Inserido na realidade da maioria da população de Marechal Rondon, eu também utilizava a bicicleta freqüentemente, incomparavelmente em um ritmo maior do que em Foz do Iguaçu. Inicialmente meu deslocamento era mais direcionado ao trabalho, embora a utilizasse para fazer compras e algumas visitas ao centro. Mas isso logo essa limitação iria mudar.
Portanto, eu trabalhava, estudava e também namorava. Havia quase dois anos que eu estava morando em Marechal quando conheci minha ex-namorada, ela trabalhava no mesmo ambiente de trabalho que eu, a expedição de uma indústria têxtil, onde a maior parte dos funcionários também vai trabalhar de bicicleta. Em 2006, após alguns meses de namoro, o inesperado término do relacionamento me deixa profundamente triste.
Lembro-me perfeitamente da ocasião, uma tarde nublada e com muito vento, não agüentando as circunstâncias referentes ao fim do namoro, resolvo pegar a bicicleta da maneira como eu estava, de calça jeans, chinelo e camisa, assim saio em direção a uma das entradas/saídas da cidade, caminho que conhecia apenas de carro e ônibus. Não sei o porque escolhi aquele trajeto, ainda hoje não sei responder. Mas fui, pedalei cerca de sete km’s da minha casa até o ponto onde retornei. Desde então meus dias nunca mais seriam os mesmos. Naquele momento, senti uma curiosidade enorme em conhecer aquele horizonte na estrada, essa sensação ainda permanece, com a diferença que hoje os horizontes são outros. Pois aquele fora conhecido algum tempo após essa primeira experiência.
A mudança. O desconhecido além do horizonte foi o mais desafiador, de alguma forma eu estava disposto a enfrentar a estrada, cada quilometro, na busca de algo no qual eu não imaginava, mas que me fazia sentir vivo. Procurei saber mais sobre as cidades vizinhas, aquelas no decorrer daquele caminho que eu não seguira em frente na primeira ocasião. Então obtive conhecimento das distâncias das ‘cidades’, que na verdade eram distritos de Marechal, e o mais longe ficava a quinze km’s do município, naquela época era um trecho enorme para quem estava mais acostumado a ir e voltar do trabalho. Conversei então com um amigo do trabalho que era competidor de bicicross, uma modalidade do ciclismo. Passou-me algumas dicas muito importantes, sobretudo, na hora de trocar as peças da bicicleta. Sim, resolvi fazer uma mudança, na verdade uma reciclagem geral na bike. Troquei várias peças, nesse primeiro instante, coloquei aros aero V-ZAN para tornar-se resistente a diferentes tipos de terrenos, trocadores tradicionais (modelo antigo) da marca Shimano, uma suspensão de 50mm Logan, um guidão simples curvado. Uma mudança muito significava, os freios V-Brake GTS com as manoplas da Tropical Team, fez uma diferença e tanto na minha Polo Ônix, uma marca não muito conhecida, encontrei apenas um exemplar dela em Matinhos, litoral do Paraná, mas com essas mudanças, ela iria muito longe.
Realizada a troca das peças, era hora de buscar aquele horizonte desconhecido, pelo menos parte dele. Sem nenhuma experiência nas estradas, busquei ser o mais cauteloso possível, principalmente quando aqueles quinze km’s até Iguiporã eram de trechos sem acostamento e um fluxo grande de veículos, sobretudo, de caminhões, uma vez que a rodovia também serve de escoamento dos produtos agrícolas produzidos na região e da mesma forma é rota para o Mato Grosso do Sul. Por isso, toda atenção era necessária para retornar e vivo para casa. A novidade estava presente em cada giro do pedal, metro percorrido e a topo conquistado. Superando as constantes subidas em uma estrada com inúmeros buracos. Mas na verdade, a condição da estrada não me importava muito naquele momento, o principal era chegar no distrito de Iguipora e retornar. Objetivo que estava sendo alcançado sem antes contemplar a natureza, que por muitas áreas estava tomada por plantações extensivas de soja, milho e outras culturas. A beleza demonstrada pelo horizonte me deixava fascinado e isso ficava mais explícito chegando ao topo de cada subida. Parece uma recompensa a todo o esforço empregado para se chegar onde quer que seja. O tempo gasto para fazer esse trecho eu sinceramente não lembro, mas deve ter sido em torno de duas horas, até porque, não estava preocupado com o período para completar o trecho, pelo menos por enquanto.
Finalizada a primeira experiência, mesmo que pequena, na estrada, as expectativas aumentaram. Parece ser algo insaciável, inerente aos aventureiros. Dessa forma, comecei a planejar a minha primeira viagem, de Marechal a Foz do Iguaçu. Na verdade, o planejamento foi de um inexperiente cicloturista que está realizando sua primeira viagem. Mesmo assim, o que parecia impossível, foi conquistado.
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