quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Brasil VII

 31/08/2013 - 419° dia - Rio de Janeiro a Conceição de Jacareí
Último dia de agosto e a despedida da cidade maravilhosa.
Há poucos dias eu atualizei o diário de bordo às 2 horas da manhã e chamei a situação de atípica pelo horário em que a postagem foi realizada, contudo, hoje superei essa façanha. Fui terminar a mesma tarefa apenas às 5h20m da madrugada, ou seja, restou somente uma hora para poder dormir porque às 6h30m o camarada Pablo chegaria à residência do Leandro para me acompanhar na saída da cidade.
Eu nunca dormi tão pouco na minha vida, ainda mais em um dia que antecede uma pedalada longa. Confesso que não tinha a mínima idéia de qual seria o comportamento do meu corpo diante dessa situação. De qualquer forma, quando, às 6h20m, o despertador tocou, levantei imediatamente e comecei a arrumar minhas coisas. Algumas roupas foram separadas para serem deixadas no Rio de Janeiro. Acontece que essa última parte da viagem é repleta de serra, seja no Rio de Janeiro, São Paulo ou Paraná, portanto, me parece uma decisão coerente, já que não estava utilizando essas vestimentas.
Levei mais tempo do que imaginava para arrumar a bagagem e atrasei a saída em quase uma hora. Acho que meus camaradas ficaram um pouco chateados, mas no fundo sei que eles compreendem. Começamos a pedalar apenas às 7h20m.
Meu destino depois da capital fluminense era chegar à divisa com São Paulo pela BR 101, mais conhecida como Rio x Santos. No estado do Rio de Janeiro esse caminho implica na passagem por Angra dos Reis e Paraty, ambas visitadas em expedições anteriores.
Quero chegar à Itanhaém/SP no dia 3 de setembro, mas para isso terei que pedalar uma quilometragem alta. Ao analisar os mapas, coloquei como objetivo terminar o dia em Angra dos Reis, seriam aproximadamente 140 km do Rio de Janeiro. O único problema estava relacionado com a hospedagem. A cidade carece de hotéis, pousadas e qualquer coisa do gênero com preços acessíveis. Estive no local na virada do ano 2008/2009 e foi um sacrifício achar algum lugar para dormir. Detalhe, exceto as famosas ilhas, Angra não tem nada de interessante.
Para evitar uma “roubada”, Pablo me recomendou parar em um local chamado Conceição de Jacareí, alguns quilômetros antes de Angra dos Reis. Considerei a informação e deixei para resolver no final do dia. Pela manhã o objetivo era sair da capital fluminense.
O dia começou muito bom para pedalar, temperatura agradável, tempo aberto, sol, céu praticamente sem nuvens e um vento moderado, quase a favor. A saída da casa do Leandro em Jacarepaguá ocorreu sem maiores dificuldades. Como estava na companhia de dois ciclistas que conhecem a região, pegamos uma das melhores opções para voltar à BR 101.
No caminho para sair do Rio de Janeiro sei que passamos pela imensa Avenida Embaixador Abelardo Bueno onde está localizado o Parque Aquático Maria Lenk e o Autódromo de Jacarepaguá. A região será uma das mais importantes das Olimpíadas. Não à toa a construção civil está à todo vapor. Os imóveis já construídos não devem ser nada baratos.
O relevo todo plano e um trânsito relativamente tranquilo favoreceu nosso deslocamento em um ritmo bom, velocidade quase sempre acima dos 20 km/h. Passamos também na frente da Cidade do Rock onde acontece em poucos dias mais um Rock in Rio. Na sequencia começamos a pedalar pela famosa e imensa Avenida das Américas que sempre me faz lembrar o livro homônimo do Carlos André Ferreira. Apenas saímos dessa via em razão da existência de um túnel onde não é permitido pedalar. Como alternativa pegamos a Estrada da Grota Funda onde encontramos a primeira serra pelo caminho. Acho que foram pouco mais de dois quilômetros até chegar ao topo. A subida não é das mais fáceis, mas também não assusta.

Pelas avenidas do Rio de Janeiro
Após a Serra da Grota Funda voltamos à Avenida das Américas sentido ao bairro Santa Cruz onde está localizada a BR 101. O trajeto é marcado por uma estrada nova, duplicada e com ciclovia, algo que deixa o cenário diferente para a nossa realidade brasileira, contudo, muito agradável e seguro para pedalar. Neste momento fui registrar o local e o visor da minha câmera fotográfica estava funcionando perfeitamente. Que maravilha!

Avenida das Américas
Paisagem
Ciclovia e pista duplicada. Perfeito.
Hermano Pablo.
 Meus grandes amigos, Pablo e Leandro.
Em Santa Cruz a ciclovia terminou e o movimento de pessoas e veículos aumentou bastante. Em determinados trechos tivemos, infelizmente, que dividir um espaço apertado com ônibus e vans, uma delas por pouco não me atingiu. Paciência!
Chegamos à Avenida Brasil e na sequencia ao início da Rio x Santos quando, finalmente, o movimento voltou ao “normal” e o acostamento possibilitou um alivio imediato. Meus amigos seguiram até a cidade de Itaguaí onde paramos e almoçamos com mais de 60 km pedalados. Essa foi a distância para deixar a capital fluminense.

Na conhecida Avenida Brasil.
BR 101 e a famosa Serra das Araras ao fundo. Ainda bem que a estrada não sobe as montanhas neste trecho.
Hasta luego, Rio de Janeiro.
In foco.
Não me recordo o nome do restaurante, mas o prato feito custou na faixa dos 12-14 reais. A comida estava boa, mas a quantidade poderia ser maior. De qualquer forma aproveitei os últimos momentos na companhia dos amigos. Conversamos e rimos bastante. No final, Leandro não me deixou pagar a conta e disse que aquela era mais uma contribuição para a viagem. Obrigado, camarada.

Almoço na companhia desse fanfarrão.
Pouco depois das 13 horas, voltamos à estrada, contudo, em direções opostas. Agradeci meus amigos pela excelente companhia e por todo apoio no Rio de Janeiro. Sem dúvida a passagem pela capital não seria a mesma sem vocês. Muito obrigado mesmo. Na sequencia fui em direção à Angra e eles retornaram por um caminho alternativo.
Itaguaí é uma cidade grande, pelo menos, no que diz respeito ao perímetro urbano que se estende por vários quilômetros às margens da rodovia. Mas, independente disso, meu deslocamento foi tranquilo e continuou rápido, pelo menos até começar a aparecer a esperada montanha-russa da Rio x Santos que voltou a ser de pista simples.
Se não me engano, após os 80 quilômetros pedalados as subidas começaram a ficar frequentes, e algumas delas com extensão de 2 a 4 quilômetros. A passagem pelos aclives diminuiu a velocidade média, mas que ainda assim continuava mais alta do que o normal. O descanso no Rio de Janeiro ajudou a recuperar minhas energias.
O trajeto na rodovia Rio x Santos pode ser repleto de subidas e descidas, contudo, é sem duvidas um dos mais bonitos do Brasil. Em muitos trechos é possível visualizar o litoral e suas belezas, cenário que sempre me impressiona.

A fantástica paisagem da Rio x Santos
In foco.
Cenário perfeito para pedalar.
In foco.
In foco.
Por volta das 17 horas cheguei à Conceição de Jacareí, lugar indicado pelo Pablo para eu terminar o dia, uma vez que poderia encontrar hospedagem mais econômica, contudo, não foi o que constatei. Nos vários estabelecimentos pesquisados a diária variava entre 50 e 150 reais, isso nos lugares mais baratos. Misericórdia. Isso novamente me fez lembrar da minha passagem pelo estado em 2009 quando também houve essa dificuldade em encontrar lugares baratos para pernoitar. Se em Conceição estava desse jeito eu nem imaginava a situação de Angra dos Reis.
Pela primeira vez fui obrigado a desembolsar esse dinheiro todo em uma hospedagem. Isso porque a distância para Angra ainda era de 30 km e seguir naquele momento não era uma boa estratégia, não pelo cansaço, mas pelo sono, afinal, estava apenas com uma hora de sono da noite anterior.
Resolvi ficar na Pousada Thiamar, onde as instalações são novas e o quarto limpo, com televisão, banheiro moderno e wi-fi, contudo, a hospedagem não oferece café da manhã. Paciência.
Com o acesso à internet verifiquei meu e-mail e tive a felicidade de ver que mais uma colaboração tinha sido realizada na vakinha (contribua aqui!). Consequentemente a contribuição diminuía o preço da hospedagem. Muito obrigado a todos que têm colaborado, podem ter certeza que cada centavo faz a diferença. 
Tomei banho, lavei a roupa de ciclismo, preparei a janta e fui descansar o sono dos justos.
Dia finalizado com 126,12 km pedalados em 7h23m e velocidade média de 17 km/h.
01/09/2013 - 420° dia - Conceição de Jacareí a Paraty
Setembro! Último mês da expedição!
Contagem regressiva. Em apenas 15 dias estarei em Foz do Iguaçu, finalizando esse maravilhoso projeto pela América Latina.
Mais uma noite tranquila. E não poderia ser diferente, com o sono que eu estava, dormiria bem até mesmo do lado de uma autopista. Sei que ontem de noite eu tentei escrever no diário de bordo, mas não foi possível porque meu corpo exigiu descanso e não permitiu hora extra. Por isso, hoje, a primeira coisa que fiz ao acordar foi ligar o computador e atualizar o diário que não pode ser mais atrasado, pois não terei mais tempo hábil para escrever tudo de uma vez.
A saída da pousada aconteceu somente por volta das 8 horas. Objetivo do dia era chegar à Paraty, na verdade, eu teria que concluir em Ubatuba/SP para compensar o trecho que ficou para trás ontem, uma vez que parei em Conceição e não em Angra dos Reis como estava programado. Mas para chegar à cidade paulista o pedal seria de 200 km, ou seja, fora de cogitação, considerando o relevo da Rio x Santos. Vou deixar para compensar essa distancia pendente amanhã. Assim, comecei o dia com a pretensão de parar em Paraty.
O tempo estava nublado nas primeiras horas da manhã, mas tudo indicava que era apenas uma questão de tempo para o sol brilhar forte. Algo que aconteceu apenas em Angra dos Reis, onde estava depois de 30 quilômetros pedalados. Entre essa distância, vale destacar que há um trecho com 10 quilômetros com fortes subidas, porém, sem maiores dificuldades para serem completados.
O trajeto até Angra dos Reis também continua marcado pelas maravilhosas paisagens. O cenário com a Mata Atlântica de um lado e o Oceano Atlântico de outro é simplesmente fantástico. Em Monsuaba e Jacuecanga é possível visualizar melhor a praia e toda a movimentação das embarcações, inclusive, de grande porte.

Chegada à Monsuaba
A rodovia continua com acostamento e possibilita um pedal seguro e que permite observar toda essa natureza. Infelizmente o visor da minha máquina fotográfica não funcionou hoje e foi difícil enquadrar as fotos da forma como elas mereciam. Paciência.
Dez quilômetros antes de Angra encontrei um casal de cicloturistas da Holanda que praticamente não falavam português e tampouco espanhol. Como eu não manjo no inglês, nossa conversa se limitou a poucos minutos. Mas foi possível compreender que começaram a viagem em Buenos Aires há sete meses e estavam próximos do destino final; Rio de Janeiro. Registramos o breve encontro e cada um seguiu seu caminho.

Da Holanda para as estradas brasileiras.
Nas proximidades de Angra dos Reis.
A passagem em Angra foi tranquila, principalmente porque não precisei entrar na cidade como em 2008/2009. Acho que justamente por isso a impressão desta vez foi melhor. Ainda assim é impossível não observar a quantidade de casas e barracos no alto dos vários morros da cidade. Não sei se podemos chamar isso de favela, mas de qualquer forma, está longe de ser uma cidade convidativa, exceto por suas dezenas ilhas, como mencionei ontem.

Em direção à Angra.
Uma das dezenas de ilhas de Angra.
Angra dos Reis.
In foco.
Na saída de Angra mais uma área destinada àqueles com melhores condições financeiras.
O trecho após Angra melhora bastante e as subidas diminuem drasticamente, limitando-se a pequenas inclinações. Excelente para aumentar o ritmo da pedalada. O relevo permanece assim até Frade onde cheguei com muita fome, mas não encontrei nenhum restaurante aberto e compatível com meu bolso. Fui almoçar apenas em Mambucaba às 14 horas e 84 quilômetros pedalados desde Conceição. No restaurante Comida Mineira o prato feito preparado pelo próprio cliente custava 11 reais com direito a dois pedaços de carne. Não preciso nem dizer como ficou meu prato. Destaque para a variedade de comida, todas servidas em panelas de barro.

Um pouco de descida com esse visual não é nada mau.
Trecho plano da Rio x Santos
In foco.
In foco.
Vale mencionar que antes do almoço tirei foto com vários clientes do restaurante que fizeram questão do registro ao ver a minha chegada com a Victoria. Acho extremamente interessante esse contato. Essa reação das pessoas sempre me impressiona.
Também acho que ganhei pelo menos um quilo depois do almoço. Voltei à estrada com a barriga bastante pesada. Esqueci de mencionar, mas tinha feijoada entre as opções do almoço, claro que não deixei de prova-la. Dois domingos consecutivos que tenho o prazer de comer esse delicioso prato. Maravilha!
O trecho entre Mambucaba e Paraty é marcado por subidas e descidas, mas nada que assuste. É tranquilo passar pelo local, ainda mais com todas essas paisagens encantadoras. Há vilarejos em algumas praias onde é possível encontrar hospedagens, contudo, creio que o preço não seja dos mais econômicos. Na maioria dos lugares é preciso entrar no povoado para encontrar as pousadas, na beira da estrada elas são praticamente inexistentes.

Paisagens pelo caminho.
In foco.
Visual na rodovia Rio x Santos.
In foco.
Victoria diante desse magnifico cenário
Central nuclear Almirante Álvaro Alberto - Angra 1
Victoria
Angra 1 de outro ângulo.
In foco.
Cheguei à Paraty por volta das 18 horas e na entrada da cidade encontrei o cicloturista Fernando que é argentino, mas mora no Brasil há alguns anos, inclusive, fala muito bem o português, embora mantenha o sotaque de seu país. Fernando viaja desde 2010 com um roteiro em aberto e sem data para finalizar sua aventura que é custeada a partir de trabalhos com artesanatos.

Pela terceira vez em Paraty.
Conversei um pouco com o argentino e seguimos para o Camping Jabaquara, onde fiquei nas duas passagens anteriores pela cidade. No local descobrimos que a diária estava 20 reais e como não teve desconto, seguimos ao Camping Cavalo Marinho e desembolsamos 15 reais. O local fica exatamente atrás do Camping Jabaquara e apesar de oferecer uma área mais limitada, tem toda a estrutura necessária para levantar acampamento. Não à toa várias pessoas estavam acampadas por lá.
Montei minha barraca, fui tomar um banho (existe um chuveiro elétrico) e na sequencia comecei a escrever no diário de bordo para depois descansar.
Dia finalizado com 132,17 km em 8h42m e velocidade média de 15,1 km/h.
02/09/2013 - 421° dia - Paraty (Rio de Janeiro) a São Sebastião (São Paulo)
Chegada ao Estado de São Paulo!
Noite relativamente tranquila no camping, acordei apenas uma vez durante a madrugada em razão de um rápido movimento de outras pessoas que também estavam acampadas no local, no mais, a normalidade tomou contou e o descanso foi garantido.
Acampamento prestes a ser desmontado no Camping Cavalo Marinho.
Camping Cavalo Marinho.
O cicloturista argentino não leva barraca e dorme dessa forma.
Levantei por volta das 6 horas e rapidamente desmontei acampamento. Depois de um ano na estrada, acho que vou adquirindo alguma agilidade na realização dessa tarefa. Uma hora depois eu já estava de saída, não sem antes agradecer o senhor José, proprietário do camping. Recomendo o local.
Para chegar à Itanhaém no dia 4, conforme havia sido combinado com o pessoal do CicloturITA, eu deveria finalizar o dia em Maresias, compensando a quilometragem pendente dos dias anteriores. Para isso a distância a ser vencida girava em torno de 180 quilômetros em um relevo acidentado e com serras pelo caminho. Não seria nada fácil, mas mesmo assim, esse foi o planejamento.
Antes de voltar à BR 101 ainda passei rapidamente por uma parte do centro histórico de Paraty para realizar alguns registros, sobretudo, do cais, Baía de Paraty e da antiga Igreja Santa Rita de Cássia. A cidade já foi visitada em outras duas ocasiões e o relato mais detalhado sobre o local pode ser encontrado nos seguintes endereços: Expedição Curitiba x Rio ou Expedição Foz, Estrada Real e Belo Horizonte.
Rio Perequê-Açu
Centro histórico.
Centro histórico.
Centro histórico.
Centro histórico.
Baía de Paraty
Baía de Paraty
Cais
Igreja Santa Rita de Cássia.
Victoria mais uma vez em Paraty.
Registro garantido.
In foco.
Centro histórico.
Centro histórico.
Realizado o registro continuei em direção à rodovia. Prestei atenção no comércio para encontrar algum mercado aberto para comprar bolachas para o café da manhã, contudo, cheguei à BR 101 sem realizar a aquisição do mantimento sagrado. A solução era seguir e torcer para achar algum estabelecimento na beira da estrada.
O dia começou com a temperatura baixa, contudo, céu aberto e poucas nuvens que possibilitavam um deslocamento sem maiores problemas nos últimos quilômetros no Estado do Rio de Janeiro. As inclinações foram moderadas até a chegada ao trevo de Trindade que pertence à Paraty e concentra as praias mais interessantes da região, no entanto, ainda não foi desta vez que fui conhece-las.
Em direção à divisa com São Paulo.
In foco.
O trevo à Trindade fica exatamente no vilarejo de Patrimônio, 17 quilômetros depois de Paraty. Uma placa na estrada indicava a presença de um mercado e não pensei duas vezes para encontrar o local e realizar a compra de alguma coisa para comer. Estava com muita fome e por isso não hesitei em levar bolacha, pão, queijo, presunto e bebida láctea. Não me lembro de ter feito isso anteriormente na viagem, mas como a janta de ontem se resumiu a poucas bolachas, a refeição matinal de hoje tinha que ser um pouco mais completa.
Ainda em Patrimônio, sentei em um ponto de ônibus e comecei a preparar o café da manhã. Os pães com os frios ficaram caprichados e a bebida láctea deixou o estômago ainda mais forrado. Fiquei satisfeito.
A saída de Patrimônio é marcada pelo começo da subida em direção à divisa entre Rio de Janeiro e São Paulo. Passei duas vezes no local, mas no sentido inverso, ainda assim, lembrava que a inclinação exigia certo esforço físico para completar o trecho.
Mata Atlântica 
No final das contas foram quase seis quilômetros de subida em meio à Mata Atlântica. Na chegada à divisa registrei a passagem pelo 17° estado pedalado na expedição. Foi a primeira vez que passei sozinho pelo local. Estranho lembrar as duas outras ocasiões e toda a agitação daquele momento e agora presenciar uma realidade diferente onde o silêncio era quebrado apenas com a passagem de poucos veículos.
Chegada à divisa entre Rio de Janeiro e São Paulo.
In foco.
Mais um registro imperdível.
Passada a divisa, estava na hora de pedalar em território paulista. Tudo indicava a presença de uma longa descida pela frente. E realmente ela apareceu. Se não me engano foram dez quilômetros de montanha abaixo. Mas não foi possível “soltar” a bicicleta porque a pavimentação da BR 101 estava muito ruim, sobretudo, no acostamento que em determinadas partes deixava de existir. Lamentável.
Litoral paulista.
Após a descida começou um trecho de sobe e desce moderado em direção à Ubatuba. O caminho é marcado pelas bonitas e características paisagens da rodovia Rio x Santos. Por volta do meio-dia parei em um restaurante onde almocei em 2008 na expedição Curitiba x Rio, contudo, o estabelecimento sob nova direção tinha apenas salgados disponíveis. Então achei melhor seguir viagem.
Praia Vermelha - Ubatuba.
Pelo caminho passei por algumas cachoeiras onde muitas pessoas aproveitam para tomar banho, sobretudo, no verão. Desta vez não presenciei ninguém se aventurando pelas águas geladas desses lugares. Aliás, o movimento de veículos e pessoas neste trecho da Rio x Santos é extremamente diferente daquele encontrado nos meses da chamada alta temporada. Sem dúvida é bem melhor pedalar nos meses da baixa temporada.
Fui almoçar apenas às 14h30m quando cheguei à Ubatuba, uma das cidades litorâneas do norte paulista mais procuradas pelos turistas em razão de suas praias. Destaque também para o número de ciclistas nas ruas. Não à toa existem vários quilômetros de ciclovia e ciclofaixa, embora algumas não estejam em boas condições.
Chegada à Ubatuba.
No Km 50 da BR 101, ainda no perímetro urbano de Ubatuba, parei em um restaurante paralelo a um posto de combustível onde o prato feito ainda era servido e custava 12 reais. A refeição estava caprichada. Descansei um pouco e na sequencia voltei a pedalar porque ainda faltava muito para chegar ao destino desejado.
Vale ressaltar que após Ubatuba a pavimentação fica bem melhor, tanto na pista como no acostamento. Assim o deslocamento para Caraguatatuba foi mais fácil, porém, ainda com muito sobe e desce, típico da região que também apresenta várias praias pelo caminho. Cenário excelente para pedalar e observar a natureza e quiçá um mergulho no mar.
E pensar que há pouco tempo eu atravessava a Linha do Equador.
Praia Grande - Ubatuba.
Cheguei apenas por volta das 18 horas em Caraguatatuba, um dos maiores municípios do litoral paulista. O movimento no perímetro urbano me surpreendeu, assim como o tamanho da cidade. Passei pelo centro, diferente da outra vez quando pedalamos pela orla. Não sei como cheguei à região central, mas a saída, apesar de longa, foi fácil porque tive a ajuda de um senhor que ao prestar informação resolveu me acompanhar até a BR 101.
Novamente na estrada, me direcionei à São Sebastião que ainda estava a aproximadamente 25 quilômetros. Parecia pouco, contudo, a saída de Caraguatatuba foi marcada por um trecho com mais de dez quilômetros de subidas fortes e que quase acabaram com o resto de energia que ainda restava.
São Sebastião também é uma cidade relativamente grande e chegar à região central levou um tempo maior do que imaginava. Somente por volta das 22 horas parei na Pousada Las Vegas que fica próxima da entrada para a balsa que faz a travessia para Ilhabela. A diária, com desconto, saiu por 30 reais. As instalações são simples, porém suficientes para um descanso merecido.
Dia finalizado com 163,83 km pedalados em 11h47m e velocidade média de 13,8 km/h.
03/09/2013 - 422° dia - Sebastião a Itanhaém
Um dia para posteridade.
Alcancei a marca expressiva de 20 mil quilômetros pedalados. Para comemorar, quebrei um recorde da expedição e pedalei 202 quilômetros em 13 horas.
Após mais uma noite tranquila, estava na hora de voltar à estrada, mas antes de retornar para a BR 101, resolvi parar em uma padaria para realizar o mesmo esquema do dia anterior. Comprei pão, presunto e queijo para o café da manhã que foi degustado em um ponto de ônibus de frente para o mar na saída da cidade.
Por volta das 7 horas começava, com a barriga cheia, o pedal em direção à Itanhaém. A distância para chegar ao destino final era de aproximadamente 180-200 quilômetros. Não seria nada fácil, mas o pessoal do CicloturITA me esperava para poder seguir viagem no dia seguinte.
Eu sabia que o caminho para Itanhaém não seria nada fácil, sobretudo, em razão da Serra de Maresia/Boissucanga que é um dos aclives mais íngremes em que eu pedalei na América do Sul. Lembro que no verão de 2008 foi uma das partes mais complicadas da expedição Curitiba x Rio. O que eu não recordava é que depois de São Sebastião também existia uma serra com praticamente dez quilômetros de subidas. O trecho inesperado mostrou que o dia estava apenas começando.
No topo da serra de São Sebastião foi possível observar algumas praias da cidade. Na sequencia, o sobe e desce em uma estrada extremamente sinuosa passa a ser companhia constante até a famosa praia de Maresias.  Durante praticamente todo o trajeto é possível visualizar a imensidão do mar. Destaque para a mata atlântica que ainda existe na região. Vale ressaltar que existem várias fontes de água ao longo da rodovia, contudo, placas indicam que a mesma é imprópria para consumo. Fica a dica.

Uma das praias de São Sebastião
Praia é o que não falta em São Sebastião.
Fica a dica sobre essa região.
Paisagem na estrada. Prestes a subir mais um trecho complicado.
Pouco antes de chegar em Maresias encontrei um pescador que caminhava na estrada e questionou se eu queria bananas. Não pensei duas vezes em aceitar. No meio da conversa descobri que o rapaz era um ex ciclista profissional e sabia da importância da fruta na prática do esporte. Ganhei pelo menos meia dúzia de bananas. Agradeci e continuei em frente.

Entre uma curva e outra é possível se deparar com o mar.
Em Maresias o tempo ainda continuava nublado e por isso nem me desloquei à praia, deixei para garantir o registro no alto da serra onde o visual é simplesmente incrível. Mas para chegar ao topo foi preciso muita paciência e força nas pernas. O aclive tem apenas três quilômetros, mas sua inclinação exige paradas frequentes para retomar o fôlego, hidratar e continuar em direção às alturas. Acho que completei a subida em pouco mais de meia hora. Claro que não deixei de fotografar o visual, diga-se de passagem, maravilhoso.

A serra logo à frente.
Maresias visualizada e registrada na metade da subida.
In foco.
Inclinação da última curva.
Finalmente vejo uma placa de descida.
A descida da serra também tem três quilômetros e termina em Boissucanga que também pertence à São Sebastião. No final do perímetro urbano existe uma subida forte, mas se você chegar até ela, comemore, depois o relevo fica praticamente todo plano.
Quando cheguei à Juquehy aproveitei para almoçar em um simples restaurante à beira da estrada onde a refeição custou 12 reais. Ainda bem que o Prato Feito estava caprichado, pois ainda faltavam 46 quilômetros para chegar à Bertioga.
O trecho para Bertioga teve apenas uma subida que não comprometeu o ritmo maior. Na entrada da cidade fiquei em dúvida se continuava em direção ao Guarujá pela BR 101 ou via Rodovia Guarujá x Bertioga. A distância é praticamente a mesma, contudo, a segunda opção passa por uma estrada mais tranquila, no entanto, para chegar até ela é preciso entrar em Bertioga e seguir em direção à balsa. A travessia dura aproximadamente 10 minutos e não custa nada. Eu tinha conhecimento deste trajeto porque na expedição Curitiba x Rio, havíamos pedalado por esse caminho. Desta vez precisei apenas entrar em contato com o amigo Marco (Itanhaém) para confirmar se valia mesmo a pena percorrer esse itinerário.

A única subida entre Juquehy e Bertioga.
A travessia na balsa em Bertioga aconteceu por volta das 18 horas. Já escurecia e começava a chover. A rodovia também denominada como Ariovaldo de Almeida Viana tem aproximadamente 25 quilômetros de extensão até a cidade do Guarujá que concentra praias belíssimas. O trecho é todo plano e o acostamento se limita a algumas partes, contudo, o movimento de veículos é baixo nesta época do ano e o deslocamento ocorreu sem maiores problemas.
Eu já estava cansado em Bertioga e a situação não melhorou quando cheguei ao Guarujá onde pedi informações para localizar o Ferry Boat que realizava a travessia para Santos. O lugar estava bem longe e precisei pedalar por vários quilômetros, incluindo, o movimentado centro da cidade.
No Ferry Boat, ciclista é o único que não paga a travessia. Sei que a embarcação estava ancorada quando cheguei e zarpou para Santos dez minutos depois. O deslocamento durou o mesmo tempo de espera.
Em Santos eu lembrava que deveria seguir pela ciclovia até à Ponte Pênsil em São Vicente. Pedalei poucos metros pela orla santista e meu velocímetro indicou a marca histórica: 20 mil quilômetros pedalados desde a saída em Foz do Iguaçu. Particularmente me sinto honrado em fazer parte dos poucos ciclistas brasileiros que atingiram a marca em apenas uma viagem.
Sem dúvida a ciclovia de Santos é uma das mais bem estruturadas e organizadas que conheço no Brasil. Sua extensão segue por toda a orla e foi neste trecho que o ciclista Jose Antonio (Toninho) me abordou e começou a pedalar ao meu lado. Conversamos sobre a viagem e o trajeto à Itanhaém, recomendou muita atenção nas proximidades da Ponte Pênsil e veementemente alertou para não passar pela ciclovia da orla de Praia Grande em razão dos assaltos.
Toninho me acompanhou praticamente até a Ponte Pênsil que atualmente está em reforma e não possibilita a passagem de veículos, contudo, as bicicletas ainda conseguem transitar pela mesma. Como já passava das 21 horas o local estava bem deserto e tratei de seguir o quanto antes à Praia Grande.
O pedal em Praia Grande aconteceu na movimentada Via Expressa, explico: Existem três ciclovias que poderiam ser percorridas, contudo, aquela da orla estava descartada, a paralela à rodovia também não era segura por causa dos assaltos. Restava uma na Avenida Kennedy que segue até Mongaguá, no entanto, ela está localizada na região central e não queria me arriscar no deslocamento até o local em função do horário e por isso continuei pela Via Expressa que estava tomada por todos os tipos de veículos.
A passagem pela Via Expressa não é das mais recomendadas em razão do fluxo de veículos pesados e por não ter acostamento, todavia, naquele momento era a opção mais segura para se chegar ao destino. Essa questão de segurança me fez pedalar em um ritmo incrível. Minha velocidade média pelo local não ficou menor do que 25 km/h e em vários momentos passava dos 30 km/h. Não conseguia olhar para os lados, fixava os olhos na estrada e prestava atenção máxima no trânsito. 
A Via Expressa tem extensão de 9 quilômetros que, sem dúvida, foram os mais rápidos pedalados na expedição. Pela primeira vez, utilizei a coroa grande para pedalar. E olha que neste momento a distância acumulada no dia passava dos 150 quilômetros. Na sequencia voltei à BR 101 e o acostamento proporcionou um pedal mais seguro. Mas eu ainda continuava pedalando forte para evitar qualquer problema com assalto. A essa altura o amigo Marco ofereceu um resgate de carro, agradeci, mas frisei que a viagem é toda pedalada. Continuei em frente.
O trajeto Praia Grande x Mongaguá x Itanhaém é todo plano e marcado por várias entradas e saídas para as vilas e bairros, estes, por sua vez, davam a impressão que o destino não chegava nunca. Nos últimos quilômetros a velocidade ficou um pouco mais baixa, mas anda assim era maior do que a média da viagem.
Quando finalmente cheguei à Itanhaém perguntei a um morador sobre a localização da casa do Marco e facilmente encontrei o endereço. Às 23h58m eu terminava o pedal mais longo desta viagem. Estava cansado, mas não exausto. Fiquei surpreso, mais uma vez, com a força que as vezes pensamos não ter. Hoje foi sem dúvida um dia de superação e determinação.

Na residência do anfitrião fui muitíssimo bem recebido. Marco é um grande irmão, amigo de verdade ao qual tenho a maior consideração. Fiquei feliz em revê-lo e ainda mais em saber que seguiria comigo até Paranaguá. Aliás, Pacato e Marcelo Stortini também nos acompanhariam em direção ao Sul para a confraternização dos cicloturistas dos grupos DAP e CicloturITA. O encontro histórico já foi adiado algumas vezes, mas agora, tudo indica que vai realmente acontecer.
Antes de tomar um merecido banho, fui primeiro jantar, estava morrendo de fome. Devorei boa parte das pizzas que também estavam à minha espera. Na sequencia fui dormir para recuperar as energias.
Dia finalizado com 202,68 km pedalados em 13h00m e velocidade média de 15,5 km/h.
04/09/2013 - 423° dia - Itanhaém a Registro
Pedalando com grandes amigos.
O descanso foi curtíssimo. Ontem fui dormir por volta das 3 da madrugada e hoje acordei quase às 8 horas da manhã, praticamente no horário combinado para a partida em direção ao Paraná. Confirmaram presença no pedal; Marco, Aleksandro (Pacato) e Marcelo Stortini. Os dois primeiros são experientes cicloturistas e com muita história na bagagem, inclusive, estiverem duas vezes em Foz do Iguaçu. Já Marcelo começou a pedalar recentemente e essa viagem à Paranaguá é sua estréia nesse mundo sem volta do cicloturismo.

Vale mencionar que hoje a temperatura despencou e o dia amanheceu muito frio. Para se ter uma idéia eu fui obrigado a procurar o corta vento no fundo do alforje para poder pedalar. A vestimenta não era utilizado desde a Colômbia. Só quero ver como está a situação no sul do país.
Outro amigo cicloturista apareceu na casa do Marco antes de seguirmos à estrada. Marcelo Ibere fez questão de estar presente na nossa saída. Por questões relacionadas a trabalho não pôde nos acompanhar. 
Com a chegada do Stortini e o Pacato, aproveitamos para degustar o café da manhã à base de pizza e na sequencia realizamos os últimos ajustes antes de retornar à estrada. Ainda passamos no estabelecimento do anfitrião para nos despedirmos de sua avó e toda a equipe da loja. 

Café da manhã caprichado. Da esquerda para a direita, Stortini, Nelson Neto, Pacato, Marco e Ibere.
Registro da quilometragem de ontem.
Foto clássica.
Começa a viagem para o grupo CicloturITA.
Um registro com a avó do Marco.
Começamos a pedalar mesmo já se aproximava das 10 horas. Não estávamos muito preocupados com o horário porque o trajeto à Paranaguá era de aproximadamente 400 quilômetros que poderiam ser completados em três dias com uma média de 130 km/dia. Desse modo, nosso destino era a cidade de Registro ou algum lugar mais adiante.
O pedal foi muito tranquilo. Seguimos por algumas ruas e avenidas de Itanhaém até chegar à orla e posteriormente voltar à estrada. A animação estava garantida. Como é bom ter amigos de verdade e com espirito de equipe. O avanço ocorreu sempre com muita conversa, risadas e causos.

Pelas ruas de Itanhaém.
Região central de Itanhaém.
In foco.
Aqui a gente pedala e conversa.
Ao lado do litoral de Itanhaém
In foco.
Grande Stortini. Estava todo faceiro. Bom-humor é fundamental.
Em direção à estrada.
Na rodovia Padre Manuel de Nóbrega.
In foco.
Esperando o Marco ser liberado pela polícia por excesso de velocidade. Brincadeira, era apenas mais um amigo ciclista.
A carteira, por favor. Perdeu, playboy. (Risada Sacana)
In foco.
Passamos por Peruíbe e um pouco mais a frente paramos em Itariri para almoçarmos. No local encontramos com mais amigos do pessoal de Itanhaém. O almoço (prato feito) custou dez reais e estava saboroso, porém, com pouca comida, mas isso não foi motivo para desanimar o pessoal. O clima estava ótimo.

Sentido à Irariri
In foco.
Isso é um estacionamento de veículos pesados, rs.
Outro ângulo.
Almoço em grande companhia.
Um pouco de feijão para ficar forte, rs.
Retornamos em à estrada em direção à Pedro de Toledo onde uma pequena serra nos aguardava. Atualmente o trecho está com pavimentação nova e a passagem pelo local ocorreu sem maiores dificuldades. Poucos quilômetros depois saímos da BR 101 para entrar em outra rodovia federal conhecida, a BR 116, também chamada Régis Bittencourt.
Sentido à Pedro de Toledo
Pedalar com amigos é bom demais.
Um salve a quem não pôde estar presente.
Subida da serra em Pedro de Toledo.
In foco.
In foco.
Uma adaptação master para realizar filmagens. Resultado é incrível.
A BR 116 foi considerada por muitos anos, a estrada da morte, contudo, após sua duplicação, esse rótulo deixou de existir, todavia, o trânsito ainda é enorme, sobretudo, de caminhões, acho que é uma das poucas estradas no Brasil onde o fluxo de veículos pesados é maior do que de carros. Ainda bem que a rodovia tem acostamento, caso contrário se tornaria extremamente complicado pedalar por ela.
Pedalando na BR 116
E o Stortini se levanta rapidamente (para não ser fotografado) após uma queda por causa da sapatilha. 
BR 116
Tempo fechado
Em direção à Registro.
In foco.
Como nossa partida de Itanhaém aconteceu em um horário tardio, escureceu e ainda estávamos na estrada pedalando pelo sobe e desce moderado da rodovia. O que mais atrapalhava meu deslocamento eram as “depressões” no acostamento.  As mesmas que encontrei nos quilômetros iniciais na BR 101 quando ingressei no estado do Rio de Janeiro, no entanto, ao contrário do que aconteceu em território fluminense, aqui, infelizmente, elas permaneceram por um longo trecho.
Pedalando na escuridão.
Pedágio antes de Registro.
Parada no Serviço de Atendimento ao Usuário para tomar um café antes de seguir ao destino desejado.
Galera animada ainda de noite.
Sempre há tempo para uma bolacha, rs.
Chuva!
Basta escolher o destino, rs.
Chegamos em Registro por volta das 21 horas se não me engano e decidimos pernoitar no Hotel Litoral porque estava frio e ainda chovia. A diária para cada um saiu por 20 reais, sem café da manhã. As instalações são extremamente simples, mas para apenas uma noite vale a pena.
Pessoal esperando a pizza para poder dormir com a barriga cheia.
Para o jantar pedimos uma pizza para comemorar o primeiro dia finalizado com sucesso.
Dia finalizado com 134,56 km pedalados em 9h21m e velocidade média de 14,3 km/h.
05/09/2013 - 424° dia - Registro (São Paulo) à Divisa SP/PR (BR 116)
Finalmente de volta ao Paraná. A expedição agora é pelo sul do país. Que maravilha!
Noite tranquila no hotel. Descanso garantido e energia restabelecida para encarar a temida Serra do Azeite. Arrumamos as tralhas, realizamos a refeição matinal com a pizza que sobrou de ontem e retornamos à estrada por volta das 8 horas. O tempo continuava fechado e tudo indicava que voltaria a chover em poucos minutos, dito e feito.

Hora de arrumar a bagagem para seguir viagem.
Pacato e Marco.
Tirando as bicicletas da garagem.
Hotel Litoral
Registro antes da saída.
O frio continuou intenso e fui obrigado a utilizar a segunda pele e o corta vento. Mesma combinação de quando encarei os -13°C na Bolívia. Estava mesmo me aproximando do sul do país. Mas apesar das condições climáticas (a chuva voltou a cair) seguimos animados para Jacupiranga e Cajati. Este trecho foi não foi muito diferente daquele encontrado ontem na BR 116; poucas inclinações e muito trânsito de caminhões. Hoje encontramos dois veículos tombados na estrada, infelizmente os acidentes continuam sendo frequentes.

Chuva e muito frio no começo do pedal.
Pacato se protegendo do frio.
In foco.
In foco.
Tempo nublado.
BR 116
Movimento intenso de caminhões.
Os frequentes acidentes..
In foco.
Outro caminhão tombado.
Stortini, infelizmente essa é a realidade da estrada,
In foco.
Chegada à Jacupiranga.
Em Cajati paramos por volta das 11 horas em um restaurante à beira da estrada onde o rodizio estava em promoção ao preço de 15 reais. Foi a oportunidade perfeita para comer até dizer chega. (Risada Sacana). Acho que ganhei mais de um quilo para subir a serra. Aliás, a parada mais cedo para o almoço foi estratégica pela ausência de restaurantes nos próximos quilômetros que, por sua vez, compreenderiam a serra.

Almoço caprichado.
Após o almoço pedalamos poucos quilômetros e encontramos a placa que indicava que os próximos 25 quilômetros não teriam acostamento, ou seja, era o início da subida. A Serra do Azeite é temida por alguns ciclistas por causa da falta de acostamento e o tráfego intenso de caminhões que muitas vezes passam “tirando tinta” da bicicleta. E também existe a questão da subida, não por causa de sua inclinação, mas pela extensão. Afinal, são mais de 20 quilômetros ininterruptos de montanha acima.

Isso significa que chegou a hora de encarar a Serra do Azeite.
É muita animação pra subir uma serra, rs.
Queimada pelo caminho.
20 km de subida ininterrupta.
Começa a subida.
Começamos a subida exatamente às 12h30m e chegamos ao topo às 16h30m, ou seja, foram quatro horas contado os momentos de descanso e as paradas do imperdível registro histórico da nossa passagem pelo local. Particularmente achei a subida tranquila. Apenas em um pequeno trecho que os caminhões passam realmente próximos da gente, mas basta não se assustar com os “monstros” do seu lado e seguir firme. Claro, é preciso de muita paciência para pedalar por todos esses quilômetros de subida, ainda mais quando se está carregado.

Serra do Azeite
Tráfego intenso.
Serra do Azeite
Serra do Azeite
Serra do Azeite
Muitas vezes é preciso ter "sangue frio" para encarar o desafio.
Na subida da serra.
Pedalar na valeta às vezes é preciso.
Serra do Azeite
Serra do Azeite
Serra do Azeite
Vale ressaltar que na metade da subida da serra existem lanchonetes e barracas que vendem caldo de cana e frutas. É, sem dúvida, um local estratégico para descansar por alguns minutos e restabelecer as energias, principalmente com um imperdível caldo de cana.

Parada na metade da serra.
Energia de sobra
In foco.
In foco.
O término da Serra do Azeite não implica, necessariamente, no começo de um declive longo. A descida é curta e não demora muito para aparecer a Serra de Turvo que tem poucos quilômetros. Passamos rapidamente por ela na escuridão e seguimos em direção à divisa com o Paraná que apareceu quando o velocímetro marcava 130 quilômetros.
Não sei descrever a sensação de voltar ao Estado de partida da expedição. Talvez o sentimento é de que a viagem está cada vez mais próxima de ser finalizada com sucesso e que o bom filho à casa retorna, assim como foi prometido à minha mãe.

Após mais de um ano de viagem, finalmente de volta ao Paraná.
Registro histórico no ingresso ao Sul do Brasil.
Na divisa entre SP e PR existe, ainda no lado paulista, um bairro chamado Pardinho, contudo, não existe hospedagem e tampouco lugar propicio e seguro para acampar. Por isso atravessamos a divisa e seguimos. Nos informaram que 14 km depois tinha um posto de combustível onde era possível encontrar um hotel. Adelante.
Não foi preciso seguir 14 km porque logo após a divisa encontramos uma lanchonete com uma área perfeita para levantar acampamento. Pacato conversou com a proprietária que permitiu nossa presença. O local é perfeito para pernoitar, existe banheiro com chuveiro, cuja utilização para banho custa 3 reais. Há também salgados, lanches e comida na lanchonete, ambos com preço acessível. Ambiente bastante seguro. Fica a dica.

Acampamento na lanchonete. Economia garantida.
Mandando notícias para a amada.
Montamos acampamento e na sequencia devoramos alguns salgados bem caprichados para dormir com uma energia extra. Detalhe; ninguém tomou banho. Quero pensar que foi em razão dos três reais. Seus mendigos. (Risada Sacana).
Dia finalizado com 130,34 km pedalados em 9h14m e velocidade média de 14,0 km/h.
06/09/2013 - 425° dia - Divisa SP/PR (BR 116) a Paranaguá
O começo do encontro histórico.
O segundo dia da viagem que não terminou.
Acampamento aprovado. Nenhum incidente durante a madrugada e as energias foram restabelecidas na medida do possível. Aproveitamos a estrutura do local e ainda realizamos a refeição matinal na lanchonete que oferecia pães, bolos, leite e café. Tudo muito bom e barato.
Registro com os proprietários da Lanchonete Vitória. Obrigado pessoal.
Para espantar o mau olhado, rs.
Voltamos à estrada com a temperatura ainda baixa e o tempo nublado. Seguimos nosso caminho em direção à Estrada da Graciosa onde encontraríamos os amigos Leandro (Rio de Janeiro) e Daniel Chagas (Rio Grande do Sul), ambos partiram pedalando de Curitiba para o pórtico da Graciosa.
Trecho final da nossa passagem pela BR 116 em direção à Estrada da Graciosa.
Marco e a devida realização dos registros fotográficos.
O trajeto pela BR 116 hoje foi muito mais pesado do que a Serra do Azeite pedalada ontem. Praticamente todo o percurso é marcado por longas subidas e descidas, uma verdadeira montanha-russa, diga-se de passagem, chata. O destaque fica por conta da Represa do Capivari.
Chegada à Represa do Capivari.
In foco.
Represa do Capivari.
Represa do Capivari.
Represa do Capivari.
No caminho para a Graciosa o pneu traseiro da bicicleta do Marco furou, mas rapidamente a câmera de ar foi trocada e continuamos em direção ao nosso destino onde chegamos por volta das 14 horas. Deste ponto em diante deixamos a BR 116 para pedalar pela PR 410, a conhecida Estrada da Graciosa. Registramos nossa passagem pelo famoso pórtico e paramos em uma pastelaria para almoçar e esperar o Leandro e Daniel.

Raros momentos em que o sol apareceu por poucos minutos.
Cabine de comando da bicicleta do Marco.
Entre uma subida e outra.
Grande Pacato, companhia de primeira.
In foco.
In foco.
Na montanha-russa da BR 116.
"Hasta la Victoria Siempre" 
As palhaçadas no pedágio 2 km antes da entrada para a Estrada da Graciosa.
Últimos metros na BR 116.
Em direção à Graciosa.
Finalmente o pórtico de uma das estradas mais charmosas do Paraná.
Vitória!
O típico Pinheiro do Paraná.
Registro histórico.
Na entrada da Estrada da Graciosa.
Mais um registro histórico.
Recomendo!
Pastelaria Portal da Serra
Hora do almoço.
Especialmente para minha excelentíssima.
Hermano!
Paisagem
In foco.
In foco.
O frio ficou cada vez mais intenso no alto da serra e fui obrigado a trocar de roupa porque a minha estava encharcada de suor, uma vez que no trecho anterior o corta vento me fez transpirar excessivamente por causa das constantes subidas. Sei que utilizei até a touca andina comprada na Bolívia para aquecer. Sinceramente não imaginei pegar esse frio nesta época do ano.
Os amigos chegaram de Curitiba por volta das 16 horas e o grupo ficou ainda maior. Todos são amigos de longa data e sem dúvidas reunir essa galera tem um significado especial para cada um. Após mais um registro na entrada da estrada, estava na hora de descer a serra.

Agora o registro com toda a galera.
Não raramente a Graciosa está com neblina e desta vez não foi diferente. Com as condições climáticas e o horário, nossa descida foi em meio a uma densa névoa que em determinados momentos se transformou em chuva e deixou a aventura ainda mais emocionante. Claro que em situações como estas as fotografias ficam comprometidas, contudo, as lembranças permanecem para toda a vida.
Nesta época do ano as típicas hortênsias do trajeto não estão floridas, fato que deixa a serra diferente para quem já passou por essas bandas e se deparou com o colorido do caminho. Mas ainda assim a rodovia faz jus ao nome que recebe, seja pela estreita e sinuosa estrada ou pela mata atlântica ao seu redor.

Cenário bucólico.
Leandro pela primeira vez na Estrada da Graciosa.
O que fazer com um carrinho de bebê abandonado? 
... palhaçada, claro ...
... esses amigos não tem jeito, rs.
E tenho dito..
In foco.
Pedalei pela Graciosa no final de 2009 e na ocasião também peguei chuva pelo caminho que, sob essas condições, necessita de todo cuidado, sobretudo, na parte onde a pavimentação asfáltica cede lugar aos paralelepípedos que se tornam extremamente escorregadios. Mas o pessoal desceu com atenção e nenhuma queda foi registrada.

Neblina
Mudança de pavimento.
Descida da Graciosa.
In foco.
In foco.
Quase no final da descida, encontramos com o camarada Aramis, nosso anfitrião de Paranaguá e que gentilmente ofereceu sua residência para a realização do encontro histórico. Para quem não se lembra, recentemente ele pedalou comigo no nordeste no trecho entre Recife e Aracaju.
Com o grupo ainda maior, completamos a descida em grande estilo, mas não sem antes uma pausa para trocar outra câmera furada, desta vez meu pneu traseiro foi o alvo dos arames da estrada. Com a ajuda dos amigos, rapidamente a Victoria estava pronta para seguir viagem.

Em direção à Morretes.
Terminamos a descida e continuamos em direção à Morretes, contudo, o pneu traseiro do pacato estourou graças à péssima qualidade da marca Kenda que mais uma vez apresentou rasgo na borda do pneu. O mesmo aconteceu em um Kenda que comprei quando ainda estava no Peru. Pacato que já trabalhou em bicicleta fez um manchão que deixou todo mundo boquiaberto, pois o estrago no pneu era grande e parecia que não tinha mais uso, no entanto, como ninguém levou pneu reserva, a solução foi a velha gambiarra com garrafa pet, câmera de ar e fita isolante. Serviço de primeira.

Manchão para seguir viagem.
Quase pronto..
Finalizado!
Antes de chegarmos à Morretes meu pneu traseiro sofreu outro furo. Misericórdia. Ainda bem que a presença dos amigos mais uma vez fez a troca da câmera de ar ser rápida como em um pit stop de Fórmula 1, pode acreditar. (Risada Sacana).
Passamos por Morretes e na sequencia estávamos, finalmente na BR 277, prestes a chegar ao destino final; Paranaguá. Claro que antes de concluirmos o dia, as surpresas continuaram e tivemos mais um furo de pneu, novamente no pneu traseiro do Marco. Com todos esses imprevistos nossa chegada em Paranaguá aconteceu apenas por volta da 1 hora da madrugada do dia 7 de setembro.
Chegamos na casa do Aramis e transformamos o ambiente tranquilo em um local repleto de bicicleta e roupas molhadas e sujas. Para a nossa sorte a mãe do anfitrião nos recebeu com muita gentileza e animação e não se importou com a presença de tantos mendigos. Obrigado pela hospitalidade Dona Antônia.
Tomei um banho e antes de dormir fui comer o cachorro quente que estava à disposição para os famintos de várias partes do Brasil.

A cara de cansado e faminto dos mendigos.
Dia finalizado com 134,54 km pedalados em 10h08m e velocidade média de 13,2 km/h.
07/09/2013 - 426° dia - Paranaguá (Folga)
Eu precisaria de muitas horas para escrever sobre o encontro histórico em Paranaguá. No entanto, neste exato momento (final da expedição) eu careço de tempo para colocar em palavras os inúmeros acontecimentos e por isso vou deixar o registro fotográfico aguçar a imaginação de vocês sobre esse dia inesquecível.

O encontro que finalmente aconteceu, reuniu os amigos cicloturistas de São Paulo (Marco, Marcelo e Pacato), Rio de Janeiro (Leandro), Paraná (Aramis, João Paulo, Bruno Aguilar, Bruno Colaço e Rodyer), e Rio Grande do Sul (Daniel). Apesar da distância geográfica, a maioria mantém uma amizade de longa data e isso deixou o encontro ainda mais especial. 
O cicloturismo nos proporciona muitas coisas e a amizade que se constrói pelo caminho é um dos maiores legados desse estilo de vida. Hoje sei que tenho verdadeiros amigos para todas as horas. Fiquei extremamente emocionado pela consideração de todos que estiveram presente no encontro que marcou minha volta ao Estado e a parte final da expedição pela América Latina. A cada um deixo meu muito obrigado.
O pessoal resolveu fazer um churrasco para a confraternização,que, por sua vez, estava simplesmente incrível em todos os sentidos. Muita conversa, história, "mentiras". risadas e um verdadeiro e delicioso banquete preparado pela Dona Antônia e o Daniel que ficou responsável pela carne na churrasqueira. 
Alguns amigos do Aramis também estiveram presentes e completaram a festa que terminou apenas de noite quando nos reunimos na sala para assistir os vídeos de nossas primeiras viagens juntos. Como diz a música; é bom olhar para trás e admirar a vida que soubemos fazer.


A galera no mercado.
Olha o "homi do saco" aí. rs.
In foco.
Simbora assar a carne agora.
Leandro mendigão, rs.
Daniel, responsável pelo churrasco.
Preparando a carne.
Onze quilos de carne e não sobrou nada.
In foco.

In foco.

Toda a galera reunida na parte da manhã.
Camarada Rodyer.

Tem muita história ..

Encontro nacional DAP e CicloturITA
Assim chegou a bicicleta do Pacato com o manchão realizado ontem.
Tirando a bagagem para trocar um raio quebrado. Valeu pela ajuda, Pacato.
Rodyer e Aramis.
Dona Antônia, Leandro e Marco.
Outro ângulo da bagunça organizada.
Hora de acabar com o almoço, rs.
Uma pausa rápida para a foto.
Foto oficial do encontro nacional DAP e CicloturITA. Como disseram, reunidos somam pelo menos, oito voltas ao mundo.
Uma volta ao tempo assistindo os vídeos das expedições realizadas.
08/09/2013 - 427° dia - Paranaguá a Curitiba

Finalmente na capital paranaense.

Com a falta de tempo também serei obrigado a resumir o diário de hoje. 

Havíamos combinado subir a Serra do Mar no Paraná pedalando porque Curitiba era o destino de quase todos que estavam presentes no encontro. Nossa saída aconteceu por volta das 8 horas da manhã e poucos minutos depois de deixar a casa do anfitrião já estávamos novamente na BR 277 que vai ser meu itinerário até voltar à Foz do Iguaçu.

O trajeto foi tranquilo, apesar da subida da serra que apareceu 30 km depois de Paranaguá. Aproveitamos a presença de algumas lanchonetes para reabastecer o estômago antes de encarar o aclive que tem extensão de 20 quilômetros que foram completados em meio a muita animação e companheirismo, sem falar no visual maravilhoso da Mata Atlântica. O pedal foi a demonstração de um verdadeiro espirito de equipe. Estão todos de parabéns. 

Após a subida, passamos por São José dos Pinhais e chegamos à Curitiba por volta das 17 horas e aproveitamos para registrar a passagem pela capital no famoso Jardim Botânico onde inicialmente não nos deixaram entrar com a bicicleta, mas como não poderíamos ir embora sem uma foto do local, entramos por um caminho alternativo e no final nos tornamos o centro das atenções dos turistas e também dos ciclistas que participaram de uma competição no local. 

Depois seguimos a uma padaria para "almoçar". Foi a confraternização final e a despedida já que o pessoal de Itanhaém seguiria de carro para o litoral paulista. Obrigado pela companhia de vocês nesses últimos dias. Sem dúvida, foi uma das melhores partes dessa viagem. Espero outras oportunidades para pedalar novamente com vocês. Daniel, Leandro e eu seguimos para a casa do João Paulo onde eu fico segunda-feira para atualizar o diário de bordo. 

Registro antes da partida.
Pelas ruas de Paranaguá
Comboio em direção à BR 277
BR 277 em Paranaguá. Aqui começa a rodovia que atravessa o Estado do Paraná e termina em Foz do Iguaçu.
Em direção à Serra do Mar.
In foco.
In foco.
A primeira placa indicando a distância para Foz do Iguaçu.
CicloturITA
BR 277
Aperta o play.
Pé da serra. Parada para restabelecer as energias.
Pastel e caldo de cana. Maravilha!
Hora de recuperar um pouco de peso.
Subida da serra.
Força nas pernas.
João de Deus. O grande mestre de toda essa galera.
In foco
Neblina nas partes mais altas da serra.
In foco.
In foco.
Parada para esperar o pessoal.
In foco.
Flagrante.
Bananeira diferente.
In foco.
Observe o viaduto lá no alto. Ainda teríamos que chegar até ele.
Mata Atlântica.
In foco.
In foco.
In foco.
In foco.
Final da serra.
Nas proximidades de Curitiba.
Quase mil metros de altitude.
De bicicleta pela terceira vez no Jardim Botânico.
A última foto com toda a galera reunida. Valeu hermanos.
PS: As fotos dos últimos cinco dias são creditadas à Marco Brandão, Marcelo Stortini e Pacato. 

Dia finalizado com 99,21 km pedalados em 7h47m e velocidade média de 12,7 km/h.

09/09/2013 - 428° dia - Curitiba (Folga)

Dia dedicado exclusivamente à atualização do diário de bordo.

Despedida dos amigos Leandro e Daniel que pegaram o voo de volta para suas casas. 

Hasta luego, hermanos.

10/09/2013 - 429° dia - Curitiba (Folga)

Dia dedicado exclusivamente à atualização do diário de bordo.

Partiria hoje de Curitiba, mas como não consegui finalizar a atualização do diário ontem, resolvi permanecer mais um dia na capital, contudo, também não foi suficiente para realizar a postagem. E olha que tenho tentado resumir esses últimos dias. Portanto, peço compreensão dos leitores pela demora na atualização. Também é possível que exista erros ortográficos, já que escrevi tudo muito rápido. Qualquer coisa, por favor, me avisem para realizar a correção.

A decisão de ficar um dia a mais em Curitiba aumentou a quilometragem que tenho que fazer nos próximos dias. Paciência. Agora é seguir firme e forte nessa reta final em direção ao destino final da expedição. A volta para casa.

11/09/2013 - 430° dia - Curitiba a Irati

Começa a última parte da expedição.

Acordei às 5h30m depois de dormir poucas horas já que estava focado na atualização do diário de bordo até às 2 horas da madrugada. Levantei e imediatamente arrumei minhas coisas para sair às 6 horas, conforme combinado com o João Paulo que me acompanharia por um pequeno trecho depois da sua casa.

Hora de arrumar a bagagem mais uma vez.
A saída aconteceu quase às 7 horas e pouco depois me despedia do anfitrião que mais uma vez me recepcionou muito bem e ofereceu todo apoio possível. Muito obrigado, mestre. Foi muito bom ter a sua ilustre companhia nestes últimos dias. Hasta luego. 

Valeu João de Deus.
Encontrar a BR 277 foi fácil e precisei pedalar apenas 6 quilômetros na cidade. Na rodovia continuei em direção à Campo Largo, onde, no final do movimentado perímetro urbano, tive mais um raio quebrado na roda traseira. E olha que estou com menos bagagem, já que deixei a barraca na casa do João Paulo. Paciência.

Hasta luego, Curitiba.
Os quarenta primeiros quilômetros foram completados rapidamente em razão, sobretudo, do relevo com muitos trechos planos e descidas generosas. A situação ficou diferente apenas quando apareceu a Serra de São Luís do Purunã com 6 quilômetros de extensão, mas que não chegou a assustar.

Em direção à Foz do Iguaçu.
In foco.
O dia estava bonito e praticamente sem vento, algo que não atrapalhou meu deslocamento após a serra. O trajeto até Palmeira foi marcado pelas paisagens típicas do Paraná, diga-se de passagem, muito bonitas, e um sobe e desce moderado. No final da cidade parei antes do meio-dia para almoçar. Já estava com mais de 80 quilômetros pedalados.

BR 227 após o trevo para Ponta Grossa.
In foco.
Acostamento excelente para pedalar.
Cenário bucólico.
BR 277 sem fim..
Não fiquei muito no restaurante porque tinha que chegar cedo em Irati onde completaria 150 km, média que eu tenho fazer para chegar dia 15 de setembro às 9 horas da manhã em Foz do Iguaçu, como ficou combinado com o pessoal que vai me recepcionar. 

O trajeto Palmeira x Irati foi marcado por muito sobe e desce, contudo, o acostamento em perfeitas condições permitiu um avanço mais rápido, principalmente nos declives. Cheguei ao destino por volta das 17h30 e parei no hotel Rotta 277 que tinha wi-fi e possibilitaria a atualização do site. Devo finalizar a tarefa até o meio-dia de amanhã. Dessa forma, minha saída de Irati vai acontecer apenas de tarde. Para compensar, o pedal vai ocorrer pela noite e madrugada de quinta-feira.

Trajeto entre Palmeira e Irati. Famoso Pinheiro do Paraná.
In foco.
In foco.
Lugar bom demais para pedalar.
Na direção do sol..
O diário está um pouco resumido nestes últimos dias, mas pelo menos vai ser atualizado. A próxima postagem será apenas em Foz do Iguaçu após a finalização do projeto. Aguardem!

PS: Ontem saiu a matéria no Jornal A Gazeta do Iguaçu (Foz do Iguaçu-PR) sobre a conclusão do projeto e a minha chegada na cidade. A versão online pode ser lida no seguinte endereço: http://www.gazeta.inf.br/caderno2/minha-vida-sobre-duas-rodas/

Por falar em chegada, para quem quiser me acompanhar nesta parte final, estarei de passagem pelo Posto Gasparin (entrada da cidade) às 9 horas da manhã do dia 15 de setembro. Na sequencia sigo na companhia de alguns amigos para a entrada do Parque Nacional do Iguaçu onde outros ciclistas estarão à minha espera para me acompanhar até as cataratas onde finalizo o projeto. Aguardo a presença de todos.

Grande abraço a todos. 

Dia finalizado com 151,24 km pedalados em 8h40m e velocidade média de 17,3 km/h.

"Hasta la Victoria Siempre"
12/09/2013 - 431° dia - Irati a Guarapuava
Mais um dia atípico em vários sentidos.
Hoje as coisas começaram a acontecer bem cedo. Primeiro acordei naturalmente por volta das 5 horas da madrugada, na verdade acho que não dormi direito pensando em uma estratégia para conciliar a atualização do diário de bordo e a continuação da viagem no pouco tempo que me restava. Começou a contagem regressiva para a finalização do projeto. Salve-se quem puder! (Risada Sacana)
Sei que ao despertar nem mesmo levantei da cama, apenas peguei o computador, entrei na internet e comecei a organizar os registros fotográficos no site. Essa tarefa também sempre demandou um bom tempo, afinal, a cada nova postagem é preciso realizar a seleção das imagens e depois enquadra-las no texto com a devida legenda. Foi isso que procurei fazer antes de qualquer coisa.
Pensei que conseguiria terminar a atualização antes das 9 horas para começar a pedalar, contudo, os minutos passaram extremamente rápidos e nada de finalizar a postagem. Foi quando resolvi que ficaria até a diária do hotel expirar, ou seja, meio-dia. Claro que era uma decisão arriscada porque significava que eu permaneceria na estrada até a madrugada para não comprometer a quilometragem programada para o dia.
Meio-dia e ainda faltava 5% para terminar a última atualização antes da conclusão da expedição. Como eu precisava deixar o quarto, arrumei minhas coisas e finalizei o trabalho nas escadas do hotel. Ufa! Que alivio! Realizar uma nova postagem é sempre uma sensação de missão cumprida.
Aproveitei o restaurante da própria hospedagem para almoçar antes de finalmente retornar à estrada. O almoço custou 12 reais no buffet livre e estava simplesmente magnífico. Caprichei no prato e não deixei de saborear a sobremesa disponível. Energia extra! Recomendo!
Voltei a pedalar apenas às 13h30m. Começar o pedal de tarde é uma das coisas que não costumo fazer em viagem. Se não estou enganado foi a primeira vez que realizei essa proeza durante a expedição. Paciência.
Para não comprometer meus planos de chegada à Foz do Iguaçu no dia 15 de setembro eu deveria finalizar o pedal de hoje nas proximidades de Cantagalo com a marca de 180 km no velocímetro. Claro que isso implicaria em permanecer na estrada até altas horas da madrugada. Eu simplesmente não tinha outra opção. Era preciso aceitar o desafio.
A maior dificuldade do roteiro seria a passagem pela Serra da Esperança no distrito de Relógio, antes de Guarapuava. Passei pelo local em duas oportunidades, contudo, em ambas no sentido contrário, ou seja, montanha abaixo. Desta vez existia a necessidade de completar os sete quilômetros de subidas.
O tempo de tarde estava muito propicio para pedalar, pelo menos não tinha chuva e o vento não atrapalhava. O que também contribuía para um deslocamento mais rápido era o relevo. Entre Irati e Relógio há subidas, contudo, não são extensas e íngremes. O que vale destacar após Irati é a existência de um trecho plano que permite um ritmo maior em meio a um cenário muito bonito que permanece em minha memória desde 2007 quando realizei a passagem pelo local durante a Travessia do Paraná.

Trecho agradável de pedalar entre Irati e Relógio.
O trajeto até o início da serra em Relógio foi marcado pelas paisagens típicas do Paraná, principalmente no final da tarde quando o pôr-do-sol deixou o ambiente ainda mais encantador e que se encontra apenas aqui no Estado, que por sua vez, proporciona um dos cenários mais bonitos do Brasil.

Magnifico pôr-do-sol na BR 277 nas proximidades de Relógio.
Hasta mañana.
Conhecido Morro do Chapéu próximo da Serra da Esperança.
Cheguei à Relógio por volta das 18 horas com aproximadamente 80 quilômetros pedalados. Parei no SAU (Serviço de Atendimento ao Usuário) da concessionária que administra a rodovia para reabastecer as garrafas de água porque eu tinha conhecimento que a subida da serra não seria fácil e o “motor” ferveria fácil e exigiria hidratação especial. Aproveitei para tomar um café na companhia de algumas bolachas. Eu precisaria de todas as energias para completar o trecho difícil e a quilometragem necessária.
Após poucos minutos de descanso voltei a encarar a estrada. Estava na hora de subir a famosa Serra da Esperança. Já estava tudo escuro e precisei redobrar a atenção durante o aclive. A lanterna traseira no modo intermitente não me deixava passar despercebido pelos motoristas que seguiam pelo mesmo sentido, contudo, o farol dianteiro não me ajudou na iluminação do caminho como eu precisava. Achei muito estranho porque as pilhas foram recarregadas durante a madrugada, mas como aquele não era o local para consertar o equipamento, continuei com a visão bastante comprometida.
O pouco feixe de luz iluminava precariamente a faixa lateral que era meu referencial durante a subida que, por sua vez, não tem acostamento, apenas a faixa adicional que serve para a passagem dos veículos lentos, sobretudo, caminhões. Os veículos pesados não comprometeram a minha passagem e em nenhum momento a situação ficou critica. Na maior parte das vezes os motoristas me ultrapassavam com bem mais de 1,5 metros de distância como sugere a lei de trânsito.
A parte mais complicada da subida é a passagem pelos viadutos que geralmente se encontram em trechos sinuosos à beira de precipícios. Nestes locais eu procurava pedalar afastado da mureta de contenção para evitar qualquer tipo de acidente e consequentemente a queda. Também pedalava o mais rápido possível para sair logo desse trecho.
Como eu não havia pedalado durante a manhã, minha parte física estava muito boa e completei os sete quilômetros de subidas sem parar de pedalar em nenhum momento. Esse fato me surpreendeu, pois não estou acostumado a essas realizações históricas ininterruptas, ainda mais durante a noite. Se não me engano, foram necessários quarenta minutos para subir a serra.
Depois de Relógio, incluindo a passagem pela serra, foram aproximadamente quarenta quilômetros até Guarapuava. Diferente do trajeto anterior, esse trecho apresenta subidas que exigem um pouco mais de paciência e esforço físico em razão de suas inclinações. Nas proximidades de Guará tem uma bonita cachoeira na beira da estrada que desta vez tive a oportunidade de apenas escutar o som da queda d´água.
Por volta das 22h30m cheguei à Guarapuava um pouco cansado e achei melhor parar na cidade. Havia mais 50 quilômetros para serem pedalados e eu ainda tinha condições para seguir viagem, mas por questões de segurança (falta de luz) resolvi encerrar o pedal antes do previsto. Fiquei hospedado no Hotel Soledade, o mesmo onde pernoitei na Expedição de Verão (2010). É um dos poucos localizados à margem da rodovia.
No Hotel Soledade a diária estava 35 reais no quarto mais barato e com café da manhã à disposição no dia seguinte. O estabelecimento está totalmente reformado e as instalações todas novas. A recepcionista autorizou a permanência da Victoria na lavanderia do hotel. Na ocasião passada, a cozinha tinha sido o estacionamento seguro. A funcionária me informou que o local tem sido parada de outros cicloturistas e que as bicicletas ficam sempre neste espaço que é vigiado 24 horas por câmeras de segurança e outros funcionários. Assim tirei apenas os poucos itens de maior valor e levei para o quarto.
Devidamente alojado fui tomar um excelente banho quente (banheiro compartilhado) para relaxar os músculos e na sequencia voltei para o quarto na pretensão de verificar o problema do farol e notei que uma das pilhas tinha perdido a capacidade de segurar a carga e por isso a peça não funcionou como deveria. A forma como eu descobri qual pilha estava com defeito foi simples, apenas testei as três no meu aparelho mp3. A pilha inválida nem ligou o eletrônico.
Verificado e solucionado o problema com o farol, fui descansar e dormir o sono dos justos.
Dia finalizado com 117,30 km pedalados em 7h39m e velocidade média de 15,3 km/h.
13/09/2013 - 432° dia - Guarapuava a Guaraniaçu
Dia marcado por encontros e muitas subidas.
A noite foi curta, porém tranquila no hotel. Levantei por volta das 6 horas da manhã por causa da refeição matinal que já começava a ser servida. Eu não poderia perder muito tempo para começar a pedalar e por isso arrumei as coisas rapidamente e fui degustar o café da manhã que, sem dúvida, foi um dos mais caprichados que encontrei durante toda a viagem. Energia garantida.
Voltei à estrada por volta das 7h30m para encarar um dia que necessariamente deveria terminar acima dos 180 km pedalados. Com todos esses acontecimentos dos últimos dias fui obrigado a mudar o planejamento mais uma vez, todavia, agora ele não poderia ser mais alterado, incluindo a quilometragem do dia seguinte que, anteriormente, ficaria em 100 km também será na faixa dos 180 km. Paciência.
Com o novo roteiro eu deveria finalizar o pedal na cidade de Guaraniaçu com passagem em Cantagalo, onde eu encerraria o pedal de ontem, contudo, fui chegar ao município apenas por volta do meio-dia. Durante o trajeto na parte da manhã o ritmo foi muito bom, sobretudo, por causa do relevo que, para a minha felicidade, passou a apresentar mais trechos com declínio.
A paisagem começou a ficar diferente com a presença do cultivo de plantações extensivas que se estendem em direção ao oeste do Paraná. O Estado é um dos maiores produtores de grãos do país. São diversos hectares destinados ao trigo, soja, milho, feijão e outras culturas. Uma pena que toda essa “riqueza” esteja concentrada nas mãos de poucos agricultores.

Saída de Guarapuava: silos que armazenam grãos.
Plantações extensivas.
In foco.
Em direção à Guaraniaçu.
A casa de madeira está em praticamente todas as regiões do Paraná. Aqui no Estado ainda é comum a construção com este material, embora não se possa comparar com outros tempos, onde boa parte das casas era levantada com ela. Atualmente sua utilização não está relacionada somente às pessoas com baixo poder aquisitivo como erroneamente muitos devem supor. Na estrada também é fácil encontra-las pelo caminho.

Típicas casas de madeira à beira da estrada.
Quando me aproximei de Cantagalo uma longa descida me levou à Ponte do Rio Cavernoso. O local chama atenção da maioria dos ciclistas que passam pela estrutura diferente e o nome não muito comum. Mas o que realmente se destaca é a subida que aparece na sequencia. E não importa em qual direção você esteja. De qualquer lado você vai ter que colocar força nas canelas e encarar a subida.

Ponte sobre o Rio Cavernoso
No meu caso, o esforço empregado na subida após a passagem pelo Rio Cavernoso era para chegar à Cantagalo que ficava alguns quilômetros depois. A cidade é inesquecível para meu histórico no cicloturismo. Foi onde realizei meu segundo acampamento na vida de viajante sobre duas rodas. Não foi uma das melhores experiências e tampouco tenho boas lembranças, mas ficou o aprendizado. Para quem quiser voltar ao tempo e relembrar o episódio ocorrido na Travessia do Paraná (2007), basta acessar o seguinte endereço: Leia Aqui!

As paisagens da região.
Em Cantagalo aproveitei para almoçar justamente no complexo onde pernoitei em 2007. O local tem borracharia, posto de combustível e restaurante. O almoço poderia ser por quilo, buffet ou prato feito. Este último era a opção mais barata, uma vez que custava dez reais. Não hesitei em solicita-lo. Aprovado.
Descansei um pouco e voltei à estrada para encarar outro trecho longo de subidas. Talvez seja o mais complicado da BR 277. São várias subidas entre Cantagalo, Virmond, Laranjeiras do Sul e Nova Laranjeiras. Para quem já vinha de uma quilometragem alta nos últimos dias, o trajeto foi bastante cruel para a parte física. Claro que o avanço ficou mais lento, contudo, eu ainda continuava determinado a parar apenas em Guaraniaçu.
Logo depois de Laranjeiras do Sul fui surpreendido por um veículo que parou no acostamento. O motorista saiu do automóvel e se aproximou do local onde eu estava parado, comendo algumas bolachas. A primeira pergunta foi se eu era o ciclista que estava na Venezuela quando o Chávez havia falecido. Respondi que sim e na sequencia também falei meu nome que confirmou que eu estava sendo reconhecido por um leitor de Cascavel, cujo nome não consigo recordar, mas que acompanhou toda a viagem pelo diário de bordo. Fiquei muito feliz pelo encontro inesperado porque foi mais uma prova de que meu árduo trabalho teve resultado. Reconhecimento é algo que simplesmente não tem preço. Conversamos um pouco e na sequencia cada um seguiu seu caminho, diga-se de passagem, repleto de subidas.

Leitor do diário de bordo que me reconheceu na estrada.
No pedágio localizado um pouco antes de Nova Laranjeiras encontrei duas argentinas que saíram há três meses de Buenos Aires na Argentina e seguiam em suas bicicletas para uma volta no Brasil e quiçá na América do Sul. Pelo que entendi, o roteiro estava em aberto e tampouco tinha uma data especifica para ser concluído. Elas gostariam de subir a costa brasileira até a Bahia e depois pedalar pela Amazônia.

Hermanas argentinas!
O encontro com as argentinas foi interessante pela simpatia e coragem daquelas mulheres. Elas viajavam em bicicletas extremamente simples, pesadas e sem marcha. No terreno totalmente acidentado da região, isso implicava em completar as subidas empurrando o meio de transporte escolhido para a aventura. Mas, apesar de todas as dificuldades, foi possível encontrar um sorriso inerente àqueles se propõem a realizar um sonho ou objetivo sem se “importar” com os obstáculos do caminho.
Desejei toda a sorte do mundo para elas e mencionei que o Brasil reservava boas surpresas com paisagens magnificas e um povo muito hospitaleiro, algo que já havia sido percebido pela dupla. Fiquei de entrar em contato pela internet para conseguir hospedagem com alguns amigos pelo Brasil afora.
Após o encontro com as argentinas, passei por Nova Laranjeiras que trouxe, junto com a escuridão, o maior e inesperado trecho de subidas do trajeto de hoje. A cidade também é conhecida por compreender os aldeamentos indígenas, cujo território passa às margens da rodovia. Se você pedalar pela região certamente vai ouvir alertas sobre a presença dos índios e de que eles oferecem perigo e que não raramente existem casos de roubos a viajantes. Particularmente não notei nada de estranho nas três vezes em que estive no local. Então não se assuste com os comentários alheios e siga tranquilo, porém sempre com atenção.
A subida depois de Nova Laranjeiras termina ao mesmo tempo em que uma placa anuncia o fim dos aldeamentos indígenas. Não sei exatamente a extensão do aclive, mas foram vários quilômetros montanha acima. O nível de dificuldade pode facilmente ser comparado com aquele encontrado na Serra da Esperança. Na estrada eu conseguia visualizar no horizonte as luzes da cidade que ficava para trás.
Depois da subida mencionada acima, o relevo é marcado, novamente, pelo sobe e desce, assim, me restou completa-lo com paciência até chegar à Guaraniaçu onde me avisaram que o único hotel da cidade ficava na região central. O detalhe é que para chegar à hospedagem eu ainda precisaria encarar um último aclive. Depois, bastou seguir as placas do Dallas Hotel onde estava às 23h10m. O recepcionista informou que a diária custava 32 reais com direito ao café da manhã. O preço não era convidativo, mas àquela hora da noite eu não tinha muita opção.
O quarto não tem banheiro, mas todas as instalações são novas e limpas. O hotel ainda conta com wi-fi, mas não cheguei a utiliza-lo. Como eu estava cansado, apenas tomei um banho, degustei uma bolacha (janta) e fui para a cama ter um descanso merecido. Foi um dia longo, porém cheguei ao destino desejado. Maravilha!
Dia finalizado com 183,43 km pedalados em 12h53m e velocidade média de 15,3 km/h.
14/09/2013 - 433° dia - Guaraniaçu a São Miguel do Iguaçu
Penúltimo dia da expedição. O terceiro que não terminou.
A inesquecível recepção pelas cidades do oeste paranaense.
Acordei cedo e mais uma vez meu sono foi curto e o descanso se limitou a menos de 5 horas. Isso porque às 6 horas da manhã eu já estava levantado e com as coisas arrumadas para poder voltar à estrada. Eu deveria começar a pedalar o quanto antes porque a “missão” do dia era chegar à São Miguel do Iguaçu, no entanto, para cumprir o objetivo eu necessitava pedalar, novamente, 180 quilômetros.
Claro que eu não retornei à estrada sem completar o “combustível” da máquina. O café da manhã estava caprichado e aproveitei o máximo possível para recarregar as energias. Na sequencia voltei ao quarto onde a Victoria pernoitou em minha companhia e posteriormente fui às ruas para encontrar a saída para a BR 277 que não estava muito longe. Ao contrário da noite anterior, precisei apenas descer.
Hoje o relevo prometia ser um pouco menos inclinado do que o trecho de ontem, contudo, isso não significava que as subidas não estavam presentes. Logo após Guaraniaçu passei por algumas delas e na sequencia encontrei um casal de bicicleta que se deslocava à Ponta Grossa. Somente o rapaz estava com um pouco de bagagem na bicicleta e apenas mencionou que meus “brothers” estavam logo atrás. Estranhei, mas imediatamente pensei que poderia ser o Sérgio Figueira de Cascavel na companhia de outros ciclistas da cidade. Acontece que ontem o camarada me ligou para saber onde eu estava, pois havia a possibilidade de pernoitar em sua casa.
Não demorou muito e encontrei os “brothers” que tinham sido mencionados. Estavam presentes, Sergio, Timoteo (Tim) e Rubens. Ambos fazem parte do conhecido grupo de ciclismo Cambota ao qual Tim é o fundador. Fiquei realmente feliz pela recepção inesperada. Seguimos animados no percurso até Cascavel que estava a praticamente quase 50 quilômetros. Claro que a conversa se estendeu por todo o trajeto. Sergio acompanha o diário de bordo desde o começo e resgatou muitos acontecimentos marcantes da expedição. As horas passaram rapidamente e a cidade ficava cada vez mais próxima. Rubens e Tim nos deixaram um pouco antes em razão de compromissos e por volta do meio-dia, Sergio e eu chegamos à Cascavel.

Registro com a galera do Cambota: Sergio e Rubens.
Timoteo (Tim) e Rubens
Presenteado com a famosa Pimenta do Tim.
Em direção à Cascavel.
Meu Paraná!
Sergio na chegada à Cascavel.
Na maior cidade do oeste paranaense nos dirigimos à casa do Sergio que me convidou para almoçar com a sua família, que por sua vez, me recebeu muito bem em sua agradável residência que não raramente recebe cicloturistas. O local se transformou em ponto de apoio para quem viaja sobre duas rodas desde que o anfitrião entrou na rede Warmshowers a qual teve conhecimento através deste diário de bordo. Em um ano de portas abertas aos cicloturistas, pessoas de todas as partes do mundo já compartilharam culturas, histórias, risadas e muitos momentos inesquecíveis.
O almoço estava caprichado, leia-se, farto e saboroso. Ao acompanhar a expedição o anfitrião tinha conhecimento da minha fome quase sem fim e não hesitou em solicitar à sua esposa o preparo de uma refeição com mais “água” no feijão. (Risada Sacana). Sei que o almoço me deixou com muitas proteínas e energias a mais. Tudo muito bom. Obrigado Sergio, Andrea e o pequeno Heitor. Foi um prazer conhece-los pessoalmente.

Sergio, Andrea e Heitor. Valeu família.
Descansei um pouco e fui verificar (na internet) a distância para chegar à Medianeira onde o grupo de ciclismo Pedal Verde me aguardava para um jantar. Ainda faltavam quase 80 km, ou seja, eu precisava pedalar muito para não encontrar o pessoal muito tarde.
Ainda em Cascavel recebi um telefonema do Tim que mencionou que o grupo Cicles Matelândia também estaria à minha espera na cidade de Matelândia que fica um pouco antes de Medianeira. Combinei com o pessoal que por volta das 19 horas  chegaria ao local. Mais um compromisso firmado.
O Sérgio me acompanhou até a saída para Foz do Iguaçu e quase às 15 horas eu retornava à BR 277, não sem antes me despedir e agradecer o camarada pela recepção na estrada e também em sua casa. Grande abraço, hermano.
Sinceramente pensei que o trajeto seria mais difícil, afinal, passei algumas vezes por esse trecho em ambos os sentidos e a lembrança não era das melhores. Talvez as subidas acumuladas nos dias anteriores fizeram diminuir a impressão e/ou a dificuldade dos aclives em direção à Foz do Iguaçu.

Todas as capitais visitadas.
Países latinos da América do Sul, todos pedalados.
Em direção à São Miguel do Iguaçu
Chegada ao Parque Nacional do Iguaçu em Santa Tereza do Oeste.
Plantações à beira da estrada.
Sei que a passagem por Santa Tereza do Oeste e Céu Azul foram tranquilas e relativamente rápidas. Neste segundo município aproveitei para cumprimentar o amigo Mauricio Dezordi que estudou comigo na universidade. Conversei um pouco com ele e a família, registramos o momento e minutos depois eu seguia à Matelândia. No caminho me deparei com um pôr-do-sol magnifico no “velho oeste” paranaense.

Um registro com o camarada Mauricio Dezordi.
Uma imagem vale mais do que mil palavras.
Os poucos mais de vinte quilômetros entre Céu Azul e Matelândia foram pedalados em meio a muitos telefonemas. O pessoal de Matelândia queria saber onde eu estava, a galera de Medianeira procurando ter notícias de qual horário eu apareceria para a janta e o Luciano, presidente da Associação Ciclística Cataratas do Iguaçu (ACCI), entrando em contato para ter informações sobre meu avanço final. Acho que meu celular não tocava desse jeito desde a minha saída do Brasil no ano passado. Claro que eu estava curtindo toda essa recepção.
Cheguei à Matelândia  quando já passava das 19 horas e encontrei o pessoal no local combinado. Que surpresa! Toda uma galera à minha espera. Não tenho nem palavras para expressar o sentimento daquele momento. Infelizmente eu não conhecia a maioria daqueles que estavam presentes, mas o pessoal me conhecia por acompanhar este diário de bordo, por exemplo, André Brandão, leitor assíduo que fez questão de me incentivar pessoalmente. Muito obrigado.

Recepção em Matelândia.
Com a galera do Cicles Matelândia.
André Brandão e Claudionor 
Camarada Claudionor
Lauro e Claudionor
Não sei se alguma vez eu cheguei a mencionar aqui no diário de bordo, mas certo dia eu ouvi em determinado lugar que não se nega/recusa elogios. E desde então eu não interrompo nenhuma pessoa que me dirige a palavra com mensagens positivas. Em Matelândia foram várias delas. Meu sentimento é de que todo esse reconhecimento é devido a semente que plantei durante esses anos dedicados ao cicloturismo como estilo de vida.
Em um momento da conversa com os ciclistas de Matelândia, Lauro começou a contar a história de um senhor com mais de cem anos de idade que faleceu semana passada na cidade. Apesar da idade avançada, Lauro mencionou que não conhecia e tampouco tinha escutado sobre aquele senhor que talvez tenha vivido sempre no anonimato. E então ele vez comparação com a dimensão da minha viagem e toda essa questão de deixar uma “marca” no mundo. Se referiu também à semente que foi plantada e que hoje nasce nos lugares por onde passei. Achei essa alusão bastante digna de ser pensada.
Não procuro fama, dinheiro, status, ou coisa parecida, pretendo apenas compartilhar, mostrar a existência de caminhos alternativos para essa vida e que eles são simples e também nos proporcionam a desejada felicidade verdadeira.
Antes de voltar à estrada registrei o momento e combinei de pedalar futuramente com os novos amigos do pedal.  Deixei Matelândia muito renovado com toda aquela energia positiva. Obrigado a todos que estiveram presentes.
A saída de Matelândia foi marcada também pela passagem no Castelinho, um conhecido estabelecimento às margens da BR 277, cujo nome indica a característica de sua arquitetura. Para nós ciclistas o local serve como referencia de relevo. Para quem vem de Foz do Iguaçu a subida para chegar a esse lugar castiga demais, sobretudo, no verão. Mas agora estava na hora de descer já que meu caminho era na direção da terra das cataratas.
A rodovia BR 277 entre Matelândia e São Miguel do Iguaçu foi duplicada enquanto eu estive fora. Aliás, é também nessas horas que eu vejo o quanto eu fiquei na estrada. Enfim, com poucas subidas pelo caminho eu me aproximei rapidamente de Medianeira onde, ainda na estrada, encontrei com o amigo Adriano Dias. “Tio” como costumo chama-lo é amigo desde a época da universidade, foi meu veterano e também chefe no meu primeiro emprego em Marechal Cândido Rondon. Atualmente mora e leciona em Medianeira onde chegamos pouco tempo depois. Claro que durante o caminho conversamos bastante, afinal, não encontrava o tio há muitos anos, inclusive, soube hoje que seu filho acabara de nascer e eu nem mesmo sabia que sua esposa estava grávida. Sim, é muito tempo na estrada. (Risada Sacana).

Grande tio.
Adriano e eu pelas ruas de Medianeira.
Em Medianeira fui encontrar com o pessoal em uma chácara e mais uma vez a turma me recepcionou muito bem e a conversa foi agradável e o ambiente estava divertido. O amigo Alexandre (Jamanta) que é de São Miguel do Iguaçu e viajou comigo na Expedição de Verão em 2010, também estava presente. O assunto muitas vezes esteve direcionado a questões ligadas à viagem. E como sempre ocorreu durante a expedição, respondi cada uma delas com a devida atenção.

Atenção máxima durante a conversa, rs.
Registro histórico com o Pedal Verde.
O churrasco em Medianeira acontecia desde o período da tarde e quando eu cheguei precisei apenas degustar a carne que estava muito boa. Valeu mesmo pessoal. Obrigado pela consideração. Infelizmente não pude ficar muito tempo e por volta da meia-noite retornei à estrada para encarar o trecho final do dia até São Miguel do Iguaçu.

Churrasco com o Pedal Verde.
Durante parte deste trajeto para São Miguel do Iguaçu, Alexandre fez, com paciência, a minha escolta de carro. O relevo nem foi o problema, mas o cansaço bateu e estava difícil pedalar. Mas com muita determinação (sempre ela) consegui chegar à casa do anfitrião por volta da 1h30m da madrugada. Quando estacionei a bicicleta na frente da residência notei que o pneu traseiro estava murcho e, consequentemente, furado. Que maravilha! Não pensei duas vezes em troca-lo naquele instante, afinal às 6 horas da manhã eu já deveria estar de volta à estrada para completar o esperado último dia da viagem.
Troquei, com a ajuda do anfitrião, a câmera de ar furada e na sequencia fui imediatamente tomar um banho para poder dormir por volta das 2h30m quando finalmente foi possível descansar e ter o sono da última noite da expedição. Estava extremamente cansado, mas tudo tinha ocorrido conforme o planejado, eu tinha finalizado o dia em São Miguel do Iguaçu e agora faltava apenas mais 45 km para chegar, na data prevista, ao destino final; Foz do Iguaçu.
Dia finalizado com 181,06 km pedalados em 11h45m e velocidade média de 15,3 km/h.

Digite seu comentário: (via Facebook)

6 comentários:

  1. Foi uma honra te receber aqui e participar de alguma forma da sua viagem, guri!
    Aproveite bem os últimos momentos dessa grande aventura!
    Boa sorte até domingo!

    ResponderExcluir
  2. Cara, tenho acompanhado sua viagem e, de verdade, você está de parabéns!!! Que bela história de vida você terá para passar adiante. Um grande abraço e um bom e seguro retorno à sua casa! Sergio

    ResponderExcluir
  3. Uma conversa-entrevista que fiz com o Nelson, sobre a viagem em Curitiba está dividida em 4 links:

    http://doatlanticoaopacifico.com/archives/5577
    http://doatlanticoaopacifico.com/archives/5580
    http://doatlanticoaopacifico.com/archives/5582
    http://doatlanticoaopacifico.com/archives/5600

    ResponderExcluir
  4. AAAAAAAAAAAAAA

    Nelson caramba.
    Eu li o post todo CRENTE. Absolutamente CRENTE que a veria o final da expedição.
    Rapaz, que banho de água fria quando vi que não tinha o final ainda. Mas que bom, porque terá mais um post e não ficarei órfão desse lindo relato ainda rsrs (e vou colaborar com o livro ainda essa semana se tudo der certo =) )

    Mais do que parabenizar você por todas estas maravilhas eu quero agradecê-lo. Agradecer mesmo por ter compartilhado este desafio e sonho tão grande da sua vida conosco.
    Portanto. Muito obrigado.
    Por nos mostrar as belezas deste continente, por nos mostrar que existe sim muita gente maravilhosa neste país, por nos mostrar que não importa o tamanho do seu sonho, basta buscá-lo para alcançar e por uma série de lições que eu posso afirmar que aprendi nestes meses que te acompanhei.

    E aguardo ansioso o último capítulo.

    ResponderExcluir
  5. Muito legal esse retorno ao Paraná, imagino quanta coisa/ história não rolou nesse encontro em Paranaguá, deve ter sido realmente fantástico! Só estranhei nas fotos o João de Deus estar pedalando de tênis e sem a pochete no colo, quase não reconheci, rs. Forte abraço!

    ResponderExcluir
  6. Claudio Lima

    Nelson, Parabéns pela viagem!

    que tipo de bagageiro dianteiro você utilizou?

    ResponderExcluir