo não
foi possível dizer na chegada à cidade que não apresentou nenhuma hospedagem à
beira da estrada. O horário acabava exigindo um pouso mais seguro, mas na
ausência de pousada, hotel e qualquer coisa do tipo, fui solicitar o pernoite
em um posto de combustível com bandeira SP, bastante conhecida aqui no
nordeste.
O frentista do
posto SP ouviu bem meu pedido, mas foi solicitar autorização ao gerente que
estava com alguns amigos em outra parte do posto, quando o mesmo me viu tratou com extremo desdém e, como se eu fosse um cachorro sarnento, desviou o
olhar e pediu ao funcionário para dizer que não queria ninguém no posto dele.
Detalhe, local lotado de caminhoneiros. Sem deixar me abater pela atitude lamentável
do senhor gerente, peguei minha Victoria e continuei pelo perímetro urbano de
Mossoró.
A cidade é a
segunda maior do Rio Grande do Norte e como se pode imaginar, o trânsito nessa
área é bastante intenso e para a minha infelicidade é exatamente o trecho na
rodovia que passa por reformas. Foi extremamente complicado passar pelo perímetro
urbano. Mas apesar disto, estava atento a qualquer sinal de pousada pelo
caminho. Quando finalmente apareceu um hotel, a diária de 90 reais só me fez
dizer; muito obrigado. Mais a frente uma pousada com preço de 70 reais estava
lotada. Paciência.
Já passava das
21 horas e começava a chover. Para aumentar ainda mais a aventura, meu pneu traseiro
indicava que estava furado porque começava a murchar lentamente. Avancei pela
rodovia e repentinamente apareceu um posto de combustível da Petrobras. O
estabelecimento parecia um pouco antigo e já naquele momento estava encerrando
o expediente. O gerente, em uma postura contrária daquele anterior, disse que
eu poderia montar a barraca ou a rede debaixo de um galpão paralelo ao posto.
Mencionou que o local era seguro e que o vigia chegaria em instantes. Também
frisou que eu poderia tomar banho já que o lugar disponibilizava de banheiro
com chuveiro. Era tudo e mais um pouco do que eu precisava. Maravilha.
Para além da
canseira, estava com muita, mas muita fome. Para a minha sorte ainda havia uma
lanchonete aberta no posto. Não tinha mais nada de salgado ou lanche, mas uma
sopa ainda poderia ser servida. Impossível não me lembrar da época em que fiquei nos países
vizinhos onde o prato de entrada (sopa) se fazia presente em toda refeição. A sopa
aqui estava extremamente caprichada e ajudou a saciar um pouco a fome e custou
três reais.
Para adiantar
as coisas, resolvi trocar a câmara de ar furada depois do jantar, assim não
precisaria perder minutos preciosos no dia seguinte na execução da tarefa.
Enquanto realizava a troca, apareceu o segurança do posto e começou a conversar
e fazer as perguntas “normais” e que educadamente foram respondidas. Na
sequencia ele disse que eu poderia dormir na área da lanchonete que fecharia em
poucos minutos, assim eu não precisaria montar a barraca, bastava esticar o
saco de dormir. Aceitei a sugestão. Era outra economia de tempo. Maravilha.
Depois de
trocar a câmara furada, coloquei os alforjes no lugar e fui tomar um banho para
poder descansar tranquilamente, mas não sem antes ligar para minha amada e
parabeniza-la pela colação de grau que, infelizmente, eu não pude estar
presente. Foi muito bom ouvir, ainda que à distância, sua voz de felicidade.
Sabia da importância daquele momento ímpar em sua vida, não faz muito tempo que
passei pela mesma situação. É simplesmente inesquecível.
Dia finalizado
com 174,98 km em 12h15m e velocidade média de 14,2 km/h.
28/06/2013 - 355°
dia - Mossoró a Assú
Da exaustão à
superação.
A noite na
lanchonete foi relativamente tranquila, talvez um pouco desconfortável para meu
corpo que merecia um descanso completo, mas tudo bem, importante é que consegui
recuperar parte das energias gastas no dia anterior e achei que estava pronto
para seguir viagem.
Acordei por
volta das 4h30m da madrugada e meia hora depois já estava levantado para
arrumar a bagagem e seguir em direção à Natal, capital do estado. Agradeci ao
segurança pela estadia e às 05h45m voltei a pedalar.
Meu corpo
sentia um pouco a distância do dia anterior e as pernas estavam pesadas, ainda
mais com o vento contra que já me desejava bom dia. O sol também marcava
presença e anunciava que as próximas horas seriam de calor sem piedade.
Apesar das
condições climáticas, o que me atrapalhava era a fome, infelizmente estava sem
tomar o café da manhã. Meu estoque de bolacha acabou e não tinha mais nada para
repor as energias. Como a janta de ontem foi apenas a sopa, imagina a situação em que eu voltei à estrada sem a refeição matinal. O segurança do posto avisou que
eu encontraria apenas dois estabelecimentos nos próximos quilômetros onde poderia comer alguma coisa. Então fiquei na espera.
Quando os
restaurantes apareceram, não eram convidativos e pelos cartazes ofereciam
refeições completas, caras e nada compatíveis com meu bolso, ou seja, tive que
seguir com fome na esperança de encontrar pelo menos uma mercearia em algum
vilarejo pelo caminho, embora meu mapa não indicasse a presença de nenhum povoado
entre Mossoró e Assú (ou Açu). Mas esperança é a última que morre.
A fome bateu
violentamente e eu começava a sentir falta de açúcar no sangue. Que diferença uma
bolacha recheada me faz. Pensei no que poderia ser feito e lembrei que ainda
tinha um restinho do mel que ganhei em Roraima. O mesmo estava numa
garrafa no fundo do alforje. Somente as lombrigas para me fazer tirar toda a
bagagem no meio da estrada.
O mel estava
realmente nos finalmente e serviu mesmo apenas para poder seguir alguns
quilômetros pelas extensas subidas. Não eram inclinações fortes, mas naquele momento qualquer
subida deixaria meu moral inversamente proporcional ao relevo. Sem esquecer que
o vento contra ficava cada vez mais violento.
Um trecho da
rodovia estava em obras e um funcionário me avisou que o próximo restaurante
estava somente há 15 quilômetros, mais precisamente no km 78 da BR 304. Que
maravilha, teria que me superar no momento em que todas minhas forças estavam
se esgotando. Pedalava cada vez mais lento em razão da soma de todos os fatores.
Minhas pernas pareciam que giravam uma tonelada no pedal.
Sei que realizava
paradas frequentes para enganar a fome e a canseira. Aproveitei esses momentos
para fazer ligações para meus pais e mandar notícias, afinal, eu estava em
outro estado brasileiro.
O
posto/restaurante mencionado pelo funcionário da rodovia não apareceu na
quilometragem indicada. O que surgiu no acostamento foi um motorista que
estacionou seu veículo para conversar e saber mais detalhes da viagem. Ele quem
disse que o estabelecimento que eu procurava estava logo após a curva, poucos
metros de onde estávamos. Maravilha. O senhor disse que me esperaria no local
para poder conversar melhor, afinal, o acostamento estava pegando fogo.
No restaurante
paralelo ao posto (km 84 da BR 304) o senhor que me aguardava e morava na Paraíba,
conversou e tirou algumas fotos comigo e da Victoria antes de seguir viagem. Eu
aproveitei os salgados disponíveis na lanchonete e solicitei dois para
compensar o café da manhã atrasado. Se não me engano, passava das 10
horas da manhã.
Sentei na
cadeira e simplesmente não consegui mais levantar. Era muita canseira e as
pernas não respondiam ao meu comando. Sendo assim, resolvi ficar mais um tempo
descansando. O estabelecimento também servia almoço e por volta das 11h30m eu
solicitei a refeição. Mas a minha fome já não era mais a mesma e não consegui
comer tudo. Achei isso muito estranho, meu corpo não estava normal. Sei
que soliciteii à atendente para colocar o resto da comida em um recipiente para eu
poder levar.
Depois do
almoço eu estava cochilando sobre a mesa do restaurante, algo muito feio e por
isso achei melhor deitar debaixo de uma árvore ao lado do posto e ali fiquei
por mais duas horas. As pernas não melhoraram muito e se tivesse uma
hospedagem no local eu não hesitaria em ficar ali mesmo. Fiquei pensando no que
me deixou naquele estado lamentável, talvez a quilometragem do dia anterior, contudo, acredito
que a falta do café da manhã foi o que potencializou essa condição. Estava
literalmente exausto.
Como não tinha
condição de permanecer deitado pelo resto do dia debaixo daquela maravilhosa
sombra, precisava seguir viagem. Tirar força de onde não imaginava. Somente
por Deus para conseguir levantar e ainda pedalar com toda essa carga contra um
vento insuportável e um calor da moléstia. Não tem sido nada fácil avançar pelo nordeste.
A cidade de
Assú era a próxima a aparecer pelo caminho, no entanto, ficava há 30
quilômetros de onde eu estava, ou seja, precisava me superar para alcançar o
município e, por sorte, encontrar uma hospedagem econômica para passar a noite
e finalmente ter um descanso apropriado.
O caminho para
Assú foi uma verdadeira luta entre as partes psicológica e física. Não tinha
mais força para pedalar, mas minha mente procurava dizer o contrário para cada
parte do meu corpo. Com essa insistência os quilômetros foram passando, ainda
que vagarosamente. A velocidade lenta me possibilitou verificar um pássaro no
acostamento. Apesar de vivo, ele não voou com a minha passagem, parei a bicicleta e fui ver o
que havia acontecido, infelizmente ele não conseguia mais mexer as asas. Foi
uma judiação vê-lo naquele estado. Fiquei muito triste por não poder fazer
nada, mas aquele encontro foi um sinal dos céus para me lembrar que eu ainda
tinha “asas” para poder voar e continuar pelo meu caminho. Deixei o animal fora
do acostamento e segui em direção ao destino desejado.
Pouco depois
das 17 horas, finalmente, chegava à Assú e na entrada da cidade eu segui em
direção à Pousada Primavera que foi indicada por um morador local. Precisei
pedalar mais 3 quilômetros para encontrar o local onde a diária mais barata
custava 20 reais. Infelizmente eu teria que desembolsar esse dinheiro para
poder me recuperar.
As acomodações
da pousada são muito boas e recomendo para quem estiver de passagem pela
região. Tomei um banho e antes de capotar na cama fui a um mercado para
adquirir os mantimentos básicos. Aproveitei para comprar bolachas, pão, geléia,
suco e uma bebida láctea vitaminada para o jantar.
Na volta para a
pousada comecei a sentir um calafrio estranho que permaneceu pelas próximas
horas. Não era possível que a temperatura ambiente estivesse baixa a ponto de
eu sentir aquele frio. Suspeitei de insolação porque eu havia pedalado sem
protetor solar durante o dia, uma vez que o meu também tinha terminado e não
foi reposto pela ausência do mesmo na estrada. Mas os sintomas de insolação,
felizmente não eram os mesmos que eu estava sentindo.
Com o corpo
extremamente cansado e provavelmente com febre, fui dormir o sono dos justos na
esperança de acordar melhor no dia seguinte.
Dia finalizado
com 73,48 km em 6h03m e velocidade média de 12,0 km/h.
29/06/2013 - 356°
dia - Assú a Lajes
Mais um dia superando obstáculos.
A noite na
pousada foi tranquila. O calafrio que eu sentia no final do dia anterior sem
dúvida era por causa da febre porque transpirei muito durante a madrugada,
sinal evidente que meu corpo buscava se recuperar contra todo aquele mal-estar.
Não coloquei o
celular para despertar porque eu queria poder descansar o máximo possível. Mas
por volta das 6 horas já estava levantado. Tomei um café da manhã caprichado
com as coisas que comprei no mercado e 1 hora depois eu já me encontrava na
estrada. Meu corpo conseguiu se recuperar rapidamente e todo aquele peso nas
pernas desapareceu. Estava feliz por ter voltado à normalidade.
No posto de
combustível às margens da BR 304 eu parei na pretensão de calibrar os pneus e um
grupo de ciclistas do Estado se aproximou para conversar comigo. Eles
realizavam uma viagem em um veículo motorizado, mas também praticavam
cicloturismo. Após um tempo de prosa e um registro fotográfico, cada um seguiu
seu caminho. O meu era continuar em direção à Natal.
Não pedalei 8
quilômetros e meu pneu traseiro furou. Misericórdia. Era tudo o que eu não
precisava. Para aliviar a situação, a sorte é que o acontecimento foi próximo a
uma sombra. Encontrar uma árvore às margens da estrada por essas bandas é uma
raridade, por isso estava mais conformado.
Troquei a
câmara furada e coloquei a reserva, mas ao encher notei que ela também estava
sem condições de uso. Como a segunda câmara de ar reserva estava furada desde a ocasião do
posto de Mossoró, fiquei sem opção a não ser remendar uma delas naquele
instante. Mas as surpresas não haviam terminado. O tubo de cola estava
completamente seco. Esse é o momento que você para, respira fundo, olha para os
lados e pensa no que pode ser feito.
Pensei ter
visto uma borracharia um quilômetro antes de furar o pneu e já estava arrumando
as coisas para me direcionar até o local para poder conseguir, pelo menos, uma
cola para os remendos. Mas foi quando um trator (sim um trator!) surgiu no
acostamento do outro lado da rodovia. A máquina apareceu repentinamente e
chegou até onde eu estava depois de andar 400 metros em marcha ré. Aproveitei
que o motorista parou e perguntei sobre a existência de uma borracharia. Foi
então que ele me disse que tinha uma a poucos metros de onde estávamos. Ficava
no sentido contrário àquele da outra borracharia que eu pensei ter visto. Para
a minha surpresa o trator não continuou em marcha ré após o motorista conceder
a informação, ou seja, ele apareceu somente para poder me informar sobre o
local. Que tal?
O escritor José
Saramago dizia; Não sou um ateu total,
todos os dias tento encontrar um sinal de Deus, mas infelizmente não o
encontro. Eu nunca fui ateu, mas cético (como já mencionei em outra
postagem) em relação a muitas coisas. Mas felizmente, hoje, ao contrário de
Saramago, encontro inúmeros sinais de Deus. E a Sua presença tem feito toda a
diferença, não somente no decorrer desta viagem, mas na minha vida de modo
geral. Sou eternamente grato por todos esses acontecimentos.
Após colocar os
alforjes fui até a borracharia indicada pelo motorista enviado pelos céus. O estabelecimento
se encontrava fechado e o proprietário disse que estava de saída, mas ouviu
atentamente meu pedido e mencionou que se eu tivesse os remendos e
realizasse a tarefa, ele conseguiria a cola. Era mais do que o suficiente e o
senhor me presenteou com o item sem cobrar nada por isso. E ainda mais,
ofereceu água e um café da manhã que não foi recusado. O mesmo foi provado
depois de remendar as três câmaras furadas. A refeição matinal, preparada pela mulher do borracheiro, estava
caprichada, três pães com ovos fritos e um saboroso café preto. Pense numa coisa boa. Mais
uma vez encontrei pessoas boas pelo meu caminho. Graças a Deus.
Dois vizinhos
da borracharia acompanharam a troca do pneu e durante a conversa disseram que
esse acostamento que mais parece uma lixa ficaria bom a partir de Angicos e que
as subidas diminuiriam depois de Lajes. Fiquei na expectativa. Na ocasião eu
somente precisava de um acostamento com a pavimentação melhor, porque desde Mossoró
a situação piorou consideravelmente e começou a “segurar” demais os pneus no asfalto.
Cheguei à
Angicos pouco depois do meio-dia e apesar do horário eu estava mais cansado do
que com fome, afinal, foram duas refeições matinais caprichadas. No entanto, o
vento contra que hoje estava ainda mais forte, deixou o pedal complicado e tive
que empregar ainda mais forças para movimentar a bicicleta. Sem falar nas
subidas que também continuaram presentes e extensas. O corpo pediu um descanso
e na atual situação não tive como recusar e sentei na sombra de uma construção
que aparentava abandonada à beira da estrada. Na verdade se tratava de um
enorme galpão com algumas partes inacabadas. Aproveitei o local para preparar meu pão com geléia na companhia de um suco. Seria meu almoço. A economia servia para
aliviar a balança com os gastos do dia anterior e o filtro solar adquirido na
saída de Assú.
Parece fácil, mas avançar com esse acostamento, vento contra e temperatura elevada, não é nada fácil. |
Após o “almoço”
continuei em direção à Lajes e a paisagem não mudou muito, talvez algumas
montanhas pelo caminho e poucos vilarejos, raros postos de combustível e escassas hospedagens. O
Rio Grande do Norte é um estado com poucas cidades e isso é perfeitamente
notado nesta região. Programe-se bem quando passar por essas bandas.
O período da
tarde não se diferenciou daquele da manhã, mais vento contra, subida e
temperatura nas alturas. Inevitável não ficar cansado. Assim como também é
muito difícil pedalar longas distâncias com todos esses fatores. No começo do
dia minha pretensão era finalizar o pedal em Lajes, todavia, com a escuridão achei
melhor finalizar em um posto de combustível quase 10 km antes do local
desejado, mas infelizmente o posto estava fechado e o segurança informou que
não seria possível dormir no local.
Contrariando minha vontade, continuei em direção à Lajes para procurar uma hospedagem. Na entrada da cidade
havia uma pousada econômica, mas como era festa de São Pedro, a cidade e o
estabelecimento estavam lotados. Uma pena, porque a diária custava apenas 15
reais. A recepcionista me informou que seria difícil encontrar algum quarto
vago, mas que eu poderia tentar no restaurante quase ao lado, onde também
funcionava uma pousada. Para a minha sorte o local tinha habitações disponíveis,
contudo, custava 30 reais. Uma facada, mas eu precisava descansar bem e como
não tinha gasto nada com o almoço, fiquei na Pousada Militão.
A hospedagem
oferecia habitações compatíveis com o preço, tudo muito limpo, organizado e com
wi-fi disponível. Infelizmente o café da manhã não estava incluído, mas pelo
menos consegui um lugar seguro e confortável para passar a noite. A Victoria
ficou na parte de baixo porque os quartos são no segundo piso. No final da
noite aproveitei a lanchonete ao lado do restaurante e fui pedir um lanche para
não dormir sem nada no estômago.
Dia finalizado
com 91 km. O tempo e a velocidade média eu não sei por que consegui zera-los
durante o pedal. Ainda estou no período de adaptação ao velocímetro novo.
30/06/2013 - 357°
dia - Lajes a Natal*
Finalmente na
capital do Rio Grande do Norte.
O dia longo
começou por volta das 6 horas da manhã quando acordei e levantei logo em
seguida. Comi um pacote de bolacha, arrumei a bagagem e voltei à estrada às
7h30m. O corpo mais uma vez amanheceu sem dores e pronto para outro dia de
pedal.
O tempo estava
aberto, com sol e poucas nuvens. Para variar, o vento, novamente, soprava
contra. A condição do acostamento não mudou depois de Lajes, conforme, haviam
me falado e infelizmente a impressão era que os pneus continuavam agarrados ao
asfalto. Que tristeza.
A novidade no período da manhã foi o encontro com um cicloturista cearense. Se não me engano, seu nome é
Vagner e viaja pelo Brasil há alguns anos. Atualmente completa o trecho São
Paulo x Fortaleza. Seu objetivo é escrever um livro com a sua história para incentivar jovens de rua
a saírem do mundo das drogas e violência para conhecerem o esporte e suas
vantagens. Durante a passagem pelas cidades, Vagner procura recolher
assinaturas oficiais afirmando sua presença pelo local. Me mostrou um caderno
com centenas de documentos e fotos de pessoas conhecidas no caminho.
O camarada
ciclista viaja com pouca bagagem se comparada à toda minha tralha, contudo,
aquilo que carrega vai nas costas e, segundo ele, já está acostumado com o peso,
mas imagino como deve desconfortável pedalar daquela forma.
Encontrei o
cearense parado no acostamento de uma curva, ele estava esperando uma ajuda
para trocar o pneu furado. Isso porque sua bicicleta, antiga Caloi 10, não tinha
roda de pressão e por isso necessita de uma chave especial para tira-la. E sem a ferramenta
o Vagner não conseguiu saca-la. Por sorte, carrego uma chave que serviu para o
amigo ciclista. Ele trocou a câmara, mas na sequencia teve uma surpresa idêntica
àquela que eu tive ontem. A peça reserva também estava furada. Lá vai ele tirar
a roda e remendar a câmara. Realizada a troca, conversamos mais um pouco e cada
um seguiu seu destino. O dele estava bem mais próximo. O meu? A capital, Natal.
Avante.
Minha
estratégia era chegar em Riachuelo na hora do almoço e antes das 19 horas
chegar à Natal. Não seria uma tarefa fácil por causa das condições climáticas,
mas eu poderia muito bem superar mais essas adversidades.
Por volta das
13 horas parei em um restaurante na entrada de Riachuelo onde o prato feito era
servido por dez reais. O cardápio; macarrão, maionese, arroz, feijão (preto,
verde ou carioca), salada, e uma variedade de carnes a ser escolhida. Eu optei
por um cupim que há muito tempo eu não degustava. Estava tudo muito bom.
Durante o
almoço estava passando o primeiro tempo da disputa do terceiro lugar da Copa
das Confederações entre Itália e Uruguay. Fiquei exatamente 45 minutos no
restaurante, porque meu retorno à estrada aconteceu quando terminou a etapa
inicial da partida. Um dos motivos que eu gostaria de chegar antes das 19 horas
em Natal era para acompanhar a final entre Espanha e Brasil. Como mencionei em outro postagem, não sou nenhum
fanático por futebol, mas tudo indicava que seria um desses jogos históricos e
que eu não queria perder.
Na estrada
liguei para o anfitrião de Natal, Fernando, que foi sugerido pelo João Almeida
de Recife. Avisei que chegaria somente de noite e ligaria quando estivesse no
local combinado para nos encontrarmos.
O período da
tarde foi sem muitas surpresas e o acontecimento que foi muito bem-vindo ocorreu
quando o crepúsculo já terminava; encontro entre as rodovias BR 226 e 304. A
nomenclatura continuou BR 304, mas o acostamento mudou e ficou com a
pavimentação igual a da pista principal. Finalmente um alivio para as pernas já
que o deslocamento acontecia mais rápido.
Eu estava cansado,
mas tinha que chegar na capital e isso significava pedalar aproximadamente mais
trinta quilômetros, que beleza. Sei que cheguei à Macaíba por volta das 19
horas e ouvi os primeiros fogos de artificio que para mim seriam alusivos ao
início do jogo, mas depois o Fernando me ligou para saber onde eu estava e
mencionou que o Brasil já tinha feito 1x0 sobre a Espanha. E eu ainda na
estrada, infelizmente tinha perdido o jogo.
Mas eu
continuava motivado para chegar à capital e finalmente poder descansar por,
pelo menos, três noites, como havia combinado com a família que estava prestes
a me receber.
Quando cheguei à
entrada de Parnamirim, cidade metropolitana, parei em um posto de combustível para
saber como chegar ao endereço do ponto de referência passado pelo Fernando. No
local um taxista me passou todas as informações necessárias e também sugeriu
que eu ficasse para ver o segundo tempo do jogo. Achei a idéia interessante e
passei a acompanhar a partida com os funcionários do posto. Não adiantava nada
seguir e ligar para o anfitrião durante a final. Não faria essa sacanagem com
ele, por isso acredito que tenha sido uma boa estratégia.
Brasil passeou
sobre a Espanha e o jogo não foi nada como eu esperava, enfim, campeão. Destaque ficou mesmo por conta da atitude da caixa da loja de conveniência do posto, que ao saber mais sobre a viagem fez questão de realizar uma colaboração de dez reais, foi justamente o valor gasto no almoço de hoje. Fiquei surpreso e muito agradecido. As colaborações tem aparecido de onde menos se espera.
Depois do jogo o taxista me acompanhou por um trecho e na sequencia fui perguntando como chegar ao endereço, não do ponto de referência, mas da casa do Fernando, pelas informações não seria muito difícil de chegar à residência onde a família morava. Fui conferir.
Depois do jogo o taxista me acompanhou por um trecho e na sequencia fui perguntando como chegar ao endereço, não do ponto de referência, mas da casa do Fernando, pelas informações não seria muito difícil de chegar à residência onde a família morava. Fui conferir.
O trânsito na
região metropolitana estava calmo em razão do jogo e pelo horário, afinal, era
o término de mais um domingo. O Fernando mora em Parnamirim, mas sua casa fica
poucas quadras de Natal, onde, inclusive, ele trabalha. De qualquer forma,
estava tudo tranquilo e conseguia me deslocar sem maiores dificuldades.
Com a gentileza
dos moradores locais que passaram informações concisas, finalmente cheguei ao
local desejado, para a surpresa do Fernando que ainda aguardava meu telefonema.
No local fui muito bem recepcionado pela família e seus amigos. Destaque para a
reação do pequeno Mateus (filho de Fernando e Carina) ao me ver. Estava todo
animado porque havia visto no Youtube um ou dois vídeos das minhas entrevistas e na sua
cabeça eu era uma celebridade em sua casa. Foi uma cena que jamais vou
esquecer. Um olhar natural e um sorriso sincero de admiração. Incrível.
Na confortável
casa, conversei bastante antes de me instalar e tomar um banho com água quente depois de meses sem encontrar chuveiro elétrico pelo
caminho. O “luxo” veio em boa hora, já que a temperatura ambiente nas noites de
Natal/Parnamirim são frias se comparadas a outras capitais nordestinas.
Devidamente
limpo fui jantar e após mais uma prosa com os anfitriões fui descansar o sono
dos justos.
Dia finalizado
com 134,79 km em 11h04m e velocidade média de 12,01 km/h.
01/07/2013 - 358°
dia - Natal* (Folga)
Começando o mês de julho com visita à capital do Rio Grande do Norte.
A noite foi
tranquila e consegui descansar bastante, acordei naturalmente por volta das 6
horas, mas resolvi não levantar e peguei no sono novamente. Para a minha
surpresa, levantei de verdade quase duas horas depois. Maravilha.
Na parte da
manhã fiquei organizando meu material fotográfico para colocar no site que dificilmente
será atualizado aqui em Natal, infelizmente há muita coisa para ser escrita e o
tempo aqui é curto, devo partir na quarta-feira, como havia combinado com os
anfitriões. Mas aproveitei a disponibilidade da internet para conferir algumas coisas
e mandar notícias sobre a minha chegada a mais uma capital nordestina.
Próximo do
meio-dia a Carina me levou ao trabalho do Fernando que, por sua vez, me acompanhou a uma bicicletaria para regular as marchas da Victoria. Precisava apenas fazer esse serviço na minha companheira.
O camarada me levou a uma loja de confiança onde o pessoal não cobrou pelo
serviço. Bicicleta totalmente pronta para seguir viagem.
Minha tarde foi
dedicada à atualização do diário de bordo. Já no período da noite o anfitrião
foi me levar para conhecer um pouco melhor a cidade de Natal. Nosso passeio
começou pela famosa Rota do Sol ainda no município de Parnamirim onde a
primeira parada aconteceu no também conhecido; Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI), conhecido
simplesmente como Barreira do Inferno, é uma base da Força Aérea Brasileira
para lançamentos de foguetes. Fundada em 1965, se tornou a primeira base aérea
de foguetes da América do Sul.
Enquanto
registrávamos a passagem pela Barreira do Inferno, um grupo de ciclistas que
treinava na rodovia parou no local e começaram a conversar com o Fernando que
logo mencionou sobre a minha viagem e a prosa se estendeu. Quanto mais eles
descobriam sobre a viagem, mais curiosos ficavam. Foi uma conversa bacana.
Valeu galera.
Depois da Rota
do Sol seguimos para a região da beira-mar em Natal, mais precisamente na praia
mais famosa da cidade; Ponta Negra. O local foi visitado de noite e por isso
não foi possível visualizar as cores do mar e tampouco o Morro do Careca que
fica no local. Mas ainda assim foi interessante ter esse ponto de vista noturno
da praia.
Continuamos
pela via costeira que concentra um dos mais sofisticados hotéis, bares e
restaurantes na beira-mar de Natal. No caminho passamos pela Praia dos
Artistas, Praia do Meio e a Praia Miami onde paramos e registramos o Relógio de
Sol que é um dos destaques do local.
Para finalizar,
o camarada Fernando ainda me levou até a outra margem da Ponte Newton Prado nas
proximidades da famosa Fortaleza dos Reis Magos. Na volta passamos pelo Centro
de Convenções de Natal onde foi possível ter uma vista diferenciada dessa parte
da cidade. Infelizmente tive que fazer o passeio de noite (disponibilidade de
horário do anfitrião) que é um período que oferece outra perspectiva diferente, porém limitada da cidade,
mas ainda assim valeu a visita. Obrigado, Fernando.
Vista de Natal no Centro de Convenções. |
Centro de Convenções de Natal. |
02/07/2013 -
359° dia - Natal* (Folga)
E a moléstia
está solta.
Acordei muito
mal e a tosse que me acompanha a alguns dias ficou ainda pior. Novamente
voltei a sentir calafrios e o termômetro confirmou a febre. Estava com quase
39°C. A Carina preparou um chá com alho, mel e limão e também me deu um xarope
para tosse e um remédio para a febre. Sei que fiquei o dia inteiro ruim e com o
corpo cansado. Com essa situação não consegui nem mesmo escrever no diário de
bordo. Tratei de permanecer em repouso na cama.
Espero melhorar
até amanhã porque foi o dia combinado para seguir viagem. Hoje o dia foi
chuvoso e a minha expectativa é que amanhã pare de cair água. Vou ficar na torcida.
Porque vai ser complicado continuar viagem debaixo de água. Veremos.
Um registro com a família que me recebeu muito bem em Natal: Carina, Fernando e Mateus. |
03/07/2013 - 360°
dia - Natal (Rio Grande do Norte) a Mamanguape (Paraíba).
Pedalando pela
primeira vez, nesta expedição, na rodovia BR 101 .
Chegada ao
estado da Paraíba.
Retorno à
estrada com chuva para melhorar ainda mais meu estado de saúde. Que maravilha!
A noite foi
relativamente tranquila. Acordei de madrugada apenas por causa do efeito do
remédio contra a febre que me fez transpirar litros e encharcar todo o colchão.
Tive que modificar minha posição para poder dormir em uma parte seca, apenas
para ter uma idéia da área molhada. Reação violenta do corpo.
Acordei sem
dores musculares e também sem febre, mas infelizmente a chuva continuava e eu
não gostaria de seguir viagem mediante aquela condição. Estava levantado desde
às 6 horas da manhã. Fiquei na torcida para começar o pedal sem a chuva, mas ela
não deu trégua. Pior que a previsão do tempo indicava chuva para os próximos
dias. E eu não poderia esperar. Por isso a opção foi mesmo partir.
Despedi-me de
toda a família e claro, fiz questão de agradece-la pela hospitalidade e às
8h45m segui pelo caminho indicado para pegar a BR 101. A princípio seguiria um
trecho pela Rota do Sol para ver o maior cajueiro do mundo, mas com aquela
chuva achei mais viável continuar pela rodovia federal, onde cheguei quase dez
quilômetros depois.
Voltar a
pedalar na BR 101 é sempre muito significativo. A infinita highway da música
dos Engenheiros do Hawaii é sem dúvida uma das rodovias mais importantes do
país e que atravessa doze estados e passa dos 4 mil quilômetros de extensão. Tem seus
pontos extremos no Rio Grande do Norte e Rio Grande do Sul, neste último, segue
até São José do Norte, trecho percorrido na Expedição de Inverno em 2010, ou
seja, conhecer, pedalando, a parte norte da 101 é apenas mais um sinal do que um simples meio
de transporte pode realizar. Viva a bicicleta.
A BR 101 está
duplicada e com acostamento largo em perfeitas condições. Se não fosse a chuva
estaria tudo muito bem, obrigado. Até o vento contra amenizou um pouco em
relação aos dias anteriores. Na estrada as placas indicavam as distâncias para
as próximas capitais; João Pessoa, Recife e Maceió. A princípio eu passaria na
capital da Paraíba, mas meu anfitrião precisou viajar de última hora e por isso
decidi seguir direto para Recife, onde pretendia chegar na sexta-feira se
tudo ocorresse conforme o previsto.
O relevo não
atrapalhou e o avanço continuou em um ritmo razoável dentro da minha realidade
física. Por volta do meio-dia passei pela cidade de Goianinha, mas acabei não
encontrando um local adequado para almoçar e continuei em direção à
Canguaretama onde por volta das 13h30m eu estacionava a bicicleta para realizar
a refeição mais importante do dia.
Ainda bem que o
restaurante estava vazio, assim ninguém ficou reparando no meu traje sujo e
molhado. O buffet custou 8 reais e estava muito bom. Claro que meu prato
manteve a tradição de estar sempre caprichado. Poucos minutos depois eu já
retornava à estrada. Não poderia perder tempo já que minha saída de Natal
aconteceu tarde demais.
Poucos
quilômetros depois da parada no restaurante eu visualizava a divisa entre os
estados do Rio Grande do Norte e a Paraíba, estava prestes a pedalar pelo 10°
estado brasileiro dessa expedição. Mais uma conquista, sem dúvida nenhuma.
Dessa vez a passagem entre estados aconteceu com claridade, contudo, com o
tempo bastante nublado e uma chuva que esperou apenas eu registrar o momento
para voltar a cair.
Comecei o dia
com a intenção de pedalar na faixa dos 100 quilômetros e foi praticamente com
essa distância que eu cheguei ao estado da Paraíba. No entanto, a primeira
cidade estava longe, cerca de 30 quilômetros da divisa. Não estava disposto a
continuar até Mamanguape, contudo, a falta de opção para acampar ou hospedar pelo
caminho me deixou sem escolha. Continuar em frente.
A vegetação na
Paraíba não mudou muito em relação aos demais estados nordestinos, assim como
não notei diferença nos pequenos vilarejos que encontrei pelo caminho. A
diferença estava relacionada ao relevo que passou a ser de inúmeras subidas
extensas e inclinadas. Em uma delas um caminhoneiro buzinou e estacionou para
me oferecer carona, mas tive que explicar que a “promessa” era pedalar todo o
trajeto.
Nas outras
vezes em que os motoristas ofereceram carona, eles não entenderam a minha recusa quando mencionava que o “objetivo” era pedalar a viagem inteira. Para ficar mais
compreensível para quem está do outro lado, passei a dizer “promessa” o que não
deixa de ser uma verdade, considerando que eu prometi a mim mesmo que seguiria pedalando com a Victoria até as últimas consequências. De qualquer forma agradeci ao
caminhoneiro que compreendeu a minha resposta e ainda me passou informações
sobre o trecho a seguir. Segundo ele, eu realmente encontraria hospedagem
somente em Mamanguape que estava há 15-20 quilômetros. A subida seria um pouco
longa, mas não existiriam outras parecidas. Menos mal.
Pela escuridão eu seguia normalmente pela estrada quando às 19h30m finalmente cheguei à cidade
desejada. Na entrada de Mamanguape encontrei hospedagens na avenida marginal,
mas quem disse que a mesma possui entrada/saída para a rodovia. Misericórdia.
Precisei descer um bom trecho para fazer o retorno já que atravessar o canteiro com
guard-rail seria bem complicado.
Sei que ao
fazer o retorno consegui entrar no centro da cidade, mas a pousada encontrada estava
lotada. A solução foi subir toda a avenida marginal para ver se havia quartos
disponíveis naquelas hospedagens vistas na chegada à Mamanguape. Na primeira
pesquisada o quarto com ventilador custava 20 reais, mas não tinha nenhum vago
no momento. Com ar-condicionado estava 30 e mesmo com o meu argumento que não
utilizaria o ar, não houve desconto e por isso fui para uma hospedagem quase ao
lado.
Na Pousada Sol
a diária mais barata estava 25 reais com ventilador. Sem muita opção e extremamente
cansado, não pensei duas para permanecer no local onde as instalações, apesar
de simples, se mostraram suficientes para um descanso tranquilo. Destaque para
o chuveiro elétrico em funcionamento com água quente disponível. Perfeito para
relaxar os músculos, sobretudo, das pernas.
Devidamente
limpo, jantei um pacote de bolacha e fui descansar mais uma vez o sono dos
justos.
Dia finalizado
com 126,80 km em 9h13m e velocidade média de 13,70 km/h.
04/07/2013 - 361°
dia - Mamanguape a Jacumã
Mais um dia com
diversas surpresas.
Novamente a
febre atacou e o corpo reagiu durante a madrugada. Resultado; transpiração
excessiva e cama toda ensopada. Vou ter que procurar orientação médica.
Paciência.
Não coloquei o
celular para despertar porque gostaria de acordar conforme a vontade do meu
corpo que necessitava de todo o descanso possível para poder se recuperar.
Assim, sem pressa, acordei por volta das 7 horas e comecei a arrumar a bagagem
e na sequencia tomei meu simples café da manhã à base de bolacha e geléia.
Ao sair da
pousada às 8h30m passei em um posto de combustível para poder jogar um pouco de
água na relação da Victoria que estava completamente suja, sobretudo, de areia,
resultado das várias horas da chuva de ontem.
Com a bicicleta
um pouco mais limpa, estava na hora de seguir viagem em direção à Pernambuco
com passagem pela capital paraibana. Não sabia exatamente em qual cidade eu
conseguiria encerrar o dia, mas para não abusar da parte física, debilitada,
não queria passar dos cem quilômetros.
Logo na saída
de Mamanguape notei que o céu escuro reservava mais chuva pelo caminho. Mas
quem dera se o obstáculo estivesse limitado à água oriunda dos céus. As subidas
do trajeto se tornaram frequentes e mais íngremes do que aquelas do dia
anterior. O vento contra também não ficou ausente da festa. Os trechos de
subida eram completados a 5 km/h. Impossível empregar uma velocidade maior com
todas aquelas condições em uma bicicleta carregada. Que sofrimento.
A velocidade
lenta me proporcionava ver toda a plantação de cana-de-açúcar em meio aquela
maravilha de rodovia e comparar com as estradas paulistas onde o cenário não é
muito diferente.
Em uma das
infinitas subidas, a chuva deixou a timidez de lado e apareceu com força, mas
da mesma forma como chegou, foi embora, sem cumprimentar ou despedir de
ninguém, curta e grossa, sua pancada foi apenas passageira. Ainda bem.
No final de
outra subida, mais uma surpresa, ao parar e degustar algumas bolachas notei o que pensei ser uma ave em queda livre
em uma área verde com muitas árvores que contrastava com os canaviais
visualizados até então. Não demorou muito e outro rasante. Desta vez fiquei
mais atento e percebi que na verdade não se tratava de um pássaro e sim um,
dois, três, vários macacos bem pequenos e ligeiros. Um deles, sem se importar
com a minha presença, posou para as fotos e garantiu registros muito bons. Essa
é uma das diferenças de viajar de bicicleta.
As subidas
teimavam em continuar e após o término de mais um aclive, outra surpresa, agora
um ciclista passou a pedalar ao meu lado no acostamento. Chegou silenciosamente
e confesso que levei um pequeno susto com sua aproximação. Começou a conversar
e logo qualquer desconfiança foi deixada de lado. Ele era o Robert, um holandês
que conhece o Brasil de longa data, inclusive, é casado com uma brasileira de
Olinda em Pernambuco. Atualmente de férias no país com a família, comprou uma
bicicleta simples por 130 reais e resolveu ir de Recife à Baía de Traição na
Paraíba, quase divisa com o Rio Grande do Norte. Quando ele me encontrou já
estava retornando à capital pernambucana.
Muito simpático
e comunicativo, Robert, que também fala português, me pareceu uma boa companhia
para pedalar. Quando ele disse que terminaria o dia na cidade de Conde, ainda
na Paraíba, não pensei duas vezes em poder acompanha-lo, mesmo que finalizasse
o dia antes do que havia previsto inicialmente.
Seguimos
conversando bastante, contei sobre a minha viagem e ele mencionou sua história
e relação com o Brasil. Com certeza não faltou assunto durante o pedal, tanto
que não demorou muito para visualizarmos João Pessoa da estrada. Ao meio-dia
estávamos em Bayeux que apesar do nome francês é uma cidade metropolitana e foi
a nossa parada para o almoço que aconteceu em um pequeno bar que também oferecia
refeições a 8 reais. O prato feito estava muito caprichado, conforme o
solicitado. Aliás, excelente atendimento. O pessoal ficou bem curioso com a
nossa presença.
Depois do
almoço continuamos em direção à Conde passando pelo perímetro urbano de João Pessoa.
O trânsito mais movimentado da capital paraibana nos fez pedalar com mais
atenção até a situação voltar ao normal. Algo que aconteceu somente na chegada
ao trevo de acesso à Conde que está localizado a 3 km da BR 101.
A PB 018 nos
desejou boas-vindas com uma gigantesca subida até a chegada à Conde onde uma
farmácia foi convidativa para eu procurar alguma coisa para melhorar a minha
saúde. Tenho certa aversão a remédio, até porque raramente sinto mal-estar, mas
diante das circunstâncias era preciso auxilio para acabar com a tosse e a febre.
A atendente da
farmácia recomendou um xarope e outro remédio que o Robert reprovou apenas no
olhar e depois completou dizendo que nenhum deles era antibiótico e que pouco
adiantaria. Acontece que o ciclista holandês é enfermeiro e suas palavras foram
com propriedade. A mulher, ao escuta-lo, mencionou que antibiótico era vendido
apenas com prescrição média. Na mesma hora questionei como encontraria um
médico para ser examinado e para minha surpresa ela indicou a Policlínica da
cidade, onde eu poderia ser atendido, ainda naquele horário. Detalhe, já
passava das 17 horas.
No hospital
expliquei a situação e logo me encaminharam para o médico. Atendimento sem
burocracia e extremamente rápido. Na conversa com o médico ele mencionou que eu
estava com uma virose, por isso o motivo da tosse e febre. Além de um
antibiótico, me receitou também um xarope e vitamina C. O primeiro remédio
tinha disponível na farmácia do próprio hospital e saiu gratuitamente. Confesso
que fique realmente surpreso com todo o processo. O Robert também ficou
espantado e disse que jamais havia visto algo parecido na Holanda. Felizmente
nem tudo está perdido no Brasil.
Após a consulta
no hospital voltei à farmácia para comprar o xarope e a vitamina C. Vinte reais
a menos no bolso. Paciência. Pelo menos é para a minha melhora. Aproveitamos e perguntamos aos moradores locais
sobre a existência de pousadas, mas para a nossa surpresa, havia hospedagem
somente em Jacumã, distrito litorâneo que estava há 15 km. Já escurecia e o
Robert não queria pedalar de noite, mas sem muito o que fazer a opção foi
seguir viagem.
Continuar pela
PB 018 implicaria em mudar a nossa rota para o dia seguinte, mas ambos
concordamos que isso não seria nenhum problema, uma vez que conheceríamos essa
parte do litoral e ainda sairíamos um pouco do trânsito movimentado da BR 101, para onde
retornaríamos de qualquer forma no dia seguinte.
O caminho entre
Conde e Jacumã foi repleto de sobe e desce em uma estrada sem acostamento e com
buracos. Precisamos seguir com cuidado para não nos envolvermos em nenhum
acidente. O Robert estava sem iluminação na bicicleta e acabou seguindo
na frente com ajuda do farol da Victoria que conseguia clarear bem a estrada.
Na entrada de
Jacumã encontramos uma pousada e fomos averiguar o preço da diária. Um quarto
com duas camas, 120 reais. Misericórdia. Claro que a minha reação foi de
espanto e decepção. Já dizia obrigado e saia do estabelecimento quando a
proprietária começou a baixar o valor que chegou a 80 reais, dividindo por 2
ficava 40 para cada e ainda continuava alto e não era nada interessante para o
meu bolso. Mas o holandês estava disposto a permanecer e deu a sugestão de
pagar 50 reais. Assim, com muito custo, desembolsei 30 reais. A vantagem da
hospedagem é que tinha café da manhã no dia seguinte. Uma refeição a mais.
As acomodações
da pousada sem dúvida eram compatíveis com o preço da diária, cama confortável,
instalações novas, televisão e chuveiro com água quente. Tudo muito propício
para um descanso merecido.
Dia finalizado
com 81,71 km em 6h37m e velocidade média de 12,3 km/h.
05/07/2013 - 362°
dia - Jacumã (Paraíba) a Igarassu (Pernambuco)
Pedalando por
terras pernambucanas.
Noite tranquila
na pousada. Já que o café da manhã não seria servido antes das 7h30m não tinha
necessidade nenhuma de colocar o celular para despertar. Aproveitei para
descansar bastante antes de seguir viagem. Acordei por volta das 6h30m e
levantei minutos depois para deixar tudo arrumado nos alforjes.
A refeição
matinal estava um verdadeiro banquete e foi preparada exclusivamente para nós
dois que éramos os únicos hóspedes da pousada. Algo que explica o porquê do
desconto considerável no preço da diária. Enfim, sei que devorei muitos pães,
frutas, leite e suco. Tudo o que tinha direito. Devo recuperar todas as
energias para poder continuar a viagem firme e forte.
Às 8h30m
voltamos à estrada. Tempo mais uma vez estava aberto; sol, poucas nuvens e
muito vento contra para variar. Mas a paisagem no começo da manhã foi
magnifica, afinal, tivemos a oportunidade de visualizar o imenso oceano, agora
em território paraibano. Mais próximo das areias das praias de Jacumã, também
registramos todo o ambiente praiano antes de seguir pela PB 008 em direção à
Caaporã e consequentemente o retorno à BR 101 para chegar à Pernambuco e sua
capital.
O trecho na PB
008 pegou a gente de surpresa por causa das inúmeras subidas extremamente
inclinadas. Uma verdadeira montanha-russa em solo paraibano que não
esperávamos. Ao contrário do Robert, eu estava com a bicicleta completamente
carregada e o avanço pelas ladeiras não era nada fácil, mas ainda assim eu
contava com a ajuda das marchas, algo que o holandês não dispunha em sua
simples magrela, ou seja, no final, ambos seguíamos bem lentos.
O deslocamento
mais lento não nos impediu de aproveitar a viagem, curtir a paisagem, contar
muitas histórias e rir bastante. Sem dúvida é muito significativo ter uma boa
companhia para viajar.
A rodovia
estadual não está em suas melhores condições, trechos sem a sinalização
horizontal, sem acostamento e uma pavimentação que deixa a desejar, contudo, a
paisagem é compensadora, sobretudo, nos momentos em que a estrada se aproxima
do mar que é mais bem visualizado no topo das inúmeras subidas. Talvez o local
mais bonito de se admirar as águas verdes do oceano seja na região da Praia
Bela. A vista é sensacional.
No decorrer do
pedal, mais subidas, plantações de cana, bananas e muitos coqueiros. Na pista a
surpresa foi uma cobra verde que passou despercebida pelo holandês que achou
que ela estivesse morta no asfalto. Por muito pouco ele não passou por cima
dela. Não sei qual nome e muito menos se é venenosa, sei que a afastamos para
fora da pista para não ser atropelada como acontece com tantas outras.
No trevo para
Pitimbu saímos da PB 008 e começamos a pedalar pela PB 044 em direção à
Caaporã. Não tem muita coisa pelo caminho, mas surpreendentemente apareceu um
pequeno e peculiar vilarejo denominado Taquara que aparenta ser bastante
antigo, sobretudo, pelo estilo das casas, ruas e uma igreja que se destaca às
margens da rodovia. No entanto, não havia restaurante no local e seguimos sentido
à Caaporã. Mas não precisamos pedalar muito e encontramos um restaurante perdido
à beira da estrada com buffet a 8 reais. Comida simples, porém muito boa. No
final, o Robert pagou meu almoço. Segundo ele, uma ajuda para a minha viagem.
Valeu holandês.
Caaporã não
demorou para aparecer e quando surgiu trouxe um movimento intenso de veículos.
Muitos caminhões e ônibus tiraram tinta das bicicletas. Quem passar pelo local
tome bastante cuidado, pois como foi mencionado, não existe acostamento e
vários motoristas simplesmente não se importam com a sua presença.
Ainda bem que
não precisamos ficar muito tempo pedalando na PB 044 já que a BR 101 apareceu para
aliviar a situação. Mais do que isso, a rodovia federal trouxe a divisa entre
os estados da Paraíba e Pernambuco. Eu passava a pedalar pelo 11° Estado
brasileiro nesta expedição. Sei que já deixei escrito em outras
postagens, mas essa sensação de entrar em um novo Estado é sempre muito boa.
Tínhamos planos de chegar à Recife ainda no final do dia, mas com as subidas da PB 008 e
o vento contra, esse objetivo se tornava extremamente difícil de ser alcançado.
Analisando o mapa e as distâncias, combinamos de terminar o dia na cidade de
Igarassu que ficava aproximadamente há quarenta quilômetros.
Uma obra de arte da Polícia Federal. Uma placa diz que existe uma filmadora no local. Mas tenho minhas dúvidas. |
Fica até chato e repetitivo de escrever, eu sei, mas a realidade tem sido esta; o trecho até
Igarassu foi com mais subidas e vento contra, no entanto, pelo menos o
acostamento oferecia uma segurança maior diante do movimentado trânsito na
rodovia que continuou duplicada. Na BR 101 o Robert estava com um ritmo muito melhor
e avançava rápido demais nas subidas e não raramente me esperava no final
delas. Acho que ele conseguiria facilmente chegar à sua casa se não fossem
essas paradas. Mas em momentos como esse é que conseguimos distinguir os
verdadeiros companheiros.
A escuridão
apareceu antes de Igarassu que foi surgir após mais uma infinidade de subidas.
Vai ter subida assim lá nos Andes. Misericórdia. Por volta das 19 horas estávamos
no local desejado. Seguimos ao centro e no meio do caminho encontramos a
Pousada Igarassu onde o quarto mais econômico saiu por 38 reais. Assim, cada um
desembolsou 19 reais. Muito mais barato do que a pousada do dia anterior. Claro
que as acomodações não se comparavam, todavia, ainda permitia um descanso
merecido.
Dia finalizado
com 98,93 km em 8h10m e velocidade média de 12,0 km/h.
06/07/2013 - 363°
dia - Igarassu a Recife
Finalmente na
capital pernambucana.
A noite foi
relativamente tranquila na pousada. Muitas muriçocas no quarto impediram um
sono mais tranquilo. Mas ainda assim foi possível descansar para completar mais
uma etapa da viagem. Minha tosse tem diminuído. Não tive mais febre e muito
menos dores musculares. A gente perde a batalha, mas não a guerra. Avante.
Havíamos
combinado de começar a pedalar às 6 horas da manhã porque ambos tínhamos que
chegar cedo à capital. O anfitrião João Almeida nos encontraria na estrada para
me acompanhar até sua residência. A ajuda do camarada foi mais do que bem-vinda já
que o deslocamento, sozinho, pela enorme Recife não seria dos mais fáceis.
Com a saída
programada para às 6 horas, acordei uma hora antes e preparei meu café da manhã
com pão, geléia e leite, este último comprado em um supermercado na noite anterior. Não estava à altura da refeição matinal de ontem, mas
sem dúvida ajudou a reforçar as energias.
Com as bagagens
arrumadas, saímos da pousada no horário previsto, contudo, quando já estávamos
na estrada, lembrei que meu chinelo havia sido esquecido na hospedagem. Claro
que não pensei duas vezes em retornar para busca-lo. Eu é que não quero gastar
dinheiro com calçado a essa altura do campeonato. Acho que perdemos vinte
minutos com o meu esquecimento. Acredito que o holandês não gostou muito, mas não
disse nada. (Risada Sacana).
Novamente na BR
101 a chuva voltou a cair enquanto passávamos pelo município de Abreu e Lima. Na
sequencia chegamos à cidade metropolitana de Paulista e encontramos o João Almeida
na estrada. O anfitrião é mais um amigo da época da comunidade Cicloturismo no
Orkut. Antes de começar essa viagem entrei em contato para verificar uma
possível hospitalidade na capital pernambucana que foi prontamente aceita.
Desde então ele vem acompanhando toda a viagem através do diário de bordo e não
tem medido esforços para me ajudar durante a minha passagem pelo nordeste.
Muito obrigado, meu amigo.
Encontro com o João Almeida que ficou surpreso ao me ver com a camiseta de seu grupo de cicloturismo de Sertânia. A mesma foi um presente do amigo Fernando de Natal. |
Como a casa da
família do holandês ficava no caminho (Janga/Paulista) em que seguiríamos,
pedalamos juntos até o local de sua estadia, onde aproveitamos para conhecer seus familiares,
que por sua vez, nos recebeu muito bem e ainda ofereceu um café da manhã saboroso
com direito a uma das melhores tapiocas que provei na viagem.
Despedimos do
pessoal, principalmente do camarada Robert e continuamos em direção à Olinda
que já seria visitada por estar no trajeto. Na cidade histórica foi preciso
subir as ladeiras inclinadas da Sé para chegar ao local mais alto da parte colonial.
A vista do oceano, Olinda e Recife são incríveis. Não menos interessante é o
ambiente proporcionado pelas ruas e construções antigas de Olinda que é considerada
Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade.
Não é difícil
encontrar, em meio às estreitas ruas, artesanatos pelas inúmeras lojas e barracas. Entre as obras de artes
expostas estão os famosos bonecos gigantes que são figuras marcantes no
conhecido carnaval da cidade onde a festividade é conduzida, sobretudo, pelo
ritmo do frevo, típico de Pernambuco.
Na parte baixa
do centro histórico a passagem pelas ruas de calçamento com construções
antigas (bem preservadas) é uma verdadeira volta ao passado. Vale a pena
caminhar ou pedalar pela área tombada (1/3 de Olinda) pelo patrimônio
histórico.
Depois de uma
volta por Olinda estava na hora de, finalmente, pedalar pela capital
pernambucana. Em Recife o trânsito é típico de uma grande capital, contudo, nosso
deslocamento aconteceu sem maiores dificuldades. O anfitrião pegou alguns atalhos e
quilômetros depois chegamos à sua residência.
Devidamente instalado, tomei um banho
e logo já estava de volta às ruas da capital, desta vez para participar da
festa do grupo de ciclismo Maré Biker’s que o João Almeida faz parte. O almoço era uma
comemoração especial aos aniversariantes – membros do grupo – dos últimos três
meses. No local fui muitíssimo bem recebido e claro que não faltaram conversas e comidas interessantes. Provei, pela primeira vez, buchada de bode, que desceu muito bem. Na hora de irmos embora tive uma grande surpresa quando o
pessoal se reuniu e colaborou com uma vaquinha para o término da expedição. Em
poucos minutos reuniram quase 150 reais. Muito obrigado a cada um que contribuiu.
Pode ter certeza que cada centavo será bem investido.
Buchada de bode. |
À mesa com os ciclistas da Maré Biker's. |
Confraternização do Maré Biker's |
Maré Biker's apoiando o cicloturismo. |
No resto da
tarde fomos para outra festa, dessa vez, um aniversário do genro do João
Almeida. O local ficava no bairro da Boa Viagem que concentra a praia – homônima
– mais famosa de Recife. Na ocasião, apenas visualizei as águas verdes do
oceano de dentro do veículo, mas tudo indica que amanhã eu tenha tempo para
andar pela areia e registrar melhor esse paraíso.
A festa estava
muito boa, sobretudo, em razão das pessoas que me fizeram companhia, destaque
para Ricardo e Cris com quem tive um diálogo maior sobre os mais diversos
assuntos. Valeu mesmo pessoal.
Ricardo e Cris. |
Dia finalizado
com 60,94 km em 4h03m e velocidade média de 15,0 km/h.
07/07/2013 - 364°
dia - Recife (Folga)
Recife!
Hoje o dia foi
dedicado para conhecer a capital pernambucana.
Havíamos
combinado de começar o passeio pela cidade bem cedo para aproveitarmos ao
máximo o dia. Por isso, pouco depois das 7 horas da manhã já estávamos nas
extensas avenidas e ruas da capital.
Recife é uma
cidade moderna e atualmente tem mais de 1,5 milhão de habitantes. Sua região
metropolitana, no entanto, concentra uma população muito maior e tem o posto de
a mais rica do norte-nordeste brasileiro. Algo que pode ser facilmente identificado em um
passeio pelo município, sobretudo, na região sul de Recife, onde se concentram
aqueles com melhores condições financeiras.
Ainda no que
diz respeito à modernidade, a capital pernambucana me lembrou muito Fortaleza
com suas construções verticais espalhadas por toda a cidade, principalmente na área
que compreende a beira-mar. A região metropolitana é a terceira mais densamente
habitada do país, talvez isso explique o número de edifícios, uma vez que o
espaço geográfico se torna limitado para compreender cada vez mais pessoas que
optam por morar na região.
Se por um lado,
Recife parece uma capital moderna e com a disponibilidade de diversificado comércio, serviços e indústrias, por outro, a cidade também apresenta vários problemas,
por exemplo, transporte, mesmo com a existência do metrô. Não raramente,
segundo meu anfitrião, as vias estão congestionadas, sobretudo, nos horários de
rush. As empresas de ônibus que
realizam o transporte público não oferecem veículos e linhas suficientes para
atender razoavelmente seus passageiros. Resultado é a insatisfação frequente dos
usuários com o serviço prestado. Situação não muito diferente da maioria das
cidades brasileiras. Prato cheio para a triste ilusão de utilizar o veículo próprio como solução.
O município
também sofre de um problema bastante comum nas capitais do norte e nordeste
do país, a precariedade das vias urbanas em áreas um pouco mais afastadas dos
grandes centros urbanos e comerciais. Não raramente se encontram ruas e
avenidas com verdadeiras crateras que prejudicam o deslocamento de todos, não
somente dos veículos motorizados. Um completo descaso público. As obras
existentes – pelo menos aquelas visualizadas – estão relacionadas com a Copa do
Mundo de 2014, contudo, elas não estão distribuídas nas periferias da cidade. Copa
para quem mesmo?
Nossa visita
principal estava destinada ao centro histórico da capital, mais precisamente ao
Bairro Recife, também conhecido como Recife Antigo. O local nos remete ao
século XVI quando um porto foi construído para escoar a produção, sobretudo,
açucareira da região. Desde então o bairro se expandiu com a construção de
casas, prédios e armazéns que propiciou todo um comércio em torno do porto, surgia a futura capital do estado. Os
séculos passaram e a região sofreu constantes reformulações, principalmente com a presença dos holandeses, entretanto, na
década de 1980 com a construção do Porto de Suape (entre Ipojuca e Cabo de
Santo Agostinho), o bairro de Recife passou a entrar em decadência, incluindo o
conjunto arquitetônico que, felizmente, foi restaurado no começo do século XXI.
Atualmente um
passeio pelo Recife Antigo nos proporciona esse contato mais próximo com o passado,
seja através das ruas, casas antigas, prédios coloniais e todo um
ambiente histórico de uma região que já foi habitada pelos índios tupis e
também colonizada por portugueses e holandeses.
O destaque do
centro histórico sem dúvida fica na Praça Rio Branco que além de concentrar os
prédios antigos mais interessantes da região (Instituto Cultural do Bandepe;
Associação Comercial de Pernambuco; Bolsa de Valores “Caixa Cultural”) também
abriga o conhecido Marco Zero, instalado no final da década de 1930 pelo
Automóvel Clube de Pernambuco. A denominação está relacionada ao ponto como referência
para “todas as medidas oficiais de distâncias rodoviárias locais”.
Registro no Marco Zero. À esquerda Associação Comercial de Pernambuco e à direita antiga Bolsa de Valores. |
Marco Zero. |
Instituto Cultural do Bandepe |
Instituto Cultural do Bandepe |
Associação Comercial de Pernambuco. |
Antiga Bolsa de Valores. Atualmente Centro Cultural da Caixa. |
Centro de artesanato de Pernambuco |
No Marco Zero é
possível visualizar a famosa e grandiosa Coluna de Cristal, obra de Francisco
Brennand. Essa e outras criações do artista são encontradas no Parque das
Esculturas que fica em um dique natural com extensão de quatro quilômetros. Para chegar ao local,
partindo da Praça Rio Branco, basta pegar um simples barco cuja passagem de ida
e volta custa 5 reais por pessoa. Como existem várias embarcações, as saídas
são frequentes e a travessia não leva cinco minutos.
Coluna de Cristal visualizada do Marco Zero. |
Embarcações que fazem a travessia para o Parque das Esculturas. |
Em direção ao Parque das Esculturas. |
Camarada João Almeida. Marco Zero ao fundo. |
Uma caminhada
pelo Parque das Esculturas é interessante. Além das obras de arte é possível
visualizar o mar aberto que o dique esconde do Marco Zero. Se você passar pelo
local certamente deverá se deparar, também, com vários pescadores, eles estão em todas as
partes do parque que proporciona um panorama diferente dos prédios da Praça Rio
Branco. Recomendo o passeio.
Dique no Parque das Esculturas. |
Coluna de Cristal |
Registro garantido. |
Primeira vez que o anfitrião visitava o Parque das Esculturas. |
A visão do mar sem fim. |
Pescador solitário. |
In foco. |
Pescadores e suas tralhas no Parque das Esculturas. |
Edifício Maurício de Nassau |
Centro histórico visto do Parque das Esculturas. |
Instituto Cultural do Bandepe, Associação Comercial e Bolsa de Valores. |
Recife Antigo |
Outro ângulo. |
Região portuária do Recife Antigo. |
In foco. |
In foco. |
Recife moderna. |
Um registro com o camarada João Almeida. |
De volta ao
Marco Zero, a surpresa foi verificar a quantidade de ciclistas. O local
funciona como um ponto de encontro e descanso para quem pedala. Acontece que
aos domingos e feriados, algumas ruas e avenidas da capital tem uma faixa
exclusiva para ciclistas. A ciclofaixa temporária leva uma multidão de pessoas a
tirar suas bicicletas da garagem e coloca-las nas vias urbanas. Infelizmente
essa medida acontece apenas nos dias mencionados, mas permite observar a quantidade de ciclistas existentes na cidade e que a utilização da bicicleta poderia ser mais
bem considerada pelas autoridades públicas para começar a se pensar em
realmente oferecer condições para um tráfego mais seguro aos ciclistas. E não me
refiro somente à ciclovias e ciclofaixas, me remeto a toda uma educação no
trânsito. Sem dúvida as medidas colocariam mais bicicletas e ciclistas nas ruas
e diminuiria os congestionamentos corriqueiros da cidade.
Uma multidão de ciclistas no Marco Zero. |
Espaço reservado aos ciclistas delimitado com cones. |
Faixas reservadas aos ciclistas nos domingos e feriados. |
Eles estão em todas as partes. |
Uma imagem vale mais do que mil palavras. |
Espaço para todas a tribos. Pedale você também. |
De qualquer
forma, é bonito ver tanta gente pedalando, são crianças, jovens, adultos e
idosos. Não existe classe social definida entre os ciclistas. São pessoas de
todas as tribos. Bicicletas de todos os tipos e valores. O que importa para
eles, na minha concepção, é o movimento. Talvez essa prática esteja associada
pelos governantes e até mesmo por muitos ciclistas como uma atividade apenas de lazer.
Mas a bicicleta proporciona muito mais do que essas horas agradáveis. Esse
simples instrumento pode e deve ser utilizado e pensado como meio de transporte
cotidiano. Os benefícios particulares e coletivos são enormes.
Na Praça Rio
Branco, o anfitrião ainda encontrou com alguns amigos e
conhecidos, entre eles o Elves Emanuel que pedalava com a sua dobrável.
Conversamos um pouco sobre a expedição, a cidade e sua mobilidade urbana, entre outros assuntos interessantes. Claro
que não deixamos de registrar o momento. Grande abraço, camarada.
João Almeida, eu e Elves. |
Na sequencia
caminhamos por mais ruas do centro histórico que apresenta construções antigas,
entre elas, algumas igrejas, muito bem preservadas e restauradas e outras em um
estado totalmente contrário. Ainda bem que os prédios aparentemente abandonados
são minoria.
Pelas ruas do centro histórico. |
Construções antigas. |
Construções antigas. |
Alguns prédios em estado lamentável. |
Torre Malakoff. Antigo observatório astronômico do século XIX. |
Torre Malakoff também apresenta eventos culturais. |
Construções antigas. |
Pelas ruas do centro histórico. |
Fica o alerta! |
Centro histórico e suas diversas pontes. |
In foco. |
In foco. |
In foco. |
Antiga Santa Casa. |
Igreja da Madre de Deus. Construída no século XVII |
Pelas ruas do Bairro Recife. |
Após uma caminhada
pelo Recife Antigo, nos direcionamos à Praia da Boa Viagem. No caminho passamos
pelo local onde o Frei Caneca foi executado. Fica praticamente ao lado do Forte
das Cinco Pontas, uma construção da época da colonização holandesa.
Obelisco. Homenagem aos 350 anos da Restauração Pernambucana. |
Local onde Frei Caneca foi executado. |
Forte das Cinco Pontas. |
Forte das Cinco Pontas. |
Novamente em
Boa Viagem, consegui, finalmente, registrar uma das praias mais conhecidas do
Brasil. Indubitavelmente a beleza do local deixa qualquer turista admirado,
contudo, a natureza não se faz ainda mais presente apenas na cor esverdeada da água ou a areia da
praia repleta de coqueiros. Boa Viagem também é conhecida pela presença dos
tubarões. E não é brincadeira. Aqui muitos banhistas e surfistas já foram
atacados. Não à toa muitas placas são encontradas, na extensão da praia,
advertindo sobre os cuidados a serem tomados. Fica a dica.
Praia da Boa Viagem. |
Praia da Boa Viagem. |
Praia da Boa Viagem. |
Praia da Boa Viagem. |
Praia da Boa Viagem. |
Praia da Boa Viagem. |
Praia da Boa Viagem. |
Praia da Boa Viagem. |
Praia da Boa Viagem. |
Praia da Boa Viagem. |
Área sujeita a ataque de tubarão. Simples assim. |
Recomendações para não ser atacado. |
In foco. |
Apesar do
perigo eminente do ataque de tubarões, algumas pessoas ainda se arriscam a
tomar um banho de mar em Boa Viagem. Confesso que compreendo elas porque realmente é uma tentação cair
na água, mas prefiro ter minhas duas pernas para poder seguir viagem, por isso,
fiquei apenas do lado de fora da água observando o movimento, que por sua vez, era
bastante grande, seja na praia ou no calçadão que além do espaço para
caminhada, conta com uma ciclovia. Ambos os espaços estavam lotados de pessoas
praticando exercícios ou somente curtindo a brisa do mar. Local bem agradável.
Gostei.
Pegar uma onda? Desta vez estou fora! |
Praia da Boa Viagem. |
Ciclovia e calçadão na Praia da Boa Viagem. |
Muito obrigado,
camarada João Almeida, pela companhia e disposição para me apresentar a capital
pernambucana.
Depois do
passeio voltamos para casa e comecei a longa jornada para atualizar o diário de
bordo.
08/07/2013 - 365°
dia - Recife (Folga)
Dia dedicado
exclusivamente à atualização do diário de bordo.
09/07/2013 - 366°
dia - Recife (Folga)
Dia dedicado
exclusivamente à atualização do diário de bordo.
Um ano na
estrada.
Hoje a
expedição está de aniversário. Há um ano eu começava a viagem que mudaria minha
vida. Nestes doze meses cheguei a marca dos 16.725 km pedalados por 5 países e
11 estados brasileiros, contudo, não são os números que ficam marcados e sim
uma infinidade de histórias, aventuras, aprendizados, pessoas, enfim, um estilo
de vida que se renova a cada dia. Poderia muito bem fazer um longo discurso
sobre esse momento, mas esse período todo já tem sido compartilhado com vocês.
Então acredito que consigam entender e/ou imaginar a minha felicidade.
Não é fácil
passar tanto tempo longe, os obstáculos existem a todo o momento, mas a
determinação, paciência, apoio da família e amigos e a fé em Deus e na vida têm
permitido o meu avanço para a concretização deste projeto que não deixa de ser
a realização de um sonho e o começo de uma vida nova.
No período da
noite, recebi mais um presente dos ciclistas da capital pernambucana. Desta vez
o grupo Ferrugem Bike se reuniu e juntou uma vaquinha para colaborar com o
restante da minha viagem. A contribuição atingiu quase cem reais. A ajuda não
seria possível sem a participação do anfitrião João Almeida que entrou em
contato com os membros do grupo. Obrigado a todos vocês. Tenham certeza que
essa ajuda é muito bem-vinda e de extrema importância para sequencia da
expedição.
José Alves, presidente do Ferrugem Bike, eu e João Almeida. |
Registro com parte da galera do Ferrugem Bike. |
Também não
posso me esquecer de agradecer aos amigos do trabalho do João Almeida que não deixaram de colaborar financeiramente com a viagem. Valeu mesmo pessoal.
Por fim, quero
deixar meu sincero agradecimento àqueles que vêm me acompanhando, ainda que à
distância, durante esse um ano de viagem. O apoio de vocês tem sido fundamental
para a realização da expedição. Muito obrigado por tudo.
10/07/2013 - 367°
dia - Recife (Folga)
Dia dedicado
exclusivamente à atualização do diário de bordo.
11/07/2013 - 368°
dia - Recife (Folga)
Dia dedicado
exclusivamente à atualização do site.
Finalmente
terminei mais uma postagem.
Partiria amanhã
em direção à Maceió no estado de Alagoas, mas vou aproveitar para descansar mais um dia na confortável residência do João Almeida onde estou sendo muito bem recebido por toda a família. Tenho me sentido em casa. Assim, seguirei viagem apenas no sábado com a companhia do anfitrião que vai pedalar
um trecho comigo.
No final da próxima
semana quero estar em Aracaju - Sergipe, onde provavelmente farei a próxima
atualização. Amigos da capital sergipana, me aguardem.
No mais, sigo
me recuperando da tosse. Não houve mais febre e dores musculares. Agora é questão
de pouco tempo para restabelecer totalmente o organismo.
Para finalizar, coloco à disposição um vídeo sobre o Estado de Pernambuco para quem se interessar em conhecer melhor a região:
Grande abraço a
todos.
“Hasta la
Victoria Siempre”
E ae camarada, acabo de planejar um pedal do Rio de Janeiro Capital, onde moro, para Alto Paraíso do Goiás. Parto daqui no dia 14/07/13, e achar seu blog foi um grande incentivo!! Boa Sorte na sua Jornada, acompanharei você por aqui, e se quiser me acompanhar, meu diário de bordo é esse: http://izzytrip.blogspot.com
ResponderExcluirPaz, rumo à liberdade! Sempre! Um abraço!
Buenas camarada.
ExcluirBruno, fico feliz em saber que o site tem conseguido incentivar um número cada vez maior de pessoas que deixam o medo e todos os obstáculos de lado para colocar a bicicleta na estrada em direção à liberdade. Um dos objetivo de compartilhar todo esse conhecimento adquirido é justamente este, incentivar, mostrar que outro estilo de vida é possível. E o cicloturismo nos permite e ensina isso, uma vida renovada a cada dia. Portanto, espero que você tenha realizado com sucesso sua viagem entre Rio de Janeiro e Goiás. Não deixe de nos contar como foi essa experiência.
Rumo à liberdade. Grande abraço.
"Hasta la Victoria Siempre"
Grande Nelson!
ResponderExcluirMeu camarada,cada vez mais perto de Aracaju/SE,jtem alguma previsão do dia que você estará chegando em Aracaju/SE. Já conversei com Fernando e vamos ter que queimar uma carne quando você estiver aqui.Nelson você vai entrar pela cidade de japaratuba,Barra dos coqueiros e Aracaju ou seguirá direto pela BR 101 até Aracaju?Cara uma diga para você, muito cuidado com a Br 101 logo que você entra no estado de Sergipe. Estão duplicando a pista e está muito perigosa, pouco acostamento,desvios e máquinas na pista. Passei por ela 3 semanas atrás. Nesse caso penso que seria melhor você Pegar Maceió,Praia do Francês,Barra de São Miguel,Praia do Gunga (tem um mirante muito legal para tira fotos),Coruripe,Feliz Deserto,Piaçabuçu que seria a divisa de Alagoas e Sergipe.Vale lembrar que essa estrada não é uma das melhores quando se falamos em acostamento,mas em relação a movimento de carros é bem menor.Chegando na divisa você pega um barquinho para fazer a travessia do rio São Francisco até a cidade de Brejo Grande/SE. (Quando fui a Maceió de Bike queriam me cobrar R$ 15,00 pela travessia mas no final da história paguei r$ 7,50.Por esse caminho você vai evitar um bom trecho da BR 101, onde depois você vai ser obrigado a entrar nela.Mais a frente você tem outra opção, você pode cortar ela novamente entrando na cidade de Japaratuba/SE, onde você vai pegar uma estrada tranquila mas quase sem acostamento, onde o mesmo só aparece na cidade de de Pirambú/SE, onde até Barra dos coqueiros e Aracajú a estrada está perfeita!Volto a repetir você tem a opção de continuar pela BR 101, o caminho se não me engano e até mais perto só que meu amigo você se sente muito pequeno no meio de tantas carretas e carros. Digo isso por experiência própria,mas vale lembrar que seria bom você ver outras opniões com o pessoal de maceió em relação ao caminho, fica a dica!
Meu camarada te desejo uma viagem tranquila e que venha Aracaju! Quando você estiver próximo a cidade da Barra dos Coqueiros e for sexta feira dia 19/07 me ligue,pois nesse dia estou de folga e posso ficar te esperando na cidade da Barra do coqueiros para te mostrar o caminho até a casa de Sandra/Fernando. Meu número é o 079-88064640 ou 079-99692727,caso seja outro dia e se você chegar até às 15:00 posso te esperar também pois me trabalho só começa às 18:00.
Grande Abraço e Hasta luego!
Buenas hermano.
ExcluirGrande Guylherme, dicas preciosas. Respondo esse comentário com certo atraso e depois de atualizar o tópico Brasil VI onde relato, entre outras coisas, que a sua sugestão mencionada acima foi levada em consideração e nos ajudou muito a chegar com segurança à capital sergipana, onde fui muitíssimo bem recebido por você e o camarada Fernando. Toda essa hospitalidade também está relatada no tópico em questão. Só tenho a agradecer pela enorme acolhida.
Grande abraço.
Hasta!
Boa Nelson,
ResponderExcluirvou admitir aqui que meu maior medo, desde que comecei a acompanhar o diário era você ficar doente, pelo fato de estar sozinho. Por sorte parece que não é nada grave e espero que você se recupere e possa seguir nessa aventura sem mais sustos.
Sigo acompanhando a viagem e desejo toda a sorte do mundo.
Grande abraço,
Vinicius Rodrigues
Buenas camarada.
ExcluirGrande Vinicius, apesar de, infelizmente, não me alimentar adequadamente (como gostaria) por inúmeros motivos, sempre procurei cuidar da minha saúde, tanto que apesar dos pesares o corpo se fortaleceu durante a própria viagem, resultado prático disso é que não tive nenhum resfriado no rigoroso inverno dos Andes. Mas as últimas semanas no nordeste brasileiro apresentou uma situação diferente, variação constante de temperatura, refeições cada vez mais limitadas e essa virose da moléstia que me deixou com essa tosse que foi difícil de passar pela falta de repouso. Mas hoje já estou bem, graças a Deus, e pronto para seguir viagem. Sem mais sustos.
Grande abraço.
Hasta.
Quando você chegar em Foz do Iguaçu vai poder dizer:"Mãe, cheguei! Fui dar uma voltinha de bicicleta." rs
ResponderExcluirGilberto Braz
Buenas Gilberto.
ExcluirEssa merece a conhecida "risada sacana", rs. Confesso que não vejo a hora de poder reencontrar a mãe e toda a família e os amigos que me esperam na Terra das Cataratas. Cada dia fico mais próximo do Sul do país. Agora faltam menos de 3 mil km para finalizar, com sucesso, a "voltinha" de bicicleta, rs.
Obrigado pela visita ao diário de bordo.
Grande abraço.
Hasta!
E ae Nelsão, bom ver notícias suas meu amigo, fico sempre apreensivo, assim como o camarada Vinicius ali acima, justamente por viajar solito, mas graças a Deus sempre tem uma boa alma pra lhe ajudar e não raro estão sendo os milagres na sua viagem, até o atendimento num pronto socorro foi rápido, isso sim foi milagre em se tratando de Brasil, seria cômico se não fosse trágico, rs. Cara, me diga uma coisa, está com pressa de chegar em casa hominho?? como que não aproveita os encantos de Natal ou João Pessoa? tem que apanhar de vara de pessegueiro nessas pernas secas, rs, aproveite ao máximo meu jovem, pois outra viagem dessa acho que não acontecerá tão logo hein, procure não deixar nada para se arrepender depois, hehe. Outro puxão de orelha que sempre esqueço de aplicar: Como que você consegue deixar as câmaras de ar furadas meu amigo? regra nº 1 ao trocar uma câmara de ar: ao colocar a reserva, conserte a furada pra estar apta ao próximo reparo! Sinceramente toda vez que você relata que ao colocar a câmara reserva e constata que está furada, sinto vontade de te bater hominho, não aprende nunca, hahaha, sei que o cansaço é grande no fim do dia, mas apenas fazer o remendo não é tão trabalhoso assim, bem melhor que ter que fazer no meio da rua, não acha? Pense nisso, rs. No mais, a passagem por Recife me surpreendeu, tenho uma imagem bem feia dessa cidade, todos que conheço falam mal pacas (inclusive um amigo que mora lá), mas achei a parte histórica muito bonita. Ah, também achei que o tal do caranguejo não vale a pena o esforço, rs. Vai pedalando daí que ficamos torcendo pelo melhor daqui! Abraço meu amigo, e até o próximo capítulo, rs.
ResponderExcluirBuenas hermano.
ExcluirPois é, camarada, milagres me acompanham, graças a Deus, essa do atendimento médico realmente foi surpreendente.
Se estou com pressa? Oras, que pergunta, rs. Meu amigo, é muito tempo na estrada e a canseira é inevitável. Não me refiro ao desgaste físico que também existe, mas digo em relação à parte psicológica. O planejamento de uma viagem deste porte não é simples e eu estava ciente disso, mas fazê-lo durante um ano é extremamente árduo, programar onde chegar, dormir, o que comer, o que visitar, roteiro a seguir. e etc. Tudo isso exige muita dedicação, comprometimento para que o projeto seja realizado com sucesso. Isso tem sido feito, mas está longe de ser uma tarefa simples e tampouco fácil.
Você que está acostumado a viajar, certamente deve se programar bem quando saí de férias, não? Essa tarefa nem sempre é fácil. Agora imagine estende-la por todo esse período (mais de um ano) acentua ainda mais a situação. Como deixei claro em uma postagem anterior, o nosso litoral é muito bonito e interessante, se eu fosse conhece-lo em sua totalidade eu voltaria para casa somente em 2014-15 e sinceramente não desejo isso, rs. Portanto, essa opção de selecionar alguns lugares se faz necessária, infelizmente localidades interessantes ficarão sem ser visitadas nesta expedição, mas ainda assim é bom porque sobra lugar para conhecer futuramente, hehe. É preciso pensar positivo. :)
Sobre Natal, infelizmente estava chovendo muito durante a minha passagem por lá e foi quando a moléstia ficou ainda mais intensa. Paciência!
Em relação às câmaras de ar, eu realmente tenho esse costume de não remendar na hora, contudo, sempre deixo uma reserva, o problema na ocasião mencionada é que a reserva que eu pensei estar em condições de uso, leia-se, remendada, também estava furada e aconteceu o que aconteceu, rs. Mas eu ainda aprendo a consertar devida e decentemente uma câmara furada. Risada Sacana.
Sobre Recife, é um excelente lugar para visitar, desde que você não entre nas águas da bonita Praia de Boa Viagem. Certamente você deve ter visto o resultado, recente, da imprudência de mergulhar em um território marcado por tubarões. Mas a capital pernambucana é muito mais do que a praia em questão. Recomendo.
Grande abraço, hermano.
Hasta luego.
Olá Nelson, coordeno aqui em Salvador, a Comunidade Amigos de Bike, e comei conhecimento do seu projeto através do Robert Ayres e do zedequias pereira pelo facebook. Caso precise, posso te oferecer hospedagem aqui em Salvador, modestamente, mas confortável. Vamos nos reunir e te receber com todo o carinho e ávidos pelos "causos" que irás contar para nós!
ResponderExcluirLucia Saraiva - www.amigosdebike.com.br
Buenas Lucia.
ExcluirRespondo esse comentário depois de ter contacta-la pela internet, para agradecer e aceitar a hospitalidade oferecida na capital baiana. Em pouco dias devo chegar à histórica Salvador onde quero conhecê-los para trocar idéias, histórias e muitas risadas. Tenho certeza que será mais um encontro engrandecedor.
Grande abraço.
Hasta luego.
Querido Nelson,
ResponderExcluirGostei os mensagems de nosso dias juntos,um dia eu vou pasar a sua casa com minha magrella,
saudades,por meu amigo
o Holandes
Buenas hermano.
ExcluirMuito bom ter notícias suas. Espero que a volta para a Holanda tenha ocorrido da melhor forma possível. Fico feliz em saber que tenha gostado da atualização do diário de bordo com a sua ilustre presença, claro que não poderia deixar de escrever sobre a sua pessoa. Aproveito a oportunidade para agradece-lo, mais uma vez, pela companhia durante a pedalada. Aguardo você e sua família em Foz do Iguaçu.
Grande abraço, holandês.
Hasta luego..