Expedição de Inverno - Parte 3
"Quando estamos viajando passamos por diversas situações inusitadas. Costumo dizer que ao sair de casa estou permitindo que o acaso interfira sobre minha vida." Jonas Santos
As palavras do amigo e também cicloturista Joninhas de São Paulo/SP, fazem todo sentido no que estava acontecendo em nosso segundo dia de viagem. Afinal havíamos depositado uma expectativa muito grande no fato de poder reunir a galera e realizar uma aventura inesquecível para todos, mas as situações inusitadas apareceram. No entanto, Marco e eu talvez estivéssemos um pouco chateados com a desistência fácil dos companheiros, mas isso em nenhum momento foi motivo para desanimar.
Se o acaso interfiriu nos planos iniciais restava seguir um plano B, que foi a decisão de continuar a viagem por um roteiro alternativo, percorrendo o litoral de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Antes de colocarmos essa opção em prática, resolvemos conhecer a praia de Barra Velha que estava a menos de cem metros de onde havíamos acampado. Sim, continuava chovendo, mas a gente nunca sabe quando teremos a oportunidade de estar no mesmo local novamente.
Barra Velha e suas bonitas praias ficaram para trás e seguimos pela 101, já passava das 8:30 e tinha um bom trecho pela frente. Na estrada o cenário não mudaria em relação ao dia anterior, muita chuva, frio e o trânsito continuava intenso. O relevo também não modificou e as subidas e descidas moderadas ainda nos fazia companhia. Marco realizava algumas paradas durante o pedal para registrar um momento e o outro.
Não recordo o local exato de onde paramos pra almoçar, mas não eram muitas as opções, logo depois da entrada para Piçarras e Penha encontramos um posto de combustível na outra margem da rodovia com um restaurante paralelo, na verdade uma churrascaria que estava lotada e não parecia um local econômico. Considerando que estávamos encharcados, seria no mínimo estranho entrarmos com aquelas condições. O funcionário do posto nos informou que poucos quilômetros a frente havia um restaurante com um preço mais acessível ao nosso bolso. Passamos uma água na sujeira acumulada na bicicleta em razão da chuva e voltamos pra estrada.
O restaurante indicado não demorou a aparecer e realmente o valor do almoço estava no orçamento, dez reais. Contudo, havia o problema de estarmos molhados. O local estava cheio e o Marco foi pedir para prepararem dois marmitex pra gente. Minutos depois, estávamos sentados na frente de um estabelecimento fechado (Pousada Solar) ao lado do restaurante. A fome era tanta que não nos preocupamos com o frio, embora, a temperatura do corpo parado e com roupas molhadas estivesse diminuindo.
Sem poder perder tempo, almoçamos rápido, descansamos um pouco e saimos. Sem antes, conversar com algumas pessoas que nos perguntavam de onde éramos e pra onde estávamos indo. A incredulidade misturada com admiração geralmente fica estampada no rosto de quem descobre o que estamos fazendo.
No asfalto não pedalamos 100 metros e o Marco avisa que seu pneu está furado. Nem aquecemos o corpo e já temos que parar novamente para realizar a troca da câmara de ar furada, novamente um pedaço pequeno de arame foi o responsável. Ao vistoriar o pneu para ver se nenhum resquício do objeto se encontrava no local tivemos uma surpresa. Vários pedaços estavam cravados no pneu Maxxi (traseiro e dianteiro) do Marco e só não causou nada antes por causa da fita anti-furo. Assim que foram retirados e a câmara trocada, finalmente voltamos a pedalar.
A região é um dos grandes destinos de turistas brasileiros, sobretudo, da região sul e também de argentinos e uruguaios. Estávamos em Balneário Camboriú que fica à margem esquerda da BR 101, do lado direito Camboriú. O local é muito procurado pelas suas belas praias e a badalação noturna. Infelizmente o tempo era curto e com chuva resolvemos seguir. Após a saída da cidade pegamos uma subida mais forte, o famoso Morro do Boi. Passamos sem maiores dificuldades e o que nos chama atenção é uma queda de barreira de grandes proporções e a engenharia feita para a contenção do local. Neste momento a chuva cessa por alguns minutos.
Adiante não deixamos de observar uma curiosa propaganda. Se tratava de várias calotas de carros no alto de uma árvore, metros depois uma loja/oficina de tais peças indicava o significado da obra de arte. O local fica antes da entrada de Itapema, outra cidade do litoral de Santa Catarina.
Não podemos reclamar do acostamento da 101 até o momento. Talvez você tenha problema com furos no pneu por causa dos arames soltos dos caminhões como já mencionado nos casos anteriores. Isso depende da marca e modelo que você está usando na bike. Meu Pirelli BM-90 1.9 é um excelente pneu, sobretudo, no que diz respeito ao custo x benefício. Média de um pneu furado por viagem. Esses arames que ficaram cravados no pneu Maxxi do Marco não foram encontrados no Pirelli, acredito que seja pelo seu material e os cravos mais altos.
No mais, o acostamento encontra-se em boas condições. De noite, continuamos pedalando debaixo de chuva, os faróis dos veículos iluminando toda a pista, inclusive o acostamento. Considero isso um fator positivo uma vez que diminui a tensão de cair em algum buraco que passa despercebido mesmo com a utilização dos faróis da bicicleta.
Com muita determinação o pedal continuava, chuva, chuva e mais chuva. Brincava com o Marco que chegaríamos no Chuí mas não chegava Biguaçu. Apareceu uma placa de boas vindas que me animou um pouco, contudo, foram mais uns dez, quinze quilômetros até chegar na cidade. Em acordo, resolvemos ficar em pousada. A primeira que apareceu foi a escolhida. Seu Kiko nos atendeu e nos mostrou o quarto. O valor dividido por dois não era nada barato, mas depois de dois dias pedalando com muita chuva, resolvemos passar a noite ali mesmo. Tinha dois quartos e três camas, imenso o lugar. Reservamos um quarto para montar um varal e estender a roupa na intenção que a mesma viesse a secar um pouco. Ligamos os dois ventiladores e o ar condicionado. Mas no dia seguinte percebemos que não adiantou muita coisa.
Falando em roupas, levei duas blusas de moletom, uma mais bonitinha para usar em lugares um pouco mais exigentes e outra pra dormir. A primeira eu deixei no alforje sem sacola e mesmo com a capa ela ficou toda molhada e inutilizada o resto da viagem. A segunda estava comigo desde a saída de Curitiba pelo frio extremo que fazia, logo, acabou molhada também pois a jaqueta que estava por cima não era totalmente impermeável.
Na pousada do Kiko ainda aproveitei pra tomar um belo banho que ficou faltando na noite anterior. Sim, isso é algo que considero normal em uma viagem de bicicleta, principalmente no inverno, claro, por falta de opção. Ainda fizemos uma janta a base de sopa e pão francês, tudo para economizar. Compensamos com o completo café da manhã no dia seguinte, incluso na diária.
Mas faltava algo de extrema importância, traçar um roteiro alternativo. Verificar a distância até o Uruguay e fazer uma previsão de quantos dias seriam necessários para chegar na fronteira. O tempo era essencial para o Marco que tinha apenas dez dias de folga. Pelas nossas contas com base no meu Guia 4 rodas, levaríamos 6 dias de Biguaçu até o Chuí, 927 km, isso se o pedal rendesse média de 154 km por dia.
O planejamento era o seguinte, continuar na BR 101 em Santa Catarina até a divisa com o Rio Grande do Sul em Torres. Em território gaúcho seguir pela 101 chegando na cidade de São José do Norte, atravessar de balsa para Rio Grande/RS e logo depois a BR 471, também conhecida como Rota Extremo Sul por ser caminho para o Chuí e fronteira com o Uruguay.
Do Chuí no Brasil até Montevideo, comuniquei o Marco que seria possível fazer em 3 dias, mas isso iria estourar seu tempo disponível. Então deixou em aberto sobre o que iria fazer e traçou um objetivo, chegar ao menos no Chuy, lado uruguaio.
Em todo caso, vamos seguindo.
Se o acaso interfiriu nos planos iniciais restava seguir um plano B, que foi a decisão de continuar a viagem por um roteiro alternativo, percorrendo o litoral de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Antes de colocarmos essa opção em prática, resolvemos conhecer a praia de Barra Velha que estava a menos de cem metros de onde havíamos acampado. Sim, continuava chovendo, mas a gente nunca sabe quando teremos a oportunidade de estar no mesmo local novamente.
Barra Velha/SC
O mar estava agitado e não havia quase ninguém na praia, avistamos apenas dois surfistas aproveitando as ondas propiciadas pela condição do tempo. Tiramos algumas fotos, conversamos mais um pouco sobre o novo roteiro e deixamos combinado que em Biguaçu faríamos um estudo mais detalhado para ver até onde o Marco poderia me acompanhar, pois eu estava decidido a ter Montevideo e posteriormente Buenos Aires como meu destino final.Aproveitando pra conhecer a praia de Barra Velha/SC
Barra Velha e suas bonitas praias ficaram para trás e seguimos pela 101, já passava das 8:30 e tinha um bom trecho pela frente. Na estrada o cenário não mudaria em relação ao dia anterior, muita chuva, frio e o trânsito continuava intenso. O relevo também não modificou e as subidas e descidas moderadas ainda nos fazia companhia. Marco realizava algumas paradas durante o pedal para registrar um momento e o outro.
Não recordo o local exato de onde paramos pra almoçar, mas não eram muitas as opções, logo depois da entrada para Piçarras e Penha encontramos um posto de combustível na outra margem da rodovia com um restaurante paralelo, na verdade uma churrascaria que estava lotada e não parecia um local econômico. Considerando que estávamos encharcados, seria no mínimo estranho entrarmos com aquelas condições. O funcionário do posto nos informou que poucos quilômetros a frente havia um restaurante com um preço mais acessível ao nosso bolso. Passamos uma água na sujeira acumulada na bicicleta em razão da chuva e voltamos pra estrada.
O restaurante indicado não demorou a aparecer e realmente o valor do almoço estava no orçamento, dez reais. Contudo, havia o problema de estarmos molhados. O local estava cheio e o Marco foi pedir para prepararem dois marmitex pra gente. Minutos depois, estávamos sentados na frente de um estabelecimento fechado (Pousada Solar) ao lado do restaurante. A fome era tanta que não nos preocupamos com o frio, embora, a temperatura do corpo parado e com roupas molhadas estivesse diminuindo.
Almoço do lado de fora do restaurante.
Sem poder perder tempo, almoçamos rápido, descansamos um pouco e saimos. Sem antes, conversar com algumas pessoas que nos perguntavam de onde éramos e pra onde estávamos indo. A incredulidade misturada com admiração geralmente fica estampada no rosto de quem descobre o que estamos fazendo.
No asfalto não pedalamos 100 metros e o Marco avisa que seu pneu está furado. Nem aquecemos o corpo e já temos que parar novamente para realizar a troca da câmara de ar furada, novamente um pedaço pequeno de arame foi o responsável. Ao vistoriar o pneu para ver se nenhum resquício do objeto se encontrava no local tivemos uma surpresa. Vários pedaços estavam cravados no pneu Maxxi (traseiro e dianteiro) do Marco e só não causou nada antes por causa da fita anti-furo. Assim que foram retirados e a câmara trocada, finalmente voltamos a pedalar.
Pneu furado após o almoço, ninguém merece.
A região é um dos grandes destinos de turistas brasileiros, sobretudo, da região sul e também de argentinos e uruguaios. Estávamos em Balneário Camboriú que fica à margem esquerda da BR 101, do lado direito Camboriú. O local é muito procurado pelas suas belas praias e a badalação noturna. Infelizmente o tempo era curto e com chuva resolvemos seguir. Após a saída da cidade pegamos uma subida mais forte, o famoso Morro do Boi. Passamos sem maiores dificuldades e o que nos chama atenção é uma queda de barreira de grandes proporções e a engenharia feita para a contenção do local. Neste momento a chuva cessa por alguns minutos.
Subindo o Morro do Boi
Queda de barreira no Morro do Boi
Adiante não deixamos de observar uma curiosa propaganda. Se tratava de várias calotas de carros no alto de uma árvore, metros depois uma loja/oficina de tais peças indicava o significado da obra de arte. O local fica antes da entrada de Itapema, outra cidade do litoral de Santa Catarina.
Coisa de caloteiro
Bombinhas, destino do antigo roteiro também estava ficando para trás. Segundo o Aramis, com o tempo que estava, uma visita em Bombinhas não teria muito proveito. Marco e eu continuamos em direção à Biguaçu. Antes de escurecer fazemos nossa última parada em um posto de combustível, Marco compra algumas coisas e abasteço minhas garrafinhas de água. Ao lado do posto outra curiosidade do caminho, a Lanchonete e Churrascaria do Avião, o nome é muito sugestivo, simplesmente existe um avião que faz um tipo de fusão com o estabelecimento. Claro que valeu uma foto.Criatividade. Lanchonete e Churrascaria do Avião
Fiquei sabendo depois que o avião era clássico em Florianópolis onde também tinha a mesma finalidade e se chamava Aeroflop. Com defeito e virando sucata no aeroporto, o dono do restaurante teve a ótima idéia que depois foi transferida para a entrada de Porto Belo, onde encontramos ele.Não podemos reclamar do acostamento da 101 até o momento. Talvez você tenha problema com furos no pneu por causa dos arames soltos dos caminhões como já mencionado nos casos anteriores. Isso depende da marca e modelo que você está usando na bike. Meu Pirelli BM-90 1.9 é um excelente pneu, sobretudo, no que diz respeito ao custo x benefício. Média de um pneu furado por viagem. Esses arames que ficaram cravados no pneu Maxxi do Marco não foram encontrados no Pirelli, acredito que seja pelo seu material e os cravos mais altos.
No mais, o acostamento encontra-se em boas condições. De noite, continuamos pedalando debaixo de chuva, os faróis dos veículos iluminando toda a pista, inclusive o acostamento. Considero isso um fator positivo uma vez que diminui a tensão de cair em algum buraco que passa despercebido mesmo com a utilização dos faróis da bicicleta.
Com muita determinação o pedal continuava, chuva, chuva e mais chuva. Brincava com o Marco que chegaríamos no Chuí mas não chegava Biguaçu. Apareceu uma placa de boas vindas que me animou um pouco, contudo, foram mais uns dez, quinze quilômetros até chegar na cidade. Em acordo, resolvemos ficar em pousada. A primeira que apareceu foi a escolhida. Seu Kiko nos atendeu e nos mostrou o quarto. O valor dividido por dois não era nada barato, mas depois de dois dias pedalando com muita chuva, resolvemos passar a noite ali mesmo. Tinha dois quartos e três camas, imenso o lugar. Reservamos um quarto para montar um varal e estender a roupa na intenção que a mesma viesse a secar um pouco. Ligamos os dois ventiladores e o ar condicionado. Mas no dia seguinte percebemos que não adiantou muita coisa.
Quarto reservado na tentativa de secar as roupas
Falando em roupas, levei duas blusas de moletom, uma mais bonitinha para usar em lugares um pouco mais exigentes e outra pra dormir. A primeira eu deixei no alforje sem sacola e mesmo com a capa ela ficou toda molhada e inutilizada o resto da viagem. A segunda estava comigo desde a saída de Curitiba pelo frio extremo que fazia, logo, acabou molhada também pois a jaqueta que estava por cima não era totalmente impermeável.
Na pousada do Kiko ainda aproveitei pra tomar um belo banho que ficou faltando na noite anterior. Sim, isso é algo que considero normal em uma viagem de bicicleta, principalmente no inverno, claro, por falta de opção. Ainda fizemos uma janta a base de sopa e pão francês, tudo para economizar. Compensamos com o completo café da manhã no dia seguinte, incluso na diária.
Mas faltava algo de extrema importância, traçar um roteiro alternativo. Verificar a distância até o Uruguay e fazer uma previsão de quantos dias seriam necessários para chegar na fronteira. O tempo era essencial para o Marco que tinha apenas dez dias de folga. Pelas nossas contas com base no meu Guia 4 rodas, levaríamos 6 dias de Biguaçu até o Chuí, 927 km, isso se o pedal rendesse média de 154 km por dia.
O planejamento era o seguinte, continuar na BR 101 em Santa Catarina até a divisa com o Rio Grande do Sul em Torres. Em território gaúcho seguir pela 101 chegando na cidade de São José do Norte, atravessar de balsa para Rio Grande/RS e logo depois a BR 471, também conhecida como Rota Extremo Sul por ser caminho para o Chuí e fronteira com o Uruguay.
Do Chuí no Brasil até Montevideo, comuniquei o Marco que seria possível fazer em 3 dias, mas isso iria estourar seu tempo disponível. Então deixou em aberto sobre o que iria fazer e traçou um objetivo, chegar ao menos no Chuy, lado uruguaio.
Em todo caso, vamos seguindo.
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